Quimioterapia e queda de cabelo

A queda de cabelo durante a quimioterapia é um dos efeitos colaterais mais indesejados. O tratamento para o câncer envolve o uso de medicamentos que destroem as células cancerosas, mas acaba trazendo consequências na qualidade de vida, na aparência e também na autoestima do paciente.

Os medicamentos da quimioterapia se misturam com o sangue e são levados para todas as partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que elas se espalhem. A queda do cabelo pode ser total ou parcial e pode acontecer entre 14 a 21 dias.¹

A quimioterapia é indicada após a consulta médica e a liberação dos exames laboratoriais. O paciente agenda a aplicação da medicação com a equipe responsável e precisa seguir as orientações conforme a prescrição médica.

Por que a quimioterapia causa queda de cabelo? 

A quimioterapia provoca a queda do cabelo, porque danifica os folículos pilosos, responsáveis pelo crescimento dos pelos. Esse efeito colateral dependerá do medicamento utilizado.

Geralmente a perda de cabelo não é imediata e ocorre, geralmente, após as primeiras semanas ou ciclos de quimioterapia e tende a aumentar com a continuidade do tratamento. Com o término da quimioterapia o cabelo volta a crescer renovado.

Existem casos em que a perda de cabelo não tem como ser evitada. Nessas situações, a recomendação é que o paciente se prepare para essa mudança na aparência. Recorrer à terapia, ou buscar apoio de amigos, familiares ou pessoas que já passaram por experiência semelhante, pode trazer algum conforto. A recomendação é que você fale sobre os seus sentimentos com alguém que te ajude a lidar com a situação. ²

Algumas pessoas preferem cortar o cabelo mais curto antes do início do tratamento, tornando a perda menos traumática.²

Cuidados com o cabelo e couro cabeludo 

Como aprender a lidar com o inevitável é uma das premissas para viver bem durante o tratamento da doença. Recomenda-se também que o paciente descubra nas atividades do cotidiano, uma motivação ou algum motivo para manter-se com uma boa saúde mental.

Ter uma rotina de autocuidado pode contribuir para uma melhora na autoestima. Confira, a seguir, algumas dicas: ²

  • Escolha um xampu suave para limpar o cabelo e o couro cabeludo.
  • Utilize uma escova de cabelo macia para arrumar o cabelo remanescente.
  • Use protetor solar no couro cabeludo quando estiver ao ar livre.
  • Cubra a cabeça durante os meses mais frios para evitar perda de calor do corpo.
  • Evite secar o cabelo com altas temperaturas.
  • Evite o uso de produtos químicos.
  • Evite fazer permanente.
  • Utilize fronhas com tecidos macios.

Como evitar a queda de cabelo durante a quimioterapia? 

A queda de cabelo é um efeito colateral comum em pacientes. Isso acontece devido à atuação da medicação, que foi desenvolvida para atacar células que se multiplicam rapidamente, reduzindo os tumores e aumentando a chance de cura após a cirurgia.

O problema disso é que existem células normais do corpo que também se multiplicam rapidamente, como as células do sistema imunológico, e também as células responsáveis pelo crescimento do cabelo.³

Existem, porém, um tratamento que pode reduzir o volume da queda de cabelo, conhecido como a Touca Inglesa.  É um equipamento que resfria o couro cabeludo do paciente para evitar a queda de cabelo típica da quimioterapia. Embora o seu uso seja mais difundido na rede privada, o tratamento também é oferecido no Instituto Nacional de Câncer (IncaNCA), no Rio de Janeiro. Com a utilização dessa espécie de capacete foi observado que é possível preservar entre 50 e 60% dos fios. 4

Como é a utilização da Touca Inglesa?  

A Touca Inglesa é utilizada meia hora antes do início da quimioterapia e até uma hora e meia depois da sessão. Ela resfria o couro cabeludo gradualmente. A diminuição da temperatura, que fica na casa dos 18 °C, reduz o fluxo sanguíneo local. Assim, o quimioterápico não alcança as células do couro cabeludo. Essa tática auxilia na preservação dos fios.

Outra sugestão é cortar o cabelo para diminuir seu peso e evitar esfregar o couro nas lavagens. Vale lembrar que, essa opção não impede a queda, mesmo que passageira.4

Cuidados durante a quimioterapia 

A queda de cabelo e de pelêlos do corpo são apenas alguns dos efeitos provocados pela medicação da quimioterapia. Caso você precise passar por esse tipo de tratamento, informe-se com o seu médico sobre outros possíveis sintomas que podem aparecer.

Além da alopecia, o paciente pode apresentar outras reações adversas, como enjoo, náuseas, prisão de ventre ou diarreia, feridas na boca, hiperpigmentação, anemia, leucopênia e trombocitopenia.

É importante lembrar que esse efeito é temporário e reversível. O cabelo voltará a crescer após o término da quimioterapia. Além disso, o INCA possui serviço de voluntariado que empresta perucas durante o tratamento. Ao sentir-se angustiado, converse com o médico e/ou enfermeiro sobre seus sentimentos e, se necessário, procure o serviço de psicologia.¹

Referência:

¹ Quimioterapia. Instituto Nacional de Câncer – INCA. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tratamento/quimioterapia. Acesso em 16 de abril de 2023.

² Alopecia. Oncoguia. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/alopecia/194/109/. Acesso em 16 de abril de 2023.

³ Toda quimioterapia faz cair o cabelo?. Oncologia Em Destaque. Disponível em: https://www.einstein.br/especialidades/oncologia/oncologia-em-destaque/edicao-102/toda-quimioterapia-faz-cair-cabelo. Acesso em 16 de abril de 2023.

4 Para o cabelo não cair na quimioterapia. Oncoguia. DIsponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/para-o-cabelo-nao-cair-na-quimioterapia/14383/7/. Acesso em 16 de abril de 2023.

FONTE: Blog FazBem

Um a cada três diagnosticados com anorexia nervosa é do sexo masculino

Embora ainda seja um tabu na sociedade, a ocorrência de transtornos alimentares entre pessoas do sexo masculino é uma realidade e um problema em ascensão. Apesar disso, algumas das histórias relacionadas a essa condição mais conhecidas ainda envolvem mulheres, como o caso Terri Schiavo. A norte-americana passou 15 anos em estado vegetativo após sofrer uma parada cardíaca, o que gerou uma batalha judicial entre seu marido e seus pais sobre a realização da eutanásia, até sua morte, em 2005. O motivo do fatídico desmaio de Terri, em 1990, foram os baixos níveis de potássio no sangue, em função de uma dieta restritiva, motivada pela bulimia.

Apesar de histórias como as de Terri e de supermodelos que colocavam a saúde em risco pelo tão sonhado corpo ideal, os transtornos alimentares ficam cada vez mais evidentes como uma condição unissex. “Recentemente, foi publicada uma revisão sistemática, com estudos do mundo inteiro, e os autores concluíram que a prevalência de transtornos alimentares foi de, aproximadamente, 19% no sexo feminino e 14% no masculino. Um outro dado interessante é que de 20% a 30% dos pacientes com anorexia nervosa são homens. Isso significa que, a cada três pacientes diagnosticados, um é do sexo masculino”, revela Maria Fernanda Laus, docente do curso de Nutrição na Unaerp, doutora e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Ela afirma que, além da evolução nos diagnósticos, esse número se deve a “um aumento na incidência dos transtornos mentais de forma geral, além das questões socioculturais, como a supervalorização da aparência e o uso muito frequente de redes sociais, o que acaba influenciando diretamente o corpo e a mente”. Maria Fernanda alerta que homens homossexuais e bissexuais, inclusive, são mais afetados pela condição, e que os transtornos não são apenas em busca de um corpo magro, mas também musculoso.

De acordo com a especialista, os primeiros indícios começam a surgir logo na adolescência, com o chamado comer transtornado, que envolve ações comuns no cotidiano de muitas pessoas. “Isso inclui uma série de comportamentos como a prática de contar calorias, de pesar os alimentos, utilizar suplemento alimentar para aumentar a massa muscular, entre outros comportamentos que desviam do que é considerado uma alimentação normal.”

Entretanto, a professora destaca que um leva ao outro, mas a recíproca não é, necessariamente, verdadeira. “Nem todo mundo que tem comer transtornado tem um transtorno alimentar, mas o transtorno alimentar sempre começa na forma de comer transtornado”, explica.

Um grande tabu

A primeira barreira a romper rumo à saúde é psicológica. Conseguir falar sobre o problema pode ser a diferença entre a recuperação e o agravamento da condição. “É importante lembrar que os transtornos alimentares podem afetar todos os sistemas orgânicos do corpo, e as pessoas que lutam contra um transtorno alimentar precisam procurar ajuda profissional”, afirma Maria Fernanda.

O crescimento na quantidade de pessoas do sexo masculino diagnosticadas gera, em um primeiro momento, preocupação, mas ainda pode significar evolução, e está relacionado, justamente, a uma abertura para debater o assunto. Com mais segurança e liberdade, maior tende a ser, consequentemente, o número de ocorrências registradas e menor será a quantidade de pessoas que sofrem em segredo ou que sequer sabem que precisam enfrentar um problema.

Apesar do progresso conquistado, a luta contra a descriminação promete ser longa, com vitórias, derrotas, altos e baixos. Como ressalta a professora, “apesar das estatísticas, os homens são, frequentemente, ridicularizados, menosprezados ou ignorados, numa cultura que vê o transtorno alimentar como uma doença que afeta só as mulheres”.

A luta contra dois adversários – o preconceito e o próprio transtorno – não é fácil, mas precisa ser feita para que os homens, e também as mulheres acometidas, conquistem o corpo perfeito: o que ostenta saúde. “Quanto mais cedo a pessoa com transtorno alimentar procurar tratamento, maior a probabilidade de recuperação física e emocional”, conclui a professora.

FONTE: Jornal da USP

Vacinação na terceira idade contribui para longevidade

A vacinação em larga escala tem sido um marco crucial no Brasil e no mundo, resultando em longevidade e até mesmo na erradicação de diversas doenças que antes representavam sérios problemas de saúde pública. Doenças como poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche, que já foram frequentes no passado, são agora apenas lembranças distantes para as novas gerações. O Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde desempenha um papel fundamental nessa conquista, pois representa um esforço contínuo para proteger a saúde pública e conter a propagação de doenças.

Uma ênfase especial tem sido dada à imunização dos idosos, uma vez que, devido à idade avançada e às condições de saúde que caracterizam essa faixa etária, se torna uma população mais vulnerável, sujeita a complicações. O assunto é importante porque a população brasileira está envelhecendo rapidamente, com pessoas com mais de 60 anos representando 14,7% da população, segundo dados do IBGE. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% entre 2012 e 2021.

Mas a vacinação nem sempre fez parte da cultura brasileira. Foi a partir do Brasil Império, com a imunização compulsória contra a varíola, que as vacinas entraram em destaque. Oswaldo Cruz, diretor-geral de saúde pública do Brasil em 1903, exerceu um papel essencial no combate às doenças, tendo estruturado a primeira campanha de vacinação nacional.

O infectologista Fernando Bellissimo Rodrigues, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, destaca a importância do calendário de vacinação em todas as faixas etárias. “O conceito de que a vacina é para criança é uma ideia do passado. Hoje, o Programa Nacional de Imunização tem vacinas recomendadas para todos os períodos da vida”.

Bellissimo ainda ressalta que as vacinas não só prolongam, mas melhoram a qualidade de vida das pessoas em qualquer faixa etária, pois previnem doenças graves, como difteria, tétano, hepatite B, sarampo, entre outras.

Intrínseco à importância da vacinação está a importância de uma campanha de vacinação. O Brasil tem uma história de sucesso em diversas campanhas de vacinação, como a Campanha de Erradicação da Varíola, realizada entre 1966 e 1973, a Campanha Nacional de Imunização contra a Poliomielite, que resultou na interrupção da transmissão do vírus no País e em um certificado emitido pela OMS que atesta o Brasil como livre da doença. A Campanha de Vacinação contra o Sarampo, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza (gripe) e a Campanha de Vacinação contra a covid-19 também são destaques.

Mas Bellissimo faz uma ressalva: “Não existem muitas campanhas voltadas para o público adulto e idoso em relação à necessidade de vacinação, o que pode ser considerado uma falha. A vacinação da covid-19 teve uma campanha de conscientização robusta para a terceira idade, mas não é uma precedência comum.”

Importância do calendário de vacinação

Apesar de não existir muitas campanhas com o enfoque na população idosa, há um calendário que informa as vacinas que devem ser tomadas. “O calendário para a população idosa compreende uma série de vacinas recomendadas, incluindo a dose anual contra a covid-19 e a gripe”, relata o professor.

Bellissimo acredita ser importante esclarecer que a vacinação contra a gripe é fundamental para o grupo da terceira idade, pois, embora possa parecer uma doença banal na maioria das vezes, para os idosos pode desencadear complicações graves, como pneumonia, diabetes, insuficiência cardíaca, derrame e até mesmo infarto.

A vacinação contra a covid-19 foi essencial para conter o avanço da doença no Brasil – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Além dessas, Bellissimo informa sobre a vacina dupla (DT), que protege contra difteria e tétano, a vacina contra hepatite B, a vacina contra a febre amarela, a SCR, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, e a pneumocócica 23-valente. “Essas quatro vacinas são recomendadas para todos os adultos e idosos, independentemente de possuírem ou não alguma doença”.

Para idosos com doenças crônicas, existem indicações de outras vacinas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “É o caso da vacina contra a varicela, meningite, pneumonia, febre tifóide, raiva e a meningocócica, que não estão amplamente disponíveis no SUS, mas são gratuitas para aqueles que as necessitam”, comenta Bellissimo.

A importância da vacinação para o público idoso é refletida em dados e percentuais emitidos durante a pandemia da covid-19. Um estudo realizado pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) de São Paulo concluiu que, entre os idosos, a vacinação de reforço foi capaz de diminuir em 95% a incidência de óbito na terceira idade.

O infectologista ainda compara a eficiência da vacinação em relação à sua ampla abrangência e seu baixo custo. “Pouquíssimas intervenções têm o potencial de impacto da saúde pública que as vacinas têm, considerando o baixo custo investido. A vacinação com esquema completo, em especial quando acrescida do reforço, é fundamental e é a forma mais efetiva da população se proteger”.

Contactada pelo Jornal da USP no ArEdição Regional, a Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto não respondeu às solicitações feitas para esclarecimentos sobre as campanhas de vacinação destinadas à terceira idade no âmbito do município.

FONTE: Jornal da USP

Cirrose é a sétima maior causa de morte em adultos no mundo

A cirrose tem como consequência a insuficiência hepática crônica, porém, o senso comum coloca o álcool como sua principal causa. “Muita gente associa a cirrose puramente ao consumo de álcool, mas isso não está correto. Existem duas outras causas que são tão ou mais importantes: as hepatites virais e o fígado gorduroso”, explica o professor Alberto Farias da Gastroenterologia e Hepatologia da Faculdade de Medicina da USP e do Hospital das Clínicas.

As hepatites virais B e C podem ser testadas gratuitamente nos postos de saúde. Para a B, existe vacina e tratamento e a C tem um tratamento muito eficaz. Farias comenta que, antigamente, o fígado gorduroso (esteatose hepática) era considerado uma condição de quem estava acima do peso e que não havia problema; hoje, sabe-se que ele pode causar cirrose e câncer de fígado. “Se as três principais causas — o álcool, as hepatites virais e o fígado gorduroso — fossem reconhecidas e tratadas, teríamos uma drástica redução do número de mortes por essa condição no País”, ressalta o especialista.

Estudo

A cirrose é colocada como a sétima maior causa de morte em adultos no mundo e, por conta disso, grandes estudos são feitos a respeito dessa problemática. “Foram avaliados 1.274 pacientes internados por descompensação aguda da cirrose, em 44 hospitais universitários de 27 cidades de sete países latino-americanos”, coloca Farias, que é coautor do artigo Genetic Ancestry, Race, and Severity of Acutely Decompensated Cirrhosis in Latin America.

Esse estudo faz parte de uma iniciativa da Fundação Europeia para o Estudo do Fígado, que busca entender a cirrose em diferentes partes do mundo. O objetivo é identificar essas diferenças e estabelecer tratamentos personalizados para cada pessoa. “A ideia é evitar uma fórmula geral, cada paciente tem a sua singularidade e essa identificação é muito importante para um planejamento individualizado para o tratamento”, explica o especialista.

Porém, ao analisar as diferenças, o estudo com o recorte latino-americano notou uma relação entre a ancestralidade genética e a ocorrência da cirrose: “Nossa principal descoberta foi em relação à ancestralidade. Nós estudamos a carga genética e descobrimos que pacientes que tinham uma ancestralidade nativo-americana (indígena), mesmo sem saber, genética e não puramente aparência física, tinham um risco muito maior de desenvolver cirrose grave”. Em números, seria como que a cada 10% de carga genética indígena existisse um aumento de cerca de 8% no risco de ter uma forma grave da doença.

Cuidados

“Isso tem uma implicação enorme, porque eu creio que, no futuro, a ancestralidade pode entrar como critério na medicina personalizada, de precisão. As pessoas, apesar de terem a mesma doença, no mesmo grau, são diferentes e vão reagir de forma diferente. Temos que propor tratamentos diferenciados”, pontua o professor.

Porém, além da questão genética ancestral ser um adicional na equação, a prevenção é possível, como diz Farias: “A questão do uso do álcool passa pela educação, pelo consumo moderado e seguro; o fígado gorduroso, pelo controle do peso, alimentação saudável e práticas de exercícios, e as hepatites, pela testagem e pelo tratamento”.

O ideal é que não se chegue ao transplante, mas, quando a doença está numa fase avançada, muitas vezes essa é a única solução. Existem duas modalidades: com o doador falecido, pela doação de órgãos, e a com ele vivo, que se oferece como doador e parte do órgão é utilizado — mais usado para casos mais urgentes. O estudo mostrou também a dificuldade do acesso ao transplante nos países analisados.

FONTE: Jornal da USP

Medicamento reduz mortes de pacientes com câncer de pulmão

O Osimertinibe, que trata um tipo específico de câncer de pulmão, permitiu uma sobrevida de cinco anos para voluntários do estudo, além de ter reduzido pela metade o risco de morte em pacientes já operados

Um estudo feito nos Estados Unidos mostra que um novo fármaco reduz pela metade o risco de morte de pacientes de câncer de pulmão já operados. Além disso, o medicamento, chamado Osimertinibe, permitiu sobrevida de cinco anos para cerca de 88% dos voluntários da pesquisa. O câncer de pulmão é o mais letal dos cânceres e mata cerca de 3 milhões de pessoas por ano, no mundo todo. A pesquisa foi divulgada em Chicago durante a maior conferência anual de especialistas em câncer, organizada pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco).

Gilberto Castro, oncologista e chefe do grupo de Oncologia Clínica de Tórax, Cabeça e Pescoço do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), explica as condições para ser tratado com o Osimertinibe: “Não é todo mundo que vai se beneficiar desse tipo de tratamento, são somente aqueles pacientes que têm esse tipo específico de câncer de pulmão que se chama adenocarcinoma e que apresenta a mutação do EGFR”.

EGFR é a sigla para Receptor do Fator de Crescimento Epidérmico, uma proteína presente num gene que sofre mutação durante o câncer de pulmão e é também um dos requisitos para o tratamento com o fármaco: “É um medicamento que já é utilizado há vários anos no tratamento de um tipo específico de câncer de pulmão, que é o câncer de pulmão que apresenta uma mutação, uma alteração lá no DNA do tumor, num gene que é responsável pela proteína EGFR; 25% dos pacientes com um tipo específico de câncer de pulmão, o adenocarcinoma, apresenta essa alteração molecular, a mutação do EGFR”.

A descoberta do Osimertinibe não anula a necessidade de cirurgia nem da quimioterapia. “O que a gente já sabia anteriormente do tratamento dessa doença não deixou de ser válido. Ou seja, é preciso operar quando dá para operar, precisa fazer quimioterapia quando tem que fazer quimioterapia. A informação nova foi justamente esse ganho de sobrevida.” Nem todos os pacientes vão precisar desse tipo de tratamento. Apenas com a detecção da mutação do EGFR, via exame, é que o medicamento deve ser recomendado pelos médicos.

Descobrindo o câncer de pulmão

O médico destaca que o câncer de pulmão normalmente demora a ser percebido por quem o tem e que isso prejudica as chances de cura. “Infelizmente, nos estágios iniciais, o paciente não apresenta sintomas que a gente observa naqueles pacientes que têm câncer de pulmão avançado. Os sintomas que os pacientes apresentam são sintomas gerais, como emagrecimento, perda de apetite e perda de energia para fazer as coisas. São sintomas muito discretos que as pessoas confundem com alguma pequena infecção, algum resfriado, uma gripe.”

Por isso, a atenção e os cuidados com a saúde devem ser constantes. “Recomendações gerais de atenção à saúde, como ter uma dieta saudável, prática de exercício físico, evitar fazer sexo desprotegido são medidas de saúde que vão acabar prevenindo de outros cânceres. Além desses, deve-se evitar o tabagismo, que é o principal fator de risco para câncer de pulmão.

FONTE: Jornal da USP

Suplemento pode reduzir pressão arterial e níveis de colesterol

Um dos suplementos mais comercializados no mundo, o trans-resveratrol, é conhecido por uma suposta ação antioxidante, anti-inflamatória e inibidora da agregação plaquetária, sendo capaz de reduzir o colesterol, a pressão arterial e, consequentemente, a aterosclerose (acúmulo de gordura nas paredes das artérias). No entanto, de acordo com um estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center – Forc), sediado na USP, ainda são necessários estudos clínicos para realmente atestar seu poder antioxidante. Já os demais efeitos, comprovados cientificamente, dependem muito da forma de administração, ou da dose e tempo de uso. Publicado na revista Complementary Therapies in Clinical Practice,  o artigo de revisão analisou os resultados de 27 estudos clínicos, nos quais foram testados 32 tratamentos diferentes em humanos.

Segundo a coordenadora do estudo, Inar Castro Erger, pesquisadora associada ao Forc e professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, os principais problemas apontados foram a ausência de padronização dos marcadores avaliados e a automedicação, tendo em vista que os suplementos não necessitam de prescrição médica.

Assim como a maioria dos suplementos, o trans-resveratrol pode ser adquirido nas farmácias sem receita médica, o que leva a maioria das pessoas a não consultar um médico antes de consumi-lo, podendo tornar nulos os benefícios do suplemento, ou consumir os medicamentos com doses e períodos não adequados em relação aos seus objetivos

Além disso, ela complementa, “os resultados variam muito de acordo com os protocolos receitados pelos médicos, conforme observamos nos estudos”.

Os pesquisadores dividiram os resultados em três grupos, separando os estudos de acordo com diferentes protocolos: doses maiores em um período de tempo menor; doses intermediárias por um período intermediário; e doses menores por um período maior de tempo. “Os estudos caracterizados por uma dose média de 454 miligramas (mg) ao dia, durante 74 dias, apresentaram maior redução da concentração de triglicerídeos e da pressão arterial, enquanto os que aplicaram doses em torno de 274 mg ao dia, por cerca de 175 dias, apresentaram aumento de HDL-colesterol [conhecido como colesterol ‘bom’], importante para redução da aterosclerose”, aponta Inar Castro Erger.

Dosagem

“Assim, concluímos que a dose e o tempo de intervenção devem ser definidos por um profissional de saúde de acordo com a necessidade do paciente”, detalha Tamires Santana, mestre em Alimentos e Nutrição Experimental pela FCF e primeira autora do estudo. Para chegar a essas conclusões, foram analisados estudos que avaliaram vários biomarcadores, que podem indicar a progressão de uma determinada doença. “Usamos os biomarcadores porque é muito difícil encontrarmos estudos clínicos que acompanhem os pacientes por longos períodos, o que é necessário principalmente em pesquisas na área de doenças cardiovasculares”, explica a professora da FCF.

Na pesquisa, foi observada uma incoerência em grande parte dos rótulos de trans-resveratrol. Isso porque é comum que venham indicados, ainda na parte frontal da embalagem, os efeitos antioxidantes do suplemento. No entanto, essa alegação ainda não é clinicamente evidenciada. “A maior parte dos estudos não avalia biomarcadores de estresse oxidativo, pois isso exige metodologias de pesquisa mais sofisticadas, que muitos grupos não têm acesso”, relata Inar Castro Erger. “A alegação que as empresas fazem tem como base estudos in vitro, realizados em laboratório, que não são suficientes para atestar essa característica, algo só possível com vários estudos em humanos.”

O trans-resveratrol também está presente naturalmente em diversos grupos de alimentos. Alguns possuem em maior concentração, como as cascas de uvas e o vinho tinto. No entanto, em função do teor alcoólico do vinho, a forma mais recomendada de ingeri-lo é pela suplementação. Seu consumo é mais recomendado como terapia complementar em pacientes com doenças cardiovasculares ou com risco de manifestá-las e, embora não haja relatos de toxicidade, estudos sugerem que doses acima de 2,5 gramas (g) por dia podem trazer sintomas gastrointestinais indesejáveis, além de ter um custo elevado.

“O trans-resveratrol não produz os mesmos efeitos dos medicamentos, por isso não deve nunca substituí-los. Entretanto, ao usá-lo junto com os fármacos e sob acompanhamento médico de forma individualizada, pode ser possível diminuir a dose de remédios do paciente, e assim reduzir os efeitos adversos do tratamento”, detalha Inar Castro Erger. “Desta forma é mais fácil garantir a adesão do paciente”, acrescenta Tamires Santana.

FONTE: Jornal da USP

Demência pode afetar psicologicamente todo o núcleo familiar de um paciente

A demência é classificada como uma síndrome que causa, entre diferentes ocorrências, o prejuízo da memória, problemas de comportamento e perda de habilidades. Essas características podem avançar em diferentes níveis e apresentam-se de formas diversas em cada um dos pacientes.

Atualmente, cerca de 57 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com algum tipo de demência e existem pesquisas que estipulam que esse número triplique até 2050 em decorrência do avanço do envelhecimento populacional. Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde, a síndrome costuma afetar mais mulheres que homens.

Quando os portadores de demência começam a adoecer, é comum que os familiares passem a acompanhar esses indivíduos, já que a necessidade de ajuda para a realização de atividades comuns passa a fazer parte da rotina da maioria dessas pessoas. Considerando esse cenário, é interessante notar que, na maioria dos casos, a família também passa a ter novas necessidades e o auxílio psicológico parece ser essencial para a compreensão de sentimentos e emoções que envolvem esse processo.

Família

Katia Cherix, doutora em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da USP, considera o apoio psicológico para pessoas diagnosticadas com Alzheimer e seus familiares essencial. O psicólogo deve passar a auxiliar esses indivíduos desde o momento do diagnóstico, contudo, algumas famílias passam por um processo de negação após o aparecimento dos primeiros sintomas, evitando até mesmo levar o paciente ao médico geriatra.

“No momento do diagnóstico, um acompanhamento psicológico pode ajudar a família a melhor compreender os sintomas da doença e cuidar do doente sem se estressar”, explica Katia. Ela também adiciona que o psicólogo auxilia esses indivíduos a atravessarem o “luto branco”, ou seja, com o avanço da doença, o cuidador passa por um processo delicado ao sentir que o seu familiar está passando por uma transformação.

É interessante notar que esse profissional pode também auxiliar o familiar a entender emoções contraditórias, como o medo de perder a pessoa que ama e a aceitação de mudança desse indivíduo ou o cansaço pelo cuidado diário e alívio de poder retribuir o cuidado que foi recebido anteriormente.

Além desses fatores, nota-se que os cuidadores passam por outras dificuldades durante esse processo, sendo uma das primeiras o empecilho financeiro. “Com o aumento da dependência ligada à progressão da doença, o sistema de cuidadores 24 horas terá que ser colocado em prática”, comenta a especialista. Em alguns casos em que a demência apresenta maior avanço, o familiar terá que escolher uma instituição especializada para oferecer maior qualidade de vida ao paciente. É nesse momento que muitos cuidadores passam a procurar o cuidado psicológico, buscando entender a institucionalização do idoso como um ato de cuidado, não abandono.

A sobrecarga de trabalho é outro fator que afeta diretamente os familiares, uma vez que cuidar de um paciente significa também cuidar de sua casa, alimentação, roupas, entre outras preocupações do dia a dia. Katia explica que esse fator implica mais trabalho e cansaço e menos trabalho para cuidar de si mesmo, assim, muitos cuidadores experimentam um burnout, ou seja, o resultado de um acúmulo de estresse que pode levar à depressão, insônia e irritabilidade.

Por fim, observa-se que o acompanhamento psicológico é essencial para os próprios pacientes, já que, na fase inicial, o profissional pode auxiliar na compreensão da doença, no aprendizado para lidar com os sintomas e no controle emocional da sensação de tristeza. Segundo a especialista, “o paciente também pode ser acompanhado por uma neuropsicóloga que proponha atividades e exercícios para manter as capacidades cognitivas por mais tempo”.

A demência

Apesar de ser uma síndrome comum, algumas dúvidas sobre a demência se apresentam de forma frequente. O professor Ricardo Nitrini, coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que os principais fatores para o desenvolvimento dessa condição estão associados ao envelhecimento e ao fator genético. Sendo interessante notar que alguns fatores ambientais também apresentam influência nesse processo, como a existência de doença cerebrovascular, hipertensão arterial e diabete.

Nitrini explica que, para evitar o desenvolvimento de demência, é importante que o indivíduo se esforce para manter uma vida saudável. “É muito importante ter atividade física e o controle geral de uma saúde adequada, com uma alimentação saudável, por exemplo. Também é interessante o indivíduo se manter ativo intelectualmente, lendo, estudando e fazendo outras atividades”, aconselha o especialista.

FONTE: Jornal da USP

Terapia com laser é alternativa para tratamento de zumbido do ouvido

A terapia com laser pode ser mais uma alternativa para tratar o zumbido do ouvido, aponta pesquisa do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, com participação do Tyndall National Institute, na Irlanda. Em experimentos realizados com pacientes voluntários, a aplicação do laser na orelha interna modulou a inflamação e ampliou a irrigação sanguínea dos tecidos, reduzindo o zumbido. Os resultados do trabalho sugerem que a laserterapia atuaria como um tratamento complementar ou alternativo, pois como o zumbido é desencadeado por múltiplos fatores, não possui uma terapia específica, variando conforme a condição do paciente.

As conclusões do estudo são detalhadas em artigo publicado na edição de março da revista científica Journal of Personalized Medicine. O zumbido é um problema no labirinto (orelha interna) que pode ser causado por diversos fatores, como insuficiência da circulação sanguínea originada por embolia, hemorragia, diabetes mellitus, hipertensão arterial e distúrbios musculares. “Atualmente, ele é tratado com medicamentos e aparelhos que recobrem as superfícies de mastigação dos dentes para relaxamento muscular e de ligamentos”, declara ao Jornal da USP o pesquisador do IFSC, Vitor Hugo Panhóca, um dos autores do trabalho.

Participaram do estudo 100 voluntários, divididos em subgrupos, onde cada um deles recebeu, durante oito sessões, um tratamento específico: flunarizina (medicamento indicado para zumbido), ginkgo biloba (fitoterápico indicado para o mesmo fim), laser conjugado com ultrassom, com vacuoterapia e combinado com acupuntura (laserpuntura). “O laser é usado para aplicar luz no ouvido interno do paciente com efeito de modulação inflamatória e aumento de irrigação periférica dos tecidos do órgão e ao seu redor, de maneira a eliminar o sintoma”, explica o pesquisador.

Efeito anti-inflamatório

Panhóca aponta que os melhores resultados do estudo foram obtidos com a aplicação de laser dentro da orelha interna. “Com ela, atingiu-se um efeito anti-inflamatório e de relaxamento”, ressalta. “Acreditamos que esses efeitos também podem aumentar a irrigação periférica, obtendo dessa forma resultados ainda maiores na luta contra o zumbido no ouvido.”

De acordo com o pesquisador, a laserterapia é reconhecida na área de saúde como terapia eficaz e existem aparelhos de laser de baixa potência aprovados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Encontramos artigos na literatura científica que confirmam nossos achados”, observa. “Portanto, a aplicação clínica já pode ser realizada, de forma alternativa ou complementar a outras terapias.”

Laserterapia – Foto: Reprodução/Artigo “Effects of Red and Infrared Laser Therapy in Patients with

Múltiplas causas

“O zumbido é a percepção consciente de um som nos ouvidos e na cabeça na ausência de uma fonte sonora externa. É uma situação de hipersensibilidade das vias auditivas que pode ser desencadeada por diversos fatores e, por essa razão, há uma dificuldade de estabelecer um tratamento padronizado”, afirma ao Jornal da USP o médico otorrinolaringologista Ítalo de Medeiros, diretor técnico de serviço do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). “Entre os tratamentos existentes, há as terapias sonoras, com uso de aparelhos, e a terapia cognitiva comportamental (TCC). Quando há outros problemas de saúde associados, medicamentos podem ser usados.”

Comentando sobre a pesquisa, o médico aponta que a terapia com laser é mais um instrumento para tratar o zumbido. “A resposta ao tratamento depende da condição de cada paciente. Por exemplo, em casos associados a depressão podem ser usados medicamentos antidepressivos; quando a causa está ligada aos músculos, há possibilidade de usar um relaxante muscular; a gingko biloba é um fitoterápico usado para melhorar a circulação, porém apresenta efeitos colaterais, como sangramentos”, relata. “No caso do laser, é possível que pacientes com mais dores e processos inflamatórios respondam melhor ao tratamento, por isso há a necessidade de realizar estudos com um número maior de participantes, para saber quais pacientes serão mais beneficiados.”

Protótipo do aparelho desenvolvido pelo IFSC/USP baseado no uso de laser de luz vermelha – Foto: Reprodução/Artigo Effects of Red and Infrared Laser Therapy in Patients with Tinnitus

A pesquisa foi realizada no Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (Cepof), sediado no IFSC, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Participaram do estudo Vitor Hugo Panhóca, Antônio Eduardo de Aquino Junior, Viviane Brocca de Souza, Simone Aparecida Ferreira, Lais Tatiane Ferreira, Karina Jullienne de Oliveira Souza, Patricia Eriko Tamae, Marcelo Saito Nogueira e o professor Vanderlei Salvador Bagnato. Além do IFSC, colaboraram com o estudo a Santa Casa de Misericórdia de São Carlos (interior de São Paulo), a Universidade Central Paulista (Unicep), também em São Carlos, o Centro de Terapia Integrada em Londrina (Paraná) e o Tyndall National Institute, do University College em Cork (Irlanda).

Mais informações: e-mail vhpanhoca@ifsc.usp.br. com Vitor Hugo Panhóca

Câncer de cabeça e pescoço: quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de cura

Julho é o mês da Campanha de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, conhecida como Julho Verde. Conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), são mais de 40 mil novos casos desse tipo de câncer a cada ano. A região da cabeça e do pescoço engloba algumas subdivisões, dependendo de onde o tumor a afeta: “A região da cabeça e pescoço é colocada num conjunto porque os sintomas e as causas deles são bem parecidos. Esse segmento diz respeito à boca, mais especificamente à língua; à garganta, com amígdala; e à laringe, com as cordas vocais”, explica o médico Dorival Carlucci, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Ele explica que qualquer alteração na região, seja uma afta ou uma rouquidão, com uma duração maior que duas semanas, já é preocupante e necessita de um acompanhamento profissional. Um nódulo no pescoço, que também não desaparece, pode ser um indício de um possível tumor na amígdala. O especialista ressalta: “Quanto mais precoce, maior a chance de cura, e também menor vai ser a agressividade do tratamento. Uma afta pequena na língua, a remoção da lesão gera cura de quase 80%. Um tumor na corda vocal, de 95%”.

Tratamento

“O grande problema dos tumores da região da cabeça e do pescoço é que, se eles forem detectados tardiamente, causam mutilações muito grandes no paciente. Pode levar à alteração da voz, de deglutição e até da estética”, diz Carlucci, que coloca que o diagnóstico é, normalmente, visual ou com aparelhos endoscópicos, sendo o Hospital das Clínicas um local com diversas possibilidades de identificação desses cânceres.

Alguns tipos podem ser tratados por meio da rádio ou quimioterapia, mas, como colocado, quanto antes diagnosticado, menor a necessidade de mutilações na região afetada pelo câncer.

Conscientização

O HPV (Papilomavírus humano) é transmitido pelo contato sexual, mas possui uma vacina que o previne. Uma das possibilidades da manifestação dos seus sintomas é o câncer de amígdala, que se soma aos outros agressores: “Se a gente pensar que o cigarro, que é o principal vilão, o álcool, e agora a gente está tendo um aumento das infecções pelo vírus do HPV, se a gente pensar na exposição de todo o segmento do trato aerodigestivo, toda essa região recebe a agressão desses fatores. Eu posso até ter mais do que um tumor: posso tratar um tumor no lugar e, depois, ele voltar ou aparecer numa outra sub-região”, indica. “Quando a gente fala tabagismo, está incluindo tudo. Esses cigarros eletrônicos eu considero até mais perigoso: a gente não tem nem controle do que tem dentro daquilo e isso fica sendo consumido por uma população jovem”, diz.

Assim, a conscientização — tanto em relação à vacinação contra o HPV quanto ao diagnóstico precoce dos cânceres de cabeça e pescoço — é extremamente importante e fundamental para o tratamento, sobretudo para o sucesso dele: “O que a gente mais busca é conscientizar a população. Precisa mudar os padrões de vida para que esses agressores diminuam”. Carlucci ainda completa: “A cabeça e o pescoço são uma área muito exposta. É preciso perceber, prestar atenção e não achar que é normal. Conhecer o próprio corpo é importantíssimo”.

FONTE: Jornal da USP

Porque a luz azul do celular não faz mal para sua pele?

Atualmente passamos longos períodos de tempo em frente a telas de computadores, tablets e celulares, recebendo luz azul de diferentes intensidades. Também usamos sistemas de iluminação baseados em diodo emissor de luz (LED), que emitem luz no comprimento de onda visível, incluindo uma fração importante da luz azul. Embora seja complexo avaliar efeitos biológicos da exposição à luz, estudos mostram que a luz azul tem um papel importante na regulação do ritmo circadiano de sono-vigília, por sua influência nas células fotorreceptoras da retina. O excesso de radiação, no entanto, pode ser prejudicial aos olhos.

Mas será que a luz azul do celular faz mal para a pele?

Essa questão surgiu após uma notícia no jornal O Globo vincular, no título, a luz azul do Sol à luz azul do celular. A reportagem divulgava um estudo realizado pelo grupo do pesquisador Maurício Baptista sobre os efeitos da luz visível, especialmente a faixa do violeta e do azul, em células da pele humana.

“A relação no título da notícia foi infeliz e pode levar a entendimentos errôneos por parte dos leitores. Muito embora tanto o Sol quanto o celular emitam luz na região do azul, o artigo científico mencionado não estudou o efeito da luz emitida por aparelhos celulares e sim, o efeito de irradiação a partir de fontes que imitam os raios solares”, afirmou Baptista, que dirige o Laboratório de Processos Fotoinduzidos e Interfaces no Instituto de Química da USP e é membro do Cepid Redoxoma.

A principal diferença é a dose. As irradiâncias do celular são muito menores do que as vindas do Sol e o efeito da radiação luminosa na pele não é linear, sendo que doses pequenas são benéficas enquanto as maiores são danosas. Irradiância (W.m-2.) é uma medida da energia luminosa por unidade de tempo e de área.

Luz natural versus luz artificial

Considerando a irradiância total direta do Sol versus a do celular em toda faixa do visível, a irradiância solar é de aproximadamente 1000 W.m-2 e a dos aparelhos celulares, a 10 centímetros (cm) de distância da superfície, é de 0,05 W.m-2. Isso quer dizer que a irradiância do celular é cerca de 20 mil vezes menor do que a do Sol.

Mesmo considerando a irradiância difusa do Sol, isto é, quando a exposição não é direta, por exemplo, se estivermos embaixo do guarda-sol, a irradiância é em torno de 100 W.m-2, ainda assim duas mil vezes maior do que a do celular. Considerando somente a região do azul e a irradiância por faixa de comprimento de onda (W.m-2.nm-1), celulares emitem em torno de 0,03 W.m-2.nm-1 enquanto a irradiância difusa do Sol é de cerca de 30 Wm-2nm-1, ou seja, a do celular é mil vezes menor.

“A primeira comparação que devemos fazer é da irradiância dos aparelhos celulares com a dos raios solares que atingem a pele dos humanos. A diferença é gigantesca, mas as variáveis envolvidas são muitas. Por exemplo, a emissão do celular depende do modelo e da marca do aparelho, de ajustes feitos pelo próprio usuário na claridade da tela, bem como da distância entre o aparelho e a pele. As irradiâncias luminosas vindas do Sol dependem da localização — latitude, longitude, altitude —, da hora do dia, da estação do ano, do clima etc. Enfim, precisamos considerar sempre valores médios e há estudos científicos que fizeram isso,” afirma o pesquisador.

Na pele

Um aspecto importante, segundo Baptista, é o efeito que diferentes exposições causam na pele. À medida que evoluímos sob a influência da luz solar, desenvolvemos mecanismos para utilizá-la eficientemente em funções fisiológicas essenciais e para proteger o corpo contra sua quantidade excessiva. Desta forma, exposições curtas ao Sol geralmente trazem efeitos benéficos. Atualmente, equipamentos que imitam essas doses saudáveis de exposição estão sendo utilizados em tratamentos médicos.

No caso do estudo realizado em queratinócitos, os pesquisadores observaram efeitos deletérios ao irradiar as células durante várias horas com fontes que imitam a irradiância do Sol. Doses menores não causam efeitos ou causam efeitos favoráveis. “Considerando a pequena irradiância dos celulares, podemos afirmar que, se houver algum efeito, este será favorável à pele de humanos saudáveis”, disse o pesquisador.

Já em relação aos olhos, a estrutura do tecido favorece a penetração de luz visível e há muitas pesquisas demonstrando como a exposição desprotegida à luz azul do Sol e de equipamentos diversos que emitem luz nesta faixa pode afetar a retina. Entretanto, segundo Baptista, não há consenso, pois, com base em diversos trabalhos, muitos oftalmologistas defendem que a dose de luz dos celulares é muito pequena para causar problemas na visão. O que é certo é que a exposição noturna à luz azul de celulares, tablets, laptops etc. perturba o ciclo natural de sono/vigília do nosso corpo, conhecido como ritmo circadiano.

A luz azul é uma faixa do espectro da luz visível, que por sua vez é uma faixa do espectro eletromagnético da radiação solar. A luz visível, à qual nossos olhos são sensíveis, representa cerca de 47% da radiação solar total que atinge a pele humana, em comparação com cerca de 5% de radiação ultravioleta. E também é a faixa espectral que forma os maiores níveis de radicais livres gerados na pele sob exposição solar, respondendo por 50% do total. Os mecanismos de dano induzidos pela radiação solar se devem principalmente à fotossensibilização, um processo no qual fotossensibilizadores transformam a energia da luz em reatividade química.

Da Assessoria de Comunicação do Cepid Redoxoma

FONTE: Jornal da USP