Nova classe de fármacos promissora contra leucemias agudas

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) estudam um possível novo tratamento para as leucemias agudas, tipos de câncer cuja mortalidade em adultos pode chegar a mais de 50%. Com a molécula sintética THZ-P1-2, recém-lançada pela indústria farmacêutica, foi possível eliminar mais de 80% dos tumores em ensaios ex-vivo, feitos em células retiradas de pacientes. O estudo é relatado em artigo publicado na Blood Cancer Journal, revista de referência na área e do grupo Nature.

As leucemias agudas são divididas em duas categorias: as leucemias mieloides agudas (LMA) e as leucemias linfoblásticas agudas (LLA). A maior parte dos casos da LLA acontece em crianças e não costuma causar morte pois há muitas terapias já consolidadas para esses casos, o que não ocorre com os adultos. Já a LMA é mais comum em adultos, o que, pela falta de opções terapêuticas para a faixa etária, ajuda a explicar a alta taxa de mortalidade. “Ambas são muito agressivas, e pessoas que não receberam nenhum tratamento podem morrer em poucos meses”, explica João Agostinho Machado-Neto, professor do Departamento de Farmacologia do ICB, que coordenou a pesquisa no Laboratório de Biologia do Câncer e Antineoplásicos do Instituto, junto com o professor Eduardo Magalhães Rego, líder da divisão de oncologia e hematologia clínica do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP.

No estudo, foram realizados testes em células de 40 pacientes do HC e 25 do Centro Médico da Universidade de Groningen, na Holanda, parceiro na pesquisa, descrevendo em detalhes o mecanismo de ação da molécula THZ-P1-2, inibidora das proteínas PIP4K2s, no tratamento de câncer. Os resultados são baseados em duas hipóteses desenvolvidas anteriormente no laboratório do ICB. “Os quadros de pacientes com LMA, com maiores níveis das PIP4K2s, evoluem mais rapidamente e têm mais chances de morte”, explica Keli Lima, doutoranda em Ciências Médicas pela FMUSP e primeira autora do trabalho. “Já pacientes com polimorfismos, ou seja, variantes genéticas e hereditárias no gene PIP4K2A, têm maiores chances de desenvolver a LLA.”

Molécula seletiva

De acordo com a pesquisadora, parte da eficácia do fármaco pode ser explicada por um diferencial da molécula THZ-P1-2. “Ela ataca os tumores de múltiplas formas, causando morte celular programada (apoptose), fazendo a célula ‘comer’ a si mesma (autofagia), mudando o metabolismo e induzindo a diferenciação entre aquelas que são cancerosas e as saudáveis. Tudo isso aumenta as chances de sucesso do tratamento”, destaca ela. O inibidor também se mostrou seguro, pois não houve qualquer tipo de ameaça à integridade das células não tumorais. “Ele também foi aplicado em células precursoras das células do sangue (hematopoiéticas) saudáveis e não houve qualquer efeito. Vimos que a molécula tem uma boa seletividade, sendo capaz de atacar preferencialmente as células tumorais”, explica Machado-Neto.

Segundo a pesquisa, a THZ-P1-2 aparentou ser mais indicada para a LLA, pois a molécula gerou efeitos nas células de todos os pacientes com essa condição. Enquanto na LMA, cinco pacientes não tiveram nenhum tipo de resposta. Os resultados foram obtidos por meio de ensaios laboratoriais para avaliar viabilidade celular (testes colorimétricos), citometria de fluxo (análise de células e partículas microscópicas suspensas em meio líquido), expressão gênica e proteica realizados no ICB. Também foram realizados, na Universidade de Groningen, testes de citometria (medida do número e características das células), respirometria de alta resolução (medida do oxigênio consumido) e proteômica (análise da proteínas expressas). “Em colaboração com o grupo holandês, conseguimos definir com maior precisão os marcadores de resposta ao THZ-P1-2, o que nos permitirá identificar, no futuro, quais são os pacientes com mais chances de resposta ao novo fármaco”, ressalta o professor.

Maior eficácia

Machado-Neto aponta que as terapias atuais das leucemias agudas se restringem aos transplantes de medula óssea e à quimioterapia. No entanto, muitas pessoas, principalmente com mais de 60 anos, não podem ser transplantados, por se tratar de um procedimento de risco nesse grupo. Eles acabam se submetendo à quimioterapia, mas sempre em baixas doses, devido à toxicidade do tratamento, podendo receber o medicamento venetoclax, cuja eficácia é significativa apenas em parte dos pacientes.

“Além de sozinha já obter uma alta eficácia, a molécula THZ-P1-2 ainda se mostrou capaz de melhorar a resposta das células leucêmicas ao venetoclax e de outros fármacos que atualmente não são eficazes o bastante para serem utilizados no tratamento, podendo atuar em conjunto com eles em um coquetel”, relata.

O composto também obteve bons resultados em um estudo (ainda não publicado) realizado com modelos animais por um grupo de pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Cornell em associação com a Petra Pharma, ambas dos Estados Unidos. Nesse estudo, os pesquisadores identificaram que a molécula levou a uma rápida regressão dos tumores e não apresentou toxicidade. Isso a credencia para ensaios clínicos, ou seja, testes com pessoas. “Caso esses estudos com humanos se iniciassem hoje, já poderíamos saber em dois a quatro anos se o medicamento é seguro e eficaz”, afirma o professor do ICB.

A THZ-P1-2 está sob patente de uma farmacêutica, portanto cabe a essa empresa realizar esses estudos. Os pesquisadores do ICB irão agora analisar outros inibidores das proteínas PIP4K2s. “Depois que a THZ-P1-2 foi lançada, outras empresas desenvolveram moléculas similares. Nosso trabalho agora é testá-las para verificar qual obtém os melhores resultados”, destaca Machado-Neto. “O mais difícil, que foi identificar o mecanismo de ação dos inibidores à nível celular e molecular, nós já fizemos”, avalia Keli.

Da Assessoria de Comunicação do ICB

FONTE: Jornal da USP

Alternativa para tratar transtorno obsessivo-compulsivo

Para entender o futuro dos tratamentos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) analisaram estudos sobre o uso de técnica de estimulação cerebral elétrica em pacientes com TOC. A revisão dos estudos aponta para um quadro mais ameno de sintomas do transtorno com poucos efeitos colaterais, mas também destaca a importância de mais pesquisas no campo.

A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) é uma técnica não invasiva que utiliza eletrodos aplicados na cabeça do paciente para descarregar corrente elétrica de baixa intensidade (de 1 a 4 miliamperes). O objetivo dessa técnica é modular a função cerebral agindo na rede de neurônios ao aumentar a estabilidade em determinadas regiões do cérebro e diminuir em outras. A ETCC já é usada para o tratamento de depressão, no entanto, ainda é uma técnica nova.

Publicada na revista MDPI, a metanálise (revisão de estudos cruzando resultados) avaliou os efeitos globais de pesquisas sobre o uso de ETCC para pacientes com TOC como uma alternativa para outros tratamentos já utilizados, como terapia cognitivo comportamental e medicamentos da classe dos inibidores de recaptação de serotonina, como a fluoxetina. “Há pacientes que não toleram efeitos colaterais de medicações ou pacientes que não têm viabilidade financeira para fazer terapia comportamental. Até mesmo o tempo pode ser custoso, considerando que são meses de tratamento. Por isso, é necessário pensar na viabilização de novos tratamentos para pacientes de TOC”, explica Laís Boralli Razza, doutora em Ciências pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da FMUSP.

A análise de resultados comparou a diferença das manifestações clínicas da fase inicial e da fase final do tratamento com ETCC de acordo com a escala Y-BOCS, instrumento para avaliar os sintomas do transtorno. Nos grupos de pacientes em que foi aplicada a técnica, houve melhora considerável dos sintomas do TOC. Porém, ao comparar o resultado com os grupos placebos dos estudos, a diferença não foi tão grande. Laís Razza explica que, por se tratar de um transtorno psiquiátrico ansioso, as expectativas das pessoas podem interferir nos resultados finais – daí a necessidade de estudos maiores, com mais pacientes, diluindo a distorção causada por este fator.

O transtorno e o tratamento

Segundo a pesquisadora, o TOC é um transtorno de ansiedade que causa obsessões relacionadas aos pensamentos do indivíduo e compulsões de comportamentos físicos, adotados com objetivo de aliviar os pensamentos causadores de ansiedade – ligados à segurança ou à saúde, por exemplo. Os graus de obsessão e compulsão variam de acordo com os pacientes.

Ela ressalta que o transtorno pode apresentar efeitos de hiperativação nas regiões sensório-motora, córtex lateral e sistema límbico do cérebro. No entanto, há uma heterogeneidade nos estudos sobre as áreas de posicionamento dos eletrodos para ETCC, o que também afeta o efeito global.

Em relação aos efeitos colaterais, os resultados do tratamento com ETCC são promissores. Segundo a Associação Médica Brasileira, os efeitos das medicações farmacológicas para TOC podem incluir náusea, sonolência, insônia, dor de cabeça, dor abdominal, entre outros. Já os do ETCC se limitam a formigamento na área onde os eletrodos foram aplicados, coceira e avermelhamento da pele; também, a técnica não apresenta critérios de exclusão de pacientes específicos, como gestantes, uma vez que não é invasiva e apenas diminui a atividade cerebral em áreas hiperativas.

As sessões de estimulação cerebral costumam durar cerca de 20 a 30 minutos, e são realizadas uma vez por semana em centros de pesquisa. Mas, segundo Laís Razza, há uma possibilidade de tornar a ETCC um tratamento remoto. “É um aparelho pequeno, que pode ser portátil. Há protocolos para monitorar o uso dos pacientes em casa, de forma a aumentar a aderência ao tratamento.”

De uma forma geral, os autores do artigo mostram benefícios alcançados com o tratamento de ETCC para o transtorno, mas destacam a necessidade da realização de estudos mais amplos para testar os resultados relacionados aos grupos placebos e grupos ativos. “Os estudos possuem amostras pequenas de pacientes, ou seja, são insuficientes para mostrar o poder da ETCC no tratamento de TOC. Ainda é uma limitação para que no futuro, de fato, possamos ver os efeitos do tratamento”, reconhece Laís Razza.

Mais informações: e-mail lais.razza@ugent.be, com Lais Boralli Razza

FONTE: Jornal da USP

Obesidade gestacional: riscos para a mãe e o feto

Segundo o Mapa da Obesidade, a prevalência do problema saiu de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019, um aumento de 72%.

A obesidade é uma doença crônica e multifatorial, que tem causas tanto genéticas quanto comportamentais, e é caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo. Segundo o Mapa da Obesidade, a prevalência da obesidade saiu de 11,8% em 2006, para 20,3% em 2019, um aumento de 72%. Estimativas da Organização Pan-Americana da Saúde contabilizam mais de 1 milhão de obesos no mundo, com a expectativa de que, até 2025, o número de indivíduos com sobrepeso chegue a 2,3 bilhões.

Nas mulheres, isso é ainda pior:  21% das mulheres brasileiras são obesas, contra 19,5% dos homens. A diferença pode ser pouca, porém, a gestação, algo exclusivo das mulheres, pode agravar ou até mesmo desencadear a obesidade. “A gente já tem, na verdade, um aumento da prevalência de obesidade. Nós temos agora um estilo de vida em que temos muita facilidade para acessar uma alimentação com ultraprocessados, que favorece o sedentarismo. Então, a gente já tem um aumento da prevalência de obesidade há décadas”, explica Tatiana Zaccara, médica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP especializada em gestação de alto risco.

O ganho de peso, durante a gestação, está associado às mudanças metabólicas pelas quais o corpo passa. O estilo de vida que a gestante leva antes e depois de engravidar conta muito. Esse ganho é normal e esperado, mas, nos últimos anos, um aumento da obesidade gestacional foi notada, o que traz consequências duradouras e infelizes tanto para a mãe como para o feto.

O que causa?

A obesidade gestacional está associada ao aumento das complicações durante todo o período da gravidez. Mulheres obesas e com sobrepeso pré-gestacional são mais propensas a sofrer abortamento, pré-eclâmpsia (hipertensão na gravidez em gestantes sem histórico da condição), diabete gestacional, risco de tromboembolismo venoso profundo (TVP)  e de  tromboembolismo pulmonar, assim como de gestação prolongada.

Não acaba por aí. Elas também apresentam maior demora de dilatação no trabalho de parto, diminuição da fertilidade, uma maior incidência de internações precoces e perda do feto após fertilização in vitro. “Ela [gestante] tem um maior risco de precisar ter um parto induzido, não entrar em trabalho de parto espontâneo, tem o maior risco de precisar de cesárea para o parto, um trabalho de parto prolongado, assim como maior risco de distorcer o ombro – um tipo específico de trauma da hora do parto – e um risco de infecção e de deiscência da ferida operatória, que é quando a pele não consegue cicatrizar bem a ferida e acaba abrindo. Então, esses são os principais riscos na hora do parto”, complementa Tatiana.

E a criança?

São muitas complicações, que não acabam na gestante. O bebê, por sua vez, também sofre as consequências do acúmulo fora do normal de tecido adiposo. Ele pode vir a ter complicações no período do pré-natal, como má formação, macrossomia e, no pior dos casos, morte intrauterina. Também foram encontradas malformações do tubo neural, por conta, principalmente, do pobre controle glicêmico. Dificuldades no ultrassom pré-natal também são um empecilho para a constatação de alterações e má formação no feto.

“Uma criança que está exposta a um excesso de nutrientes desde o ambiente intrauterino é uma criança que está habituada a lidar com muita comida chegando. Ela não escolhe o que ela come, então isso faz uma programação genética, uma alteração para que, no futuro, ela continue precisando dessa quantidade aumentada de alimento, de glicose e de gordura”, explica a médica. A consequência disso é que, assim como a mãe, a criança acaba tendo mais chances de ser obesa também.

Cuidados

O ideal é que a mulher mantenha um estilo de vida saudável antes mesmo da gravidez – Fotomontagem: Jornal da USP – Fotos: Freepik

 

O ideal é que a mulher mantenha um estilo de vida saudável antes mesmo da gravidez, ou seja, uma dieta equilibrada e saudável e uma rotina de exercícios. Caso a mulher já estiver obesa quando engravidar, o importante é que ela busque acompanhamento nutricional e médico o quanto antes, para evitar que maiores problemas sejam ocasionados durante a gestação.

“Mulheres grávidas devem praticar atividade física”, diz a médica. A rotina de exercícios pode ser mantida durante os nove meses, ou seja, todo o período gestacional. “Na gestação a gente não objetiva perda ponderal. O objetivo é uma alimentação equilibrada que forneça toda a necessidade calórica para mãe e para o bebê”, lembra Tatiana.

É recomendado que os exercícios mantenham uma frequência e sejam acompanhados por um profissional habituado a trabalhar com gestantes. A preferência é por treinos de baixo impacto e que não forcem a musculatura abdominal, começando devagar e de acordo com as especificidades de cada gestante. “Acho que a prevenção é a palavra da vez, é o que a gente devia fazer sempre”, diz a médica. Em sua avaliação, consultas pré-concepcionais devem ser feitas regularmente se há a intenção de engravidar: “É uma coisa para a saúde dela, para saúde dos possíveis filhos, se ela quiser ter filhos. Isso vai influenciar a qualidade de vida dessa pessoa para a vida inteira e, muitas vezes, influencia a qualidade de vida da família toda”.

FONTE: Jornal da USP

Nova técnica identifica “impressão digital” do câncer em amostras de saliva e urina

Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, pesquisadores desenvolveram uma técnica para fazer o diagnóstico de câncer a partir da análise de compostos orgânicos voláteis (VOCs) em amostras de saliva e urina. Com o uso de equipamentos de laboratório, o método transforma as amostras em vapor, de onde são extraídos os compostos voláteis para identificar alterações que servem como “impressões digitais” do câncer. A técnica ainda é experimental, mas os resultados obtidos no estudo abrem perspectivas para que futuramente seja uma opção simples de custo reduzido e não invasiva para diagnosticar diversas formas da doença. O trabalho rendeu um artigo publicado na revista científica Journal of Breath Research.

“Para diagnosticar o câncer, os médicos utilizam diversos exames, como mamografia, tomografia, ressonância magnética, endoscopia, colonoscopia, exames de sangue e biópsia. Esses métodos são seguros e eficazes. No entanto, esses procedimentos costumam ser invasivos, trabalhosos, envolvem custos consideráveis e exigem profissionais altamente qualificados”, disse ao Jornal da USP o farmacêutico bioquímico Bruno Ruiz Brandão da Costa, primeiro autor do artigo. “Sendo assim, muitas vezes os exames diagnósticos não são facilmente acessíveis a todos os tipos de pacientes. Por todos esses motivos, o desenvolvimento de técnicas acessíveis, rápidas e não invasivas de detecção do câncer representa uma demanda crítica e desafiadora em nossa sociedade.”

Costa explica que os compostos orgânicos voláteis (VOCs) são substâncias químicas produzidas naturalmente pelo organismo humano. “No entanto, em casos de doenças como o câncer, ocorrem alterações metabólicas que podem gerar novos VOCs ou modificar a concentração dos que já estão presentes no organismo. Essas mudanças no perfil podem ser detectadas por meio de análises químicas”, afirma. “Neste sentido, o objetivo principal da nossa pesquisa foi comparar o perfil dos VOCs presentes no fluido oral e na urina de pessoas saudáveis e de pacientes com câncer. Com isso, buscamos identificar se existe uma diferença significativa entre o perfil dessas substâncias nos dois grupos, o que poderia ser útil no diagnóstico da doença.”

Durante a pesquisa, foi feita a coleta de amostras de saliva e urina em pessoas saudáveis e em pacientes com câncer de cabeça e pescoço e gastrointestinal (CGI) dos ambulatórios da área de Oncologia Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP. Após a coleta, as análises foram realizadas no Laboratório de Análises Toxicológicas Forenses do Departamento de Química da FFCLRP.

As amostras eram colocadas em um frasco que era fechado, aquecido e agitado. Como as substâncias de interesse são voláteis, elas passavam para a fase de vapor, também chamada de headspace, que era analisada. “Essas substâncias presentes no headspace eram então injetadas no equipamento de cromatografia em fase gasosa com detector de ionização (GC-FID), o qual realiza a separação desses compostos”, relata Costa. “Após a separação, os compostos são detectados e geram um sinal analítico que chamamos de ‘pico’. O conjunto de picos presentes em toda a análise é chamado de ‘cromatograma’.”

“Impressão digital”

“Para comparar os perfis cromatográficos das amostras, utilizamos análises estatísticas para verificar se há diferenças significativas entre as amostras de pessoas saudáveis e com câncer, identificando assim as ‘assinaturas do câncer’”, diz o pesquisador. “Neste trabalho nós não identificamos as substâncias presentes nas amostras, para isso seria necessário um equipamento muito mais caro. A diferenciação foi feita exclusivamente pelos diferentes perfis dos picos presentes no cromatograma, o que também é chamado de fingerprint, ou uma ‘impressão digital’ do câncer”.

De acordo com Costa, um dos aspectos inovadores da pesquisa é avaliar a eficácia do diagnóstico tanto com os dados obtidos apenas de um material biológico, quanto com ambas as amostras doadas, denominado como “análise híbrida”. “Os modelos individuais que apresentaram os melhores resultados em termos de sensibilidade e especificidade foram o de câncer de cabeça e pescoço em urina, com 84,8% e 82,3%, e o de câncer gastrointestinal em saliva, com 78,6% e 87,5%”, enumera. “Com relação aos modelos híbridos, para câncer de cabeça e pescoço, obtivemos 75,5% de sensibilidade e 88,3% de especificidade. Já para câncer gastrointestinal, os índices foram de 69,8% e 87%.”

“Os dados indicam, por exemplo, que nosso método foi capaz de classificar 84,8% das amostras de urina de pessoas com câncer de cabeça e pescoço como sendo, de fato, de amostras ‘positivas’. Para um estudo preliminar, isso foi considerado muito bom”, observa o pesquisador. “O método desenvolvido é simples, mais barato do que aqueles aplicados atualmente. Além disso, um ponto importantíssimo é que a nossa coleta é não invasiva, realizada de maneira rápida e simples, causando o mínimo desconforto possível para o paciente, muito diferente de um exame de sangue ou biópsia, por exemplo.”

Costa lembra que há uma série de pesquisas, em todo o mundo, relacionadas ao diagnóstico do câncer através da análise dos VOCs. “Contudo, ainda não há nenhum método do tipo sendo adotado, de fato, em uma rotina clínica. Nossos resultados são promissores, porém, o número de voluntários que participaram da pesquisa foi relativamente pequeno”, aponta. “É necessário continuar a pesquisa com um número muito maior de participantes para depois pensar em usar o método nos serviços de saúde. Porém acredito, e espero, que um dia isso possa acontecer.”

Os resultados da pesquisa são descritos no artigo Hybrid volatilomics in cancer diagnosis by HS-GC-FID fingerprinting, publicado na revista científica Journal of Breath Research em 27 de janeiro. Colaboraram com o estudo Ricardo Roberto da Silva, do Núcleo de Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos (NPPNS) do Departamento de Ciências Biomoleculares da FCFRP; Vítor Luiz Caleffo Piva Bigão, do Departamento de Análises Clínicas, Toxicológicas e Bromatológicas da FCFRP; Fernanda Maris Peria, da Divisão de Oncologica Clínica da FMRP; e Bruno Spinosa De Martinis, do Departamento de Química da FFCLRP.

Mais informações: e-mail bruno.ruiz.costa@usp.br, com Bruno Ruiz Brandão da Costa

FONTE: Jornal da USP

Acúmulo de sódio no cérebro pode ser uma das causas da hipertensão

Estudos na USP com animais demostraram que o alto consumo de sal leva a um quadro de hipertensão arterial, retenção de sódio no líquor e ativação dos astrócitos, as células mais abundantes do sistema nervoso central

A associação entre o sal (cloreto de sódio) e a pressão arterial é estudada há mais de 120 anos. No entanto, nunca se conseguiu esclarecer por completo a relação entre o alto consumo de sal e alterações no sistema nervoso central (SNC), que contribui para a chamada hipertensão neurogênica. Agora, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP conseguiram dar um passo importante na compreensão desse processo. Além de descobrirem que parte do sal consumido em excesso fica retida no líquido cerebroespinal (líquor), eles sugeriram um possível mecanismo que desencadeia a doença e que envolve a ativação não somente de neurônios, mas também de células da glia. Trata-se de um avanço importante na descoberta de mecanismos e conexões entre células neurais envolvidos na gênese da hipertensão dependente do alto consumo de sal.

Os estudos, publicados nas revistas científicas Molecular and Cellular Neuroscience e Experimental Physiology, foram realizados em ratos albinos que consumiram sal em excesso. Os animais receberam uma solução de água com 2% de cloreto de sódio por uma semana e desenvolveram hipertensão. Além do aumento da pressão arterial sanguínea, o que chamou atenção dos pesquisadores foi que o nível de sódio no sangue dos animais se manteve normal, porém, notaram um acúmulo deste íon no cérebro, mais precisamente no líquor, líquido que protege o sistema nervoso central.

“Os animais expostos ao alto consumo de sal apresentaram hipertensão e acúmulo de sódio no líquor, mas não no sangue. Dessa forma, podemos presumir que a gênese da hipertensão envolve um componente neural, a qual pode estar relacionada a esse excesso de sódio retido no líquor”, explica Paula Magalhães Gomes, doutora e pós-doutoranda do Laboratório de Controle Neural da Circulação (LCNC), do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB da USP, e primeira autora de um dos artigos.

“Em teoria, o sódio que consumimos nos alimentos se distribui de forma equilibrada nos diferentes compartimentos do nosso corpo, num processo que denominamos na fisiologia de osmorregulação, mas aparentemente não é assim que acontece quando o organismo é desafiado ao consumo excessivo de sal. Nosso objetivo futuro é investigar mais a fundo os mecanismos fisiológicos por trás do acúmulo de sódio no líquor e sua relação com a hipertensão”, acrescenta.

Chave do processo

Estudos anteriores já mostraram o envolvimento do hipotálamo, mais precisamente o núcleo paraventricular, na gênese da hipertensão dependente do alto consumo de sal. As células neurais deste núcleo, principalmente os neurônios, participam direta e indiretamente na regulação da pressão arterial em resposta a um aumento de sódio circulante no organismo. Faltava investigar ainda qual o envolvimento das células neurais da glia neste processo.

Os pesquisadores do ICB observaram que os astrócitos (uma das células mais abundantes do SNC), localizados no núcleo paraventricular, estão mais ativados no cérebro de animais que foram expostos ao alto consumo de sal. “De maneira geral, os astrócitos são células que, além de dar sustentação para os neurônios, também são responsáveis por liberar diversos neurotransmissores, dentre eles o ATP [trifosfato de adenosina], uma molécula que classicamente sempre foi conhecida pela sua função no metabolismo energético celular, mas que também atua como neurotransmissor. Frente a uma condição de alto consumo de sal, os astrócitos são ativados de forma intensa”, explica Renato Willian Martins de Sá, doutor pelo LCNC, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Mecanismo de desativação

“Fizemos um experimento utilizando a tecnologia de farmacogenômica com vetor viral geneticamente modificado. Por meio de uma neurocirurgia, introduzimos o vetor viral na região hipotalâmica de interesse e conseguimos com isso interromper a maquinaria celular da liberação de ATP pelos astrócitos, que se encontrava aumentada numa condição de alta ingestão de sal. Obtivemos uma redução de 50% na liberação do neurotransmissor quando inibimos o transporte vesicular do ATP nos astrócitos”, detalha o pesquisador.

Segundo o professor Vagner Roberto Antunes, coordenador do laboratório, esta abordagem experimental é exclusivamente utilizada em modelos animais e contribui sobremaneira para o avanço do conhecimento e dos mecanismos celulares envolvidos no controle das funções neurais e cardiovasculares. “A compreensão desses mecanismos poderá auxiliar no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas farmacológicas para doenças associadas ao alto consumo de sal”, destaca ele.

Ainda, segundo Antunes, existem estudos que demonstram que o acúmulo de sódio no líquor pode estar relacionado ao desenvolvimento de doenças não somente do sistema cardiovascular, mas também neurodegenerativas, dentre elas a doença de Alzheimer, tendo em vista que o excesso de sal no cérebro pode alterar as funções das células neurais, desde sua maquinaria gênica e proteica até neuroquímica.

Enquanto não há estratégias terapêuticas para resolver esse problema, a recomendação é moderar na ingestão de sal – um mineral essencial para o funcionamento das células, mas que em quantidades superiores ao recomendado de 5g por dia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pode levar à hipertensão e outras doenças vasculares que acometem o sistema nervoso central.

Da Assessoria de Comunicação do ICB

FONTE: Jornal da USP

Dia Mundial da Conscientização sobre Incontinência Urinária

Dia 14 de março é oficialmente o Dia Mundial da Conscientização sobre Incontinência Urinária. A
data foi oficializada no Brasil como o Dia Nacional da Incontinência Urinária no ano passado junto
com a Semana Nacional para Prevenção e Tratamento da Incontinência Urinária.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 300 milhões de pessoas sofrem de incontinência
urinária no mundo. No Brasil, são cerca de 10 milhões de pessoas afetadas pela condição, de acordo
com estimativas da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Isso quer dizer que 1 a cada 25 brasileiros
apresenta algum grau de incontinência.

A condição pode variar de pessoa para pessoa: de uma pequena perda de urina ao espirrar ou tossir
até uma incapacidade total de controlar a bexiga. Apesar de ser caracterizada pela perda
involuntária de urina, esse não é o único sintoma que indica uma possível incontinência. Acordar
muitas vezes à noite para ir ao banheiro ou vontade súbita de urinar, mesmo quando não existe um
volume grande de urina, dificuldade em esvaziar completamente a bexiga e até infecções urinárias
muito frequentes também podem ser sinais que podem estar associados a um quadro de
incontinência.

Dependendo da ocorrência ou gravidade do quadro, a incontinência urinária pode ser distinguida em
até quatro tipos: a incontinência urinária de esforço descreve casos nos quais a perda de urina é
provocada por tosses, espirros ou exercícios físicos. Quando a pessoa é acometida por uma vontade
súbita de urinar e perde urina antes de chegar ao banheiro falamos em incontinência de urgência. Por incontinência mista entende-se um quadro caracterizado pelas duas situações descritas acima. Estes tipos são mais comuns nos adultos e idosos. Nas crianças, a enurese noturna é a situação mais
comum, que é a incontinência que ocorre durante o sono: o famoso xixi na cama.

Um fator importante que leva à incontinência urinária é a fraqueza nos músculos pélvicos ou dos
esfíncteres causada pela idade ou durante o processo de parto e gestações, o que ajuda a explicar
por que a maior parte dos afetados são pessoas idosas e mulheres. Contudo, infecções, alguns
medicamentos, tumores e crescimento da próstata, além de obesidade ou mesmo problemas
neurológicos podem estar associados com a incontinência. Por isso, sempre é importante procurar
um médico caso esteja com os sintomas descritos acima.

Vivendo com Incontinência Urinária

Além dos problemas óbvios, um quadro de incontinência urinária também pode acarretar em
problemas emocionais devido à vergonha e ao estigma que muitas das pessoas que lidam com a
condição podem vir a sentir. Em 2019, um estudo brasileiro realizado com mulheres com
incontinência publicado na Revista De Salud Pública identificou sintomas de ansiedade em metade
das entrevistadas, enquanto 45% delas também apresentavam sintomas depressivos.

Felizmente, existem muitas soluções no mercado para quem sofre com esse tipo de problema. Para
casos mais leves, absorventes especiais são desenvolvidos para manter a pele seca e inibir odores,
além de serem bastante discretos. Os absorventes masculinos, desenvolvidos para se adaptar
melhor à anatomia masculina, também são uma opção. Para casos moderados, roupas íntimas
absorventes, que são vestidas como calcinhas e cuecas, permitem mobilidade e discrição.

Casos mais severos, podem requerer o uso de fraldas para adultos e idosos, que, apesar do estigma,
são ideais para pessoas acamadas, porque, além de proporcionar mais conforto e segurança, evitam
vazamentos e odor no ambiente. Nesses casos, no banho, após a higiene local com água e sabonete
líquido, a aplicação dos chamados creme barreira fornece uma camada protetora à pele, prevenindo
irritações.

Para ajudar pessoas que lidam com a condição no seu dia-a-dia, estamos com uma promoção de
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Corra, que é por tempo limitado!

Tratamento

Por mais que possa parecer uma condição constrangedora, a incontinência urinária pode ser tratada
e melhoras dos sintomas ou até mesmo a cura são possíveis para algumas pessoas. Eles podem vir
desde exercícios para o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, medicamentos e até
intervenção cirúrgica, dependendo da situação do paciente.

Por isso, novamente, se você ou alguém que você conhece apresenta algum sintoma ou queixa de
incontinência urinária, oriente-o para procurar um médico para avaliar o seu quadro e buscar a
melhor forma de tratamento para garantir mais qualidade de vida e mais saúde.

O impacto da enxaqueca na produtividade diária

Estima-se que o Brasil, a cada ano, arque com prejuízo de R$ 67 bilhões devido à perda de produtividade causada pela enxaqueca

Não há nada mais incômodo do que uma dor de cabeça. Se ela apresentar as características de uma enxaqueca, pior ainda. Ela pode irradiar para o resto do corpo, aumentando ainda mais o mal-estar. O problema pode impactar a saúde de grande parte da população. Gabriel Kubota, neurologista coordenador do Centro de Dor do Hospital das Clínicas e membro do grupo de cefaleias da Faculdade de Medicina da USP, explica que as dores de cabeça podem ser divididas em dois grandes grupos: primária e secundária. “As dores de cabeça secundárias são consequência, sintoma de uma outra doença ou condição. Por exemplo: jejum prolongado, consumo de álcool, cárie dentária, sinusite, problemas oftalmológicos ou doenças mais graves como tumores, trombose venosa, aneurisma e outras situações.”

A dor de cabeça primária já é a doença em si. Duas situações se enquadram nessa situação: a cefaleia, tipo tensão, e a migrânea. As dores de cabeça primárias, em conjunto, correspondem à segunda condição médica mais prevalente na população mundial, gerando um impacto muito importante. Somente a enxaqueca acomete mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, sendo de 20% a 30% mulheres e 6% a 15% de todos os homens. Os gastos podem ser diretos, no uso de recursos de saúde, ou de forma indireta por faltas ao trabalho. Segundo Kubota, estima-se que o Brasil, a cada ano, perca por volta de R$ 67 bilhões em gastos, devido à perda de produtividade relacionada à enxaqueca. A melhor maneira de lidar com o problema é procurar um médico, que fará uma avaliação e saberá a melhor forma de tratamento.

Fator genético 

A doença atinge de duas a três mulheres para cada homem, iniciando-se por volta dos 20 a 30 anos de idade, podendo ser a genética um dos fatores de sua causa. Kubota destaca que o histórico familiar é muito importante. “Os filhos de pessoas que têm enxaqueca têm duas vezes mais chances de também apresentar a doença. Mas vale a pena ressaltar que a genética pode aumentar ou diminuir o risco, mas ela não é absoluta. Ter alguém com enxaqueca na família não quer dizer que você também vá ter e o fato de ninguém na família ter não quer dizer que você não vá ter.”

Para diferenciar uma dor de cabeça primária da secundária, exames físicos e o histórico de vida são muito importantes. Por esse motivo, a procura por um médico é essencial. Quem tem migrânea sabe que entre os fatores que podem desencadear o problema estão os cheiros fortes. Seus sintomas são bem característicos: a dor é de moderada a forte intensidade, com aspecto pulsátil, atingindo mais um lado da cabeça. Pode causar náuseas e vômitos. Muitos podem apresentar intolerância à luz e sons e preferir ficar em repouso durante a crise, porque qualquer movimento ou esforço pode causar piora. O período pré-menstrual é outro fator que desencadeia a dor, que pode durar de quatro a 72 horas, mas há quem tenha enxaqueca crônica. Esse paciente pode apresentar crises de mais de 15 dias por mês por pelo menos três meses.

O tratamento para a dor de cabeça secundária, aquela que é consequência de alguma doença, irá melhorar com o tratamento do problema. Por exemplo, uma pessoa com sinusite, trombose, dor de dente irá melhorar com a solução do transtorno. Já a cefaleia primária, também conhecida como enxaqueca, não tem cura e conta com um tratamento diferenciado.

FONTE: Jornal da USP

Tratamento da fibromialgia é comprometido se não houver identificação correta da doença

A fibromialgia é definida pela Organização Mundial da Saúde como uma doença caracterizada pela dor generalizada, associada à fadiga extrema, sono não reparador e depressão. “É muito mais em mulher que homem. Tem estatística de oito para um, nove para um, dependendo do país. Realmente é porque as mulheres já são mais propensas a terem dor crônica, por conta do stress no dia a dia e acabam, infelizmente, muitas vezes jogando a carga para o corpo, para o cérebro. Eu brinco que a gente tem uma dupla ou tripla jornada: cuida do trabalho, cuida de casa, cuida de todo mundo. Tudo isso sobrecarrega”, diz Lin Tchia Yeng, médica fisiatra, coordenadora do Curso Interdisciplinar de Dor da Faculdade de Medicina da USP e do Centro de Dor do Hospital das Clínicas.

Lin acrescenta que existem condicionantes genéticos responsáveis pela manifestação da enfermidade, mas destaca que outros fatores são relevantes: “Pessoas com fibromialgia têm oito vezes mais chance de ter também algum familiar com a doença. Aumenta também muito mais as chances de ter depressão e ansiedade, porque não é só genético. Tem componente também social, psicológico e ambiental”.

Identificação

A dor difusa característica da fibromialgia não se manifesta de repente. “É preciso ver o que causa essa dor. É importante falar porque a fibromialgia não é de um dia para o outro que aparece. É muito comum a gente ver que, basicamente, todos os pacientes começam com uma história de sono não reparador muitos anos antes. O sono é fundamental”, pontua Lin. Ainda mais quando é comum as pessoas “levarem problemas de estresse para a cama e começarem a remoê-los”, como coloca a especialista.

“Tem várias questões e, em conjunto com essa hiperconexão mente-corpo, esses fatores das dores musculares localizadas, dores relacionadas à postura inadequada, uma sensibilização do sistema nervoso periférico e central, acaba tendo vários sintomas associados. Além disso, a gente tem, geralmente, um controle de dor e, nas pessoas com fibromialgia, ele já não funciona direito”, explica a coordenadora do Curso Interdisciplinar de Dor da Faculdade de Medicina da USP.

É difícil a indicação de um profissional específico para identificar a fibromialgia, já que são vários os sintomas comuns nas pessoas com essa doença: como refluxo, intolerância à lactose e intestino mais sensível. A presença de estigmas também é um problema: “Fibromialgia traz estigmas. ‘Não tem cura, vi na internet e estou acabada’; na verdade, não é bem assim”.

Tratamento

“Eu não diria qual especialidade, depende da formação do especialista”, coloca Lin. Caso o profissional não tenha uma visão abrangente da situação, o tratamento da fibromialgia e até sua identificação são comprometidos. Geralmente, o primeiro a ter contato com o paciente é o reumatologista, mas a reabilitação também precisa de atenção, bem como outras áreas.

Por isso, a multidisciplinaridade é fundamental e um especialista em dor, como os treinados no curso oferecido pela Faculdade de Medicina, seria o ideal. Por mais que a fibromialgia não tenha cura, existe tratamento e as dores podem melhorar, como a especialista diz, com uma mudança no estilo de vida. Dentro dessa ação está incluída a melhora na qualidade do sono, mas, para ele cumprir seu papel reparador, a alimentação é essencial: “O sono é reparador: a gente ressintetiza os músculos, os hormônios, repara, joga o lixo do cérebro para fora. Só que, para fazer tudo isso, a gente precisa de energia: carboidrato complexo, proteína, para poder refazer o corpo. Senão, a pessoa rouba do próprio corpo”. Lin ainda completa: “Eu tenho pacientes que falam ‘tenho dor e não levanto’ e outros, ‘tenho dor e levo ela para passear’, muito melhor né!”.

FONTE: Jornal da USP

O segredo da longevidade é não admitir que idosos adoeçam e se tornem limitados

O Instituto Central do Hospital das Clínicas conquistou o nível máximo do Programa Hospital Amigo do Idoso, iniciativa da Secretaria do Estado de São Paulo que faz parte do programa governamental São Paulo Amigo do Idoso desde 2012, pela excelência dos serviços oferecidos à população e suas boas práticas voltadas ao público idoso.

Há cerca de dez anos, o hospital, entendendo que não só as instituições de saúde, mas inclusive os municípios, os Estados e a Nação precisam se preparar para o envelhecimento populacional, decidiu aderir ao programa. “Se nós não estivermos devidamente equipados para atender bem a uma população crescente em nível exponencial, nós não teremos como dar a essa população aquilo que ela precisa e aquilo que nós precisamos também para as outras faixas etárias”, explica Wilson Jacob Filho, titular da Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor da Divisão de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Desde o primeiro momento, o hospital decidiu se credenciar, que é a parte de demonstrar interesse em fazer parte do programa. Para atingir o nível máximo – adquirir o Selo Pleno –, como atingido pelo instituto, são necessários completar quatro passos, referentes a ações obrigatórias e eletivas. Não apenas órgãos públicos de saúde podem receber o selo, mas também instituições privadas e de outras áreas, desde que impactem positivamente na saúde e bem-estar do idoso.

Muito além da saúde

Várias especialidades atendem aos idosos desde sempre e, comumente, é normal a procura nessa faixa etária por tratamentos e atendimento médico, já que a maioria deles convive com múltiplas doenças crônicas. A questão da geriatria e do selo, porém, vai muito além disso: não é atender ao idoso somente quando ele está doente, “mas atender ao idoso na condição de idoso; enfermidade entra como fator desencadeante, mas ela não é o único alvo do atendimento”, explica Jacob.

Ele também salienta que “o Selo Hospital do Amigo vai muito além disso, ele vai atender ao idoso por ser idoso dentre as suas multimorbidades e a grande quantidade de remédios que eles ingerem, que é a polifarma”. O idoso tem uma demanda social, emocional e da ordem de cuidadores, que ficam responsáveis pela sua autonomia e independência. A preparação do hospital para atendê-los, como explica o médico e professor, passa por esse conhecimento de que o atendimento é muito mais amplo que aquele dirigido à enfermidade ou doença. Conta, principalmente, com uma equipe preparada e multidisciplinar.

Geriatria e Gerontologia

A área principal de atendimento é a geriatria, mas outras especialidades complementam o trabalho. A gerontologia, como especifica Jacob, é um conjunto de saberes voltados para a questão do envelhecimento. “Inclusive nós temos uma área importantíssima da gerontologia, que é o jornalismo, porque é ele quem veicula as informações necessárias para que o idoso possa fazer valer os seus direitos e poder criar perspectivas futuras”, diz.

Todas as áreas da saúde são voltadas para dar o atendimento hospitalar aos idosos, mas o bem-estar é fruto de outras áreas também, como a jurídica e o turismo. É um universo do qual o idoso se utiliza para ficar menos enfermo e se recuperar de coisas pelas quais passou durante a sua vida. “Então, é uma medida de suporte interdisciplinar na qual o médico por vezes exerce um papel essencial, por vezes ele é um suporte”, explica o professor.

Preocupação com a demanda

Envelhecer é natural, porém, sempre foi uma preocupação da população que, por muito tempo, considerava isso uma doença. Para mitigar os efeitos do envelhecimento e garantir que esse período passe da melhor forma possível, a ONU instituiu, em dezembro de 2020, que de 2021-2030 seria a Década do Envelhecimento Saudável.

Imagem: Divulgação/OPAS

O mundo inteiro está de olho nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, para “encontrar soluções que atendam à maior parte dos idosos, se não a sua totalidade, nas suas demandas”, explica Jacob. Isto é, permitir que os indivíduos envelheçam com um grau de morbidades menor.

Se antes as pessoas passavam grande parte da sua velhice doentes, hoje há mecanismos para que isso mude e os impactos sejam reduzidos. “Não podemos admitir mais o modelo de envelhecimento onde as pessoas adoecem e ficam limitadas na quinta ou sexta década de vida, tendo uma expectativa de vida média em torno de oito a nove décadas, então eu não posso passar grande parte da minha vida doente”, diz Jacob.

O envelhecimento saudável inclui todas as áreas, não só a da saúde. “O assunto é absolutamente universal”, relata o médico.

Dica do envelhecimento saudável

Qual seriam elas? Antes de tudo, Wilson Jacob lembra que trazer a discussão a público, que sempre foi uma discussão temida, é um passo muito importante. “ [A saúde] Precisa ser cuidada com zelo e com atenção. Todos os problemas que nós acumulamos no transcorrer de nossas vidas nos serão cobrados lá na frente”, diz.

“Quanto mais eu me preocupo com meu envelhecimento saudável, seja dos 30 aos 60 anos de idade, maior a chance que eu tenho de chegar às idades mais avançadas com uma menor carga de doença e uma menor necessidade de medicamentos”, complementa. Ele elenca, ainda, duas dicas valiosas para o envelhecimento saudável: a primeira é querer envelhecer, já que pessoas que não querem estão fadadas a terem uma vida curta. A segunda é preocupar-se com o envelhecimento ainda jovem: se os cuidados começam cedo, muitos problemas podem ser evitados. O segredo da longevidade é o cuidado.

FONTE: Jornal da USP

Diagnóstico precoce e prevenção podem desacelerar crescimento da diabete

O Brasil tem cerca de 16,8 milhões de pessoas com diabete, o quinto país com mais casos no mundo, segundo o Ministério da Saúde. A previsão é de que o número de casos aumente, segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que indica que 62 milhões de pessoas vivem com diabete nas Américas. Esse número deve chegar a 109 milhões até 2040. Outro dado que chama a atenção da Opas é que, dos 62 milhões de pessoas com diabete, 40% não sabem que têm a doença e 284 mil morreram em decorrência dela em 2019. As causas desse aumento expressivo, de acordo com o relatório, estão ligadas ao crescimento dos fatores de risco como o sobrepeso, a obesidade e falta de exercícios físicos pela população.

Segundo o professor Luiz Osório Silveira Leiria, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, uma das formas de combater o avanço da diabete é o diagnóstico precoce e a prevenção, não apenas para adoção de medicamentos, mas para a promoção de hábitos mais saudáveis. A diabete é dividida em tipo 1 e tipo 2, e cada uma possui características e sinais distintos. O professor explica que “a diabete tipo 1 é caracterizada pelo aumento do fluxo de urina, da frequência de micção e sede, e a diabete tipo 2 pode ser observada por alterações de tolerância à glicose, diagnosticada por meio do monitoramento periódico da glicemia”.

Além disso, Leiria esclarece que a obesidade e uma alimentação desequilibrada são fatores ligados à progressão da diabete, e a adoção de um estilo de vida saudável, com práticas de exercícios físicos regulares e uma dieta balanceada, são fundamentais para prevenção e controle da doença.

Diferenças entre os tipos

A diabete tipo 1, segundo Leiria, é uma doença autoimune, na qual o organismo desenvolve anticorpos contra componentes do próprio corpo, como a insulina, ligada ao início da vida, geralmente desenvolvida entre a infância e a adolescência. A falta de insulina leva ao aumento da glicemia no organismo. A doença geralmente se apresenta na infância ou na adolescência e, entre os sintomas da diabete tipo 1, estão formigamento em pernas e pés, feridas que demoram a cicatrizar e fungos nas unhas. Sede constante, boca seca, vontade de urinar a toda hora e perda de peso também são considerados sintomas.

Já no tipo 2, o corpo até produz insulina, mas a substância não consegue agir no organismo devido a uma resistência causada pelo excesso de gordura abdominal. “A diabete tipo 2 é uma doença de progressão lenta, que geralmente ocorre em idades mais avançadas, sendo consequência de uma combinação entre fatores genéticos e um estilo de vida menos saudável”, conclui o professor.

A diabete tipo 2 é mais prevalente porque está ligada diretamente ao estilo de vida, principalmente em pessoas com excesso de peso, comportamento sedentário, hábitos alimentares não saudáveis e história familiar de diabete. Na maioria das vezes, as manifestações ocorrem após os 40 anos de idade e com possibilidade de complicações tardias, entre elas problemas renais, oftalmológicos e neuropáticos. É a diabete tipo 2 a responsável por 90% dos casos e costuma ser assintomática, mas pode apresentar alguns sinais indicativos de que a doença pode estar se estabelecendo, como fome excessiva, vontade de urinar mais frequente que a usual, sede constante, perda de peso, fadiga e fraqueza e até mesmo mudanças no humor.

Diferenças entre os tipos de diabete – Imagem: Jornal da USP

FONTE: Jornal da USP