Tecnologia vestível assegura recuperação total de lesão de joelho

Lesões no joelho são comuns em atletas: os jogadores de futebol, por exemplo, frequentemente sofrem com a ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA). O problema, como verificado agora, é que a recuperação da cirurgia de reconstrução deste ligamento não depende somente de tempo, mas do restabelecimento da capacidade biomecânica (habilidade de suportar forças e cargas sem sofrer danos) do movimento. O achado, publicado em abril deste ano em artigo da Knee Surgery, Sports Traumatology,  Arthroscopy, vem de estudos do educador físico João Belleboni Marques realizados durante o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Reabilitação e Desempenho Funcional da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Segundo o orientador da pesquisa, o professor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP Paulo Roberto Santiago, o ligamento cruzado anterior é uma estrutura essencial do joelho para a estabilidade, principalmente durante movimentos de giro e mudança de direção. A preocupação dos especialistas com a recuperação biomecânica desses movimentos se deve ao fato de que mudanças dessas estruturas podem causar lesões em outras, como os meniscos e a cartilagem.

Assim, os pesquisadores decidiram analisar a qualidade desses movimentos, o que só foi possível graças à tecnologia vestível, dispositivo capaz de rastrear frequência cardíaca, padrões de sono e atividade física.

Entre os resultados,  os pesquisadores verificaram que o atleta com o LCA operado consegue executar movimento de mudança de direção em tempo similar ao atleta que nunca passou pelo problema, mas com déficits biomecânicos (limitações do movimento) e estratégias de movimentos compensatórios (ajustes ao realizar um padrão de movimento).

O achado, afirma o professor Santiago, traz mudança fundamental na análise da recuperação de um atleta com esse tipo de lesão, pois, “além do tempo de recuperação pós-cirúrgico, outros fatores como a avaliação biomecânica do movimento são igualmente ou mais importantes”.

Quanto ao uso da tecnologia vestível, o pesquisador acredita que os sensores e dispositivos acoplados ao corpo podem revolucionar os parâmetros de avaliação da saúde e do desempenho de atletas, já que conseguem “identificar padrões e tendências imperceptíveis ao olho humano, permitindo intervenções preventivas, antes que lesões ocorram”.

Teste de mudança de direção em “L”, realizado com os sensores vestíveis, mede, além do tempo, as estratégias de compensação e força aplicadas pelos atletas – Foto: Reprodução/ Artigo

Reaprendizagem motora eficiente para evitar lesões

A pesquisa contou com a participação 26 atletas profissionais de futebol masculino que atuam na Qatar Stars League, primeira divisão do futebol catari. Dez desses jogadores possuíam histórico de reconstrução cirúrgica do LCA, enquanto os outros 16 atletas não possuíam lesão nos membros inferiores no momento do estudo, e portanto, foram designados como grupo controle.

Para avaliar a qualidade do movimento de cada atleta foi solicitado que realizassem uma corrida de 20 metros e uma mudança abrupta de direção em 90°, ou seja, em “L”, utilizando trajes com sensores na pelve, laterais das coxas, canelas e no pé, apropriados para medir os ângulos de flexão das articulações do quadril, joelho e tornozelo. Além disso, os jogadores usaram palmilhas capazes de identificar a força vertical aplicada durante a atividade.

Com a experimentação, verificaram que a diferença na performance dos dois grupos de atletas não foi o tempo de execução do movimento e sim a mudança na angulação do tornozelo e do joelho, caracterizados como déficits biomecânicos, e na força aplicada nos membros inferiores daqueles que tinham o LCA operado.

O professor Santiago explica que a mecânica do movimento é fundamental para avaliar a recuperação de um atleta, que não deve ficar apenas na capacidade de realizar o exercício. “O verdadeiro desafio reside na capacidade do atleta de realizar uma reaprendizagem motora eficiente, adaptando-se à sua nova realidade estrutural.”

O risco dos déficits mecânicos observados nos atletas após a recuperação inicial e a cicatrização do tecido é que, em resposta, “o corpo desenvolve estratégias de movimento compensatório, ou seja, adaptações que permitem a continuidade funcional apesar das limitações”, afirma o pesquisador. A situação é problemática por aumentar a probabilidade de novas lesões, já que propiciam transferência de carga para o lado não lesionado, gerando maior estresse nas estruturas, exigem maior gasto energético, provocando fadiga precoce, além de reduzir a estabilização em movimentos rápidos e inesperados.

Atletas que operaram o joelho utilizam estratégias compensatórias para manter o mesmo tempo de execução de corrida em “L” – Foto: Reprodução/ Artigo

Fronteira da medicina esportiva e reabilitação

A tecnologia vestível funciona como uma ferramenta informativa, capaz de colher dados do indivíduo analisado. A possibilidade de uma análise mais precisa e completa do desempenho de um atleta “tem potencial para revolucionar a análise de performance esportiva, é substancial e já começa a se materializar”, afirma o professor.

Dispositivos de tecnologia vestível mais sofisticados são encontrados apenas em experimentação científica. “A transição destes recursos avançados do laboratório para a clínica representa uma das fronteiras mais promissoras na medicina esportiva moderna e ciências da reabilitação”, assegura Santiago.

Nesse contexto, as perspectivas de futuro são promissoras para a área. “A conexão entre tecnologia vestível e inteligência artificial é animadora, pois ilustra um sistema que não apenas coleta dados, mas os interpreta e fornece orientações práticas em tempo real”, finaliza Santiago.

Mais informações: e-mail paulosantiago@usp.br, com o professor Paulo Roberto Pereira Santiago

*Estagiário sob orientação de Rita Stella

**Estagiário sob orientação de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Pesquisa estima quanto tempo de vida saudável perdemos comendo mal

O consumo contínuo de cerca de 115 gramas de bolachas recheadas – menos de um pacote – está associado à perda média de 39 minutos de vida saudável. O dado integra uma avaliação inédita de impacto combinado para a saúde humana e o meio ambiente dos principais alimentos consumidos no País.

estudo foi publicado nesta sexta-feira (9) na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health e se ancora no Índice Nutricional de Saúde (Heni) – um sistema de pontuação sobre o impacto da alimentação à saúde em anos de vida saudável (sem incapacidades). O índice utiliza dados epidemiológicos para classificar e avaliar alimentos e dietas conforme as características nutricionais dos itens.

A pesquisa analisou os 33 alimentos que mais contribuem para a ingestão energética dos brasileiros usando o índice. Além disso, os cientistas calcularam o impacto ambiental das porções em emissão de gases de efeito estufa (CO₂ equivalente) e volume de água utilizado. O trabalho é assinado por pesquisadores da USP, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU).

No geral, produtos derivados de animais, particularmente carne vermelha, tiveram os maiores custos ambientais. Já alimentos de origem vegetal, como feijão e frutas, tiveram melhores pontuações no Heni e menores impactos ambientais. Ao Jornal da USP, a professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP Aline Martins de Carvalho explica que a quantidade de minutos de vida perdidos está associada aos hábitos de consumo.

 “Não se trata do consumo de uma única bolacha, nem de uma única vez na vida, mas sim um consumo contínuo dessa porção de bolachas. Se a pessoa consome por muitos anos e de forma diária, esse hábito irá reduzir o tempo de vida saudável dela” – Aline Martins de Carvalho

De acordo com a pesquisa, o Índice Nutricional de Saúde médio no Brasil foi de -5,89 minutos, variando de -39,69 minutos para bolachas recheadas a +17,22 minutos para o consumo de peixes de água doce. Entre os piores colocados também estão a carne suína (-36,09 minutos), margarina com ou sem sal (-24,76 minutos), carne bovina (-21,86 minutos) e biscoitos salgados (-19,48 minutos). Por outro lado, alimentos in natura como peixes de água doce (+17,22 minutos), banana (+8,08 minutos), feijão (+6,53 minutos); e arroz com feijão (+2,11 minutos ) mostraram bom desempenho tanto para a saúde humana quanto para a sustentabilidade do planeta.

A pizza de muçarela se destacou negativamente com o uso de mais de 306 litros de água para uma porção média de 280 gramas. Além do impacto negativo para a saúde, um prato de carne bovina emite mais de 21 kg de CO₂ equivalente, enquanto a banana tem emissão de apenas 0,1 kg de CO₂ equivalente e utiliza 14,8 litros de água por porção.

“Nossas descobertas fornecem entendimentos valiosos sobre as consequências reais das escolhas alimentares individuais e institucionais, demonstrando seus impactos mensuráveis na saúde e no meio ambiente”, informam os pesquisadores no artigo.

Na avaliação dos impactos ambientais, a pizza de muçarela se destacou negativamente pelo consumo excessivo de água na produção – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Monotonia in natura

O levantamento avaliou o consumo dos alimentos em quatro agrupamentos regionais. Em comum entre as regiões brasileiras, está a dieta centrada em arroz, feijão, carnes bovina, suína e de frango. De forma geral, os pesquisadores também identificaram monotonia alimentar e consumo reduzido de alimentos nativos e biodiversos — essenciais para melhorar tanto a nutrição quanto a sustentabilidade.

Porém, o artigo identifica as piores médias do índice nos dois agrupamentos regionais que correspondem ao Nordeste e a parte da região Norte. Nessas regiões, a variação foi de -61,15 minutos para o consumo de carne seca até +41,43 minutos para o consumo de açaí com granola.

“Esses achados reforçam que a melhoria dos sistemas alimentares exige ações que vão além da promoção de informações sobre escolhas saudáveis e sustentáveis: é necessário garantir acesso real, contínuo e economicamente viável a esses alimentos, especialmente para populações em situação de vulnerabilidade”, afirma Marhya Júlia Silva Leite, primeira autora do estudo.

A pesquisa também chama a atenção para o contraste entre agricultura familiar e agronegócio, um desafio para a promoção de dietas saudáveis e sustentáveis.

“Em termos ambientais, o agronegócio é responsável por 70,45% do consumo de água no País, especialmente no que diz respeito à carne bovina, que é o alimento mais intensivo em recursos e está associado a minutos perdidos por incapacidade. Por outro lado, a produção de alimentos como feijão, mandioca, frutas e hortaliças está intimamente ligada à agricultura familiar que, apesar de ocupar uma parcela menor de terra em comparação ao agronegócio, desempenha papel fundamental no fornecimento de alimentos para consumo doméstico e na promoção da segurança alimentar”, alertam os cientistas.

“Políticas que incentivem a produção local e diversificada e o acesso a alimentos saudáveis podem ser orientadas por esses achados, promovendo sistemas alimentares mais resilientes, justos e sustentáveis. Também é uma oportunidade para valorizar a sociobiodiversidade brasileira, com estímulo ao cultivo e consumo de alimentos nativos que hoje são pouco explorados e consumidos em algumas regiões”, conclui a pesquisadora.

Vida saudável em números

Para calcular a carga benéfica ou prejudicial à saúde, os cientistas determinaram o índice em termos de minutos de vida saudável vinculados ao tamanho médio das porções dos alimentos mais consumidos no Brasil, considerando as características demográficas e as condições de saúde da população brasileira. A pesquisa utilizou informações do banco de dados de consumo alimentar da população brasileira derivadas da Pesquisa de Orçamentos Familiares – Pesquisa Nacional de Alimentação (INA 2017-2018) da Classificação Nova de processamento de alimentos, da classificação dos sistemas alimentares regionais brasileiros identificados pelo Índice Multidimensional de Sistemas Alimentares Sustentáveis Revisado para o Brasil (MISFS-R), além de parâmetros ambientais.

Cada fator de risco alimentar foi multiplicado pela quantidade do respectivo componente de risco (em gramas) presente no tamanho médio da porção do alimento analisado – por exemplo, o teor de sódio em uma porção média de arroz. Em seguida, os riscos foram agregados e a estimativa líquida foi convertida de μDALYs (do inglês Disability-Adjusted Life Year, refere-se a um ano de vida saudável perdido) para minutos de vida saudável.

A pesquisa não abordou o consumo excessivo de açúcar como fator de risco para a saúde humana, dado ausente nas análises da Carga Global de Doenças, nem a influência de fatores como estilo de vida e predisposição genéticaO artigo está disponível aqui.

*Com informações da Agência Bori

**Estagiário sob orientação de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Sarcobesidade desafia a saúde global com envelhecimento da população

A sarcobesidade ou obesidade sarcopênica é a combinação de acúmulo de gordura e sarcopenia (perda de massa muscular) e acomete principalmente idosos. A condição está associada ao risco de desenvolvimento outras doenças, como as cardiovasculares, respiratórias, osteomusculares, psiquiátricas e câncer, e representa um desafio para a ciência e para a saúde: relatório da OMS prevê que o número de pessoas acima de 65 anos deve dobrar até 2050, chegando a 1,6 bilhão.

O enfrentamento da sarcobesidade, no entanto, mesmo com o envelhecimento, pode não depender de procedimentos avançados e produção em massa de medicamentos. Resultados de um estudo recém-publicado indicam que mudanças no estilo de vida e acesso a uma rotina saudável podem prevenir e até tratar a doença. Trata-se de uma revisão bibliográfica com os principais achados científicos sobre a doença das últimas décadas. Os estudos evidenciam ainda falta de critérios diagnósticos e de definição da própria sarcobesidade, além da complexidade do tratamento.

Coordenadora da pesquisa, a professora Ellen Cristini de Freitas, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, ressalta o distúrbio metabólico da sarcobesidade, agravada pelo envelhecimento, para afirmar que novas abordagens terapêuticas são necessárias na redução da patologia, razão pela qual seu time procurou pelas abordagens com potencial para o controle da doença e identificou três estratégias não farmacológicas: a suplementação com taurina (aminoácido importante no bom funcionamento do organismo), o manejo da microbiota intestinal e a prática de atividade física.

Prevalência em idosos

“O declínio acentuado e progressivo da massa e força muscular, caracterizado como sarcopenia, é uma condição prevalente em pessoas com 65 anos ou mais”, informa Ellen. A doença aumenta os riscos de incapacidades físicas, quedas, fraturas e hospitalização, limitando a qualidade de vida dos idosos. Quando associada ao aumento da gordura corporal, acrescenta a professora, há uma piora do prognóstico e se transforma na sarcobesidade.

Ellen informa ainda que, apesar de ser mais comum em idosos, os jovens não estão isentos da sarcobesidade. A população mais jovem com obesidade e sedentária ou que enfrenta alterações hormonais e metabólicas, câncer e quadro pós-cirurgia bariátrica sem cuidados nutricionais adequados também podem desenvolver a patologia.

Mas são os idosos o principal grupo de risco, pois perdem progressivamente massa muscular e ficam mais propensos à sarcobesidade. Mesmo com a dificuldade diagnóstica, informa a pesquisadora, estudos utilizando o método chamado DXA (Absorciometria de Raios X de Dupla Energia – técnica que avalia massa óssea, muscular e gordura) mostraram prevalência de 15% da sarcobesidade entre pessoas de 60 a 69 anos, e 40% entre os com 80 anos ou mais. Como a tendência é de envelhecimento, a preocupação com a sarcobesidade deve aumentar.

Suplemento de taurina na regulação metabólica

 

Infográfico mostra como o comportamento sedentário contribui para a sarcobesidade – a combinação entre obesidade e perda de massa muscular – e destaca os benefícios dos exercícios aeróbicos e de força na prevenção e controle da condição – Foto: Reprodução do artigo

 

As alterações fisiológicas próprias do envelhecimento associadas a hábitos de vida, como o sedentarismo e as mudanças alimentares, resultam “na redistribuição de gordura corporal do depósito subcutâneo para o visceral e pela redução da força e massa muscular”, informa a professora. Esta redistribuição de gordura contribui para a diminuição da massa e força muscular, a redução do gasto energético basal e a dificuldade de realizar atividade física, favorecendo o acúmulo de gordura. Por sua vez, o excesso de gordura corporal promove inflamação sistêmica e o acúmulo de gordura intramuscular com efeitos ruins na força e massa muscular. Segundo Ellen, esse é o quadro que explica o risco da obesidade e da sarcopenia coexistirem no mesmo indivíduo.

Ao falar em inflamação, a professor lembra que a sarcobesidade também representa risco para outras complicações crônicas baseadas em inflamação, como a resistência anabólica, a resistência à insulina, as doenças cardiovasculares e a diabetes. É aí que entram alternativas como a suplementação com taurina (um aminoácido produzido pelo corpo humano e presente em alimentos de origem animal) que, afirma a professora, tem mostrado respostas importantes para controlar a sarcobesidade.

Alguns estudos vêm confirmando as principais propriedades da taurina contra problemas de saúde relacionados ao envelhecimento. “Efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e capacidade de regular o metabolismo são algumas dessas boas respostas da taurina.” Ellen cita uma pesquisa realizada em seu laboratório que avaliou a suplementação com 3g de taurina/dia em mulheres com obesidade obtendo aumento da produção de adiponectina – proteína que desempenha um papel importante na regulação do metabolismo e na sensibilidade à insulina. Os resultados reforçam o papel da taurina no controle da inflamação.

Mesmo com os efeitos potenciais, a pesquisadora lembra que os benefícios da taurina devem ser mais explorados, já que “a maior parte das evidências vem de estudos com modelos animais e os efeitos da taurina em humanos, particularmente em indivíduos com sarcobesidade, ainda não estão completamente esclarecidos”.

Alimentação, envelhecimento e microbiota intestinal

Outro destaque da pesquisa para o controle da sarcobesidade é a microbiota intestinal. Trata-se do conjunto de microrganismos que compõem o sistema digestivo, em especial o intestino, numa comunidade de bilhões de bactérias que desempenham funções cruciais no organismo, principalmente na digestão, absorção dos nutrientes e eliminação de resíduos.

“Vários estudos já demonstraram que tanto a obesidade quanto o envelhecimento alteram a composição da microbiota intestinal, acarretando mudanças no tipo de bactérias que colonizam o nosso intestino”, destaca a professora, lembrando que esses fatores estabelecem uma maior proporção de bactérias potencialmente inflamatórias (bactérias patobiontes) em detrimento das potencialmente benéficas (bactérias simbiontes).

Assim, Ellen afirma que vale a pena prestar mais atenção à alimentação. “Padrões alimentares ocidentalizados, pautados no consumo de ultraprocessados (ricos em açúcares e gordura saturada e pobres nutricionalmente), são um dos protagonistas de mudanças na microbiota intestinal, cenário que fica ainda mais grave quando se concentra na realidade de uma população idosa.”

Atividade física, ganho de massa muscular e perda de gordura

A prática de exercícios físicos é tratada como uma estratégia importante para a prevenção e o tratamento da obesidade sarcopênica, principalmente em pessoas acima de 65 anos. A recomendação do American College of Sports Medicine para esse grupo é a da prática de atividades físicas diversas que desenvolvam múltiplas capacidades corporais como o equilíbrio, a flexibilidade e a força.

Segundo os especialistas, a atividade física é um grande fator no combate da sarcobesidade devido à sua capacidade de recompor massa muscular e perder gordura, combatendo as duas condições clínicas que caracterizam a sarcobesidade. Na mesma linha, adiantam que os exercícios físicos também são fundamentais para um envelhecimento saudável não apenas na ótica da obesidade sarcopênica, pois trazem benefícios quanto à mobilidade, reduzindo o número de quedas e melhorando a capacidade neural.

Investimento em qualidade de vida

Para Ellen, além do avanço nas formas de prevenção e tratamento é preciso um suporte adequado das autoridades de saúde na divulgação de informações de qualidade e no combate à má alimentação e ao sedentarismo. Desta forma, afirma que o investimento no combate a essa doença não depende necessariamente de grandes infraestruturas ou da produção em massa de medicamentos, mas do acesso a uma rotina envolvendo comportamentos alimentares saudáveis e atividades físicas de qualidade.

“É preciso desenvolver projetos capazes de abranger o diagnóstico correto e precoce da sarcopenia, o tratamento amplificado da obesidade no contexto de saúde pública e aumentar o acesso a alimentos in natura e saudáveis”, finaliza.

Mais informações: ellenfreitas@usp.br com a professora Ellen Cristini de Freitas

*Estagiário com orientação de Rita Stella

FONTE: Jornal da USP

Obesidade feminina pode estar associada a baixas concentrações de cobalto no sangue

Níveis menores de cobalto no sangue de mulheres com obesidade sugerem que o mineral pode influenciar a regulação genética e o metabolismo, impactando o ganho de peso e doenças associadas

O cobalto é um componente da vitamina B12 (cobalamina) que pode ser encontrado em alguns alimentos como vegetais, chocolate e carnes. Este mineral também é um metal essencial para as tecnologias atuais, sendo amplamente utilizado em baterias de lítio. O que até então não se sabia, e está sendo revelado por pesquisas recentes, é sua possível relação com a obesidade em mulheres.

O estudo multicêntrico Concentração sérica de cobalto e assinaturas de metilação de DNA em mulheres com obesidade, publicado pela revista científica Obesities, observou diferenças significativas nos níveis sanguíneos de cobalto na comparação entre mulheres com e sem obesidade. Identificou também alterações genéticas associadas ao metal, sugerindo que o cobalto pode influenciar processos biológicos relacionados ao metabolismo e ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. Os resultados destacam ainda a importância de considerar fatores ambientais e nutricionais na prevenção e tratamento da obesidade.

As investigações foram conduzidas por pesquisadores da USP, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em Portugal, que analisaram dados de 33 mulheres brasileiras: 16 com obesidade e 17 na faixa normal de IMC (Índice de Massa Corporal). Como principal achado, os cientistas verificaram que os níveis de cobalto no sangue das participantes com obesidade eram muito menores. A deficiência, segundo os pesquisadores, pode estar relacionada à dieta pobre em nutrientes e às alterações metabólicas associadas à obesidade.

O grupo também observou a relação do cobalto com a metilação do DNA, o fator epigenético mais caracterizado que controla a expressão dos genes. A epigenética envolve as alterações genéticas em resposta a estímulos ambientais ou estilo de vida, sem contudo modificar a sequência do DNA, mas que pode influenciar a regulação de um gene (ativando ou desativando a sua atividade) e afetando as funções metabólicas. As diferenças nos padrões de metilação do DNA entre os grupos estudados, adiantam os cientistas, indicam que o cobalto pode desempenhar um papel na regulação epigenética relacionada à progressão da obesidade.

No início da vida, a regulação epigenética é responsável pela diferenciação de células, possibilitando a formação de vários tecidos. Na vida adulta a epigenética tem muita relação com o estilo de vida, como nutrição, atividade física e qualidade do sono, que é capaz de modificar os padrões de metilação – um tipo de modificação química do DNA – seja pelo aumento ou pela diminuição. Esses mecanismos podem estar relacionados à manutenção da saúde e ao desenvolvimento de doenças como, por exemplo, o câncer, explica a professora Carla Barbosa Nonino, do Departamento de Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, responsável pela pesquisa.

Impacto do cobalto no organismo

Segundo Natália Yumi Noronha, doutoranda no Departamento de Clínica Médica da FMRP e orientanda da professora Carla, o cobalto é um mineral essencial para a produção de células do sangue e o funcionamento do sistema nervoso. “O cobalto pode influenciar processos metabólicos, uma vez que uma alimentação pobre em alimentos de origem animal, como carne, leite e ovos, pode acarretar redução do metal no organismo, afetando o metabolismo e possivelmente contribuindo para o ganho de peso e outros problemas de saúde”, afirma.

Ainda segundo Natália, a obesidade está associada a deficiências nutricionais já que, mesmo com um consumo calórico alto, a qualidade da alimentação pode ser inadequada, com baixa ingestão de vitaminas e minerais essenciais. “Os achados do estudo reforçam a importância de investigar não apenas a quantidade de alimentos consumidos pelos pacientes com obesidade, mas também a qualidade, para entender melhor os impactos da dieta na obesidade e na saúde em geral”, diz.

Padrões alimentares e metilação do DNA

Para a professora Carla, o cobalto pode ser considerado essencial ao organismo quando em quantidades adequadas. O excesso, por outro lado, se torna um contaminante. Assim, as causas da deficiência de cobalto na obesidade feminina precisam ser mais bem investigadas com acompanhamento nutricional e clínico. Quanto à epigenética, que explica como o ambiente e o estilo de vida podem alterar o funcionamento de nossos genes, Carla acredita que possa ser mais uma ferramenta para entender as vias metabólicas associadas à obesidade. Segundo a professora, essa ferramenta deve permitir a identificação de padrões alimentares interessantes na ativação e inativação de genes específicos, usando padrões de metilação modificáveis.

Esses resultados devem servir de base para os novos estudos da equipe, agora interessada nos aspectos da obesidade da miscigenada população brasileira. “São escassas as pesquisas sobre metilação do DNA em populações miscigenadas. Além disso, as novas pesquisas também incluirão mais indivíduos e com diferentes condições de saúde, não só a obesidade”, adianta a professora. Seu grupo atualmente trabalha em análises de bioinformática para identificação da ancestralidade. O objetivo é descobrir as origens geográficas e características específicas, “demonstrando como o ambiente pode impactar no desenvolvimento do indivíduo e, potencialmente, o de gerações futuras”, afirma.

O estudo sobre obesidade contou com a colaboração da equipe liderada pelo professor Fernando Barbosa Jr., da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, e foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), através do projeto de pesquisa Do biomonitoramento ao reconhecimento de assinaturas do exposoma humano visando antecipar riscos para uma saúde contínua. Participaram ainda os pesquisadores: Luísa Maria Diani (bolsista da Fapesp que compartilha a primeira autoria do projeto), Guilherme da Silva Rodrigues, Isabela Harumi Yonehara, Vanessa Aparecida Batista Pereira, Marcela Augusta de Souza Pinhel, Lígia Moriguchi Watanabe e Déborah Araújo Morais.

Mais informações: carla@fmrp.usp.br, com a professora Carla Barbosa Nonino

* Estagiário sob orientação de Rita Stella

FONTE: Jornal da USP

Frutose de ultraprocessados em excesso pode alterar intestino, fígado e descontrolar glicose

Excesso de frutose, presente em alimentos ultraprocessados, causa alterações intestinais e está ligado a possível risco de diabetes tipo 2 e doenças no fígado; consumido em frutas, açúcar não gera problemas

Pesquisadores da Université Laval (Ulaval), do Canadá, e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP descobriram que o consumo excessivo de frutose, comum em dietas com alto teor de alimentos ultraprocessados, modifica a forma como o intestino responde à glicose, aumentando a absorção desse açúcar e comprometendo o controle da glicemia. Esses efeitos precedem a intolerância à glicose e o acúmulo de gordura no fígado, dois fatores ligados ao desenvolvimento do diabetes tipo 2 e da Doença Hepática Gordurosa Associada à Disfunção Metabólica (MASLD, na sigla em inglês). O artigo que descreve o estudo, High fructose rewires gut glucose sensing via glucagon-like peptide 2 to impair metabolic regulation in mice, foi capa da edição de março da revista científica Molecular Metabolism.

A pesquisa, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi conduzida pelo pesquisador Paulo Evangelista Silva, doutorando do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Biologia Funcional e Molecular do ICB, em coautoria com Eya Sellami, pesquisadora da Ulaval, e Caio Jordão Teixeira, pós-doutorando do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB. O trabalho foi coordenado por Fernando Forato Anhê, professor assistente da Faculdade de Medicina da Université Laval e pesquisador do Institut Universitaire de Cardiologie et de Pneumologie de Québec (IUCPQ).

No estudo, camundongos foram alimentados durante sete semanas com uma dieta na qual 8,5% da energia vinha da frutose – proporção considerada elevada, mas ainda próxima do consumo humano médio. Em apenas três dias, os animais já apresentavam um aumento na capacidade do intestino de absorver glicose, antes mesmo do surgimento da intolerância à glicose. Após quatro semanas, a glicose já não era eficientemente removida do sangue, e ao fim do estudo, observou-se acúmulo de gordura no fígado, condição que pode evoluir para quadros mais graves, como a cirrose.

Curiosamente, mesmo com esses efeitos adversos, os camundongos não desenvolveram resistência à insulina nos músculos ou no tecido adiposo, indicando que o descontrole glicêmico inicial ocorre por alterações no intestino, e não por falha na resposta insulínica periférica. A explicação para esse fenômeno pode estar na ação de um hormônio chamado GLP-2, produzido por células do intestino. Os pesquisadores constataram que o consumo excessivo de frutose eleva os níveis circulantes de GLP-2, hormônio que estimula o crescimento da superfície intestinal e o aumento da absorção de nutrientes. Ao bloquear o receptor desse hormônio (Glp2r) com uma droga, foi possível impedir o aumento da absorção de glicose, evitando tanto a intolerância quanto o acúmulo de gordura no fígado.

Bloqueio
No entanto, a estratégia de bloqueio do Glp2r não é facilmente aplicável a humanos, pois esse mesmo receptor está envolvido na proteção da barreira intestinal contra infecções e inflamações. Isso reforça a complexidade do papel do GLP-2 na saúde metabólica. “Mostramos que o aumento da absorção de glicose pelo intestino ocorre antes da intolerância à glicose. Isso abre caminho para o uso desse mecanismo como um biomarcador precoce”, afirma o professor Anhê. “O teste de absorção intestinal de glicose é barato, seguro e já utilizado em humanos — bastaria aplicá-lo em um novo contexto.”

Uma nova fase da pesquisa, com apoio do Canadian Institutes of Health Research (CIHR), vai investigar como o microbioma intestinal pode ser manipulado para reduzir os efeitos nocivos do excesso de frutose. O pesquisador Evangelista Silva ressalta que os resultados do estudo se referem ao consumo de frutose adicionada a alimentos ultraprocessados. “Frutas in natura são ricas em fibras, que ajudam a retardar a absorção de glicose e aumentam a saciedade. Além disso, contêm nutrientes benéficos para a saúde intestinal e hepática”, explica.

A pobreza nutricional dos ultraprocessados, com baixo teor de fibras e altos níveis de açúcares adicionados – como o xarope de milho e o açúcar de cana –, sobrecarrega o organismo. Evangelista Silva recomenda priorizar alimentos in natura, conforme orienta o Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde com apoio da Opas/Brasil. O açúcar de cana-de-açúcar e o xarope de milho são exemplos de açucares ricos em frutose amplamente utilizados pela indústria em alimentos ultraprocessados.

Alimentos ultraprocessados com alta concentração de frutose incluem refrigerantes e sucos industrializados (mesmo os néctares “100% fruta”), cereais matinais e barras adoçadas, biscoitos recheados e doces industrializados, pães e bolos prontos (como bisnaguinhas e pão de forma), chás prontos e bebidas esportivas adoçadas, molhos industrializados (ketchup, barbecue etc.), iogurtes adoçados, sobremesas lácteas e geleias. O estudo teve apoio das agências Fonds de Recherche du Québec – Santé (FQRS), Fondation IUCPQ e Fapesp.

Da Assessoria de Comunicação do ICB

FONTE: Jornal da USP

Estudo revela caminho para tratar déficits respiratórios em pacientes com Parkinson

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP descobriram um possível caminho para tratar déficits respiratórios em pacientes com Doença de Parkinson – um sintoma pouco estudado, mas que pode levar a complicações graves como a pneumonia, uma das principais causas de óbito nesses pacientes. Embora as dificuldades motoras sejam as manifestações mais conhecidas da doença, a pesquisa revelou que também ocorrem problemas respiratórios durante o sono – o que ainda não possui um tratamento eficaz. O estudo, publicado na revista iScience, mostrou que a estimulação seletiva de um núcleo cerebral foi capaz de reverter essas falhas respiratórias em camundongos, apontando para novas possibilidades terapêuticas.

“As complicações respiratórias no Parkinson geralmente surgem em estágios mais avançados da doença e, por isso, são menos exploradas. Mas elas têm um impacto significativo na qualidade de vida e na sobrevida dos pacientes”, explica a professora Ana Carolina Takakura, coordenadora do estudo. “Nosso objetivo foi entender quando essas alterações acontecem e se há uma forma de revertê-las. Descobrimos que elas ocorrem exclusivamente durante o sono, e conseguimos restaurar a função respiratória nos camundongos estimulando seletivamente um grupo específico de neurônios.”

Coordenado pela professora Takakura, do Departamento de Farmacologia do ICB-USP, o Laboratório Controle Neural Cardiorrespiratório dedica-se há mais de 10 anos ao estudo de problemas respiratórios causados pelo Parkinson. Sua prevalência está relacionada com os casos de pneumonia, uma das principais causas de óbito de pacientes. “Minha formação, desde o doutorado, tem sido voltada para o controle neural da respiração. Quando comecei a estudar o Parkinson, minha pergunta fundamental era: será que, além das regiões do cérebro responsáveis pelos movimentos, as áreas que controlam a respiração também se degeneram?”, explica a pesquisadora.

Ao longo dos anos, os resultados mostraram que sim: em animais — ratos e camundongos — submetidos ao modelo experimental da doença, há uma redução na frequência respiratória, além da degeneração de alguns núcleos específicos que controlam a respiração. O grande avanço do novo estudo, liderado pela pesquisadora Nicole Miranda, foi observar a relação de tudo isso com o sono.

“Apneias respiratórias são uma consequência comum da Doença de Parkinson: afetam, junto de outras alterações no sono, cerca de 70% dos pacientes. E, apesar de serem classificadas dentro de estudos do sono, as apneias também são um problema respiratório”, explica Takakura.

Foi dessa intersecção, notada por Miranda durante seu doutorado, que surgiu a ideia de investigar se as alterações respiratórias observadas nos estudos anteriores tinham alguma relação com o ciclo de sono. Antes, não se sabia se as mudanças na respiração aconteciam quando o animal estava acordado ou dormindo. Os camundongos estudados podiam dormir durante os registros, mas esse fator não era monitorado diretamente. “Foi algo que nunca havíamos medido antes. Com os novos experimentos, conseguimos finalmente estabelecer essa relação, o que abriu uma nova perspectiva para os estudos”, diz Takakura.

Sono e Parkinson: mesmo núcleo do cérebro

O primeiro passo de Miranda foi mapear, por meio de eletroencefalogramas e eletromiografias, as fases de sono dos camundongos e, paralelamente, observar a respiração dos animais. O estudo diferenciou as fases de sono REM (movimento rápido dos olhos) e não REM, que têm características distintas em termos de atividade cerebral e tônus muscular. O que foi constatado é que as alterações na respiração observadas em estudos anteriores não só eram mais expressivas durante o sono, como aconteciam exclusivamente nesse estado. Além disso, foi analisada a quantidade de episódios de apneia, que também foi maior enquanto os animais dormiam.

Com essa informação em mãos, o grupo buscou investigar possibilidades terapêuticas por meio do estímulo seletivo de algum núcleo do cérebro. “Escolhemos o núcleo tegmental látero-dorsal, também chamado de LDT, por ser um núcleo conhecido por sua correlação forte tanto com o sono quanto com a Doença de Parkinson. E, além disso, também se projeta para as regiões respiratórias”, explica a professora.

Para realizar esse estímulo, foi injetado um vírus no núcleo LDT, fazendo com que os neurônios desejados dessa região passassem a expressar um receptor — ou seja, deixando-os “capazes de serem estimulados seletivamente”. Depois, foi aplicado um fármaco, capaz de se ligar exclusivamente ao receptor e que foi responsável por provocar os estímulos nesses neurônios. Dessa forma, as alterações respiratórias foram revertidas, bem como o aumento na quantidade de apneias.

“O núcleo LDT também sofre perda de neurônios devido à Doença de Parkinson, mas vimos que mesmo o estímulo dos neurônios restantes foi suficiente para tratar problemas respiratórios”, diz Takakura. Ela aponta que o metabólito clozapina-N-oxide (CNO) – que é gerado a partir de uma substância injetada e atua ativando seletivamente os neurônios modificados no experimento – ainda precisa ser melhor estudado quanto à segurança e eficácia em humanos.

Denominado quimiogenética, o método ainda é pouco acessível e restrito às pesquisas clínicas, mas pode ser uma possibilidade futura para tratamentos. Segundo a professora, existem, atualmente, outras possibilidades terapêuticas de estímulo cerebral, mas que afetam regiões inteiras e não apenas tipos de neurônios específicos. “Não sabemos se uma estimulação geral teria o mesmo efeito, é algo a ser investigado. De qualquer forma, a estimulação seletiva é sempre melhor, pois elimina efeitos adversos. Existem estudos trabalhando para viabilizar uma estimulação seletiva, e quando isso acontecer, será um grande passo para o tratamento dos sintomas do Parkinson.”

Hoje, um dos tratamentos para o Parkinson é a estimulação cerebral profunda, utilizada para melhorar os sintomas motores da doença. No entanto, essa abordagem não trata diretamente as alterações respiratórias, que continuam sem uma solução terapêutica eficaz. Para o futuro, Takakura pretende caracterizar as alterações de sono em humanos, em uma parceria com o Instituto do Coração (InCor) e com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP).

O artigo Sleep-related respiratory disruptions and laterodorsal tegmental nucleus in a mouse model of Parkinson’s disease está acessível neste link.

*Da Assessoria de Comunicação do ICB, adaptado para o Jornal da USP

FONTE: Jornal da USP

Exercício aeróbico combate crescimento tumoral e melhora função muscular

O treinamento físico aeróbico, que envolve atividades como caminhada, corrida e ciclismo, é uma forma de exercício que melhora a capacidade cardiovascular e a resistência física. Esse tipo de treinamento tem sido considerado uma terapia complementar ao tratamento do câncer, demonstrando benefícios significativos não apenas na prevenção da doença, mas também no aumento da sobrevida de pacientes já diagnosticados.

Um estudo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP verificou como o treinamento físico aeróbico pode contribuir para a redução do crescimento tumoral e para a melhora no quadro de perda de massa e função muscular – aspecto importante que pode levar o paciente à caquexia. O estudo, desenvolvido em modelo animal, constatou que o exercício aeróbico foi capaz de desacelerar significativamente a progressão do tumor e melhorar a sobrevida dos animais com câncer, além de prevenir a perda de capacidade funcional.

Estrutura experimental

Um dos efeitos clássicos do exercício aeróbico é a capacidade de reduzir a hiperatividade do sistema simpático (sistema que regula alguns processos do corpo de forma automática, como pressão arterial e a frequência respiratória) e promover a restauração da função autonômica em diferentes doenças crônicas. No câncer, a atividade excessiva do sistema simpático pode acelerar o crescimento tumoral e impactar a dinâmica de manutenção da massa muscular, podendo levar à caquexia, síndrome multifatorial que piora o prognóstico e aumenta a mortalidade.

Pensando nisso, o trabalho realizado por Gabriela Silva Borges, sob orientação da professora Patrícia Chakur Brum, partiu da hipótese de que o treinamento físico aeróbico poderia atuar nos efeitos do câncer por meio da modulação da atividade simpática. O estudo foi realizado em camundongos, parte dos quais recebeu as células de carcinoma de cólon via injeção subcutânea.

A pesquisadora Gabriela Borges buscou relacionar os efeitos do câncer e a modulação da atividade simpática. Foto: Guilherme Viana

O trabalho foi dividido em dois subprojetos. O primeiro buscava investigar se a atividade do sistema nervoso simpático influencia o crescimento do tumor e a saúde dos músculos. Para isso, os camundongos foram divididos em três grupos:
  1. Animais saudáveis que receberam as células de câncer;

  2. Animais que receberam células de câncer e foram tratados com um bloqueador dos receptores  β2-adrenérgicos, que reduz a sinalização da epinefrina e norepinefrina – hormônio e neurotransmissores do sistema nervoso simpático nos tecidos;

  3. Animais saudáveis que não receberam células de câncer, mas sim solução salina apirogênica 0,9% (controle);

A ideia era comparar como a atividade simpática afeta o tumor e a função muscular nesses diferentes grupos. Após 12 dias, foram coletadas amostras do tumor e de alguns músculos para medir a massa e analisar a expressão de proteínas envolvidas na sinalização adrenérgica.

O Subprojeto 2 teve como objetivo investigar como o treinamento físico aeróbico afeta o crescimento do tumor, a massa corporal e a função muscular, além de analisar a sinalização adrenérgica (ativação de receptores pelo sistema epinefrina/norepinefrina) no tumor e nos músculos. Nessa etapa, os camundongos foram divididos em quatro grupos:

  1. Animais saudáveis treinados, que receberam solução salina (controle treinado);

  2. Animais treinados injetados com as células tumorais;

  3. Animais saudáveis não treinados (controle não treinado);

  4. Animais não treinados injetados com as células tumorais.

No Grupo 2, as células tumorais foram injetadas após 8 semanas de treinamento físico e 2 dias de descanso. Durante 20 dias, foram realizadas medidas do volume do tumor e da massa corporal. No início e ao final do protocolo, foram avaliadas a capacidade de corrida e a função muscular. Também foram coletadas amostras do tumor e dos músculos para verificar a massa e estudar a sinalização adrenérgica, além de órgãos como as glândulas adrenais, linfonodos e baço.

O potencial do treinamento físico aeróbico

Com base nos dados obtidos nos experimentos, observou-se uma redução significativa no crescimento tumoral nos camundongos submetidos ao treinamento físico aeróbico, em comparação com o grupo não treinado. O volume tumoral, analisado ao longo do tempo, apresentou uma diferença marcante entre os grupos. Além disso, a análise de sobrevida revelou que os animais que realizavam o treinamento apresentaram uma sobrevida aumentada com relação ao outro grupo.

Outro resultado importante foi a conclusão de que, embora o treinamento físico não tenha alterado a massa muscular, ele promoveu melhorias na função muscular, como o comprimento da passada com relação ao grupo controle. Isso sugere que o exercício contribui para um ambiente interno mais favorável, ajudando a combater os efeitos negativos do câncer.

O estudo reforça que o exercício aeróbico pode ser um grande aliado ao tratamento do câncer – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A pesquisa concluiu que o treinamento físico aeróbico ajudou a manter a função muscular e a capacidade de corrida em um modelo experimental de câncer, além de reduzir o crescimento tumoral e aumentar a sobrevida dos animais. Os achados corroboram com estudos anteriores da área sobre os benefícios do treinamento físico aeróbico na redução do crescimento tumoral, na melhora da sobrevida e na performance motora em modelos experimentais de câncer. Com a pesquisa, no entanto, não foi possível identificar uma relação clara entre a sinalização adrenérgica no tumor e nos músculos.

Os resultados podem impactar positivamente na reprodutibilidade e confiabilidade de estudos futuros, destacando o treinamento físico aeróbico como uma estratégia complementar promissora no tratamento do câncer.

O estudo intitulado “Efeito do treinamento físico aeróbico na atividade nervosa simpática dos tecidos tumoral e muscular esquelético em modelo experimental de câncer” está disponível no banco de teses da USP e pode ser acessado na íntegra clicando aqui. 

Todos os procedimentos experimentais executados nesta pesquisa estão de acordo com o Guia Brasileiro de Produção, Manutenção ou Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica do CONCEA para o manejo de animais de laboratório e foram avaliados e aprovados pela CEUA da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE/USP).

*Estagiário sob supervisão de Paula Bassi, da Assessoria de Comunicação da EEFE 

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Motivos para você ler as bulas dos remédios

Quem vive há mais tempo, provavelmente se recorda que as bulas eram documentos bem difíceis de serem lidos.1

As informações eram escritas em uma linguagem técnica e complexa para o público geral e, geralmente, em letras pequenas. Mas, felizmente, isso mudou!1

Hoje, as farmacêuticas trabalham para tornar as bulas mais claras e acessíveis com o objetivo de garantir que cada paciente possa compreender os detalhes daquele medicamento que está utilizando.1

Quais informações constam nas bulas de medicamentos?

A bula é como um manual de instruções, fornecendo as informações necessárias para um uso seguro e eficaz do remédio.1,2

É nesse documento que o paciente pode conferir quais são as doenças ou condições que podem ser tratadas por aquele produto ou qual a dose correta, com que frequência e de que forma ele deve ser consumido.1,2

Isso não quer dizer de forma alguma que a orientação do médico não deva ser seguida, tá?! Mas essa leitura pode ajudar quem está em tratamento a entender melhor a própria jornada.

Além disso, há algumas situações em que um medicamento específico não deve ser usado. Ou até casos em que, caso o remédio seja combinado com outros medicamentos, alimentos ou substâncias, o organismo pode sofrer alguns impactos.1,2

E tudo isso está descrito na bula.

Outro ponto que também merece destaque é a parte de efeitos colaterais. Há quem tenha receio de ler essa descrição, mas ela também é importante. Ali, é possível entender quais reações podem acontecer durante o tratamento por conta do uso do remédio.1,2

Qual a importância de ler a bula?

Ao conhecer as informações que aparecem na bula, o paciente pode identificar alguns sinais de alerta (se houver) ou verificar recomendações para o uso do seu medicamento.1

Mas não é só isso. Certamente, todo mundo já foi a uma consulta médica e esqueceu de perguntar algo. Quando é assim, esse documento também pode ser útil ao fornecer detalhes sobre o tratamento.1

Entretanto, é essencial dizer: apesar da bula ser algo importante e que deve ser lido com atenção, ela não substitui a orientação médica.

Antes de iniciar qualquer tratamento, é fundamental consultar um profissional de saúde qualificado para obter orientações adequadas. Se tiver dúvidas sobre o medicamento, você pode combinar a leitura da bula com a consulta ao especialista.

Referências:

1. FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU. Compreenda a importância de ler as bulas dos medicamentos. Disponível em: https://www.uninassau.edu.br/noticias/compreenda-importancia-de-ler-bulas-dos-medicamentos. Acesso em: 12 dez 2024.

2. JORNAL DA USP. Pílula Farmacêutica #125: Saiba a importância da bula dos medicamentos. Disponível em: https://jornal.usp.br/podcast/pilula-farmaceutica-125-saiba-a-importancia-da-bula-dos-medicamentos/. Acesso em: 12 dez 2024.

BR-37021. Material destinado ao público geral. Jan/2025.

Referência: Blog FazBem

Alimentação não inflamatória e atividade física protegem saúde mental feminina

Um estudo do Grupo de Pesquisa em Avaliação do Consumo Alimentar (GAC) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP conecta o sedentarismo e uma dieta pró-inflamatória aos Transtornos Mentais Comuns (TMC) – distúrbios como a depressão e ansiedade, que não apresentam casos de psicose – em mulheres com mais de 40 anos.

O potencial inflamatório da dieta foi estimado por um índice já existente na literatura científica, desenvolvido a partir de estudos epidemiológicos e de laboratório. São exemplos de alimentos com potencial inflamatório aqueles com altas quantidades de gordura saturada – como a carne vermelha – e predominância de carboidratos simples, como os com farinhas brancas ou altos em açúcar adicionado. Já as frutas, os legumes e alguns óleos vegetais são considerados anti-inflamatórios.

Os resultados apontaram que transtornos mentais comuns estavam associados ao grupo de mulheres com maiores índices inflamatórios dietéticos e baixo grau de atividade física. Além disso, esses transtornos também estavam relacionados com a presença simultânea de três ou mais doenças não transmissíveis, como hipertensão, diabete, artrite e artrose.

Base de Dados

Os dados foram obtidos pela base do projeto ISA-Nutrição 2015, coordenado pela professora Regina Mara Fisberg e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Trata-se de um estudo transversal realizado por uma parceria entre a FSP e Faculdade de Medicina (FMUSP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Instituto de Saúde (IS) do Estado de São Paulo. Os pesquisadores aplicaram questionários nos moradores de áreas urbanas da cidade de São Paulo. Dentro das limitações geográficas, o projeto conseguiu coletar uma amostra diversificada em termos de renda, etnia, idade e escolaridade.

A pesquisa avaliou uma amostra de 467 mulheres com mais de 40 anos, medindo o potencial inflamatório de dieta a partir do Índice Inflamatório Dietético (IID) e o grau de atividade física, a partir do Questionário Internacional de Atividade Física (Ipaq), que leva em consideração no cálculo até mesmo atividades feitas por lazer. Na modelagem estatística foram definidas, também, as variáveis de ajuste – fatores que podem influenciar os resultados e, por isso, são considerados nos cálculos: doenças não transmissíveis, intervalo de idade, anos de educação formal, índice de massa corporal (IMC) e etnia.

Dietas pró-inflamatórias: glúten e lactose não são os vilões

João Valentini Neto, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação Nutrição em Saúde Pública e um dos autores do artigo, ressalta que a pesquisa foge de “simplismos nutricionais” e que o objetivo não é generalizar nem estigmatizar alimentos como leite e pão, por exemplo. “Quando tocamos nesse assunto, não estamos falando em condenar a lactose e o glúten”, comenta o pesquisador, referindo-se a alguns conteúdos equivocados divulgados na imprensa e nas mídias sociais.

O Índice Inflamatório Dietético (IID) utilizado foi desenvolvido por pesquisadores estadunidenses e leva em conta diferentes aspectos da dieta a partir de cálculos específicos da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos. Frutas, legumes, verduras, especiarias, óleos que contenham ômega 3 – como óleo de peixe ou azeite de oliva – cebola, alho, gengibre e chás são considerados alimentos anti-inflamatórios pelo índice. Por sua vez, alimentos com maiores quantidades de gordura saturada – como a carne vermelha – e predominância de carboidratos simples – como a farinha branca – são considerados pró-inflamatórios.

Valentini Neto explica que uma alimentação anti-inflamatória deve se aproximar das dietas tradicionais – praticadas por grupos culturais antes da introdução de alimentos industrializados – e se afastar da dieta ocidentalizada – caracterizada pelo consumo excessivo de ultraprocessados, grãos refinados e alimentos pré-embalados.

O pesquisador aponta que o objetivo não deve ser meramente excluir alimentos pró-inflamatórios, mas, especialmente, acrescentar estímulos que façam efeito contrário. Ele explica que o índice avalia como substâncias pró-inflamatórias e anti-inflamatórias reagem. Para ele, a população deve buscar um equilíbrio alimentar.

O indicador, diz ele, “engloba desde a quantidade de orégano até a mensuração de ativos como os flavonóides antioxidantes”, referindo-se às substâncias presentes em alguns vegetais que protegem as células contra os efeitos danosos dos radicais livres.

Efeitos do sedentarismo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a população faça, no mínimo, 150 minutos de atividade física por semana – de preferência, dividida em diferentes sessões ao longo do período. Pessoas que se exercitam com uma frequência abaixo desta recomendação são consideradas sedentárias. O estudo utilizou a classificação da OMS como parâmetro de investigação e dividiu os correspondentes em sedentários ou ativos, a partir do Questionário Internacional de Atividade Física – ou seja, pessoas que não praticavam exercício de maneira consistente, mas se movimentavam bastante durante a semana, também foram classificadas como ativas.

“Nós observamos que mulheres que seguiam a referência da OMS estavam mais protegidas contra os transtornos mentais comuns”, comenta Valentini Neto. Ele explica que a atividade física, por si só, já é um estímulo anti-inflamatório – tanto pela regulação do sistema imunológico quanto pelo aumento do metabolismo antioxidante. Assim como no caso da dieta, o pesquisador aponta que é importante não generalizar e explica que a prática excessiva de exercícios também pode ter um efeito pró-inflamatório.

Inflammaging em mulheres

Valentini Neto afirma que, em qualquer faixa etária, os transtornos mentais prevalecem no gênero feminino. Entre as próprias mulheres, porém, o índice de TMC é maior naquelas com idade próxima e posterior à menopausa.

O pesquisador comenta que no envelhecimento tende a se desenvolver um quadro de inflamação sistêmica de baixo grau, considerada subclínica. Esse processo recebe o nome de inflammaging, aglutinação dos termos da língua inglesa inflammation (inflamação) e aging (envelhecimento). Cientistas da área estudam como esses dois fatores se retroalimentam.

A relação entre inflamação e transtornos mentais é abordada, especialmente, nos estudos sobre o eixo intestino-cérebro. Alterações na saúde intestinal podem ser associadas a neuroinflamação e neuroprogressão. Por isso, uma das hipóteses dos pesquisadores era de que alimentação pró-inflamatória e sedentarismo poderiam ser fatores de influência dos transtornos mentais comuns em mulheres com mais de 40 anos.

Mais informações: joaovneto@gmail.com, com João Valentini Neto

*Estagiária sob orientação de Fabiana Mariz

FONTE: Jornal da USP

Treinamento resistido traz benefícios a pessoas com dor lombar desde a primeira sessão

Pesquisador da USP destaca o treinamento resistido como uma alternativa promissora para o manejo da dor lombar crônica

A dor lombar crônica é, atualmente, uma das principais causas de incapacidade no mundo. Caracterizada pela dor e desconforto na região inferior das costas, a condição afeta não somente a qualidade de vida, mas também a capacidade funcional de milhões de pessoas. Além de limitações nas tarefas diárias, a dor lombar crônica pode levar ao afastamento do trabalho e gerar consequências socioeconômicas relevantes.

O treinamento resistido – prática de exercícios para melhorar a resistência do corpo – é apontado por vários pesquisadores como uma das estratégias promissoras para mitigar os problemas causados pela condição. Em sua tese de doutorado, Eduardo Borges, sob orientação do professor Júlio Cerca Serrão, verificou o nível de influência desse tipo de treinamento na melhora da dor, da incapacidade funcional e na ativação neuromuscular dos pacientes.

Participaram do estudo 31 voluntários de ambos os sexos, com idade entre 20 e 59 anos. Essas pessoas foram divididas em dois grupos, sendo que o primeiro participou de uma sessão única de treinamento. O restante realizou um programa contínuo de oito semanas, com duas sessões semanais.

Os resultados apontaram para benefícios desde a primeira sessão de exercícios. Após as oito semanas de treinamento resistido de leve intensidade, os voluntários apresentaram melhoras na mobilidade do tronco e alterações importantes, como a redução da incapacidade funcional e da dor.

Treinamento resistido: um protocolo promissor

De forma geral, o treinamento resistido é focado em criar resistência ao corpo. O objetivo é treinar para que o corpo não fique tão cansado ou dolorido após exercícios básicos, mesmo da vida cotidiana, como caminhar e subir escadas. Tem como ideia principal a resistência progressiva, e normalmente é realizado com a utilização de pesos ou elásticos. Por ser de baixo impacto, o treinamento resistido pode ser indicado e adaptado para a maioria das pessoas.

Para verificar sua eficácia no tratamento da dor lombar crônica, Borges propôs investigar se esse tipo de treinamento seria capaz de reduzir a incapacidade funcional de moderada para leve.

Exercícios realizados na sessão aguda – Foto: Reprodução / Trabalho original, cedido pela pesquisador da EEFE

Na sessão aguda (sessão de exercícios praticados de forma isolada), foram realizados os exercícios terra com barra hexagonal, extensão lombar no banco romano e abdominal.

Exercícios realizados no protocolo de oito semanas – Foto: Reprodução / Trabalho original, cedido pela pesquisador da EEFE

Já no protocolo contínuo de oito semanas, somados aos exercícios da sessão aguda, também foram realizados os exercícios supino e remada em máquina. Os voluntários realizavam 3×10 repetições nos exercícios multiarticulares e 2×10 nos uniarticulares.

Benefícios desde a primeira sessão

Os resultados do estudo revelaram que o treinamento resistido de baixa intensidade reduziu a dor, a incapacidade funcional e aumentou a força máxima desde a primeira sessão. Após oito semanas, o grupo experimental apresentou alterações significativas quando comparado com o grupo de controle. Além de uma redução ainda maior dos índices mencionados, o grupo também mostrou redução de dor afetiva, aumento da resistência muscular e amplitude de movimento do tronco.

Mulheres tendem a sofrer mais com a dor lombar crônica do que homens – Foto: Freepik

O pesquisador concluiu que o protocolo de treinamento resistido proposto é eficaz para o tratamento de pessoas com dor lombar crônica inespecífica. “No entanto, os parâmetros eletromiográficos analisados por nós não respondem o porquê dos efeitos positivos encontrados” enfatiza.

O estudo intitulado Influência de um programa de treinamento resistido para pessoas com dor lombar em parâmetros associados à incapacidade funcional, dor e ativação neuromuscular está disponível no banco de teses da USP e pode ser acessado na íntegra clicando aqui.

*Da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE, sob supervisão de Paula Bassi. Adaptado para o Jornal da USP

Mais informações: e-mail comunicaeefe@usp.br

FONTE: Jornal da USP