Envelhecimento populacional acende sinal de alerta para casos de demência

Doenças neurodegenerativas devem aumentar no Brasil. Esses foram os dados compilados pela pesquisa da Global Burden of Disease, que também alerta para um salto de 1,8 milhão para 5,6 milhões de enfermos. Para demência e Alzheimer ainda não há cura, mas medidas de prevenção e atenção aos primeiros sinais das doenças são paliativos. Com o avanço da idade, as doenças podem ocorrer com mais frequência após os 70 anos.

O envelhecimento da população global chama atenção para cenários distintos da doença no mundo, uma vez que a idade avançada está associada ao aumento na tendência em desenvolvê-la. Isso ocorre devido às dificuldades socioeconômicas encontradas nos países mais pobres, locais em que quadros neurodegenerativos podem ser agravados.

Atualmente, cerca de 50% dos pacientes residem nesses países, número que tende a alcançar 62% em 2050. “Hoje em dia, a maior parte das pessoas com demência vive em países de baixa e média renda”, completa a doutora e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP, Claudia Kimie Suemoto.

No Brasil 

A partir de uma pesquisa desenvolvida por Laiss Bertola, que demonstra a prevalência de demência e comprometimento cognitivo em uma amostra diversificada nacionalmente, foi possível obter um cálculo do País, que inclui um recorte da região Sudeste, região com maior número de residentes. Para tanto, o estudo foi utilizado para precisar números e dados das doenças no âmbito nacional, relacionando fatores de risco, questões econômicas e raciais.

Um tópico levantado por Claudia chama atenção para o impacto dos 12 fatores de risco da demência. O Brasil apresenta aproximadamente 48% dos casos relacionados a fatores como hipertensão e perda auditiva na meia idade, obesidade, traumatismo craniano, abuso da ingestão de álcool, tabagismo e depressão, contra 40% dos casos diagnosticados no mundo.

Com a pesquisa e o próximo Relatório Nacional Sobre a Demência encomendado pelo Ministério da Saúde, é possível analisar se o Brasil estará preparado para acompanhar o aumento dos casos. Para isso, Claudia Suemoto destaca que ainda falta a educação necessária para informar a população dos riscos da demência e os primeiros sinais da doença.

Ela também destaca a necessidade da criação de um Plano Nacional de Demências, que surge com a potencialidade da doença em se tornar a principal causa da incapacidade e perda da cognição na população: “A demência vai se tornar cada vez mais um problema de saúde pública”, adiciona ela.

Prevenção e paliativos 

Os dados apresentados no Brasil e no mundo surgem como alertas para a doença que mais avança com o envelhecimento populacional. Aqui, os primeiros cuidados devem ser tomados a partir do estilo de vida ativo, com controle dos fatores de risco, como a hipertensão, e estar atento aos possíveis primeiros sinais do Alzheimer e da demência. Estes envolvem problemas de memória, dificuldade de comunicação e de raciocínio, desorientação no tempo.

Depois, com o diagnóstico da doença, é importante o cuidado com que as doenças são comunicadas pelos médicos. Claudia destaca que, para além da criação de um estilo de vida envolto em hábitos saudáveis, é necessário “melhorar o treinamento de médicos e pessoas da linha de frente com pacientes e familiares”, com a criação de campanhas que desmistifiquem estigmas sobre a velhice, o declínio cognitivo e a mortalidade.

Texto: Redação
Arte: Simone Gomes

FONTE: Jornal da USP