HC incorpora 5G para melhorias em medicina a distância

Projeto Open Car, coordenado pelo Inova HC, núcleo de inovações do Hospital das Clínicas, utiliza redes abertas 5G para para melhorias em medicina a distância levando saúde aos locais mais remotos do País. O professor Moacir Martucci Júnior, da Escola Politécnica da USP, é um dos encabeçadores do projeto, que ainda está em fase de testes.

Um setor com impacto social como a saúde demanda melhorias no que diz respeito ao acesso mais facilitado a todos. A proposta de incorporar a tecnologia 5G, que possibilita maior velocidade e volume de dados veiculados ao atendimento da população, por meio da medicina a distância, surge com a prerrogativa de acelerar a implantação da tecnologia da quinta geração de dados móveis a custos mais baixos do que o modelo tradicional na indústria. A partir dela, seriam realizadas consultas, ultrassons e até mesmo cirurgias.

Na prática, o professor ressalta que os trabalhos em medicina seriam desenvolvidos com o diagnóstico por imagem em ultrassom. Daí a questão envolvendo o 5G, que proporciona maior banda, um dos pontos que o professor destaca serem necessários para facilitar o tráfego de informações em tempo real, indispensável na realização dos procedimentos médicos.

Uma outra questão mencionada por Martucci é a latência ou tempo de resposta da comunicação entre a máquina e o médico no processo de coleta de informações do paciente, que é melhorada com a tecnologia: “Na mesma hora que está acontecendo [o ultrassom], não pode ter um atraso. Imagina o médico pilotando ultrassom remotamente e atrasa. Esse atraso pode criar confusão”, adiciona ele.

Próximos passos da Medicina a distância

A quinta geração de dados móveis permite latências na ordem de um milissegundo. Isso possibilita uma gama de procedimentos e operações a distância, mas que, para o professor, ainda demanda testes menos invasivos: “Cirurgias, por exemplo. O primeiro passo é fazer a prova em algo que não seja muito invasivo, ou não muito perigoso”, explica Moacir Martucci.

Mesmo com os instrumentos tecnológicos necessários, e com todos os componentes para a “hélice da inovação”, que envolvem a inovação de campo, pesquisa e desenvolvimento e o usuário, o professor estima que levará cerca de dois anos para a implementação da tecnologia.

FONTE: Jornal da USP

Doação de órgãos: recusa da família ainda é obstáculo

O Hospital das Clínicas, que está promovendo campanha de conscientização sobre a importância da doação de órgãos, quer mudar uma realidade que apresenta dados como os de que 67% das pessoas desejam doar, mas apenas 52% expressam a suas famílias.

No dia 27 deste mês é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Muito importante e responsável por salvar a vida de milhares de pessoas, a doação de órgãos ainda sofre com a desinformação, medo e negação de familiares ao desejo do parente morto.

Segundo pesquisa realizada no ano passado pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), 67% dos entrevistados querem doar seus órgãos, mas 52% não avisaram os parentes. Dentre os consultados, 26% tinham motivos indefinidos para não doar seus órgãos, 12% ficam com medo do corpo ficar deformado e 11% têm medo de assuntos relacionados à morte.

Não há no Brasil legislação que garanta que a doação de órgão aconteça apenas pela manifestação de desejo do paciente falecido, de forma que, mesmo que expressa, a decisão final ainda é da família. Assim, a conversa entre as partes é fundamental. “Hoje não adianta deixar nada por escrito, não adianta deixar documento, não adianta ter no RG.(…) Isso tem que ser conversado antes, eu acho que essa é uma das principais limitações: a família, muitas vezes, não sabe o desejo dessa pessoa em doar”, lembra a hepatologista coordenadora clínica de Transplante Hepático do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Débora Terrabuio.

“Quem lidera a lista de espera é justamente o rim. Hoje, na área em que eu trabalho, nós temos mais de 1.200 pacientes esperando um fígado”, diz a doutora. Também explica que não há mutilação do corpo e que a cirurgia para a retirada dos tecidos e órgãos é como qualquer outra, ou seja, não há prejuízos: “O corpo não é mutilado no processo de doação de órgãos, ele é feito por uma cirurgia que segue todas as regras de uma cirurgia convencional. Não há nenhum prejuízo nem para a pessoa que doa, nem para a família que autorizou a doação”.

Como é o processo de doação de órgãos?

“Qualquer pessoa de qualquer idade pode doar e a contraindicação da doação conforme uma comorbidade que a pessoa apresente fica a critério da equipe médica que vai escolher o órgão”, explica Débora. Para se doar órgãos ainda em vida aos parentes é necessário ser maior de idade e, quando morta, apenas após a morte encefálica ser decretada. Caso a doação seja feita para alguém de fora da família, será por meio de decisão judicial e deve haver, sem exceções, compatibilidade sanguínea e chance de sucesso.

O País é, atualmente, o segundo que mais realiza transplantes e fica atrás apenas dos Estados Unidos. Porém, segundo dados de junho da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, 51.674 pessoas aguardam na fila de espera. A fila única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada Estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes, define quem ganha o órgão.

Diferentemente do que se espera do nome, a fila única não funciona por ordem, mas sim pela compatibilidade do doador com aquele que receberá o órgão. Uma série de exames e a própria disponibilidade do paciente são levados em conta, o que faz com que alguém que esteja esperando há muito tempo não realize o transplante.

Todo o processo tem que ser rápido. “A maioria dos órgãos tolera o tempo máximo fora do organismo, entre sair dos doadores e ser colocado no receptor, de 6 a 8 horas. É uma corrida contra o tempo entre captar o órgão e implantar esse órgão na pessoa que está aguardando na lista”, complementa.

 Como desmistificar a morte?

A recusa da família e a mistificação da morte são aspectos que empacam a doação dos órgãos. O procedimento é cercado por dúvidas e muitos não sabem ao certo como ocorre e, ao se tratar de um ente falecido, isso se torna ainda mais difícil: “Para o transplante acontecer, o primeiro passo é a doação da família”, ressalta a hepatologista.

“A gente vê a vida continuar. É muito, muito alegre esse momento, a gente fica muito feliz de ver quando as coisas dão certo e como os pacientes melhoram de vida, como eles passam a ter uma vida normal e como eles são gratos às famílias que doaram”, finaliza a doutora. Após o transplante, uma vida é salva e órgãos que estão em boas condições não são desperdiçados.

A campanha de conscientização do público acerca da doação de órgãos conta com apoio dos transplantados e o Hospital das Clínicas convida a uma discussão para desmistificar a morte e a doação de órgãos.

FONTE: Jornal da USP