Glaucoma, guia tenta evitar expansão de casos de cegueira

O avanço da pandemia de covid-19 tem dificultado o diagnóstico precoce do glaucoma e afastado pacientes de tratamentos, informou a Associação Mundial de Glaucoma (WGA), que congrega sociedades médicas e de outras áreas de 90 países. A finalidade é a redução dos problemas causados pelo glaucoma ao redor do mundo.

Aproveitando a Semana Mundial do Glaucoma, que terminará no próximo dia 12, a WGA divulgou um guia com orientações para impedir o aumento de casos de cegueira. Com a pandemia, muitas pessoas deixaram de ir ao oftalmologista fazer exames preventivos e acompanhar o glaucoma.

Para a WGA, o avanço no número de casos de pacientes de glaucoma com perda parcial ou total de visão seria um dos efeitos colaterais da pandemia. O cenário é descrito por pacientes em vários países. Eles relatam dificuldade de acesso a exames e consultas pela priorização dos serviços médicos no acolhimento de casos de coronavírus e afastamento de pacientes devido ao medo de contraírem a doença em consultórios e hospitais.

Doença de manifestação silenciosa, o glaucoma é a principal causa de cegueira. Cerca de 80 milhões de pessoas em todo o globo têm a doença, embora em torno da metade desconheça o diagnóstico, segundo a WGA. Os cálculos sugerem que um indivíduo em cada 200, com 40 anos de idade, apresenta esse quadro, sendo que essa proporção é de um em cada oito a partir dos 80 anos.

Idosos, mulheres, indígenas e grupos de minoria étnica têm mais chances de desenvolver o glaucoma, enquanto familiares de pessoas com a doença têm até 10 vezes mais chances de também manifestarem esse quadro.

O WGA observa que a pandemia impactou de forma significativa os cuidados com o glaucoma, provocando atraso nas consultas, exames e procedimentos oftalmológicos essenciais, levando alguns pacientes a evoluírem para deficiência visual significativa e, em muitos casos, cegueira irreversível.

“A recrudescência das altas taxas de infecção por covid-19 em todo o mundo está afetando mais uma vez o manejo de doenças crônicas e, consequentemente, mais pacientes podem evoluir desnecessariamente para a cegueira. Além disso, o tratamento subóptico do glaucoma devido à pandemia cria um acúmulo de exames e procedimentos relacionados ao glaucoma que podem sobrecarregar os sistemas de saúde em um futuro próximo”, explicou a associação.

SUS

Dados do Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SIA/SUS) do Ministério da Saúde revelam que, de 2019 a 2021, foram realizados no Brasil 16.274.018 procedimentos com finalidade diagnóstica para identificação de glaucoma, sendo 5.932.119 em 2019; 4.357.866 em 2020; e 5.984.033 em 2021. Em 2020, o número de exames realizados foi 27% menor do que a quantidade total do ano anterior; já em 2021, houve expansão de 37% em relação a 2020.

Os estados que realizaram a maior quantidade de exames para diagnóstico de glaucoma entre 2019 e 2021 foram São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Em termos regionais, o Norte do país registrou o maior aumento percentual na quantidade de exames diagnósticos realizados em 2021, comparativamente a 2020, com crescimento de 71%, seguido pela Região Centro-Oeste com 51%.

O SIA/SUS mostra que somente um procedimento diagnóstico teve aumento percentual no primeiro ano da pandemia do novo coronavírus. Foi a tomografia de coerência óptica, com aumento de 47% em 2020, comparativamente ao ano anterior. Em 2021, a quantidade desse tipo de exame aumentou 70%, em relação a 2020.

O levantamento evidencia que os idosos foram os que mais voltaram a fazer os exames específicos e abrangentes para diagnóstico de glaucoma no ano passado. Pessoas a partir de 50 anos tiveram evolução de pelo menos 40% na quantidade de exames efetuados. As mulheres foram as pessoas que mais deixaram de fazer exames diagnósticos para glaucoma em 2020, comparado ao ano anterior. A redução foi de 29%, enquanto nos homens a queda foi de 25%.

Em 2021, tanto pessoas do sexo feminino quanto do sexo masculino voltaram a fazer mais exames do que ano anterior. O aumento foi 38% para homens e 40% para mulheres.

Em relação a cirurgias de glaucoma, o estudo do Ministério da Saúde mostra que, no período de 2019 a 2021, houve 82.417 cirurgias de glaucoma no Brasil, sendo que, em 2020, foi registrada diminuição de 22% na quantidade de cirurgias comparado ao ano anterior. A Região Sul apresentou o maior decréscimo (-32%), em 2020. Em 2021, o avanço foi de 35% em relação a 2020.

Entre 2019 e 2021, o Brasil gastou R$35.429.158,36 em procedimentos cirúrgicos de glaucoma. Pará foi o estado que mais gastou no período (R$ 11.202.854,50), quase duas vezes mais que São Paulo, segundo no ranking, revelou o SIA/SUS.

Guia para o paciente com Glaucoma

O “Guia do paciente sobre como cuidar do glaucoma durante a pandemia” traz recomendações para serem seguidas por portadores de glaucoma durante a crise da covid-19. O guia foi produzido pelo Comitê dos Pacientes da Associação Mundial de Glaucoma e pode ser acessado no link. As orientações são direcionadas para a população em geral, incluindo pessoas com diagnóstico ou não de glaucoma. Ele alerta que a doença não espera pelo fim da pandemia de covid-19. Por isso, o paciente deve manter sua rotina de visitas a oftalmologistas e não adiar a realização de exames. “É importante agir antes de uma perda perceptível da visão, pois este é um sintoma tardio e irreversível de quadros fora de controle”, advertem os especialistas da WGA.

Para o paciente com glaucoma que pegar a covid-19, o guia observa que a covid deve ser tratada conforme recomendado pelo médico porque, normalmente, isso não influencia diretamente o glaucoma. “Os corticosteróides sistêmicos podem causar aumento da pressão ocular em alguns pacientes, mas geralmente leva um certo tempo de uso (algumas semanas) para que a pressão do olho aumente”, indica a publicação.

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil

Desinformação é maior entrave para controle do câncer do colo do útero

A desinformação, envolvendo muitos mitos e fake news (notícias falsas), é a principal barreira para o controle do câncer do colo do útero no Brasil segundo estudo divulgado hoje (3) pela Fundação do Câncer, dentro da campanha da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) alusiva ao Dia Mundial do Câncer, que se comemora amanhã (4). A pesquisa inédita Conhecimento e Práticas da População sobre Prevenção do Câncer do Colo do Útero tomou por base estudos publicados entre 2003 e 2020 na literatura científica nacional e internacional.

O objetivo foi identificar as barreiras e as lacunas existentes sobre a vacinação contra o vírus HPV (sigla em inglês para Papilomavírus humano) e o rastreamento para o câncer do colo do útero, responsável pela morte de mais de 6 mil mulheres por ano no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) quer atingir, até 2030, metas que visem erradicar o câncer de colo do útero, causa de morte de mais de 331 mil mulheres por ano, em todo o mundo.

O médico epidemiologista Alfredo Scaff, consultor da Fundação do Câncer, disse que o câncer do colo do útero é evitável porque as pessoas já dispõem de uma vacina contra o vírus HPV, que causa a doença. O levantamento vem contribuir, segundo ele, para diminuir os buracos existentes entre os cuidados disponíveis para o controle desse câncer no mundo e no Brasil, devido à constatação de um distanciamento muito grande entre o acesso e a oportunidade do tratamento da doença entre pessoas, dependendo da região onde moram, se têm ou não plano de saúde ou acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS).

“Esse câncer é uma das maiores iniquidades que nós temos na oncologia hoje. É no mundo inteiro mas, no Brasil, isso é muito evidente. O câncer do colo do útero é o primeiro câncer que tem uma vacina”, disse Scaff, que acrescentou que 99% dos cânceres do colo do útero são causados pelo vírus chamado HPV, que tem uma vacina. “Tem que vacinar”.

Scaff estima que, em uma geração, pode-se controlar esse tipo de câncer. Ele reconheceu, entretanto, que existem problemas para se alcançar uma imunização completa da população-alvo, que são meninas entre 9 e 14 anos de idade e meninos de 11 a 14 anos.

Conhecimento sobre o câncer de útero

A médica Flávia Miranda Corrêa, doutora em saúde coletiva, pesquisadora da Fundação do Câncer e responsável pela pesquisa, esclareceu que a primeira parte do levantamento, divulgado hoje, se refere ao conhecimento e práticas da população sobre a prevenção do câncer do colo do útero, tendo como público-alvo 7.712 crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos; 3.335 pais e responsáveis entre 18 e 82 anos; e 54.617 mulheres na faixa etária de 14 a 83 anos.

A segunda parte, envolvendo o conhecimento e práticas dos profissionais de saúde sobre prevenção e rastreamento, deverá ser liberada no final do próximo mês. Serviram de base à pesquisa 68 estudos, sendo 16 sobre vacinação e 52 sobre rastreamento da doença.

Resultados

Os primeiros resultados em relação às barreiras sobre a vacinação contra o HPV entre crianças e adolescentes mostram que entre 26% e 37% dos consultados não sabiam que a vacina previne contra o câncer do colo do útero; entre 53% e 76% ignoravam que a vacina diminui a incidência de verrugas nos órgãos genitais. Flavia afirmou que isso demonstra que a maioria das crianças e dos jovens ignora para que serve a vacina.

Entre os entrevistados, 82% acharam que a vacina protege contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). “Esse é um problema muito importante, porque a gente sabe que não é verdade. A vacina é específica para o HPV e pode dar uma sensação de falsa proteção. Esse desconhecimento tem que ser desconstruído”, apontou a médica.

Além disso, entre 36% e 57% das crianças e adolescentes ouvidos acham que a vacina pode ser prejudicial à saúde. Flávia contra-argumentou que a vacina é segura, está no mercado desde 2006 e há um monitoramento constante. A médica considerou que essa ideia apurada é errônea e pode ser um impeditivo muito grande para a vacinação.

Entre 35% e 47% acreditam que a vacina pode incentivar a iniciação sexual precoce. “Não é verdade. Inclusive no contexto do Brasil, nós sabemos que não induz a uma atividade sexual mais precoce”. Entre 32% e 50% não sabiam o número correto de doses. A vacina contra HPV é tomada em duas doses, no intervalo de seis meses, informou a pesquisadora da Fundação do Câncer.

Pais e responsáveis

O desconhecimento continua entre os pais e responsáveis: 17% não sabiam que a vacina previne câncer do colo do útero; 33% não tinham ideia sobre a prevenção de verrugas anais e genitais; 74% imaginavam que a vacinação previne outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs); 20% achavam que o imunizante pode ser prejudicial à saúde; entre 34% e 61% não conheciam a população-alvo que deve ser imunizada contra o HPV; e 22% acreditavam que a vacina pode incentivar a iniciação sexual precoce dos filhos.

Flávia Corrêa disse que a vacina é cada vez mais eficaz quando usada em quem não tem atividade sexual ainda. Ela esclareceu que a vacina tem a função específica de evitar os danos do HPV, como verrugas, lesões precursoras e o próprio câncer de colo do útero. Advertiu que doenças como sífilis, contágio por HIV (Aids) e demais DSTs não são contempladas nessa imunização.

Rastreamento do câncer de útero

Os estudos para identificar se as mulheres conheciam os exames preventivos de rastreamento do câncer do colo do útero (Papanicolau) constataram conhecimentos e práticas inadequadas entre 40% e 71% do público consultado, respectivamente. Os motivos apontados pelas mulheres que nunca realizaram o exame preventivo foram: “não achavam necessário” (45%), “não foram orientadas” (15%), “tinham vergonha” (13%) e “nunca tiveram atividade sexual” (8,8%).

A conclusão da pesquisa da Fundação do Câncer é que o conhecimento deficiente e práticas equivocadas sobre a vacinação contra HPV e o rastreamento do câncer do colo do útero estão associados à baixa renda, menor escolaridade, cor da pele parda ou negra, residência em áreas urbanas pobres e rurais, o que reforça a importância da luta contra a iniquidade.

É preciso ainda esclarecer a população quanto a problemas relacionados a falsas informações e fake news divulgadas pela internet sobretudo, que facilitam práticas equivocadas. A Fundação do Câncer pretende atuar para passar informações corretas e de qualidade para toda a população.

Vacinação gratuita

Alfredo Scaff destacou que o Brasil é um dos poucos países do mundo em que a vacinação contra o HPV é universal, pública e gratuita pelo SUS, integrando o Programa Nacional de Imunização (PNI). O problema, reiterou, é a falta de informação para a vacinação. A imunização contra o HPV é menor entre meninos do que entre as meninas. Em 2020, 55% das meninas brasileiras de 9 a 14 anos tomaram as duas doses da vacina. Entre os meninos de 11 a 14 anos, a taxa dos que completaram o ciclo vacinal foi 36,4%.

Além de a vacina para meninos ter sido iniciada dois anos depois que a das meninas, a médica Flávia Corrêa explicou que há desconhecimento de que a vacina é importante para os garotos não só para que eles não transmitam o HPV para as meninas mas, também, para protegê-los de doenças relacionadas ao vírus HPV, como câncer de pênis, câncer anal e de orofaringe (parte da garganta localizada atrás da boca).

No dia 4 de março, no Dia Internacional de Conscientização sobre o HPV, a Fundação do Câncer mobilizará a população sobre o tema, com postagens em suas redes sociais. Em 26 de março, Dia Mundial da Prevenção do Câncer de Colo do Útero, a entidade abrirá inscrições para um curso voltado aos profissionais de saúde, com foco na atenção primária, cujo início está previsto para abril.

FONTE: Agência Brasil