Andar ao menos 7.500 passos por dia ajuda a reduzir sintomas de asma

Caminhar pelo menos 7.500 passos diários pode contribuir para o controle da asma moderada ou severa em adultos. É o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), publicado recentemente no The Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice.

O trabalho, selecionado pelos editores da revista científica como artigo que modifica a prática clínica, sugere que as recomendações médicas e as políticas públicas concentrem esforços no incentivo ao aumento da prática de atividade física, em vez de focar na redução de períodos de sedentarismo. Apesar de popularmente serem considerados hábitos excludentes, a prática de atividade física e o comportamento sedentário podem ocorrer de forma concomitante. Isso porque a pessoa pode ser sedentária (ficar mais que 8 horas trabalhando sentada) e ser fisicamente ativa (realizar atividades moderadas durante, pelo menos, 150 minutos semanais).

 “Na maioria das vezes, as pessoas mesclam as duas situações: realizam atividade física três vezes por semana, por uma hora, mas trabalham o dia inteiro sentadas em um escritório”, explica Celso Ricardo Fernandes de Carvalho, professor de Fisioterapia Respiratória e Fisiologia do Exercício do curso de Fisioterapia da FMUSP e orientador do estudo. “Isso significa que elas são ativas, mas também sedentárias, ou seja, exibem os dois comportamentos ao mesmo tempo.”

A literatura científica já indicava que tanto a atividade física quanto o sedentarismo podem modular os sintomas da asma – entre eles dificuldade para respirar, respiração rápida e curta e tosse seca – mas ainda faltavam estudos aprofundados sobre seu impacto real, de modo que o tratamento da doença, que afeta cerca de 6,4 milhões de brasileiros, se mantém majoritariamente medicamentoso.

O objetivo deste trabalho, que teve apoio da Fapesp, foi investigar mais a fundo essa relação, considerando a variedade de comportamentos relacionados.

Durante o estudo, os pesquisadores analisaram dados de 426 pessoas das cidades de São Paulo e Londrina com asma moderada a grave. Foram incluídas avaliações de atividade física e tempo de sedentarismo (actigrafia), de controle clínico da asma (Asthma Control Questionnaire – ACQ) e de qualidade de vida (Asthma Quality of Life Questionnaire). Também foram investigados sintomas de ansiedade e depressão (Hospital Anxiety and Depression Scale) e dados antropométricos e de função pulmonar. Os participantes foram divididos em quatro grupos: ativo/sedentário, ativo/não sedentário, inativo/sedentário e inativo/não sedentário.

“Observamos que, quanto mais atividade física a pessoa com asma realiza, melhor é o controle de sua doença”, conta Fabiano Francisco de Lima, pesquisador da FMUSP e primeiro autor do trabalho. Mais especificamente, quem caminhava pelo menos 7.500 passos durante o dia apresentou melhores pontuações na avaliação de controle clínico da doença, independentemente de também apresentar comportamento sedentário – aliás, tempo sedentário e obesidade não apresentaram correlação com a redução de sintomas. Verificou-se também que isso independia de medicação e função pulmonar. A porcentagem de pacientes com asma controlada foi maior nos grupos ativo/sedentário (43,9%) e ativo/não sedentário (43,8%) do que nos grupos inativo/sedentário (25,4%) e inativo/não sedentário (23,9%).

Os resultados sugerem ainda que fatores emocionais, como ansiedade e depressão, também dificultam o controle da doença.

Novas perspectivas

Embora a prática de atividade física por pessoas com asma já seja recomendada por profissionais de saúde, o tema ainda é visto com receio por parte da população. Isso porque as pessoas com asma sofrem a contração dos músculos das vias aéreas durante as crises.

“O costume de evitar que crianças e adultos pratiquem exercícios por conta da doença precisa começar a ser quebrado”, diz Lima. “Esse estudo contribui para isso ao sugerir a caminhada, atividade simples e sem custo agregado, e vai além, ao oferecer uma espécie de ‘nota de corte’, uma indicação da quantidade real de atividade física que o paciente deveria fazer – 7.500 passos por dia.”

De acordo com o pesquisador, outra recomendação importante seria que profissionais de saúde passassem a adotar um olhar mais direcionado para sintomas de ansiedade como estratégia de controlar a asma.

Também participaram do estudo pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Fisioterapia Pulmonar da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

O artigo Physical Activity and Sedentary Behavior as Treatable Traits for Clinical Control in Moderate-to-Severe Asthma pode ser lido em: https://www.jaci-inpractice.org/article/S2213-2198(24)00274-5/abstract#%20.

*Da Agência Fapesp

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Aumento no volume de treino de força reverte perda muscular em idosos

Pesquisa com idosos saudáveis de ambos os sexos mostrou que aumentar séries de exercícios de resistência pode ser uma estratégia simples para elevar a massa muscular e a força entre os que não respondem ao treino de baixo volume

Treinos de força, como a musculação, são considerados altamente eficazes para promover ganhos de massa muscular (hipertrofia) em idosos e recuperar sua capacidade funcional, porém, nem todos respondem bem a essa atividade. Enquanto alguns apresentam aumentos expressivos de massa magra (considerados como “responsivos”) outros relatam ganhos insignificantes (“não-responsivos”).

Pesquisadores da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP demonstraram que o aumento no volume de treinamento pode mitigar a falta de resposta entre idosos. Do total de voluntários não responsivos, 80% deles responderam melhor aos treinos após a intervenção, e entre os responsivos, 47% aumentaram ainda mais a massa muscular em função dos exercícios realizados.

Os resultados desse trabalho foram publicados no artigo Resistance training volume and non responsiveness in older individual no Journal of Applied Pysiology, em fevereiro de 2024, e também fez parte de uma tese defendida na EEFE pelo educador físico Manoel Lixandrão, sob a orientação do professor Hamilton Roschel, da EEFE.

Segundo o estudo, após os 30 anos, o declínio de massa muscular acontece em torno de 3 a 8% e, depois dos 60 anos, o aumento é ainda mais drástico. “Essa condição torna as pessoas mais vulneráveis e propensas a quedas, fraturas e a outros traumas”.

Embora se saiba que a aplicação de estímulos de exercícios padronizados não resulta em respostas de ganhos de força e de massa muscular uniformes entre sujeitos distintos, os reais motivos destas diferenças ainda não são totalmente compreendidos, diz Roschel. Segundo o pesquisador, há fatores extrínsecos (a alimentação, o sono e níveis de estresse), mas existem também fatores intrínsecos (a genética e o perfil hormonal, por exemplo) que desempenham papel igualmente importante na performance do ganho de massa muscular.

Perfil dos participantes

Para a pesquisa, Lixandrão selecionou 85 voluntários maiores de 60 anos, de ambos os sexos e clinicamente saudáveis, sem histórico de diabetes tipo I ou doenças isquêmicas do miocárdio, com a pressão arterial controlada, sem lesões ou doenças músculos esqueléticas, e com índice médio de massa corporal de 26,4 (cálculo feito dividindo o peso em kg pela altura ao quadrado). Destes, 60% (51, sendo 27 homens e 24 mulheres), com média de idade de 69 anos, não respondiam adequadamente ao ganho de massa muscular, e 40% (34, sendo 14 homens e 20 mulheres), com idade média de 68 anos, respondiam melhor ao ganho de massa muscular.

Os treinos propostos foram realizados em cadeiras extensoras unilaterais, por um período de dez semanas, com duas sessões semanais. Cada uma das pernas foi aleatoriamente alocada para um dos dois modelos de treinos: um composto de uma única série com 8 a 15 repetições máximas e, o outro, por quatro séries de 8 a 15 repetições máximas. Ao longo dos treinos, os pesquisadores foram ajustando a carga executada pelos voluntários.

Antes e após as intervenções, os participantes foram submetidos a um exame de ressonância magnética do músculo quadríceps femoral (músculo da parte anterior da coxa) para quantificar as mudanças no tamanho, bem como um teste de força máximo, para avaliar os ganhos de força muscular dos membros inferiores.

Resultados

Os resultados demonstram que, embora houvesse alta variabilidade de resposta de ganho de massa muscular em idosos submetidos a treinamentos de força, essa resposta foi alterada pela manipulação do volume de treino. Após as dez semanas de exercícios, a perna que foi submetida ao segundo treino (quatro séries de 8 a 15 repetições) teve melhor resposta hipertrófica (houve maior ganho de músculos) do que a perna que executou o primeiro treino (uma série de 8 a 15 repetições).

Entre todos os indivíduos classificados como não-responsivos, aumentos no volume de treinamento promoveram ganhos adicionais tanto de massa magra (1% para quem fez o primeiro treino e 5% para quem fez o segundo) quanto de força muscular (6% para o primeiro treino e 13% para o segundo).

Segundo Lixandrão, apesar da falta de diferenças estatisticamente significantes, uma resposta semelhante foi observada também entre aqueles responsivos à intervenção. Eles tiveram ganhos adicionais de massa (5% para quem fez menos repetições e 7% para quem fez mais repetições) e de força muscular (8% para quem fez menos repetições e 12% para quem fez mais).

Quando os pesquisadores avaliaram as respostas de maneira individualizada, dos 51 idosos classificados como não-responsivos (os que apresentaram dificuldade em obter ganho de massa muscular), 80% passaram a responder melhor aos exercícios quando o volume de treinamento foi aumentado. “Esse efeito também foi observado entre os idosos que já eram responsivos. Cerca de 47% aumentaram a massa muscular em função de maior volume de treinamento.

Como recomendação, Lixandrão diz que apesar de terem identificado que volumes maiores de exercícios minimizam a baixa responsividade em idosos, o aumento da quantidade de exercício não deve ser realizado de maneira indiscriminada, pois também pode implicar em prejuízos para as pessoas. “Todo treino deve ser individualizado e acompanhado por um profissional de educação física”, avalia.

Mais informações: e-mail lixandrao@usp.br, com Manoel E. Lixandrão; e-mail hars@usp.br, com Hamilton Roschel.

*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Exercícios de baixo impacto melhoram sono e reduzem os sintomas de pessoas com asma

Pensando em melhorar a qualidade do sono de pacientes com asma, uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) estudou os efeitos de exercícios físicos de baixo impacto para pessoas nesta condição. Os resultados apontam para uma melhora na qualidade e eficiência do sono e na redução dos sintomas de asma nos participantes.

O medo de se exercitar e ficar com falta de ar, o sobrepeso, a respiração oral, alergias e sintomas noturnos explicam por que pessoas asmáticas possuem tendência para problemas do sono. Entre as maiores dificuldades nessa população estão o tempo prolongado para adormecer e o baixo aproveitamento do sono, com despertares durante a noite e sonolência durante o dia.

Levando em conta esses fatores, “a pergunta que a pesquisa fez foi: será que algum aspecto da rotina, mais leve e mais factível, como aumentar a atividade física, poderia melhorar a qualidade do sono?”, diz Celso Carvalho, professor do Laboratório de Fisioterapia e Fisiologia do Exercício da FMUSP. Segundo o pesquisador, pessoas asmáticas evitam fazer exercícios físicos pois, feitos de forma inadequada, desencadeiam o fechamento da via aérea e falta de ar. No entanto a pesquisa, publicada na European Respiratory Journal, mostrou os benefícios de uma rotina de atividade física feita de forma adequada em pessoas asmáticas, sem obstruir as vias aéreas.

O estudo acompanhou por oito semanas dois grupos de pacientes asmáticos, com graus moderado e grave. Os pesquisadores deram uma aula sobre a patologia, a importância de exercícios físicos e controle de limpeza ambiental para todos os participantes e em seguida os separaram em grupo controle — aqueles que não fariam atividade física — e grupo intervenção.

As tarefas propostas para o grupo que passou por intervenção eram exercícios físicos simples, como caminhar mais, descer do ônibus um ponto antes, usar a escada ao invés do elevador. Os números de passos diários foram monitorados com um relógio distribuído aos pacientes, o que possibilitou a análise da evolução individual. Os voluntários também descreveram, semanalmente, os sintomas de asma que tiveram durante a pesquisa.

“Observamos que a qualidade de vida deles melhorou em relação, por exemplo, aos sintomas de ansiedade, houve a diminuição do tempo de latência desses pacientes, então eles conseguiram dormir mais rápido, e melhorou a qualidade do sono deles”, diz Natália Febrini, uma das autoras do estudo.

“Todos eles melhoraram de alguma maneira. Quem dormia muito mal passou a ter alguns pequenos problemas, e quem tinha alguns pequenos problemas deixou de ter problemas para dormir.” Celso Carvalho

Também houve diminuição de todos os sintomas de asma dos pacientes. “Quando a pessoa asmática faz exercício físico, melhora a inflamação das vias aéreas e diminui a hiper-reatividade [resposta exagerada a estímulos], o que possibilita o melhor controle clínico da asma”, explica Carvalho. Mas os pesquisadores ressaltam que os resultados não significam que a atividade física cure a doença ou que substitua a medicação — o próprio estudo não cortou os remédios usados pelos pacientes —, e sim, funciona como um adicional para o tratamento e melhoria da qualidade de vida.

Além do aumento da aptidão física, o exercício gasta energia e o organismo tende a compensar isso durante a noite; também o aquecimento do corpo produzido pela atividade embala um sono mais bem aproveitado. Até mesmo para pessoas não asmáticas, implementar exercícios físicos de baixo impacto já produz resultados positivos na saúde dos indivíduos. “Após exercício físico, o organismo sempre ativa o sistema nervoso parassimpático, envolvido na diminuição da frequência cardíaca, e isso provoca a tendência de dormir mais rápido.”

A parte educacional do estudo também fez diferença no dia a dia dos dois grupos. Segundo os pesquisadores, alguns dos participantes da pesquisa não entendiam direito o que era asma ou sobre as reações alérgicas a cheiros comuns, como cigarro ou produtos de limpeza, que eram derivados da patologia. Ao entender melhor sobre a doença e a importância de exercícios físicos, os pacientes podem melhorar a qualidade de vida.

“É uma doença sem cura, mas é possível ter uma vida completamente normal. É necessário entender que a doença é algo que vai te acompanhar, mas que não deve te limitar a viver.” Natália Febrini

Mais informações: e-mail natalia.passos@fm.usp.br, com Natália Febrini.

FONTE: Jornal da USP

Saiba como funciona a memória muscular

“Quando a gente fala de memória muscular, nós estamos nos referindo a alterações que acontecem diretamente nas fibras musculares mediante o treinamento que é realizado. Se você pratica algum tipo de atividade física, as suas fibras musculares vão ser transformadas devido ao treinamento. Se você parar de realizar esse treinamento, a tendência é que suas fibras musculares se transformem novamente e voltem a ser parecidas com aquilo que elas eram antes. Entretanto, se você volta para um período de treinamento, elas, por já terem tido uma experiência prévia, têm uma facilidade de ganhar novamente aquela transformação inicial porque elas guardam essa memória de alguma vez já terem sido transformadas”, explica a fisioterapeuta Andrea Peterson Zomignani, doutora em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da USP.

Essa explicação é tida, no senso comum, como a ideia do que é a memória muscular: a modificação nos músculos que faz lembrar de como realizar aquele movimento. Entretanto, Andrea acrescenta que ela é muito mais do que isso: “Para que um movimento se torne automático, ele precisa ser executado repetidas vezes sob vários contextos. O indivíduo tem que registrar os erros que aconteceram para que o sistema nervoso registre as sequências de neurônios que tiveram mais sucessos para que esse movimento acontecesse. Então, quando eu realizo um movimento pela primeira vez ou nas primeiras vezes, eu tenho uma exigência bastante grande de várias áreas do meu sistema nervoso. A partir disso são ativadas áreas do meu cérebro, do meu córtex cerebral, relacionadas a essa intenção e elas conversam com outras áreas solicitando alguma ajuda para que esse movimento seja planejado”.

Processo da memória muscular

Por mais que a modificação das fibras musculares seja importante para o movimento automatizado, é o sistema nervoso e os seus componentes que estão nos bastidores. “É uma memória que, embora aja no sentido de causar contrações musculares, ela é guardada dentro do sistema nervoso e esses músculos só são acionados porque o sistema nervoso é capaz de gerenciar essa ativação muscular numa determinada ordem. Estamos falando da automatização de movimentos”, diz a fisioterapeuta.

Os núcleos da base, conforme Andrea, são fundamentais na automatização. Eles são estruturas encontradas na substância branca do cérebro e têm a função de modular os movimentos do corpo: “Uma das áreas que são solicitadas para que haja o sequenciamento ideal para esse movimento são os núcleos da base. Eles vão ser recrutados para que o planejamento adequado e, principalmente, a iniciação do movimento aconteça. Eles processam a informação que chegou até eles e devolvem essa ‘receita’ de como o movimento deve ser realizado para o córtex cerebral que vai fazer a conexão com as áreas de execução do movimento. A ordem que essas áreas são ativadas é muito importante para que o movimento aconteça da maneira correta e para que o indivíduo tenha sucesso na ação que ele vai realizar”.

Entretanto, eles não estão sozinhos e se juntam aos engramas. “Para que o movimento automático aconteça, o sistema nervoso, especialmente a região dos núcleos da base, participa bastante desse processo de construção do que a gente chama de engramas. Eles são sequências de ativação de redes neurais que ativarão, consequentemente, determinados músculos para que uma ação motora aconteça. Então, a construção desses engramas é essencial para que a gente consiga automatizar essas atividades que fazem parte da nossa rotina”, explica Andrea.

Exemplos de memória muscular

Tudo isso é realizado para destinar a consciência para problemas mais importantes enquanto o corpo realiza a ação motora automatizada, além de economizar energia, já que uma sequência nervosa mais rápida será escolhida para o movimento em questão: “O nosso processamento consciente tem um gasto energético bastante grande e a nossa consciência precisa estar direcionada a algumas ações específicas, que muitas vezes não estão relacionadas ao movimento”, diz a especialista.

Por exemplo, é comum se distrair e pegar um caminho corriqueiro quando se dirige, já que, provavelmente, os pensamentos estavam destinados a outros assuntos. “Isso que a gente chama de realizar ações sem um processamento consciente é como se o nosso sistema nervoso, com as repetições, fosse fazendo uma depuração do ato motor, retirando conexões que não são importantes para a execução daquela determinada tarefa”, completa a especialista.

“Quando a gente fala da capacidade de andar, a gente tem algumas regiões do sistema nervoso envolvidas. Esse movimento de mexer os membros inferiores precisa estar mais automatizado, porque os meus níveis superiores de consciência precisam estar preocupados com outras ações que não o movimento das minhas pernas. Então, a minha atenção, por exemplo, precisa estar direcionada para o objetivo daquela marcha: para onde eu estou indo, qual velocidade eu preciso ter na minha marcha, qual o horário – eu estou em cima da hora, eu estou atrasada ou não?; eu estou entrando no prédio do meu trabalho, qual é o andar que eu trabalho? Ou seja, as áreas do meu sistema nervoso ligadas a esse processamento mais consciente estão como que ocupadas com outras funções: elas estão preocupadas com o contexto, mas não são a ação motora de fato”, acrescenta a fisioterapeuta.

FONTE: Jornal da USP

Exercício físico bloqueia entrada de substâncias nocivas no cérebro

Pesquisas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP mostram que, em pessoas hipertensas ou com insuficiência cardíaca, o exercício físico aeróbico é capaz de prevenir danos na barreira hematoencefálica, melhorando o fluxo sanguíneo.

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP receberam diversos prêmios ao encontrar, em um simples e antigo hábito, uma solução para melhorar o controle da hipertensão arterial. Em estudos com ratos, foi observado que o exercício físico aeróbico é capaz de corrigir a disfunção da barreira hematoencefálica, tanto na hipertensão crônica como na insuficiência cardíaca, restaurando o fluxo sanguíneo do cérebro mesmo na persistência da doença.

A barreira hematoencefálica é uma estrutura que tem a função de regular o transporte de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso central, barrando a entrada de substâncias tóxicas e de hormônios plasmáticos em excesso. Esses hormônios, quando em excesso, são capazes de ativar neurônios que estão envolvidos na regulação do sistema cardiovascular, levando à disfunção autonômica e ao desequilíbrio da circulação sanguínea. Isso facilita o aparecimento de lesões em órgãos-alvo, podendo comprometer coração, cérebro, rim, entre outros órgãos.

“Além de corrigir o controle autonômico da circulação, o treinamento aeróbico também contribui para reduzir de 10% a 15% os níveis da pressão arterial nos hipertensos”, afirma Lisete Compagno Michelini, coordenadora do Laboratório de Fisiologia Cardiovascular, responsável pelos estudos.

Filtro de substâncias

Encontrada nos capilares cerebrais por onde o sangue circula, a barreira hematoencefálica é composta de células endoteliais intimamente ligadas umas às outras por junções, que limitam a passagem de substâncias hidrossolúveis (solúveis em água). Não há limite para a passagem de substância lipossolúveis, como oxigênio e gás carbônico, através da célula endotelial. O problema são as macromoléculas.

“Em indivíduos saudáveis, a passagem de macromoléculas, como substâncias tóxicas e hormônios plasmáticos, feita através de vesículas sanguíneas, é bastante limitada. No entanto, observamos que em hipertensos e portadores de insuficiência cardíaca há um aumento expressivo no número dessas vesículas em áreas autonômicas, o que eleva a permeabilidade da barreira hematoencefálica. Por outro lado, observamos que o treinamento aeróbico reduziu em muito a formação dessas vesículas, além de normalizar a permeabilidade da barreira hematoencefálica”, explica.

Segundo Michelini, já se sabia que em casos de acidente vascular cerebral (AVC), traumas e doenças neurodegenerativas a integridade da barreira era comprometida pela quebra das junções oclusivas, o que permitia livre acesso das substâncias. “Em nossos experimentos, observamos que na hipertensão e insuficiência cardíaca não há quebra em áreas de controle cardiovascular, mas sim, aumento da permeabilidade por facilitação do transporte das vesículas, o que pode ser prontamente corrigido pelo treinamento aeróbico”, destaca.

As descobertas feitas pela equipe reforçam a importância do treinamento físico para a melhora do controle autonômico da circulação, pois além de ser um importante aliado no tratamento farmacológico dessas patologias, possibilita a diminuição da quantidade necessária de medicamentos e, consequentemente, há menos efeitos colaterais. “O exercício físico, assim como diferentes fármacos, favorece a vasodilatação vascular, ajuda a balancear desvios do sistema renina-angiotensina, responsável por regular a pressão arterial, e melhora o controle autonômico da circulação”, afirma.

Os estudos foram realizados no âmbito do projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) Barreira Hematoencefálica – Um novo paradigma no tratamento da Hipertensão e foram publicados em periódicos de circulação internacional (veja abaixo). Outros estudos estão em fase de revisão por pares ou em fase de conclusão.

Desde que teve início, em junho de 2019, o projeto já recebeu, por meio de estudos vinculados a ele, seis premiações nacionais e internacionais, como o título de melhor trabalho publicado recentemente em seleção da Sociedade Americana de Fisiologia; o prêmio de pesquisadora revelação da International Society of Hypertension, concedido à pós-doutoranda Hiviny de Ataídes Raquel; e o 3º lugar no prêmio Álvaro Ozório de Almeida da Sociedade Brasileira de Fisiologia 2022 concedido à mestranda Sany Martins Pérego.

O projeto temático tem vigência até maio de 2024. O grupo segue estudando o funcionamento da barreira hematoencefálica, agora com o objetivo de avaliar se o transporte vesicular aumentado na hipertensão e insuficiência cardíaca, mas reduzido em ambas as situações pelo treinamento aeróbio, são mediados pela disponibilidade do hormônio angiotensina II e/ou de citocinas pró-inflamatórias. O grupo irá ainda verificar se os resultados obtidos na hipertensão primária, de origem neurogênica, são também aplicáveis à hipertensão secundária, ou seja, derivada de uma outra condição.

Texto: Redação
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Evitar o sedentarismo é fundamental na prevenção do câncer

Ajustes no estilo de vida podem ser um dos mecanismos para a prevenção do câncer. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença ocasiona uma a cada seis mortes no mundo. Dessas, algumas poderiam ser evitadas a partir de pequenas mudanças de hábitos e outros mecanismos, como a vacinação contra o HPV, uma alimentação equilibrada e, principalmente, com a prática de atividades físicas.

Em um breve levantamento feito pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Ministério da Saúde estabelece uma cartilha com orientações com quatro tópicos principais. Evitar o sedentarismo é ponto fundamental na prevenção de diversos tipos de câncer. A professora Patrícia Chakur Brum, titular da Faculdade de Educação Física e Esporte da USP, explica que é justamente o condicionamento corporal ocasionado pela prática esportiva, associado a outros hábitos saudáveis, o principal aliado na prevenção e diminuição das chances de se contrair a doença.

Para isso, são indicados entre 150 a 300 minutos de atividades por semana, alternando exercícios que combinem atividades de deslocamento e atividades de resistência: “As atividades físicas têm se mostrado muito eficientes. Então, é importante que elas sejam incorporadas como um hábito na rotina das pessoas”, adiciona a professora. Ela também salienta que a combinação a demais fatores, como diminuição do tabagismo e do consumo de álcool, alimentação equilibrada, redução do estresse e da ansiedade são fortes aliados às práticas esportivas na prevenção do câncer.

Os exercícios sugeridos pela professora envolvem a movimentação do corpo, atividades aeróbicas e de resistência muscular. Independentemente da intensidade ou nível de dificuldade desses exercícios, “o ideal é que as atividades sejam prazerosas”, destaca a professora.

Na reabilitação e reincidência 

Há evidências de que a proteção por meio da atividade física seja mais efetiva entre os cânceres de bexiga, cólon, endométrio, esôfago, estômago, rins e mama. Este último tipo foi objeto de estudo da professora, que também acompanha o Projeto Remama (Remo para Reabilitação pós-Câncer de Mama) da USP. Nele, Patrícia acompanha de perto os efeitos da prática do remo em ex-pacientes que passam por uma reabilitação fisiátrica, sob observação de profissionais da educação física.

Este é um exemplo do uso de práticas esportivas na reabilitação do câncer, mas Patrícia também ressalta a importância destas para evitar a reincidência da doença. Para isso, é preciso que “os pacientes sejam liberados pelos oncologistas para a prática, porque, além de ajudar com os efeitos colaterais do tratamento, ela ajuda a prevenir a reincidência da doença”, complementa Patrícia, ao deixar claro que os exercícios são fundamentais não apenas para a prevenção como nas etapas posteriores à doença.

Por Fernanda Real

FONTE: Jornal da USP

Atividade física preserva cognição durante envelhecimento

Estudo comparou cérebro de idosos ativos e inativos, detectando maior volume em 48 áreas e estruturas entre aqueles que acumularam tempo igual ou superior a 150 minutos de atividade física por semana.

O processo de envelhecimento é acompanhado por uma redução fisiológica do volume cerebral total. A atrofia cerebral, como também é chamada, é uma expressão usada para descrever a perda de tecido do cérebro que ocorre em todas as pessoas como parte natural do processo de envelhecimento, porém, essa condição também pode estar relacionada a problemas cognitivos e doenças neurológicas quando a perda é maior do que a esperada para a idade. Em geral, a diminuição neste volume é um marcador de referência para avaliação da saúde cognitiva em pessoas mais velhas.

Além de melhorar a capacidade cardiorrespiratória, promover o fortalecimento muscular e prevenir doenças associadas ao sedentarismo, a prática regular de atividade física faz bem ao cérebro de idosos. Uma pesquisa da USP feita com 45 pessoas recrutadas na rede básica de saúde, com idade entre 60 e 65 anos, mostrou que aqueles que se mantinham ativos apresentaram maior volume cerebral (considerada uma característica positiva para efeitos cognitivos) em comparação aos sedentários. Das 71 áreas cerebrais analisadas, houve diferença significativa no volume intracraniano em 48 áreas/estruturas entre os que, durante suas rotinas diárias, acumularam tempo igual ou maior que 150 minutos de atividade física por semana quando comparados àqueles que acumularam menos de 150 minutos. Uma das áreas impactadas foi o lobo frontal, responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção. A diferença dessa região foi em torno de 8%.

Os pesquisadores descobriram, também, que a aptidão cardiorrespiratória (ACR) é um preditor significativo dos volumes de, respectivamente, todo o cérebro, lobo frontal, lobo temporal, cerebelo e substância cinzenta cortical. A ACR mede como seu corpo absorve oxigênio e o distribui aos músculos e órgãos durante períodos prolongados de exercício. Quanto maior o nível de ACR, menor será o risco de desenvolver uma variedade de patologias, tais como doença cardiovascular e certos tipos de câncer.

“Quando a redução do volume cerebral é maior que o esperado para a idade, esta condição está associada à perda cognitiva e à demência”, explica ao Jornal da USP Lucas Melo Neves, autor da pesquisa de doutorado defendida na EEFE. “O auge do desempenho biológico do cérebro acontece por volta dos 20/30 anos mas, aos 60, as pessoas já tiveram redução significativa do cérebro. A partir dos 60 anos, a cada década, há uma redução em torno de 5% do volume cerebral”, diz.

Carlos Ugrinowitsch, orientador da pesquisa e professor do Laboratório de Adaptação ao Treinamento de Força, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, explica que outros trabalhos científicos já haviam mostrado a importância da atividade física para evitar a atrofia cerebral, porém, a pesquisa atual expandiu esse conhecimento. “Com auxílio de novas tecnologias e equipamentos mais precisos – a ressonância magnética, por exemplo – foi possível mapear todas as estruturas do encéfalo e verificar efeitos positivos generalizados da atividade física na preservação do volume de mais de 30 estruturas cerebrais”, diz.

O trabalho foi descrito no artigo Objective physical activity accumulation and brain volume in older adults: An MRI and whole brain volume study publicado na The Journals Gerontology em julho de 2022.

Aumento do volume cerebral está ligado à saúde cognitiva

Um maior volume cerebral está associado a um melhor desempenho cognitivo, ou seja, processamento de informações, raciocínio, atenção e memória. A medição da massa encefálica é feita em centímetro cúbicos, porque trata-se de uma medida dos exames de ressonância magnética, um dos instrumentos utilizados para estimar o volume do cérebro e diagnosticar problemas de cognição e doenças como o Alzheimer e acidente vascular cerebral (AVC).

O termo massa cerebral é evitado porque diz respeito ao peso, que só poderia ser obtido retirando a caixa craniana e a colocando em uma balança.

Estudos anteriores já mostraram que diminuições de até 30% no fluxo sanguíneo cerebral em adultos de meia-idade até a idade avançada parecem estar correlacionadas com a atrofia cerebral. A redução do fluxo sanguíneo no cérebro limita a disponibilidade de oxigênio e aumenta o estresse oxidativo e a inflamação nos neurônios, que estão relacionados à morte dos neurônios e diminuição de sinapses (região responsável por realizar a comunicação entre dois ou mais neurônios). Além disso, fatores de risco relacionados à saúde, como condições mentais (por exemplo, transtorno depressivo maior, comprometimento cognitivo leve e demência), obesidade e outras doenças não transmissíveis, parecem exacerbar a perda neuronal, a atrofia cerebral e o declínio cognitivo em ambos os sexos entre adultos de meia idade e idosos.

Foi com base nessas informações que os pesquisadores levantaram a hipótese para delinear o estudo: idosos que acumulam 150 minutos ou mais de atividade física por semana devem ter um volume maior das áreas e estruturas cerebrais avaliadas do que seus colegas que acumulam menos de 150 minutos de atividade física por semana; além disso, a aptidão cardiorrespiratória deve estar positivamente associada ao volume cerebral.

“Até onde sabemos”, escrevem os autores, “não está claro como todas as áreas cerebrais que apresentaram maior volume afetam as atividades diárias dos idosos. No entanto, uma revisão recente sugeriu que a diminuição do volume de várias áreas e estruturas cerebrais está relacionada ao deslocamento do equilíbrio, pois o equilíbrio é uma habilidade que ativa a maioria das áreas e estruturas cerebrais.”

“Os resultados da pesquisa da USP sugerem que o tempo de prática de atividade física seja uma ferramenta importante para mitigar o declínio do volume cerebral e para preservar a cognição durante o processo de envelhecimento, relata Ugrinowitsch ao Jornal da USP . O exercício físico regular aumenta o fluxo sanguíneo para a cabeça e estimula o crescimento de novas células cerebrais e as conexões entre elas, resultando  em cérebros mais eficientes, maleáveis e adaptáveis, explica o estudo.

A pesquisa

Os 45 voluntários, divididos em dois grupos – sedentários e ativos – eram compostos por 38 mulheres e 7 homens. Eles foram recrutados em Unidades Básicas de Saúde (UBS), na região do Campo Limpo, na Capital paulista, e um dos critérios estabelecidos pela pesquisa foi que eles não poderiam ter participado nos últimos seis meses de nenhum programa estruturado de atividade física. Em ambos os grupos – tanto no de ativos quanto no de sedentários – algumas pessoas tinham diabetes, eram hipertensas, fumantes ou com glicemia elevada.

Neves explica a diferença entre exercício físico e atividade física. A primeira categoria se trata de atividade planejada, estruturada e acompanhada ou não por um profissional de educação física. Exemplos: musculação, natação, hidroginástica, pular corda, ginástica localizada, etc. A segunda, é qualquer movimento corporal que resulte em gasto energético (situação em que se encaixavam os idosos ativos da pesquisa). Por exemplo, varrer a casa, cuidar do jardim, subir ou descer escadas, levar o cachorro para passear, caminhar para pegar transporte público, entre outros.

Para comparar o volume das áreas e estruturas cerebrais, os pesquisadores utilizaram um acelerômetro, um dispositivo fixado à cintura dos voluntários, que registrava os níveis de atividade física realizados durante sete dias, por, no mínimo, dez horas diárias. Os participantes foram divididos em dois grupos: um ativo, com 25 pessoas, que durante suas rotinas diárias na semana acumulavam igual ou mais de 150 minutos de tempo de prática de atividade física; e outro sedentário, com 20 pessoas, que acumularam menos de 150 minutos de atividade física semanal. Lembrando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que, para manter-se saudável, um idoso deve praticar, por semana, de 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de exercícios intensos.

Após uma semana, os voluntários foram submetidos a exames de ressonância magnética dos cérebros para obter imagens 3D de alta resolução das áreas e estruturas avaliadas. Os resultados apurados mostraram que os idosos que estavam no grupo de ativos apresentaram volume maiores em 39 áreas e nove estruturas cerebrais quando comparados aos sedentários. As áreas que apresentaram maior volume foram: encéfalo total (7%), lobo frontal (8%), lobo temporal (10%), lobo parietal (9%), lobo occipital (9,5%) e substância cinzenta cortical (9%). As estruturas com maior diferença percentual foram o cortex entorrinal (12,5%), parahipocampo (16%), hipocampo (8%) e lingual (10%).

Limitações

No artigo, são citadas algumas limitações do estudo, como o número modesto de idosos avaliados e a inexistência de coleta de informações relacionadas a fatores sociais, ambientais, culturais e comportamentais que influenciam ações e experiências individuais.

A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Mais informações: e-mail ugrinowi@usp.br, com Carlos Ugrinowitsch, e e-mail lucasmeloneves@uol.com.br, com Lucas Melo Neves

Por Ivanir Ferreira

Fonte: Jornal da USP

Condições hormonais de atletas mulheres e as lesões no joelho

Lesões no joelho do Ligamento Cruzado Anterior é a causa mais comum de cirurgias no meio esportivo e afeta três vezes mais as mulheres que os homens.

Causa mais comum de cirurgias em atletas, a lesão do Ligamento Cruzado Anterior (LCA), que ocorre nos joelhos, afeta muito mais as mulheres que os homens; o risco dessas lesões chega a ser três vezes maior no sexo feminino, segundo o professor Fabricio Fogagnolo, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e especialista em cirurgia do joelho e trauma ortopédico. “Entre os esportes em que o LCA é mais frequente estão futebol, basquete, vôlei, handebol e lutas”, afirma o professor.

Segundo Bruno Luiz de Souza Bedo, educador físico e especialista em reabilitação e desempenho funcional pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o sexo feminino é mais suscetível à lesão que os homens pelas características anatômicas, as diferenças na mecânica dos movimentos, no controle muscular e também nas condições hormonais. “O espaço intercondilar, conhecido como fossa intercondilar e onde fica o LCA, é classificado quanto ao formato cônico, circular e retangular. O que se vê nas lesões sugere que a largura da base da fossa e a largura do côndilo lateral, que é uma das duas projeções na extremidade inferior do fêmur, seriam fatores de risco importantes porque este espaço é menor nas mulheres em relação aos homens e, sendo mais estreito, limita a mobilidade de articulação durante os movimentos de torção, o que favorece o impacto entre o ligamento e a estrutura óssea ao redor do joelho, aumentando o estresse imposto no ligamento”, adianta.

Outro fator que faz com que as mulheres sejam mais suscetíveis à lesão do LCA é que o quadril no corpo feminino é mais largo que na estrutura óssea do corpo masculino. “Isso afeta o alinhamento dos joelhos e toda a musculatura do quadril e do próprio joelho, o que aumenta a carga imposta na articulação”, afirma o educador físico.

Quanto aos fatores hormonais, o ciclo menstrual merece ser destacado. Os hormônios que regulam o ciclo não alteram apenas o aparelho reprodutor, mas também diversas estruturas do corpo. O ciclo hormonal afeta o ligamento cruzado anterior, principalmente na fase pré-ovulatória. “Ou seja, a mulher, a atleta que está realizando uma prática esportiva tem o maior risco de se lesionar durante a primeira metade do ciclo menstrual”, ressalta Bedo.

Ainda segundo Bedo, existem também fatores neuromusculares. Um dos principais fatores, que aumentam a incidência de lesões em mulheres quando comparada aos homens é o desgaste ou a resistência à fadiga. “As mulheres sofrem mais com a fadiga muscular e isso faz com que seja mais comum a existência do valgo, quando o joelho está desalinhado e voltado para dentro e se torna um dos principais mecanismos de lesão do ligamento cruzado anterior”.

As lesões no joelho

Fogagnolo afirma que o ligamento cruzado anterior é muito importante, principalmente para a prática esportiva. O LCA “fica no centro do joelho e limita o deslocamento anterior da tíbia em relação ao fêmur, impedindo que a tíbia vá para a frente. Esse ligamento é importante restritor também dos movimentos rotacionais da tíbia em relação ao fêmur, particularmente da rotação interna da região mais lateral da tíbia em relação ao fêmur”, explica.

Nos esportes que envolvem mudanças rápidas de direção como os dribles, comuns no futebol, no handebol e no basquete, os atletas ficam mais expostos à lesão do LCA. “A lesão acontece justamente com esses movimentos mais súbitos e a ocorrência se dá 70% no pé de apoio, quando o atleta vai fazer uma mudança rápida de direção. Mas o movimento mais comum, sem dúvida, é o desvio do joelho para dentro, quando os dois joelhos apontam um para o outro, combinado com o movimento de rotação da tíbia”, informa o professor Fogagnolo, assegurando ser mais comum a lesão ocorrer quando o atleta está sozinho, contrariando o que muitos acreditam, que a lesão no LCA é resultado de colisão com o oponente.

Cirurgia e fortalecimento muscular

A recuperação da lesão nas mulheres e nos homens é praticamente a mesma. “O retorno às atividades esportivas se dá por volta de oito a dez meses após a cirurgia”, garante Fogagnolo. “Nos esportes que envolvem mudanças rápidas de direção e que são extremamente competitivos, a recomendação é fazer um protocolo de fisioterapia bastante adequado, com treinamento de fortalecimento para um retorno mais seguro às atividades”, alerta.

Saber se prevenir é fundamental. Fogagnolo recomenda que os atletas profissionais ou amadores procurem um ortopedista ou fisioterapeuta para o fortalecimento adequado da musculatura. Já os fatores de risco para a lesão, segundo Bedo, se dividem em intrínsecos e extrínsecos. Nos fatores intrínsecos, os riscos dependem inteiramente do atleta e seus desequilíbrios musculares, restrição articular, por exemplo. Já nos fatores extrínsecos, os riscos aparecem na carga de treino, no tipo de grama ou de quadra, no tipo de tênis ou chuteira que o atleta usa.

De toda forma, os números das lesões em mulheres assustam. Para se ter uma ideia, durante a preparação para a Copa do Mundo de Futebol Feminino, na França, em 2019, nada menos do que 17 das 39 jogadoras da seleção feminina do Brasil já haviam sofrido esse tipo de lesão. E quatro atletas já tinham se lesionado, inclusive, nos dois joelhos.

A maior jogadora brasileira de todos os tempos, Marta, teve a lesão no joelho esquerdo aos 36 anos, no fim de março deste ano, ficando de fora da Copa América. Outra atleta, Catarina Macario, brasileira naturalizada norte-americana, sofreu a mesma lesão em junho. A alemã Dzsenifer Marozsán fez a cirurgia em maio e a espanhola Alexia Putellas sofreu a lesão em julho, poucos dias antes do início da Eurocopa.

Por Rubens Avelar

FONTE: Jornal da USP

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Frequência de atividades físicas pode ser mais importante do que quantidade

Em um estudo publicado no periódico Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports, cientistas da Universidade Edith Cowan, na Austrália, em parceria com duas universidades japonesas, indicaram que atividades físicas de intensidade moderada, se praticadas diariamente, podem ser benéficas para a força muscular.

Durante o trabalho, pesquisadores analisaram três grupos de participantes. Ao longo de quatro semanas, foram realizados exercícios de resistência do braço em contração excêntrica, ou seja, quando o músculo está se alongando; nesse caso, abaixando um haltere pesado em uma rosca direta. “Um grupo fez 30 contrações em único dia na semana e outro fez as mesmas contrações cinco vezes na semana. Eles observaram que aqueles que dividiram essas contrações ao longo da semana, além do aumento da espessura, tiveram um aumento da força muscular em torno de 10%”, explica Tiago Fernandes, professor e pesquisador da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

Profissional com enfoque em bioquímica e biologia molecular do exercício, Fernandes esclarece que os músculos precisam de descanso para melhorar sua força e sua massa muscular. Por isso, é necessário adotar intervalos entre as atividades físicas para que elas sejam eficazes, pautando-se nos princípios do treinamento físico. “Se a gente fizer todas as repetições uma única vez na semana, o nosso sistema não entende que aquela adaptação vai promover feitos funcionais no nosso organismo. Então, geralmente faz-se um estímulo no organismo numa forma sistêmica. Isso é atrelado a um período de recuperação em que o sistema consegue recuperar, em média de 24 a 48 horas, para gerar um novo estímulo”, aponta.

O pesquisador destaca também que pesquisas como essa são necessárias para compreendermos a importância dos exercícios como fator diretamente relacionado à melhoria da nossa saúde e qualidade de vida. “O exercício físico, realizado ao longo dos anos, é capaz de reduzir diversas condições de doenças, índices de obesidade e, consequentemente, acúmulo no cômodo de gordura nas nossas principais artérias do coração, evitando a instauração de placas de ateroma, o infarto à pessoa e melhorando os níveis de diabete”, conta.

A partir dessa descoberta, será possível aprofundar as investigações relacionadas ao bem-estar e à prática de exercícios como uma atividade diária, em vez de uma meta semanal de uma vez por semana, por exemplo. “Você deve começar a se exercitar hoje, não deixe para amanhã. Qualquer tempo em movimento conta, porque movimento é vida”, conclui o professor.

Por Gabriele Koga

FONTE: Jornal da USP

24 de junho, Dia Mundial de Prevenção de Quedas

Hoje (24/06) é o Dia Mundial de Prevenção de Quedas e o assunto será discutido no Hospital Universitário (HU) da USP. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Maria Elisa Pimentel Piemonte, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina (FMUSP), informa que fraturas decorrentes de quedas são responsáveis por 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos.

Maria Elisa alerta que um indivíduo com fratura pode ficar acamado e, em função da imobilidade, passar a sofrer complicações renais e respiratórias que podem levar a óbito. Ela também informa sobre as consequências psicológicas acarretadas pela primeira queda: “Se é uma queda com injúria ou mesmo uma queda, por exemplo, num ambiente público, em que a pessoa se sinta muito constrangida, ela desencadeia o que se chama Síndrome do Medo de Cair. A pessoa começa a se autorrestringir por causa do medo de cair”.

Possíveis riscos

Segundo a professora, os riscos de queda são divididos conforme a funcionalidade do idoso. Os idosos saudáveis, normalmente, caem por problema ambientais, como irregularidades no piso e tapetes escorregadios. Mas também há outras condições, como fraqueza muscular, tontura, vertigem e uso de vários fármacos. “Sedativos, ansiolíticos e remédios para dormir, tudo isso aumenta o risco de queda. E a gente não pode esquecer também que, ao lado do declínio físico, há o declínio cognitivo”, reitera Maria Elisa. Ela completa: ”Por exemplo, a atenção está relacionada com o aumento de risco de queda, e um estudo mostra que testes cognitivos podem prever o risco até cinco anos antes da primeira queda”.

A especialista ainda fala sobre a influência do sexo nessa questão. De acordo com ela, mulheres caem mais que homens, devido às alterações hormonais da menopausa. Assim, pessoas do sexo feminino possuem um declínio mais abrupto no sistema motor.

Prevenção 

Ao contrário do senso comum, idosos com escadas em casa caem menos que aqueles que não as têm, pois as escadas auxiliam no exercício diário e no fortalecimento dos músculos nos idosos que as utilizam regularmente. Como a fraqueza muscular em função da idade afeta o equilíbrio e ocasiona quedas, exercícios físicos são uma forma de preveni-las.

A indicação da professora são exercícios variados, os quais combinam força, elasticidade, coordenação e equilíbrio. Ela reforça que as atividades precisam ser de longa duração: “Não é uma coisa para curto prazo. Não adianta esperar que você vai começar a fazer esse exercício e daqui um mês vai notar efeito. Tem que descobrir alguma coisa que você faça com prazer para que isso perdure bastante”.

No Dia Mundial de Prevenção de Quedas, às 9h, o anfiteatro do HU avaliará o risco de queda em pacientes de toda a comunidade. Serão dois testes motores rápidos para que qualquer pessoa possa identificar seu risco. Para saber mais, acesse www.hu.usp.br.

FONTE: Jornal da USP