Índice do artigo
O Instituto Central do Hospital das Clínicas conquistou o nível máximo do Programa Hospital Amigo do Idoso, iniciativa da Secretaria do Estado de São Paulo que faz parte do programa governamental São Paulo Amigo do Idoso desde 2012, pela excelência dos serviços oferecidos à população e suas boas práticas voltadas ao público idoso.
Há cerca de dez anos, o hospital, entendendo que não só as instituições de saúde, mas inclusive os municípios, os Estados e a Nação precisam se preparar para o envelhecimento populacional, decidiu aderir ao programa. “Se nós não estivermos devidamente equipados para atender bem a uma população crescente em nível exponencial, nós não teremos como dar a essa população aquilo que ela precisa e aquilo que nós precisamos também para as outras faixas etárias”, explica Wilson Jacob Filho, titular da Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor da Divisão de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Desde o primeiro momento, o hospital decidiu se credenciar, que é a parte de demonstrar interesse em fazer parte do programa. Para atingir o nível máximo – adquirir o Selo Pleno –, como atingido pelo instituto, são necessários completar quatro passos, referentes a ações obrigatórias e eletivas. Não apenas órgãos públicos de saúde podem receber o selo, mas também instituições privadas e de outras áreas, desde que impactem positivamente na saúde e bem-estar do idoso.
Muito além da saúde
Várias especialidades atendem aos idosos desde sempre e, comumente, é normal a procura nessa faixa etária por tratamentos e atendimento médico, já que a maioria deles convive com múltiplas doenças crônicas. A questão da geriatria e do selo, porém, vai muito além disso: não é atender ao idoso somente quando ele está doente, “mas atender ao idoso na condição de idoso; enfermidade entra como fator desencadeante, mas ela não é o único alvo do atendimento”, explica Jacob.
Ele também salienta que “o Selo Hospital do Amigo vai muito além disso, ele vai atender ao idoso por ser idoso dentre as suas multimorbidades e a grande quantidade de remédios que eles ingerem, que é a polifarma”. O idoso tem uma demanda social, emocional e da ordem de cuidadores, que ficam responsáveis pela sua autonomia e independência. A preparação do hospital para atendê-los, como explica o médico e professor, passa por esse conhecimento de que o atendimento é muito mais amplo que aquele dirigido à enfermidade ou doença. Conta, principalmente, com uma equipe preparada e multidisciplinar.
Geriatria e Gerontologia
A área principal de atendimento é a geriatria, mas outras especialidades complementam o trabalho. A gerontologia, como especifica Jacob, é um conjunto de saberes voltados para a questão do envelhecimento. “Inclusive nós temos uma área importantíssima da gerontologia, que é o jornalismo, porque é ele quem veicula as informações necessárias para que o idoso possa fazer valer os seus direitos e poder criar perspectivas futuras”, diz.
Todas as áreas da saúde são voltadas para dar o atendimento hospitalar aos idosos, mas o bem-estar é fruto de outras áreas também, como a jurídica e o turismo. É um universo do qual o idoso se utiliza para ficar menos enfermo e se recuperar de coisas pelas quais passou durante a sua vida. “Então, é uma medida de suporte interdisciplinar na qual o médico por vezes exerce um papel essencial, por vezes ele é um suporte”, explica o professor.
Preocupação com a demanda
Envelhecer é natural, porém, sempre foi uma preocupação da população que, por muito tempo, considerava isso uma doença. Para mitigar os efeitos do envelhecimento e garantir que esse período passe da melhor forma possível, a ONU instituiu, em dezembro de 2020, que de 2021-2030 seria a Década do Envelhecimento Saudável.
O mundo inteiro está de olho nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, para “encontrar soluções que atendam à maior parte dos idosos, se não a sua totalidade, nas suas demandas”, explica Jacob. Isto é, permitir que os indivíduos envelheçam com um grau de morbidades menor.
Se antes as pessoas passavam grande parte da sua velhice doentes, hoje há mecanismos para que isso mude e os impactos sejam reduzidos. “Não podemos admitir mais o modelo de envelhecimento onde as pessoas adoecem e ficam limitadas na quinta ou sexta década de vida, tendo uma expectativa de vida média em torno de oito a nove décadas, então eu não posso passar grande parte da minha vida doente”, diz Jacob.
O envelhecimento saudável inclui todas as áreas, não só a da saúde. “O assunto é absolutamente universal”, relata o médico.
Dica do envelhecimento saudável
Qual seriam elas? Antes de tudo, Wilson Jacob lembra que trazer a discussão a público, que sempre foi uma discussão temida, é um passo muito importante. “ [A saúde] Precisa ser cuidada com zelo e com atenção. Todos os problemas que nós acumulamos no transcorrer de nossas vidas nos serão cobrados lá na frente”, diz.
“Quanto mais eu me preocupo com meu envelhecimento saudável, seja dos 30 aos 60 anos de idade, maior a chance que eu tenho de chegar às idades mais avançadas com uma menor carga de doença e uma menor necessidade de medicamentos”, complementa. Ele elenca, ainda, duas dicas valiosas para o envelhecimento saudável: a primeira é querer envelhecer, já que pessoas que não querem estão fadadas a terem uma vida curta. A segunda é preocupar-se com o envelhecimento ainda jovem: se os cuidados começam cedo, muitos problemas podem ser evitados. O segredo da longevidade é o cuidado.
FONTE: Jornal da USP