Treinamento de equilíbrio pode minimizar sintoma do Parkinson e risco de quedas

Pesquisa testou dois métodos de treinamento com pacientes de Parkinson e constatou melhora no congelamento de marcha, que é a perda repentina na capacidade de locomoção

Um dos sintomas ocasionados pela Doença de Parkinson é o chamado congelamento de marcha, que faz com que os indivíduos percam, de maneira repentina e temporária, a capacidade de mover as pernas para se locomover, tornando-os mais suscetíveis a quedas. Uma das principais maneiras de minimizar o sintoma é por meio de  medicamentos, mas estudos realizados pelo Laboratório de Sistemas Motores Humanos da Escola de Educação e Esporte (EEFE) da USP mostraram que o treinamento por meio de perturbações do equilíbrio corporal pode ser um grande aliado do tratamento.

Uma pesquisa conduzida por Caroline Ribeiro de Souza, com orientação do professor Luis Augusto Teixeira, testou dois métodos de treinamento em portadores da doença de Parkinson acometidos pelo congelamento de marcha. Ao final do estudo, os participantes notaram uma redução na ocorrência do sintoma e maior controle do equilíbrio, o que ajudou a diminuir o risco de quedas.

Treinamento de equilíbrio X resistência muscular

A pesquisa teve participação de 19 voluntários, pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A seleção foi feita seguindo alguns critérios, como não possuir distúrbios além daqueles oriundos da doença de Parkinson e nem ter alteração na dosagem do medicamento utilizado para tratar a doença durante a realização do estudo.

Os participantes foram divididos em dois grupos. No primeiro, com nove pessoas, foi realizado treinamento de equilíbrio baseado em perturbações. Este treinamento foi realizado por meio de uma plataforma móvel que se deslocava da esquerda para direita (movimento de translação) e inclinava-se (movimento de rotação). Os participantes realizaram os exercícios em posições que direcionaram a perturbação para o eixo anteroposterior (região anterior e posterior do corpo) e mediolateral (do centro do corpo para esquerda ou direita, na horizontal).

As perturbações eram realizadas em oito blocos com 16 movimentos diferentes cada, tendo a dificuldade aumentado progressivamente a cada sessão. Os participantes experimentaram 128 movimentos na plataforma por sessão, totalizando 1.024 ao final do estudo.

Infográfico desenhado com base no estudo – Foto: EEFE-USP

Para o segundo grupo, foi aplicado um protocolo de treinamento de resistência muscular. O treinamento de resistência foi feito com exercícios realizados em máquinas de força, como supino torácico, remador, peck deck, extensão de pernas, leg press e flexão plantar na máquina leg press, com o objetivo de trabalhar os músculos dos membros superiores e inferiores.

A prática dos exercícios tanto de equilíbrio quanto de resistência foi oferecida duas vezes por semana, durante um mês, e cada sessão durava 55 minutos, envolvendo cinco minutos de caminhada, quarenta do treinamento específico – equilíbrio ou resistência – e dez minutos de relaxamento.

O treinamento de resistência foi feito com exercícios realizados em máquinas de força – Foto: Guilherme Viana

Menores chances de queda

Em momentos de instabilidade, o corpo realiza movimentos compensatórios para manter o equilíbrio e evitar uma possível queda. Um dos principais objetivos do estudo era analisar como esse mecanismo seria utilizado pelos voluntários dos dois grupos em resposta às perturbações.

Para isso, os pesquisadores examinaram os movimentos feitos pelos participantes durante testes feitos com a plataforma, aplicados aos dois grupos. Eles foram realizados antes do treinamento, 24 horas após o fim e, também, 30 dias depois. Os movimentos foram classificados de acordo com categorias pré-estabelecidas, ilustradas abaixo.

Infográfico desenhado com base no estudo – Imagem: EEFE-USP

Os resultados constataram que tanto o treinamento de equilíbrio baseado em perturbação quanto o treinamento de resistência parecem ter reduzido a ocorrência do congelamento de marcha. Contudo, os voluntários que fizeram o treinamento de equilíbrio mostraram o uso de movimentos mais estáveis como resposta às perturbações e uma redução expressiva de situações com quase-queda quando comparado ao de resistência, tendo mantido esse desempenho mesmo após um mês sem fazer os exercícios.

A pesquisa mostra a importância de pensar a prática motora, principalmente o treinamento baseado em perturbações do equilíbrio corporal, como uma forma de terapia que pode melhorar a condição de indivíduos com a doença de Parkinson.

“A persistência dos ganhos do treinamento por perturbações mostra que essa pode ser uma opção eficiente como recurso terapêutico para a prevenção de quedas no cotidiano. Outro ponto que vale destacar é o uso da análise dos movimentos compensatórios para realizar a avaliação da estabilidade postural, pois trata-se de um método fácil de ser aplicado, inclusive na prática clínica”, explicou a pesquisadora Carolina Ribeiro de Souza.

O estudo contou com a participação de Júlia Ávila de Oliveira, Patricia Sayuri Takazono, Lucas da Silva Rezende, Carla Silva-Batista e Daniel Boari Coelho. Intitulado Perturbation-based balance training leads to improved reactive postural responses in individuals with Parkinson’s disease and freezing of gait, a pesquisa foi publicada no periódico European Journal of Neuroscience e pode ser acessada por meio do link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ejn.16039

*Da Assessoria da EEFE, adaptado para o Jornal da USP
**Estagiário sob supervisão de Simone Gomes

Doença de Parkinson e a qualidade de vida

No dia 11 de abril foi celebrado o Dia Mundial da Doença de Parkinson; o distúrbio neurológico marcado pelos tremores nas mãos é comum em uma a cada mil pessoas. Ainda hoje, uma série de estigmas é associada à doença, tornando a conscientização da temática cada dia mais necessária.

“Com a doença diagnosticada e tratada adequadamente, o paciente consegue viver com ela em uma condição de vida bastante elevada”, comenta o professor Egberto Reis Barbosa, chefe do Ambulatório de Doença de Parkinson e Distúrbios do Movimento da Divisão de Neurologia Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Doença neurodegenerativa 

A doença de Parkinson é uma patologia neurodegenerativa de prevalência alta. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de quatro milhões de pessoas são afetadas por ela, o que representa cerca de 1% da população mundial a partir dos 65 anos. “À medida que o contingente de pessoas idosas aumenta, o número de pacientes com a doença de Parkinson também vai aumentando progressivamente”, explica Barbosa.

Doenças neurodegenerativas são conhecidas como proteinopatias, ou seja, uma proteína, que normalmente é produzida no cérebro, apresenta uma função na transmissão sináptica. Essa sofre uma degeneração estrutural, fator que leva à perda neuronal progressiva. “Nessa doença, o principal problema é a perda de neurônios em uma região do cérebro que se chama substância negra. Eles produzem um neurotransmissor que se chama dopamina, então, todo o arsenal terapêutico para melhorar o paciente com doença de Parkinson é baseado na reposição de dopamina”, explica o professor.

O médico também comenta que, com o tempo, a doença pode levar a uma incapacidade motora e, como não tem cura, é encarada como um desafio para a medicina. Contudo, na maioria dos casos, os pacientes que seguem o tratamento corretamente conseguem ter uma alta qualidade de vida, reforça ele. “A imagem que se tem é de uma doença muito incapacitante, mas boa parte dos pacientes evolui muito bem, mesmo a longo prazo. Há pacientes que, sob tratamento, mal se percebe que eles possuem a doença. Então, a perspectiva de vida para boa parte dos pacientes é bastante satisfatória, desde que o tratamento seja aderido corretamente.”

Sintomas e identificação 

Além dos conhecidos tremores nas mãos, a doença de Parkinson pode gerar também instabilidade postural, rigidez nas articulações, lentidão nos movimentos e outros sintomas. Porém, o professor da Faculdade de Medicina da USP diz que a maior parte dos pacientes, cerca de 80%, ainda apresenta os tremores como primeiro sintoma. Um contingente menor apresenta rigidez de membros e dificuldade de locomoção.

O diagnóstico da doença costuma ser feito durante exames clínicos: “Os casos que são apresentados com tremores levam poucos meses para serem identificados, ao passo que aqueles que não apresentam tremor podem levar anos”, adiciona Barbosa. Manifestações pré-motoras da doença também são identificadas e podem auxiliar no diagnóstico final. As mais comuns delas são a perda de olfato e o transtorno comportamental do sono. “Às vezes essas manifestações precedem em vários anos as manifestações motoras”, diz o especialista.

Como dito, a doença de Parkinson não apresenta cura, mas esse fato não impede que os pacientes tenham qualidade de vida. “Apesar da ausência de cura, os terapêuticos hoje são bastante eficazes para manter os pacientes em uma condição de vida bastante satisfatória”, comenta o professor, reforçando o combate de estigmas associados à doença.

Além disso, é interessante notar que o tratamento é uma combinação do tratamento medicamentoso (remédios) com atividades físicas regulares. Alguns dos remédios necessários para o controle da doença são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “A Levodopa, que é o principal recurso para o tratamento da doença de Parkinson, é fornecida tanto nos postos de saúde quanto pelo Programa Farmácia Popular, que vende o medicamento com descontos”, lembra Barbosa.

Fonte: Jornal da USP

Parkinson: tratamento do congelamento da marcha vai além do uso de medicamentos

Pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP indica que o uso apenas de medicamentos não é suficiente para reduzir um dos sintomas mais incapacitantes da doença de Parkinson: o congelamento da marcha. O estudo, de autoria da pesquisadora Julia Ávila de Oliveira, verificou que o levodopa, medicamento utilizado para tratamento da doença e sintomas associados, não atenuou diferenças motoras entre pessoas com e sem congelamento. O estudo foi orientado pelo professor Luís Augusto Teixeira, do Laboratório de Sistemas Motores Humanos da EEFE.

O Parkinson é uma doença neurológica que afeta funções motoras. Um dos sintomas é o congelamento da marcha, caracterizado pela incapacidade momentânea de andar, como se a pessoa estivesse com os pés presos ao chão, não conseguindo propulsionar o seu corpo na direção para a qual deseja se movimentar. A levodopa age no aumento da quantidade de dopamina no corpo, um tipo de neurotransmissor responsável pela comunicação entre os neurônios, e controle dos movimentos do corpo e coordenação motora.

O objetivo da pesquisa foi verificar o quanto a medicação levodopa poderia afetar nos diferentes parâmetros do andar de pessoas com a doença de Parkinson. Foram selecionados 22 pacientes, divididos em dois grupos: um apresentava o congelamento e o outro não, sendo que todos os pacientes faziam uso do remédio de forma contínua. A pesquisadora explica que a levodopa induz a um efeito agudo de melhora motora. Esse efeito é dependente da concentração da substância no organismo e dura algumas horas. Por isso, os pacientes precisam tomar mais de uma dose da medicação por dia.O professor Teixeira explica que outros estudos realizados na própria EEFE já vinham demonstrando que protocolos de exercícios contendo outras atividades motoras, como caminhada com ultrapassagem de obstáculos, giros, mudanças de direção, passagem por locais com limitações de espaço (batente de porta, por exemplo), podem ser mais eficazes no tratamento de pacientes que apresentam congelamento da marcha.

A marcha dos pacientes foi avaliada por meio de um equipamento denominado Zebris, uma esteira capaz de medir a pressão exercida sobre ela. O Sistema Zebris calcula automaticamente os parâmetros da marcha a partir da pressão exercida pelos pés durante uma breve caminhada. Dessa forma, são obtidas informações como velocidade da marcha, cadência (quantidade de passos por minuto), comprimento médio, largura e tempo de duração do passo, e comprimento e tempo de duração da passada.

Os voluntários realizaram esse teste em duas situações: sob efeito da medicação, cerca de uma hora após a ingestão, e sem o efeito da medicação, cerca de 12 horas após a última dose. Em cada teste, eles realizaram dez tentativas em uma velocidade confortável determinada pelos próprios pacientes. Foram também aplicados questionários para a avaliação do estágio da doença, da severidade dos sintomas motores, do equilíbrio e das funções cognitivas, além do levantamento de informações sobre dosagem utilizada da medicação e há quanto tempo receberam o diagnóstico da doença.

Em ambos os estados, medicado e não medicado, o grupo com o congelamento da marcha apresentou menor comprimento do passo, da passada e menor velocidade da marcha, comparado ao grupo sem o sintoma. Isso indicou um maior comprometimento no primeiro grupo, independentemente se tomou ou não a medicação. Essa diferença entre os dois grupos não foi atenuada com o uso do medicamento, pois no estado medicado ambos apresentaram uma melhora equivalente sobre os sintomas.

A fim de saber mais sobre essas possibilidades, ideias de continuação da pesquisa já foram colocadas para discussão, o que implica desde novos modelos de análise estatística, comparação entre tarefas motoras diferentes e treinamentos físicos que podem servir como intervenção para a melhora da marcha.Segundo Júlia Ávila, é possível concluir, a partir dos resultados do estudo, “que apenas a medicação não é capaz de atenuar as diferenças motoras do padrão da marcha de pessoas com e sem congelamento, sendo necessárias outras intervenções não-farmacológicas para esse fim”. Além disso, “as diferenças clínicas entre os pacientes com e sem congelamento da marcha não interferem na análise do efeito da medicação”. Com isso, a pesquisa amplia as possibilidades de intervenções para que ocorra a melhora da condição.

O trabalho, realizado em parceria com a Universidade Federal do ABC, integrou a dissertação de mestrado Efeito da medicação antiparkinsoniana nos parâmetros espaço-temporais da marcha de indivíduos com doença de Parkinson: comparação entre indivíduos com e sem congelamento da marcha, apresentada em fevereiro de 2022.

Texto: serviço de comunicação da EEFE

Mais informações: e-mail comunicaeefe@usp.br, na EEFE

FONTE: Jornal da USP

Estudo identifica substância que pode conter avanço de Parkinson

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram substância capaz de barrar o avanço da doença de Parkinson. A AG-490, constituída à base da molécula tirfostina, foi testada em camundongos e impediu 60% da morte celular. Ela inibiu um dos canais de entrada de cálcio nas células do cérebro, um dos mecanismos pelos quais a doença causa a morte de neurônios. Não há cura para o Parkinson, apenas controle dos sintomas. 

“Estamos sugerindo que é esse composto que pode um dia, depois de muita pesquisa, que inclusive estamos continuando, ser usado na medicina humana”, explica o professor Luiz Roberto Britto, que coordena o projeto em conjunto com pesquisadores do Instituto de Química da USP e da Universidade de Toronto, no Canadá. Os resultados foram publicados na revista Molecular Neurobiology.

A doença de Parkinson é caracterizada pela morte precoce ou degeneração das células da região responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor. A ausência ou diminuição da dopamina afeta o sistema motor, causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. A doença pode provocar também alterações gastrointestinais, respiratórias e psiquiátricas.

“A doença é progressiva, os neurônios continuam morrendo, esse é o grande problema. Morrem no começo 10%, depois 20%, mais um pouco, aliás o diagnóstico só é feito praticamente quando morrem mais de 60% naquela região específica do cérebro”, explica Britto. A identificação dessa substância pode estabilizar a doença em certo nível. “Não seria ainda a cura, mas seria, pelo menos, impedir que ela avance ao longo dos anos e fique cada vez mais complicado. O indivíduo acaba morrendo depois por complicações desses quadros.”

Substância

Britto explica que a AG-490 é uma substância sintética já conhecida da bioquímica. A inspiração para o trabalho veio de um modelo aplicado no Canadá, que mostrou que a substância teve efeito protetor em AVC, também em estudos com animais. Ele acrescenta que não são conhecidos ao certo os mecanismos que causam a doença, mas há alguns que favorecem a morte de neurônios. “Acúmulo de radicais livres, inflamação no sistema nervoso, erros em algumas proteínas e excesso de entrada de cálcio nas células”, cita.

O estudo, portanto, começou a investigar esse canal de entrada de cálcio que se chama TRPM2. Pode-se concluir, com a pesquisa, que quando o canal é bloqueado, a degeneração de neurônios, especificamente nas regiões onde eles são mortos pela doença, diminuiu bastante. “A ideia é que, talvez, se bloquearmos esses canais com a substância, ou outras que apareçam, poderemos conseguir, pelo menos, evitar a progressão da doença depois que ela se instala”, diz o pesquisador.

As análises seguem e agora um dos primeiros passos é saber como a substância se comporta com uma aplicação posterior à toxina que induz à doença. Britto explica que no modelo utilizado, a toxina e o composto foram aplicados quase simultaneamente. Os pesquisadores querem saber ainda se o composto administrado dias depois da toxina levará à proteção dos neurônios.

“Outra coisa que a gente precisa fazer, e já conseguiu os animais para isso, é usar um modelo de camundongo geneticamente modificado, que não tem esse canal TRTM2. Esperamos que os animais que não têm, geneticamente, esses canais para cálcio, sejam teoricamente mais resistentes a esse modelo de doença de Parkinson”, acrescenta.

Também será necessário avaliar possíveis efeitos colaterais. “Esses canais de cálcio estão em muitos lugares do sistema nervoso e fora do sistema nervoso também. Bloqueando os canais, pode ser que se tenha alguma repercussão em outros lugares. Precisamos avaliar isso”. As análises seguem com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

FONTE: Agência Brasil

Parkinson, pesquisa identifica substância para evitar agravamento

Uma pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP traz uma perspectiva promissora para o desenvolvimento de novos alvos terapêuticos para o tratamento da doença de Parkinson, caracterizada pela morte precoce ou degeneração das células na região da substância negra do cérebro, responsável pela produção de dopamina (um neurotransmissor.) A ausência ou diminuição da dopamina afeta o sistema motor, causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. Há também sintomas não-motores, como alterações gastrointestinais, respiratórias e psiquiátricas, por exemplo. Não há cura, apenas controle dos sintomas.

Publicada na revista Molecular Neurobiology, a pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Neurobiologia Celular, sob a coordenação do professor Luiz Roberto G. Britto, em conjunto com pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP e da Universidade de Toronto, no Canadá. “Em camundongos, conseguimos diminuir cerca de 60% da morte celular inibindo o TRPM2 – um dos canais de entrada de cálcio nas células do cérebro. Isso foi feito com uma substância à base da molécula tirfostina, chamada de AG-490”, afirma Britto. “Os camundongos que não receberam a substância apresentaram um resultado 70% pior nos testes comportamentais”, acrescenta.

A estratégia, segundo ele, interferiu com uma das quatro vertentes conhecidas pela ciência pelas quais o Parkinson promove a morte dos neurônios. “Entre as causas estão algumas disfunções metabólicas e acúmulo anormal de proteínas, a neuroinflamação do cérebro, o estresse oxidativo provocado pelo acúmulo de espécies reativas de oxigênio e o aumento na atividade dos canais de entrada de cálcio — que nós conseguimos impedir ao menos em parte”, explica Britto. “Em todas as células do organismo, quando esses canais estão muito ativos, a tendência é que ocorra uma sobrecarga de cálcio. Isso ativa uma série de enzimas que degradam as estruturas das células, levando à sua morte”, complementa.

“Com o estudo, chegamos à conclusão de que quando bloqueamos o canal, a degeneração de neurônios, especificamente naquelas regiões onde os neurônios são mortos pela doença, diminuiu bastante. O mesmo aconteceu nos locais onde aqueles neurônios se projetam e têm contatos sinápticos, o que ajudou a preservar a dopamina, um neurotransmissor fundamental para os movimentos, entre outras funções”, explica.

Os testes foram realizados em camundongos que receberam injeção da toxina 6-hidroxidopamina, que simula os efeitos da doença de Parkinson. Os animais foram então divididos em dois grupos. Em um deles foi aplicada a substância AG-490; no outro, não. Após seis dias, passaram a ser realizados testes para avaliar a capacidade de equilíbrio e outros comportamentos motores dos animais. Depois de sacrificados, foi feita a contagem de neurônios que produzem dopamina na substância negra, que classicamente está envolvida com a doença. A região onde elas se conectam, o estriado, também foi estudada em termos da presença de sinapses dopaminérgicas. Em ambas as regiões, houve menor prejuízo com a administração do AG-490, tanto em termos comportamentais como em termos do número de células e terminais degenerados.

Próximos passos

Segundo Britto, antes de avançar para testes clínicos serão necessários muito mais estudos. “Para que tenhamos um fármaco à base de AG-490, precisamos ter certeza de que essa substância funciona depois da aplicação da toxina, já que, por enquanto, ela foi administrada ao mesmo tempo da injeção da toxina que produz o modelo de Parkinson. Vamos também testar animais geneticamente modificados para o TRPM2, esperando que eles sejam mais resistentes em termos da morte neuronal neste modelo. Além disso, é preciso estudar as possíveis consequências colaterais da injeção da substância.”

O estudo é fruto de uma linha de pesquisa de Britto, que investiga o assunto há mais de dez anos. Esta etapa da pesquisa foi desenvolvida

durante a tese de doutorado da bióloga Ana Flávia Fernandes Ferreira. Em um estudo anterior, feito pelo mesmo grupo, foi obtido um resultado similar com outra substância, o carvacrol, para bloquear outro canal celular, o TRPM7, que faz parte da mesma família de canais para o íon cálcio que o TRPM2.

Avanços nos estudos que buscam a cura da doença de Parkinson são urgentes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição atinge 1% das pessoas com mais de 65 anos e chega a 4% entre a população com mais de 80 anos. Um estudo publicado na revista Lancet mostra que entre 1990 e 2015 os casos de Parkinson dobraram em virtude do envelhecimento da população mundial, saltando de cerca de 26 mil para cerca de 62 mil a cada um milhão de habitantes.

“Neste sentido, as perspectivas para o futuro não são boas, porque imagina-se que até 2050 parte considerável dos idosos esteja vivendo até os 120 anos. As soluções então precisam ser imediatas para a segunda doença neurodegenerativa mais comum, atrás apenas da doença de Alzheimer. Hoje a Medicina trata apenas dos sintomas da doença para tentar melhorar a qualidade de vida do paciente, mas não impede que, com o tempo, eles progridam e que a degeneração das células do cérebro continue e agrave a doença.”

Da assessoria de comunicação do ICB

FONTE: Jornal da USP

“Sexo com Parkinson: precisamos falar sobre isso”

Esse é o lema da campanha lançada pela Rede Amparo, projeto do CEDIP Neuromat, lançou uma nova campanha, Sexo com Parkinson a partir de conversas com portadores da doença, que se queixavam de que não tinham espaço para falar sobre sua vida sexual.

Rede Amparo, projeto do Departamento de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP, lançou uma nova campanha, Sexo com Parkinson: Precisamos Falar Sobre Isso, tema de uma grande pesquisa nacional. A professora Maria Elisa Pimentel Piemonte, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da FMUSP e do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (Cepid Neuromat), discorre sobre a importância da saúde sexual em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.

De acordo com a professora, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a ciência de forma geral têm chamado atenção para isso: “Alguns artigos muito provocativos têm sido trazidos ao público no sentido do porquê os recursos para financiamento em pesquisa em saúde sexual são limitados, porque a quantidade de informação produzida não tem o crescimento esperado como outras áreas. Então, a Organização Mundial da Saúde, em 2019, antes da pandemia, chamou atenção para esse ponto, definindo saúde sexual como o estado de bem-estar físico, emocional, mental e social relacionado à saúde, que é direito de todo ser humano no mundo”.

Dopamina

do domínio do desejo, dentro do domínio da recompensa. Então, primariamente, a doença afeta exatamente pela alteração na produção de dopaminas. Mas, secundariamente, a saúde sexual é afetada pelos próprios sintomas, por exemplo, a rigidez muscular, a dificuldade de mobilidade e o tremor interferem durante a atividade sexual, a depressão, a apatia e a redução da autoestima”, relata Maria.

A campanha foi pensada a partir de uma discussão que ocorreu em um projeto da instituição, a caravana Rede Amparo. A professora comenta que são realizadas rodas de conversa em viagens por todo o País: “Não é para nós falarmos, é muito mais para nós ouvirmos as pessoas com Parkinson por todo o Brasil, tentando identificar questões regionais. Dentro de uma roda de conversa em Macapá, no Amapá, esse assunto foi trazido inicialmente por homens e seguiu para uma grande discussão que também envolveu mulheres. Daí, a gente observou que, na verdade, era um tema latente, que eles não tinham espaço, não tinham uma escuta segura para falar sobre isso”.

O objetivo da campanha é expor que a saúde sexual também é fundamental para pessoas com Parkinson. “A gente precisa falar sobre isso, a gente precisa começar a treinar as equipes de saúde para terem espaço para isso. Eu sou fisioterapeuta, por exemplo, o quanto os fisioterapeutas, que estão prestando cuidado com as pessoas com Parkinson, incluem esse aspecto dentro das suas demandas? A rigidez de tronco, a rigidez pélvica, é uma das marcas da doença, os órgãos sexuais estão na região pélvica, então obviamente é importante você manter a mobilidade dessa região.”

FONTE: Jornal da USP