Consumo de álcool possui consequências a curto e longo prazo

O conceito de embriaguez definido pelo Legislativo brasileiro é a “perturbação psicológica mais ou menos intensa, provocada pela ingestão de álcool, que leva à total ou parcial incapacidade de entendimento e volição”. Para identificar um indivíduo “bêbado”, basta atentar para alguém falando enrolado, andando com dificuldade ou, apenas, mais sociável do que o costumeiro; mas por que os seres humanos ficam embriagados ao ingerir bebidas alcoólicas?

O professor Moacyr Aizenstein, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), diz: “Se nós fizermos uma gradação, no início ele se sente relaxado, com doses um pouco maiores fica alegre, um pouquinho maiores e ele já perde a crítica e a coordenação motora. Com doses maiores ainda, a bebedeira, ele perde totalmente o controle”.

O que acontece quando o álcool é ingerido?

Segundo o especialista, os efeitos agudos ocorrem no sistema nervoso central, uma vez que o álcool é uma droga depressora, que diminui a ansiedade e produz sentimentos de euforia e relaxamento muscular no indivíduo: “É quase como uma anestesia, o indivíduo perde o controle sobre si, porque o álcool deprime o sistema nervoso central”. Além disso, a droga é responsável por produzir a liberação da dopamina, um neurotransmissor relacionado com o prazer e, dessa forma, o etilista é alguém consumido por essa sensação.

De acordo com Aizenstein, dependendo da pessoa, o efeito é diferente, por conta do álcool ser um indutor de enzimas, e, quanto mais for ingerido, maior serão seus efeitos sobre o metabolismo. “Se o indivíduo nunca bebeu, o metabolismo do álcool é muito baixo, então, se bebe uma garrafa, fica bêbado. Agora, o indivíduo que vem bebendo constantemente, como ele metaboliza bastante até ficar bêbado, vai ingerir uma quantidade muito maior”. Ele ainda aconselha que as pessoas pratiquem a redução de dano: “Se restringir a doses compatíveis, não beber de estômago vazio e, enfim, não dirigir”.

Sob outro ponto de vista, Arthur Guerra, docente do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFMUSP), discorre que os efeitos são divididos em dois grupos: os fisiológicos — como a molécula de etanol interage no corpo humano — e os psicológicos — a resposta cerebral.

Quanto ao primeiro, ele explica que, após passar pelo esôfago, estômago e intestino, o álcool é encontrado no fígado, local em que é metabolizado e fracionado em pequenas porções de álcool etílico, ou seja, etanol; após isso, ele é jogado de volta ao sangue e espalhado por todo o corpo. “No próprio fígado, a célula hepática, chamada hepatócito, tem um poder de metabolização. Mas, quando é muito álcool, ele perde esse poder e, com isso, aumenta a enzima Gama GT”, conta.

No momento em que chega ao cérebro é que os efeitos psicológicos são acionados e, segundo Guerra, essa é a principal ação e o motivo do álcool ser usado há milhares de anos. Do ponto de vista bioquímico, a primeira depressão causada pela droga é a censura: “Por isso que o álcool é usado em várias celebrações, é usado para ficar com os amigos, usado para dar uma relaxada. Não em excesso, apenas para poder ficar um pouco mais social”.

Consequências a curto e longo prazo

A curto prazo, a primeira consequência do uso do álcool é a embriaguez, ou intoxicação alcoólica, na qual o indivíduo ganha uma confiança excessiva — ligado à perda da censura — e possui seus reflexos diminuídos significativamente. “Por isso que nunca se deve associar álcool ao uso de algum veículo e também podem acontecer acidentes, quedas, fraturas, violência doméstica e brigas”, alerta o psiquiatra.

Já a longo prazo, ele destaca as complicações causadas no fígado, especialmente a esteatose hepática — que seria o acúmulo de gordura no órgão — e, consequentemente, pode acarretar em cirrose, ou seja, insuficiência hepática. Assim como pode resultar em pancreatite crônica, miocardite alcoólica, úlcera, câncer no tubo gastrointestinal, entre outras sequelas.

Aizenstein ressalta que, dependendo da quantidade de álcool ingerida em um curto espaço de tempo, as implicações podem acarretar em coma alcoólico e até em morte. Ademais, uma das maiores consequências causadas por essa droga é a dependência, isto é, a pessoa não consegue mais usá-la de forma regular, pois, quando não usada, ela tem uma sensação intensa de desprazer.

Controle do problema

O professor Arthur Guerra destaca a importância da prevenção por meio da educação e informação: “Nós chamamos de diagnóstico precoce, a pessoa começa a ter problemas e, antes de se tornar crônico, o especialista já consegue avaliar e fazer uma ação mais rápida. Há campanhas de prevenção, por exemplo; não se deve beber álcool antes dos 18 anos, porque o cérebro está em desenvolvimento”. Ele ainda diz que o mais importante é que pessoas próximas aos indivíduos nessa situação crônica sejam um exemplo para elas.

De acordo com o bioquímico Moacyr Aizenstein, o ideal, e compatível com a saúde, é que a pessoa utilize baixas doses por dia: duas para os homens e uma para as mulheres — segundo ele, estas são mais sensíveis e metabolizam com menor eficiência o álcool. Uma dose seria o equivalente a uma lata de cerveja (350 ml), uma taça de vinho ou 40 ml de destilado.

“Agora, quando o indivíduo se torna um dependente e passa muito dessa quantidade, é necessário um tratamento farmacológico. Claro que tem o tratamento dos alcoólatras anônimos, isso funciona muito bem, são reuniões onde o indivíduo deve compartilhar com outros alcoólatras os seus problemas, mas ele tem que ser submetido a uma terapia psicológica para entender realmente por que não consegue se controlar”, desenvolve.

Para finalizar, ele reforça que nem todo indivíduo que usa bebida alcoólica se torna dependente, “o indivíduo pode tomar todo dia e pode não se tornar viciado. O álcool é potencialmente indutor de dependência”. Dessa forma, outros fatores estão envolvidos nesse processo, como elementos psicológicos, sociais, econômicos e, inclusive, genéticos: “Mas o mais importante é a motivação interna do indivíduo para deixar de beber”.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

FONTE: Jornal da USP

Protocolo aplicado por enfermeiros reduz consumo de álcool em idosos

Estratégia terapêutica canadense da década de 1970, conhecida como intervenção breve, mostrou-se eficaz na promoção de mudanças de comportamento no consumo de álcool em idosos. O estudo, realizado por pesquisadores do campus de Ribeirão Preto da USP, observou redução de até quatro vezes no consumo de álcool nessa população. A técnica, informam os pesquisadores, estimula a autonomia, fazendo com que a pessoa assuma a responsabilidade sobre suas escolhas, e foi proposta como abordagem terapêutica para usuários de álcool pela equipe canadense liderada pela pesquisadora Martha Sanchez-Craig em 1972.

A mesma abordagem foi proposta agora pelo enfermeiro Deivson Wendell da Costa Lima, durante a pesquisa de seu doutorado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. Em seu estudo, o pesquisador aplicou a ferramenta de intervenção breve em idosos acima de 60 anos assistidos pela Atenção Primária à Saúde da cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo.

Lima conta que o interesse pelo tema surgiu ao verificar as “necessidades crescentes dos idosos que enfrentam problemas relacionados ao álcool”. Dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), por exemplo, mostram que uma a cada três pessoas com problemas de saúde associados ao consumo de bebidas alcoólicas tem mais de 55 anos.

Segundo o Cisa, cada dose no Brasil tem 14 gramas de álcool puro, o que equivale a 350 mililitros (ml) de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de bebidas destiladas (vodka, uísque, cachaça, gin ou tequila). Um consumo moderado de álcool equivale a uma dose por dia ou sete por semana para as mulheres e duas doses diárias ou 14 semanais para os homens.

A pesquisa avaliou 564 pessoas, a maioria homens (72%) residentes na área de abrangência das unidades de Saúde da Família do distrito oeste de Ribeirão Preto, selecionadas entre os mais de 3 mil idosos cadastrados.

Para o recrutamento, realizaram, durante visitas domiciliares aos pacientes da rede pública, a análise do padrão de consumo de álcool, através do questionário Audit (Teste de Identificação de Transtornos por Uso de Álcool) – um instrumento de avaliação desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que distingue aqueles que apresentam maior risco à saúde, com pontuação Audit entre cinco e 19.

O consumo de álcool é o sétimo fator mais significativo em termos de risco de doenças em pessoas com idades entre 50 e 69 anos, e ocupa a décima posição na faixa acima de 70 anos, conforme indica o Cisa. Ainda segundo o órgão, a identificação de transtornos relacionados ao uso de álcool nessa população tende a ser subestimada e as informações sobre seu impacto são limitadas. Estimativas apontam que entre 1% e 3% dos idosos sofrem desse transtorno, o que se traduz em uma fonte significativa de problemas de saúde física e mental.

Os selecionados foram divididos em dois grupos: controle e intervenção. O grupo controle recebeu apenas um folheto informativo, enquanto que o de intervenção, além de receber o folheto, passou pelas etapas da metodologia proposta.

Consumo de álcool e intervenção precoce

Quanto ao folheto entregue aos idosos do grupo controle, Lima informa ser um material educativo que apresenta os limites recomendados de ingestão de álcool para pessoas com 60 anos ou mais. “Apresenta a quantidade de álcool em diferentes bebidas em termos de doses e os problemas relacionados aos comportamentos do consumo de risco de álcool. Sua composição possui ilustrações e textos curtos como auxiliares da comunicação visual que podem ajudar na adesão às informações, inclusive para os idosos com poucos anos de estudo ou que não estudaram”, afirma.

Ao explicar a intervenção breve, a professora da EERP Sandra Cristina Pillon diz que se trata de uma estratégia terapêutica “bem estruturada, focal e objetiva que utiliza procedimentos técnicos para ajudar no desenvolvimento da autonomia da pessoa, atribuindo-lhe a capacidade de assumir a iniciativa e a responsabilidade por suas escolhas.”

No caso específico da pesquisa realizada por Lima, a abordagem foi escolhida pela necessidade de intervir de “forma precoce junto a pessoas com histórico de consumo prejudicial de álcool, encorajando-as a parar ou reduzir seu consumo”, afirma a professora, adiantando que a técnica não se limita ao tratamento do consumo problemático do álcool e pode ser aplicada em diversos contextos na saúde, como diabete, hipertensão e outras condições médicas.

Empatia na abordagem

A intervenção breve proposta pelo estudo teve o objetivo de reduzir o consumo de álcool em idosos usando um protocolo baseado nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) que incluiu a triagem, técnicas da entrevista motivacional, definição de metas de redução e acompanhamento. “A intervenção breve para o álcool foi realizada de forma presencial por meio de visita domiciliar, acompanhada pelos agentes comunitários de saúde. Foi realizada em uma única sessão, com tempo de duração média de 30 minutos. No final da sessão, todos os idosos receberam um relatório do protocolo preenchido com as principais informações de cada fase de intervenção e os folhetos informativos”, conta Lima.

Como resultado, o estudo mostrou que foi possível reduzir quatro vezes mais a ingestão de álcool do grupo que participou da intervenção em comparação ao controle (os idosos que receberam apenas um folheto informativo), a partir dos valores de pontuação no questionário Audit. Contudo, antecipa a professora Sandra, o sucesso da intervenção depende da empatia entre o profissional de saúde e o paciente. “A confiança e a compreensão são elementos fundamentais para o sucesso da intervenção breve. Além disso, a técnica busca reforçar a autoconfiança do indivíduo para que ele possa cumprir as metas estabelecidas”, assegura a professora.

Atenção primária à saúde

O protocolo pode ser usado como uma ferramenta na atenção primária à saúde e na criação de políticas públicas direcionadas aos idosos – Foto: Reprodução/Prefeitura Municipal de Jundiaí

Os resultados obtidos por Lima mostram que o uso da metodologia não só apresentou uma redução significativa no consumo geral de álcool, referente ao consumo durante a semana ou no mês, como também nos comportamentos de consumo de doses em uma mesma ocasião. O fato, acredita o pesquisador, sugere a indicação de uso do protocolo como uma ferramenta na atenção primária à saúde e na criação de políticas públicas. E, também, que a técnica pode ajudar os enfermeiros no cuidado aos idosos com problemas relacionados ao álcool.

As sugestões do pesquisador se justificam já que, segundo o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), só no ano de 2021 foram registradas mais de 336.407 internações, com quase 69.054 óbitos relacionados ao consumo problemático de álcool, sendo um terço desses indivíduos com idades superiores a 55 anos. Entre os óbitos, mais da metade estão nessa faixa etária.

A pesquisa integra a tese de doutorado de Lima, Efetividade da intervenção breve para redução do consumo de risco de álcool em idosos na Atenção Primária à Saúde, apresentada à EERP em maio de 2023, sob orientação da professora Margarita Antonia Villar Luis.

Mais informações: e-mail deivsonwendell@hotmail.com

*Estagiário sob supervisão de Rita Stella 

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

O risco de misturar bebidas alcóolicas com energético

O final de ano costuma ser um período repleto de comemorações, reunião com o pessoal do trabalho, com familiares e amigos em festas e confraternizações. O que é excelente, a não ser pelo fato de que algumas pessoas acabam colocando a saúde de seu coração em risco sem ao menos saber. É o que acontece ao misturar bebidas alcóolicas, principalmente, quando essa mistura também inclui energéticos. ¹

Nas festas, essa mistura é popular porque muitos alegam que o energético anula os efeitos depressivos do álcool, como sono e reflexos lentos. Porém isso não é verdade e misturar bebida alcóolica com energético apenas potencializa o risco de arritmias, além de ser desencadeador de problemas cardiológicos maiores no futuro. ¹

Continue lendo para entender o que a mistura de bebidas alcoólicas com energéticos pode causar para a saúde do coração e como se prevenir nas festas de fim de ano.

Efeitos do álcool no coração

O álcool em quantidade excessiva e consumo constante, provoca uma série de malefícios a saúde, direta e indiretamente. De forma indireta, o álcool é fator de risco adicional para o Infarto Agudo do Miocárdio e hipertensão arterial, principalmente em pacientes que têm diabetes e colesterol elevado. ²

Diretamente, provoca o enfraquecimento do músculo cardíaco e pode levar ao desenvolvimento da cardiomiopatia alcoólica (CMA) e, ao longo do tempo, ela evolui para insuficiência cardíaca, caracterizada por falta de ar, fraqueza, cansaço e inchaço no corpo. Pode evoluir, também, para arritmias cardíacas, que têm como sintoma palpitações, tonturas e desmaios. Juntas, essas duas doenças somam 10% de mortalidade anual. ²

Consumo do álcool, o que é considerado prejudicial ao coração?

  • Consumo moderado: esse tipo de consumo corresponde a, no máximo, duas doses diárias para homens e uma dose para mulheres saudáveis, ou seja, sem qualquer doença pré-existente que seja fator de risco para acidentes cardiovasculares (uma pessoa livre de hipertensão, diabetes e colesterol, por exemplo). ²
  • Consumo excessivo: esse tipo de consumo se caracteriza pelo consumo diário de quatro doses ou mais ingeridas. ²

O que é considerado uma dose?

Uma dose corresponde a 14g de etanol, ou então, a 350 mL de cerveja, 150 mL de vinho ou 45 mL de destilados como cachaça e vodka. ²

Sobre energéticos e saúde do coração

O consumo de energéticos não se restringe apenas a baladas e festas de fim de ano. Pelo contrário, seu uso no dia a dia, principalmente entre os jovens, tem se tornado cada vez mais comum. Isso devido a sua promessa de aliviar a fadiga e cansaço, melhorar o desempenho físico e mental, em atividades como estudar, malhar, trabalhar e claro, devido a sua capacidade de estender a energia em períodos de diversão em festas. ³

Os energéticos atuam de forma que desregulam o sistema endócrino, por isso, afetam as batidas do coração e podem ter consequências graves quando são consumidos de forma inadequada. Até mesmo o consumo regular, em quantidades moderadas, pode levar a síndrome da morte súbita por arritmia. ³

Cafeína e os riscos para o coração

A alta quantidade de cafeína presente nos energéticos aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial, aumentando significativamente o risco de arritmia, ataques cardíacos, aumento da pressão arterial. O metabolismo constantemente acelerado cria um cenário de estresse que propicia cada vez mais arritmias e ataques cardíacos. ³

Muitas vezes, a cafeína está no rotulo do produto como “guaranine”, “ginseng” e “taurina”. O guaranine, extraído do guaraná, tem concentração duas vezes maior que o café. Por isso, é importante analisar também os rótulos. A quantidade de cafeína indicada por não incluir essas outras substâncias que são ricas em cafeína. ³

Misturar bebida alcoólica com energético

O problema de misturar bebidas alcóolicas como whisky e vodka com o energético é que essas bebidas, com alto teor alcoólico, provocam irritação no músculo do coração devido a intoxicação por cafeína. O resultado disso é ansiedade, insônia, dor estomacal, tremores, taquicardia, agitação e até mesmo a morte súbita, quando a dose é muito acima do que o corpo está habituado.  1,3

O energético, ao deixar o usuário em alerta e com o metabolismo acelerado, faz com que ele beba ainda mais álcool. Esse excesso potencializa os efeitos da cafeína, ou seja, intensifica o potencial de causar danos ao coração que essa substância naturalmente tem se consumida em doses elevadas. ³

O perigo está justamente no efeito “mascarador” que o energético tem nos sintomas da embriaguez e faz com que o usuário não se sinta tão embriagado quanto realmente está. A toxicidade do álcool também tem seu efeito potencializado pelo energético, aumentando a pressão arterial e ocasionando um possível acidente vascular cerebral (AVC) 3,4

Como se cuidar no fim do ano e não correr risco?

Apesar do uso do álcool e do energético serem lícitos, é mais do que claro que seu uso em excesso, especialmente quando combinados, trazem sérias consequências para seus usuários.  Principalmente para aqueles com doenças pré-existentes que são fatores de riscos para doenças do coração. 5

Portanto, pessoas com colesterol, pressão arterial alta e diabetes devem evitar o consumo do álcool, bem como o consumo e mistura com energéticos devem estar fora de cogitação. É importante que uma conversa franca seja estabelecida com seu médico sobre o assunto.

Possivelmente, ele abra uma pequena exceção para períodos de festas como o fim de ano, em uma quantidade segura para sua saúde. Porém, isso vai variar de caso a caso. Existem também as possibilidades de cervejas sem teor alcoólico, que devem ser consideradas. 5

A comemoração de fim de ano deve ser saudável e não trazer problemas, concorda? Converse com seu médico e veja quais são suas possibilidades, não coloque a saúde do seu coração em risco. Boas festas!

Referências

1 – ASSOCIAÇÃO EMPRESARIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE FLORIANÓPOLIS. MISTURA DE ENERGÁTICO COM ÁLCOOL É UM PERIGO PARA O CORAÇÃO. DISPONÍVEL EM: https://www.aemflo-cdlsj.org.br/noticias/mistura-de-energetico-com-alcool-e-um-perigo-para-o-coracao ACESSO EM 28/11/22

2 – CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE SAÚDE E ÁLCOOL. COMO O ÁLCOOL INTEREFE NA SAÚDE DO SEU CORAÇÃO? DISPONÍVEL EM: https://cisa.org.br/sua-saude/entrevistas/artigo/item/305-como-o-alcool-interfere-na-saude-do-seu-coracao ACESSO EM 28/11/22

3 – SOCIEDADE MINEIRA DE TERAPIA INTENSIVA. CONSUMO DE ENERGÉTICOS PODE LEVAR À SÍNDROME DA MORTE SÚBITA POR ARRITMIA. DISPONÍVEL EM: https://www.somiti.org.br/visualizacao-de-noticias/ler/59/consumo-de-energeticos-pode-levar-a-sindrome-da-morte-subita-por-arritmia ACESSO EM 28/11/22

4 – REDE BRASIL AVC. MISTURA DE ÁLCOOL COM ENERGÉTICO PODE LEVAR A UM AVC. DISPONÍVEL EM: https://redebrasilavc.org.br/mistura-de-alcool-com-energetico-pode-levar-a-um-avc/ ACESSO EM 29/22/22

5 –  FERREIRA, SIONALDO. MELLO, MARCO.  FORMIGONI, MARIA. O CONSUMO DO ÁLCOOL E AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES – UMA ANÁLISE SOB O OLHAR DA ENFERMAGEM. DISPONÍVEL EM: https://www.scielo.br/j/ean/a/CL9N7ymK3S9RJTLSQdPyW7C/?format=pdf&lang=pt ACESSO EM 29/11/22

FONTE: Blog FazBem

Tuberculose: Álcool, tabaco e outras drogas, e a população vulnerável

Levantamento de casos de tuberculose feito no Estado do Paraná confirma que a doença tem estreita relação com vulnerabilidade social e, caso haja dependência ou uso concomitante de substâncias psicoativas, tais como álcool, tabaco e outras drogas, os pacientes tendem a ter mais complicações (abandono precoce do tratamento, formas mais graves da doença, resistência medicamentosa e maiores índices de óbito). Os dados são resultado de uma pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, baseada em informações fornecidas pelo Sistema Brasileiro de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), da Secretaria da Saúde do Estado do Paraná (2008/2018).

Neste período, entre a população em geral, foram constatados 29.499 casos da doença. Deste universo, 9.529 eram pessoas com tuberculose e usuárias de algum tipo de droga (álcool, tabaco ou drogas ilícitas) ou faziam poliuso de entorpecentes. Foram encontrados, ainda, casos de tuberculose entre a população privada de liberdade (1.099), que é uma das mais afetadas pela doença. As outras, segundo o estudo, são indivíduos que moram na rua, comunidade indígena, HIV positivos etc.

Dos 1.099 casos, a maioria dos pacientes relatou ser tabagista, 42% (460), seguido por usuários de substâncias ilícitas (cocaína, crack, maconha etc.), 41% (451), e com transtornos relacionados ao uso de álcool, 16% (179). “A exposição à fumaça do cigarro aumenta em três vezes as chances de desenvolver tuberculose”, explica ao Jornal da USP Alessandro Rolim Scholze, autor da pesquisa e membro do Grupo de Estudos Epidemiológico-Operacionais em Tuberculose (Geotb).

Já entre a população em geral diagnosticada com a doença e que fazia uso de drogas (o grupo de 9.529 indivíduos), a substância mais prevalente foi o álcool, 20% (6.013), seguido do tabagismo, 14% (4.185), e drogas ilícitas, 10% (2.893).

Com todos os dados em mãos e baseado em scoping review (revisão literária), Scholze fez uma análise do impacto das drogas em populações vulneráveis. Foram 2.288 publicações brasileiras e estrangeiras analisadas. Em uma das pesquisas de coorte (acompanhamento de longo prazo) realizada com 268 pacientes na Etiópia, África Oriental, constatou-se que os pacientes com transtornos por uso de substâncias psicoativas apresentaram uma maior prevalência de não adesão ao tratamento de tuberculose no início do estudo (16,5%), após dois meses (42%) e ao completar seis meses de tratamento (45,5%), em comparação ao grupo que não fez uso de substâncias psicoativas (3%, 14% e 11%, respectivamente). Neste mesmo estudo, verificou-se que os tabagistas e dependentes de álcool têm, respectivamente, 3,8 e 3,2 vezes mais chances de não aderirem ao tratamento medicamentoso em comparação à população não usuária dessas substâncias.

“Quando um indivíduo infectado abandona o tratamento, ele contribui significativamente para o aumento do número de casos novos no espaço geográfico onde ele circula. No caso dos presídios, a transmissão pode ser entre os familiares, os funcionários das unidades prisionais e entre os próprios presos”, diz Scholze. Para esse grupo, o estudo mostrou que dos 1.099 diagnosticados com tuberculose, 12% abandonaram o tratamento, o que foi considerado um índice alto pela pesquisa.

O tabaco é um importante fator de risco, ou seja, estar exposto à fumaça do cigarro aumenta em três vezes as chances de desenvolver a doença. Entre os tabagistas, o risco de tuberculose latente (quando a pessoa está doente, mas não apresenta sintomas) é de 1,6 vezes e para a tuberculose ativa (com sintomas) é duas vezes mais. A possibilidade de óbito é de 2,6 vezes mais. Já as chances de desenvolvimento e agravamento/morte aumentam significativamente com o tempo de consumo, o número de cigarros consumidos por dia e o nível socioeconômico.

A ingestão de álcool aumenta em 1,9 as chances de desenvolver a tuberculose, e também está associada a atrasos nas consultas, insucesso e menores taxas de adesão a terapias. Sobre as drogas ilícitas, os usuários de crack apresentaram maiores chances de abandono do tratamento. Já os usuários de heroína tiveram sintomas mais graves de doença.

Com relação ao poliuso de drogas, o estudo identificou piores desfechos durante o tratamento (insucesso, abandono, aumento de hospitalização, falhas nos retornos, tratamento mais prolongado e lesões mais avançadas).

Cadeias: reservatórios do bacilo da tuberculose

O perfil sociodemográfico das pessoas que se encontravam encarceradas no Paraná era composto predominantemente de homens, com idade entre 30 e 59 anos, de raça e cor branca, e residentes no perímetro urbano do Estado do Paraná. Entre estudantes da 1ª à 4ª série do ensino fundamental, houve prevalência no consumo de álcool, e entre 5ª à 8ª série, consumo de cigarro e drogas ilícitas.

Em relação às características clínicas dos casos de tuberculose, a maioria correspondeu a casos novos e do tipo pulmonar. A tuberculose também pode afetar outros órgãos, como a pleura e os gânglios linfáticos.

As prisões brasileiras são consideradas importantes reservatórios do bacilo da tuberculose, a Mycobacterium tuberculosis. O ambiente insalubre e superlotado é propício para a transmissão da doença entre presos, agentes penitenciários e familiares que fazem visitas aos detentos. Cerca de 11% dos casos brasileiros da doença ocorrem nas unidades prisionais, explica o orientador da pesquisa, o professor Ricardo Alexandre Arcêncio, professor da EERP, vice-presidente da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose (Rede-TB) e líder do Grupo de Estudos Epidemiológicos Operacional em Tuberculose (Geotb).

A tuberculose tem raízes sociais e atinge, principalmente, grupos vulneráveis (populações encarceradas, em situação de rua, comunidades indígenas, pessoas com HIV etc.). Segundo Arcêncio, a incidência de tuberculose nesses grupos é 20 vezes maior do que na população em geral, o que, na opinião do pesquisador, faz com que eles devam ter prioridade na implementação de políticas e estratégias públicas de saúde.

“Ignorar a existência do foco da doença nestes grupos vulneráveis significa que a Mycobacterium tuberculosis continuará circulando livremente entre a população em geral e será cada vez mais difícil eliminar a doença no Brasil”, diz o pesquisador.

Território de risco

Entre os locais que tinham maior risco de incidência da tuberculose e que também registraram índices altos no consumo de álcool, estavam as macrorregionais Leste (região metropolitana de Curitiba, capital do Estado do Paraná); a Norte (região de Londrina); e a Noroeste (região de Maringá, Umuarama, Cianorte e Paranavaí). A taxa de incidência foi de 5,4 casos/100 mil habitantes e um crescimento anual de 0,58% para o álcool.

As razões para esses elevados índices, segundo Scholze, são a alta concentração populacional – e consequentemente uma maior transição de pessoas de diferentes lugares – e às desigualdades sociais no atendimento de saúde.

Perguntado se a situação epidemiológica encontrada nos presídios do Paraná poderia ser replicada para outros estados brasileiros, Scholze afirma que sim, porque as condições dos sistemas prisionais são muito semelhantes em todo o Brasil.

O fato de ter trabalhado com dados secundários fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde do Estado do Paraná é considerado uma limitação para Scholze, embora ele reconheça que o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) é considerado uma fonte confiável para o desenvolvimento de estudos desta natureza.Para o orientador da pesquisa, o professor Arcêncio, o estudo trouxe um importante retrato do cenário epidemiológico deste grupo de risco no Brasil. Segundo ele, o estudo subsidia o Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose, que contempla a necessidade de intensificar ações estratégicas para promover a redução do ciclo de transmissão da tuberculose, do desenvolvimento de novos casos, bem como do abandono de tratamento, de óbitos e de tuberculose multirresistente, conclui.

A tese Análise espacial e temporal da tuberculose entre pessoas em uso crônico de álcool, tabaco e ou drogas ilícitas no Estado do Paraná foi defendida em novembro de 2021 na EERP. O desenvolvimento desta pesquisa também possibilitou a produção de quatro artigos científicos, publicados em periódicos nacionais e internacionais com alto fator de impacto.

Tuberculose: doença grave

A tuberculose é uma doença infecciosa grave transmitida pelo Mycobacterium tuberculosis, o bacilo de Koch. Os principais sintomas são tosse persistente, febre, catarro, sudorese, emagrecimento, cansaço e dor no peito. A transmissão acontece pela respiração ou pelo contato com secreções corporais. “Os pacientes com transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas apresentam mais chances de desenvolver tuberculose ativa [quando a doença se manifesta], falhas no tratamento relacionadas a interrupções e descontinuidades terapêuticas, além de óbitos precoces”, explica Alessandro Rolim Scholze, autor da pesquisa e membro do Grupo de Estudos Epidemiológicos-Operacionais em Tuberculose (Geotb).

O tratamento da tuberculose é feito com antibióticos e tem duração média de seis meses.,O abandono do tratamento, além de não recomendado, é considerado um dos problemas mais sérios para o controle da doença porque resulta na manutenção da fonte de infecção (cepas resistentes) em taxas de reaparecimento e aumento da mortalidade, explica Scholze.

Mais informações: scholze@uenp.edu.br, com Alessandro Rolim Scholze, e Ricardo Alexandre Arcêncio, e-mail ricardo@eerp.usp.br

Texto: Ivanir Ferreira
Arte: Guilherme Castro

Fonte: Jornal da USP

Medicamento para tratar déficit de atenção misturado com álcool coloca em risco a saúde dos jovens

Autorizado pela Anvisa para o tratamento do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e, mais recentemente, para a compulsão alimentar, o Venvanse tem assumido função recreativa entre os jovens e preocupado autoridades de saúde. Venvanse é o nome comercial de um fármaco derivado de anfetaminas, a lisdexanfetamina, que é de uso controlado e vendido apenas com prescrição médica.

Especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o professor Erikson Felipe Furtado adverte quanto aos perigos do uso indiscriminado da droga, seja para ficar acordado e eufórico em festas e eventos, seja para aumentar o foco em tarefas específicas, elevando a concentração.

Por ser “um psicoestimulante, que tem elevado risco de induzir dependência”, entre outros, Furtado afirma que a utilização do remédio não deve ser desviada de sua função originária, com riscos para os usuários, independentemente do efeito procurado.

 Efeitos agudos tóxicos

Ao fazer a associação do Venvanse com bebidas alcoólicas, os jovens tentam contrabalançar o efeito sedativo do álcool. Furtado esclarece que o psicoestimulante pode mascarar o cansaço de uma longa noite de festa, “mas isso não significa que não houve um desgaste físico e mental, o indivíduo está tendo um gasto energético e isso vai aparecer em algum momento”.

O desejo de aumentar a experiência sensorial é também um dos principais objetivos desses jovens. Os efeitos do álcool com o estimulante podem proporcionar uma sensação maior de euforia. O médico alerta, no entanto, que a combinação pode inibir as sensações desagradáveis decorrentes da bebida, impedindo que o usuário perceba sinais fisiológicos de que chegou no limite.

Além desses efeitos agudos tóxicos, Furtado aponta para a dupla sensibilização à ocorrência de dependência. “Cada uma dessas substâncias, tanto o álcool como a lisdexanfetamina, pode induzir à dependência, mas as duas combinadas têm uma potencialização no risco de ocorrência de dependência.”

Uso implica riscos

O especialista conta que, mesmo quando há prescrição médica, é sempre necessário o acompanhamento e monitoramento do paciente. O uso de derivados de anfetaminas implica sempre um risco para o surgimento de efeitos indesejáveis próprios dessa classe de substância.

Furtado conta que, ao usar esse medicamento, pode haver alterações cardiovasculares, alterações metabólicas e renais, alterações no funcionamento e regulação normal do apetite e do sono como também no nível de vigilância, implicando em longo prazo, na desregulação das funções do organismo.

Além disso, podem ocorrer alterações no humor e nas funções cognitivas, como no controle de impulso e nos processos mentais de raciocínio e julgamento. Furtado alerta que “pessoas com instabilidade emocional podem ser suscetíveis a risco mais elevado de alterações no humor e sintomas mentais graves como delírios e alucinações”.

Para aqueles pacientes com histórico de psicose, como esquizofrenia e bipolaridade, suas condições podem ser precipitadas ou provocadas pelo uso das substâncias. Da mesma maneira, os famosos tiques nervosos podem ser exacerbados ou até mesmo surgirem no indivíduo que estava assintomático.

Fácil acesso

Apesar de ser um remédio tarja preta, de uso controlado, que necessita de receita médica para ser adquirido, esses jovens conseguem com facilidade acesso ao medicamento. Furtado explica que esse é um problema de saúde pública, que esbarra em costumes sociais e configura um ato ilícito, contra normas de vigilância sanitária e policial.

A entrada clandestina do produto no País, o falseamento de receitas e simulação de problemas de saúde são as principais formas de acesso ao medicamento, na opinião do especialista.

Para combater o uso e venda indevidos, Furtado acredita que levar informação a esse grupo específico sobre os efeitos colaterais, combatendo fake news, pode ser o melhor caminho. Estar presente nas mídias sociais, onde esses jovens estão, é muito importante na propagação de informação de qualidade. “É plenamente possível se divertir e ter uma noite gostosa, agradável, sem fazer o uso dessas substâncias”, destaca Furtado.

Por Ana Beatriz Fogaça

FONTE: Jornal da USP

Consumo de álcool antes de dormir pode prejudicar o sono

A cachacinha antes do almoço e antes de dormir é uma tradição para o mineiro Gustavo Motta, de 43 anos. “O problema é que eu acabei transformando isso em uma ‘bengala’ para conseguir dormir, já que tenho sérios problemas para dormir. Ansiedade, TDAH e depressão fazem parte da minha realidade. Diagnosticado, mas não medicado”, desabafa o jornalista que mora em Cabo Frio (RJ). 

Gustavo disse que bebe todas as noites nos últimos 20 anos. “Desde 2001, quando tive um problema no joelho que acabou com minha carreira na dança, eu era dançarino e ator na época, foi quando meus problemas psicológicos se tornaram mais fortes”. Ele conta que toma aproximadamente meio litro de aguardente por dia.Embora o álcool consiga trazer relaxamento e acelerar o adormecimento, o hábito de beber antes de dormir prejudica a qualidade do sono, alerta o biomédico e pesquisador do Instituto do Sono, Gabriel Natan Pires.

“A curto prazo, o álcool altera a arquitetura do sono, fragmentando este sono, piora o ronco e a apneia, e ainda a própria sensação de ter bebido demais e a ressaca pioram o sono também”.

Gustavo disse que sente as consequências do hábito no dia a dia. “Sinto falta de força física, cansaço, fora os outros problemas como pancreatite, inflamação no fígado e até uma trombose. Não tenho dores de cabeça. Roncava muito, mas fiz algumas cirurgias no nariz para evitar o ronco”.

Consequências

O especialista explica as consequências a curto prazo que o hábito de tomar umas doses para dormir causam, como por exemplo, prejudicar o sono REM. [último estágio do ciclo do sono, dura cerca de 20 minutos cada e é nele que os sonhos acontecem.] e ocasionar muitos despertares. Com isso, é comum acordar cansado na manhã seguinte.

“O sono induzido por álcool não é natural, não serve como um sono reparador, não serve para descanso. Se a pessoa acorda com a sensação de que está mais cansado do que quando foi dormir é a prova de que o sono não foi adequado. O álcool nunca é adequado para induzir sono”.

Pires explica ainda sobre outra consequência a curto prazo: a apneia do sono. “A apneia do sono é aquela doença em que a pessoa tem pausas recorrentes na respiração durante a noite. O álcool relaxa a musculatura da garganta. Então a pessoa que ronca quando está sob o efeito do álcool vai roncar mais, porque a musculatura da garganta vai ficar mais flácida”. Para quem ronca, o álcool é muito muito pior, devido a apneia.

“A depender da quantidade de álcool que a pessoa toma, a ressaca vai piorar o sono, já que, com ressaca e dor de cabeça ninguém consegue dormir direito, ainda tem que levantar no meio da noite para urinar várias vezes. Então tem os efeitos do álcool agindo sobre o metabolismo do corpo, afetando o sono”.

Segundo o levantamento Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), em 2021, consumo de álcool com frequência foi de 18,3% para a população geral, indicando que, após o aumento visto em 2020, com prevalência de 20,9%, no primeiro ano da pandemia, o consumo abusivo retornou aos patamares percebidos desde 2010.

Estágios do sono

O sono acontece em uma sequência pré-determinada. A primeira fase é chamada não REM [do inglês: rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos em português] e tem três estágios. Em seguida vem o sono REM, quando acontecem os sonhos. “O sono não REM, que é esse que começa o sono, é mais profundo. Diferentemente do que as pessoas pensam, o sono ruim é um sono superficial, em que o cérebro está muito ativo. Mas no sono não REM, o cérebro está bem lento”.

O biomédico explica que durante o sono não REM existe um neurotransmissor no cérebro que predomina, chamado GABA [sigla do inglês Gamma-AminoButyric Acid – ácido gama-aminobutírico]. Este neurotransmissor reduz a atividade dos neurônios de várias regiões do cérebro, fazendo que funcionem mais lentamente. Por isso, é liberado pelo organismo no início do sono.

“Então quando o álcool entra no nosso corpo, ele acaba fazendo o mesmo efeito que o GABA faria. Por diminuir a função das regiões que promovem o despertar, o álcool também pode promover sono”.

Mas, não só no sono, mas em qualquer função do nosso corpo, detalha o médico. “Quando alguém  toma qualquer bebida alcoólica, ela primeiro vai inibindo funções como a social, então a pessoa fica desinibida. Depois vai perdendo o controle sobre a coordenação motora, depois da função da memória e até que pode chegar ao caso de intoxicação alcoólica, quando perde o controle da respiração, tudo isso porque o álcool vai inibindo essas funções”.

Tolerância perigosa

Além de prejudicar a qualidade do sono e aumentar o ronco e a apneia, o hábito de beber para dormir pode piorar com o tempo. “O sono vai ficando cada vez menos reparador e quando começa a se estabelecer a dependência, a ansiedade de ter que beber antes de dormir, já piora o sono”, alerta o médico.

Gabriel Natan Pires informou que, com o tempo, a tolerância à bebida aumenta, o que pode ser perigoso. “No começo, por exemplo, de um padrão de uso de álcool, a pessoa tinha que tomar uma taça de vinho para dormir. Depois de um tempo, uma taça de vinho já não faz o efeito que a pessoa precisa. Ela precisa tomar uma garrafa de vinho para dormir. Depois de um tempo não funciona mais. E esse padrão, de ter que aumentar a dose para conseguir o mesmo efeito é perigoso, porque a medida em que há o aumento, há o perigo de coma ou mesmo uma parada respiratória e por aí vai”.

Gustavo conta que também começou com poucas doses. “Comecei com pouco e fui aumentando. Acho que a capacidade de aguentar beber mais do que os outros, sem ter problemas com ressaca, fizeram esse hábito se tornar tão perigoso”.

O jornalista relata que já tentou mudar o hábito de beber para dormir. “Fiz tratamento psiquiátrico, mas não consegui dar segmento. É muito complicado entender o que acontece com a cabeça da gente. Eu já tentei várias vezes, mas não consegui. Hoje, sem perspectiva na vida e sem pensar em futuro, está ainda pior. Mas acredito que posso parar um dia”.

Mudança de hábito

Na visão do biomédico Gabriel Natan Pires, a pessoa que não consegue dormir sem tomar álcool vive uma espécie de condicionamento. De acordo com o grau de dependência, pode ter uma síndrome de abstinência, caso decida interromper esta rotina. Nesse sentido, é necessário ajuda médica e psicológica para se livrar deste hábito.

“O uso de álcool é uma dependência química. Então, é sempre muito melhor que a gente aposte na prevenção”, finalizou.

Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil

Estudo descreve os mecanismos moleculares da disfunção erétil por consumo de álcool

Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP descreve os mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção erétil desencadeada pelo consumo excessivo de álcool. O estudo realizado pelo professor Carlos Renato Tirapelli, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, mostrou que o álcool afeta a circulação sanguínea do corpo cavernoso, músculo do pênis que se dilata ou contrai conforme o órgão recebe estímulos. Para ficar ereto, os vasos sanguíneos no corpo cavernoso precisam estar dilatados, permitindo maior circulação de sangue. Porém, com o álcool presente no organismo, os vasos se contraem mais, o que reduz o fluxo sanguíneo e impede a ereção do pênis. Os resultados da pesquisa estão em artigo da European Journal of Pharmacology.

A relação entre o etanol e a disfunção erétil não é novidade, uma vez que já vem sendo descrita na literatura científica há bastante tempo. Pesquisadores da Universidade de Hong Kong descreveram os efeitos prejudiciais do álcool na ereção em 2007.

Entretanto, diz o professor, “essa é a primeira vez que um estudo foca nos mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção erétil desencadeada pelo consumo excessivo de álcool”.

A disfunção erétil é um problema muito comum entre os homens. Dentre os brasileiros, cerca de 16 milhões sofrem da condição, principalmente homens acima de 40 anos. Mas, independentemente da idade, fatores como estresse, depressão e baixa autoestima podem desencadear o problema de impotência sexual. E, ainda, a impotência sexual pode ser um indicador de doenças cardíacas no futuro. Já se sabe também que o consumo excessivo de álcool pode contribuir significativamente para a disfunção erétil. A pesquisa da USP ajuda a mostrar como isso ocorre.

Prejudica a vasodilatação

No estudo, o corpo cavernoso foi analisado in vitro (em células no laboratório) e em ratos. O professor Tirapelli conta que um grupo de cobaias recebeu, diariamente, uma solução com 20% de teor alcoólico, durante seis semanas. “Ao final desse período percebeu-se que o músculo do pênis se contraía mais que o normal, indicando que o consumo frequente de álcool prejudica a vasodilatação do órgão.”

O exagero nas bebidas alcoólicas prejudica a dilatação dos vasos sanguíneos do órgão que, por sua vez, pode resultar em disfunção erétil – Foto: Wikipédia

 

Segundo o professor Tirapelli, os resultados mostraram que o consumo regular de álcool desencadeia o estresse oxidativo no corpo cavernoso, provocando menor produção de óxido nítrico (NO), molécula presente no organismo que contribui para a vasodilatação. Assim, o pesquisador administrou um antioxidante em outro grupo de ratos tratados com a solução contendo álcool. “Esse grupo não sofreu os efeitos do estresse oxidativo e, com isso, não houve prejuízos na vasodilatação do pênis. Assim, é possível afirmar que o etanol pode ser considerado um fator que prejudica a vasodilatação do corpo cavernoso e predispõe o indivíduo a desenvolver disfunção erétil.”

Degradação dos neurônios

Fazendo analogia com os seres humanos, diz o professor, “dependendo da quantidade de álcool consumida numa festa, por exemplo, independentemente da bebida ser destilada ou não, o corpo cavernoso fica contraído até que o álcool seja eliminado da corrente sanguínea”. O professor ainda lembra que, devido ao consumo crônico de álcool, o indivíduo pode desenvolver a neuropatia, uma doença que causa a lesão e degradação dos neurônios. “Durante o estudo, o grupo de animais tratado apenas com a solução de álcool apresentou uma resposta menor aos estímulos neurais. Esse resultado aponta o prejuízo aos neurônios causado pelo consumo da solução de álcool.”

“O mais recomendável seria evitar as bebidas alcoólicas. O problema é que o álcool é uma droga lícita acessível a grande parte da população. E não é só isso, a população em geral acredita que os efeitos do álcool se limitam a algumas horas após seu consumo, o que não é verídico.”

Mais informações: e-mail crtirapelli@eerp.usp.br, com o professor Carlos Renato Tirapelli

FONTE: Jornal da USP

Transtornos de personalidade e dependentes de álcool

Pessoas diagnosticadas com transtornos de personalidade possuem maior propensão a serem dependentes de álcool, especialmente em sua forma mais grave. A análise é de um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina (FMUSP) com mais de cinco mil moradores da região metropolitana de São Paulo.

 

Carolina Hanna de Aquino Chaim, médica psiquiátrica do IPq e uma das pesquisadoras envolvidas nas análises dos dados – Foto: Arquivo pessoal da pesquisadora

“Pessoas que sofrem com transtornos de personalidade adquirem ao longo da vida alguns padrões de comportamentos disfuncionais (pensamentos, percepções, reações) que acabam interferindo em suas relações com a vida e com o outro, trazendo-lhes muito sofrimento”, explica ao Jornal da USP Carolina Hanna de Aquino Chaim, médica psiquiátrica do IPq e uma das pesquisadoras envolvidas nas análises dos dados.

O transtorno envolve a presença de variados sintomas comportamentais patológicos, como instabilidade emocional, tendência a relacionamentos interpessoais complicados, excentricidade, necessidade de chamar atenção, dificuldade em ter empatia e seguir condutas sociais, relata o estudo.

“A compreensão de fatores comportamentais associados ao consumo e à dependência do álcool contribui para direcionar abordagens terapêuticas e traçar estratégias mais específicas de prevenção e intervenção direcionadas para essa população”

Os dados estão no artigo Alcohol use patterns and disorders among individuals with personality disorders in the Sao Paulo Metropolitan Area, publicado em março na revista científica PLOS ONE, a partir da pesquisa de amostragem sobre saúde mental na região metropolitana de São Paulo, feita entre 2005 e 2007, por um grupo de instituições nacionais e estrangeiras, em uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o levantamento foi coordenado pela professora Laura Helena Silveira Guerra de Andrade, orientadora de Carolina Hanna e uma das autoras do artigo.

A médica psiquiátrica diz que “a compreensão de fatores comportamentais associados ao consumo e à dependência do álcool contribui para direcionar abordagens terapêuticas e traçar estratégias mais específicas de prevenção e intervenção direcionadas para essa população”. Ela diz que “a existência de uma ou mais doenças adicionais pode complicar os sintomas e atrasar o diagnóstico, além de interferir no prognóstico e tratamento dos pacientes”.

Segundo Carolina, é importante ressaltar que, apesar da dependência do álcool ser mais comumente presente em pessoas com algum transtorno mental prévio, todo indivíduo pode desenvolver a dependência se o consumo começar a ser prioritário e gerar problemas de saúde mental ou física, ou de relacionamentos.

Muitos estudos mostram que não existe um nível seguro de consumo de álcool e este deve ter evitado especialmente em populações de risco, como crianças e adolescentes, grávidas, ou pessoas com outras doenças clínicas e/ou psiquiátricas que possam ter a evolução agravada pelo álcool.

Afetividade negativa

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) e o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), os sintomas dessa patologia estão subdivididos em três grupos, “clusters A, B e C” (veja quadro abaixo). As pessoas cujos sintomas fazem parte do cluster B foram as que mais pontuaram (70%) na pesquisa para dependência ou abuso de álcool, relata o artigo.

Segundo Carolina, “a afetividade negativa é um solo fértil para dependências de drogas e jogos”, exemplifica. “Quem sofre com esse problema tem uma tendência em beber na busca de um prazer imediato e para fugir/compensar o vazio. Passado o efeito da substância, o desconforto persiste e a pessoa recai no afeto negativo, o que a leva a buscar novamente a intoxicação”, diz.

Classificação de Transtornos de Personalidades de acordo com DSM-5 – Clusters A, B e C

CLUSTER A CLUSTER B CLUSTER C
 Transtorno de personalidade paranoica Transtorno de personalidade antissocial Transtorno de personalidade esquiva
 Transtorno de personalidade esquizoide Transtorno de personalidade limítrofe Transtorno de personalidade dependente
 Transtorno de personalidade esquizotípica Transtorno de personalidade histriônica Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva
Transtorno de personalidade narcisista

Resultados

Analisando os dados, a maior prevalência encontrada para ambos os transtornos (de personalidade e de abuso de álcool) foi para o cluster B (36,3%), quando comparado com os clusters A (32,7%) e C (23,6%). Quando se avaliou “padrões e transtornos do uso de álcool entre indivíduos com transtornos de personalidade”, os resultados apresentados para os que relataram uso de álcool em anos anteriores foram: 72,4% dos entrevistados eram do cluster B; 64,9%, do cluster A; e 48%, do cluster C.

Quando questionados sobre regularidade do consumo de bebida alcóolica, 89,2% era do cluster B, sendo que, destes, 36,3% apresentaram “padrão de beber pesado e com frequência”. Já os do cluster A pontuaram em 80,4% para regularidade e 32,7% para beber pesado e com frequência; e os do cluster C, 79,3%, para regularidade e 23,6% para o beber pesado frequentemente.

Resultado semelhante aconteceu quando foi perguntado aos entrevistados sobre o “padrão de consumo de bebida alcoólica”, considerando como categorias o “uso frequente” e “beber pesado”. Neste quesito, as pessoas do cluster B também tiveram pontuação mais elevada para o “beber pesado” (37,1%), o que corresponde a mais de cinco doses por ocasião; o cluster A ficou com 19,5%, e o C, com 22,4%.

Métricas para diagnóstico de abusos de álcool

Carolina explica que a métrica usada para diagnóstico de transtornos por uso de álcool é baseada na quantidade de problemas relacionados (ao todo são 11), considerando ainda as categorias “leve”, “moderado” e “grave”, conforme o número de problemas apresentados nos últimos 12 meses. “Leve”, quando há a presença de dois a três problemas relacionados; “moderado”, de quatro a cinco; e “grave”, com seis ou mais.Entre os 11 critérios ou problemas relacionados estão: se o álcool é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido; se há fissura e/ou desejo intenso de consumir álcool; se o uso da bebida continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico que pode ser exacerbado pelo seu uso; se muito tempo é gasto em atividades necessárias para obtenção do álcool, dentre outros.

Já a métrica para o “beber pesado” considera a ingestão de quatro a cinco doses de álcool numa mesma ocasião, sendo que cada dose teria que ter o volume de etanol contido em uma cerveja (330 mililitros – ml) ou de uma taça de vinho, de 100 a 120 ml, ou de 40 a 50 ml de bebidas destiladas.

Mais informações: e-mail carolina.hanna@usp.br, com Carolina Hanna de Aquino Chaim

FONTE: Jornal da USP