Compilação de 48 estudos feitos na América do Norte, Europa, Japão, Paquistão e Austrália revelou que indivíduos do tipo sanguíneo A podem ser mais suscetíveis ao Acidente Vascular Cerebral antes dos 60 anos.
Em um estudo publicado no periódico Neurology, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, descobriram que pessoas com tipo sanguíneo A podem estar mais suscetíveis a sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) antes dos 60 anos.
A partir de um compilado de 48 estudos feitos na América do Norte, Europa, Japão, Paquistão e Austrália sobre genética e AVC isquêmico — que acontece pelo entupimento de veias e artérias responsáveis pela irrigação de diferentes partes do cérebro —, cientistas analisaram os dados de 17 mil pessoas que sofreram derrame ao longo da vida e quase 600 mil participaram do grupo controle e nunca desenvolveram a doença.
Durante o experimento, os pesquisadores notaram que o tipo sanguíneo A predominou em comparação com pessoas que tiveram AVC com 60 anos ou mais ou nunca tiveram: para essas pessoas, o risco de ter um derrame precoce foi 16% maior. Já para aqueles com o tipo O, o risco foi 12% menor.
Associação de genoma
“O estudo é de associação de genoma. Ele consegue ver essa relação, mas não testa o mecanismo dela. Então, ele traz algumas hipóteses junto com outros estudos. Uma das ideias é que o sistema ABO é dado por glicoproteínas que, além de estarem nos glóbulos vermelhos, também têm relação com proteínas em plaquetas na parede dos vasos. Isso muda os fatores de coagulação e foi mostrado em outros estudos anteriores uma mudança de fator de coagulação. Quem é do tipo A tem uma tendência maior a fazer coágulos e também tem mais trombose venosa”, explica Guilherme Diogo, neurologista no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Atuando nas áreas de neuroimunologia e de emergências neurológicas, o médico esclarece que, com base nas evidências científicas até o momento, ainda não é possível afirmar que pessoas com o grupo sanguíneo A estão mais suscetíveis ao AVC precoce, mas essa descoberta internacional pode abrir portas para que a comunidade científica entenda melhor quais fatores podem estar relacionados às conclusões da pesquisa.
“A ideia desses estudos de risco por genética é combinar vários fatores. Por exemplo, a gente pode juntar várias dessas mutações genéticas a fatores ambientais também. Será que eu vou conseguir desenvolver mais algum exame, mais algum tratamento precoce a partir daquela mutação? Sozinho, esse estudo não vai conseguir fazer isso, mas pode ser um passo para virar algo complexo”, finaliza o especialista.
Por Gabriele Koga
FONTE: Jornal da USP