Idade gestacional: pesquisa mostra como cada dia na barriga impacta no desenvolvimento do bebê

O Brasil possui um dos maiores números de partos antecipados por conta de cesarianas previamente marcadas e induções, resultando no encurtamento da gestação. Essa prática traz consequências negativas tanto para o bebê quanto para a mãe, seja no curto, médio ou longo prazos. Com esse cenário em mente, um grupo de pesquisa coordenado por Simone Diniz, professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, criou uma nova medida para examinar os desfechos da saúde materno-infantil.

A partir do estudo Dias potenciais de gravidez perdidos (DPGP): uma medida inovadora da idade gestacional (IG) para avaliar intervenções e resultados de saúde materno-infantil, os pesquisadores fundamentam o entendimento de que cada dia de gestação, inferior a 40 semanas (ou 280 dias) completas, impacta negativamente na saúde dos bebês.

A nova variável, simples e com grande potencial explicativo, foi desenvolvida contando-se os dias faltantes entre o dia do nascimento até a duração média da gravidez, que é 280 dias (DPGP = IG – 280 dias). O indicador pode ser utilizado como variável preditora ou como variável dependente para construir coortes nacionais e internacionais e estudos de intervenção, afirmam os pesquisadores.

 

 

“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo brasileiro que analisa a idade gestacional em dias no período de termo para avaliar seus impactos na saúde de bebês e mães, mesmo considerando que este dado está disponível pelo menos para parte da base do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) desde 2011”, afirma a professora Simone.

A partir dos resultados, que são apresentados detalhadamente a seguir, os pesquisadores propuseram ao Ministério da Saúde uma pequena alteração nos campos 31/32 da Declaração de Nascido Vivo e no Sinasc para incluir a Idade Gestacional (IG) em dias, com base na data da última menstruação (DUM); na ultrassonografia (US) com IG acrescentando a respectiva data de 1º exame; e exame físico (feito ao nascer).

“Com essas três medidas, é possível construir curvas para comparar e complementar a precisão dos DPGP, mesmo em mulheres sem DUM ou US, e calcular a sub e a superestimação de IG e seus efeitos”, complementa a professora.

Encurtar a gestação e substituir o trabalho de parto traz complicações à saúde do bebê

Segundo Simone, hoje há uma maior preocupação de que os bebês cheguem ao máximo de sua maturidade fisiológica, ou seja, à sua prontidão para o nascimento. Com isto, cada vez mais há mudanças na classificação daquele longo período de 35 dias (chamado de termo), para aumentar a precisão da análise sobre esse amadurecimento fetal.

A literatura considera que a chamada gravidez  “a termo” (entre 37 e 42 semanas) pode ser subdividida em três fases: o termo precoce (entre 37 e 38 semanas e seis dias), o termo pleno (39 a 40 semanas e seis dias) e o termo tardio (41 a 42 semanas). Outra maneira de ver esses ciclos é simplesmente classificando-os por semanas.

A professora Simone Diniz chama a atenção ao fato de que o período “a termo” tem sido tratado como categoria homogênea, acreditando-se que o nascimento nesse intervalo poderia ser provocado de maneira segura e sem riscos adicionais. Mas não é bem assim. Isso porque os bebês nascidos com idade gestacional entre 37 e 39 semanas incompletas “têm características muito parecidas aos que nasceram pré-termo, ou seja, com menos de 37 semanas”, explica a professora Simone Diniz.

“O encurtamento do tempo de gestação traz maiores complicações e, inclusive, mais chances de morte. No curto prazo, podemos ter eventos como o maior número de neonatos internados em UTIs, icterícia, alterações da glicemia e dificuldades na amamentação. No longo prazo, temos maior impacto no desenvolvimento cognitivo, quadros de déficit de atenção e maiores fatores de risco para diversas doenças crônicas que poderão surgir ao longo da vida”, conta a professora.

 

 

Uma das explicações para tais consequências é que não só o encurtamento do período gestacional, mas também a substituição do trabalho de parto natural por intervenções como a cesariana, “queimam” etapas cruciais ao desenvolvimento.

“O processo de trabalho de parto mostra a maturidade gestacional e a prontidão para essa transição dramática da vida fetal para a neonatal. O trabalho de parto sinaliza ao corpo uma mudança epigenética (mudanças no fenótipo, que se perpetuam nas divisões celulares, sem alterar a sequência de DNA) necessária para ativar ou desativar os genes de uma etapa para a outra”, explica Simone.

Pesquisas também mostram que os bebês nascidos de parto vaginal têm a oportunidade de entrar em contato com o microbioma vaginal da mãe, o que faz com que a semeadura do microbioma do bebê seja mais apropriada. Já os que nascem de cesariana tomam contato em primeiro lugar com bactérias hospitalares, afirma.

“Há estudos robustos mostrando que os nascidos por cesárea possuem um perfil metabólico inflamatório e são mais vulneráveis a doenças crônicas em geral. Entre as doenças inflamatórias mais comuns estão asma, eczema, diabetes mellitus, além de maiores chances de desenvolver certos cânceres.”

O projeto contou com mais de 30 pesquisadores e consultores de mais de dez instituições diferentes. Em parceria com o Sinasc da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Prefeitura Municipal de São Paulo (MSP) foram analisados dados de 1.525.759 nascidos vivos do município (2012-2019), sendo 504.302 com IG em dias, e em nível nacional, 8.854.727 nascidos vivos, 3.329.339 com IG em dias. Ambos os conjuntos de dados foram vinculados ao Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e, em nível municipal, também ao Sistema de Internação Hospitalar (SIH). Os registros sem informação da IG em dias foram analisados nas semanas de gestação e, alternativamente, foram desenvolvidos modelos de imputação de dados faltantes para a base municipal.

Os pesquisadores utilizaram recursos de machine learning para construir modelos preditivos e desenvolveram um aplicativo para corrigir os dados nos locais em que estes estão incompletos. Também promoveram treinamentos em serviços para melhorar a qualidade dos dados. O projeto foi aprovado na chamada Data Science Approaches to Improve Maternal and Child Health in Brazil, sendo financiado conjuntamente pelo CNPq e a Fundação Bill e Melinda Gates.

Principais resultados

  • No período de gestação, em nível nacional e municipal, todos os modelos apresentaram diferenças significativas na mortalidade neonatal de Hazard Ratio por DPGP, confirmando que “cada dia conta”;
  • A cesárea das mulheres ricas e a das pobres são diferentes em atributos de IG, obstétricos e clínicos, com as mais pobres com piores resultados, refletindo diferenças no acesso à tecnologia para compensar os efeitos dos DPGP (ex. admissão na UTI neonatal);
  • Mulheres com maior escolaridade, residentes em áreas de maior IDH, tendem a ter mais partos prematuros, e perdem mais dias no período a termo. Em todas as análises, foi encontrada uma “inversão da disparidade esperada” na IG, pois nas décadas anteriores era esperado o contrário;
  • Para mulheres com gestações a termo, o risco de longa internação e readmissão hospitalar é maior em mulheres com gestações mais curtas;
  • A análise dos grupos de Robson é útil não só para indicar o excesso de cesáreas e calcular a perda de dias por grupo, mas também para estudar o uso excessivo da indução ao parto. A qualidade da informação sobre a indução (por exemplo, distinguir “indução” de ”condução”) é variável em geral baixa;
  • O letramento em dados dos profissionais e gestores de saúde é variável e tende a ser baixo, por isso, o grupo produziu um sitepodcast Conversando sobre e um canal no YouTube com os vídeos sobre a pesquisa. Além disso, organizou o curso Lendo, Entendendo e Apresentando Dados em Saúde Pública (Data literacy) – LEADSP, ministrado em fevereiro de 2021 durante o programa de Cursos de Verão da FSP-USP. Também foi desenvolvido um aplicativo sobre mortalidade e tendências de IG;
  • Sugestão de uma pequena e promissora alteração nos campos 31/32 da Declaração de Nascido Vivo e no Sinasc, para incluir IG em dias, com base no último período menstrual (DUM), ultrassonografia (US) com IG acrescentando a respectiva data de 1º exame; e exame físico (feito ao nascer). Com três medidas, seria possível construir curvas para comparar e complementar a precisão dos DPGP, mesmo em mulheres sem DUM ou US, e calcular a sub e superestimação de IG e seus efeitos;
  • A pandemia de covid-19 acrescentou interrupções variáveis ao cuidado perinatal, como suspensão de consultas pré-natais, redução e deslocamento de leitos obstétricos de referência e riscos de infecção pelo coronavírus em mulheres e famílias na admissão hospitalar geral. Essas tendências de 2020 estão sendo mapeadas;
  • Criação de bancos de dados a partir de bases municipais e nacionais, com idade gestacional em dias e semanas, com e sem imputação, além da produção de uma ontologia das bases e vínculos Sinasc-SIM, que será disponibilizada para fins de pesquisa e ensino;
  • Publicação de artigo na Revista de Saúde Pública.

Sylvia Miguel/Assessoria de Comunicação da FSP

Mais informações: e-mail  sidiniz@usp.br, com Simone Diniz

FONTE: Jornal da USP

Você sabe o que é a síndrome de cri-du-chat?

Síndrome de cri-du-chat deve ser investigada nas primeiras horas de vida. De acordo com a médica geneticista Chong Ae Kim, o tratamento da doença é individualizado e atua no controle dos sintomas, que diferem de criança para criança.

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A síndrome de cri-du-chat é uma doença rara, que tem alteração no cromossomo 5, a falta de um pedacinho do braço do cromossomo, por isso resulta em uma anomalia genética.

Conhecida como “miado de gato”, por causa da má formação da laringe, ela altera o som do choro do bebê.  A médica geneticista Chong Ae Kim, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e chefe da Unidade de Genética do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, explica que a criança tem sintomas variados como o formato facial  peculiar, incluindo olhos bem separados, orelhas baixas, mandíbula pequena e face arredondada.

Essa desordem genética é caracterizada por deficiências intelectuais e retardo no desenvolvimento físico, cabeça pequena (microcefalia), baixo peso ao nascer e tonicidade muscular fraca (hipotonia) na infância. Além disso, são crianças hiperativas e muitas vezes agressivas.

Tratamento individualizado

O tratamento da síndrome é individualizado, não existindo um modelo específico. A professora explica que o médico atua no controle dos sintomas, que diferem conforme a criança. “Alguns precisam de fisioterapia, outros de cardiologista, clínico geral; enfim, conforme a necessidade do momento”, conclui.

É importante que o tratamento tenha início o mais breve possível, já que a estimulação precoce possibilita um melhor desenvolvimento, adaptação e aceitação da síndrome pela pessoa na adolescência e vida adulta. Cerca de 10% dos portadores da síndrome de cri-du-chat herdam a anormalidade cromossômica de um dos pais não afetados pela doença. Chong diz que a mutação ocorre em casais normais.

A especialista do Instituto da Criança alerta que, por hora, a doença ainda não tem cura, mas essa possibilidade não está descartada em função dos avanços da genética.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

24 de junho, Dia Mundial de Prevenção de Quedas

Hoje (24/06) é o Dia Mundial de Prevenção de Quedas e o assunto será discutido no Hospital Universitário (HU) da USP. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Maria Elisa Pimentel Piemonte, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina (FMUSP), informa que fraturas decorrentes de quedas são responsáveis por 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos.

Maria Elisa alerta que um indivíduo com fratura pode ficar acamado e, em função da imobilidade, passar a sofrer complicações renais e respiratórias que podem levar a óbito. Ela também informa sobre as consequências psicológicas acarretadas pela primeira queda: “Se é uma queda com injúria ou mesmo uma queda, por exemplo, num ambiente público, em que a pessoa se sinta muito constrangida, ela desencadeia o que se chama Síndrome do Medo de Cair. A pessoa começa a se autorrestringir por causa do medo de cair”.

Possíveis riscos

Segundo a professora, os riscos de queda são divididos conforme a funcionalidade do idoso. Os idosos saudáveis, normalmente, caem por problema ambientais, como irregularidades no piso e tapetes escorregadios. Mas também há outras condições, como fraqueza muscular, tontura, vertigem e uso de vários fármacos. “Sedativos, ansiolíticos e remédios para dormir, tudo isso aumenta o risco de queda. E a gente não pode esquecer também que, ao lado do declínio físico, há o declínio cognitivo”, reitera Maria Elisa. Ela completa: ”Por exemplo, a atenção está relacionada com o aumento de risco de queda, e um estudo mostra que testes cognitivos podem prever o risco até cinco anos antes da primeira queda”.

A especialista ainda fala sobre a influência do sexo nessa questão. De acordo com ela, mulheres caem mais que homens, devido às alterações hormonais da menopausa. Assim, pessoas do sexo feminino possuem um declínio mais abrupto no sistema motor.

Prevenção 

Ao contrário do senso comum, idosos com escadas em casa caem menos que aqueles que não as têm, pois as escadas auxiliam no exercício diário e no fortalecimento dos músculos nos idosos que as utilizam regularmente. Como a fraqueza muscular em função da idade afeta o equilíbrio e ocasiona quedas, exercícios físicos são uma forma de preveni-las.

A indicação da professora são exercícios variados, os quais combinam força, elasticidade, coordenação e equilíbrio. Ela reforça que as atividades precisam ser de longa duração: “Não é uma coisa para curto prazo. Não adianta esperar que você vai começar a fazer esse exercício e daqui um mês vai notar efeito. Tem que descobrir alguma coisa que você faça com prazer para que isso perdure bastante”.

No Dia Mundial de Prevenção de Quedas, às 9h, o anfiteatro do HU avaliará o risco de queda em pacientes de toda a comunidade. Serão dois testes motores rápidos para que qualquer pessoa possa identificar seu risco. Para saber mais, acesse www.hu.usp.br.

FONTE: Jornal da USP

Ambientes secos, arejados e limpos são os grandes inimigos dos ácaros

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Os ácaros são animais que medem menos de um milímetro, mas são muito importantes no nosso dia a dia. Apesar de microscópicos, esses organismos estão presentes em quase toda parte. E Alguns deles são responsáveis por problemas na agricultura e pela transmissão de doenças aos humanos.

O termo ácaro é utilizado para classificar milhares de espécies pertencentes à classe dos aracnídeos. O professor Gilberto Moraes, do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, explicou ao Jornal da USP que, por isso, os ácaros são mais próximos das aranhas do que dos insetos.

Eles possuem quatro pares de patas e um par de quelíceras, órgão que serve como pinça para a obtenção de alimento. Esses animais também não têm cabeça. “Eles têm uma região anterior, onde está a boca. O cérebro dele fica dentro do corpo”, diz Moraes. “Inclusive, o intestino deles passa pelo meio do cérebro, nós costumamos dizer que eles não podem comer muito senão terão dor de cabeça”, brinca o professor.

Em relação aos hábitos alimentares, Moraes conta que grande parte dos ácaros são predadores e se alimentam de líquidos. Outras espécies não são predadoras e se alimentam de plantas. “Eles perfuram as células das plantas e retiram o conteúdo líquido delas”, conta. A maior parte dos inimigos dos ácaros é constituída de pequenos insetos ou mesmo de outros ácaros.

Grande parte das espécies possui machos e fêmeas, “mas existem muitas que não têm macho, são só fêmeas que se reproduzem por partenogênese”, comenta o professor, ao explicar o processo em que não é necessária fecundação do óvulo. Outras espécies conseguem se reproduzir com ou sem a presença de machos. “Quando ele está ausente, todos os filhos são machos. Quando está presente, os filhos são machos e fêmeas, o que permite que a população se mantenha no ambiente.”

Esses animais podem ser encontrados em diversos ambientes, como o solo e a superfície de plantas ou pelos. “E nós temos muitos ácaros em nós mesmos”, conta Moraes. “Eles vivem principalmente na face das pessoas”, explica. Além de não ser possível vê-los, normalmente esses animais não causam problemas, por isso não são percebidos. Mas existem casos em que eles são prejudiciais.

Ácaros na agricultura

Moraes conta que esses organismos costumam ser identificados pelos agricultores a partir de sua cor. “Muitos ácaros que atacam plantas são de um tom vermelho muito vivo. E eles chegam a populações bem altas, então o agricultor consegue ver aquela massa de pequenos organismos coloridos.” Essas infestações podem causar a descoloração e a morte de folhas, além da transmissão de doenças para as plantas. Morango, tomate, feijão, limão, laranja, sementes, grãos e farinhas são apenas alguns exemplos de vítimas dos ácaros agrícolas.

As infestações normalmente são controladas com produtos químicos e acaricidas. Entretanto, Moraes conta que o uso em excesso pode tornar os animais resistentes. “Um produto que hoje funciona muito bem pode deixar de funcionar.” Essa situação levou à adoção do controle biológico, em que predadores naturais são espalhados pela região para controlar os ácaros resistentes aos acaricidas.

Segundo o professor, normalmente os ácaros agrícolas são controlados com outras espécies de ácaros predadores. “Aqui no Brasil nós temos laboratórios comerciais que produzem esses predadores e vendem para os agricultores, que podem deixar de usar produtos químicos.”

Ácaros, saúde e proteção

Outros ácaros têm importância médica. Eles podem provocar sarnas, causar reações alérgicas e transmitir vírus ou bactérias causadores de outras doenças. É o caso, por exemplo, de um dos ácaros mais famosos e importantes: o carrapato, transmissor do micro-organismo causador da febre maculosa.

“A proporção de pessoas que se salvam quando adquirem essa doença é baixa”, alerta o professor. Ele explica que o carrapato é mais comum em regiões com grandes animais como cavalos, capivaras e porcos. “Tem que tomar muito cuidado e vistoriar o corpo periodicamente. Se a pessoa estiver com carrapato e sentindo sintomas de gripe, precisa ir ao médico e avisar a suspeita”, orienta o professor.

Os ácaros mais comuns nos ambientes domésticos são mais associados a alergias e problemas respiratórios. Esses animais procriam em locais com muita umidade, poeira e restos de alimentos. Para evitá-los, Moraes recomenta que as pessoas mantenham os ambientes secos e arejados. “Basta abrir as portas, janelas e cortinas para entrar o sol, isso ajuda muito no controle dos ácaros.”

A limpeza também é muito importante. Travesseiros, colchões e cobertores e ambientes empoeirados são um prato cheio para os ácaros que se alimentam dos restos de pele e de alimentos. Por isso, é importante higienizá-los com frequência.

Por Rodrigo Tammaro

FONTE: Jornal da USP

Cigarros eletrônicos aumentam em 42% as chances do usuário ter um infarto

Stella Martins informa que os cigarros eletrônicos chegam a possuir quase 60 mg de nicotina por ml do líquido, enquanto os tradicionais se limitam a 1 mg da substância por cigarro

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De acordo com Stella Martins, especialista em dependência química da área de Pneumologia no Hospital das Clínicas (HC) da USP, em conversa ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, usuários de cigarro eletrônico têm 42% de chance a mais de terem um infarto do que aqueles que não fazem uso do produto. Os cigarros eletrônicos possuem o que é denominado de supernicotina, que é o sal de nicotina, muito mais potente que a substância presente nos cigarros tradicionais.

O grande diferencial do eletrônico para o tradicional é que no primeiro, no lugar do tabaco macerado, é aquecida a nicotina líquida. Stella explica que o cigarro tradicional no Brasil tem um limite de 1 mg de nicotina por cada cigarro, enquanto os eletrônicos, que são pequenos e se assemelham a um pen drive, chegam a até 57 mg da substância por ml do líquido.

“É uma quantidade absurda de nicotina que está sendo entregue aos jovens, que, muitas vezes, nem fumavam”, expõe a especialista. “As políticas de controle do tabagismo no Brasil são reconhecidas internacionalmente, porque a nossa população sabe que fumar cigarro [tradicional] faz mal. Mas, infelizmente, ela está pouco orientada de que o cigarro eletrônico traz muito dano à saúde pulmonar também”, complementa.

Um dos motivos pelos quais os usuários desconhecem os malefícios causados por esse tipo de cigarro é que ele aparenta ser mais “suave”, devido aos aditivos que são colocados, como aromas e sabores agradáveis. “Quem está do lado não sente o desconforto da fumaça do cigarro”, diz Stella. Além disso, a nicotina é mais rapidamente absorvida pelo pulmão e pelo cérebro, liberando a dopamina e aumentando a sensação de prazer e bem-estar.

Dependência química, comportamental e psicológica

Segundo a especialista, o tratamento da dependência também é complicado: “No passado, quando alguém falava que parou de fumar, a gente entendia que a pessoa estava com a dependência tratada, não estava mais com a nicotina de forma alguma”. “Hoje em dia, a sensação ‘parou de fumar’ passou a ser entendida como ‘não uso mais o cigarro tradicional, mas estou usando cigarro eletrônico’”, completa.

Ela alerta que o controle da dependência não envolve apenas o controle da substância química, mas também é preciso tratar a dependência comportamental e a psicológica, como o ato de fumar em momentos de ansiedade, em festas ou mesmo após tomar um café, fatores gatilho para o usuário.

As consequências do uso do cigarro eletrônico são enormes. Stella informa que ele obstrui as vias aéreas e os aditivos presentes lesionam o coração, levando à obstrução, também, da parede das artérias que conduzem o sangue e, assim, é facilitada a formação de trombos.

A pneumologista reforça a conscientização acerca do cigarro e recomenda buscar ajuda com um profissional especializado em casos de dependência: “A gente tem uma ampla rede de tratamento com medicamentos na rede SUS. A orientação que fica é que [o usuário] não tente parar sozinho”.

FONTE: Jornal da USP

Pesquisas apontam relação entre poluição sonora e casos de obesidade, insônia e hipertensão

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Um Projeto de Lei (PL) que tramita na Câmara dos Vereadores de São Paulo propõe aumentar o limite de ruído em algumas regiões. O texto prevê que nas Zonas de Ocupação Especial (ZOE), no entorno de estádios, arenas e casas de show esse limite seja de 85 decibels (dB), 30 a mais que o atual, de 55 dB. Audiências públicas foram realizadas para discutir o projeto que levanta o debate sobre a poluição sonora e a saúde pública: segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 10% da população mundial está exposta a níveis de ruído prejudiciais à saúde.

Poluição sonora e saúde

A pressão do som em altas intensidades prejudica o sistema auditivo e também o bem-estar da população. Ricardo Bento, professor de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP explica que a pressão do som em altas intensidades causa diversos danos ao sistema auditivo. “Esses lesionam e estragam as células que a gente tem dentro da cóclea, o órgão interno da audição”, diz.

Outro aspecto é o estresse e o bem-estar. “Às vezes o barulho não precisa ser alto. Basta ser um ruído ruim, por exemplo, uma britadeira na frente da sua casa, que vai irritando.” Além disso, algumas pesquisas apontam também relações entre a poluição sonora e casos de obesidade, insônia e pressão alta.

Na intensidade prevista pelo PL, de 85 dB, o ouvido humano suporta no máximo oito horas de duração. A partir disso, há perda auditiva. A medida, entretanto, propõe que o novo limite seja permitido por um total de 11 horas, do meio-dia às 23h. Por isso, Bento ressalta que, além da intensidade, o tempo de exposição é muito importante. “O ideal seria em torno dos 55 decibels, a esse nível você pode ficar exposto quanto tempo quiser. O nível máximo é diretamente ligado ao tempo”, afirma.

Diante desses fatores, a professora Ranny Michalski, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac), questiona a medida. “Esse Projeto de Lei nos pegou de surpresa. Esse nível por tanto tempo faz mal, é um nível absurdamente elevado.”

Ranny lembra que existem normas nacionais, como a ABNT NBR 10151, e uma legislação municipal: “De acordo com a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, temos limites máximos de 65 decibels para o período diurno e 55 decibels para o período noturno. E, de repente, surge um projeto querendo mudar isso”.

Os caminhos para uma cidade com menos ruído

Para reduzir a poluição sonora, a professora comenta que é possível atuar em três frentes: na fonte sonora, que é o que está gerando esse ruído; no caminho que esse ruído faz quando sai da fonte; e no ouvinte ou receptor desse som. “É sempre bom começar na fonte. E a última prioridade sempre é tratar no receptor, a gente quer que o ruído não chegue na pessoa. Tem que pensar de fora para dentro.”

Entre as possibilidades de intervenção, Ranny cita o controle do ruído do tráfego por meio da redução e do redirecionamento do trânsito, o uso de asfaltos que atenuem o ruído, ou a utilização de barreiras acústicas. Ela também lembra que, em breve, a cidade de São Paulo terá seu mapa de ruído, um diagnóstico de como está a questão do som na cidade.

“Tivemos um grande avanço com relação à poluição sonora em São Paulo. Em 2016, foi publicada a Lei 16.499, que estabelece a elaboração do mapa de ruído da cidade. Após a elaboração desse mapa, precisamos ter também planos de ação para o gerenciamento e o controle. Primeiro precisamos conhecer o ruído para depois tentar organizar melhor o que podemos fazer para melhorar a qualidade sonora na cidade.”

Por Rodrigo Tammaro

FONTE: Jornal da USP

Doença autoimune neurológica rara afeta principalmente mulheres

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Miastenia gravis é uma doença autoimune neurológica rara, cuja principal característica é a fadiga e fraqueza muscular. Segundo o Ministério da Saúde, sua incidência varia de cinco a 30 casos por milhão de habitantes por ano, com predomínio entre as mulheres. A doença se manifesta de duas formas, explica Caio Grava Simioni, médico neurologista do Ambulatório de Cefaleia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. A forma ocular dificulta a visão. “O paciente tem uma visão dupla, borrada. Pode ter queda da pálpebra e dificuldade de expressão facial.”O neurologista lembra que a forma ocular pode evoluir para um quadro mais severo. Essa é uma situação incomum, mas afeta de maneira mais intensa seu portador. “O paciente tem fraqueza muscular nos braços, nas pernas e, numa situação mais grave, até na musculatura respiratória, apresentando dificuldade para respirar, precisando de um suporte de UTI.” Outra forma de manifestação da doença é a bulbar, em que a pessoa tem dificuldade para articular as palavras e engolir, ficando com a voz mais rouca e com dificuldade de deglutição. Isso prejudica a qualidade de vida e o convívio social.

Sintomas flutuantes 

Os sintomas da miastenia são flutuantes, ou seja, o paciente pode ter períodos em que está bem e outros em que está mais afetado pela doença. É comum, ao final do dia, o portador da miastenia perceber que os sintomas estão piores e isso ocorre porque os músculos foram exercitados durante longo período. Segundo Simioni, a miastenia gravis é uma doença autoimune que poderia, de uma maneira simplificada, ser comparada a um reumatismo do sistema nervoso, uma falha da comunicação do nervo com o músculo. Qualquer pessoa pode sofrer com o problema. A idade de início da miastenia é bimodal, ou seja, as mulheres, mais afetadas pela doença, podem ter o início da deficiência entre a segunda e terceira década de vida e os homens entre a sétima e oitava.

A identificação da doença deve ser feita por um neurologista, que irá solicitar exames de sangue que farão a detecção dos anticorpos, quadro clínico e estudo eletromiográfico. Eles irão confirmar a miastenia gravis e sua intensidade, uma vez que há diferentes níveis de deficiência para seu portador. “Temos pessoas que vão ter uma doença leve, sutil. Em geral, a piora ocorre nos primeiros anos de vida, até o sétimo ano. Depois tem uma fase mais estável e, em alguns casos, pode até remitir, o paciente pode até tirar a medicação, mas é necessário um controle. O tratamento é voltado para os sintomas da doença e para diminuir a autoimunidade”, diz o neurologista.

Por Simone Lemos

FONTE: Jornal da USP

Cientistas identificam genes associados à proliferação de tumores do câncer de pâncreas

Análises indicam genes ligados a características essenciais das células de tumores, como alta proliferação e capacidade de migração e invasão

No Instituto de Química (IQ) da USP, uma pesquisa identificou genes associados à proliferação de tumores do câncer de pâncreas, que apresenta grande resistência ao tratamento. Por meio de técnicas computacionais, os cientistas também conseguiram atribuir possíveis funções aos genes, como crescimento e migração das células de tumores, para serem confirmadas em experimentos de laboratório. Os resultados do trabalho ajudarão a definir novos alvos para a terapia do câncer, além de marcadores de doença residual ou reincidente em pacientes tratados. As conclusões do estudo são apresentadas em artigo publicado na revista científica Cellular Oncology no último dia 14 de maio.

“O câncer de pâncreas é a sétima causa de morte por câncer no Brasil e no mundo, e um dos mais letais: a sobrevida dos pacientes cinco anos após o diagnóstico é menor do que 5%. Atualmente o único tratamento curativo é a remoção cirúrgica em estágios iniciais da doença”, relata ao Jornal da USP o professor Eduardo Moraes Rego Reis, que coordenou o estudo. “Porém, o diagnóstico precoce é difícil devido à ausência de sintomas e, quando é detectado, frequentemente já se espalhou para outros locais do corpo. É ainda um câncer resistente às quimioterapias e imunoterapias.”

A pesquisa teve como objetivo gerar um catálogo com alta resolução dos genes ativos em tumores pancreáticos, com foco na identificação de RNAs não codificadores longos (IncRNAs, sigla em inglês para long noncoding RNAs). “As funções dos IncRNAs ainda são pouco conhecidas pelos cientistas, ao contrário, por exemplo, dos RNAs mensageiros, responsáveis pela síntese de proteínas que irão expressar as informações genéticas contidas no DNA”, explica o professor. “Identificamos genes de lncRNAs que desempenham um papel oncogênico, ou seja, contribuem para a célula tumoral manifestar características associadas à malignidade do tumor, como alta proliferação, capacidade de crescimento independente do substrato, migração e invasão”, explica o professor.

O estudo analisou o conjunto de genes expressos (transcriptoma) de 14 tumores pancreáticos e tecido pancreático não tumoral, a partir de amostras extraídas de pacientes. “Para isso, foi feito o isolamento de todos os RNAs, seguido da preparação de bibliotecas para o sequenciamento com alta capacidade”, descreve Reis. “Os dados obtidos no sequenciamento foram submetidos a análises bioinformáticas para reconstruir a sequência dos RNAs expressos no pâncreas e identificar lncRNAs com expressão aberrante nos tumores em relação ao tecido normal.”

Funções

“A partir do sequenciamento com alta resolução dos RNAs ativos em tumores e no tecido pancreático normal, identificamos ‘assinaturas’ de lncRNAs que geram expressão aberrante nos tumores, centenas deles inéditos, não descritos na literatura. Vários deles têm correlação com a sobrevida de pacientes e valor para fazer prognósticos da doença na clínica”, relata o professor. “A análise funcional de um conjunto de lncRNAs em linhagens celulares de tumor de pâncreas mostrou que o silenciamento destes RNAs reduziu características tumorais, como proliferação, migração e invasão, confirmando se tratarem de lncRNAs oncogênicos.”

Imagem mostra processo de identificação de genes de RNAs não codificadores longos (na sigla em inglês, IncRNAs) que desempenham um papel oncogênico, isto é, contribuem para a célula tumoral manifestar características associadas à malignidade do tumor, como alta proliferação, capacidade de crescimento independente do substrato, migração e invasão – Imagem: cedida pelo pesquisador

 

Usando uma abordagem computacional baseada em redes de coexpressão gênica, a pesquisa atribuiu função para diversos lncRNAs oncogênicos, indicando os prováveis processos biológicos onde atuam e que podem ser confirmados experimentalmente. “Validamos essa abordagem mostrando que um desses RNAs, o lncRNA UCA1, é necessário para o reparo de DNA em células tumorais expostas à radiação ionizante”, destaca Reis.

O estudo terá sequência com a investigação do efeito do silenciamento individual e combinado dos lncRNAs oncogênicos descritos no trabalho, usando agora modelos tumorais in vivo. “Para isso utilizaremos uma coleção de xenotumores já disponível em nosso laboratório, gerada a partir de tumores de pâncreas removidos de pacientes e implantados em camundongos imunossuprimidos”, aponta o professor. “Também pretendemos avaliar a presença dos lncRNAs em exossomos, vesículas secretadas pelas células tumorais, e em fluidos biológicos de pacientes com câncer de pâncreas ao longo do tratamento.”

“Esses experimentos serão importantes para avaliar o potencial dos lncRNAs como alvos terapêuticos ou como marcadores para a detecção de doença residual ou reincidente em pacientes com câncer de pâncreas submetidos a tratamento”, salienta Reis. “Dessa forma, além de avançar o conhecimento sobre a biologia desses RNAs, o trabalho também contribui com novos alvos moleculares para o diagnóstico e possíveis intervenções terapêuticas para o controle da doença.”

A pesquisa foi realizada no Departamento de Bioquímica do IQ, com a colaboração de uma equipe multidisciplinar com bioquímicos, biólogos moleculares e celulares, especialistas em bioinformática e médicos de diferentes unidades da USP, e o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As amostras clínicas analisadas no estudo foram obtidas no biobanco do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, que também contribuiu com a atuação de médicos da instituição.

Mais informações: e-mail emreis@iq.usp.br, com o professor Eduardo Moraes Rego Reis

Autor: Júlio Bernardes
Arte: Ana Júlia Maciel

FONTE: Jornal da USP

Herpes-zóster, popularmente conhecido como cobreiro, pode ser combatido com vacina

Ana Marli Sartori conta que a Herpes-zóster compromete bastante a qualidade de vida da pessoa por conta da dor que causa

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O herpes-zóster, também conhecido como cobreiro, é uma doença viral com alta prevalência especialmente entre a população mais idosa: 30% dos maiores de 80 anos se infectam. Uma nova vacina contra a doença acaba de chegar ao Brasil. O imunizante tem vantagens em relação à vacina anterior, pois possui maior eficácia e cobre um público-alvo maior.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Ana Marli Sartori, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e infectologista do Centro de Vacinação do Hospital das Clínicas, responde questões sobre o herpes-zóster e a nova vacina disponível.

Ana explica que o cobreiro é causado pelo vírus varicela-zóster. Na primeira vez que a pessoa entra em contato com ele, desenvolve a catapora. A resposta imune do organismo controla a doença, mas o vírus permanece na medula espinhal em estado de latência. “Durante esse período de latência, esse vírus não se manifesta porque é controlado pela imunidade adquirida pela infecção”, afirma a professora. “Porém, se a pessoa tiver algum comprometimento imunológico como um câncer, infecção por HIV e o uso de imunossupressores, ou por conta da idade, esse vírus pode se reativar por diminuição da resposta imune a ele”, acrescenta. Então, a doença se manifesta na forma do herpes-zóster.

Essa é uma doença bolhosa, que acompanha o trajeto dos nervos, por isso costuma ser localizada. Segundo Ana, o mais frequente é que ela se manifeste na região torácica. Primeiro são formadas manchas avermelhadas, que se transformam em vesículas que se aglomeram e evoluem para crostas na pele. Além de muito dolorido e incômodo, esse quadro pode desencadear uma neurite pós-herpética, “um quadro doloroso mantido mesmo após a regressão das lesões”. “É uma doença que compromete bastante a qualidade de vida da pessoa por conta da dor que ela causa”, diz a professora.

Vacina

O novo imunizante chega ao Brasil disponível apenas na rede privada, sem previsão para ser disponibilizada no SUS. A vacina é destinada a pessoas a partir de 50 anos e especialmente àquelas com mais de 60 anos, justamente o público com maior risco de contrair a doença. A nova vacina também tem outra vantagem: é recomendada para pessoas com algum tipo de imunossupressão, como transplantados, e pessoas com infecção por HIV, que não poderiam utilizar a vacina anterior.

A professora lembra ainda que a vacina contra o herpes-zóster pode ser utilizada de forma concomitante com outros imunizantes, como o da gripe ou da covid-19. “Não há nenhuma restrição de uso.” As reações, assim como em outros casos, incluem dor no local da aplicação e mal-estar.

FONTE: Jornal da USP

Fungo têm potencial para proteção solar e combate a larvas e parasitas

A descoberta gerou patente e é o passo inicial para que as substâncias extraídas do fungo “Penicillium echinulatum” sejam usadas na produção de cosméticos e medicamentos.

O fungo Penicillium echinulatum, isolado da alga Adenocystis utricularis, encontrada em locais de clima frio, como a Antártida, é o protagonista de uma pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. O estudo, realizado a partir do cultivo deste fungo em laboratório, levou à descoberta de substâncias que podem proteger a pele humana contra raios ultravioleta, além de matar parasitas, como o causador da leishmaniose e o da malária, além de larvas, como as do mosquito da dengue.

A pesquisa da farmacêutica Thaiz Rodrigues Teixeira buscava, em extratos de fungos, substâncias que demonstrassem ação fotoprotetora, mecanismo que evita danos provocados pela luz solar à pele humana, carro-chefe das pesquisas do grupo liderado pela professora Hosana Maria Debonsi, orientadora do estudo.

A escolha da alga Adenocystis utricularis para este estudo, diz Hosana, “está associada à alta incidência de radiação dos raios ultravioleta, UVA e UVB, no Continente Antártico”. A descoberta é o primeiro passo para que as substâncias encontradas no fungo Penicillium echinulatum sejam usadas na produção de cosméticos e medicamentos tanto de uso humano quanto veterinário.

Testes em peles artificiais

Para o estudo, foi necessário determinar quais dos vários fungos encontrados na alga possuíam maior potencial biológico. “Para isso realizamos experimentos piloto, cultivamos esses fungos separadamente, identificamos e estudamos os extratos de cada um, ou seja, avaliamos o perfil químico e o perfil biológico”, conta a professora.

Os resultados do piloto indicaram as substâncias produzidas pelo fungo Penicillium echinulatum com o melhor potencial para uso em cosméticos, na proteção contra os raios UVA e UVB, que não se decompõe com a luz ou que apresenta potencial tóxico.

Após esse estudo inicial, os pesquisadores fizeram os testes em pele artificial, reconstituída a partir de células humanas. Essa fase foi feita em colaboração com a professora Lorena Gaspar Cordeiro, também da FCFRP. “Nessa etapa, verifica-se se a substância possui efeitos tóxicos e irritantes na pele. Com base nos ensaios, o fungo pode ser cultivado em escala ampliada, servindo para obter mais substâncias para os próximos testes.”

O próximo passo, diz Hosana, foi o depósito de patente, para que as metodologias e aplicações das substâncias possam ser protegidas e, ainda, virem a ser objeto de outros estudos em parceria com empresas da área cosmética e dermatológica, inclusive, na realização de ensaios clínicos para comprovação da segurança e eficácia, conforme exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Desafios: pandemia e falta de biorreatores

A pandemia da covid-19 foi um obstáculo para o andamento da pesquisa, informa a professora, com muitos dos trabalhos interrompidos na faculdade. Mesmo assim, os testes avançaram e, agora, avalia Thaiz Rodrigues Teixeira, a equipe deve enfrentar sua maior dificuldade: o cultivo em larga escala no laboratório. É que para os testes clínicos serão necessárias quantidades muito maiores das substâncias extraídas do fungo.

Thaiz comenta que nem sempre essas substâncias podem ser obtidas através de síntese química por envolverem várias etapas, além de ser algo muito caro. Assim, uma alternativa é utilizar o processo biológico de crescimento do fungo, podendo ser reproduzido em laboratório. Porém, isso depende de biorreatores, equipamentos robustos e caros que “esbarram em outra dificuldade, que é o financiamento”.

O estudo Prospecção química, avaliação biológica e uso de redes moleculares como ferramenta na busca por substâncias bioativas de microrganismos marinhos foi desenvolvido no doutorado da farmacêutica Thaiz Rodrigues Teixeira, sob orientação da professora Hosana, e defendido no último mês de maio. Foi realizado em colaboração com professores da FCFRP da USP, do Instituto de Química da Unesp, em Araraquara, da Universidade de Brasília (UnB), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e de professores e pesquisadores internacionais, sendo que uma parte da tese foi realizada em um estágio-sanduíche no Instituto de Oceanografia da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, com supervisão do professor William Gerwick.

Mais informações: e-mails hosana@fcfrp.usp.br, com a professora Hosana, ou thaizrt@gmail.com, com a pesquisadora Thaiz.

FONTE: Jornal da USP