Desnutrição hospitalar: HC promove campanha para combater o problema

Os sete hospitais do complexo do Hospital das Clínicas da FMUSP receberão treinamentos e ações práticas para tratar dos casos de desnutrição.

A campanha de combate à desnutrição hospitalar do Hospital das Clínicas chama atenção para um problema que envolve demora no período para alta de pacientes, além do aumento significativo de morbidade e mortalidade nos leitos. A constatação se deu a partir de análises desenvolvidas pelo Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional (Ibranutri). Os sete hospitais do complexo do Hospital das Clínicas da FMUSP receberão treinamentos e ações práticas para tratar dos casos de desnutrição.

A desnutrição hospitalar é uma das principais responsáveis pela piora das condições mórbidas de base, que ocasionaram a internação do paciente. Isso tem impactos não somente na recuperação do paciente, como pode ocasionar complicações naqueles submetidos a processos cirúrgicos.

Em dados compilados a partir do HC, que também podem ser observados em resultados obtidos em hospitais da rede do SUS, a desnutrição pode estar presente já na admissão hospitalar; num período entre cinco a sete dias, é possível obter uma taxa de 50% de desnutrição. E, segundo o último levantamento do Ibranutri, de 2001, entre os pacientes desnutridos, 70% desenvolveram complicações e os custos por seu tratamento aumentaram, em média, 60,5%.

O professor Dan Linetzky Waitzberg, do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP, destaca também que, justamente por apresentar todas essas implicações, o tempo de permanência hospitalar é maior, assim como o número de taxas de complicações infecciosas nos pacientes desnutridos, bem como também os gastos com leito, remédios e serviços de enfermagem nas UTIs, além de o fato de dificultar a disponibilidade de leitos hospitalares para novos pacientes.

A campanha de desnutrição

Na tentativa de monitorar e controlar os casos de desnutrição nos hospitais, o professor explica que técnicas de avaliações subjetivas têm sido incorporadas para estimar o risco nutricional de cada paciente. “Todo o paciente deveria passar por uma triagem, a fim de avaliar as condições de massa gorda e magra, ou se há alguma doença de base que poderia piorar a condição da desnutrição”, adiciona Waitzberg. Isso ocorre principalmente porque há casos em que não existe uma aparente desnutrição, ou mesmo, no quadro atual, há a complicação da covid-19.

De forma on-line e presencial, a campanha trata da importância de alertar sobre os riscos da desnutrição, a partir de dados coletados nos sete hospitais do complexo do HC-FMUSP.

Texto: Redação
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Câncer de mama: mitos e desinformações

Os resultados de uma pesquisa inédita sobre o câncer de mama, realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) mostra que para muitas mulheres o autoexame das mamas é a principal forma de detectar tumores de mama precocemente. Essa percepção difere da recomendação das sociedades médicas brasileiras.

O autoexame é importante, reforçam especialistas, mas a mamografia é o principal exame para detectar o câncer de mama na fase inicial. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o  autoexame é indicado como autoconhecimento em relação ao próprio corpo, mas não deve substituir os exames realizados ou prescritos pelo médico, já que muitas lesões, ainda pequenas, não são palpáveis. Contudo, 64% das mulheres que participaram da nova pesquisa do Ipec dizem acreditar que o procedimento seria o principal meio para o diagnóstico do câncer de mama no estágio inicial.

A pesquisa Câncer de Mama Hoje: Como o Brasil Enxerga a Paciente e Sua Doença?, foi feita pelo Ipec com 1.397 mulheres, a pedido da Pfizer. Foram entrevistadas internautas de São Paulo (capital) e das regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com 20 anos ou mais de idade.

Os resultados desta pesquisa foram divulgados nesta quinta-feira (29), em São Paulo, pelo Coletivo Pink. Durante o encontro, especialistas como a médica especialista em câncer de mama do Centro de Oncologia e Hematologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Débora Gagliato; a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz; bem como a líder médica da Pfizer, Márcia Pinheiro, comentaram sobre a pesquisa e o cenário atual do câncer de mama, que ainda ocupa o primeiro lugar nas causas de morte por câncer entre as brasileiras. A coordenadora de projetos e voluntariado no Oncoguia, Evelin Scarelli Terwak, também participou do encontro, e contou sobre a própria trajetória de tratamento do câncer de mama.

Autoexame

Além da confusão em torno do papel do autoexame, a maioria das mulheres ouvidas pelo Ipec também demonstra desconhecer as recomendações médicas para a realização da mamografia, que pode detectar tumores menores que 1 centímetro. Para 54% das respondentes, não está clara a necessidade de passar pelo procedimento caso outros exames, como o ultrassom das mamas, não indiquem alterações: 38 % acreditam que a mamografia deve ser feita apenas mediante achados suspeitos em outros testes, enquanto 16% não sabem opinar.

A recomendação geral das sociedades médicas é a de que, a partir dos 40 anos, as mulheres realizem a mamografia anualmente. Mas 51% das respondentes da pesquisa não estão cientes da importância dessa regularidade: 30% das entrevistadas estão convencidas de que, após um primeiro exame com resultado normal, a mulher estaria liberada para realizar apenas o autoexame em casa, enquanto 21% da amostra afirma desconhecer qual seria a orientação correta.

Mitos sobre o câncer de mama

Os mitos ligados ao tema se mostram fortes na população estudada: 8% das mulheres que responderam à pesquisa atribuem o câncer de mama a causas divinas, alegando que a doença teria aparecido porque “estava nos planos de Deus”. Além disso, 6% das mulheres que acreditam que o tumor teria relação com a possibilidade de a mulher “não ter perdoado alguém”, acumulando mágoa.

Entre as mulheres mais jovens, algumas fake news recorrentes sobre o tema aparecem: na faixa que abrange entrevistadas de 20 a 29 anos, por exemplo, 47% não estão convencidas de que o tipo de sutiã usado não tem impacto no risco de ter câncer de mama: 11% acreditam que os modelos com bojo elevam esse risco e 36% não sabem opinar sobre o assunto. Considerando todas as faixas etárias, tanto em Porto Alegre quanto em Belém, apenas 59% das entrevistadas estão cientes de que a relação com essa peça de roupa é falsa.

O dado sobre o uso da peça e o risco do câncer surpreendeu a líder médica na Pfizer Brasil, Márcia Pinheiro. “Fiquei surpresa com a questão do sutiã com bojo causar o câncer. Mas é nosso papel explicar e tirar essa dúvida da população. É fundamental essa propagação de informação correta porque isso não deixa de ser uma fake news, é uma informação errada”.

Para Márcia, é preciso desmistificar outras informações, como só fazer a mamografia depois de 50 anos, quando o recomendado é a partir dos 40 anos. “A partir do momento que se começa a ter uma uma rotina de ir ao ginecologista anualmente, o exame da mama já tem que estar incluído. O autoexame também é uma coisa que a gente precisa desmistificar: ele é importantíssimo, ele precisa ser feito, não estamos tirando a importância do autoexame, mas ele não é a ferramenta mais importante para fazer o diagnóstico precoce, ou seja não é porque você está fazendo que não precisa fazer a mamografia”.

Márcia destaca que a mamografia é a forma mais precisa de detectar um tumor pequeno. “Já ouvi muitas vezes pacientes reclamando de fazer a mamografia porque é desconfortável, dolorido, mas é uma vez por ano, temos que fazer, pois é a forma mais sensível e acurada de chegar no diagnóstico de um tumor pequeno. Também considero importante a gente dizer que o diagnóstico do câncer não é uma maldição, uma condenação. Hoje temos tratamentos. Então, quanto mais precoce for detectada a doença, mais fácil de tratar e ter um êxito no tratamento”.

Para a coordenadora de projetos e voluntariado no Oncoguia, Evelin Scarelli Terwak, o Outubro Rosa é o momento de trocar o olhar de celebração para um olhar de conscientização. “O Outubro Rosa é um mês de conscientização, de informação”, reforça.

Evelin foi diagnosticada com câncer de mama aos 23 anos. Passou pelo tratamento e hoje, aos 34 anos, trabalha no Oncoguia. Ela destaca a importância da informação. “O medo é trocado no momento que a informação chega, é importante saber os níveis da doença. A mulher com informação compartilha com o médico e assim faz suas escolhas”.

Hereditariedade e fatores de risco

A pesquisa evidencia que a maior parte ignora a relação entre o estilo de vida e a doença: 58% das mulheres não associam o excesso de peso como um fator de risco, enquanto 74% não identificam a relação com o consumo de bebidas alcoólicas.

“O estilo de vida saudável reduz o risco de desenvolver câncer. Então, nunca é tarde. Promover a saúde e a conscientização sobre alimentação e atividade física sempre vale a pena. O álcool é um fator de risco, não recomendamos que a mulher beba álcool ou se consumirem,  limitar uma quantidade pequena. Nós sabemos que tem mulheres que vêm aumentando muito o consumo de álcool, então nunca é demais falar sobre mudança de estilo de vida e se conseguimos implementar essas mudanças, nós conseguimos impactar positivamente nos índices de câncer que a gente vê aumentar. Claro que a idade que a mulher quer ser mãe é um fator que não dá para controlar. Mas o sedentarismo, a obesidade, o etilismo, tem que frisar muito por que são fatores de risco que podem ser modificados”, destaca a oncologista Débora Gagliato, especialista em câncer de mama..

Por outro lado, a herança genética é o fator mais apontado pelas entrevistadas quando perguntadas sobre as causas do câncer de mama: 82% estão convencidas de que a existência de outros casos do tumor na família seria o principal motivo para o desenvolvimento da doença. A literatura médica, contudo, aponta que apenas 5% a 10% do total de casos estão associados a esse elemento.

As participantes da pesquisa desconhecem, por exemplo, a relação entre comportamentos associados à mulher moderna e o câncer de mama: apenas 17% estão cientes de que não ter filhos biológicos aumenta o risco para a doença e muitas ignoram o efeito protetor da

amamentação, como é o caso de 55% das entrevistadas de Porto Alegre  e de 54% das paulistanas.

Elementos ligados ao perfil reprodutivo das mulheres também compõem o leque de fatores de risco para o câncer de mama, como a menopausa tardia (após os 55 anos), mas apenas 13% das respondentes conhecem essa informação. Além disso, somente 8% estão cientes de que ter a primeira menstruação antes dos 12 anos também contribui para elevar esse risco.

Pandemia

Os dados da pesquisa indicam que o cenário pandêmico continua a impactar o cuidado com a saúde feminina. Quando questionadas sobre os exames mamários feitos nos últimos 18 meses, 48% das participantes do levantamento responderam que não realizaram procedimentos com acompanhamento médico: 21% recorreram ao autoexame e 27% não passaram por nenhuma avaliação nesse período.

Considerando o total da amostra, apenas 34% das respondentes afirmam ter mantido a mamografia nos últimos 18 meses, número que cai para 26% tanto no Distrito Federal quanto em Belém. Quando se trata dos cuidados gerais de saúde, somente 17% das mulheres ouvidas pelo Ipec dizem que, durante a pandemia, realizaram os exames de rotina com a mesma frequência habitual que mantinham anteriormente.

O novo levantamento aponta, ainda, que uma porcentagem considerável de mulheres ainda não retomou suas consultas médicas e exames desde que a pandemia começou: essa é a situação de 7% das respondentes, mas a taxa chega a 9% em Porto Alegre e no Recife.

Outubro Rosa e o câncer de mama

Exposições, debates, experiência imersiva e outras atividades relacionadas ao tema vão ocupar, a partir do dia 4 de outubro, o busto gigante, com 300 metros quadrados, montado no Largo da Batata, em São Paulo. Serviços realizados por parceiros do projeto, como corte de cabelo solidário e carreta da mamografia, também fazem parte da programação, bem como oficinas, performances artísticas e palestras.

Busto feminino gigante instalado no Largo da Batata pelo movimento Coletivo Pink – Por um Outubro Além do Rosa, em Pinheiros.

Criado em 2018, o Coletivo Pink é um projeto colaborativo idealizado pela Pfizer que busca formas de dialogar sobre o câncer de mama com a sociedade e dar voz para quem já enfrenta a doença, em todos os estágios. Este ano o Coletivo tem apoio de 15 associações de pacientes oncológicos, que representam diferentes partes do País.

Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil

Distimia, tipo de depressão crônica que requer diagnóstico adequado

A depressão atinge as pessoas com gravidades e recorrências variadas. Também denominada como transtorno depressivo persistente, a distimia tem um diagnóstico difícil e afeta 6% da população mundial, segundo especialistas. No Setembro Amarelo, mês da campanha de prevenção ao suicídio, é relevante diferir as doenças psicológicas. Fernando Fernandes, psiquiatra do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, descreve que a distimia é determinada por sua duração de persistência como quadro depressivo na vida do indivíduo: “O critério é o tempo. A gente toma como referência um período de dois anos”.

A diferenciação entre traços de personalidade e o transtorno mental ocorre “justamente pelo fato dos sintomas [da depressão] serem crônicos, muitas vezes acabam se confundindo”, explica o psiquiatra. O transtorno é dividido em dois subtipos: um de desenvolvimento anterior aos 21 anos e outro posterior a essa idade. Enquanto o primeiro pode ser confundido com aspectos individuais, o segundo não pode ser considerado como parte da personalidade, afirma Fernandes: “Traços de personalidade começam a ser mais bem discernidos na adolescência e cristalizam no início da vida adulta”.

Diagnóstico e tratamento da Distimia

Para evitar que as pessoas passem anos sofrendo com os sintomas, ele reitera a importância de um diagnóstico adequado. Ele considera que “o primeiro grande obstáculo para o tratamento é o diagnóstico”, tendo em vista que os sintomas crônicos são mais difíceis de serem tratados. Diante de variações bruscas de humor com picos alternados de emoções, requer-se uma avaliação profissional.

Por isso, o psiquiatra recomenda que as pessoas busquem tratamento quando os sintomas estão mais brandos e que sejam difundidos conhecimentos a respeito dos transtornos de humor. “Tanto medicamento quanto terapia são necessários e se complementam”, informa ele sobre o tratamento do transtorno depressivo persistente. O estilo de vida, por meio de rotinas saudáveis, é outra indicação de Fernandes.

FONTE: Jornal da USP

 

Conheça os LARCs, métodos contraceptivos reversíveis de longa ação

Os métodos contraceptivos reversíveis de longa ação, conhecidos como LARCs, têm potencial para mudar o atual cenário da gravidez indesejada no País. Segundo os especialistas, são métodos de alta eficácia que podem diminuir o problema, principalmente nos grupos de mulheres mais vulneráveis, como as adolescentes e as de baixa renda. Para isso, é preciso levar informação de qualidade às brasileiras e facilitar o acesso aos métodos que ainda têm custo elevado.

O baixo número de mulheres brasileiras usando os LARCS pode ajudar a explicar a diferença nos índices de gravidez não planejada entre Brasil e Reino Unido. Enquanto mais da metade das brasileiras já tiveram gravidez indesejada, segundo a pesquisa Nascer no Brasil, desenvolvida pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, no Reino Unido, esse índice é de 16%, conforme pesquisa do National Health Service.

O médico especialista Silvio Franceschini, da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, conta que o Brasil tem “em torno de 5,5% de mulheres usando LARCs, enquanto no Reino Unido são 31% das mulheres usando esses métodos”, o que, segundo o médico, mostra a grande diferença com relação à quantidade de gravidez indesejada onde o uso do LARC é mais difundido e acessível.

No Brasil, as mulheres ainda escolhem métodos mais tradicionais, em especial pela falta de conhecimento sobre outros métodos, como os LARCs. “A Pesquisa Nacional de Saúde, de 2019, realizada pelo IBGE, avaliou o uso de métodos anticoncepcionais entre mulheres de 15 a 49 anos; 40% usavam pílula; 20% usavam camisinha e 17% realizaram a  laqueadura tubária”, esclarece Erciliene Moraes Martins Yamaguti, médica associada do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto.

Além da falta de informação sobre esses métodos, é preciso ampliar os programas de acesso nos municípios, Estados e até mesmo de forma nacional. No Sistema Único de Saúde, apenas o DIU de cobre está disponível em todo o território. O que existe em alguns municípios são programas de acesso, como em Ribeirão Preto, onde “as pacientes vulneráveis têm acesso ao implante subdérmico, alguns grupos têm acesso ao DIU hormonal também, isso acaba mudando a realidade do município”, conta Erciliene.

Mas o que são os LARCs, métodos contraceptivos reversíveis?

A sigla LARC vem do inglês, long-acting reversible contraceptives, na tradução: métodos reversíveis de longa ação. Esses métodos têm a duração de pelo menos três anos, e nesse rol se enquadram o DIU de cobre e hormonal e o implante contraceptivo subdérmico. Esses métodos são altamente eficazes, pois “têm o uso típico e o uso ideal muito parecidos, porque não dependem da memória da paciente”, conta Franceschini.

Ao comentar sobre a taxa de falha desses métodos, a médica Erciliene informa que “o DIU de cobre tem uma taxa de falha de 0,8%, de 100 pacientes, oito engravidam; já no DIU hormonal, a taxa é de 0,2%, ou seja, de 100 pacientes, duas engravidam, e o implante hormonal subdérmico é ainda mais eficaz, com a taxa de falha de apenas 0,05%, ou seja, cinco mulheres engravidam entre 10 mil usuárias”.

Barreiras de acesso ao uso dos LARCs

Apesar do alto índice de eficácia, esses métodos apresentam algumas barreiras de acesso que dificultam maior uso entre as mulheres no Brasil. A primeira dificuldade é a falta de conhecimento, “as pacientes têm pouca informação sobre os métodos contraceptivos”, conta Erciliene.

A segunda barreira está relacionada ao alto custo desses métodos. “O DIU de cobre, se a gente fosse comprar, é vendido por volta de RS$ 150; o DIU hormonal e o implante subdérmico, por volta de R$ 1.000, além das despesas para inserir os dispositivos na mulher,” comenta a médica especialista. Essa barreira é ainda maior para aquelas pacientes vulneráveis e de baixa renda.

Por fim, Erciliene aponta ainda a falta de capacitação profissional. No mercado existem muitos profissionais que não recebem o treinamento para inserir esses métodos, além daqueles médicos que passam informações incompletas para as pacientes, as desencorajando. “A gente precisa orientar, mas é a paciente que decide, ela tem autonomia na decisão”, conta Erciliene.

FONTE: Jornal da USP

Doença ocular relacionada à idade pode levar à cegueira

No Dia Mundial da Retina, 24 de setembro, uma pesquisa inédita da organização não governamental (ONG) Retina Brasil, com apoio da Roche Farma Brasil, alerta que as dificuldades no diagnóstico da doença ocular, degeneração macular relacionada à idade (DMRI) ocorrem, principalmente, pela pouca informação do paciente sobre a doença e pela demora para iniciar o tratamento. Segundo o estudo, muitas vezes, os sintomas são encarados como parte do envelhecimento e não existe rastreio adequado.

Com o envelhecimento da população brasileira, a DMRI torna-se mais prevalente. A doença afeta a área central da retina (chamada mácula) e representa a principal causa de cegueira irreversível em indivíduos com mais de 50 anos nos países desenvolvidos, informa o Ministério da Saúde.

A pesquisa, que ouviu 100 pessoas com DMRI de todo o Brasil, revela que 81% encontraram barreiras para chegar ao diagnóstico. As principais dificuldades foram a demora para procurar um médico por achar que os sintomas não eram relevantes (59%), a falta de acesso a especialistas (17%) e o medo do diagnóstico (7%). Dificuldades financeiras ou para marcar consultas e realizar exames e falta de acompanhante também foram citadas pelos entrevistados.

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia cita estimativas com base na projeção populacional segundo as quais, em 2030, o país terá quase 900 mil pessoas com DMRI. A doença não tem causa única e, sim, uma combinação de fatores de risco, como: idade, história familiar de DMRI, índice de massa corporal (IMC) elevado, tabagismo e etnia.

Com a progressão da doença, ocorre perda gradual da visão, que pode levar à cegueira total. Os indivíduos com DMRI devem ser examinados e acompanhados periodicamente por um especialista, pois a doença pode se agravar.

“É essencial que seja implantado o protocolo de atendimento no SUS [Sistema Único de Saúde] e na saúde suplementar para a boa gestão do tratamento para preservar a visão e a qualidade de vida. Programas de detecção precoce da doença, facilitação do fluxo dos exames e agilidade para o início do tratamento permitem melhores resultados visuais e otimização da capacidade funcional e independência do idoso”, afirma a médica e professora Juliana Sallum, oftalmologista especializada em retina e genética ocular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Sintomas

Os principais sintomas da degeneração macular relacionada à idade são: visão embaçada, com piora lenta e progressiva, que dificulta enxergar de perto e de longe; prejuízo na capacidade de executar trabalhos detalhados; aparecimento de pontos cegos na visão central e percepção de distorção de linhas. Quando a neovascularização se inicia, o paciente nota piora acentuada e abrupta dos sintomas. Nesse momento, deve começar o tratamento para minimizar a perda visual.

Estima-se que um terço dos adultos acima de 75 anos tem DMRI. Além disso, as mulheres têm mais risco de desenvolver a doença do que os homens, justamente em razão da maior expectativa de vida.

“A DMRI é uma doença degenerativa da retina, especialmente da área macular. A idade é o principal fator de risco. Já o tabagismo é um fator predisponente”, diz a oftalmologista.

A degeneração macular relacionada à idade decorre do envelhecimento da retina. Na forma inicial da doença, ocorre a deposição de material degenerativo na retina, as drusas, fase drusiforme da retina. Na fase úmida, vem o desgaste das camadas da retina, deflagrando a formação de neovascularizacão sub-retiniana.

“A DMRI pode evoluir para a atrofia do epitélio pigmentado da retina na forma seca da doença. As áreas da retina afetada pela atrofia ou pela neovascularização correspondem a áreas de distorção e diminuição da capacidade de enxergar”, completa Juliana.

Prevenção e tratamento da doença ocular

Alguns hábitos saudáveis auxiliam na prevenção da DMRI e são recomendáveis, informa a especialista. “O primeiro [hábito] seria não fumar, pois o tabagismo é o principal fator de risco modificável, assim como proteger-se do sol com óculos escuros e chapéu. Também é indicada uma dieta rica em frutas e vegetais. Alguns estudos apontam benefícios na suplementação de luteína, zeaxantina, zinco e cobre para a prevenção de formas mais graves da doença.”

O tratamento para a forma úmida consiste em injeções intravítreas de anti-VEGF, por meio de injeções intraoculares periódicas, para evitar o dano causado pelo crescimento de complexos neovasculares sub-retinianos.

“Trata-se de uma classe de medicamentos que inibem o VEGF, que é um fator de crescimento de vasos. A retina degenerada estimula a produção de VEGF para formar novos vasos. Mas estes têm a parede frágil, sangram e alteram o tecido retiniano, levando à formação de uma lesão. O paciente percebe como uma mancha que altera a visão central. O tratamento anti-VEGF visa diminuir e controlar esta lesão macular”, detalha Juliana.

Desinformação

Além da falta de informação, que faz com que as pessoas não percebam que a visão está sendo afetada, a pesquisa revela desconhecimento delas sobre sua própria condição, mesmo após o diagnóstico: 10% das pessoas ouvidas não souberam dizer se tinham DMRI seca ou úmida, informação relevante para os cuidados adequados, já que a forma úmida tem opções de tratamento.

Segundo a vice-presidente da Retina Brasil e uma das autoras da pesquisa, Maria Antonieta Leopoldi, a desinformação pode ser atribuída a três fatores: falta de escolaridade do paciente, impacto emocional no momento de ouvir o diagnóstico e falta de o médico comunicar o nome e as características da doença.

“Não é uma doença rara; é uma doença prevalente”, alerta Antonieta. “A desigualdade social do país se apresenta também no sistema de saúde, com diferenças enormes entre o atendimento público e o privado, na forma de obter o diagnóstico e tratar a DMRI. É preciso que as pessoas sejam atendidas cada vez mais rápido e melhor em ambos os serviços”, reforça.

A pesquisa indica necessidade de acompanhamento médico mais adequado para os pacientes. Perguntados sobre o que teria facilitado sua jornada, 38% citaram o fato de terem procurado um especialista no início dos sintomas, 17% disseram que teriam sido beneficiados se tivessem conseguido tratamento precoce e acessível, 10% queriam ter tido acesso a especialistas no início da doença e 8% responderam que ter mais acesso a informação teria sido benéfico. Chama a atenção o fato de que 27% não souberam explicar ou responder.

Outro dado mostra que 32% dos pacientes afirmaram não ter tido informações do médico sobre a DMRI e sobre como conviver com a doença após o diagnóstico. A pesquisa revela ainda que somente 15% das pessoas com DMRI entendem que vivem um novo contexto, uma nova identidade e tentam se adaptar à nova vida com baixa visão.

Entre os entrevistados, 84% resistem em admitir que a vida mudou com a doença, o que, para a ONG Retina Brasil, é mais um sinal de que a saúde mental dos pacientes merece atenção dos médicos, equipe profissional e rede de apoio.

“Quando perguntamos diretamente sobre o impacto no dia a dia, 43% alegaram dificuldade na leitura e na realização de atividades de perto e 45% disseram que estavam perdendo autonomia”, ressalta Antonieta. “Ouvimos constantemente relatos sobre perdas de trabalho, amizades, companheiros, deixar de dirigir e de ler”, acrescenta.

Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil

Doação de órgãos: recusa da família ainda é obstáculo

O Hospital das Clínicas, que está promovendo campanha de conscientização sobre a importância da doação de órgãos, quer mudar uma realidade que apresenta dados como os de que 67% das pessoas desejam doar, mas apenas 52% expressam a suas famílias.

No dia 27 deste mês é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Muito importante e responsável por salvar a vida de milhares de pessoas, a doação de órgãos ainda sofre com a desinformação, medo e negação de familiares ao desejo do parente morto.

Segundo pesquisa realizada no ano passado pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), 67% dos entrevistados querem doar seus órgãos, mas 52% não avisaram os parentes. Dentre os consultados, 26% tinham motivos indefinidos para não doar seus órgãos, 12% ficam com medo do corpo ficar deformado e 11% têm medo de assuntos relacionados à morte.

Não há no Brasil legislação que garanta que a doação de órgão aconteça apenas pela manifestação de desejo do paciente falecido, de forma que, mesmo que expressa, a decisão final ainda é da família. Assim, a conversa entre as partes é fundamental. “Hoje não adianta deixar nada por escrito, não adianta deixar documento, não adianta ter no RG.(…) Isso tem que ser conversado antes, eu acho que essa é uma das principais limitações: a família, muitas vezes, não sabe o desejo dessa pessoa em doar”, lembra a hepatologista coordenadora clínica de Transplante Hepático do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Débora Terrabuio.

“Quem lidera a lista de espera é justamente o rim. Hoje, na área em que eu trabalho, nós temos mais de 1.200 pacientes esperando um fígado”, diz a doutora. Também explica que não há mutilação do corpo e que a cirurgia para a retirada dos tecidos e órgãos é como qualquer outra, ou seja, não há prejuízos: “O corpo não é mutilado no processo de doação de órgãos, ele é feito por uma cirurgia que segue todas as regras de uma cirurgia convencional. Não há nenhum prejuízo nem para a pessoa que doa, nem para a família que autorizou a doação”.

Como é o processo de doação de órgãos?

“Qualquer pessoa de qualquer idade pode doar e a contraindicação da doação conforme uma comorbidade que a pessoa apresente fica a critério da equipe médica que vai escolher o órgão”, explica Débora. Para se doar órgãos ainda em vida aos parentes é necessário ser maior de idade e, quando morta, apenas após a morte encefálica ser decretada. Caso a doação seja feita para alguém de fora da família, será por meio de decisão judicial e deve haver, sem exceções, compatibilidade sanguínea e chance de sucesso.

O País é, atualmente, o segundo que mais realiza transplantes e fica atrás apenas dos Estados Unidos. Porém, segundo dados de junho da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, 51.674 pessoas aguardam na fila de espera. A fila única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada Estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes, define quem ganha o órgão.

Diferentemente do que se espera do nome, a fila única não funciona por ordem, mas sim pela compatibilidade do doador com aquele que receberá o órgão. Uma série de exames e a própria disponibilidade do paciente são levados em conta, o que faz com que alguém que esteja esperando há muito tempo não realize o transplante.

Todo o processo tem que ser rápido. “A maioria dos órgãos tolera o tempo máximo fora do organismo, entre sair dos doadores e ser colocado no receptor, de 6 a 8 horas. É uma corrida contra o tempo entre captar o órgão e implantar esse órgão na pessoa que está aguardando na lista”, complementa.

 Como desmistificar a morte?

A recusa da família e a mistificação da morte são aspectos que empacam a doação dos órgãos. O procedimento é cercado por dúvidas e muitos não sabem ao certo como ocorre e, ao se tratar de um ente falecido, isso se torna ainda mais difícil: “Para o transplante acontecer, o primeiro passo é a doação da família”, ressalta a hepatologista.

“A gente vê a vida continuar. É muito, muito alegre esse momento, a gente fica muito feliz de ver quando as coisas dão certo e como os pacientes melhoram de vida, como eles passam a ter uma vida normal e como eles são gratos às famílias que doaram”, finaliza a doutora. Após o transplante, uma vida é salva e órgãos que estão em boas condições não são desperdiçados.

A campanha de conscientização do público acerca da doação de órgãos conta com apoio dos transplantados e o Hospital das Clínicas convida a uma discussão para desmistificar a morte e a doação de órgãos.

FONTE: Jornal da USP

Paternidade tardia pode aumentar chances de gerar filhos com problemas genéticos

Nos últimos anos, pesquisadores têm publicado artigos mostrando que a paternidade tardia pode aumentar os riscos de um filho com esquizofrenia, autismo, transtorno bipolar, déficit de atenção e hiperatividade.

Um novo casamento, o desejo de ter filhos mais tarde ou até mesmo de não tê-los, vários motivos podem levar um homem a postergar a paternidade. Ao tomar essa decisão, há dificuldades ou riscos quando o desejo de ser pai se apresenta. O médico Rui Ferriani, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, também chefe do setor de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, destaca que “nessa faixa etária é muito comum os homens já terem realizado a vasectomia. Por esse motivo, são necessárias técnicas alternativas para auxiliar na fertilização da maioria deles. Para quando há o desejo de engravidar uma mulher mais jovem, é necessário fazer a punção do testículo, para obtenção dos espermatozoides, já que a cirurgia de recanalização não é muito frequente e não tem tão bons resultados”.

Quanto maior a idade da mulher ou do homem, maior o risco de o bebê apresentar problemas genéticos. O especialista destaca que “uma mulher, por exemplo, aos 42 anos, tem uma em cada 80 gestações com risco de um filho com síndrome de Down. No homem, essa relação não é tão marcante, mas hoje já se observa duas coisas: uma, piores resultados na fertilização in vitro com homens com idade mais avançada após os 40/45 anos; segundo, algumas doenças, que não são cromossômicas iguais às da mãe, mas algumas delas, principalmente com distúrbios bipolares e autismo, costumam ser mais frequentes em homens com idade mais avançada. Esse é um fato relativamente novo que tem gerado uma maior atenção e aconselhamento”.

O doutor Ferriani destaca que hoje o limite para doação de sêmen, que antes era de 50 anos, passou para 45. Não existem tratamentos preventivos que possam melhorar a qualidade dessa reprodução assistida. Não há muito como detectar geneticamente essas doenças. Por esse motivo, quanto antes a gestação ocorrer, melhor. Alguns cuidados, como evitar a obesidade, ter uma alimentação saudável, não fumar e fazer atividade física ajuda bastante. Ser pai em uma fase mais avançada da vida traz muitas reflexões que podem ser sanadas por um profissional especializado.

Anomalias cromossômicas

Mary Elly Negrão, psicóloga responsável pela avaliação e seguimento dos pacientes em tratamento de reprodução humana nos ambulatórios de Esterilidade e Fertilidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, explica que, “de uma forma geral, as mulheres têm noção das anomalias cromossômicas associadas ao envelhecimento, no entanto, raramente eu atendo um homem que tem algum conhecimento sobre os efeitos da idade na quantidade e qualidade dos espermatozoides”. Nos últimos anos, alguns pesquisadores têm publicado artigos mostrando que a paternidade tardia pode aumentar os riscos de um filho com esquizofrenia, autismo, transtorno bipolar,  déficit de atenção e hiperatividade.

Para garantir que o paciente ou casal não tenha dúvidas sobre sua decisão, Mary Elly realiza uma bateria de perguntas para incentivar reflexões que possam ajudar em sua resolução, independentemente da idade. “A decisão de ter um filho costuma estar pautada não somente no desejo de querer ter um filho, mas também nas circunstâncias do momento em que estão vivendo, como condições de saúde física e mental, de moradia, renda financeira, a disponibilidade de tempo para exercer a função de educar e prover afeto, a rede de apoio presente nos desafios envolvidos nessa criação do filho, como trocar fraldas, brincar, sentar para ajudar nas tarefas escolares.” A psicóloga destaca que, “ainda que sejam realizadas várias reflexões, não se pode afirmar como será de fato a vivência na prática dessa paternidade tardia, nem como será a saúde desse filho e o relacionamento entre eles ao longo da vida”.

Por Simone Lemos

FONTE: Jornal da USP

Tipo sanguíneo pode estar ligado ao risco de AVC precoce

Compilação de 48 estudos feitos na América do Norte, Europa, Japão, Paquistão e Austrália revelou que indivíduos do tipo sanguíneo A podem ser mais suscetíveis ao Acidente Vascular Cerebral antes dos 60 anos.

Em um estudo publicado no periódico Neurology, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, descobriram que pessoas com tipo sanguíneo A podem estar mais suscetíveis a sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) antes dos 60 anos.

A partir de um compilado de 48 estudos feitos na América do Norte, Europa, Japão, Paquistão e Austrália sobre genética e AVC isquêmico — que acontece pelo entupimento de veias e artérias responsáveis pela irrigação de diferentes partes do cérebro —, cientistas analisaram os dados de 17 mil pessoas que sofreram derrame ao longo da vida e quase 600 mil participaram do grupo controle e nunca desenvolveram a doença.

Durante o experimento, os pesquisadores notaram que o tipo sanguíneo A predominou em comparação com pessoas que tiveram AVC com 60 anos ou mais ou nunca tiveram: para essas pessoas, o risco de ter um derrame precoce foi 16% maior. Já para aqueles com o tipo O, o risco foi 12% menor.

Associação de genoma

“O estudo é de associação de genoma. Ele consegue ver essa relação, mas não testa o mecanismo dela. Então, ele traz algumas hipóteses junto com outros estudos. Uma das ideias é que o sistema ABO é dado por glicoproteínas que, além de estarem nos glóbulos vermelhos, também têm relação com proteínas em plaquetas na parede dos vasos. Isso muda os fatores de coagulação e foi mostrado em outros estudos anteriores uma mudança de fator de coagulação. Quem é do tipo A tem uma tendência maior a fazer coágulos e também tem mais trombose venosa”, explica Guilherme Diogo, neurologista no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Atuando nas áreas de neuroimunologia e de emergências neurológicas, o médico esclarece que, com base nas evidências científicas até o momento, ainda não é possível afirmar que pessoas com o grupo sanguíneo A estão mais suscetíveis ao AVC precoce, mas essa descoberta internacional pode abrir portas para que a comunidade científica entenda melhor quais fatores podem estar relacionados às conclusões da pesquisa.

“A ideia desses estudos de risco por genética é combinar vários fatores. Por exemplo, a gente pode juntar várias dessas mutações genéticas a fatores ambientais também. Será que eu vou conseguir desenvolver mais algum exame, mais algum tratamento precoce a partir daquela mutação? Sozinho, esse estudo não vai conseguir fazer isso, mas pode ser um passo para virar algo complexo”, finaliza o especialista.

Por Gabriele Koga

FONTE: Jornal da USP

Obesidade infantil e saúde do feto viram objeto de estudo

Projeto da Faculdade de Saúde Pública se pauta no estudo sobre o estado nutricional das Obesidade infantil, ainda durante a gestação, e correlaciona a obesidade infantil com fatores genéticos advindos da mãe e do ambiente

Projeto Coorte sobre estado nutricional de crianças da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP – USP) avalia fatores genéticos e ambientais na instalação precoce da obesidade desde a fase uterina. A professora Patrícia Helen Rondo, coordenadora do projeto de pesquisa, salienta que a importância do estudo está relacionada à questão sobre a obesidade ser uma pandemia que atinge não apenas a população adulta como também as crianças, e as consequências relacionadas ao sobrepeso.

Os estudos sobre as causas da obesidade na fase uterina concentraram-se no objetivo de entender a formação da adipogênese, ou massa gorda, em crianças. A avaliação foi feita no segundo trimestre da gestação, com 2 mil gestantes, na cidade de Araraquara, em 2017 e, a partir dela, também foi possível observar a relação com a mãe e com fatores genéticos e ambientais.

Com um acompanhamento a longo prazo, foi possível identificar essa relação entre o índice de massa corporal pré-gestacional das mães, que está ligado ao ganho de peso durante a gestação, e o seu perfil glicêmico. Patrícia explica que isso ocorre porque a avaliação é feita no período gestacional e no neonatal, a partir da expressão gênica e do metabolismo lipídico do bebê, por meio do cordão umbilical. E adiciona: “Estamos tentando entender, através de mecanismos filogenéticos e de expressão gênica que estão relacionados com a formação da massa gorda já na vida fetal”.

Justamente por avaliar a composição corporal do feto e sua relação com a mãe, ao invés de pautar-se no tamanho e peso do bebê, o estudo traz uma relevância inédita. No que diz respeito à gestante, também buscou entender o porquê da maioria delas sofrer com a retenção de peso no período pós-parto e a predisposição a doenças crônicas.

Doenças crônicas 

O estudo também tem como objetivo estudar a relação do sobrepeso infantil com a predisposição a doenças crônicas em crianças. Correlacionando a fatores maternos genéticos, a professora explica que, a partir dele, seria possível observar o risco a que o bebê estaria sujeito. “Não só saber quais são os fatores maternos genéticos relacionados com essa massa gorda do bebê, mas que risco esse bebê pode ter futuramente”, complementa.

Em relação à saúde materna, a professora chama atenção para os processos posteriores ao pré-natal e à gestação em si. Para ela, o período puerpério acaba recebendo uma menor atenção, mesmo sendo de “extrema importância”, pois é nesse intervalo que a mãe irá recuperar o peso e amamentará.

FONTE: Jornal da USP

Dia Mundial do Alzheimer alerta para aumento de casos no mundo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, sendo a mais comum a doença de Alzheimer, que atinge sete entre dez indivíduos nessa situação em todo o mundo. A OMS alerta para a tendência de aumento preocupante desses números, com o envelhecimento da população. Estimativas da Alzheimer’s Disease International, sediada no Reino Unido, os números globais poderão chegar a 74,7 milhões, em 2030, e 131,5 milhões, em 2050.

Já aqui no Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que em torno de 1,2 milhão de pessoas têm a doença e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.

Nesta quarta-feira (21) celebra-se o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, criado pela Associação Internacional do Alzheimer. No Brasil, a data marca o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, instituído para esclarecer os brasileiros sobre a importância da participação de familiares e amigos nos cuidados aos diagnosticados com a doença.

“A doença de Alzheimer se manifesta por uma disfunção em que alguns neurônios do nosso cérebro começam a morrer”, disse à Agência Brasil o neurologista Silvio Pessanha Neto, diretor do Instituto de Educação Médica (Idomed). As doenças neurodegenerativas têm todas esse mesmo perfil. “Dependendo da localização desses neurônios, vão ocorrer sinais e sintomas diferentes. Mas a fisiopatologia é a mesma”, destacou o médico.

No caso do Alzheimer, um conjunto de neurônios sofre um processo defeituoso e começa a morrer. Como esses neurônios são justamente aqueles responsáveis pela memória, o paciente começa a ter incapacidade para gerar novas memórias. “Começa o esquecimento relacionado a eventos recentes”.

Pessanha explica que os primeiros sinais são identificados pela família e por amigos. “O indivíduo começa a esquecer coisas, como o nome dos netos; começa a repetir a mesma pergunta várias vezes; não consegue aprender coisas novas”.

Mais jovens

O Alzheimer é uma das formas de demência neurodegenerativa que, geralmente, afetam os idosos, já que trata-se de um processo lento e progressivo. Os sintomas começam, em geral, depois da sexta ou sétima décadas de vida. Para especialistas, a doença em jovens é muito rara e ocorre quando há predisposição genética para a doença.

“O jovem, entendido como alguém na faixa de 40 anos, quando tem [Alzheimer], esse processo começa muito precocemente, porque é preciso muito tempo para essa disfunção se manifestar”, diz Pessanha.

O especialista esclarece ainda que o Alzheimer não pode ser confundido com a demência senil: “o cérebro envelhece, como todo o corpo envelhece. Alzheimer é a doença. Não é o  envelhecimento natural do nosso cérebro”.

Ferramenta

O médico nuclear e membro titular da Sociedade Europeia de Medicina Nuclear, José Leite, conta que a medicina ganhou importantes aliados para a detecção do Alzheimer, como um teste de imagem não invasivo, chamado PET Amiloide Florbetabeno (PET-CT com Florbetabeno-18F). “O exame é capaz de fazer a medição do volume de placas beta amiloides que, quando acumuladas, interferem no funcionamento das células cerebrais e são consideradas como digitais do Alzheimer pelos médicos”.

O exame é uma novidade no país e importante porque potencializa o diagnóstico. Como é uma doença progressiva, quanto o diagnóstico mais chances de iniciar um tratamento correto para melhorar a qualidade de vida do paciente. “É muito importante porque, quanto antes tiver o diagnóstico, o médico pode tratar melhor, começar a medicar o paciente para que se reduza a velocidade com a qual os neurônios começam a morrer. Aí, você eleva a qualidade de vida e o prognóstico do paciente melhora muito”, avalia Pessanha.

Segundo Marcus Tulius, neurologista do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o novo exame é uma ferramenta para auxiliar no diagnóstico, mas, isoladamente, não é suficiente. “Ele fortalece a hipótese clínica. Possibilita a detecção precoce da condição e, juntamente com a avaliação dos sintomas existentes, é possível tentar estabilizá-los”.

Estímulos

Marcus Tulius destacou que a melhora da qualidade de vida do paciente com Alzheimer é propiciada quando se faz um tratamento mais precoce, “fazer com que a pessoa e a família se preparem para essa doença, apesar de saber que a doença vai progredir no futuro. Os medicamentos fazem com que essa evolução seja mais lenta”.

O Alzheimer é uma doença sem cura e não há uma prevenção comprovadamente eficiente. A prevenção consiste em manter uma atividade física e mental ativa, ler muito, escrever, fazer palavras-cruzadas, quebra-cabeças. “Quem ocupa o cérebro adia a doença”, diz Pessanha.

Além dos estímulos mentais, há evidências cada vez maiores de que exercícios físicos são benéficos para a prevenção e tratamento do Alzheimer. A atividade física regular, como por exemplo as caminhadas, não apenas protege contra alguns fatores de risco para o surgimento do Alzheimer, como hipertensão, colesterol alto e diabetes, como também traz benefício na velocidade de raciocínio, favorece a manutenção da memória e ajuda na prevenção do declínio cognitivo.

Estudos recentes relacionam o Alzheimer com outras doenças e, por esse motivo, um cuidado com a saúde em geral pode adiar o desenvolvimento da doença. “A gente sabe hoje que Alzheimer está ligado muito ao diabetes, à hipertensão, ao tabagismo, à síndrome da apneia obstrutiva do sono, a quadros de depressão. Então, se você precocemente trata essas situações, isso diminui o risco de o idoso, quando chega à terceira idade, desenvolver Alzheimer”, diz Marcus Tulius.

Apoio

O suporte da família ao paciente com Alzheimer é fundamental. “A pessoa está com uma enfermidade. Ela não confunde o nome do neto, por exemplo, porque quer. Tento pedir que a família apoie, estimule, leve para o cinema, o museu, o teatro, leve para passear, tenha paciência porque esses estímulos é que vão manter o paciente, por mais tempo, com uma qualidade mínima de vida para interagir com as pessoas”, recomenda Pessanha.

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil