Os sete hospitais do complexo do Hospital das Clínicas da FMUSP receberão treinamentos e ações práticas para tratar dos casos de desnutrição.
A campanha de combate à desnutrição hospitalar do Hospital das Clínicas chama atenção para um problema que envolve demora no período para alta de pacientes, além do aumento significativo de morbidade e mortalidade nos leitos. A constatação se deu a partir de análises desenvolvidas pelo Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional (Ibranutri). Os sete hospitais do complexo do Hospital das Clínicas da FMUSP receberão treinamentos e ações práticas para tratar dos casos de desnutrição.
A desnutrição hospitalar é uma das principais responsáveis pela piora das condições mórbidas de base, que ocasionaram a internação do paciente. Isso tem impactos não somente na recuperação do paciente, como pode ocasionar complicações naqueles submetidos a processos cirúrgicos.
Em dados compilados a partir do HC, que também podem ser observados em resultados obtidos em hospitais da rede do SUS, a desnutrição pode estar presente já na admissão hospitalar; num período entre cinco a sete dias, é possível obter uma taxa de 50% de desnutrição. E, segundo o último levantamento do Ibranutri, de 2001, entre os pacientes desnutridos, 70% desenvolveram complicações e os custos por seu tratamento aumentaram, em média, 60,5%.
O professor Dan Linetzky Waitzberg, do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP, destaca também que, justamente por apresentar todas essas implicações, o tempo de permanência hospitalar é maior, assim como o número de taxas de complicações infecciosas nos pacientes desnutridos, bem como também os gastos com leito, remédios e serviços de enfermagem nas UTIs, além de o fato de dificultar a disponibilidade de leitos hospitalares para novos pacientes.
A campanha de desnutrição
Na tentativa de monitorar e controlar os casos de desnutrição nos hospitais, o professor explica que técnicas de avaliações subjetivas têm sido incorporadas para estimar o risco nutricional de cada paciente. “Todo o paciente deveria passar por uma triagem, a fim de avaliar as condições de massa gorda e magra, ou se há alguma doença de base que poderia piorar a condição da desnutrição”, adiciona Waitzberg. Isso ocorre principalmente porque há casos em que não existe uma aparente desnutrição, ou mesmo, no quadro atual, há a complicação da covid-19.
De forma on-line e presencial, a campanha trata da importância de alertar sobre os riscos da desnutrição, a partir de dados coletados nos sete hospitais do complexo do HC-FMUSP.
Um estudo recém-publicado pela revista científica The Lancet Regional Health – Americas traça o panorama epidemiológico da hérnia diafragmática congênita (HDC) no Estado de São Paulo. A anomalia, que consiste em um defeito embrionário que impede o desenvolvimento normal do pulmão, não tinha, até então, dados sobre sua incidência na América Latina, incluindo o Brasil. A situação acaba de mudar graças a uma equipe de alunos de graduação da USP dos cursos de Medicina em Ribeirão Preto e em Bauru, liderada pelo professor Lourenço Sbragia Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP).
Com base em informações de livre acesso do DataSUS e do Sistema Nacional de Informações de Registro Civil, os pesquisadores verificaram que, dos mais de 7,3 milhões de nascimentos ocorridos entre 2006 e 2017, em São Paulo, mais de 1.100 apresentavam algum problema relacionado à HDC.
O dado, avalia Sbragia Neto, mostra que a prevalência da anomalia no Estado é de um para cada seis mil nascimentos, não muito distante da realidade de países desenvolvidos (Canadá, Estados Unidos e Comunidade Europeia) que têm entre um caso em três mil a um caso em seis mil nascimentos, dependendo da região.
Os resultados da HDC em São Paulo, estado brasileiro com cerca de 45 milhões de habitantes, devem servir de base tanto para o restante do País quanto para outros países latino-americanos. Com as informações, “podemos pleitear políticas de atendimento perinatal, envolvendo a gestante, o nascimento e o cuidado pós-operatório” necessário para o tratamento da anomalia, informa Sbragia Neto.
O professor orientou os três graduandos da USP, Eduardo Pavarino e Victória Oliveira Maia, da FMRP, além de Leandro Tonderys Guidio, do campus de Bauru. Guidio destaca que “o principal resultado do estudo é mostrar um panorama epidemiológico sobre a HDC, trazendo uma estimativa da prevalência geral no Estado de São Paulo e também como essa prevalência está distribuída segundo algumas estratificações, como idade materna, escolaridade da mãe, idade gestacional, entre outras, e como esses fatores podem afetar a mortalidade de crianças”, diz. Espera-se que os dados fornecidos pelo estudo ajudem o sistema de saúde a oferecer um melhor atendimento a quem tem a anomalia.
Embora não seja muito comum, a hérnia diafragmática congênita está consideravelmente presente tanto em São Paulo quanto no restante do País, argumentam os pesquisadores. E não havia dados sobre a HDC para a sociedade brasileira e latino-americana. Autoridades e cientistas da área de saúde usavam “informações importadas e que, possivelmente, não refletiam nossa realidade”, afirma Pavarino.
Questionado sobre as causas da HDC, Sbragia Neto afirma que ainda são desconhecidas e ainda não existe forma de prevenção. Por isso, reforça a importância de planejamento antes da gravidez, sendo necessário “tomar as vitaminas, colher os exames prévios para o acompanhamento da gestação e fazer o ultrassom pré-natal, que pode identificar a anomalia”.
Tratamento é feito com ventilação e cirurgia
Apesar de menos frequente, o tratamento da hérnia diafragmática congênita é muito caro, “pelo uso do oxigênio, de antibiótico e de deixar muitas sequelas, com maiores danos para as crianças”, enfatiza Sbragia Neto. Com a malformação do músculo do diafragma, intestino, estômago e fígado sobem para o tórax e pressionam o pulmão. “Então a criança acaba morrendo de insuficiência respiratória, pelo fato de o pulmão não crescer”, informa.
A correção do problema é feita por cirurgia, que pode recuperar 85% dos casos leves (devolvendo vida normal às crianças) e 40% dos casos graves (em que os sobreviventes convivem com problemas pulmonares crônicos – como asma e enfisema – e até com lesão cerebral, dependendo do tempo que ficarem sem oxigênio).
O professor informa ainda que há casos em que a correção pode ser feita dentro do útero. Dependendo da gravidade, detectada por exames de ressonância, é possível a intervenção fetal, “colocando um balãozinho dentro da traqueia, para impedir que o líquido do pulmão saia” e possa crescer. O procedimento é realizado em Ribeirão Preto e outras localidades do Estado de São Paulo.
Impacto social e na formação de cientistas
Feliz com os resultados da pesquisa, Sbragia Neto destaca o impacto social dos dados e também do investimento na formação de cientistas. A ciência “pode mudar a realidade do nosso País, que sofre pela escassez de quem quer se dedicar e ser devotado a ela”, diz o professor.
Sobre a atuação de estudantes em atividades de pesquisa, Guidio diz que é “fundamental que se incentive a pesquisa já na graduação para que se forme novos pesquisadores”. Com conhecimentos em estatística adquiridos em sua primeira graduação, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o estudante de medicina foi o responsável pelo preparo dos dados e análises estatísticas. Pavarino é graduado em Ciências da Computação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e se responsabilizou pelo processamento dos dados levantados pela colega Victória, usando ferramentas de tecnologia da informação.
Além de Victória, Guidio e Pavarino, também assinam o artigo na The Lancet Regional Health – AmericasJoão Paulo Dias de Souza e Amaury Lelis Dal Fabbro, todos da FMRP, e Rodrigo Ruano e Augusto Frederico Schmidt, ambos da Escola de Medicina da Universidade de Miami, nos Estados Unidos.
Texto: Rita Stella e Rosemeire Talamone
Arte: Guilherme Castro
O Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), da Universidade Federal Fluminense (UFF), é a primeira unidade da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado do Rio de Janeiro a ter um aparelho usado na cirurgia micrográfica de Mohs, cuja técnica aumenta a chance de cura em cânceres de pele, em torno de 100%, para tumores com baixa capacidade de disseminação via linfática ou sanguínea.
O aparelho foi doado ao HUAP pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), com a contrapartida que o hospital ofereça a formação de novos especialistas nesta técnica, que permite uma visão completa da superfície tumoral na pele durante sua retirada.
O coordenador da Dermatologia do HUAP, professor Flavio Luz, explicou hoje (20) à Agência Brasil que essa técnica permite a visualização microscópica de 100% da superfície do tumor. “Dessa maneira e mapeando o material, a peça, a gente consegue uma precisão quase que absoluta, plena, de onde está o tumor e até onde ele vai. Isso nos permite remover totalmente o tumor”. Ou seja, a cirurgia micrográfica de Mohs é que permite a visualização da superfície tumoral e faz com que seja possível um mapeamento mais preciso e a chance maior de cura.
A técnica da cirurgia micrográfica de Mohs é consagrada e considerada padrão ouro no tratamento de câncer de pele no mundo. Para ser viabilizada, entretanto, a técnica precisa do aparelho doado pela SBCD, além de outros equipamentos. Flavio Luz assegurou que os benefícios são grandes para os pacientes, uma vez que o tumor é totalmente removido. “Ele não volta. É uma vantagem enorme. Ele deixa de ser agressivo, o paciente fica curado, diminui mutilações, previne novas cirurgias, previne radioterapia, quimioterapia, etc”.
O médico esclareceu que o câncer de pele é o tipo de câncer mais frequente no ser humano, respondendo por cerca de 30% de todos os cânceres que afetam o homem. “É um volume gigantesco de pacientes com câncer de pele por todo o sistema de saúde. O Antonio Pedro não foge à regra”, disse.
Especialização
O HUAP está iniciando, no momento, a formação de novos especialistas na técnica da cirurgia micrográfica de Mohs. Essa formação leva em média dois anos. “A pessoa tem que completar 75 cirurgias plenas, do início ao fim, para poder se certificar como cirurgião micrográfico. E quando ele entra nessa formação, já é um cirurgião dermatológico pleno. Quer dizer, ele já domina todo o conhecimento de oncologia cutânea, já domina a cirurgia dermatológica e já tem uma boa noção de dermatopatologia. Aí, sim, ele vai se habilitar a fazer a formação específica em cirurgia micrográfica”, indicou o professor. “Um colega que tente fazer a técnica sem se especializar, vai ter dificuldades”, manifestou Flavio Luz.
Há um tipo de câncer, em especial, para o qual a cura pode ser assegurada totalmente com essa técnica. Trata-se do carcinoma basocelular primário, que nunca foi operado previamente. “Ele tem 100% de chance de cura. Existe uma possibilidade mínima do tumor voltar. Por isso, o que se tem nas estatísticas, na verdade, é 99,9% de cura para um carcinoma basocelular primário”. Já para um tumor que tenha voltado após alguma cirurgia, o índice de cura fica em torno de 95%. Luz lembrou que o carcinoma basocelular representa 70% dos cânceres de pele.
“A cirurgia micrográfica beneficia muitos pacientes”, disse Flavio Luz, mas admitiu que o Brasil ainda está aquém de países como Estados Unidos e Austrália, que têm mais de mil cirurgiões micrográficos certificados, cada, enquanto o Brasil está atingindo agora o número de 100 especialistas, dos quais dez estão no Rio de Janeiro. “O aparelho é fundamental, principalmente em um hospital universitário, para poder formar novas pessoas. Mas a gente precisa de cirurgiões micrográficos bem formados”, salientou.
Formação
A primeira cirurgia micrográfica com o uso do aparelho doado pela SBCD está prevista para o próximo dia 27. A ideia, em um primeiro momento, é realizar uma cirurgia desse tipo no HUAP a cada semana. “Vamos começar com uma cirurgia por semana e, como é uma formação, a gente não tem como fazer a cirurgia em quantidade”. O foco, atualmente, é a formação de bons cirurgiões micrográficos. Na medida em que o hospital for formando novos especialistas, serão realizadas cirurgias em um menor tempo, o que permitirá realizar mais cirurgias a cada dia. “E, com mais pessoas, isso vai se multiplicando cada vez mais. Essa é a intenção”, afirmou o coordenador da Dermatologia do HUAP/UFF.
Segundo expôs, os resultados para o SUS são também positivos porque, quando se consegue cerca de 100% de cura com essa técnica, evita-se custos de novas cirurgias e tratamentos. Em casos que demandariam, às vezes, várias cirurgias, passa a ser necessário apenas um procedimento cirúrgico resolutivo.
Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
O Ministério da Saúde (MS) decidiu incorporar na lista de medicamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) o ácido zoledrônico. Medicamento é usado para o tratamento de pacientes com osteoporose que apresentam intolerância ou dificuldades de deglutição dos bisfosfonatos orais. A portaria foi publicada hoje (21) no Diário Oficial da União (DOU).
A incorporação do medicamento atende a uma recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do MS. Segundo a portaria, o medicamento deverá ser oferecido à população no SUS no prazo máximo de 180 dias.
A osteoporose atinge o metabolismo dos ossos, diminuindo a massa óssea e comprometendo a estrutura dos tecidos responsáveis pela formação dos ossos. A doença é a principal causa de fratura em pessoas acima de 50 anos.
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do MS já disponibiliza no âmbito do SUS o uso de Vitamina D e Cálcio, raloxifeno, estrógenos conjugados, calcitonina (spray nasal) e os bisfosfonatos orais (alendronato e risedronato) para o tratamento de pacientes com osteoporose.
De acordo com a Conitec, a incorporação do ácido zoledrônico se deve, entre outras razões, a sua alta capacidade de se ligar ao osso mineralizado. Ao ser administrado, o medicamento age rapidamente no osso, inibindo o desequilíbrio entre a reabsorção de cálcio e a remodelação óssea.
or Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil – Brasília
Sangramento visível na urina; desconforto ao urinar, como dor e ardência; aumento da frequência ou urgência em urinar são sintomas para acender o alerta de um possível câncer de bexiga, órgão que armazena a urina antes de ser eliminada do corpo. Durante a micção, os músculos da bexiga se contraem e a urina é eliminada através da uretra.
“Mesmo nos estágios iniciais, esse tipo de tumor já pode causar alguns sintomas. O principal sintoma da doença é o sangramento visível na urina, então é aquele paciente que vai chegar no consultório falando que viu sangue na urina, que a gente chama de hematúria. Outro indicativo é o desconforto a urinar. Alterações como urgência para urinar ou aumento da frequência urinária também são sintomas que a gente deve investigar”, alerta o urologista Rafael Ribeiro Meduna, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo.
Nos casos mais avançados da doença, podem ocorrer sintomas como perda de peso, cansaço, fraqueza, perda do apetite, dor óssea e incapacidade de urinar. Contudo, esses sintomas também são comuns em outras doenças como infecção urinária, aumento benigno da próstata, bexiga hiperativa e pedras nos rins e bexiga.
“É importante lembrar que esses sintomas não significam que você está com um tumor de bexiga. Existem outras doenças que são até um pouco mais frequentes que o câncer de bexiga, que também causam sintomas como o aumento da próstata benigno, uma infecção urinária, cálculos na bexiga e até a bexiga hiperativa”.
Conscientização
Julho é marcado pela campanha de conscientização do diagnóstico precoce e do tratamento do câncer de bexiga. O mês é dedicado à campanha para que as pessoas, com ou sem histórico da doença na família, passe a buscar orientação e acompanhamento médico, além de realizar exames periódicos.
A queda no número de diagnósticos preocupam os especialistas. Isto porque, com a pandemia, muitos pacientes deixaram de realizar exames rotineiros. Para dimensionar o tamanho do dano causado pela pandemia no diagnóstico de novos casos de cânceres, a Sociedade Brasileira de Urologia (seção de São Paulo) realizou levantamento em parceria com instituições de saúde no Estado de São Paulo, responsáveis pelo atendimento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os resultados mostraram que a pandemia gerou uma redução média de 26% no número de novos casos, englobando os tumores de rim, próstata e bexiga, na comparação com diagnósticos feitos nos anos de 2019 e 2020.
O Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo, observou uma queda de 52% nos casos de câncer de bexiga e 63% nos de rim. Já o Hospital AC Camargo Câncer Center, disse que a redução foi de 24% para os tumores da bexiga e 29% para os de rim. Os dados para o câncer de rim do Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostraram redução no diagnóstico de novos casos de 35% – foram computados 40 casos em 2019, contra 26 em 2020.
“Com toda a questão da pandemia, houve um grande medo da população, além da orientação das instituições de saúde para que houvesse o distanciamento social. Com isso, teve uma redução importante no número de consultas médicas, avaliações, exames e consequentemente houve uma diminuição nos diagnósticos”, lamenta o médico.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), o número de casos novos de câncer de bexiga, estimados em 2022 para o Brasil, é de 7.590 casos em homens e 3.050 em mulheres.
Fatores de risco
O principal fator de risco para desenvolver a doença é o cigarro, responsável por cerca de 50% dos casos. O risco está diretamente relacionado com a duração e intensidade do ato de fumar.
“O cigarro tem diversas substâncias químicas que são carcinogênicas, ou seja, induzem o aparecimento de um tumor e no caso específico da bexiga, depois que essas substâncias são inaladas, elas são absorvidas pelo pulmão e vão cair na corrente sanguínea e depois serão filtradas pelo rim. Vai produzir uma urina, como se estivesse contaminada com essas substâncias químicas e depois ela vai ser armazenada na bexiga, que é um reservatório da urina. Essas substâncias químicas vão passar horas ali na bexiga, causando uma agressão à superfície vesical, que vai propiciar um ambiente para poder desenvolver um tumor no paciente”, explica Meduna.
Mesmo quem não fuma, mas convive com alguém que fuma, o chamado tabagismo passivo, também tem um risco aumentado de câncer de bexiga. Outros fatores associados, porém em menor grau, são a exposição ocupacional prolongada às substâncias químicas chamadas de aminas aromáticas que podem ser cancerígenas (principalmente em indústrias que processam tintas, corantes e derivados do petróleo) e irritações crônicas na bexiga, como infecções e cálculos.
A principal prevenção para o câncer de bexiga é não fumar. Já os trabalhadores, que estão em contato diário com produtos químicos, devem usar equipamentos de proteção individual para maior segurança durante o trabalho. Os hábitos saudáveis de vida, alimentação adequada, prática de exercícios físicos também são uma forma de prevenção.
Tratamentos
Além do exame físico e análise da história clínica, para realizar um diagnóstico mais preciso, o médico pode solicitar alguns exames de imagem (ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética).
O exame diagnóstico mais importante para avaliação do câncer vesical é a cistoscopia. Com esse exame, o médico consegue avaliar o interior da bexiga do paciente com uma câmera. O tratamento do câncer de bexiga é indicado de acordo com o grau da doença, profundidade da invasão do tumor na parede da bexiga e se invade outros órgãos.
No caso de tumores iniciais, o tratamento realizado é a ressecção transuretral da bexiga, conhecida como “raspagem da bexiga”. Em alguns casos, pode-se associar a esse tratamento, a aplicação de drogas como BCG, quimioterápicos ou imunoterápicos dentro da bexiga.
“A onco BCG é uma imunoterapia que tem como objetivo criar, com o sistema imune, condições para diminuir a recorrência e a progressão do tumor. É importante lembrar que esse tratamento não está indicado para todo mundo, então vai depender muito do estágio da doença. Por isso que é importante, sempre que tiver esse diagnóstico, consultar especialistas para avaliar qual é o melhor tratamento para cada paciente”, frisa o urologista.
Em tumores que invadem a musculatura da bexiga, com a cistectomia radical (retirada de toda a bexiga) é a forma mais adequada de tratamento, podendo ser precedido pela quimioterapia em algumas situações. Como tratamento alternativo à retirada total da bexiga, pode ser utilizado uma combinação de raspagem da bexiga, quimioterapia e radioterapia.
Em geral, esse tratamento alternativo é destinado a pacientes com muitos problemas de saúde que não tem condições para realizarem a retirada total da bexiga. No caso de tumores mais avançados com presença de metástases (invasão de outros órgãos), o tratamento mais adequado é a quimioterapia ou imunoterapia. “A recomendação continua valendo: o quanto antes se diagnosticar o problema, mais chances de cura o paciente terá”, finaliza o especialista.
Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
Ana Marli Sartori conta que a Herpes-zóster compromete bastante a qualidade de vida da pessoa por conta da dor que causa
O herpes-zóster, também conhecido como cobreiro, é uma doença viral com alta prevalência especialmente entre a população mais idosa: 30% dos maiores de 80 anos se infectam. Uma nova vacina contra a doença acaba de chegar ao Brasil. O imunizante tem vantagens em relação à vacina anterior, pois possui maior eficácia e cobre um público-alvo maior.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Ana Marli Sartori, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e infectologista do Centro de Vacinação do Hospital das Clínicas, responde questões sobre o herpes-zóster e a nova vacina disponível.
Ana explica que o cobreiro é causado pelo vírus varicela-zóster. Na primeira vez que a pessoa entra em contato com ele, desenvolve a catapora. A resposta imune do organismo controla a doença, mas o vírus permanece na medula espinhal em estado de latência. “Durante esse período de latência, esse vírus não se manifesta porque é controlado pela imunidade adquirida pela infecção”, afirma a professora. “Porém, se a pessoa tiver algum comprometimento imunológico como um câncer, infecção por HIV e o uso de imunossupressores, ou por conta da idade, esse vírus pode se reativar por diminuição da resposta imune a ele”, acrescenta. Então, a doença se manifesta na forma do herpes-zóster.
Essa é uma doença bolhosa, que acompanha o trajeto dos nervos, por isso costuma ser localizada. Segundo Ana, o mais frequente é que ela se manifeste na região torácica. Primeiro são formadas manchas avermelhadas, que se transformam em vesículas que se aglomeram e evoluem para crostas na pele. Além de muito dolorido e incômodo, esse quadro pode desencadear uma neurite pós-herpética, “um quadro doloroso mantido mesmo após a regressão das lesões”. “É uma doença que compromete bastante a qualidade de vida da pessoa por conta da dor que ela causa”, diz a professora.
Vacina
O novo imunizante chega ao Brasil disponível apenas na rede privada, sem previsão para ser disponibilizada no SUS. A vacina é destinada a pessoas a partir de 50 anos e especialmente àquelas com mais de 60 anos, justamente o público com maior risco de contrair a doença. A nova vacina também tem outra vantagem: é recomendada para pessoas com algum tipo de imunossupressão, como transplantados, e pessoas com infecção por HIV, que não poderiam utilizar a vacina anterior.
A professora lembra ainda que a vacina contra o herpes-zóster pode ser utilizada de forma concomitante com outros imunizantes, como o da gripe ou da covid-19. “Não há nenhuma restrição de uso.” As reações, assim como em outros casos, incluem dor no local da aplicação e mal-estar.
O Dia Internacional de Conscientização das Mucopolissacaridoses, comemorado no último domingo (15), vai se estender durante toda esta semana, a partir da promoção da MPS Week, pela Casa Hunter, organização não governamental (ONG) que apoia pacientes que possuem doenças raras e seus familiares. Com o lançamento do Guia do Manejo – MPS Tipo II, a ONG pretende disseminar conhecimento e esclarecer dúvidas de pacientes, familiares e cuidadores ao longo de toda a jornada. O documento traz informações sobre causas, diagnósticos, sintomas, tratamentos, além de aspectos como educação e socialização.
A estimativa é que, no Brasil, 13 milhões de pessoas tenham alguma doença rara. Entre elas, estão as mucopolissacaridoses (MPSs), doenças genéticas progressivas, degenerativas, multissistêmicas, que fazem parte dos erros inatos do metabolismo. Segundo informou hoje (17) à Agência Brasil a médica geneticista Ana Maria Martins, professora do Centro de Referência em Erros Inatos do Metabolismo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o guia vai ajudar a ampliar o conhecimento sobre essa doença.
Ana Maria Martins explicou que “as mucopolissacaridoses são doenças genéticas que ocorrem pela deficiência de enzimas que trabalham dentro dos lisossomos”. As enzimas são proteínas fundamentais para diversos processos químicos no organismo, cuja falta pode provocar vários transtornos. Já os lisossomos são pequenas estruturas que estão dentro das células e têm como função a reciclagem de substâncias e digestão de grandes moléculas, para que possam ser utilizadas ou reutilizadas.
A professora da Unifesp esclareceu que, com o acúmulo de depósitos de substâncias nos lisossomos, vão acontecer os sinais e sintomas das MPSs, como baixa estatura, infecções de ouvidos que começam por volta dos dois meses de idade, secreção grossa no nariz, alterações ósseas e nas articulações, fígado e baço grandes. Alguns tipos têm comprometimento da inteligência. Ou seja, nas MPSs, a produção de enzimas responsáveis pela degradação de alguns compostos é afetada e ocorre o acúmulo progressivo destes no organismo do paciente.
A especialista informou que, hoje, o tratamento recomendado no mundo para as MPSs está no Sistema Único de Saúde (SUS). “Logo que se faz o diagnóstico, o paciente pode receber seu tratamento gratuito na Secretaria de Saúde do seu estado e são melhores os resultados quanto mais cedo começar a tratar”.
Alerta na infância
A médica salientou que, quando pequena, a criança tem otites muito frequentes, pelo menos uma vez por mês. “O otorrino vai fazendo em monte de tratamentos e ela não consegue melhorar essa infecção frequente. O médico tem que estar alerta para apalpar a barriguinha dela e ver se tem aumento de fígado ou baço. Aí, tem que pesquisar as mucopolissacaridoses (MPSs)”, recomendou.
Ana Maria afirmou que que a Síndrome de Hunter é conhecida como mucopolissacaridose (MPS) do tipo 2. Ana Maria Martins atua, principalmente, nas áreas de erros inatos do metabolismo e fenilcetonúria, doença relacionada a uma alteração genética rara, que afeta aproximadamente uma a cada 10 mil pessoas e envolve o metabolismo de proteínas.
Para o presidente da Casa Hunter e da Federação Brasileira das Associações de Doenças Raras (Febrararas), Antoine Daher, o Guia de Manejo é uma forma de contribuir para a melhoria da jornada do paciente e dos cuidadores. “Muitas são as questões que cercam a doença, como os cuidados, as dúvidas e até mesmo os sentimentos, tanto do paciente quanto da família. Queremos, com o Guia do Manejo, aumentar o conhecimento sobre a patologia e acolher toda a rede de apoio”, disse Daher. O lançamento do guia contou com apoio das farmacêuticas JCR, Ultragenyx, Sanofi, Sigylon, Regenxbio e BioMarin.
Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
No dia 19 de maio, será celebrado o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais. A Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) alerta para o aumento da prevalência desses males no Brasil, chamando a atenção para a causa por meio da campanha Maio Roxo.
Segundo a entidade, as doenças inflamatórias intestinais atingem mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo e não têm cura, mas o diagnóstico precoce ajuda a estabelecer um tratamento para melhorar a qualidade de vida. No Brasil, tem sido observado aumento dos casos nos últimos anos, sendo as mais comuns a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa.
Estudo
Com base em dados do DataSUS, a SBCP analisou as taxas de incidência e prevalência das doenças inflamatórias intestinais no Brasil de 2012 a 2020. Foram analisadas informações de 212.026 pacientes de ambos os sexos, sendo 140.705 com doença de Crohn e 92.326 com retocolite ulcerativa.
Para o médico Paulo Gustavo Kotze, membro titular da SBCP e um dos autores de estudo, a incidência, ou seja, o registro de novos casos, subiu de 9,41 por 100 mil habitantes em 2012 para 9,57 por 100 mil habitantes em 2020, uma variação anual média de 0,80%. A prevalência, que é a soma dos casos, passou de 30,01 por 100 mil habitantes para 100,13 por 100 mil habitantes no mesmo período, uma variação média de 14,87% por ano.
“No Brasil, a prevalência das doenças inflamatórias intestinais chega a 100 casos para cada 100 mil habitantes no sistema público, sendo a maior concentração nas regiões Sudeste e Sul. Em alguns países desenvolvidos, a prevalência pode chegar a até 1% da população. Já a incidência média em 2020 no país foi de sete casos para retocolite ulcerativa e três para doença de Crohn para cada 100 mil habitantes”, disse Kotze.
Causas e sintomas
A SBCP alerta, também, que as doenças inflamatórias intestinais são mais frequentes em adolescentes e adultos jovens, de 15 a 40 anos, com causas relacionadas a fatores genéticos, imunológicos, ambientais, alimentares e alteração da flora intestinal. O tabagismo é um fator de risco para agravamento da doença de Crohn.
Os sintomas das duas doenças são parecidos, mas a retocolite ulcerativa acomete apenas a mucosa intestinal do reto e do cólon, conhecido como intestino grosso. Já a doença de Crohn pode atingir todo o trato digestório, da boca ao ânus, sendo mais prevalente no intestino delgado, colón e região perianal, provocando inflamações em todas as camadas intestinais.
Entre os sintomas estão diarreia crônica com sangue, muco ou pus, associada a cólicas abdominais, urgência evacuatória, falta de apetite, fadiga e emagrecimento. Em casos mais graves, o paciente pode ter anemia, febre, desnutrição e distensão abdominal. Entre 15% e 30% dos pacientes apresentam, ainda, manifestações extraintestinais como dor nas articulações, lesões de pele ou oculares.
O diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais é feito por especialista, após análise do histórico clínico e exames laboratoriais, endoscópicos, radiológicos e biópsias. Kotze afirma que os sintomas podem ser confundidos com os de doenças mais comuns, como síndrome do intestino irritável e diarreias infecciosas, “por isso, é fundamental uma análise global do paciente”, diz ele.
Tratamento
As doenças inflamatórias intestinais não têm cura, mas o tratamento adequado permite o controle do processo inflamatório e dos sintomas, com a indução da remissão da doença por meio de anti-inflamatórios tópicos, corticoides e medicamentos injetáveis. A manutenção da condição é feita sem corticoides, podendo associar imunossupressores e biológicos. De acordo com Kotze, o diagnóstico precoce é importante para evitar complicações.
“Mesmo com adequado tratamento clínico, os desafios de melhora persistem e uma parte significativa dos pacientes ainda necessita de diversos tipos de cirurgia para o seu tratamento. A importância do diagnóstico e tratamentos precoces reside na possibilidade de se evitar complicações e consequentes cirurgias”, acrescenta.
Outro ponto importante para os pacientes é seguir uma dieta adequada. Segundo a SBCP, os bons hábitos alimentares podem prevenir o desenvolvimento da doença e manter a remissão.
A orientação deve ser feita por uma equipe multidisciplinar de médicos e nutricionistas, já que o tipo de alimento recomendado varia de acordo com a fase e gravidade da doença em cada paciente.
Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
Dia 08 de maio foi o Dia Internacional da Talassemia, um tipo de anemia hereditária. A data reforça a divulgação de informações sobre a doença, diagnóstico precoce e conscientização da população.
Segundo o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o atendimento integral, desde o diagnóstico, monitoramento e o transplante de medula óssea quando indicado.
De acordo com dados da pasta, até abril deste ano, já foram registrados 930 pacientes com a doença no Brasil. Entre os pacientes, quase 36% tem entre 20 e 39 anos. Ao todo, foram mapeados 137 Serviços de Atenção Especializada em Talassemias em todo o Brasil.
Talassemia
As talassemias são um grupo de doenças hereditárias crônicas que se caracterizam pela redução ou ausência de hemoglobina – substância dos glóbulos vermelhos do sangue responsável pelo transporte de oxigênio para todo o corpo. Pessoas acometidas pelo problema possuem uma variabilidade de sintomas, como anemia persistente, aparência pálida, aumento do baço, distúrbios cardíacos e endócrinos, atraso no crescimento e na maturação sexual, além de infecções recorrentes.
Tratamento
Em geral, o tratamento e acompanhamento desses pacientes são realizados pela Rede Nacional de Hematologia e Hemoterapia (Hemorrede), integrada pelos hemocentros coordenadores estaduais e suas respectivas hemorredes regionais. Nos locais em que o tratamento não é oferecido na hemorrede, os estados instituem outros serviços de referência para esse tratamento especializado, necessário para evitar complicações da doença, que em casos mais graves pode implicar, inclusive, em transplantes de medula óssea.
O diagnóstico precoce da doença é fundamental. Os pacientes com o tipo de talassemia com anemia grave necessitam de transfusões de sangue de forma regular, geralmente a cada 20 dias, em média, para sempre, desde os primeiros dias de vida.
O Ministério da Saúde publicou materiais técnicos para padronizar o atendimento e orientar os profissionais de saúde no tratamento das pessoas com a doença, como o Manual de Orientações para o Diagnóstico e Tratamento das Talassemias Beta, Caderneta da Pessoa com Talassemia e Folder Talassemias.
O desenvolvimento de uma nova geração de imunoterapias tem feito avançar o tratamento contra o câncer. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o primeiro registro sanitário no Brasil para um medicamento que se baseia na coleta e na modificação genética de células imunes. Essa é uma nova opção de produto com tecnologia inovadora que pode complementar os outros métodos já existentes para o tratamento de mielomas e leucemias.
O Jornal da USP no Ar 1ª Edição conversou sobre o assunto com o professor Vanderson Rocha, titular da Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador da área de terapias genéticas.
Rocha explica que o medicamento aprovado utiliza células chamadas CAR-T, que são coletadas dos próprios pacientes e modificadas para combater os tumores. “Esse tipo de terapia é uma nova esperança para aqueles pacientes em que todas as armas terapêuticas já foram utilizadas”, afirma.
Primeiro, linfócitos (células de defesa) são retirados do paciente e enviados para uma fábrica nos EUA. Em seguida, essas células são modificadas por meio de um vetor viral, que modifica seu núcleo. Após cerca de quatro semanas, elas retornam como um medicamento infundido nos pacientes.
Foram cerca de 12 anos de pesquisa para a criação desse produto, que também é autorizado em países da Europa, Estados Unidos e Japão. Entretanto, o caráter personalizado e o processo de produção fazem com que esse medicamento seja muito caro. “Raramente será possível utilizá-lo em grande escala no SUS [Sistema Único de Saúde].”
De acordo com o professor, esse medicamento pode custar até R$ 2 milhões, por isso é quase impossível a adoção pelo sistema público. Pesquisadores da USP em Ribeirão Preto estão trabalhando em um produto próprio para, de alguma forma, baratear a utilização dessas células.
Pesquisas
Segundo Rocha, as perspectivas com a adoção desse medicamento são enormes, não só para o câncer, mas também para outras doenças como lúpus e fibrose. Atualmente, recorre-se a essa terapia somente quando todas outras alternativas já foram utilizadas. “O futuro é trazer essas células um pouco mais na frente do tratamento”, avalia o professor, ao comentar que o melhor momento para o uso do medicamento ainda está sendo pesquisado.
A eficácia do produto nos chamados tumores sólidos (neurológicos, câncer de mama e do pâncreas, por exemplo) ainda está sendo avaliada. O professor lembra que essas pesquisas são muito importantes, mas também muito custosas. “Eu faço um grande apelo para a sociedade e as associações para apoiarem as pesquisas, não só na USP, mas em todas as universidades públicas, para que isso se torne viável para o SUS também.”