Estudo revela que mais de 50% dos casos de demência na América Latina são evitáveis

Pesquisa recomenda que intervenções preventivas sejam feitas com urgência, com promoção de mudanças no estilo de vida e acesso a tratamentos médicos

Um estudo inovador conduzido pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e publicado em artigo na revista The Lancet Global Health revelou que 54% dos casos de demência na América Latina são atribuíveis a fatores de risco modificáveis, um índice acima da média mundial de 40%. A pesquisa, liderada por Claudia Kimie Suemoto, professora da disciplina de Geriatria da FMUSP, destaca a urgência de intervenções preventivas na região. Fatores de risco modificáveis são condições que podem ser alteradas no estilo de vida ou com acesso a tratamentos médicos. Ou seja, podem ser prevenidas.

A partir de dados da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Honduras, México e Peru, o estudo analisou medições de 12 fatores: baixa educação, perda auditiva, hipertensão, obesidade, tabagismo, depressão, isolamento social, inatividade física, diabete, consumo excessivo de álcool, poluição do ar e lesão cerebral traumática. Coletadas entre 2015 e 2021, as amostras variaram de 5.995 a 107.907 participantes, com idades a partir dos 18 anos.

“Essa é a primeira vez que uma região inteira tem um estudo tão robusto. Não existe nada parecido na Europa nem na Ásia, que também são conjunções de países, como é a América Latina”, explicou a professora da FMUSP.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente 55 milhões de pessoas têm demência ao redor do mundo e mais de 60% dos casos se concentram em países em desenvolvimento. A instituição calcula que em 2050 esse número aumentará para mais de 150 milhões.

Fatores de risco

Demência resulta de uma variedade de doenças e lesões que afetam o cérebro. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência e pode contribuir entre 60% e 70% dos casos. A demência não afeta exclusivamente pessoas mais velhas. A OMS estima que até 9% dos casos tiveram início precoce (antes dos 65 anos).

Na América Latina, a pesquisa revelou que os principais fatores de risco são a obesidade, a inatividade física e a depressão. Esses achados têm implicações significativas para estratégias de saúde pública e prevenção de demência direcionadas individualmente. “Esses são fatores relacionados ao estilo de vida e a ideia da análise é isolar cada um para identificar o potencial de prevenção de demência”, detalha Claudia. “Por exemplo, quando a atividade física é realizada de forma regular, melhora a saúde vascular, que promoverá uma melhor nutrição e oxigenação cerebral. A obesidade pode estar relacionada às demências através da promoção de neuroinflamação”, detalhou.

Na Bolívia, a prevalência de baixa escolaridade atingiu 63,5%, enquanto no Brasil foi de 46,7% e em Honduras, 41,8%. A hipertensão foi menos comum na Bolívia (3%) e mais prevalente no Brasil (46,4%). O consumo excessivo de álcool foi menor no Brasil (4,3%) e maior na Argentina (32,8%). O Brasil também apresentou o índice mais baixo no fator isolamento social (1,6%) e a Bolívia o mais alto (64,2%). Honduras teve a maior taxa de tabagismo (86,9%) e Peru a menor (58,3%). Já a poluição do ar foi menos prevalente no Peru (47,6%) e mais comum no Chile (86,2%). Obesidade, depressão e inatividade física foram mais consistentes, exceto no Peru e México, onde a depressão (4,4%) e a inatividade física (17,7%) foram mais baixas.

“As demências possuem um potencial alto de prevenção. Se a gente pensar em termos de porcentagem e de saúde pública, temos exemplos positivos de políticas públicas relacionadas à diminuição da prevalência dos fatores de risco. Na Argentina, a ‘baixa educação’ não é prevalente, por políticas públicas que diminuíram esse índice no passado. Outro ponto importante está relacionado ao tabagismo”, diz a pesquisadora. “Praticamente nenhum país da América Latina apresenta relação atribuível muito alta porque existem políticas há muito tempo inibindo o uso de cigarro, proibindo consumo em ambientes fechados ou com a taxação sobre o produto”, disse a pesquisadora.

Líder de estudos anteriores focados nos fatores de risco modificáveis do Brasil e Argentina, a professora da FMUSP conta que os resultados brasileiros já foram abraçados pelo Ministério da Saúde. “A partir disso, o Ministério está desenvolvendo uma série de campanhas para informar sobre as demências no Brasil, incluindo uma campanha de prevenção”, destaca. “É muito importante que a população entenda que a prevenção de demência começa cedo e quais são os principais fatores de risco. E, também, o que pode ser feito hoje para prevenir a longo prazo”, celebrou a professora da FMUSP.

No Brasil, estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas têm demência, com grande parte dos casos ainda não diagnosticada. A maioria depende do cuidado oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Mais informações: cksuemoto@usp.br, com Claudia Kemi Suemoto

*Assessoria de Comunicação e Imprensa da FMUSP, adaptado por Júlio Bernardes
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Tratamento contra câncer de cérebro modifica a forma como o DNA tumoral se comporta

Ao analisar um dos maiores grupos de amostras de pacientes com glioma da literatura científica, pesquisadores da USP observaram alterações em genes relacionados à agressividade do câncer após quimio e radioterapia. Descoberta pode orientar mudanças nas abordagens terapêuticas

Estudo publicado na revista Cancer Research revela que os tratamentos comumente usados no combate ao glioma – um dos tipos mais comuns de câncer no cérebro – podem alterar a forma como o DNA tumoral se comporta e sua agressividade. Segundo os autores, a descoberta pode representar um primeiro passo para modificações na abordagem terapêutica atual.

Os gliomas representam cerca de 42% de todos os tumores cerebrais, incluindo os benignos, e 77% dos malignos, ou seja, aqueles agressivos e incuráveis, de acordo com dados do A. C. Camargo Cancer Center. A incidência da doença, que é rara em crianças, aumenta com a idade, sendo mais comum em pessoas entre 75 e 84 anos.

Uma das características mais relevantes para a classificação da agressividade e gravidade desse tipo de tumor nos pacientes são as chamadas alterações epigenômicas, ou seja, processos bioquímicos que modificam o padrão de expressão dos genes, como a metilação do DNA (adição de um grupo metil à molécula). Tal fato foi constatado anteriormente, em 2016, pelo mesmo grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP que assina o novo artigo.

A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Epigênomica do Câncer na FCFRP da USP – Foto: Arquivo pessoal dos pesquisadores

“Observamos nos pacientes com tumores de baixo grau que receberam tratamento uma alteração epigenética que deixou esses tumores parecidos com tumores de alto grau, que são muito mais agressivos; parece então haver uma associação entre o tratamento e as alterações no DNA desses pacientes”, explica Tathiane Malta, primeira autora do estudo e coordenadora do Laboratório de Epigenômica do Câncer da FCFRP da USP. “Agora, precisamos confirmar se essas alterações epigenéticas estão envolvidas na progressão para tumores mais agressivos.”

No estudo atual, realizado no âmbito de um Auxílio à Pesquisa Jovem Pesquisador da Fapesp, os cientistas avaliaram a evolução epigenética dos gliomas em resposta à pressão terapêutica, analisando os resultados de amostras de 132 pacientes. Os dados incluíam informações tanto sobre o tumor primário quanto sobre o recorrente após o tratamento, o que permitiu uma melhor comparação. Trata-se do maior grupo de glioma longitudinal já registrado na literatura científica.

Diversos aspectos relacionados a alterações no epigenoma puderam ser observados, como a maior proliferação de células tumorais, o aumento de células vasculares no tumor e mudanças no microambiente tumoral. No entanto, um se destacou: pacientes IDH1 mutantes (com melhor prognóstico inicial) que foram tratados com quimioterapia ou radioterapia apresentaram maior alteração no epigenoma tumoral.

“Vimos que esses gliomas apresentam níveis iniciais elevados de metilação do DNA, que são progressivamente reduzidos quando há recorrência da doença após a quimio ou radioterapia, e se tornam mais agressivos”, conta Malta. “Já o epigenoma dos pacientes IDH selvagem – os inicialmente mais agressivos – são mais estáveis, com níveis relativamente baixos de metilação, ou seja, nesse caso, os tumores primários são bastante parecidos com os recorrentes, inclusive porque já se encontravam em um grau máximo de agressividade.”

“Isso quer dizer que o tratamento, de alguma forma, modifica esse tumor, e essa mudança está associada à agressividade.”

Mudanças na abordagem terapêutica

De acordo com Malta, ao demonstrar que a regulação epigenética está associada com a progressão do câncer, o trabalho contribui para o melhor entendimento da biologia tumoral e, consequentemente, abre espaço para novas abordagens terapêuticas com esse direcionamento.

Os próximos passos para entender a implicação da descoberta e avaliar seu real impacto no tratamento dos gliomas devem incluir, em um primeiro momento, a realização de tratamentos in vitro em linhagens de tumores e, na sequência, em modelos in vivo para confirmar os resultados já obtidos.

“Como nesse estudo nos baseamos em uma coorte retrospectiva, com dados coletados de muitas instituições e manejos clínicos que passaram por alterações ao longo do tempo, é preciso considerar a presença de diversos vieses.”

O artigo The epigenetic evolution of glioma is determined by the IDH1 mutation status and treatment regimen pode ser lido em: https://aacrjournals.org/cancerres/article/84/5/741/734933/The-Epigenetic-Evolution-of-Glioma-Is-Determined.

*Da Agência Fapesp

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Desafios do Sono no Brasil: Impacto, Causas e Alternativas

Cerca de 73 milhões de brasileiros enfrentam distúrbios do sono, revelam estudos da Associação Brasileira do Sono (ABS). Apesar de sua prevalência, especialistas destacam um aumento nas últimas décadas, influenciado por fatores como idade, gênero e posição socioeconômica.

Insônia e suas Origens

A insônia, marcada pela dificuldade em manter o sono contínuo e pela latência aumentada, afeta o bem-estar diário. Dra. Rosa Hasan, do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, aponta que as doenças mentais, especialmente depressão e ansiedade, são as principais causas.

Origens e Impactos na Vida Cotidiana

A insônia, muitas vezes sintoma inicial, pode se tornar crônica, impactando negativamente o desempenho acadêmico, profissional e a saúde cardiovascular. Jovens, devido ao uso excessivo de redes sociais, agora estão mais propensos a esse problema.

Uso de Medicamentos e Alertas Médicos

O Zolpidem, amplamente usado para tratar insônia, apresenta riscos de dependência. Dra. Rosa destaca o aumento do uso de medicamentos e adverte contra a automedicação, enfatizando a necessidade de receitas individualizadas.

Tratamentos Alternativos e Abordagem Individualizada

Apesar do aumento do uso de medicamentos, o tratamento padrão envolve terapias psicológicas e comportamentais. Dra. Rosa propõe uma abordagem mais controlada para medicamentos, promovendo conscientização sobre seu uso cauteloso.

Conclusão

Enfrentar os desafios do sono no Brasil requer uma compreensão profunda das causas e a promoção de abordagens individualizadas. Conscientizar o público sobre os riscos associados ao uso indiscriminado de medicamentos é fundamental para uma gestão eficaz desse problema crescente.

FONTE: Jornal da USP

Desigualdade de gênero pode afetar estrutura cerebral de mulheres

Um novo estudo encontrou evidências de diferenças significativas na espessura do córtex cerebral entre homens e mulheres em populações com grande desigualdade de gênero. Nas regiões do cérebro onde foi identificada, a variação é interpretada pelos pesquisadores como maior vulnerabilidade em termos de saúde mental – e pode indicar que as mulheres estiveram mais expostas a situações adversas desde o início da vida.

Quando comparadas, imagens de ressonância de homens e mulheres mostraram diferenças nas seguintes regiões: giro cingulado anterior caudal direito, giro orbitofrontal direito e córtex occipital lateral esquerdo. Nesta população, os homens possuíam uma espessura cortical maior em relação às mulheres nessas áreas. Ainda não há como determinar as consequências destas diferenças na prática, mas sabe-se que estas regiões são responsáveis pelo gerenciamento das emoções, pela resiliência em situações adversas e na regulação dos sentimentos negativos. Também são associadas ao processamento de memória, à avaliação de riscos e à modulação do medo e ansiedade.

O índice de desigualdade de gênero foi estabelecido pelo Fórum Econômico Mundial em 2006. Desde então, é avaliado anualmente em 156 países do mundo e abrange quatro dimensões: participação e oportunidade econômica, acesso à educação, empoderamento político, saúde e sobrevivência. Os dados são colhidos localmente e se traduzem em uma comparação das informações para compor um indicativo da diferença entre homens e mulheres, considerados a partir de sexo biológico somente, sem levar em conta as identidade de gênero. No artigo, os pesquisadores reconhecem que esta é uma limitação dos dados com que trabalharam, já que não há sobreposição entre sexo biológico e identidade de gênero.

Com essas informações, foi possível correlacionar situações de vida menos favoráveis das mulheres com o desenvolvimento neuronal. Assim, menos escolaridade, menos cuidados na infância, e maior mortalidade materna parecem ter impacto não só psicológico, mas também na estrutura do cérebro.

O que torna o estudo especialmente relevante é a utilização de diferentes populações combinadas e uma amostra grande, trazendo uma nova perspectiva sobre essas diferenças cerebrais. Foram colhidas e analisadas por um grupo internacional de cientistas imagens de ressonância magnética de 7876 adultos, entre 18 e 40 anos de idade, de 79 países.

O médico Pedro Gomes Rosa, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que participou da pesquisa, destaca alguns pontos importantes para compreender os resultados obtidos:

Quando nascemos, existem diferenças entre os cérebros de bebês do sexo masculino e feminino. No entanto, as semelhanças entre eles são muito maiores, sem que sejam percebidas diferenças na região cortical. Os resultados da pesquisa não são explicados pela biologia somente, mas considerando uma variável social específica, a desigualdade de gênero, que pode ter impacto ao longo do crescimento. As variáveis sociais são difíceis de serem estudadas de forma isolada. Este estudo é pioneiro nesse sentido, pois conseguimos mostrar uma relação entre essa variável e modificações na espessura cortical.”

O pesquisador explica que as diferenças documentadas no estudo podem ser compreendidas como um reflexo do que aconteceu ao longo da vida, particularmente em alguns momentos da infância e adolescência. “Há dois momentos dramáticos em termos de neurodesenvolvimento – os chamados primeiros mil dias, que englobam a gestação e os dois primeiros anos de vida, além da puberdade. As meninas iniciam a puberdade antes dos meninos muitas vezes em um contexto de estresse, o que tem reflexos na saúde mental”, disse ao Jornal da USP.

No Brasil, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, as meninas de 13 a 17 anos se sentem mais tristes, sofrem mais violência doméstica e abuso sexual e possuem uma maior insatisfação com o próprio corpo em relação aos meninos. Esses dados justificam um quadro menos favorável em termos de bem-estar psicológico.

Para o neurocientista Raymundo Machado de Azevedo Neto, assistente de pesquisa no Instituto de Cérebro no Hospital Albert Einstein, o trabalho apresentou resultados coerentes com o que ele tem se deparado em diversos estudos. “Maiores diferenças de espessura cortical e volume de hipocampo entre homens e mulheres em populações com maior desigualdade social eram esperadas por conta dos estudos prévios. O que esse estudo tem de novidade é a possibilidade de verificar essas diferenças combinando diferentes populações e com uma amostra robusta.”

As imagens foram feitas em diferentes países (veja mapa). Uma das preocupações dos pesquisadores foi verificar se havia a possibilidade de distorções locais, isto é, alguns dos países apresentavam resultados destoantes do resultado mais amplo. Entretanto, de acordo com os autores, os testes estatísticos mostraram que o resultado permanece constante nos diferentes países, sem apresentar variações de uma localidade a outra, ou mesmo entre regiões diferentes, o que reforça a possibilidade de um fenômeno que vai além dos aspectos culturais locais.

 

Mapa mostra regiões que entraram na pesquisa. No estudo, quanto maior o nível de desigualdade de gênero em um país, maior foi a diferença média encontrada na espessura cortical entre mulheres e homens – Imagem do artigo/PNAS Psychological and Cognitive Sciences

Ressalvas

Bruna Velasques, psicóloga e neurocientista especializada em desenvolvimento infantil, vê os resultados com ressalvas: “o fato da pesquisa ter sido realizada em diversas culturas não significa que a cultura não possa ter promovido esse efeito. O neocórtex e as áreas subcorticais são estruturas dependentes do ambiente. Quando falamos em neurodesenvolvimento estamos falando de estruturas que estão em formação durante o contato da criança com o mundo que a cerca. E a maior parte das culturas têm essa oposição de homem versus mulher. Estudos que tentam identificar as diferenças de gênero e os efeitos da pobreza são sensíveis, já que é difícil isolar essas variáveis.” Ela acrescenta ainda que o fato de se verificar as diferenças estruturais cerebrais entre os gêneros não implica em saber o que essas diferenças significam efetivamente.

É nessa direção que Pedro Gomes Barbosa conclui: “o estudo traz novas perguntas em vez de responder a questões que gostaríamos. As variáveis precisarão ser melhor compreendidas. Por exemplo, como pensar a prevalência de depressão entre as mulheres? Ou o abuso de substâncias entre os homens?”

artigo foi liderado pelo pesquisador Nicolas Crossley, professor visitante da Universidade de Oxford, Reino Unido e por André Zugman, pesquisador do National Institute of Mental Health, nos Estados Unidos, que completou seu doutorado na Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Contou ainda com a colaboração dos professores do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e dos pesquisadores do Laboratório de Neuroimagem em Psiquiatria da FMUSP.

Mais informações: e-mail pedrogomesrosa@gmail.com, com Pedro Gomes Rosa

*Pesquisadora colaboradora da FMUSP, com edição de Luiza Caires e Valéria Dias
**Sob supervisão de Moisés Dorado e Simone Gomes de Sá

FONTE: Jornal da USP

Projeto Missão Peregrina faz a diferença na vida de crianças na periferia de São Paulo

A iniciativa da ONG Teceranda tira centenas de crianças de situações de risco através da educação, esporte, cultura e lazer.

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Você já viu uma criança sozinha na rua ao passar por uma das periferias do país? Se sim, talvez tenha se perguntado onde estariam os seus pais, porque ela não está em casa ou na escola, ou tenha tentado encontrar razões para ela se encontrar em uma situação tão vulnerável. Principalmente, você pode ter se perguntado se existe alguém fazendo algo por essas crianças.

Há mais de 20 anos, O Projeto Missão Peregrina vem trabalhando para descobrir o nome e história por trás de cada uma dessas crianças e tirá-las de situações de risco e vulnerabilidade em Cabuçu, Guarulhos, na região metropolitana da capital paulista.

Formado por um grupo de profissionais e voluntários, muitos dos quais já passaram pela mesma situação, o projeto visa integrar essas crianças a uma rede de apoio e proteção contra todo tipo de abuso e reforçar a sua formação educacional e cidadã.

Cerca de 100 crianças são matriculadas anualmente na Escolinha da Tia Dê, o espaço onde o Projeto Missão Peregrina oferece, no contraturno escolar, atividades diárias de cunho socioeducativo com crianças de 3 a 12 anos, priorizando a complementação escolar e esportiva, arte, cultura e lazer. Em outras palavras, além de promover a formação educacional, o projeto também os mantém seguros e longe de riscos enquanto os seus pais estão trabalhando.

O projeto é uma iniciativa da ONG Teceranda, uma organização não-governamental sem fins lucrativos que tem como missão “a busca por uma sociedade formada por indivíduos que são capazes de cuidar do outro e exercer a justiça social” em busca de um mundo com mais pessoas capazes de quebrar o ciclo de vulnerabilidade individual e comunitária. A ONG também já desenvolveu projetos com o Arte, Mulher e Memória Cultural em Alagoas entre 2016 e 2019.

A 50+ SAÚDE acredita que o seu papel social se estende além de nossos clientes e colaboradores. Por isso e, em reconhecimento à qualidade e importância de seu trabalho, apoiamos a ONG Teceranda e o Projeto Missão Peregrina mensalmente na manutenção de sua equipe, alimentação das crianças e outras necessidades.

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Faça parte dessa história

Além do auxílio prestado por instituições e empresas como a 50+ SAÚDE, a ONG Teceranda também conta com pessoas como você para manter projetos como o da Missão Peregrina direta e indiretamente. Você pode colaborar com doações de alimentos ou contribuições financeiras de qualquer valor que serão destinadas aos salários dos professores e profissionais.

Juntos, podemos garantir que a Missão Peregrina faça ainda mais a diferença na vida de crianças da periferia de São Paulo.

Você pode colaborar das seguintes formas:

Doação mensal ou pontual:

PIX: 14 773 909 0001 97 (CNPJ Teceranda)

Doação de alimentos:

Telefone: (11) 99784-0714
Contato: Denise (Tia Dê)

Saiba mais

Projeto Missão Peregrina

Acompanhe o Projeto Missão Peregrina nas redes sociais:

Você também pode fazer uma visita e conhecer as crianças pessoalmente:

Estrada do Sabão, 421, Jardim Doraly, Guarulhos-SP

ONG Teceranda

Telefone: (11) 99784-0714
Contato: América (Fundadora)
E-mail: teceranda@gmail.com

Conheça os benefícios dos curativos com espuma e prata

Curativos com espuma e prata são um tipo de curativo utilizado para ajudar a cicatrizar mais rapidamente feridas infectadas. Eles são frequentemente utilizados em hospitais e clínicas para tratar feridas crônicas, como úlceras de pressão, feridas cirúrgicas e queimaduras.

Os curativos com espuma são compostos por uma camada de espuma macia que ajuda a absorver o exsudato, ou líquido que é liberado por feridas infectadas. A camada de espuma também ajuda a manter a umidade na ferida, o que é essencial para a cicatrização. A camada de espuma é coberta com uma camada de prata, que é conhecida por suas propriedades antimicrobianas.

A prata tem sido utilizada há séculos para tratar infecções, e é conhecida por suas propriedades antimicrobianas. Quando a prata entra em contato com bactérias, ela interfere na função celular dessas bactérias, o que pode ajudar a matá-las.

Os curativos com espuma e prata são particularmente úteis no tratamento de feridas infectadas, pois podem ajudar a prevenir a infecção e acelerar a cicatrização. A prata é eficaz contra uma ampla gama de bactérias, incluindo Staphylococcus aureus, que é uma das principais causas de infecções hospitalares.

Conheça as melhores ofertas em curativos com espuma e prata

Os curativos com espuma e prata são geralmente usados em conjunto com outras terapias, como antibióticos e desbridamento de feridas. O desbridamento é o processo de remoção de tecido morto ou danificado da ferida, o que ajuda a limpar a ferida e acelerar a cicatrização.

Existem vários tipos de curativos com espuma e prata disponíveis no mercado. Alguns são projetados para uso em feridas superficiais, enquanto outros são mais adequados para feridas profundas. Os curativos com espuma e prata também estão disponíveis em diferentes tamanhos e formas para se adaptar às diferentes necessidades de cada ferida.

Os curativos com espuma e prata são fáceis de aplicar e trocar, o que os torna uma opção conveniente para pacientes que precisam de tratamento de feridas em casa. Os pacientes devem sempre seguir as instruções do fabricante e do médico para garantir que o curativo seja aplicado corretamente e trocado regularmente.

Os curativos com espuma e prata são geralmente bem tolerados pelos pacientes, mas podem causar reações alérgicas em algumas pessoas. É importante que os pacientes informem o médico imediatamente se notarem qualquer irritação ou reação alérgica após a aplicação do curativo.

Em resumo, os curativos com espuma e prata são uma opção eficaz e conveniente para o tratamento de feridas infectadas. Eles podem ajudar a prevenir a infecção e acelerar a cicatrização, tornando-os uma escolha popular entre os profissionais de saúde e pacientes. No entanto, é importante lembrar que o tratamento de feridas deve ser sempre supervisionado por um profissional de saúde, e os pacientes devem seguir as instruções cuidadosamente para garantir a eficácia do tratamento.

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Acúmulo de sódio no cérebro pode ser uma das causas da hipertensão

Estudos na USP com animais demostraram que o alto consumo de sal leva a um quadro de hipertensão arterial, retenção de sódio no líquor e ativação dos astrócitos, as células mais abundantes do sistema nervoso central

A associação entre o sal (cloreto de sódio) e a pressão arterial é estudada há mais de 120 anos. No entanto, nunca se conseguiu esclarecer por completo a relação entre o alto consumo de sal e alterações no sistema nervoso central (SNC), que contribui para a chamada hipertensão neurogênica. Agora, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP conseguiram dar um passo importante na compreensão desse processo. Além de descobrirem que parte do sal consumido em excesso fica retida no líquido cerebroespinal (líquor), eles sugeriram um possível mecanismo que desencadeia a doença e que envolve a ativação não somente de neurônios, mas também de células da glia. Trata-se de um avanço importante na descoberta de mecanismos e conexões entre células neurais envolvidos na gênese da hipertensão dependente do alto consumo de sal.

Os estudos, publicados nas revistas científicas Molecular and Cellular Neuroscience e Experimental Physiology, foram realizados em ratos albinos que consumiram sal em excesso. Os animais receberam uma solução de água com 2% de cloreto de sódio por uma semana e desenvolveram hipertensão. Além do aumento da pressão arterial sanguínea, o que chamou atenção dos pesquisadores foi que o nível de sódio no sangue dos animais se manteve normal, porém, notaram um acúmulo deste íon no cérebro, mais precisamente no líquor, líquido que protege o sistema nervoso central.

“Os animais expostos ao alto consumo de sal apresentaram hipertensão e acúmulo de sódio no líquor, mas não no sangue. Dessa forma, podemos presumir que a gênese da hipertensão envolve um componente neural, a qual pode estar relacionada a esse excesso de sódio retido no líquor”, explica Paula Magalhães Gomes, doutora e pós-doutoranda do Laboratório de Controle Neural da Circulação (LCNC), do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB da USP, e primeira autora de um dos artigos.

“Em teoria, o sódio que consumimos nos alimentos se distribui de forma equilibrada nos diferentes compartimentos do nosso corpo, num processo que denominamos na fisiologia de osmorregulação, mas aparentemente não é assim que acontece quando o organismo é desafiado ao consumo excessivo de sal. Nosso objetivo futuro é investigar mais a fundo os mecanismos fisiológicos por trás do acúmulo de sódio no líquor e sua relação com a hipertensão”, acrescenta.

Chave do processo

Estudos anteriores já mostraram o envolvimento do hipotálamo, mais precisamente o núcleo paraventricular, na gênese da hipertensão dependente do alto consumo de sal. As células neurais deste núcleo, principalmente os neurônios, participam direta e indiretamente na regulação da pressão arterial em resposta a um aumento de sódio circulante no organismo. Faltava investigar ainda qual o envolvimento das células neurais da glia neste processo.

Os pesquisadores do ICB observaram que os astrócitos (uma das células mais abundantes do SNC), localizados no núcleo paraventricular, estão mais ativados no cérebro de animais que foram expostos ao alto consumo de sal. “De maneira geral, os astrócitos são células que, além de dar sustentação para os neurônios, também são responsáveis por liberar diversos neurotransmissores, dentre eles o ATP [trifosfato de adenosina], uma molécula que classicamente sempre foi conhecida pela sua função no metabolismo energético celular, mas que também atua como neurotransmissor. Frente a uma condição de alto consumo de sal, os astrócitos são ativados de forma intensa”, explica Renato Willian Martins de Sá, doutor pelo LCNC, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Mecanismo de desativação

“Fizemos um experimento utilizando a tecnologia de farmacogenômica com vetor viral geneticamente modificado. Por meio de uma neurocirurgia, introduzimos o vetor viral na região hipotalâmica de interesse e conseguimos com isso interromper a maquinaria celular da liberação de ATP pelos astrócitos, que se encontrava aumentada numa condição de alta ingestão de sal. Obtivemos uma redução de 50% na liberação do neurotransmissor quando inibimos o transporte vesicular do ATP nos astrócitos”, detalha o pesquisador.

Segundo o professor Vagner Roberto Antunes, coordenador do laboratório, esta abordagem experimental é exclusivamente utilizada em modelos animais e contribui sobremaneira para o avanço do conhecimento e dos mecanismos celulares envolvidos no controle das funções neurais e cardiovasculares. “A compreensão desses mecanismos poderá auxiliar no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas farmacológicas para doenças associadas ao alto consumo de sal”, destaca ele.

Ainda, segundo Antunes, existem estudos que demonstram que o acúmulo de sódio no líquor pode estar relacionado ao desenvolvimento de doenças não somente do sistema cardiovascular, mas também neurodegenerativas, dentre elas a doença de Alzheimer, tendo em vista que o excesso de sal no cérebro pode alterar as funções das células neurais, desde sua maquinaria gênica e proteica até neuroquímica.

Enquanto não há estratégias terapêuticas para resolver esse problema, a recomendação é moderar na ingestão de sal – um mineral essencial para o funcionamento das células, mas que em quantidades superiores ao recomendado de 5g por dia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pode levar à hipertensão e outras doenças vasculares que acometem o sistema nervoso central.

Da Assessoria de Comunicação do ICB

FONTE: Jornal da USP

Dia Mundial da Conscientização sobre Incontinência Urinária

Dia 14 de março é oficialmente o Dia Mundial da Conscientização sobre Incontinência Urinária. A
data foi oficializada no Brasil como o Dia Nacional da Incontinência Urinária no ano passado junto
com a Semana Nacional para Prevenção e Tratamento da Incontinência Urinária.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 300 milhões de pessoas sofrem de incontinência
urinária no mundo. No Brasil, são cerca de 10 milhões de pessoas afetadas pela condição, de acordo
com estimativas da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Isso quer dizer que 1 a cada 25 brasileiros
apresenta algum grau de incontinência.

A condição pode variar de pessoa para pessoa: de uma pequena perda de urina ao espirrar ou tossir
até uma incapacidade total de controlar a bexiga. Apesar de ser caracterizada pela perda
involuntária de urina, esse não é o único sintoma que indica uma possível incontinência. Acordar
muitas vezes à noite para ir ao banheiro ou vontade súbita de urinar, mesmo quando não existe um
volume grande de urina, dificuldade em esvaziar completamente a bexiga e até infecções urinárias
muito frequentes também podem ser sinais que podem estar associados a um quadro de
incontinência.

Dependendo da ocorrência ou gravidade do quadro, a incontinência urinária pode ser distinguida em
até quatro tipos: a incontinência urinária de esforço descreve casos nos quais a perda de urina é
provocada por tosses, espirros ou exercícios físicos. Quando a pessoa é acometida por uma vontade
súbita de urinar e perde urina antes de chegar ao banheiro falamos em incontinência de urgência. Por incontinência mista entende-se um quadro caracterizado pelas duas situações descritas acima. Estes tipos são mais comuns nos adultos e idosos. Nas crianças, a enurese noturna é a situação mais
comum, que é a incontinência que ocorre durante o sono: o famoso xixi na cama.

Um fator importante que leva à incontinência urinária é a fraqueza nos músculos pélvicos ou dos
esfíncteres causada pela idade ou durante o processo de parto e gestações, o que ajuda a explicar
por que a maior parte dos afetados são pessoas idosas e mulheres. Contudo, infecções, alguns
medicamentos, tumores e crescimento da próstata, além de obesidade ou mesmo problemas
neurológicos podem estar associados com a incontinência. Por isso, sempre é importante procurar
um médico caso esteja com os sintomas descritos acima.

Vivendo com Incontinência Urinária

Além dos problemas óbvios, um quadro de incontinência urinária também pode acarretar em
problemas emocionais devido à vergonha e ao estigma que muitas das pessoas que lidam com a
condição podem vir a sentir. Em 2019, um estudo brasileiro realizado com mulheres com
incontinência publicado na Revista De Salud Pública identificou sintomas de ansiedade em metade
das entrevistadas, enquanto 45% delas também apresentavam sintomas depressivos.

Felizmente, existem muitas soluções no mercado para quem sofre com esse tipo de problema. Para
casos mais leves, absorventes especiais são desenvolvidos para manter a pele seca e inibir odores,
além de serem bastante discretos. Os absorventes masculinos, desenvolvidos para se adaptar
melhor à anatomia masculina, também são uma opção. Para casos moderados, roupas íntimas
absorventes, que são vestidas como calcinhas e cuecas, permitem mobilidade e discrição.

Casos mais severos, podem requerer o uso de fraldas para adultos e idosos, que, apesar do estigma,
são ideais para pessoas acamadas, porque, além de proporcionar mais conforto e segurança, evitam
vazamentos e odor no ambiente. Nesses casos, no banho, após a higiene local com água e sabonete
líquido, a aplicação dos chamados creme barreira fornece uma camada protetora à pele, prevenindo
irritações.

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Tratamento

Por mais que possa parecer uma condição constrangedora, a incontinência urinária pode ser tratada
e melhoras dos sintomas ou até mesmo a cura são possíveis para algumas pessoas. Eles podem vir
desde exercícios para o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, medicamentos e até
intervenção cirúrgica, dependendo da situação do paciente.

Por isso, novamente, se você ou alguém que você conhece apresenta algum sintoma ou queixa de
incontinência urinária, oriente-o para procurar um médico para avaliar o seu quadro e buscar a
melhor forma de tratamento para garantir mais qualidade de vida e mais saúde.

Milhões de idosos no mundo não têm autonomia para atender às necessidades básicas

Ser capaz de realizar atividades como se vestir, tomar remédios ou gerir o seu dinheiro pode parecer simples para a maioria das pessoas. Entretanto, um relatório produzido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) revela que, pelo menos, 142 milhões de pessoas com 60 anos ou mais não têm autonomia para atender às suas necessidades básicas. Esses dados não incluem os idosos que vivem em instituições de longa permanência. Para reverter esse quadro, é necessário criar ferramentas para melhorar a independência e a qualidade de vida do idoso.

É o que defende o médico geriatra André Filipe Junqueira dos Santos, doutor pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Ele explica que desenvolver instrumentos para melhorar o processo de envelhecimento da pessoa com saúde é essencial. “O envelhecimento saudável é a ideia de um envelhecimento em que a gente procura preservar a habilidade funcional e promover oportunidades para manter, e até melhorar, a saúde física e mental para garantir independência e qualidade de vida nesse período da existência.”

Santos acredita que a desconstrução dos estereótipos criados pela sociedade sobre a terceira idade e o estímulo para que elas permaneçam ativas e funcionais dentro das suas limitações são essenciais para pensar a otimização da habilidade funcional. “Com a criação de ferramentas que ajudem a executar essas atividades básicas, os idosos podem cuidar melhor de si mesmos e viver de forma mais independente.”

Reformular a sociedade

De acordo com o médico, aquela visão tradicional que se tem de uma pessoa mais velha, aposentada, ficar dentro de casa, sem ter o que fazer, é muito ruim em diversos aspectos, seja para pessoa em si, porque ela se sente isolada e a solidão vai acarretar problemas físicos e de saúde mental, seja para a sociedade também, porque começa a ter mais gastos com saúde e cuidados. “Precisamos reformular a sociedade para garantir que essas pessoas tenham uma maior oportunidade de participar ativamente.”

Apesar do desenvolvimento de políticas públicas nesse sentido, o professor ressalta a capacidade de cada um fazer a sua parte e interferir no seu próprio processo de envelhecimento caminhando para uma boa qualidade de vida. “Envelhecer é um processo irreversível, todo mundo envelhece. Mas cada um pode interferir no seu próprio envelhecimento. A maneira como nós vamos envelhecer é a maneira como nós vamos viver muito tempo da nossa vida. Então, a gente precisa se preparar de diversas maneiras para que, quando nós tivermos uma idade acima de 60, 70 anos, continuemos ativos em diversos aspectos.” Santos conclui com uma pergunta: “Como é que a gente está preparando o nosso país para viver com isso?”.

FONTE: Jornal da USP

AVC ainda representa maior parte das mortes no País

José Guilherme Caldas, neurorradiologista, diz que a conscientização é o caminho para que mortes e episódios causados pelo AVC sejam evitados.

No último sábado, dia 29, comemorou-se o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), que foi a causa mais comum de morte este ano no Brasil, com cerca de 56.320 óbitos, segundo o Portal de Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil.

O que é um AVC

O acidente vascular cerebral são danos causados ao cérebro tanto pela falta de sangue (isquêmico), o qual é o mais comum  (popularmente conhecido como derrame), quanto pelo excesso dele, quando há vazamento (hemorrágico). Quando uma artéria cerebral entope, o acidente acontece.

“Em 2015, nós conseguimos provar para o mundo que, retirando um coágulo da cabeça, do interior da artéria, em menos de duas horas nós recuperamos praticamente 100% dos pacientes e, em até 6 horas, 80%. Então, isso é muito importante de ser reconhecido”, diz José Guilherme Caldas, neurorradiologista e diretor clínico do InRad do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Ele explica que as causas para a formação dos coágulos são múltiplas, mas existem fatores determinantes e que se sobressaem, como a obesidade, o tabagismo e o álcool. Esses três são passíveis de mudança, já que se trata de hábitos adquiridos.

Outros fatores são mais difíceis de controlar, pois são consequências e aumentam muito o risco de AVC. São eles: pressão alta, colesterol alto, sedentarismo e principalmente a predisposição genética (que também está associada ao aumento do colesterol). O neurorradiologista destaca que a prevenção é a principal forma de evitar o acidente e, em segunda instância, saber como identificar quando a pessoa está sofrendo um AVC e necessita de tratamento.

Como identificar 

José Guilherme diz que uma maneira simples de identificar quando alguém está sofrendo um AVC é lembrar da sigla SAMU, utilizada tanto no País quanto fora dele, como sinal de emergência. Cada letra da sigla, portanto, sinaliza uma ação para verificar o que realmente está acontecendo e encaminhar para o tratamento médico.

S de sorriso (peça para a pessoa dar um sorriso para ver se ele está torto); A de abraço (a pessoa não consegue abraçar, pois seus movimentos ficam limitados); M de música (peça para que a pessoa soletre uma música, um parágrafo ou até um nome. Durante um AVC, não é possível falar corretamente); e, por fim, U de urgência (caso algum deles se concretize).

O acidente vascular cerebral pode ser sutil ou importante, lembra o médico, por isso sua identificação precoce é vital. Outra informação lembrada por ele é a possibilidade de acontecer o AVC durante o sono, o que é chamado de Wake-up Stroke. A pessoa acorda com algum dos sintomas citados acima. Este representa um problema para os médicos, já que não é possível identificar o momento de início, o que é crucial para o atendimento nesses casos.

“Nós recorremos aos métodos de imagem para poder saber e entender a quantidade de cérebro que está afetada que nos permite ou não trabalhar”, explica Caldas. Esse método é utilizado no Inrad, do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Ele lembra também que “a urgência é muito importante porque no cérebro, depois que morre uma parte considerável dele, não é possível fazer nenhum tratamento, porque é você colocar o sangue de novo em pressão dentro do cérebro. Tem como se fosse uma ruptura dos vasos, eles não aguentam, eles estão já mortos, com necrose”. A tecnologia evoluiu tanto que agora é possível saber se vale a pena tratar o paciente, já que, em alguns casos, a perda é grande e irreversível.

Estresse pode causar AVC? 

O neurorradiologista diz que o estresse está diretamente ligado às consequências que podem levar ao AVC. Esse fator está dentro do âmbito da proteção, já que produz hormônios que podem levar a uma piora no quadro da hipertensão ou ao desenvolvimento dela. A questão é tentar evitar, controlar ou eliminar o estresse, já que é uma combinação de fatores que não fazem bem. Isso, porém, é de preocupação individual e está relacionado à atividade diária de cada um.

Para isso, ter exames em dia e estar atento aos casos de AVC na família são imprescindíveis para que o problema seja evitado. No âmbito público, o fator de conscientizar a população é um caminho para que os números revelados pelo Portal da Transparência sejam revertidos: campanhas em todos os meios de comunicação e, talvez, um dia, discutir com educadores que conscientizem as crianças de como ter hábitos alimentares saudáveis.

FONTE: Jornal da USP