Agrotóxicos e os problemas de saúde nos agricultores

Intoxicação pelo uso desprotegido dos produtos foi associada a casos de dor de cabeça, dermatite, surdez e depressão. Problema envolve omissão do poder público na fiscalização, falta de orientação e constante estímulo ao uso de agrotóxicos nos locais de comércio de insumos agrícolas frequentados pelos agricultores.

Uma pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP investigou os efeitos do uso de agrotóxicos por agricultores familiares nos municípios de Pimenta e Capitólio, em Minas Gerais. A partir da medição de um indicador presente no sangue que aponta para intoxicação e o levantamento de queixas de saúde junto aos trabalhadores, os resultados sugerem uma relação entre a contaminação pelos agentes químicos e a apresentação de sintomas como dor de cabeça, irritação nos olhos, insônia e nervosismo.

Em sua dissertação de mestrado, a pesquisadora Nicole Blanco Bernardes, orientada pela professora Maria Helena Palucci Marziale, realizou o estudo com 140 participantes. Foram avaliados 80 trabalhadores atuantes na agricultura familiar, expostos diretamente a agrotóxicos, e 60 usuários do Programa de Saúde da Família (PSF) das duas cidades, mas que não estiveram expostos aos produtos químicos, para comparação. Os participantes também responderam a um questionário utilizado na avaliação junto aos resultados dos exames de sangue.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pimenta e Capitólio têm população estimada em 8.715 e 8.693 habitantes, respectivamente. Em entrevista ao Jornal da USP, Nicole conta que o que chamou a atenção para os municípios foi um índice expressivo de suicídios e a procura por tratamentos oncológicos dos munícipes em outras cidades mineiras. Apesar de não haver nenhuma comprovação e, mais que isso, essa relação ser muito difícil de estabelecer, a pesquisadora relata que as prefeituras já investigavam o número de casos e consideravam a possibilidade do contato direto com agrotóxicos entre os trabalhadores das lavouras ser um dos fatores para o problema. Dentre os sintomas descritos pelos entrevistados, a dor de cabeça foi o mais presente no grupo (33,8%), seguida por queixas de irritabilidade ou nervosismo (21,3%) e suor intenso (15%).

Os resultados mostraram que quase metade dos trabalhadores rurais que participaram da pesquisa (42,5%) relataram algum sintoma de intoxicação. No entanto, somente uma pequena parcela deles (6,3%) associou os sintomas a ter tido algum tipo de intoxicação por agrotóxico, indicando que há desconhecimento sobre o risco dos produtos, principalmente quando equipamentos de proteção não são corretamente utilizados.

Intoxicações crônicas por agrotóxicos

Esses dados também caracterizam um dos problemas recorrentes apontados pelo Protocolo de Avaliação das Intoxicações Crônicas por Agrotóxicos publicado em 2013 pela Secretaria de Estado da Saúde do Paraná: a subnotificação, ou seja, quando acontecem casos de intoxicação, mas eles não são reconhecidos como tal. Um dos motivos apontados por esse documento é a falta de instrumentos clínicos adequados para o diagnóstico. Nesse sentido, a investigação conduzida por Nicole Blanco Bernardes atesta essa realidade e assinala que a avaliação de saúde periódica dos trabalhadores rurais ajuda a monitorar a exposição excessiva aos agrotóxicos.

Os participantes do estudo são agricultores familiares que trabalham com diversos tipos de lavoura, como tomate e pimenta, e estão expostos a agrotóxicos da classe organofosforados.

“É difícil fazer um diagnóstico da situação pois os órgãos fiscalizadores são um pouco precários e não temos uma notificação precisa do número de infecções. A grande maioria das intoxicações é crônica, de forma que os sintomas surgem depois de muito tempo de exposição, a não ser em casos de acidentes.”

A pesquisa ainda destaca a necessidade de mais informações a respeito do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) para amenizar o impacto dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores rurais. Segundo os dados coletados, somente uma parcela deles utilizava equipamentos como luvas (58,8%), máscara (55%) e óculos de proteção (26,3%). Além disso, apenas 7,5% lavavam as roupas utilizadas na lavoura separadas das peças de familiares, mesmo que estes não tivessem contato direto com os produtos químicos.

Incentivo ao uso

Apesar de sua importância, há uma série de barreiras para o uso dos equipamentos de proteção. A professora Marilise Mesquita, da Faculdade de Saúde Coletiva do Rio Grande do Sul/UFRGS e organizadora do livro Saúde coletiva, desenvolvimento e (in)sustentabilidade no rural, detalha:

“Existe uma série de fatores que afastam o uso de EPI na região Sul. Um deles é o clima. Ninguém consegue usar, durante horas, macacão, botas, óculos e luvas num calor de 40 graus Celsius. Os equipamentos de proteção não foram feitos para o clima tropical. Além disso, os agrotóxicos têm um rótulo com uma linguagem extremamente técnica, inacessível para pessoas que não terminaram o ensino fundamental, como é o caso de 70% dos trabalhadores da região. Eles não têm ideia do que estão usando e quais os perigos à saúde.”

Quando questionada sobre a atuação da fiscalização, Marilise aponta as mesmas condições apresentadas na dissertação de Nicole Blanco Bernardes, isto é, uma fiscalização frouxa em contraposição a um constante estímulo ao uso de agrotóxicos nos locais de comércio de insumos agrícolas frequentados pelos agricultores.

Essa constatação trazida pelas duas pesquisadoras sobre omissão do poder público na fiscalização coloca em xeque um dos pontos fundamentais das Diretrizes Nacionais Para Vigilância em Saúde de Populações Expostas aos Agrotóxicos publicadas pelo Ministério da Saúde em 2017. Parte dos objetivos definidos pelo documento depende diretamente da atuação dos profissionais da saúde e da vigilância sanitária no acompanhamento sistemático dos trabalhadores como uma forma de gerar indicadores confiáveis do uso de agrotóxicos e construir políticas públicas de proteção à saúde efetivas para os trabalhadores rurais.

Como alternativa aos agrotóxicos, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Minas Gerais tem adotado iniciativas agroecológicas para fornecer alternativas aos agricultores, como a substituição do uso de agrotóxicos por adubos naturais.

*Ana Fukui é pós-doutoranda da FMUSP e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)

Mais informações: e-mail nicoleblanco100@yahoo.com, com Nicole Blanco Bernardes

Texto: Por Pedro Ferreira e Ana Fukui*
Arte: Ana Júlia Maciel

FONTE: Jornal da USP

Gripe do tomate, você já ouviu falar?

Uma doença que causa febre e dores no corpo acometeu pelo menos 100 crianças em dois Estados na Índia. Chamada de gripe do tomate, a moléstia não é nova e causa lesões redondas e avermelhadas na pele, que lembram tomates, por isso o nome.

A infectologista Juliana Framil, da equipe de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, tranquiliza, reforçando que ainda não existem casos da doença no Brasil. Detectada na Índia, que se manifesta por meio de lesões na pele que se assemelham ao tomate e que tem semelhanças com o sarampo e a varíola do macaco.

Porque o nome gripe do tomate?

O nome de gripe do tomate ou febre do tomate  nada tem a ver com o alimento, mas uma associação do fruto com o formato das bolhas que surgem no corpo, vermelhas, lembrando tomates.

Origem

A doença ainda é de origem desconhecida, por isso existem duas teorias sobre essa gripe: a primeira é de que as crianças que contraíram chikungunya ou dengue têm maior tendência à gripe do tomate;  a outra é de que é causada pela variante de um vírus que causa a doença “mão pé boca”, uma infecção viral altamente contagiosa na Índia.

Sintomas

Entre os sintomas estão a febre, dores no corpo e articulações, além de vesículas no corpo que se confundem com outras doenças como sarampo, por exemplo.

Tratamento da gripe do tomate

O tratamento é feito de forma a aliviar a dor e febre com o uso de analgésicos, além do isolamento por no mínimo sete dias para evitar a contaminação de outras pessoas. Na maioria das vezes, a doença é “autolimitada”, ou seja, se resolve sozinha, sem necessidade de medicamentos específicos.

De qualquer forma, vale a mesma orientação que tivemos em relação à covid-19, como lavar mãos e o uso de álcool para desinfecção de objetos e superfícies.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

Mortes por infarto e diabete, entenda a relação

Pesquisadores da USP analisaram o peso de diferentes fatores de risco nas estatísticas de mortes por infarto. Resultados publicados na “Plos One” mostram que a hiperglicemia representa um risco ainda maior para mulheres.

Ricardo Muniz, da Agência Fapesp

Já são conhecidos vários fatores que aumentam o risco de infarto, como glicose elevada (hiperglicemia), obesidade, colesterol alto, hipertensão e tabagismo. E agora um estudo publicado na revista Plos One mensurou o impacto de cada um deles nas estatísticas de morte por doença cardiovascular. A hiperglicemia mostrou uma associação com esse desfecho de cinco a dez vezes maior do que outros fatores.

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Foram usados dados de fontes governamentais, como os ministérios do Desenvolvimento Social e da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrados entre 2005 e 2017. Os números foram confrontados com informações de outros bancos, como o Global Health Data Exchange (GHDx) e o repositório do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington (Estados Unidos).

Mortes por infarto

Por meio de métodos estatísticos, os pesquisadores determinaram o número de óbitos atribuídos a cada fator de risco. O objetivo da pesquisa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi ajudar a encontrar estratégias mais eficazes para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares – que ainda são as maiores causas de morte no País.

“Independentemente do controle que usávamos – e testamos diferentes tipos de variável, modelos estatísticos e métodos – a diabete sempre se associava à mortalidade por doenças cardiovasculares. Mais do que isso: é uma associação que não se restringia ao ano analisado, mas perdurava por até uma década”, explica Renato Gaspar, pós-doutorando no Laboratório de Biologia Vascular do Instituto do Coração (Incor), vinculado à Faculdade de Medicina (FM) da USP.

Estudos anteriores estabeleceram uma equação para calcular o número de mortes prevenidas ou adiadas devido a mudanças em fatores de risco. Assim, foi possível analisar também as taxas de mortes “prematuras”, calculadas em relação à expectativa de vida padrão. Os autores concluíram que cerca de 5 mil pessoas não teriam morrido por doença cardiovascular no período analisado caso os índices de diabete fossem menores na população. Por outro lado, a pesquisa também permitiu concluir que pelo menos 17 mil mortes foram evitadas somente pela diminuição do consumo de cigarros durante esses 12 anos.

“Nossos achados fornecem evidências de que as estratégias para reduzir o tabagismo foram fundamentais para a redução da mortalidade por doença cardiovascular”, apontam os autores.

Outro ponto que chamou a atenção dos cientistas foram as diferenças de gênero. “As disparidades sexuais reiteram outros estudos que apontam a diabete e a hiperglicemia como fatores de risco mais fortes para doença cardiovascular em mulheres do que em homens”, advertem.

Impacto socioeconômico

Mortes por infarto e a incidência de doenças cardiovasculares diminuíram 21% e 8%, respectivamente, entre 2005 e 2017 no Brasil. Além da redução do tabagismo, o maior acesso à saúde básica é listado como um dos responsáveis pela melhora nos índices. Essa observação levou em conta a questão da hipertensão, frequentemente associada a problemas cardíacos. No entanto, ela representou sete vezes menos mortes por doenças cardiovasculares do que a hiperglicemia. Uma das possibilidades é que o acesso ao sistema de saúde universal, com aumento na cobertura de atenção primária, tornou alta na população a taxa de controle da hipertensão.

Corrobora esse achado o fato de que a associação entre hiperglicemia e mortalidade por doença cardiovascular foi independente do nível socioeconômico e do acesso aos cuidados de saúde. Os pesquisadores inseriram covariáveis nos modelos analisados para contabilizar dados como renda familiar, benefício do Bolsa Família, produto interno bruto (PIB) per capita, número de médicos por habitantes e cobertura de atenção primária.

“Além de aumentar a renda, diminuir a desigualdade e a pobreza e ampliar a qualidade e o acesso à saúde, precisamos olhar para o diabetes e para a hiperglicemia de maneira específica”, aponta Gaspar, ressaltando que o País tem discutido pouco questões como o alto consumo de açúcar.

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“Precisamos de uma política de educação nutricional. Debater se vale a pena colocar uma tarja nos produtos açucarados com um alerta, como nas embalagens de cigarro, ou taxar produtos com açúcar adicionado de forma a incentivar as indústrias a reduzir esse ingrediente. São questões bastante debatidas em outros países e que precisam ser pautadas aqui.”

Para mitigar os índices de doença cardiovascular no Brasil, as políticas de saúde devem ter como objetivo reduzir diretamente a prevalência de hiperglicemia, seja pela educação nutricional, pela restrição a alimentos com açúcar adicionado ou pelo mais amplo acesso às novas classes de medicamentos capazes de diminuir a chance de o paciente diabético morrer por infarto.

O artigo Analysing the impact of modifiable risk factors on cardiovascular disease mortality in Brazil está disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0269549.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

FONTE: Jornal da USP

HC incorpora 5G para melhorias em medicina a distância

Projeto Open Car, coordenado pelo Inova HC, núcleo de inovações do Hospital das Clínicas, utiliza redes abertas 5G para para melhorias em medicina a distância levando saúde aos locais mais remotos do País. O professor Moacir Martucci Júnior, da Escola Politécnica da USP, é um dos encabeçadores do projeto, que ainda está em fase de testes.

Um setor com impacto social como a saúde demanda melhorias no que diz respeito ao acesso mais facilitado a todos. A proposta de incorporar a tecnologia 5G, que possibilita maior velocidade e volume de dados veiculados ao atendimento da população, por meio da medicina a distância, surge com a prerrogativa de acelerar a implantação da tecnologia da quinta geração de dados móveis a custos mais baixos do que o modelo tradicional na indústria. A partir dela, seriam realizadas consultas, ultrassons e até mesmo cirurgias.

Na prática, o professor ressalta que os trabalhos em medicina seriam desenvolvidos com o diagnóstico por imagem em ultrassom. Daí a questão envolvendo o 5G, que proporciona maior banda, um dos pontos que o professor destaca serem necessários para facilitar o tráfego de informações em tempo real, indispensável na realização dos procedimentos médicos.

Uma outra questão mencionada por Martucci é a latência ou tempo de resposta da comunicação entre a máquina e o médico no processo de coleta de informações do paciente, que é melhorada com a tecnologia: “Na mesma hora que está acontecendo [o ultrassom], não pode ter um atraso. Imagina o médico pilotando ultrassom remotamente e atrasa. Esse atraso pode criar confusão”, adiciona ele.

Próximos passos da Medicina a distância

A quinta geração de dados móveis permite latências na ordem de um milissegundo. Isso possibilita uma gama de procedimentos e operações a distância, mas que, para o professor, ainda demanda testes menos invasivos: “Cirurgias, por exemplo. O primeiro passo é fazer a prova em algo que não seja muito invasivo, ou não muito perigoso”, explica Moacir Martucci.

Mesmo com os instrumentos tecnológicos necessários, e com todos os componentes para a “hélice da inovação”, que envolvem a inovação de campo, pesquisa e desenvolvimento e o usuário, o professor estima que levará cerca de dois anos para a implementação da tecnologia.

FONTE: Jornal da USP

Atenção para os cuidados com as doenças cardiovasculares

A iniciativa chama atenção para enfermidades cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais, que ocasionam aproximadamente um terço das mortes do mundo, além das medidas que podem ser feitas para preveni-las.

A depender do país, a taxa de mortalidade pode chegar a 30%, sem considerar os agravantes de saúde e a idade avançada. As principais causas estão relacionadas aos hábitos de vida social e alimentar, como destaca José Carlos Nicolau, médico do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Mas outros fatores de risco devem ser observados, tais como colesterol alto, diabete, obesidade e estresse, além da predisposição e a existência de cardiopatias e fatores hereditários.

A prevenção se baseia na detecção de predisposições e fatores de risco, além da incorporação de hábitos saudáveis. Nicolau comenta que, de uma forma geral, “hábitos alimentares e sociais vão ajudar o indivíduo a corrigir ou controlar esses fatores de risco, diminuindo a chance de vir a ter um infarto ou vir a falecer”. E destaca que, caso a doença ocorra, o tempo entre os primeiros sintomas até o atendimento no hospital é fundamental, para evitar sequelas e o falecimento do paciente.

Doenças cardiovasculares em homens e mulheres

O doutor Nicolau explica que a incidência de doenças cardiovasculares em mulheres é menor no período anterior à menopausa, quando comparada com as estatísticas observadas entre os homens. Ele explica que isso ocorre por que “a mulher tem uma certa proteção relacionada aos hormônios femininos, de tal maneira que, até a menopausa, a incidência de infarto em homens em relação às mulheres é muito maior”.

Passado esse período, ambos apresentam números parecidos. Nicolau também salienta que alguns estudos indicam que, dentre os internados com infarto, “mulheres têm inclusive um índice de mortalidade maior do que os homens”, em números absolutos coletados em um período de seis a oito anos. Mas também há aqueles estudos que apontam para uma equivalência entre os óbitos.

Prevenção 

O médico ressalta que o infarto pode ocorrer em qualquer região do corpo, já que está relacionado à oxigenação dos vasos. Assim, é preciso estar atento aos sintomas pelo corpo inteiro, que podem ser náuseas, dores no peito e irradiação nos braços. Porém, ele destaca que os sintomas podem não ser os mais comuns: “Idosos, por exemplo, frequentemente não têm dor, porque não têm a mesma sensibilidade”, e aconselha: “Na dúvida, vá para o hospital”.

FONTE: Jornal da USP

Desnutrição hospitalar: HC promove campanha para combater o problema

Os sete hospitais do complexo do Hospital das Clínicas da FMUSP receberão treinamentos e ações práticas para tratar dos casos de desnutrição.

A campanha de combate à desnutrição hospitalar do Hospital das Clínicas chama atenção para um problema que envolve demora no período para alta de pacientes, além do aumento significativo de morbidade e mortalidade nos leitos. A constatação se deu a partir de análises desenvolvidas pelo Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional (Ibranutri). Os sete hospitais do complexo do Hospital das Clínicas da FMUSP receberão treinamentos e ações práticas para tratar dos casos de desnutrição.

A desnutrição hospitalar é uma das principais responsáveis pela piora das condições mórbidas de base, que ocasionaram a internação do paciente. Isso tem impactos não somente na recuperação do paciente, como pode ocasionar complicações naqueles submetidos a processos cirúrgicos.

Em dados compilados a partir do HC, que também podem ser observados em resultados obtidos em hospitais da rede do SUS, a desnutrição pode estar presente já na admissão hospitalar; num período entre cinco a sete dias, é possível obter uma taxa de 50% de desnutrição. E, segundo o último levantamento do Ibranutri, de 2001, entre os pacientes desnutridos, 70% desenvolveram complicações e os custos por seu tratamento aumentaram, em média, 60,5%.

O professor Dan Linetzky Waitzberg, do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP, destaca também que, justamente por apresentar todas essas implicações, o tempo de permanência hospitalar é maior, assim como o número de taxas de complicações infecciosas nos pacientes desnutridos, bem como também os gastos com leito, remédios e serviços de enfermagem nas UTIs, além de o fato de dificultar a disponibilidade de leitos hospitalares para novos pacientes.

A campanha de desnutrição

Na tentativa de monitorar e controlar os casos de desnutrição nos hospitais, o professor explica que técnicas de avaliações subjetivas têm sido incorporadas para estimar o risco nutricional de cada paciente. “Todo o paciente deveria passar por uma triagem, a fim de avaliar as condições de massa gorda e magra, ou se há alguma doença de base que poderia piorar a condição da desnutrição”, adiciona Waitzberg. Isso ocorre principalmente porque há casos em que não existe uma aparente desnutrição, ou mesmo, no quadro atual, há a complicação da covid-19.

De forma on-line e presencial, a campanha trata da importância de alertar sobre os riscos da desnutrição, a partir de dados coletados nos sete hospitais do complexo do HC-FMUSP.

Texto: Redação
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Câncer de mama: mitos e desinformações

Os resultados de uma pesquisa inédita sobre o câncer de mama, realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) mostra que para muitas mulheres o autoexame das mamas é a principal forma de detectar tumores de mama precocemente. Essa percepção difere da recomendação das sociedades médicas brasileiras.

O autoexame é importante, reforçam especialistas, mas a mamografia é o principal exame para detectar o câncer de mama na fase inicial. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o  autoexame é indicado como autoconhecimento em relação ao próprio corpo, mas não deve substituir os exames realizados ou prescritos pelo médico, já que muitas lesões, ainda pequenas, não são palpáveis. Contudo, 64% das mulheres que participaram da nova pesquisa do Ipec dizem acreditar que o procedimento seria o principal meio para o diagnóstico do câncer de mama no estágio inicial.

A pesquisa Câncer de Mama Hoje: Como o Brasil Enxerga a Paciente e Sua Doença?, foi feita pelo Ipec com 1.397 mulheres, a pedido da Pfizer. Foram entrevistadas internautas de São Paulo (capital) e das regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com 20 anos ou mais de idade.

Os resultados desta pesquisa foram divulgados nesta quinta-feira (29), em São Paulo, pelo Coletivo Pink. Durante o encontro, especialistas como a médica especialista em câncer de mama do Centro de Oncologia e Hematologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Débora Gagliato; a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz; bem como a líder médica da Pfizer, Márcia Pinheiro, comentaram sobre a pesquisa e o cenário atual do câncer de mama, que ainda ocupa o primeiro lugar nas causas de morte por câncer entre as brasileiras. A coordenadora de projetos e voluntariado no Oncoguia, Evelin Scarelli Terwak, também participou do encontro, e contou sobre a própria trajetória de tratamento do câncer de mama.

Autoexame

Além da confusão em torno do papel do autoexame, a maioria das mulheres ouvidas pelo Ipec também demonstra desconhecer as recomendações médicas para a realização da mamografia, que pode detectar tumores menores que 1 centímetro. Para 54% das respondentes, não está clara a necessidade de passar pelo procedimento caso outros exames, como o ultrassom das mamas, não indiquem alterações: 38 % acreditam que a mamografia deve ser feita apenas mediante achados suspeitos em outros testes, enquanto 16% não sabem opinar.

A recomendação geral das sociedades médicas é a de que, a partir dos 40 anos, as mulheres realizem a mamografia anualmente. Mas 51% das respondentes da pesquisa não estão cientes da importância dessa regularidade: 30% das entrevistadas estão convencidas de que, após um primeiro exame com resultado normal, a mulher estaria liberada para realizar apenas o autoexame em casa, enquanto 21% da amostra afirma desconhecer qual seria a orientação correta.

Mitos sobre o câncer de mama

Os mitos ligados ao tema se mostram fortes na população estudada: 8% das mulheres que responderam à pesquisa atribuem o câncer de mama a causas divinas, alegando que a doença teria aparecido porque “estava nos planos de Deus”. Além disso, 6% das mulheres que acreditam que o tumor teria relação com a possibilidade de a mulher “não ter perdoado alguém”, acumulando mágoa.

Entre as mulheres mais jovens, algumas fake news recorrentes sobre o tema aparecem: na faixa que abrange entrevistadas de 20 a 29 anos, por exemplo, 47% não estão convencidas de que o tipo de sutiã usado não tem impacto no risco de ter câncer de mama: 11% acreditam que os modelos com bojo elevam esse risco e 36% não sabem opinar sobre o assunto. Considerando todas as faixas etárias, tanto em Porto Alegre quanto em Belém, apenas 59% das entrevistadas estão cientes de que a relação com essa peça de roupa é falsa.

O dado sobre o uso da peça e o risco do câncer surpreendeu a líder médica na Pfizer Brasil, Márcia Pinheiro. “Fiquei surpresa com a questão do sutiã com bojo causar o câncer. Mas é nosso papel explicar e tirar essa dúvida da população. É fundamental essa propagação de informação correta porque isso não deixa de ser uma fake news, é uma informação errada”.

Para Márcia, é preciso desmistificar outras informações, como só fazer a mamografia depois de 50 anos, quando o recomendado é a partir dos 40 anos. “A partir do momento que se começa a ter uma uma rotina de ir ao ginecologista anualmente, o exame da mama já tem que estar incluído. O autoexame também é uma coisa que a gente precisa desmistificar: ele é importantíssimo, ele precisa ser feito, não estamos tirando a importância do autoexame, mas ele não é a ferramenta mais importante para fazer o diagnóstico precoce, ou seja não é porque você está fazendo que não precisa fazer a mamografia”.

Márcia destaca que a mamografia é a forma mais precisa de detectar um tumor pequeno. “Já ouvi muitas vezes pacientes reclamando de fazer a mamografia porque é desconfortável, dolorido, mas é uma vez por ano, temos que fazer, pois é a forma mais sensível e acurada de chegar no diagnóstico de um tumor pequeno. Também considero importante a gente dizer que o diagnóstico do câncer não é uma maldição, uma condenação. Hoje temos tratamentos. Então, quanto mais precoce for detectada a doença, mais fácil de tratar e ter um êxito no tratamento”.

Para a coordenadora de projetos e voluntariado no Oncoguia, Evelin Scarelli Terwak, o Outubro Rosa é o momento de trocar o olhar de celebração para um olhar de conscientização. “O Outubro Rosa é um mês de conscientização, de informação”, reforça.

Evelin foi diagnosticada com câncer de mama aos 23 anos. Passou pelo tratamento e hoje, aos 34 anos, trabalha no Oncoguia. Ela destaca a importância da informação. “O medo é trocado no momento que a informação chega, é importante saber os níveis da doença. A mulher com informação compartilha com o médico e assim faz suas escolhas”.

Hereditariedade e fatores de risco

A pesquisa evidencia que a maior parte ignora a relação entre o estilo de vida e a doença: 58% das mulheres não associam o excesso de peso como um fator de risco, enquanto 74% não identificam a relação com o consumo de bebidas alcoólicas.

“O estilo de vida saudável reduz o risco de desenvolver câncer. Então, nunca é tarde. Promover a saúde e a conscientização sobre alimentação e atividade física sempre vale a pena. O álcool é um fator de risco, não recomendamos que a mulher beba álcool ou se consumirem,  limitar uma quantidade pequena. Nós sabemos que tem mulheres que vêm aumentando muito o consumo de álcool, então nunca é demais falar sobre mudança de estilo de vida e se conseguimos implementar essas mudanças, nós conseguimos impactar positivamente nos índices de câncer que a gente vê aumentar. Claro que a idade que a mulher quer ser mãe é um fator que não dá para controlar. Mas o sedentarismo, a obesidade, o etilismo, tem que frisar muito por que são fatores de risco que podem ser modificados”, destaca a oncologista Débora Gagliato, especialista em câncer de mama..

Por outro lado, a herança genética é o fator mais apontado pelas entrevistadas quando perguntadas sobre as causas do câncer de mama: 82% estão convencidas de que a existência de outros casos do tumor na família seria o principal motivo para o desenvolvimento da doença. A literatura médica, contudo, aponta que apenas 5% a 10% do total de casos estão associados a esse elemento.

As participantes da pesquisa desconhecem, por exemplo, a relação entre comportamentos associados à mulher moderna e o câncer de mama: apenas 17% estão cientes de que não ter filhos biológicos aumenta o risco para a doença e muitas ignoram o efeito protetor da

amamentação, como é o caso de 55% das entrevistadas de Porto Alegre  e de 54% das paulistanas.

Elementos ligados ao perfil reprodutivo das mulheres também compõem o leque de fatores de risco para o câncer de mama, como a menopausa tardia (após os 55 anos), mas apenas 13% das respondentes conhecem essa informação. Além disso, somente 8% estão cientes de que ter a primeira menstruação antes dos 12 anos também contribui para elevar esse risco.

Pandemia

Os dados da pesquisa indicam que o cenário pandêmico continua a impactar o cuidado com a saúde feminina. Quando questionadas sobre os exames mamários feitos nos últimos 18 meses, 48% das participantes do levantamento responderam que não realizaram procedimentos com acompanhamento médico: 21% recorreram ao autoexame e 27% não passaram por nenhuma avaliação nesse período.

Considerando o total da amostra, apenas 34% das respondentes afirmam ter mantido a mamografia nos últimos 18 meses, número que cai para 26% tanto no Distrito Federal quanto em Belém. Quando se trata dos cuidados gerais de saúde, somente 17% das mulheres ouvidas pelo Ipec dizem que, durante a pandemia, realizaram os exames de rotina com a mesma frequência habitual que mantinham anteriormente.

O novo levantamento aponta, ainda, que uma porcentagem considerável de mulheres ainda não retomou suas consultas médicas e exames desde que a pandemia começou: essa é a situação de 7% das respondentes, mas a taxa chega a 9% em Porto Alegre e no Recife.

Outubro Rosa e o câncer de mama

Exposições, debates, experiência imersiva e outras atividades relacionadas ao tema vão ocupar, a partir do dia 4 de outubro, o busto gigante, com 300 metros quadrados, montado no Largo da Batata, em São Paulo. Serviços realizados por parceiros do projeto, como corte de cabelo solidário e carreta da mamografia, também fazem parte da programação, bem como oficinas, performances artísticas e palestras.

Busto feminino gigante instalado no Largo da Batata pelo movimento Coletivo Pink – Por um Outubro Além do Rosa, em Pinheiros.

Criado em 2018, o Coletivo Pink é um projeto colaborativo idealizado pela Pfizer que busca formas de dialogar sobre o câncer de mama com a sociedade e dar voz para quem já enfrenta a doença, em todos os estágios. Este ano o Coletivo tem apoio de 15 associações de pacientes oncológicos, que representam diferentes partes do País.

Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil

Distimia, tipo de depressão crônica que requer diagnóstico adequado

A depressão atinge as pessoas com gravidades e recorrências variadas. Também denominada como transtorno depressivo persistente, a distimia tem um diagnóstico difícil e afeta 6% da população mundial, segundo especialistas. No Setembro Amarelo, mês da campanha de prevenção ao suicídio, é relevante diferir as doenças psicológicas. Fernando Fernandes, psiquiatra do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, descreve que a distimia é determinada por sua duração de persistência como quadro depressivo na vida do indivíduo: “O critério é o tempo. A gente toma como referência um período de dois anos”.

A diferenciação entre traços de personalidade e o transtorno mental ocorre “justamente pelo fato dos sintomas [da depressão] serem crônicos, muitas vezes acabam se confundindo”, explica o psiquiatra. O transtorno é dividido em dois subtipos: um de desenvolvimento anterior aos 21 anos e outro posterior a essa idade. Enquanto o primeiro pode ser confundido com aspectos individuais, o segundo não pode ser considerado como parte da personalidade, afirma Fernandes: “Traços de personalidade começam a ser mais bem discernidos na adolescência e cristalizam no início da vida adulta”.

Diagnóstico e tratamento da Distimia

Para evitar que as pessoas passem anos sofrendo com os sintomas, ele reitera a importância de um diagnóstico adequado. Ele considera que “o primeiro grande obstáculo para o tratamento é o diagnóstico”, tendo em vista que os sintomas crônicos são mais difíceis de serem tratados. Diante de variações bruscas de humor com picos alternados de emoções, requer-se uma avaliação profissional.

Por isso, o psiquiatra recomenda que as pessoas busquem tratamento quando os sintomas estão mais brandos e que sejam difundidos conhecimentos a respeito dos transtornos de humor. “Tanto medicamento quanto terapia são necessários e se complementam”, informa ele sobre o tratamento do transtorno depressivo persistente. O estilo de vida, por meio de rotinas saudáveis, é outra indicação de Fernandes.

FONTE: Jornal da USP

 

Conheça os LARCs, métodos contraceptivos reversíveis de longa ação

Os métodos contraceptivos reversíveis de longa ação, conhecidos como LARCs, têm potencial para mudar o atual cenário da gravidez indesejada no País. Segundo os especialistas, são métodos de alta eficácia que podem diminuir o problema, principalmente nos grupos de mulheres mais vulneráveis, como as adolescentes e as de baixa renda. Para isso, é preciso levar informação de qualidade às brasileiras e facilitar o acesso aos métodos que ainda têm custo elevado.

O baixo número de mulheres brasileiras usando os LARCS pode ajudar a explicar a diferença nos índices de gravidez não planejada entre Brasil e Reino Unido. Enquanto mais da metade das brasileiras já tiveram gravidez indesejada, segundo a pesquisa Nascer no Brasil, desenvolvida pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, no Reino Unido, esse índice é de 16%, conforme pesquisa do National Health Service.

O médico especialista Silvio Franceschini, da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, conta que o Brasil tem “em torno de 5,5% de mulheres usando LARCs, enquanto no Reino Unido são 31% das mulheres usando esses métodos”, o que, segundo o médico, mostra a grande diferença com relação à quantidade de gravidez indesejada onde o uso do LARC é mais difundido e acessível.

No Brasil, as mulheres ainda escolhem métodos mais tradicionais, em especial pela falta de conhecimento sobre outros métodos, como os LARCs. “A Pesquisa Nacional de Saúde, de 2019, realizada pelo IBGE, avaliou o uso de métodos anticoncepcionais entre mulheres de 15 a 49 anos; 40% usavam pílula; 20% usavam camisinha e 17% realizaram a  laqueadura tubária”, esclarece Erciliene Moraes Martins Yamaguti, médica associada do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto.

Além da falta de informação sobre esses métodos, é preciso ampliar os programas de acesso nos municípios, Estados e até mesmo de forma nacional. No Sistema Único de Saúde, apenas o DIU de cobre está disponível em todo o território. O que existe em alguns municípios são programas de acesso, como em Ribeirão Preto, onde “as pacientes vulneráveis têm acesso ao implante subdérmico, alguns grupos têm acesso ao DIU hormonal também, isso acaba mudando a realidade do município”, conta Erciliene.

Mas o que são os LARCs, métodos contraceptivos reversíveis?

A sigla LARC vem do inglês, long-acting reversible contraceptives, na tradução: métodos reversíveis de longa ação. Esses métodos têm a duração de pelo menos três anos, e nesse rol se enquadram o DIU de cobre e hormonal e o implante contraceptivo subdérmico. Esses métodos são altamente eficazes, pois “têm o uso típico e o uso ideal muito parecidos, porque não dependem da memória da paciente”, conta Franceschini.

Ao comentar sobre a taxa de falha desses métodos, a médica Erciliene informa que “o DIU de cobre tem uma taxa de falha de 0,8%, de 100 pacientes, oito engravidam; já no DIU hormonal, a taxa é de 0,2%, ou seja, de 100 pacientes, duas engravidam, e o implante hormonal subdérmico é ainda mais eficaz, com a taxa de falha de apenas 0,05%, ou seja, cinco mulheres engravidam entre 10 mil usuárias”.

Barreiras de acesso ao uso dos LARCs

Apesar do alto índice de eficácia, esses métodos apresentam algumas barreiras de acesso que dificultam maior uso entre as mulheres no Brasil. A primeira dificuldade é a falta de conhecimento, “as pacientes têm pouca informação sobre os métodos contraceptivos”, conta Erciliene.

A segunda barreira está relacionada ao alto custo desses métodos. “O DIU de cobre, se a gente fosse comprar, é vendido por volta de RS$ 150; o DIU hormonal e o implante subdérmico, por volta de R$ 1.000, além das despesas para inserir os dispositivos na mulher,” comenta a médica especialista. Essa barreira é ainda maior para aquelas pacientes vulneráveis e de baixa renda.

Por fim, Erciliene aponta ainda a falta de capacitação profissional. No mercado existem muitos profissionais que não recebem o treinamento para inserir esses métodos, além daqueles médicos que passam informações incompletas para as pacientes, as desencorajando. “A gente precisa orientar, mas é a paciente que decide, ela tem autonomia na decisão”, conta Erciliene.

FONTE: Jornal da USP

Doença ocular relacionada à idade pode levar à cegueira

No Dia Mundial da Retina, 24 de setembro, uma pesquisa inédita da organização não governamental (ONG) Retina Brasil, com apoio da Roche Farma Brasil, alerta que as dificuldades no diagnóstico da doença ocular, degeneração macular relacionada à idade (DMRI) ocorrem, principalmente, pela pouca informação do paciente sobre a doença e pela demora para iniciar o tratamento. Segundo o estudo, muitas vezes, os sintomas são encarados como parte do envelhecimento e não existe rastreio adequado.

Com o envelhecimento da população brasileira, a DMRI torna-se mais prevalente. A doença afeta a área central da retina (chamada mácula) e representa a principal causa de cegueira irreversível em indivíduos com mais de 50 anos nos países desenvolvidos, informa o Ministério da Saúde.

A pesquisa, que ouviu 100 pessoas com DMRI de todo o Brasil, revela que 81% encontraram barreiras para chegar ao diagnóstico. As principais dificuldades foram a demora para procurar um médico por achar que os sintomas não eram relevantes (59%), a falta de acesso a especialistas (17%) e o medo do diagnóstico (7%). Dificuldades financeiras ou para marcar consultas e realizar exames e falta de acompanhante também foram citadas pelos entrevistados.

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia cita estimativas com base na projeção populacional segundo as quais, em 2030, o país terá quase 900 mil pessoas com DMRI. A doença não tem causa única e, sim, uma combinação de fatores de risco, como: idade, história familiar de DMRI, índice de massa corporal (IMC) elevado, tabagismo e etnia.

Com a progressão da doença, ocorre perda gradual da visão, que pode levar à cegueira total. Os indivíduos com DMRI devem ser examinados e acompanhados periodicamente por um especialista, pois a doença pode se agravar.

“É essencial que seja implantado o protocolo de atendimento no SUS [Sistema Único de Saúde] e na saúde suplementar para a boa gestão do tratamento para preservar a visão e a qualidade de vida. Programas de detecção precoce da doença, facilitação do fluxo dos exames e agilidade para o início do tratamento permitem melhores resultados visuais e otimização da capacidade funcional e independência do idoso”, afirma a médica e professora Juliana Sallum, oftalmologista especializada em retina e genética ocular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Sintomas

Os principais sintomas da degeneração macular relacionada à idade são: visão embaçada, com piora lenta e progressiva, que dificulta enxergar de perto e de longe; prejuízo na capacidade de executar trabalhos detalhados; aparecimento de pontos cegos na visão central e percepção de distorção de linhas. Quando a neovascularização se inicia, o paciente nota piora acentuada e abrupta dos sintomas. Nesse momento, deve começar o tratamento para minimizar a perda visual.

Estima-se que um terço dos adultos acima de 75 anos tem DMRI. Além disso, as mulheres têm mais risco de desenvolver a doença do que os homens, justamente em razão da maior expectativa de vida.

“A DMRI é uma doença degenerativa da retina, especialmente da área macular. A idade é o principal fator de risco. Já o tabagismo é um fator predisponente”, diz a oftalmologista.

A degeneração macular relacionada à idade decorre do envelhecimento da retina. Na forma inicial da doença, ocorre a deposição de material degenerativo na retina, as drusas, fase drusiforme da retina. Na fase úmida, vem o desgaste das camadas da retina, deflagrando a formação de neovascularizacão sub-retiniana.

“A DMRI pode evoluir para a atrofia do epitélio pigmentado da retina na forma seca da doença. As áreas da retina afetada pela atrofia ou pela neovascularização correspondem a áreas de distorção e diminuição da capacidade de enxergar”, completa Juliana.

Prevenção e tratamento da doença ocular

Alguns hábitos saudáveis auxiliam na prevenção da DMRI e são recomendáveis, informa a especialista. “O primeiro [hábito] seria não fumar, pois o tabagismo é o principal fator de risco modificável, assim como proteger-se do sol com óculos escuros e chapéu. Também é indicada uma dieta rica em frutas e vegetais. Alguns estudos apontam benefícios na suplementação de luteína, zeaxantina, zinco e cobre para a prevenção de formas mais graves da doença.”

O tratamento para a forma úmida consiste em injeções intravítreas de anti-VEGF, por meio de injeções intraoculares periódicas, para evitar o dano causado pelo crescimento de complexos neovasculares sub-retinianos.

“Trata-se de uma classe de medicamentos que inibem o VEGF, que é um fator de crescimento de vasos. A retina degenerada estimula a produção de VEGF para formar novos vasos. Mas estes têm a parede frágil, sangram e alteram o tecido retiniano, levando à formação de uma lesão. O paciente percebe como uma mancha que altera a visão central. O tratamento anti-VEGF visa diminuir e controlar esta lesão macular”, detalha Juliana.

Desinformação

Além da falta de informação, que faz com que as pessoas não percebam que a visão está sendo afetada, a pesquisa revela desconhecimento delas sobre sua própria condição, mesmo após o diagnóstico: 10% das pessoas ouvidas não souberam dizer se tinham DMRI seca ou úmida, informação relevante para os cuidados adequados, já que a forma úmida tem opções de tratamento.

Segundo a vice-presidente da Retina Brasil e uma das autoras da pesquisa, Maria Antonieta Leopoldi, a desinformação pode ser atribuída a três fatores: falta de escolaridade do paciente, impacto emocional no momento de ouvir o diagnóstico e falta de o médico comunicar o nome e as características da doença.

“Não é uma doença rara; é uma doença prevalente”, alerta Antonieta. “A desigualdade social do país se apresenta também no sistema de saúde, com diferenças enormes entre o atendimento público e o privado, na forma de obter o diagnóstico e tratar a DMRI. É preciso que as pessoas sejam atendidas cada vez mais rápido e melhor em ambos os serviços”, reforça.

A pesquisa indica necessidade de acompanhamento médico mais adequado para os pacientes. Perguntados sobre o que teria facilitado sua jornada, 38% citaram o fato de terem procurado um especialista no início dos sintomas, 17% disseram que teriam sido beneficiados se tivessem conseguido tratamento precoce e acessível, 10% queriam ter tido acesso a especialistas no início da doença e 8% responderam que ter mais acesso a informação teria sido benéfico. Chama a atenção o fato de que 27% não souberam explicar ou responder.

Outro dado mostra que 32% dos pacientes afirmaram não ter tido informações do médico sobre a DMRI e sobre como conviver com a doença após o diagnóstico. A pesquisa revela ainda que somente 15% das pessoas com DMRI entendem que vivem um novo contexto, uma nova identidade e tentam se adaptar à nova vida com baixa visão.

Entre os entrevistados, 84% resistem em admitir que a vida mudou com a doença, o que, para a ONG Retina Brasil, é mais um sinal de que a saúde mental dos pacientes merece atenção dos médicos, equipe profissional e rede de apoio.

“Quando perguntamos diretamente sobre o impacto no dia a dia, 43% alegaram dificuldade na leitura e na realização de atividades de perto e 45% disseram que estavam perdendo autonomia”, ressalta Antonieta. “Ouvimos constantemente relatos sobre perdas de trabalho, amizades, companheiros, deixar de dirigir e de ler”, acrescenta.

Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil