Índice do artigo
Segundo o Mapa da Obesidade, a prevalência do problema saiu de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019, um aumento de 72%.
A obesidade é uma doença crônica e multifatorial, que tem causas tanto genéticas quanto comportamentais, e é caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo. Segundo o Mapa da Obesidade, a prevalência da obesidade saiu de 11,8% em 2006, para 20,3% em 2019, um aumento de 72%. Estimativas da Organização Pan-Americana da Saúde contabilizam mais de 1 milhão de obesos no mundo, com a expectativa de que, até 2025, o número de indivíduos com sobrepeso chegue a 2,3 bilhões.
Nas mulheres, isso é ainda pior: 21% das mulheres brasileiras são obesas, contra 19,5% dos homens. A diferença pode ser pouca, porém, a gestação, algo exclusivo das mulheres, pode agravar ou até mesmo desencadear a obesidade. “A gente já tem, na verdade, um aumento da prevalência de obesidade. Nós temos agora um estilo de vida em que temos muita facilidade para acessar uma alimentação com ultraprocessados, que favorece o sedentarismo. Então, a gente já tem um aumento da prevalência de obesidade há décadas”, explica Tatiana Zaccara, médica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP especializada em gestação de alto risco.
O ganho de peso, durante a gestação, está associado às mudanças metabólicas pelas quais o corpo passa. O estilo de vida que a gestante leva antes e depois de engravidar conta muito. Esse ganho é normal e esperado, mas, nos últimos anos, um aumento da obesidade gestacional foi notada, o que traz consequências duradouras e infelizes tanto para a mãe como para o feto.
O que causa?
A obesidade gestacional está associada ao aumento das complicações durante todo o período da gravidez. Mulheres obesas e com sobrepeso pré-gestacional são mais propensas a sofrer abortamento, pré-eclâmpsia (hipertensão na gravidez em gestantes sem histórico da condição), diabete gestacional, risco de tromboembolismo venoso profundo (TVP) e de tromboembolismo pulmonar, assim como de gestação prolongada.
Não acaba por aí. Elas também apresentam maior demora de dilatação no trabalho de parto, diminuição da fertilidade, uma maior incidência de internações precoces e perda do feto após fertilização in vitro. “Ela [gestante] tem um maior risco de precisar ter um parto induzido, não entrar em trabalho de parto espontâneo, tem o maior risco de precisar de cesárea para o parto, um trabalho de parto prolongado, assim como maior risco de distorcer o ombro – um tipo específico de trauma da hora do parto – e um risco de infecção e de deiscência da ferida operatória, que é quando a pele não consegue cicatrizar bem a ferida e acaba abrindo. Então, esses são os principais riscos na hora do parto”, complementa Tatiana.
E a criança?
São muitas complicações, que não acabam na gestante. O bebê, por sua vez, também sofre as consequências do acúmulo fora do normal de tecido adiposo. Ele pode vir a ter complicações no período do pré-natal, como má formação, macrossomia e, no pior dos casos, morte intrauterina. Também foram encontradas malformações do tubo neural, por conta, principalmente, do pobre controle glicêmico. Dificuldades no ultrassom pré-natal também são um empecilho para a constatação de alterações e má formação no feto.
“Uma criança que está exposta a um excesso de nutrientes desde o ambiente intrauterino é uma criança que está habituada a lidar com muita comida chegando. Ela não escolhe o que ela come, então isso faz uma programação genética, uma alteração para que, no futuro, ela continue precisando dessa quantidade aumentada de alimento, de glicose e de gordura”, explica a médica. A consequência disso é que, assim como a mãe, a criança acaba tendo mais chances de ser obesa também.
Cuidados
O ideal é que a mulher mantenha um estilo de vida saudável antes mesmo da gravidez, ou seja, uma dieta equilibrada e saudável e uma rotina de exercícios. Caso a mulher já estiver obesa quando engravidar, o importante é que ela busque acompanhamento nutricional e médico o quanto antes, para evitar que maiores problemas sejam ocasionados durante a gestação.
“Mulheres grávidas devem praticar atividade física”, diz a médica. A rotina de exercícios pode ser mantida durante os nove meses, ou seja, todo o período gestacional. “Na gestação a gente não objetiva perda ponderal. O objetivo é uma alimentação equilibrada que forneça toda a necessidade calórica para mãe e para o bebê”, lembra Tatiana.
É recomendado que os exercícios mantenham uma frequência e sejam acompanhados por um profissional habituado a trabalhar com gestantes. A preferência é por treinos de baixo impacto e que não forcem a musculatura abdominal, começando devagar e de acordo com as especificidades de cada gestante. “Acho que a prevenção é a palavra da vez, é o que a gente devia fazer sempre”, diz a médica. Em sua avaliação, consultas pré-concepcionais devem ser feitas regularmente se há a intenção de engravidar: “É uma coisa para a saúde dela, para saúde dos possíveis filhos, se ela quiser ter filhos. Isso vai influenciar a qualidade de vida dessa pessoa para a vida inteira e, muitas vezes, influencia a qualidade de vida da família toda”.
FONTE: Jornal da USP