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A fibromialgia é definida pela Organização Mundial da Saúde como uma doença caracterizada pela dor generalizada, associada à fadiga extrema, sono não reparador e depressão. “É muito mais em mulher que homem. Tem estatística de oito para um, nove para um, dependendo do país. Realmente é porque as mulheres já são mais propensas a terem dor crônica, por conta do stress no dia a dia e acabam, infelizmente, muitas vezes jogando a carga para o corpo, para o cérebro. Eu brinco que a gente tem uma dupla ou tripla jornada: cuida do trabalho, cuida de casa, cuida de todo mundo. Tudo isso sobrecarrega”, diz Lin Tchia Yeng, médica fisiatra, coordenadora do Curso Interdisciplinar de Dor da Faculdade de Medicina da USP e do Centro de Dor do Hospital das Clínicas.
Lin acrescenta que existem condicionantes genéticos responsáveis pela manifestação da enfermidade, mas destaca que outros fatores são relevantes: “Pessoas com fibromialgia têm oito vezes mais chance de ter também algum familiar com a doença. Aumenta também muito mais as chances de ter depressão e ansiedade, porque não é só genético. Tem componente também social, psicológico e ambiental”.
Identificação
A dor difusa característica da fibromialgia não se manifesta de repente. “É preciso ver o que causa essa dor. É importante falar porque a fibromialgia não é de um dia para o outro que aparece. É muito comum a gente ver que, basicamente, todos os pacientes começam com uma história de sono não reparador muitos anos antes. O sono é fundamental”, pontua Lin. Ainda mais quando é comum as pessoas “levarem problemas de estresse para a cama e começarem a remoê-los”, como coloca a especialista.
“Tem várias questões e, em conjunto com essa hiperconexão mente-corpo, esses fatores das dores musculares localizadas, dores relacionadas à postura inadequada, uma sensibilização do sistema nervoso periférico e central, acaba tendo vários sintomas associados. Além disso, a gente tem, geralmente, um controle de dor e, nas pessoas com fibromialgia, ele já não funciona direito”, explica a coordenadora do Curso Interdisciplinar de Dor da Faculdade de Medicina da USP.
É difícil a indicação de um profissional específico para identificar a fibromialgia, já que são vários os sintomas comuns nas pessoas com essa doença: como refluxo, intolerância à lactose e intestino mais sensível. A presença de estigmas também é um problema: “Fibromialgia traz estigmas. ‘Não tem cura, vi na internet e estou acabada’; na verdade, não é bem assim”.
Tratamento
“Eu não diria qual especialidade, depende da formação do especialista”, coloca Lin. Caso o profissional não tenha uma visão abrangente da situação, o tratamento da fibromialgia e até sua identificação são comprometidos. Geralmente, o primeiro a ter contato com o paciente é o reumatologista, mas a reabilitação também precisa de atenção, bem como outras áreas.
Por isso, a multidisciplinaridade é fundamental e um especialista em dor, como os treinados no curso oferecido pela Faculdade de Medicina, seria o ideal. Por mais que a fibromialgia não tenha cura, existe tratamento e as dores podem melhorar, como a especialista diz, com uma mudança no estilo de vida. Dentro dessa ação está incluída a melhora na qualidade do sono, mas, para ele cumprir seu papel reparador, a alimentação é essencial: “O sono é reparador: a gente ressintetiza os músculos, os hormônios, repara, joga o lixo do cérebro para fora. Só que, para fazer tudo isso, a gente precisa de energia: carboidrato complexo, proteína, para poder refazer o corpo. Senão, a pessoa rouba do próprio corpo”. Lin ainda completa: “Eu tenho pacientes que falam ‘tenho dor e não levanto’ e outros, ‘tenho dor e levo ela para passear’, muito melhor né!”.
FONTE: Jornal da USP