Projeto Missão Peregrina faz a diferença na vida de crianças na periferia de São Paulo

A iniciativa da ONG Teceranda tira centenas de crianças de situações de risco através da educação, esporte, cultura e lazer.

Os rotos das crianças que aparecem nesse artigo foram borrados para respeitar sua privacidade

Você já viu uma criança sozinha na rua ao passar por uma das periferias do país? Se sim, talvez tenha se perguntado onde estariam os seus pais, porque ela não está em casa ou na escola, ou tenha tentado encontrar razões para ela se encontrar em uma situação tão vulnerável. Principalmente, você pode ter se perguntado se existe alguém fazendo algo por essas crianças.

Há mais de 20 anos, O Projeto Missão Peregrina vem trabalhando para descobrir o nome e história por trás de cada uma dessas crianças e tirá-las de situações de risco e vulnerabilidade em Cabuçu, Guarulhos, na região metropolitana da capital paulista.

Formado por um grupo de profissionais e voluntários, muitos dos quais já passaram pela mesma situação, o projeto visa integrar essas crianças a uma rede de apoio e proteção contra todo tipo de abuso e reforçar a sua formação educacional e cidadã.

Cerca de 100 crianças são matriculadas anualmente na Escolinha da Tia Dê, o espaço onde o Projeto Missão Peregrina oferece, no contraturno escolar, atividades diárias de cunho socioeducativo com crianças de 3 a 12 anos, priorizando a complementação escolar e esportiva, arte, cultura e lazer. Em outras palavras, além de promover a formação educacional, o projeto também os mantém seguros e longe de riscos enquanto os seus pais estão trabalhando.

O projeto é uma iniciativa da ONG Teceranda, uma organização não-governamental sem fins lucrativos que tem como missão “a busca por uma sociedade formada por indivíduos que são capazes de cuidar do outro e exercer a justiça social” em busca de um mundo com mais pessoas capazes de quebrar o ciclo de vulnerabilidade individual e comunitária. A ONG também já desenvolveu projetos com o Arte, Mulher e Memória Cultural em Alagoas entre 2016 e 2019.

A 50+ SAÚDE acredita que o seu papel social se estende além de nossos clientes e colaboradores. Por isso e, em reconhecimento à qualidade e importância de seu trabalho, apoiamos a ONG Teceranda e o Projeto Missão Peregrina mensalmente na manutenção de sua equipe, alimentação das crianças e outras necessidades.

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Além do auxílio prestado por instituições e empresas como a 50+ SAÚDE, a ONG Teceranda também conta com pessoas como você para manter projetos como o da Missão Peregrina direta e indiretamente. Você pode colaborar com doações de alimentos ou contribuições financeiras de qualquer valor que serão destinadas aos salários dos professores e profissionais.

Juntos, podemos garantir que a Missão Peregrina faça ainda mais a diferença na vida de crianças da periferia de São Paulo.

Você pode colaborar das seguintes formas:

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PIX: 14 773 909 0001 97 (CNPJ Teceranda)

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Telefone: (11) 99784-0714
Contato: Denise (Tia Dê)

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Projeto Missão Peregrina

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Você também pode fazer uma visita e conhecer as crianças pessoalmente:

Estrada do Sabão, 421, Jardim Doraly, Guarulhos-SP

ONG Teceranda

Telefone: (11) 99784-0714
Contato: América (Fundadora)
E-mail: teceranda@gmail.com

Check-up em excesso em crianças pode não fazer bem

Pedir por exames de rotina, os famosos check-ups, é normal em qualquer ida ao médico. Porém, essa prática é perigosa e não faz parte da rotina quando o assunto é a saúde da criança e do adolescente. Há, atualmente, um aumento no pedido de exames laboratoriais para crianças, bem mais do que o necessário. Diferentemente dos adultos, expor as crianças à radiação ou às triagens desnecessárias é algo a ser muito bem avaliado.

“Cada vez mais se nota crianças saudáveis ou crianças com problemas específicos. Eu vejo, por exemplo, crianças alérgicas que, além dos exames necessários para explorar essa questão e melhor tratá-la, um número enorme de outros exames é pedido”, diz a professora Magda Carneiro-Sampaio, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas.

Ela explica que o check-up da criança já está bem definido. É necessário checar o crescimento físico, desenvolvimento neuropsicossocial, escolaridade, alimentação, entre outros fatores. Primeiro se conversa com os pais, depois se examina, diz a médica. O que acontece é que crianças normais e saudáveis são submetidas a mais exames do que realmente é necessário, o que não traz nenhum benefício. “Médico bom não é médico que pede uma lista interminável de exames. O bom médico é aquele que conversa, que procura entender de fato o que está acontecendo, que continua a pensar em hipóteses a partir do que observa no exame físico e, se necessário, vai pedir alguns exames, chamados de complementares”, lembra Magda.

Quando os exames devem ser feitos?

O atendimento à criança é longitudinal e o ideal é acompanhar a criança desde a sua gestação. Todo o acompanhamento é muito baseado na conversa com a família e na promoção de um estilo de vida saudável.  “Existem poucos exames que têm evidências que trazem benefícios tanto para o indivíduo quanto para a sociedade”, alerta a médica Filumena Maria da Silva Gomes, pediatra em desenvolvimento infantil do instituto e dedicada à atenção primária.

Isso não inclui as triagens durante a gestação, lembra Filumena: “Teoricamente, todas as crianças nascidas no Brasil deveriam ser submetidas à triagem neonatal das principais doenças que existem na população”. Exames de tipagem sanguínea, sorologia para identificação de doenças sexualmente transmitidas, teste do pezinho, triagem metabólica, entre outros, são muito importantes.

Em crianças saudáveis, o que é recomendado é: depois dessa triagem neonatal, a próxima triagem é a de anemia, deficiência de ferro e, depois, apenas aos 10 anos de idade, para achar colesterol e triglicérides. Exames além desses não têm justificativa para serem pedidos. As outras triagens são em grupos de risco, como o raquitismo na prematuridade, crianças portadoras de doenças crônicas, síndrome de Down (problemas de tireoide).

“Não temos tantas triagens para justificar essa quantidade de check-ups de exames feitos, que acabam encarecendo os custos das famílias e da sociedade”, diz Filumena. Os pais precisam conversar com os médicos e questionar o tanto de exames pedidos. Como diz Magda: “A conversa, que a gente chama de anamnese, é importantíssima, porque o pediatra é um educador”. Ele é responsável por orientar hábitos saudáveis, conferir se há distúrbios, problemas de comportamento.

“O pediatra tem um papel enorme, um papel para a vida toda”, diz a professora. O temor é que esses exames de rotina substituam os exames complementares, e que isso acabe influenciando no diagnóstico de doenças ou distúrbios mais graves e específicos. Outro problema é a falta de contato próximo entre as famílias e o profissional de pediatria e o não estabelecimento de uma relação de confiança.

 A melhor recomendação 

“O acompanhamento da criança é sempre baseado num tripé de estilo de vida saudável”, diz Filumena. O acompanhamento médico tem que estar voltado a isso: como ela se alimenta, como ela se exercita e como é o seu sono.  A maioria das complicações em crianças tem origem viral, mas se elas têm um estilo de vida saudável, o próprio organismo vai resolver, diz a médica. Os exames laboratoriais vão ser necessários nas complicações, em situações excepcionais. “Com estilo de vida saudável, a maioria das crianças vai bem, usa poucos medicamentos e raramente vai precisar de exames laboratoriais ou radiológicos”, diz.

Filumena alerta que “não é a rotina do pediatra precisar fazer exames. Como eu falei, as triagens são muito poucas – quando nasce, um ano, 10 anos – e outras triagens, só se a criança tiver alguma questão pessoal, algum problema de saúde específico. Rotina é pouco exame mesmo”.

Fonte: Jornal da USP

Como a restrição de sono afeta a saúde das crianças

Diante da restrição de sono, o organismo reage aumentando marcadores inflamatórios, que estão associados a um maior risco de desenvolvimento de vários problemas de saúde.

Crianças entre cinco e sete anos de idade que dormem menos de seis horas por noite têm mais chances de desenvolver problemas cognitivos, comportamentais, doenças do coração e obesidade. Além disso, a restrição de sono e o excesso de gordura corporal podem ser um gatilho para o desenvolvimento de doenças inflamatórias. É o que sugerem resultados de pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP com 199 crianças, alunos de escolas públicas e particulares de São Paulo e Fortaleza, no Ceará. O estudo usou como referência o tempo de sono recomendado por faixa etária da National Sleep Foundation, organização norte-americana sem fins lucrativos que promove a compreensão pública sobre os distúrbios do sono.

O objetivo principal do estudo foi investigar a associação entre sono e perfil inflamatório, mediada pela circunferência da cintura em crianças. Foram avaliados o tempo de sono, amostras de sangue e a média da circunferência abdominal. Com os dados em mãos, a pesquisadora realizou análises descritivas, de associação e, adicionalmente, construiu um modelo teórico para avaliar esses parâmetros. As crianças tinham, em média, 5,72 horas (h) de tempo de sono e 59,61 centímetros (cm) de cintura.

Estudos prévios sugerem que a qualidade do sono e a hora irregular de dormir das crianças contribuem para o surgimento de problemas como cognição prejudicada, dificuldades comportamentais (agressão e dificuldades para controlar a emoção), redução de desempenho acadêmico e maior risco de desenvolver obesidade.

Já o excesso de peso altera as funções do sistema imunológico e gera processos inflamatórios crônicos [produção de quimiocinas – pequenas proteínas secretadas pelas células que funcionam como potentes mediadores ou reguladores da inflamação e ativação de glóbulos brancos (leucócitos)] – , que desempenham um papel fundamental na mediação dos estágios de arterosclerose. Estudos também indicam que o risco de desenvolver síndromes coronarianas agudas e outras complicações é definido, em parte, por altos níveis de proteína C-Reativa, uma substância produzida pelo fígado que costuma ter seus níveis aumentados quando o paciente está passando por processos inflamatórios ou infecciosos. “A interrupção do ciclo natural do sono é interpretada pelo organismo como um estresse, que passa a emitir sinais para a produção de marcadores inflamatórios, tais como a proteína C-Reativa (PCR), como resposta ao estresse gerado pela privação de sono”, explica ao Jornal da USP Vanessa Cássia Medeiros de Oliveira, nutricionista e autora da dissertação de mestrado sobre o tema.

O projeto é parte de um estudo maior, denominado Novas fronteiras em saúde nutricional e cardiovascular pediátrica: desenvolvimento de métodos para avaliar a dupla carga da má-nutrição e a saúde cardiovascular ideial em países de baixa-média rendaconhecido como Saycare Cohort Study, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), que avalia a saúde cardiovascular de crianças latino-americanas. Os participantes foram alunos de escolas públicas e privadas de quatro cidades da América do Sul com mais de 500 mil habitantes (Buenos Aires, Argentina; Lima, Peru; Medellín, Colômbia; Fortaleza, São Paulo e Teresina, Brasil).

Vanessa utilizou, então, os dados de base dessa coorte (estudo de acompanhamento de longo prazo) de São Paulo e Fortaleza para realizar sua pesquisa, cuja coleta de dados foi feita entre setembro de 2019 e março de 2020. Segundo o orientador do trabalho, Augusto César F. de Moraes, professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, os resultados da dissertação colocam luz sobre um importante comportamento que muitas vezes negligenciamos, que é a saúde do sono na população, e mais especificamente em crianças, cujos índices mostram que mais de 50% dormem menos que o recomendado para a idade. “Esse dado é preocupante porque se a noite é mal dormida, o corpo não descansa, e para as crianças isso pode ter efeitos nocivos na concentração, no desempenho escolar e na aprendizagem.”

Fases da pesquisa

O primeiro passo de Vanessa foi a realização de uma revisão sistemática da literatura. Foram selecionados 2.724 artigos potencialmente elegíveis, mas apenas cinco atendenderam aos critérios de elegibilidade. O objetivo foi verificar se já existiam informações contundentes sobre a associação entre tempo e qualidade do sono com biomarcadores inflamatórios em crianças e adolescentes, já que essa ligação ainda permanecia incerta.

O tempo de sono não apresentou associação significativa com os biomarcadores inflamatórios, entretanto, a baixa qualidade dele teve associação positiva com o PCR, com baixa magnitude. A associação entre tempo, qualidade do sono e biomarcadores inflamatórios em países de baixa-média renda não trouxe resultados consistentes depois das análises.

A pesquisadora decidiu, assim, acessar os dados disponibilizados pelo Saycare Study referentes às cidades de Fortaleza e São Paulo. Para entender qual era o padrão de sono das crianças e como o organismo se comportava diante dessa variável, foi avaliado, por meio de um questionário, o momento em que a criança acorda, a hora em que ela vai para a cama, o tempo de siesta e a duração do sono noturno. Um acelerômetro (aparelho que mede repouso e movimento) foi preso à cintura dos voluntários por sete dias consecutivos, durante 24 horas. Pais ou responsáveis foram instruídos a não retirar o aparelho e a preencher um diário com as informações solicitadas. Os dados foram considerados válidos quando registrados por, pelo menos, oito horas diárias e três dias (dois na semana e um no fim de semana).

Os participantes foram classificados de acordo com a tabela da National Sleep Foundation (NSF), que recomenda 10 a 13 horas diárias de sono para crianças de três a cinco anos; e de 9 a 11 horas para crianças de seis a 13 anos. O tempo apropriado foi fixado entre 8 e 12 horas.

As variáveis antropométricas foram medidas de acordo com a padronização recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nesta ordem: peso, altura, circunferência da cintura, do quadril, do pescoço e dobras cutâneas (bíceps, tríceps, subescápulas (músculo do ombro) e dobra cutânea supra-ilíaca. Todas as médias foram realizadas com o mínimo de roupas possível e sem sapatos.

Resultados

Os valores de proteína C-Reativa encontrados nos exames de sangue foram em torno de 1,0 mg/L (um miligrama por litro), acima do valor de referência, que é abaixo de 0,3mg/L. A média de tempo de sono rastreado pelo acelerômetro foi de menos de seis horas (5,72 h), contrapondo o recomendado pela NSF, que é de 9 a 11 horas para a faixa etária investigada no estudo.

Sobre a medida da cintura, o valor médio encontrado foi de 59 centímetros. Acima desse valor, as chances de desenvolver doenças metabólicas (como diabete e doenças coronarianas) são grandes, descreve a pesquisa.

Segundo a autora, foi possível fazer a associação entre o tempo de sono aferido pelo acelerômetro e o perfil inflamatório medido pelo PCR. Esses dois fatores são mediados pela circunferência da cintura. O tamanho alterado, principalmente em crianças, está associado a eventos cardiovasculares adversos aumentando em três vezes a taxa de mortalidade quando comparados a pessoas com peso normal.

O diagnóstico de obesidade abdominal aferida pela circunferência da cintura está associado a um perfil de risco mais aterogênico (colesterol que pode se acumular nas artérias, formar placas e causar estreitamento e bloqueio de vasos sanguíneos), porque aumenta os fatores de risco cardiometabólicos (perfil lipídico, hipertensão sistólica e glicemia de jejum anormal), tanto em crianças quanto em adolescentes.

Sono

O sono é fundamental para o bom funcionamento das vias endócrinas, metabólicas e imunológicas do nosso corpo. “É durante o sono noturno que são restaurados todos os processos bioquímicos e hormonais do organismo e, no caso das crianças, é um momento de muita atividade celular porque eles estão no auge de seu desenvolvimento físico, emocional e cognitivo.
“Quando se dorme pouco ou além do que é recomendado, toda a cascata fisiológica e bioquímica do nosso corpo é afetada, alterando o nosso relógio biológico interno, que está alinhado ao ciclo circadiano de 24 horas”, diz a pesquisadora.
O ciclo circadiano é o ritmo natural do próprio corpo, que dura as 24 horas do dia e que regula atividades e processos biológicos, que vão desde o metabolismo até os períodos de sono e vigília. Quando anoitece, nosso corpo começa a produzir melatonina, o hormônio do sono. Ao amanhecer, libera outro tipo de hormônio, o cortisol, para que despertemos.

Recomendação de horas de sono por faixa etária

Segundo a National Sleep Foundation, os tempos de sono são divididos em nove faixas etárias. Entretanto, dormir uma hora a mais ou a menos do que a o recomendado é aceitável e não traz prejuízo a ninguém. As horas recomendadas são as seguintes:

FAIXA ETÁRIA HORAS DE SONO RECOMENDADAS
0-3 meses 14-17 horas
4-11 meses 12-15 horas
1-2 anos 11-14 horas
3-5 anos 10-13 horas
6-13 anos 9-11 horas
14-17 anos 8-10 horas
18-25 anos 7-9 horas
26-64 anos 7-9 horas
65 anos ou mais 7-8 horas

A dissertação de mestrado de Vanessa de Oliveira Associação entre tempo de sono e perfil inflamatório em crianças sul-americanas contou com a orientação do professor Augusto César Ferreira de Moraes, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Mais informações: e-mail vanessacnutricionista@gmail.com, com Vanessa Cássia Medeiros de Oliveira

Texto: Ivanir Ferreira
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Obesidade infantil e saúde do feto viram objeto de estudo

Projeto da Faculdade de Saúde Pública se pauta no estudo sobre o estado nutricional das Obesidade infantil, ainda durante a gestação, e correlaciona a obesidade infantil com fatores genéticos advindos da mãe e do ambiente

Projeto Coorte sobre estado nutricional de crianças da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP – USP) avalia fatores genéticos e ambientais na instalação precoce da obesidade desde a fase uterina. A professora Patrícia Helen Rondo, coordenadora do projeto de pesquisa, salienta que a importância do estudo está relacionada à questão sobre a obesidade ser uma pandemia que atinge não apenas a população adulta como também as crianças, e as consequências relacionadas ao sobrepeso.

Os estudos sobre as causas da obesidade na fase uterina concentraram-se no objetivo de entender a formação da adipogênese, ou massa gorda, em crianças. A avaliação foi feita no segundo trimestre da gestação, com 2 mil gestantes, na cidade de Araraquara, em 2017 e, a partir dela, também foi possível observar a relação com a mãe e com fatores genéticos e ambientais.

Com um acompanhamento a longo prazo, foi possível identificar essa relação entre o índice de massa corporal pré-gestacional das mães, que está ligado ao ganho de peso durante a gestação, e o seu perfil glicêmico. Patrícia explica que isso ocorre porque a avaliação é feita no período gestacional e no neonatal, a partir da expressão gênica e do metabolismo lipídico do bebê, por meio do cordão umbilical. E adiciona: “Estamos tentando entender, através de mecanismos filogenéticos e de expressão gênica que estão relacionados com a formação da massa gorda já na vida fetal”.

Justamente por avaliar a composição corporal do feto e sua relação com a mãe, ao invés de pautar-se no tamanho e peso do bebê, o estudo traz uma relevância inédita. No que diz respeito à gestante, também buscou entender o porquê da maioria delas sofrer com a retenção de peso no período pós-parto e a predisposição a doenças crônicas.

Doenças crônicas 

O estudo também tem como objetivo estudar a relação do sobrepeso infantil com a predisposição a doenças crônicas em crianças. Correlacionando a fatores maternos genéticos, a professora explica que, a partir dele, seria possível observar o risco a que o bebê estaria sujeito. “Não só saber quais são os fatores maternos genéticos relacionados com essa massa gorda do bebê, mas que risco esse bebê pode ter futuramente”, complementa.

Em relação à saúde materna, a professora chama atenção para os processos posteriores ao pré-natal e à gestação em si. Para ela, o período puerpério acaba recebendo uma menor atenção, mesmo sendo de “extrema importância”, pois é nesse intervalo que a mãe irá recuperar o peso e amamentará.

FONTE: Jornal da USP

Estudo desvenda mecanismo de câncer pediátrico cerebral raro

Um estudo conduzido por pesquisadores de Brasil, Austrália, Áustria e Estados Unidos avançou no entendimento de um tipo de câncer pediátrico sem opções de tratamento farmacológico e com baixa taxa de sobrevivência. Os resultados, publicados na revista Neuro-Oncology, abrem caminho para a busca de terapias mais específicas.

“Os chamados ependimomas são tumores do sistema nervoso central bastante heterogêneos e sem muitas opções de tratamento além de cirurgia e radioterapia. Nosso estudo teve como foco o chamado ependimoma supratentorial com fusão entre os genes C11orf95 e RELA [ST-RELA, na sigla em inglês], um subgrupo frequente na população pediátrica, agressivo, de prognóstico ruim e sem tratamento específico”, esclarece Taciani de Almeida Magalhães, primeira autora do estudo, realizado durante seu doutorado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O trabalho integra um Projeto Temático coordenado por Luiz Gonzaga Tone, professor da FMRP, que orientou a pesquisa de doutorado e é um dos coautores do artigo.

Esse tipo de ependimoma afeta sobretudo crianças com idade em torno de 8 anos (no momento do diagnóstico). A taxa de sobrevivência de cinco anos após o tratamento é de aproximadamente 30%, particularmente nos pacientes em que a retirada total do tumor por meio de cirurgia não é possível.

Não há medicamentos específicos e, portanto, a única opção terapêutica disponível, além da cirurgia, é a radioterapia, que pode causar sérias sequelas cognitivas e motoras nas crianças.

Os pesquisadores descobriram, com o auxílio de diferentes técnicas, que nesse tumor a chamada via de sinalização celular Hedgehog (Hh) está bastante ativada. Por isso, em laboratório, trataram tumores com o Sonidegib – medicamento que inibe a via Hh e, atualmente, está em testes clínicos para outros tipos de câncer que afetam o sistema nervoso central.

Ao avaliar os tumores tratados, porém, os pesquisadores observaram que eles perderam determinadas estruturas conhecidas como cílios primários e, em decorrência disso, se tornaram resistentes à droga. Era preciso trazer os cílios de volta.

De volta à bancada, o grupo constatou que a formação dos cílios era regulada por uma proteína específica, a AURKA. Não por acaso presente em outros tumores, a proteína tinha também um inibidor específico em testes clínicos, o Alisertib.

Além do Sonidegib, os pesquisadores passaram então a tratar os tumores com o Alisertib. Os cílios primários não se perderam e o Sonidegib pôde atuar, promovendo a morte das células tumorais com sucesso, sem afetar as saudáveis.

À esquerda, células tumorais (em azul) com cílios preservados (em vermelho); ao centro, depois do tratamento com Sonidegib, cílios são perdidos; à direita, cílios recuperados após combinação de Sonidegib com Alisertib – Foto: Taciani Magalhães/USP

Com a combinação de drogas funcionando no modelo in vitro, coube aos pesquisadores fazer os testes em animais, por meio de uma colaboração com cientistas da Austrália. Camundongos que desenvolveram o tumor no cérebro foram tratados com a combinação. Para a surpresa dos pesquisadores, porém, os animais não tiveram nenhum aumento de sobrevida em comparação aos camundongos-controle, que não receberam tratamento.

O grupo acredita que a camada que recobre os vasos sanguíneos do cérebro para protegê-los do meio externo, a chamada barreira hematoencefálica, esteja impedindo o medicamento de chegar até o local a ser tratado.

“Outros estudos mostram que inibidores da proteína AURKA, aquela que promove a perda dos cílios primários, não chegam até o cérebro. É uma possível explicação para o fato de nosso tratamento não ter funcionado em animais”, explica Magalhães, que atualmente realiza estágio de pós-doutorado na Harvard Medical School, nos Estados Unidos. Antes, a pesquisadora havia realizado parte do doutorado na mesma instituição.

Alternativas

Agora, os pesquisadores buscam outros medicamentos com a mesma ação que consigam ultrapassar a barreira hematoencefálica e, quem sabe, finalmente chegar mais perto de um tratamento inédito para esses tumores.

“Mesmo a combinação não tendo alcançado o sucesso esperado no modelo animal, agora conhecemos os mecanismos moleculares do tumor e, portanto, temos um caminho a seguir que até então não era conhecido”, afirma a pesquisadora.

Para Elvis Terci Valera, professor da pós-graduação do Programa de Saúde da Criança e do Adolescente da FMRP, que também colaborou com o estudo, a descoberta abre perspectiva para estudos clínicos utilizando gerações mais modernas de drogas inibidoras da via Hh e da proteína AURKA, com melhor penetração no sistema nervoso central.

“Outra estratégia seria aplicar essas drogas mais modernas diretamente no liquor cefalorraquidiano, líquido que circula no cérebro e na medula espinhal. Opções como essa poderiam ser avaliadas a fim de reverter a resistência ao tratamento”, conclui Valera.

O estudo Activation of Hedgehog signaling by the oncogenic RELA fusion reveals a primary cilia-dependent vulnerability in supratentorial ependymoma pode ser lido em: https://academic.oup.com/neuro-oncology/advance-article-abstract/doi/10.1093/neuonc/noac147/6596001.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

André Julião/Agência Fapesp

FONTE: Jornal da USP

Palhaços que atuam em hospitais ajudam na recuperação

Artigo publicado no The British Medical Journal mostra que a interação com palhaços durante a internação ajuda a amenizar os sintomas de doenças crônicas e agudas em crianças e adolescentes

Durante o processo de hospitalização de um paciente pediátrico, muitos sintomas psicológicos podem afetar o processo de recuperação, entre eles a ansiedade. Um estudo pioneiro, realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, avaliou a eficácia da presença dos palhaços na melhora de crianças hospitalizadas, tanto por doenças crônicas, quanto agudas. A medida não farmacológica se mostrou eficiente em reduzir o conjunto de sintomas apresentados durante a hospitalização e  positivo para a recuperação dos pacientes.

O artigo Efectiveness of hospital clowns for symptom management in paediatrics: systematic review of randomised and non-randomised controlled trials foi publicado no influente periódico inglês The British Medical Journal e seus resultados têm sido observados no mundo todo. A publicação faz parte da tese de doutorado do pesquisador Luís Carlos Lopes Júnior, defendida em 2017.

O trabalho teve orientação da professora Regina Aparecida Garcia de Lima e contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“A pesquisa buscou identificar medidas não farmacológicas para qualificar o cuidado em saúde”, diz ao Jornal da USP a professora Regina Aparecida Garcia. Durante a hospitalização de  pacientes pediátricos há um contexto de ruptura do convívio social e todas as questões fisiológicas e patológicas que estão ligadas ao processo, ressaltam os pesquisadores. Nesse contexto, os palhaços auxiliam no processo de recuperação das crianças, tornando-o mais ameno, tanto para os próprios pacientes quanto para os pais e a equipe médica.

“Essas questões humanas são importantes como forma de qualificar o cuidado”, explica  Luis Carlos. Até então, as revisões sobre a eficiência da intervenção dos palhaços eram focadas na análise de estudos sobre as condições agudas — doenças com o curso acelerado — que levavam o paciente a ser internado. A análise tanto das condições agudas, como crônicas — condições de saúde de curso mais ou menos longo ou permanente que exigem respostas e ações contínuas — é um dos diferenciais que o artigo traz.

O estudo traz uma revisão sistemática da literatura sobre os palhaços que se apresentam em hospitais como medida não farmacológica para auxiliar no tratamento de crianças e adolescentes. No total, foram analisados 24 estudos sobre o tema, sendo 13 ensaios clínicos randomizados e 11 estudos experimentais não randomizados.

Efeitos positivos nos pacientes

Os resultados indicaram que a interação com os palhaços — tanto em procedimentos médicos, cirurgias, como em internações em decorrência de condições crônicas — ajuda no manejo de sintomas, durante a hospitalização. A presença dos palhaços foi benéfica para controlar sintomas em relação ao grupo controle, que não estava recebendo nada além do tratamento convencional dos hospitais. O estudo ratifica que palhaços melhoram o bem-estar psicológico e as respostas emocionais das crianças e adolescentes tanto para condições agudas quanto para condições crônicas.

Crianças com doenças crônicas têm contato frequente com o hospital, por isso ele precisa ser um ambiente que ajude a desenvolver o paciente, ressaltam os pesquisadores. “Há uma série de medidas que podem ser aplicadas nos hospitais para que este não seja só um lugar de dor e sofrimento, mas um local que promove o desenvolvimento das pessoas”, destaca Regina.

Resultados com palhaços

Para a revisão, os pesquisadores decidiram analisar estudos que haviam sido realizados sobre palhaços que atuam em hospital. Para a escolha de material foram incluídas as principais bases de dados na área:  PsycInfo, Medline, Cochrane Library, Medline, ISI of Knowledge, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Science Direct, Scopus, American, Cumulative Index to Nursing e Allied Health Literature, and Latin American and Caribbean Health Sciences Literature.

“Nós excluímos todos os estudos que, em uma hierarquia de evidências, foram mal classificados e colocamos os de classificação mais alta”, informa Luís. Além disso, os pesquisadores fizeram uma seleção metódica de palavras-chave para encontrar os melhores resultados nos buscadores. Em cada base de dados foram considerados estudos controlados, sinônimos e combinações. Cada base tem uma especificidade grande porque a forma de domínio é distinta em cada uma.

Na busca, os cientistas encontraram 136 estudos sobre o tema e então os critérios de inclusão e exclusão foram aplicados. “Os artigos precisavam atender a alguns critérios de inclusão como abordar crianças e adolescentes que foram admitidos no hospital tanto por condição aguda ou crônica”, elucida Luís. Foram removidas 91 pesquisas, 85 delas não se relacionavam com o tema da análise e seis não estavam dentro dos delineamentos estabelecidos. Restaram 31 estudos que foram lidos, na íntegra, pelos pesquisadores e sete deles foram excluídos. Assim, 24 estudos entraram para a revisão sistemática, com uma população total de 1.612 crianças e adolescentes. Ansiedade foi o sintoma mais estudado, sendo o foco de 13 pesquisas, seguida de dor, descrita em nove.

O artigo se destaca por uma série de motivos, um deles é que analisa o conjunto de sintomas dos pacientes ao invés de focar em apenas um deles. Outro ponto de destaque é a metodologia de prevenção sobre risco de viés nos estudos analisados. Para cada um dos delineamentos escolhidos — estudos randomizados e não randomizados — uma ferramenta diferente de análise de viés foi utilizada.

Para os randomizados, os pesquisadores utilizaram a ferramenta Risk of Bias 2 (RoB 2) e para os não randomizados, a Risk of Bias Tool to Assess Non-randomized Studies (ROBINS-I). “Esse foi um ponto elogiado no nosso trabalho, pois as outras revisões utilizaram a mesma ferramenta para as duas categorias”, conta Luís. O estudo também foi revisado por dois revisores independentes.

Mais informações:
e-mail: lopesjr.lc@gmail.com,
Luís Carlos Lopes Júnior

Por Beatriz Azevedo

FONTE: Jornal da USP

Guia do Ministério da Saúde traz dicas para alimentação de crianças

Um guia do Ministério da Saúde (MS) traz recomendações para a alimentação das crianças após o período de amamentação. Entre elas, a principal é evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados, salgadinhos, achocolatados, etc. É que a partir do segundo ano de vida, as crianças passam a ter mais contato com o mundo externo e sofrem maior exposição à publicidade desse tipo de produto, seja por meio da televisão, das mídias sociais, na escola ou na convivência com outras crianças.

O material, chamado de Guia Alimentar para a População Brasileira, visa auxiliar os pais na tarefa de estimular uma alimentação mais saudável para as crianças e ressalta que a alimentação saudável é importante em todos os momentos da vida.

Segundo dados do Relatório Público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, das crianças acompanhadas na Atenção Primária à Saúde em 2020, 15,9% dos menores de 5 anos e 31,8% das crianças entre 5 e 9 anos tinham excesso de peso. Dessas, 7,4% e 15,8%, respectivamente, apresentavam obesidade, segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) para a idade.

Os bons hábitos de alimentação devem começar a partir dos 6 meses, quando as crianças começam a ingerir outros alimentos além do leite materno. De acordo com o guia, é importante os adultos estimularem desde cedo as crianças a ingerirem alimentos in natura.

A partir dessa etapa, a alimentação deve ser composta por comida de verdade, isto é, refeições feitas com alimentos in natura ou minimamente processados, de diferentes grupos, como feijões, cereais, raízes e tubérculos, frutas, legumes e verduras, além de carnes.

Também é preciso evitar o consumo de bebidas adoçadas, ou seja, refrigerantes, sucos de caixinha, sucos em pó, refrescos, bebidas lácteas e achocolatados. O mesmo serve para lanches como hambúrgueres já prontos, embutidos (linguiças, salsicha, presunto, mortadela e salames), macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote, biscoitos e guloseimas.

Exclusivo para gestantes

Outra lembrança importante do guia é que antes dos dois anos é recomendado o aleitamento materno, que proporciona todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento do bebê. O leite materno de forma exclusiva para a criança até os seis meses de vida, sendo desnecessária a oferta de qualquer outro tipo de alimento ou bebida, como papinha, mingau, chás, suco e outros.

Além de ser importante para a saúde do bebê, a amamentação também traz benefícios para a mulher, como a redução do risco de desenvolver câncer de mama, ovário e endométrio. A explicação é que, durante o período de aleitamento materno, as taxas de determinados hormônios que favorecem o desenvolvimento desse tipo de doença reduzem.

Em relação às gestantes, o guia lembra que nessa fase, o consumo de água, alimentos in natura diversos e minimamente processados são importantes para suprir a necessidade de nutrientes fundamentais, como ferro, ácido fólico, cálcio, vitaminas A e D, entre outros.

Para esse público específico, o MS possui um Guia Alimentar para Gestantes. A alimentação saudável na gestação favorece o bom desenvolvimento fetal, a saúde e o bem-estar da mulher, além de prevenir o surgimento de agravos, como diabetes gestacional, hipertensão e ganho de peso excessivo.

Entre outras recomendações, o material afirma que uma alimentação mais saudável ajuda a evitar sintomas como náuseas, vômitos e tonturas, azia, plenitude gástrica, constipação intestinal, fraqueza, desmaios, entre outros.

Para tanto basta modificar a consistência dos alimentos, ingerindo opções mais macias e pastosas, não consumir líquidos durante as refeições, evitar o consumo de alimentos gordurosos, doces, picantes e com cheiros fortes e não deitar após as refeições também são hábitos que podem ajudar a aliviar esses sintomas.

É importante buscar uma orientação alimentar adequada, com o auxílio de um profissional de saúde e que considere fatores como vulnerabilidade social e renda, rede de apoio, idade e condições de trabalho de cada gestante.

Por Luciano Nascimento – São Luís

FONTE: Agência Brasil

Retinoblastoma, teste do Olhinho é primeiro passo para identificar a doença

O Teste do Olhinho, conhecido como teste do reflexo vermelho, feito ainda na maternidade, até 72 horas de vida do bebê, é o primeiro exame que ajuda na detecção precoce de doenças oculares que podem afetar crianças. Entre essas doenças está o retinoblastoma, um tipo raro de tumor intraocular maligno primário, ou câncer no olho, de origem genética, mais comum entre as crianças de até 5 anos de idade. Ele tem origem em células da retina e pode afetar um olho (unilateral) ou os dois. A estimativa é que, por ano, cerca de 6 mil crianças no mundo sejam afetadas por essa doença. 

O alerta foi dado hoje (30), em nota conjunta, assinada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e pela Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP). Ontem (29), o jornalista Tiago Leifert e sua mulher Daiana Garbin anunciaram que a filha de 1 ano tem a doença e fizeram um alerta aos pais.

“Lamentamos o ocorrido e nos colocamos de forma solidária ao lado desta família para ajudar no que for preciso. No entanto, nossas entidades entendem que a discussão sobre o assunto, que cresceu nas últimas horas, deve ser pautada por conhecimento fidedigno, com validade científica e relevante. Em momentos assim, lacunas de informação podem abrir espaço para distorções que impedem acesso à compreensão sobre como o retinoblastoma se manifesta, pode ser diagnosticado e deve ser tratado”, ressaltou o presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino.

Segundo ele, pais e responsáveis devem optar pelos cuidados de médicos especializados, como oftalmologistas, uma vez que tratamentos como ‘self-healing’ (auto cura) ou prática de exercícios oculares, “não têm comprovação científica e, portanto, não servem para curar o retinoblastoma ou qualquer outra doença que afeta o aparelho da visão”, como glaucoma, catarata, doenças retinianas, entre outras. Na avaliação de Umbelino, essas abordagens podem retardar o início de tratamentos corretos, com chance de comprometerem parcial ou totalmente a visão e, inclusive, a vida do paciente, em caso de tumores.

Retinoblastoma, exames completos

O CBO e a SBOP recomendaram que o Teste do Olhinho deve ser repetido pelo pediatra pelo menos três vezes ao ano, nos três primeiros anos de vida da criança. Bebês de seis a 12 meses devem passar por um exame oftalmológico completo e, posteriormente, entre 3 e 5 anos de idade, devem ser submetidos a uma segunda avaliação semelhante.

A presidente da SBOP, Luísa Hopker, afirmou que os exames oftalmológicos completos são fundamentais para detecção de condições que afetam a saúde ocular das crianças.

“Em caso de suspeita, no consultório, o paciente passa por exame oftalmológico com a pupila dilatada. Se houver necessidade, é realizado outro teste, sob sedação, em centro cirúrgico. A ultrassonografia ocular deve ser realizada e pode mostrar pontos brilhantes intralesionais consistentes com cálcio. A tomografia computadorizada também pode mostrar as calcificações quando a ultrassonografia não está disponível. A ressonância de crânio é necessária para realizar o estadiamento do tumor”, explicou.

O tratamento para a retinoblastoma depende de vários fatores, entre os quais, a localização e o tamanho do tumor, disseminação além do olho e possibilidade de preservação da visão. Diferentes procedimentos podem ser adotados, incluindo quimioterapia (intravenosa, intra-arterial, periocular e intraocular), terapia focal e métodos cirúrgicos. Luísa informou que nas últimas décadas, as técnicas de tratamento do retinoblastoma têm apresentado avanços consideráveis, com taxas de cura superiores a 95%, uma vez adotado o tratamento adequado.

Diagnóstico precoce

O diagnóstico precoce é muito importante, na avaliação dos presidentes do CBO e da SBOP. A presidente da SBOP disse que o tratamento terapêutico é individual, adaptado a cada caso e baseado em aspectos como lateralidade, localização e tamanho do tumor primário, presença de metásteses e prognóstico visual estimado.

Os pais e responsáveis devem estar atentos para alguns sinais que podem indicar a presença do retinoblastoma, entre elas, uma alteração do reflexo vermelho dos olhos, observada em fotografias e caracterizada por um reflexo branco na pupila, chamado reflexo do olho de gato. Essa mancha esbranquiçada é denominada leucocoria e pode impedir a passagem de luz. Estrabismo também pode estar associado ao retinoblastoma.

De acordo com os especialistas, essa doença está associada a uma anormalidade genética no cromossomo número 13. Apenas 10% dos pacientes têm um membro da família com retinoblastoma e 40% manifestam uma forma genética herdada do tumor, mesmo que ninguém mais na família tenha o problema. Na maioria dos casos, em torno de 90%, o retinoblastoma aparece de repente, sem nenhum evento associado e sem aviso prévio, não estando associado a fatores externos dos pais, como fumar, beber etc.

Outras informações sobre o retinoblastoma podem ser obtidas no site da SBOP.

FONTE: Agência Brasil