Guia do Ministério da Saúde traz dicas para alimentação de crianças

Um guia do Ministério da Saúde (MS) traz recomendações para a alimentação das crianças após o período de amamentação. Entre elas, a principal é evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados, salgadinhos, achocolatados, etc. É que a partir do segundo ano de vida, as crianças passam a ter mais contato com o mundo externo e sofrem maior exposição à publicidade desse tipo de produto, seja por meio da televisão, das mídias sociais, na escola ou na convivência com outras crianças.

O material, chamado de Guia Alimentar para a População Brasileira, visa auxiliar os pais na tarefa de estimular uma alimentação mais saudável para as crianças e ressalta que a alimentação saudável é importante em todos os momentos da vida.

Segundo dados do Relatório Público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, das crianças acompanhadas na Atenção Primária à Saúde em 2020, 15,9% dos menores de 5 anos e 31,8% das crianças entre 5 e 9 anos tinham excesso de peso. Dessas, 7,4% e 15,8%, respectivamente, apresentavam obesidade, segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) para a idade.

Os bons hábitos de alimentação devem começar a partir dos 6 meses, quando as crianças começam a ingerir outros alimentos além do leite materno. De acordo com o guia, é importante os adultos estimularem desde cedo as crianças a ingerirem alimentos in natura.

A partir dessa etapa, a alimentação deve ser composta por comida de verdade, isto é, refeições feitas com alimentos in natura ou minimamente processados, de diferentes grupos, como feijões, cereais, raízes e tubérculos, frutas, legumes e verduras, além de carnes.

Também é preciso evitar o consumo de bebidas adoçadas, ou seja, refrigerantes, sucos de caixinha, sucos em pó, refrescos, bebidas lácteas e achocolatados. O mesmo serve para lanches como hambúrgueres já prontos, embutidos (linguiças, salsicha, presunto, mortadela e salames), macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote, biscoitos e guloseimas.

Exclusivo para gestantes

Outra lembrança importante do guia é que antes dos dois anos é recomendado o aleitamento materno, que proporciona todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento do bebê. O leite materno de forma exclusiva para a criança até os seis meses de vida, sendo desnecessária a oferta de qualquer outro tipo de alimento ou bebida, como papinha, mingau, chás, suco e outros.

Além de ser importante para a saúde do bebê, a amamentação também traz benefícios para a mulher, como a redução do risco de desenvolver câncer de mama, ovário e endométrio. A explicação é que, durante o período de aleitamento materno, as taxas de determinados hormônios que favorecem o desenvolvimento desse tipo de doença reduzem.

Em relação às gestantes, o guia lembra que nessa fase, o consumo de água, alimentos in natura diversos e minimamente processados são importantes para suprir a necessidade de nutrientes fundamentais, como ferro, ácido fólico, cálcio, vitaminas A e D, entre outros.

Para esse público específico, o MS possui um Guia Alimentar para Gestantes. A alimentação saudável na gestação favorece o bom desenvolvimento fetal, a saúde e o bem-estar da mulher, além de prevenir o surgimento de agravos, como diabetes gestacional, hipertensão e ganho de peso excessivo.

Entre outras recomendações, o material afirma que uma alimentação mais saudável ajuda a evitar sintomas como náuseas, vômitos e tonturas, azia, plenitude gástrica, constipação intestinal, fraqueza, desmaios, entre outros.

Para tanto basta modificar a consistência dos alimentos, ingerindo opções mais macias e pastosas, não consumir líquidos durante as refeições, evitar o consumo de alimentos gordurosos, doces, picantes e com cheiros fortes e não deitar após as refeições também são hábitos que podem ajudar a aliviar esses sintomas.

É importante buscar uma orientação alimentar adequada, com o auxílio de um profissional de saúde e que considere fatores como vulnerabilidade social e renda, rede de apoio, idade e condições de trabalho de cada gestante.

Por Luciano Nascimento – São Luís

FONTE: Agência Brasil

O sono é tão essencial para a vida quanto a alimentação

Álan Eckeli diz que a redução da qualidade, extensão ou regularidade do sono pode provocar diversos problemas à saúde e até mesmo risco de morte.

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Dormir é um hábito comum, mas de extrema importância para a vida humana. O sono saudável é essencial para a regulação do corpo, portanto, alterações em sua regularidade são determinantes e podem se refletir em diversos aspectos físicos e mentais de uma pessoa.

O professor de Neurologia e Medicina do Sono, Álan Eckeli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, analisa o papel do sono para o funcionamento do corpo humano: “O sono é essencial para a vida, ele é tão essencial para a vida quanto a alimentação. Se nós dormirmos mal, vamos adoecer e, se nós pararmos de dormir e interrompermos esse fenômeno natural, vamos falecer. Isso demonstra a importância vital do sono para a manutenção da vida”.

Eckeli diz que a redução da qualidade, extensão ou regularidade do sono pode provocar diversos problemas: “Repercute em todo o nosso metabolismo e no nosso funcionamento mental, pode trazer prejuízos quanto à nossa memória, nossa cognição, prejuízos quanto ao nosso humor, deixando-nos mais deprimidos e predispostos a ter fadiga. Também pode alterar nosso ciclo de fome e saciedade, ou seja, aumentando a fome e reduzindo a saciedade”.

O sono é imprescindível para a atividade cerebral, em especial por conta do líquido cefalorraquidiano, líquido que banha o cérebro. “Quando a gente adormece, ele penetra dentro do parênquima cerebral, ou seja, ele entra dentro do cérebro e tira as impurezas do metabolismo cerebral. Esse fenômeno de limpeza do nosso cérebro acontece quase que exclusivamente durante o sono”, aponta o professor.

Durante o sono, as substâncias que atrapalham o funcionamento do cérebro são descartadas. Eckeli cita, como exemplo, a substância neurotóxica beta-amiloide, que está associada ao Alzheimer: “Quando o líquido cefalorraquidiano penetra dentro do cérebro e faz essa limpeza, ele retira a beta-amiloide. Então, uma das funções do sono é promover essa limpeza cerebral, que está relacionada ao melhor metabolismo, à melhor homeostase dos neurônios, das células e de toda a estrutura do nosso sistema nervoso central”.

Dormir de forma irregular é prejudicial em diversos aspectos para a saúde humana. “A curto prazo, dormir pouco, uma, duas, três horas por noite vai trazer sintomas relacionados à sonolência, cansaço, fadiga, mau humor e redução da nossa capacidade de empatia. Essa redução aguda de sono também pode aumentar o apetite, porque altera alguns hormônios relacionados à fome e à saciedade”, indica o professor.

O sono é imprescindível para a atividade cerebral – Foto: Reprodução/Freepik

Outro problema é o aumento das chances de causar acidentes, dormir pouco compromete os estímulos e respostas psicomotoras, assim como pode afetar a memória, por vários motivos, como conta Eckeli: “Quando dormimos mal, ficamos desatentos e, se não prestamos atenção, não aprendemos. O sono é essencial para a consolidação da memória, porque se você estiver se expondo pouco ao sono o processo de consolidação da memória não vai ser tão efetivo”.

Regularidade do sono

O professor destaca o período considerado ideal para o sono. Dormir pouco ou dormir em excesso são situações nocivas para a saúde humana. “Os dois extremos estão associados à mortalidade, fortalecendo para a gente a ideia que existe uma faixa de tempo total do sono ideal ou próxima do ideal, algo entre seis e nove horas, pendendo mais para sete horas. É claro que isso é muito individual, mas do ponto de vista populacional, dormir pouco ou dormir demais pode estar associado à mortalidade”, descreve.

Eckeli comenta sobre os perigos da apneia do sono, doença recorrente no Brasil: “Essa doença pode causar infarto, AVC, arritmias cardíacas e pode ocasionar acidentes. As breves reduções na regularidade do sono vão produzir sintomas, mas não necessariamente doenças, que podem ser parcialmente recuperados se você dormir bem nas noites seguintes. Entretanto, se você ficar exposto a reduções prolongadas do tempo total e da qualidade do sono, você tem um aumento de risco de morte e de outras condições clínicas.”

Outro risco é a possibilidade do desenvolvimento de cânceres. ”A piora da qualidade do sono pode alterar a expressão de alguns oncogenes, que promovem mutações que podem gerar um câncer. Essas alterações no sono também podem inibir outros oncogenes, que seriam protetores para evitar os nossos cânceres, causando um desequilíbrio favorável à incidência de câncer”, salienta o professor.

Eckeli reitera a necessidade de um sono saudável: “Qualquer função cerebral importante o sono modula, ele é essencial para a cognição, ele é essencial para a memória. Não existe um bom funcionamento cognitivo se a pessoa não dorme bem, a gente precisa ter um bom sono, seja de qualidade, seja de quantidade ou regularidade. Isso volta à importância do sono como um agente homeostático que mantém o equilíbrio do organismo e o sono como uma função vital para a manutenção da vida”.

Texto: João Dall’ara
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Microplásticos da poluição podem contaminar o sangue por meio da alimentação e respiração

Pela primeira vez, um estudo holandês detectou a presença de microplásticos no sangue humano, que chega até o organismo através do consumo de alimentos embalados e da inalação do ar

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O impacto do plástico como poluidor já é um assunto recorrente em pautas ambientais, mas a presença do componente no organismo humano vem ganhando cada vez mais relevância. Pela primeira vez, um estudo holandês detectou a presença de microplástico no sangue humano, que chega até o organismo através do consumo de alimentos embalados e de carnes de animais contaminados, além da inalação do ar e da água que bebemos, por conta da poluição do material no meio ambiente. A análise é do hematologista José Roberto Ortega Júnior, do Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP.

Em estudo internacional, publicado recentemente, foram coletadas 22 amostras de sangue de doadores anônimos, todos adultos saudáveis, e a presença do microplástico foi detectada em 17 amostras, ou seja, 80% dos participantes.

E, no início deste ano, pesquisadores da USP apresentaram resultados de pesquisa que também identificou a presença do material no organismo humano, desta vez no tecido pulmonar, com 20 casos analisados e 13 tecidos contaminados.

Nos dois estudos, os tipos de plásticos encontrados foram os mais consumidos mundialmente, como o polipropileno, polietileno e o PET, usados na fabricação de embalagens plásticas, sacolas de mercado e garrafas plásticas. As partículas encontradas variaram entre 1,6 a 5,5 micrômetros.

Impactos na saúde

Identificado recentemente, o impacto na saúde causado pela presença do microplástico no organismo “ainda é uma pergunta a ser respondida pela ciência”, conta Ortega. O hematologista conta que algumas testagens em animais já foram concluídas, mas ainda não é possível definir as consequências à saúde humana.

Estudos iniciais, baseados em estudos de modelos de cultura celular, mostram que a presença de microplásticos do nylon no tecido pulmonar pode afetar o desenvolvimento de células tronco pulmonares, prejudicando pulmões em desenvolvimento e a cicatrização das vias aéreas, diz Luís Fernando Amato, pós-graduando e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, autor da pesquisa brasileira.

Consumo consciente

De acordo com Amato, o consumo consciente de materiais como plásticos é a melhor solução a curto prazo, evitando utilizações desnecessárias e de uso único como copos, canudos e sacolas plásticas de mercado, por exemplo.  “O uso do plástico na sociedade é inevitável, mas filtrar esse consumo em situações de necessidades reais, evitando desperdícios e descartes irregulares, pode ser a chave para uma melhora no cenário de poluição pelo plástico, seja no meio ambiente ou no organismo humano”, enfatiza Amato.

Por Vinicius Botelho

FONTE: Jornal da USP

A importância do sono saudável na vida das pessoas

Comemorado dia 18 de março, o Dia Mundial do Sono é uma oportunidade para refletir sobre a importância de uma boa e tranquila noite de sono para a saúde física e mental. No entanto, hábitos aparentemente inofensivos do cotidiano, como mexer no celular ou ver televisão na hora de dormir, contribuem para roubar preciosas horas de sono e prejudicar a saúde.

Para a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (Aborl-CCF), a data serve de alerta sobre a necessidade do sono saudável para garantir qualidade de vida. A associação lembra que a falta do sono pode interferir nas taxas de mortalidade e contribuir para o aumento da prevalência de doenças como hipertensão, diabetes, obesidade, síndrome metabólica, ansiedade, depressão, síndromes metabólicas.

“O sono é parte integrante do nosso processo fisiológico. Precisamos dormir para reparar a energia gasta em um dia todo de trabalho, para consolidar nossa memória”, disse à Agência Brasil o coordenador do Departamento de Medicina do Sono da entidade, Danilo Sguillar.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Sono, a população está dormindo menos nos últimos anos. Em 2018, a média foi de 6 horas e 36 minutos, e, em 2019, caiu para 6 horas e 24 minutos.

Sguillar lembra que ronco e insônia também são indicativos de problemas no sono que podem prejudicar a saúde da pessoa. O especialista destaca ainda a apneia obstrutiva do sono, caracterizada pela obstrução completa ou parcial do fluxo de ar nas vias respiratórias, enquanto a pessoa dorme.

Quando isso acontece, a pessoa pode roncar alto ou causar ruídos sufocantes enquanto tenta respirar, uma vez que o corpo está privado de oxigênio. Se não for tratada, a apneia obstrutiva do sono é fator de alto risco para o aparecimento de problemas como hipertensão arterial, doenças cardíacas e diabetes tipo 2, entre outras.

“Quem ronca e tem apneia não descansa o quanto deveria, não tem um sono reparador e tende a ficar sonolento durante o dia, ter dificuldade de concentração, irritabilidade e prejuízo na memória, o que afeta o rendimento profissional. Dependendo da gravidade do problema, essa má qualidade do sono pode acarretar hipertensão arterial, diabetes e obesidade, além de depressão, ansiedade e maior risco para acidentes, ou seja, a doença não tratada diminui a expectativa de vida”, esclarece o médico otorrinolaringologista.

Em razão disso, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial lançou uma campanha, com camisas, cartazes e postagens em redes sociais. O tema da campanha, Ronco Não É Piada, visa conscientizar a sociedade de que esse distúrbio precisa ser levado a sério.

“Estamos com uma campanha com o tema ronco, porque ronco é um sintoma muito frequente que ocorre na maioria dos lares e, muitas vezes, é tido como chacota, como brincadeira. Muitos se esquecem de que, por trás do ronco, existe uma importante patologia que é a apneia obstrutiva do sono”, alertou Sguillar.

Um estudo publicado em 2018 na revista científica The Lancet estimou que mais de 936 milhões de pessoas têm apneia obstrutiva do sono no mundo. O número é quase 10 vezes maior do que a estimativa da Organização Mundial da Saúde em 2007, de mais de 100 milhões de pessoas com a doença.

Prevalência

O distúrbio é mais frequente entre pessoas do sexo masculino, a partir dos 50 anos de idade, com obesidade e alterações faciais, como o queixo mais recuado, língua volumosa, amígdalas aumentadas e desvios de septo nasal.

Um passo importante para quem tem contato alguém que ronca, principalmente quando o barulho é alto, estridente ou interrompido por pausas na respiração, é alertar e aconselhar a pessoa a procurar um especialista para verificar possíveis problemas, diz Sguillar. “Quem está vendo a pessoa dormir e roncar tem que fazer o alerta para que ela vá procurar ajuda médica.”

Criado pela World Sleep Foundation, o Dia Mundial do Sono, é lembrado como oportunidade para celebrar a importância do sono e chamar a atenção global de problemas de saúde que tenham relação direta com o sono, desde a saúde até aspectos sociais ou educacionais.

A data é móvel e ocorre sempre na última sexta-feira antes do equinócio de outono, para o Hemisfério Sul, e o de primavera para o Hemisfério Norte.

As dicas da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial para ajudar as pessoas a dormir melhor e ter sono de qualidade são:

● Fazer atividade física regular.

● Ter alimentação adequada, com comidas leves no jantar, para ter uma noite de sono mais tranquila e sem interrupções.

● Não consumir alimentos à base de cafeína, como chá preto, café e refrigerante à base de cola.

● Evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

● Não fumar.

● Perder peso, no caso de pacientes com obesidade.

● Adotar práticas de higiene do sono, como evitar telas durante a noite. Celulares, tablets e televisores devem ser desligados pelo menos uma hora antes de se deitar.

● Ler fora da cama, pois ajuda a embalar o sono.

● Dormir no quarto escuro.

● Praticar meditação pode facilitar a preparação para o sono.

Por Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil – Brasília

FONTE: Agência Brasil

Dietas sustentáveis ajudam o planeta, mas seu corpo também agradece

Após desenvolverem o Índice da Dieta da Saúde Planetária, que mede a aderência da população à alimentação com menor impacto ambiental, pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP avaliaram o efeito dessas dietas sustentáveis na saúde da população, mais especificamente na gordura corporal. Os participantes que tiveram maior pontuação no índice, e portanto maior adesão às dietas saudáveis ao planeta, possuíam risco 24% menor de apresentar sobrepeso e obesidade.

A pesquisa também mostrou que os ‘campeões’ no índice também possuem 14% menos risco de terem obesidade abdominal e 27% menos risco de apresentarem o quadro agravado dessa condição, a obesidade abdominal aumentada. O estudo mostra que uma alimentação mais baseada em frutas, verduras, legumes, cereais integrais e oleaginosas – e menos em carnes vermelhas, laticínios, tubérculos, açúcares de adição e gorduras animais – pode ser tão saudável ao planeta quanto ao nosso corpo.

O estudo faz parte do doutorado sanduíche  do pesquisador Leandro Cacau, da FSP, sob orientação da professora Dirce Maria Lobo Marchioni, junto à Universidade de Zaragoza, na Espanha, com supervisão de Luis Moreno. O artigo foi publicado em outubro na revista científica Nutrients. O projeto tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Leandro Cacau – Foto : Arquivo Pessoal

O índice desenvolvido pelos pesquisadores é baseado na Dieta da Saúde Planetária, um modelo de alimentação proposto no relatório Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems, publicado no jornal científico The Lancet. A ideia dessa dieta é promover um uso sustentável e consciente dos recursos do planeta para garantir nutrição e saúde às 10 bilhões de pessoas estimadas em 2050 – o que não acontecerá sem mudanças radicais no nosso padrão de consumo atual.

Ao dividir os alimentos em 16 grupos e relacioná-los à emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) gerada na produção de cada um deles, o índice é capaz de avaliar as dietas através de uma  pontuação de 0 a 150. Em geral, quanto mais vegetais se consome, chega-se mais próximo de 150 pontos; enquanto que quanto mais se opta por alimentos de origem animal e ultraprocessados, a dieta fica mais perto de zerar – e, então, maior é o custo ambiental das refeições.

A recomendação da EAT- Lancet, assim como a primeira aplicação do índice, sugeriam que, quanto menos nocivas ao planeta, maior seria a qualidade nutritiva da dieta, mas esse é o primeiro estudo a avaliar o que de fato acontece com a saúde humana se optarmos por dietas saudáveis também ao planeta. “Os resultados vão ao encontro do relatório: seguir uma dieta saudável e sustentável traz benefícios para a saúde da população, já que o sobrepeso e obesidade são importantes fatores de risco para outras doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares”, afirma Leandro Cacau em entrevista ao Jornal da USP.

Foram avaliados 14,515 brasileiros, participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), que acompanha os voluntários de vários estados do Brasil desde 2008 e 2010. De acordo com o pesquisador, os resultados mostram que os que melhor pontuaram no índice apresentaram melhor saúde quanto à gordura corporal, quando comparados aos que não seguem a Dieta de Saúde Planetária. “Eles possuíam 24% menor probabilidade de terem sobrepeso e obesidade. Isso independente de características sociodemográficas, de estilo de vida e estado de saúde, como sexo, idade, escolaridade, hábito de fumar, prática de atividade física, presença de diabetes e hipertensão, entre outros”, completa.

Os pesquisadores também identificaram que aqueles que pior pontuaram no índice tinham os maiores valores de Índice de Massa Corporal (IMC) e de circunferência da cintura. O próximo passo da pesquisa é avaliar a relação dessa ferramenta com marcadores de doenças cardiovasculares.

Mais informações: e-mail lcacau@usp.br, com Leandro Cacau

FONTE: Jornal da USP

Caramboxina, substância neurotóxica da carambola é sintetizada por pesquisadores da USP

A caramboxina traz problemas graves a pacientes com problemas renais. Síntese da substância vai ajudar na melhor compreensão da toxina e do uso da fruta em produtos alimentícios, além de inspirar novas terapias e drogas para doenças neurológicas.

Pesquisadores do campus de Ribeirão Preto da USP realizaram a síntese da molécula caramboxina, uma toxina presente na carambola que é prejudicial a pessoas com problemas renais. O feito deve permitir uma maior compreensão da atividade neurotóxica da substância e poderá ajudar no controle da caramboxina em produtos industrializados à base de carambola (doces e sucos), além de “inspirar o desenvolvimento de novos tratamentos e medicamentos para doenças neurológicas”, aponta o professor Giuliano Cesar Clososki, do Departamento de Ciências BioMoleculares da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

O processo de sintetização da molécula da caramboxina foi realizado durante o mestrado do pesquisador Franco Caires, do programa de Pós-Graduação em Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, que trabalhou sob orientação do professor Clososki. A pesquisa Estudo visando a síntese da caramboxina, uma toxina isolada de Averrhoa carambola, foi apresentado em 2019, na FCFRP.

Anteriormente, a caramboxina já havia sido isolada e caracterizada pelos pesquisadores Norberto Peporine Lopes e Norberto Garcia-Cairasco, da FCFRP e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, respectivamente, em um projeto que contou com a colaboração de outros pesquisadores da USP.  O feito foi destaque em uma matéria publicada na Agência USP de Notícias, em dezembro de 2013.

Por que sintetizar?

A inviabilidade econômica da obtenção in natura da caramboxina diretamente da carambola explica o caminho escolhido por Caires e Clososki. São “necessários muitos quilos do fruto para isolar apenas alguns miligramas da toxina”, dizem os pesquisadores. Eles contam que utilizaram a síntese orgânica, uma das principais áreas de pesquisa da química orgânica, para a obtenção da via sintética da molécula. E apontam que desejam continuar os estudos farmacológicos sobre os efeitos neurotóxicos da substância.

Caires relata que eles avaliaram várias possibilidades de obtenção da toxina, por meio do produto natural, mas optaram pelo “processo sintético que usa materiais de partida amplamente disponíveis e que se mostrou altamente eficiente e reprodutível em diferentes escalas”. Ao explicar o trabalho desenvolvido, o professor Clososki diz que a sintetização de um produto natural, como a caramboxina, passa pela “etapa de planejamento sintético”, em que os químicos avaliam detalhadamente a estrutura molecular, suas particularidades estruturais e determinam cada nova ligação química, ou seja, “como cada parte da molécula poderia ser conectada, para preparação da toxina”.

Histórico e efeitos da caramboxina

As investigações sobre a caramboxina começaram no final da década de 1990, conta o médico Miguel Moysés Neto, da Divisão de Nefrologia da FMRP. Segundo Neto, na época, houve casos de pacientes, especialmente em diálise, que comeram carambola e apresentaram quadros de soluços que “se mantinham o dia todo, às vezes, mais de um dia”. Além dos soluços, apresentavam também confusão mental, coma e quadros graves de convulsão que levaram alguns pacientes a óbito.

O médico explica que em pessoas sem doenças renais que consomem a carambola a caramboxina é eliminada normalmente, sem causar problema. Mas “se os rins não funcionam”, a caramboxina se acumula no sangue, “penetra na barreira do cérebro e se deposita em centros vitais, em regiões responsáveis pela consciência, centros cardiorrespiratórios e também provoca excitação cerebral suficiente, às vezes, para provocar convulsões de difícil controle”, informa Moysés Neto.

Mais informações: e-mail gclososki@usp.br

Por Vitória Pierri

FONTE: Jornal da USP

Especialistas explicam riscos de suplementos para treinos em academias

Bastante populares nas academias de ginástica, os suplementos alimentares prometem melhorar a performance nos treinos e trazer resultados mais efetivos. Mas, sem acompanhamento profissional e sem seguir as orientações de uso do fabricante, os riscos podem ser muitos. A Agência Brasil conversou com a cardiologista Rica Buchler, diretora de reabilitação cardíaca do Instituto Dante Pazzanese, e com a nutricionista Priscila Moreira, que integra o Conselho Regional de Nutricionistas em São Paulo. Elas orientam sobre as formas saudáveis e seguras de melhorar o condicionamento físico.

“Ele [suplemento] tem uma gama muito ampla de variação e muitos são vendidos na internet sem controle clínico. Vemos casos de arritmias e problemas cardíacos por suplementos. Tenho muito receio. São equivocados os suplementos pré-treino pelo teor de cafeína que eles podem ter. É preciso ter cautela, mesmo seguindo as regras do fabricante”, alerta a cardiologista.

Priscila não descarta o uso de suplementos, desde que seja feito com um acompanhamento profissional. Ela aponta que é fundamental observar a rotina alimentar na hora de considerar um suplemento. “Ele serve como um recurso ergogênico, ou seja, algo que vai ajudar a melhorar a sua performance, o seu desempenho, no exercício ou um recurso para complementar o que está faltando”, explica. A profissional acredita que a avaliação individualizada permite um consumo saudável.

A nutricionista, que é especialista em cardiologia, tem a mesma preocupação com os suplementos que contêm cafeína. “Um adulto saudável pode consumir no dia até 400 mg de cafeína, porém, como eu sei que esse adulto realmente está saudável? Só após avaliação cardiológica, e não são todos os praticantes de esportes que procuram um cardiologista”, lamenta. Nesse sentido, a recomendação dela é, a priori, optar por produtos que não tenham esse componente. 

Rica lembra que este período requer uma atenção ainda maior, pois percebe-se o retorno de muitas pessoas aos treinos após algum tempo de sedentarismo por conta do distanciamento social em razão da pandemia. “É como forçar um carro com pouco combustível a subir uma ladeira puxada”, compara. Ela acrescenta que a forma física, o condicionamento e o ganho muscular requerem um trabalho constante. “Excesso de cafeína pode levar a um efeito maléfico cardíaco porque ele está estimulando a musculatura que não está preparada”, orienta.

Cardiologista ressalta necessidade de acompanhamento profissional para uso de suplementos por quem treina em academias – José Cruz/Agência Brasil

Complementos dos suplementos

A médica explica que as fórmulas dos produtos são variadas e vão de “cafeína [com doses elevadas] até substâncias que aumentam o calor corporal”. Ela acrescenta que não se enquadram nesse rol os produtos como Whey Protein. “É uma reposição de proteína que pode ser adicionada à rotina de pessoas que fazem atividade física, de forma diluída”, aponta, ao acrescentar, no entanto, que uma dieta balanceada pode já oferecer as proteínas necessárias. A cardiologista ressalta ainda a necessidade de acompanhamento profissional.

Para Priscila, o uso dessas substâncias que podem ser consideradas complementares, pois já são produzidas pelo organismo, também pode representar risco à saúde se consumidos em excesso. “Não adianta um indivíduo não ter um consumo diário de proteína adequado e apenas usar o suplemento. Ele é um complemento para que esse consumo seja aumentado diante do objetivo que ele tenha com treinamento. Aí existe um risco de consumo caso o indivíduo já tenha, por exemplo, um consumo alto de proteínas ao longo do dia e ele fizer um consumo de um suplemento de proteínas. Há risco de sobrecarregar, por exemplo, a função renal dele”, aponta, ressaltando a necessidade de uma avaliação nutricional prévia.

Desafio no TikTok

Nas redes sociais, o uso de suplementos sem diluição se tornou um desafio entre alguns usuários do TikTok. A prática é mais comum fora do Brasil, mas é possível acessar vídeos que mostram pessoas ingerindo o produto em pó e que, em seguida, apresentam tremores nas mãos, provocados pelo produto. “Não faltam exemplos na mídia de pessoas que têm infarto jovem ou que têm problema em academia, como arritmias, e, às vezes, óbito. É muito arriscado”, alerta.

A cardiologista explica que, mesmo fazendo a ingestão de uma mesma quantidade que, pela recomendação, deveria ter sido diluída, há muita diferença para a superfície de absorção do corpo. “Se você diluir na água, o suplemento vai ser absorvido uniformemente na parede do estômago.”

Ela acrescenta que mesmo os produtos que considera mais seguros podem trazer sobrecarga para algum órgão. “Ao tomar o pó, ele vai estar na forma pura, muito mais potente. Até no caso do Whey, por exemplo, mesmo não tendo cafeína, se tomado dessa forma, quem depura tudo isso – o excesso de proteína, quem elimina – é a creatina, é o rim, e o órgão tem um limite para filtrar”, explica.

Priscila acrescenta que o consumo sem diluição, especialmente dos produtos que possuem cafeína, pode provocar desidratação pelo efeito diurético deles. “Espera-se que, para o início do treinamento, a gente tenha um consumo de água de pelo menos em torno de 250 até 500 ml, dependendo do tamanho do peso do indivíduo”, orienta.

E a desidratação também traz riscos à saúde do coração. “Quando eu consumo um suplemento que tem ativos que aceleram a diurese ou ativos que até fazem com que a pessoa transpire mais, e sem o consumo de água, ela pode ter até problemas relacionados à função cardíaca mesmo, com a elevação dos batimentos cardíacos, em decorrência de uma desidratação. A gente chama de hiponatremia”, explica.

Por Camila Maciel – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil