Mapeamento do cérebro ajuda a identificar e prever consequências de doença que afeta idosos

Ao envelhecer, nosso desempenho intelectual e alguns aspectos do nosso comportamento se alteram. Um dos fatores que levam a esse processo é a doença cerebral de pequenos vasos (DCPV). A chance de ter a condição aumenta com a idade, afetando 5% das pessoas com 50 anos e, teoricamente, a grande maioria das pessoas com mais de 80 anos.

A DCPV causa 25% dos acidentes vasculares cerebrais e contribui para 45% dos casos de demência. Além disso, o quadro cria pequenas lesões que levam a microsangramentos e infartos cerebrais silenciosos, entre outras alterações.

“Ao longo da juventude até chegar ao envelhecimento, é possível promover modificações do nosso estilo de vida de tal forma a evitar que ela ocorra ou, pelo menos, retardar o aparecimento da doença e o comprometimento da saúde cerebral”, avalia o pesquisador Pedro Henrique Rodrigues da Silva, do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP

Ele ganhou o Prêmio Capes de Tese 2023 na área de Medicina II em razão de uma pesquisa que ajuda a entender melhor a relação das redes cerebrais com a cognição e os efeitos causados pela DCPV. O prêmio, concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), reconhece os trabalhos de doutorado mais originais e relevantes de cada ano.

As lesões pontuais podem ser vistas através de neuroimagens e, portanto, normalmente são associadas à região do cérebro onde ela se encontra. “No entanto, pesquisadores começaram a perceber que o mesmo grupo de pacientes, com a mesma idade, mesmo grau de lesão e no mesmo local apresentava desfechos diferentes, afetando regiões distantes do cérebro”, conta Pedro da Silva.

Isso levou o físico a fazer uma avaliação interdisciplinar dos efeitos desses danos não apenas através das estruturas que conectam os neurônios, os axônios, mas também por conexões previstas por modelos matemáticos, conhecidas como redes funcionais. Além da física e da medicina, o cientista trabalhou com conceitos avançados da química, da computação, da estatística, da psicologia e da biologia.

Conexões entre redes estruturais e redes funcionais do cérebro – Imagem: Reprodução/Brain Connectivity/Artigo de Renata Ferranti Leoni e Pedro Henrique Rodrigues da Silva

A ideia foi costurar essas informações e usar a neuroimagem para mapear como uma lesão local, a hiperintensidade de substância branca, afetaria outras áreas do cérebro, como conta o pesquisador. “Enquanto físico médico com foco em neuroimagem, a minha maior contribuição é fazer o melhor uso das ferramentas para mapear e compreender as alterações cerebrais, a sua associação com o desfecho de um grupo de pacientes para, a partir disso, começar a delinear fenótipos e acompanhar intervenções a partir dos marcadores estabelecidos com essas análises.”

Na prática, isso significaria facilitar o diagnóstico, prever o que pode acontecer com um paciente e criar um tratamento mais personalizado.

O pesquisador classifica a DCPV como uma síndrome de desconexão. Isso significa que ela pode afetar diferentes regiões cerebrais ao invés de uma única, onde o pequeno machucado foi encontrado. A perda da ligação entre essas áreas cerebrais pode resultar em problemas de memória e dificuldade no processamento de informações.

Renata Ferranti Leoni, professora do InBrain Lab da FFCLRP que orientou o projeto, esclarece que mais doenças como essa estão aparecendo porque as pessoas hoje vivem mais. “Antigamente não se falava muito desse tipo de doença, como o Alzheimer, porque a nossa expectativa de vida era menor. Então, entender como o cérebro funciona pode ajudar nas prevenções, para que outras pessoas não cheguem a desenvolver essas doenças.”

O tráfego de informações na nossa cabeça

A comunicação entre os neurônios é a base dos nossos pensamentos e comportamentos. Porém, há uma contradição entre as regiões do cérebro que são vistas trabalhando ao realizar uma tarefa e as conexões feitas pelos axônios. “Há regiões que, mesmo não tendo uma ligação estrutural, estão trabalhando sincronizadamente. Elas podem estar trabalhando juntas sem necessariamente estarem ligadas diretamente por axônios”, sugere a professora.

Segundo os modelos matemáticos funcionais, as diferentes áreas do cérebro trabalham em conjunto para processar informações mais rapidamente, como detalha Pedro. “A rede de velocidade de processamento de informação seria composta de oito regiões do cérebro que têm um padrão de conectividade funcional, seja na execução da tarefa ou em repouso. Esses padrões se correlacionam, até certo ponto, com os padrões de conectividade estrutural, porém não totalmente.”

Mapas cerebrais de desconexão associados a velocidade psicomotora ajustados para idades, sexos, escolaridade e sintomas depressivos. Imagem: Brain Topography.Mapas cerebrais de desconexão associados a velocidade psicomotora ajustados para idades, sexos, escolaridade e sintomas depressivos – Imagem: Reprodução/Brain Topography/Artigo de Renata Ferranti Leoni e Pedro Henrique Rodrigues da Silva

No início de um aprendizado, como a alfabetização e aulas de piano, o cérebro parece uma árvore de Natal. São muitas regiões do cérebro “acesas”, trabalhando muito e gastando bastante energia e, logicamente, demorando para concluir uma tarefa. “Após o aprendizado, essa rede se reorganiza, se especializa e se torna mais eficiente para executar aquela mesma tarefa. Então, não necessariamente a diminuição da atividade é pior”, explica Pedro.

A velocidade é prejudicada com a DCPV porque, ao danificar um ponto específico do cérebro, toda uma rede é afetada. Assim, os padrões funcionais precisam se reorganizar para conseguir voltar a performar a mesma atividade já aprendida.

Desconexão

Nos últimos anos, pesquisadores perceberam que identificar as lesões nos axônios não era suficiente para prever as perdas cognitivas em pacientes.

Enquanto um poderia não apresentar sintomas, outro poderia ter um déficit gravíssimo. O desfecho pode variar de acordo com a estratégia adotada em cada cérebro para compensar uma mesma obstrução.

“Às vezes o cérebro tenta recompensar um condição, mas faz isso de maneira errada, que é negativa. A pessoa até faz, mas sempre tem uns ‘brancos’ ou acontecem coisas inesperadas. Até que chega um ponto em que o cérebro ‘joga a toalha’, porque o esforço foi muito intenso”, complementa o físico.

O pesquisador defende uma mudança de olhar nesses diagnósticos. “Precisamos ir por camadas: identificar a lesão, como ela afeta as redes estruturais, as redes funcionais e como essas redes estão associadas aos testes neuropsicológicos ou testes clínicos aplicados.”

Atualmente, são também consideradas doenças de desconexão a depressão, a ansiedade, a demência e a esquizofrenia. Porém, seriam necessários testes similares aos da pesquisa para confirmar se elas se enquadram nessa classificação pelos mesmos motivos.

Segundo Pedro, estamos no período das “grandes navegações” no cérebro e entender essa organização ajuda a propor tratamentos mais eficazes.

Redes cerebrais

As redes estruturais navegam através das fibras dos axônios, que ligam diferentes regiões do cérebro. Já as redes funcionais viajam por regiões distintas no espaço cerebral, podem ser monitoradas através do fluxo sanguíneo e não correspondem completamente às redes estruturais.

Pedro conta que a rede funcional é um modelo matemático que explica melhor algumas execuções de tarefas e condições clínicas. “A priori, acreditava-se que, ao mapear a estrutura cerebral, ou seja, as fibras de substância branca, seria possível entender o funcionamento do cérebro, correlacionar com as várias medidas de testes neuropsicológicos e associar com as diversas condições clínicas, mas começou-se a perceber que, pelo menos com a neuroimagem que nós temos, esse mapeamento não explicava todos os desfechos clínicos e cognitivos dos pacientes.”

Há uma divergência entre a rede funcional e as conexões estruturais de neurônios. Por isso podemos dizer que a estrutura coloca limites às redes funcionais, mas não as determina completamente.

Entender como uma região influencia ou causa atividade em outra durante uma atividade é interessante para o estudo da DCPV pois pode abrir caminhos para a elaboração de melhores estratégias de diagnóstico, de tratamento e de melhoria na qualidade de vida dos pacientes.

Testes

Na sua pesquisa, Pedro avaliou a conectividade das regiões cerebrais em indivíduos saudáveis e comparou com trabalhos anteriores, realizados com pessoas com DCPV pela Universidade Radboud de Nimega, nos Países Baixos.

Esses estudos indicavam que a quantidade de tempo necessária para processar um conjunto de informações pode ser medida com a aplicação de um teste de substituição de letras por dígitos. “Esses testes conseguem identificar déficits de velocidade de processamento da informação no início da doença”, comenta Renata.

Como as letras e os dígitos são previamente conhecidos, o teste não depende de processos visuais e de memória complexos. Ou seja, isola melhor a velocidade de processamento de outros fatores como a memória e a atenção.

Nesses experimentos, a rede funcional foi observada por ressonância magnética através do fluxo sanguíneo. Quando estimulados a realizar uma tarefa, demandando energia, os neurônios fazem aumentar o fluxo de oxigênio fornecido pelos vasos.

Além da colaboração dos neerlandeses, o pesquisador contou com a colaboração de radiologistas e neuropsicólogos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP).

Mais informações: e-mails pedrojoanabrit@usp.br, com Pedro Henrique Rodrigues da Silva, e leonirf@usp.br, com Renata Ferranti Leoni

*Estagiário sob orientação de Fabiana Mariz

**Estagiárias sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Protocolo aplicado por enfermeiros reduz consumo de álcool em idosos

Estratégia terapêutica canadense da década de 1970, conhecida como intervenção breve, mostrou-se eficaz na promoção de mudanças de comportamento no consumo de álcool em idosos. O estudo, realizado por pesquisadores do campus de Ribeirão Preto da USP, observou redução de até quatro vezes no consumo de álcool nessa população. A técnica, informam os pesquisadores, estimula a autonomia, fazendo com que a pessoa assuma a responsabilidade sobre suas escolhas, e foi proposta como abordagem terapêutica para usuários de álcool pela equipe canadense liderada pela pesquisadora Martha Sanchez-Craig em 1972.

A mesma abordagem foi proposta agora pelo enfermeiro Deivson Wendell da Costa Lima, durante a pesquisa de seu doutorado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. Em seu estudo, o pesquisador aplicou a ferramenta de intervenção breve em idosos acima de 60 anos assistidos pela Atenção Primária à Saúde da cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo.

Lima conta que o interesse pelo tema surgiu ao verificar as “necessidades crescentes dos idosos que enfrentam problemas relacionados ao álcool”. Dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), por exemplo, mostram que uma a cada três pessoas com problemas de saúde associados ao consumo de bebidas alcoólicas tem mais de 55 anos.

Segundo o Cisa, cada dose no Brasil tem 14 gramas de álcool puro, o que equivale a 350 mililitros (ml) de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de bebidas destiladas (vodka, uísque, cachaça, gin ou tequila). Um consumo moderado de álcool equivale a uma dose por dia ou sete por semana para as mulheres e duas doses diárias ou 14 semanais para os homens.

A pesquisa avaliou 564 pessoas, a maioria homens (72%) residentes na área de abrangência das unidades de Saúde da Família do distrito oeste de Ribeirão Preto, selecionadas entre os mais de 3 mil idosos cadastrados.

Para o recrutamento, realizaram, durante visitas domiciliares aos pacientes da rede pública, a análise do padrão de consumo de álcool, através do questionário Audit (Teste de Identificação de Transtornos por Uso de Álcool) – um instrumento de avaliação desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que distingue aqueles que apresentam maior risco à saúde, com pontuação Audit entre cinco e 19.

O consumo de álcool é o sétimo fator mais significativo em termos de risco de doenças em pessoas com idades entre 50 e 69 anos, e ocupa a décima posição na faixa acima de 70 anos, conforme indica o Cisa. Ainda segundo o órgão, a identificação de transtornos relacionados ao uso de álcool nessa população tende a ser subestimada e as informações sobre seu impacto são limitadas. Estimativas apontam que entre 1% e 3% dos idosos sofrem desse transtorno, o que se traduz em uma fonte significativa de problemas de saúde física e mental.

Os selecionados foram divididos em dois grupos: controle e intervenção. O grupo controle recebeu apenas um folheto informativo, enquanto que o de intervenção, além de receber o folheto, passou pelas etapas da metodologia proposta.

Consumo de álcool e intervenção precoce

Quanto ao folheto entregue aos idosos do grupo controle, Lima informa ser um material educativo que apresenta os limites recomendados de ingestão de álcool para pessoas com 60 anos ou mais. “Apresenta a quantidade de álcool em diferentes bebidas em termos de doses e os problemas relacionados aos comportamentos do consumo de risco de álcool. Sua composição possui ilustrações e textos curtos como auxiliares da comunicação visual que podem ajudar na adesão às informações, inclusive para os idosos com poucos anos de estudo ou que não estudaram”, afirma.

Ao explicar a intervenção breve, a professora da EERP Sandra Cristina Pillon diz que se trata de uma estratégia terapêutica “bem estruturada, focal e objetiva que utiliza procedimentos técnicos para ajudar no desenvolvimento da autonomia da pessoa, atribuindo-lhe a capacidade de assumir a iniciativa e a responsabilidade por suas escolhas.”

No caso específico da pesquisa realizada por Lima, a abordagem foi escolhida pela necessidade de intervir de “forma precoce junto a pessoas com histórico de consumo prejudicial de álcool, encorajando-as a parar ou reduzir seu consumo”, afirma a professora, adiantando que a técnica não se limita ao tratamento do consumo problemático do álcool e pode ser aplicada em diversos contextos na saúde, como diabete, hipertensão e outras condições médicas.

Empatia na abordagem

A intervenção breve proposta pelo estudo teve o objetivo de reduzir o consumo de álcool em idosos usando um protocolo baseado nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) que incluiu a triagem, técnicas da entrevista motivacional, definição de metas de redução e acompanhamento. “A intervenção breve para o álcool foi realizada de forma presencial por meio de visita domiciliar, acompanhada pelos agentes comunitários de saúde. Foi realizada em uma única sessão, com tempo de duração média de 30 minutos. No final da sessão, todos os idosos receberam um relatório do protocolo preenchido com as principais informações de cada fase de intervenção e os folhetos informativos”, conta Lima.

Como resultado, o estudo mostrou que foi possível reduzir quatro vezes mais a ingestão de álcool do grupo que participou da intervenção em comparação ao controle (os idosos que receberam apenas um folheto informativo), a partir dos valores de pontuação no questionário Audit. Contudo, antecipa a professora Sandra, o sucesso da intervenção depende da empatia entre o profissional de saúde e o paciente. “A confiança e a compreensão são elementos fundamentais para o sucesso da intervenção breve. Além disso, a técnica busca reforçar a autoconfiança do indivíduo para que ele possa cumprir as metas estabelecidas”, assegura a professora.

Atenção primária à saúde

O protocolo pode ser usado como uma ferramenta na atenção primária à saúde e na criação de políticas públicas direcionadas aos idosos – Foto: Reprodução/Prefeitura Municipal de Jundiaí

Os resultados obtidos por Lima mostram que o uso da metodologia não só apresentou uma redução significativa no consumo geral de álcool, referente ao consumo durante a semana ou no mês, como também nos comportamentos de consumo de doses em uma mesma ocasião. O fato, acredita o pesquisador, sugere a indicação de uso do protocolo como uma ferramenta na atenção primária à saúde e na criação de políticas públicas. E, também, que a técnica pode ajudar os enfermeiros no cuidado aos idosos com problemas relacionados ao álcool.

As sugestões do pesquisador se justificam já que, segundo o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), só no ano de 2021 foram registradas mais de 336.407 internações, com quase 69.054 óbitos relacionados ao consumo problemático de álcool, sendo um terço desses indivíduos com idades superiores a 55 anos. Entre os óbitos, mais da metade estão nessa faixa etária.

A pesquisa integra a tese de doutorado de Lima, Efetividade da intervenção breve para redução do consumo de risco de álcool em idosos na Atenção Primária à Saúde, apresentada à EERP em maio de 2023, sob orientação da professora Margarita Antonia Villar Luis.

Mais informações: e-mail deivsonwendell@hotmail.com

*Estagiário sob supervisão de Rita Stella 

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Medicamento mostra desaceleração do declínio cognitivo de pacientes com Alzheimer

A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora reguladora ligada ao Departamento de Saúde do governo dos Estados Unidos, aprovou o uso do Leqembi, medicamento contra Alzheimer que desacelera o declínio cognitivo em pacientes que estão nos estágios iniciais da doença. O estudo no qual se baseou a aprovação do medicamento envolveu 1.795 pacientes com comprometimento cognitivo leve ou estágio de demência leve e presença confirmada de patologia beta-amiloide.

Além do Leqembi, o Donanemab é outro medicamento que foi aprovado recentemente e que apresenta como objetivo retardar o avanço da doença. Tânia Ferraz Alves, psiquiatra, diretora das unidades de internação e vice-diretora do corpo clínico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), explica que o medicamento é utilizado em um tratamento denominado como anticorpo monoclonal, uma vez que, por mais 20 anos, todos os remédios eram anticolinesterásicos — utilizados em pessoas que já apresentavam a doença de Alzheimer com o objetivo de desacelerar um pouco a sua progressão, mas que tinham algumas limitações de uso.

Medicamento e resultados 

“Os anticorpos monoclonais são de um grupo de medicamentos diferentes. Eles agem já na patologia, fazendo uma retirada da placa amiloide”, explica Tânia. Assim, o medicamento atua na retirada do beta-amiloide e os estudos demonstram que os pacientes que tomaram essa medicação com relação a placebos tiveram quase 30% de redução da progressão da doença na parte cognitiva. Esse dado aponta a importância do tratamento, pois a retirada da placa não é suficiente sendo necessária a observação clínica da percepção da melhora.

A especialista reforça ainda que quanto mais cedo for identificada a doença, mais fácil torna-se o tratamento. Hoje, a identificação do Alzheimer ainda depende do declínio cognitivo do paciente, contudo, uma série de técnicas vêm sendo desenvolvidas para detecção da doença por meio dos biomarcadores. “Assim, as pessoas que apresentam um declínio leve, mas que apresentam esses biomarcadores antes de perder sua funcionalidade, já sabem que existe um quadro de comprometimento cognitivo devido ao Alzheimer”, explica.

Apesar de serem benéficos para esses casos, é importante entender que o uso desses medicamentos não está livre de problemas colaterais, uma vez que os estudos demonstraram que uma série de pessoas tiveram um risco maior de sangramento cerebral. Dessa forma, o uso dessa medicação segue um protocolo de realização de acompanhamentos para identificação de sangramentos ou de alterações de riscos.

“A doença vem silenciosa por muito tempo, por isso os biomarcadores são tão importantes. Quanto mais precoce eu identifico, mais os resultados se mostram benéficos e mais os medicamentos que estão sendo desenvolvidos vão mostrar uma resposta positiva”, considera Tânia.

Brasil 

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não aprovou o uso desse medicamento, mas é possível realizar o tratamento com os anticolinesterásicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que permite um tratamento de quadros instalados com segurança. A médica analisa também que uma questão entre risco e benefício sempre é colocada na avaliação de aplicação para alguns tratamentos.

Os biomarcadores observados para a identificação do Alzheimer ainda são iniciais, mas representam um avanço no desenvolvimento de medicamentos que podem apresentar menos efeitos colaterais, redução de custo e maior eficácia.

FONTE: Jornal da USP

Doença de Alzheimer: onde estamos?

O Grupo de Estudos Rede Ciência, Arte, Educação e Sociedade (CienArtES) do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e o Programa de Pós-Graduação em Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, promovem no dia 11 de maio, a partir das 17h, a mesa-redonda Doença de Alzheimer: onde estamos? – Principais limitações e avanços clínico-científicos na luta contra essa demência.

Alzheimer

O evento é exclusivamente presencial e será realizado no Espaço de Eventos do IEA-RP. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas neste link. Haverá envio de certificado para os participantes.

Os palestrantes serão a doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Neurociências da FMRP Suélen Santos Alves, o médico e professor do Centro Universitário Barão de Mauá Guilherme Riccioppo Rodrigues e a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP Gabriela Lima. A moderação é do coordenador do Grupo de Estudos Rede CienArtES, Norberto García-Cairasco.

Eles vão explicar a dificuldade em estabelecer um diagnóstico correto da doença, a evolução do quadro clínico com perda progressiva da funcionalidade, presença de sintomas neuropsiquiátricos, tratamento, sobrecarga do cuidador, apoio social e o avanço nas pesquisas científicas.

A doença de Alzheimer é uma desordem neurodegenerativa progressiva incurável e altamente debilitante, o que a torna um grave problema de saúde pública. Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, sediada no Reino Unido, até 2030, 74,7 milhões de pessoas em todo o mundo serão portadoras dessa doença. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que 1,2 milhão de pessoas têm a doença e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.

A mesa-redonda integra a programação atrelada à exposição 43 Anos de Neurociência & Arte: Construindo Pluriversos – Integrando Múltiplos Saberes, na qual o coordenador do Grupo de Estudos Rede CienArtES Norberto García-Cairasco apresenta pinturas, desenhos e esculturas que compõem um retrato resumido da vivência plena de seus 43 anos como educador e cientista na área da neurociência. A mostra pode ser visitada até 19 de maio no Espaço Cultural do IEA-RP. Mais informações neste link.

Sobre a Rede CienArtES

O Grupo de Estudos Rede Ciência, Arte, Educação e Sociedade  (CienArtES) tem como metas a realização de eventos, tais como simpósios (nacionais e internacionais), mesas-redondas, debates e eventos de divulgação científica que considerem, da maneira mais abrangente e democrática possível, os múltiplos saberes, os aspectos da ciência, da neurociência e fisiologia integrativas, associadas às artes, à filosofia, à história e a todos os aspectos da educação. Mais informações: rp.iea.usp.br/pesquisa/grupo-de-estudo/rede-cienartes.

FONTE: Jornal da USP

O segredo da longevidade é não admitir que idosos adoeçam e se tornem limitados

O Instituto Central do Hospital das Clínicas conquistou o nível máximo do Programa Hospital Amigo do Idoso, iniciativa da Secretaria do Estado de São Paulo que faz parte do programa governamental São Paulo Amigo do Idoso desde 2012, pela excelência dos serviços oferecidos à população e suas boas práticas voltadas ao público idoso.

Há cerca de dez anos, o hospital, entendendo que não só as instituições de saúde, mas inclusive os municípios, os Estados e a Nação precisam se preparar para o envelhecimento populacional, decidiu aderir ao programa. “Se nós não estivermos devidamente equipados para atender bem a uma população crescente em nível exponencial, nós não teremos como dar a essa população aquilo que ela precisa e aquilo que nós precisamos também para as outras faixas etárias”, explica Wilson Jacob Filho, titular da Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor da Divisão de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Desde o primeiro momento, o hospital decidiu se credenciar, que é a parte de demonstrar interesse em fazer parte do programa. Para atingir o nível máximo – adquirir o Selo Pleno –, como atingido pelo instituto, são necessários completar quatro passos, referentes a ações obrigatórias e eletivas. Não apenas órgãos públicos de saúde podem receber o selo, mas também instituições privadas e de outras áreas, desde que impactem positivamente na saúde e bem-estar do idoso.

Muito além da saúde

Várias especialidades atendem aos idosos desde sempre e, comumente, é normal a procura nessa faixa etária por tratamentos e atendimento médico, já que a maioria deles convive com múltiplas doenças crônicas. A questão da geriatria e do selo, porém, vai muito além disso: não é atender ao idoso somente quando ele está doente, “mas atender ao idoso na condição de idoso; enfermidade entra como fator desencadeante, mas ela não é o único alvo do atendimento”, explica Jacob.

Ele também salienta que “o Selo Hospital do Amigo vai muito além disso, ele vai atender ao idoso por ser idoso dentre as suas multimorbidades e a grande quantidade de remédios que eles ingerem, que é a polifarma”. O idoso tem uma demanda social, emocional e da ordem de cuidadores, que ficam responsáveis pela sua autonomia e independência. A preparação do hospital para atendê-los, como explica o médico e professor, passa por esse conhecimento de que o atendimento é muito mais amplo que aquele dirigido à enfermidade ou doença. Conta, principalmente, com uma equipe preparada e multidisciplinar.

Geriatria e Gerontologia

A área principal de atendimento é a geriatria, mas outras especialidades complementam o trabalho. A gerontologia, como especifica Jacob, é um conjunto de saberes voltados para a questão do envelhecimento. “Inclusive nós temos uma área importantíssima da gerontologia, que é o jornalismo, porque é ele quem veicula as informações necessárias para que o idoso possa fazer valer os seus direitos e poder criar perspectivas futuras”, diz.

Todas as áreas da saúde são voltadas para dar o atendimento hospitalar aos idosos, mas o bem-estar é fruto de outras áreas também, como a jurídica e o turismo. É um universo do qual o idoso se utiliza para ficar menos enfermo e se recuperar de coisas pelas quais passou durante a sua vida. “Então, é uma medida de suporte interdisciplinar na qual o médico por vezes exerce um papel essencial, por vezes ele é um suporte”, explica o professor.

Preocupação com a demanda

Envelhecer é natural, porém, sempre foi uma preocupação da população que, por muito tempo, considerava isso uma doença. Para mitigar os efeitos do envelhecimento e garantir que esse período passe da melhor forma possível, a ONU instituiu, em dezembro de 2020, que de 2021-2030 seria a Década do Envelhecimento Saudável.

Imagem: Divulgação/OPAS

O mundo inteiro está de olho nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, para “encontrar soluções que atendam à maior parte dos idosos, se não a sua totalidade, nas suas demandas”, explica Jacob. Isto é, permitir que os indivíduos envelheçam com um grau de morbidades menor.

Se antes as pessoas passavam grande parte da sua velhice doentes, hoje há mecanismos para que isso mude e os impactos sejam reduzidos. “Não podemos admitir mais o modelo de envelhecimento onde as pessoas adoecem e ficam limitadas na quinta ou sexta década de vida, tendo uma expectativa de vida média em torno de oito a nove décadas, então eu não posso passar grande parte da minha vida doente”, diz Jacob.

O envelhecimento saudável inclui todas as áreas, não só a da saúde. “O assunto é absolutamente universal”, relata o médico.

Dica do envelhecimento saudável

Qual seriam elas? Antes de tudo, Wilson Jacob lembra que trazer a discussão a público, que sempre foi uma discussão temida, é um passo muito importante. “ [A saúde] Precisa ser cuidada com zelo e com atenção. Todos os problemas que nós acumulamos no transcorrer de nossas vidas nos serão cobrados lá na frente”, diz.

“Quanto mais eu me preocupo com meu envelhecimento saudável, seja dos 30 aos 60 anos de idade, maior a chance que eu tenho de chegar às idades mais avançadas com uma menor carga de doença e uma menor necessidade de medicamentos”, complementa. Ele elenca, ainda, duas dicas valiosas para o envelhecimento saudável: a primeira é querer envelhecer, já que pessoas que não querem estão fadadas a terem uma vida curta. A segunda é preocupar-se com o envelhecimento ainda jovem: se os cuidados começam cedo, muitos problemas podem ser evitados. O segredo da longevidade é o cuidado.

FONTE: Jornal da USP

Milhões de idosos no mundo não têm autonomia para atender às necessidades básicas

Ser capaz de realizar atividades como se vestir, tomar remédios ou gerir o seu dinheiro pode parecer simples para a maioria das pessoas. Entretanto, um relatório produzido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) revela que, pelo menos, 142 milhões de pessoas com 60 anos ou mais não têm autonomia para atender às suas necessidades básicas. Esses dados não incluem os idosos que vivem em instituições de longa permanência. Para reverter esse quadro, é necessário criar ferramentas para melhorar a independência e a qualidade de vida do idoso.

É o que defende o médico geriatra André Filipe Junqueira dos Santos, doutor pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Ele explica que desenvolver instrumentos para melhorar o processo de envelhecimento da pessoa com saúde é essencial. “O envelhecimento saudável é a ideia de um envelhecimento em que a gente procura preservar a habilidade funcional e promover oportunidades para manter, e até melhorar, a saúde física e mental para garantir independência e qualidade de vida nesse período da existência.”

Santos acredita que a desconstrução dos estereótipos criados pela sociedade sobre a terceira idade e o estímulo para que elas permaneçam ativas e funcionais dentro das suas limitações são essenciais para pensar a otimização da habilidade funcional. “Com a criação de ferramentas que ajudem a executar essas atividades básicas, os idosos podem cuidar melhor de si mesmos e viver de forma mais independente.”

Reformular a sociedade

De acordo com o médico, aquela visão tradicional que se tem de uma pessoa mais velha, aposentada, ficar dentro de casa, sem ter o que fazer, é muito ruim em diversos aspectos, seja para pessoa em si, porque ela se sente isolada e a solidão vai acarretar problemas físicos e de saúde mental, seja para a sociedade também, porque começa a ter mais gastos com saúde e cuidados. “Precisamos reformular a sociedade para garantir que essas pessoas tenham uma maior oportunidade de participar ativamente.”

Apesar do desenvolvimento de políticas públicas nesse sentido, o professor ressalta a capacidade de cada um fazer a sua parte e interferir no seu próprio processo de envelhecimento caminhando para uma boa qualidade de vida. “Envelhecer é um processo irreversível, todo mundo envelhece. Mas cada um pode interferir no seu próprio envelhecimento. A maneira como nós vamos envelhecer é a maneira como nós vamos viver muito tempo da nossa vida. Então, a gente precisa se preparar de diversas maneiras para que, quando nós tivermos uma idade acima de 60, 70 anos, continuemos ativos em diversos aspectos.” Santos conclui com uma pergunta: “Como é que a gente está preparando o nosso país para viver com isso?”.

FONTE: Jornal da USP

Envelhecimento populacional acende sinal de alerta para casos de demência

Doenças neurodegenerativas devem aumentar no Brasil. Esses foram os dados compilados pela pesquisa da Global Burden of Disease, que também alerta para um salto de 1,8 milhão para 5,6 milhões de enfermos. Para demência e Alzheimer ainda não há cura, mas medidas de prevenção e atenção aos primeiros sinais das doenças são paliativos. Com o avanço da idade, as doenças podem ocorrer com mais frequência após os 70 anos.

O envelhecimento da população global chama atenção para cenários distintos da doença no mundo, uma vez que a idade avançada está associada ao aumento na tendência em desenvolvê-la. Isso ocorre devido às dificuldades socioeconômicas encontradas nos países mais pobres, locais em que quadros neurodegenerativos podem ser agravados.

Atualmente, cerca de 50% dos pacientes residem nesses países, número que tende a alcançar 62% em 2050. “Hoje em dia, a maior parte das pessoas com demência vive em países de baixa e média renda”, completa a doutora e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP, Claudia Kimie Suemoto.

No Brasil 

A partir de uma pesquisa desenvolvida por Laiss Bertola, que demonstra a prevalência de demência e comprometimento cognitivo em uma amostra diversificada nacionalmente, foi possível obter um cálculo do País, que inclui um recorte da região Sudeste, região com maior número de residentes. Para tanto, o estudo foi utilizado para precisar números e dados das doenças no âmbito nacional, relacionando fatores de risco, questões econômicas e raciais.

Um tópico levantado por Claudia chama atenção para o impacto dos 12 fatores de risco da demência. O Brasil apresenta aproximadamente 48% dos casos relacionados a fatores como hipertensão e perda auditiva na meia idade, obesidade, traumatismo craniano, abuso da ingestão de álcool, tabagismo e depressão, contra 40% dos casos diagnosticados no mundo.

Com a pesquisa e o próximo Relatório Nacional Sobre a Demência encomendado pelo Ministério da Saúde, é possível analisar se o Brasil estará preparado para acompanhar o aumento dos casos. Para isso, Claudia Suemoto destaca que ainda falta a educação necessária para informar a população dos riscos da demência e os primeiros sinais da doença.

Ela também destaca a necessidade da criação de um Plano Nacional de Demências, que surge com a potencialidade da doença em se tornar a principal causa da incapacidade e perda da cognição na população: “A demência vai se tornar cada vez mais um problema de saúde pública”, adiciona ela.

Prevenção e paliativos 

Os dados apresentados no Brasil e no mundo surgem como alertas para a doença que mais avança com o envelhecimento populacional. Aqui, os primeiros cuidados devem ser tomados a partir do estilo de vida ativo, com controle dos fatores de risco, como a hipertensão, e estar atento aos possíveis primeiros sinais do Alzheimer e da demência. Estes envolvem problemas de memória, dificuldade de comunicação e de raciocínio, desorientação no tempo.

Depois, com o diagnóstico da doença, é importante o cuidado com que as doenças são comunicadas pelos médicos. Claudia destaca que, para além da criação de um estilo de vida envolto em hábitos saudáveis, é necessário “melhorar o treinamento de médicos e pessoas da linha de frente com pacientes e familiares”, com a criação de campanhas que desmistifiquem estigmas sobre a velhice, o declínio cognitivo e a mortalidade.

Texto: Redação
Arte: Simone Gomes

FONTE: Jornal da USP

A saúde deve ser cuidada não só na velhice, mas ao longo da vida

A população brasileira está cada vez mais velha. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2021, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a parcela de pessoas de 60 anos ou mais cresceu em 39,8% entre 2012 e 2021. Com o crescimento desse grupo etário, a sua qualidade de vida durante o envelhecimento depende de uma integração de cuidados individuais, familiares e governamentais.

Em 2012, a população brasileira de 60 anos ou mais era de aproximadamente 23,5 milhões. Nove anos depois, a quantia é de quase 33 milhões, o terceiro grupo mais numeroso das faixas etárias calculadas. Em um recorte de sexo, o feminino prevalece como o mais longevo e cresceu, em média, 30,2% desde a primeira pesquisa.

O cuidado com idosos

Para que os idosos estejam física e mentalmente saudáveis são necessárias as medidas tomadas durante a vida. É o que diz Rosa Chubaci, professora do Departamento de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP: “Tudo vai depender da ação que o próprio idoso e sua família vai fazer para que esse idoso fique por mais tempo possível saudável e com qualidade de vida”, diz. Ela explica que é preciso fazer um planejamento de rotina de exercícios físicos, de modo que o indivíduo esteja ativo, mas reconhece que uma parcela limitada tem a condição financeira para isso.

A garantia de saúde plena dos idosos começa com atividades físicas, porém, não se restringe a elas. A professora aponta a importância de estabelecer vínculos sociais, além daqueles com os familiares. “Construir novas amizades e incluir também pessoas jovens nesse rol de amigos para que ele tenha esse inter-relacionamento social”, comenta ela. Com esses primeiros passos, ligados ao bom funcionamento cognitivo, a memória e a saúde mental tendem a ser preservadas no processo de envelhecimento.

Rosa vê motivos para o aumento no porcentual de idosos no Brasil: “É o resultado de toda uma política pública em relação à saúde. E, hoje, é comum a longevidade das pessoas”, afirma. Ela desenvolve o raciocínio ao mencionar o avanço da tecnologia em termos de medicamentos, procedimentos e tratamentos de saúde. O incentivo à prática de atividades físicas e alimentação saudável são outros pontos fundamentais no quadro e são consequência da “escolaridade e da informação”, na visão dela: “Tudo isso faz com que nós tenhamos cada vez mais condições de atingirmos 80, 90, 100 anos”.

Em grupos específicos, os cuidados a serem tomados também são específicos. No caso da doença de Alzheimer, que afeta diretamente a memória do indivíduo, a professora conta: “A Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), além de oferecer apoio ao idoso, oferece à família, que muitas vezes não sabe lidar com uma pessoa com demência”. Esquecer das atividades, dos nomes dos familiares e de acontecimentos recentes são exemplos da conduta de pacientes com Alzheimer. Ela ainda indica que a assistência e atendimento a esse público também ocorre em centros de convivência, Unidades Básicas de Saúde (UBS) e universidades.

A mudança necessária

O envelhecimento e a velhice sofreram uma mudança gradativa, na opinião da professora da EACH: “Hoje, a questão dos idosos tem muito mais direitos sendo atribuídos a essa população e isso faz com que as pessoas mudem seus hábitos diários para que cuidem de si mesmos”. Serviços públicos e privados auxiliam no processo de envelhecimento e Rosa exemplificou com dois deles : o programa Centro-Dia para o idoso (CDI), executado pela Prefeitura Municipal de São Paulo, e as Instituições de Longa Permanência para Idosos (Ilpi).

No primeiro, o idoso dá entrada no acompanhamento pela manhã e vai embora no final da tarde. “Nesses centros de convivência, eles fazem atividades, têm momentos de lazer, exercitam a memória e praticam atividades físicas. Então, esses hábitos estão mudando e as pessoas idosas, como seus familiares, precisam saber que isso é importante para o envelhecimento deles”, esclarece.

Por sua vez, o Ilpi, também conhecido como asilos e casas de repouso, é “um paradigma que está em mudança”, para ela. A melhoria na qualidade e a crescente necessidade das famílias tem rompido com o preconceito na utilização desse espaço de acolhimento de idosos. “Tem um momento da vida em que a família vai precisar desse serviço, não é abandono. É um cuidado que a família vai ter, mas dentro de uma instituição de longa permanência, onde ele [o idoso] vai ter mais qualidade de vida, principalmente no caso de idosos mais dependentes ou mais demenciados”, conclui.

A professora ressalta a necessidade de serviços e políticas públicas que possam ajudar a população a envelhecer melhor. Com assistências voltadas aos idosos e aos seus familiares, ela recomenda que seja considerado o seguinte pensamento: “É sempre importante destacar que o velho não é o outro. O velho é você amanhã”.

Por Tulio Shiraishi

FONTE: Jornal da USP

Saúde dos rins e envelhecimento

Com o avanço da idade da população em diversos países, a saúde dos rins precisa ganhar visibilidade para que as pessoas consigam saber sobre o que se trata, como são causadas, quais são sintomas e o tratamento.  

Um exemplo é a Doença Renal Crônica, a qual o risco de desenvolvimento varia entre 30% e 50% para pessoas com mais de 65 anos. No Brasil, atinge 10% da população. Existe muito trabalho de conscientização a ser feito, principalmente para que o diagnóstico aconteça nos primeiros estágios e que a doença seja controlada. 

O envelhecimento aumenta as chances de alguma doença renal se desenvolver e evoluir para Insuficiência Renal Crônica (IRC). Porém, existem atitudes simples que podem prevenir essas doenças e/ou mantê-las controladas. 

Esse texto vai abordar exatamente quais são essas atitudes e como implementá-las no seu dia a dia, vamos lá?  

O que é Doença Renal?  

A doença renal crônica (DRC) se caracteriza por alterações que afetam a função dos rins. As causas e fatores são diversos e o processo de progressão é lento, o que faz com que os pacientes sintam os sintomas apenas quando a doença e está em estágio avançado. 

A função dos rins  

Os rins têm a função de filtrar o sangue e eliminar substâncias que nosso corpo produz como resultado da atividade celular (como ácido úrico, creatinina e ureia), sendo assim, ele tem uma função reguladora que contribui para a manutenção de água e sais minerais no sangue. 

Os fatores que mais estão associados à manifestação da doença renal, são a hipertensão, a diabetes e a idade avançada.  Juntos, esses três fatores trazem grande risco de problemas nos rins. 

O tratamento dessas doenças bases é essencial para a prevenção de problemas nos rins e o desenvolvimento de doença renal crônica. Principalmente porque essas duas doenças têm uma incidência maior conforme a idade avança

A doença renal tem cinco estágios, são eles:   

Estágio 1: a filtração e a taxa de filtração glomerular (TFG), um importante indicador na avaliação e detecção de DRC, permanece com taxas normais, entre 90 ou mais. Existe risco de evolução caso os fatores de risco não sejam tratados.
Estágio 2: nesse estágio, os rins começam a ter um leve comprometimento na função (que pode estar associado ao envelhecimento), mas ainda não há sintomas e esse leve. Existe uma leve queda na TFG, ficando entre 60 e 89.
Estágio 3: os primeiros sintomas aparecem, como anemia e doença óssea leve. O tratamento geralmente se inicia nesse estágio e objetivo dele é controlar fatores de risco para que não se perca totalmente a função renal. A taxa de TFG fica em torno de 30 a 59.
Estágio 4: esse estágio é chamado de pré-dialítico, o tratamento deve ser mantido, ao passo que a substituição renal deve ser preparada. A taxa TFG fica entre 15 e 29 nesse estágio.
Estágio 5: no estágio final, a insuficiência renal está estabelecida. Os sintomas são náuseas, vômitos e perda de peso do paciente. A anemia se intensifica, assim como o acúmulo de líquido. É nesse estágio que a substituição renal ocorre, quando a taxa de TFG está entre 15 ou menos.

Sintomas da Doença Renal Crônica  

  • Perda de apetite
  • Perda de peso
  • Inchaço
  • Descontrole da pressão arterial
  • Mudanças na urina
  • Vômitos e náuseas

Prevenção  

A prevenção de doenças nos rins pode ser feita através de atitudes no estilo de vida, como redução do consumo de açúcar, sal, parar de fumar, realizar atividades físicas regularmente, realizar o controle de diabetes e hipertensão. Além disso, aumentar a ingestão de água ao longo do dia. 

Estar com os exames em dia é essencial. Exames como de urina, de sangue, de glicemia e de creatinina, que podem detectar a doença renal em seus estágios iniciais, que não apresentam sintomas! 

Tratamento  

É inegável que a população está envelhecendo na maioria dos países, graças ao avanço de tratamento para doenças que antes eram vistas como fatais. É inegável também que a doença renal crônica está associada ao envelhecimento, conforme vimos ao longo do texto. 

Por isso, a detecção precoce ajuda que o tratamento adequado seja iniciado o mais rápido possível para que as complicações e mortalidade sejam reduzidas. 

O chamado Tratamento Conservador é realizado quando a doença é encontrada na fase inicial. Em fases mais avançadas, em que a insuficiência renal é total ou parcial, o tratamento é feito por diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal), no qual ocorre um filtro feito por uma máquina (que faz o papel do rim). Ou então, feito com o transplante renal. 

Na hemodiálise, o paciente comparece cerca de três vezes na semana para a realização do procedimento. A diálise peritoneal é realizada em domicílio. Junto ao médico nefrologista, que cuida da saúde dos rins, o melhor tratamento será escolhido, de acordo com a fase que o paciente está. 

FONTE: Blog Programa FazBem

Reduzindo a confusão mental no pós-operatório de idosos

A disfunção cognitiva pós-operatória (DCPO) é uma condição que costuma afetar pós-operatório de idosos submetidos a cirurgias sob anestesia geral. Caracteriza-se usualmente por prejuízos à memória e à concentração que podem ser temporários ou tornarem-se permanentes e incapacitantes. O problema tem se tornado cada vez mais frequente, tanto em função do envelhecimento da população como do aumento no número de procedimentos cirúrgicos em idosos propiciado pelo avanço nas tecnologias médicas. Dados da literatura científica sugerem que os casos anestésico-cirúrgicos que evoluem com DCPO têm mortalidade aumentada no primeiro ano após o procedimento.

A boa notícia é que, de acordo com um estudo publicado no dia 6 de maio na revista PLoS One, duas medidas relativamente simples podem ajudar a reduzir a incidência de DCPO: administrar uma pequena dose do anti-inflamatório dexametasona imediatamente antes da cirurgia e, durante a operação, evitar uma hipnose muito profunda.

A pesquisa coordenada por Maria José Carvalho Carmona, professora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenadora da pesquisa, foi conduzida com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) durante o doutorado de Lívia Valentin, primeira autora do artigo.

Atualmente, não há consenso sobre a profundidade anestésica adequada e sobre os riscos da anestesia muito profunda. Sabe-se que, quando a anestesia é demasiadamente superficial, existe a possibilidade de o paciente ter lembrança do intraoperatório, o que é indesejável. “Os resultados confirmam evidências recentes de que, quanto mais profunda é a hipnose anestésica, maior é a incidência de DCPO. Dados da literatura indicam que o problema estaria relacionado a uma resposta inflamatória sistêmica induzida pelo trauma cirúrgico, que seria lesiva para o sistema nervoso central. Por esse motivo o anti-inflamatório pode ter um efeito protetor”, explica a professora.

“Quanto mais profunda é a hipnose anestésica, maior é a incidência de DCPO

Foram avaliados 140 pacientes, entre 60 e 87 anos, submetidos à cirurgia sob anestesia geral no Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP – a maioria para remoção de cálculos na vesícula. Como agente hipnótico foi utilizado o anestésico propofol. “Excluímos os casos de cirurgia cardíaca e ortopédica, dois dos procedimentos mais associados ao desenvolvimento de DCPO e, portanto, os mais explorados em estudos anteriores”, explicou Carmona.

Status cognitivo

Antes da cirurgia, os pacientes passaram por uma avaliação do status cognitivo, sendo excluídos aqueles que não alcançavam o escore mínimo. Em seguida, os selecionados foram divididos aleatoriamente em quatro grupos. O primeiro não recebeu dexametasona e foi induzido a uma hipnose anestésica profunda, como a utilizada frequentemente em cirurgias de grande porte. O segundo grupo também não recebeu o anti-inflamatório, mas foi induzido a uma hipnose mais superficial. O terceiro recebeu dexametasona e hipnose profunda. O último grupo recebeu a droga anti-inflamatória e hipnose superficial.

A profundidade anestésica foi monitorada por uma tecnologia conhecida como BIS (índice bispectral, na sigla em inglês), baseada na análise espectral do traçado do eletroencefalograma. Valores entre 35 e 45 nesse índice foram considerados pelos pesquisadores como hipnose profunda. Entre 46 e 55 foi considerada hipnose superficial.

No primeiro grupo (hipnose profunda, sem anti-inflamatório), a incidência de DCPO logo após a cirurgia foi de 68% – sendo que 25,3% dos pacientes ainda apresentavam o problema na reavaliação feita após seis meses. No segundo (hipnose superficial, sem anti-inflamatório), o número caiu para 27,2% após a cirurgia. Seis meses depois, 21,7% ainda apresentavam prejuízo cognitivo. No terceiro grupo (dexametasona e hipnose profunda), a incidência foi parecida com o grupo anterior logo após o procedimento cirúrgico: 25,2%. No entanto, na reavaliação feita após seis meses apenas 3,1% dos pacientes ainda apresentavam DCPO.

Já no grupo que recebeu dexametasona e foi submetido a hipnose superficial, a incidência de DCPO caiu para 15,3% no primeiro momento e, após seis meses, todos os pacientes já haviam recuperado o status cognitivo pré-cirúrgico. “Os resultados obtidos reforçam evidências recentes sobre a importância de evitar-se a anestesia profunda. Já em relação ao uso da dexametasona, há necessidades de mais estudos, de preferência multicêntricos, para confirmar o achado. Mas há um forte indício de que ela pode ser benéfica em muitos casos”, avaliou Carmona.

Reabilitação

Os primeiros estudos com pacientes que desenvolveram DCPO começaram a surgir, de acordo com Carmona, após os anos 1950. Antes dessa época dificilmente eram realizadas cirurgias de grande porte em idosos. Pesquisas nessa área, portanto, ganharam relevância principalmente nos últimos 15 ou 20 anos. “Ainda se discutem as causas e os fatores de risco da DCPO, mas pouco se fala em reabilitação e em metodologias para fazer com que esses pacientes voltem à sua condição do pré-operatório”, opinou Carmona.

Para que o diagnóstico e a reabilitação sejam viáveis, um dos desafios é desenvolver instrumentos práticos e seguros para avaliação do status cognitivo no pré e no pós-operatório. “Os testes hoje disponíveis ou são muito demorados ou, quando são rápidos, não são confiáveis. Isso dificulta o acompanhamento dos pacientes”, afirmou Carmona. Conforme explicou Valentin, os testes neuropsicológicos convencionais são de difícil aplicação e são de uso exclusivo do psicólogo especialista em neuropsicologia. “Isso dificulta a avaliação cognitiva pré e pós cirúrgica, principalmente em equipes multiprofissionais que não contam com um neuropsicólogo”, disse a pesquisadora.

“Os testes hoje disponíveis ou são muito demorados ou, quando são rápidos, não são confiáveis

Visando solucionar essa deficiência, desde o término de seu doutorado, Valentin tem se dedicado a desenvolver em parceria com a empresa Izotonic Games o jogo digital MentalPlus. O software avalia as funções cognitivas de maneira lúdica em 25 minutos – enquanto uma bateria de testes neuropsicológicos convencionais pode levar mais de duas horas para ser concluída. O projeto está sendo conduzido em parceria com nove instituições internacionais, entre elas Harvard Medical School (Estados Unidos), The University of Copenhagen (Dinamarca), L’Université Paris-Sorbonne (França) e The University of Oxford (Reino Unido). A validação do método está sendo feita na FMUSP sob a coordenação de Valentin.

“O game está sendo validado para uso na população em geral, como um dos recursos mais atuais para a avaliação das funções cognitivas. Além disso, seu uso pode ajudar o jogador na reorganização das funções cognitivas prejudicadas. A ideia é que seja um instrumento de domínio público, não restrito ao uso de psicólogos ou neuropsicólogos”, afirmou Valentin.

Karina Toledo / Agência FAPESP

FONTE: Jornal da USP