Glaucoma, guia tenta evitar expansão de casos de cegueira

O avanço da pandemia de covid-19 tem dificultado o diagnóstico precoce do glaucoma e afastado pacientes de tratamentos, informou a Associação Mundial de Glaucoma (WGA), que congrega sociedades médicas e de outras áreas de 90 países. A finalidade é a redução dos problemas causados pelo glaucoma ao redor do mundo.

Aproveitando a Semana Mundial do Glaucoma, que terminará no próximo dia 12, a WGA divulgou um guia com orientações para impedir o aumento de casos de cegueira. Com a pandemia, muitas pessoas deixaram de ir ao oftalmologista fazer exames preventivos e acompanhar o glaucoma.

Para a WGA, o avanço no número de casos de pacientes de glaucoma com perda parcial ou total de visão seria um dos efeitos colaterais da pandemia. O cenário é descrito por pacientes em vários países. Eles relatam dificuldade de acesso a exames e consultas pela priorização dos serviços médicos no acolhimento de casos de coronavírus e afastamento de pacientes devido ao medo de contraírem a doença em consultórios e hospitais.

Doença de manifestação silenciosa, o glaucoma é a principal causa de cegueira. Cerca de 80 milhões de pessoas em todo o globo têm a doença, embora em torno da metade desconheça o diagnóstico, segundo a WGA. Os cálculos sugerem que um indivíduo em cada 200, com 40 anos de idade, apresenta esse quadro, sendo que essa proporção é de um em cada oito a partir dos 80 anos.

Idosos, mulheres, indígenas e grupos de minoria étnica têm mais chances de desenvolver o glaucoma, enquanto familiares de pessoas com a doença têm até 10 vezes mais chances de também manifestarem esse quadro.

O WGA observa que a pandemia impactou de forma significativa os cuidados com o glaucoma, provocando atraso nas consultas, exames e procedimentos oftalmológicos essenciais, levando alguns pacientes a evoluírem para deficiência visual significativa e, em muitos casos, cegueira irreversível.

“A recrudescência das altas taxas de infecção por covid-19 em todo o mundo está afetando mais uma vez o manejo de doenças crônicas e, consequentemente, mais pacientes podem evoluir desnecessariamente para a cegueira. Além disso, o tratamento subóptico do glaucoma devido à pandemia cria um acúmulo de exames e procedimentos relacionados ao glaucoma que podem sobrecarregar os sistemas de saúde em um futuro próximo”, explicou a associação.

SUS

Dados do Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SIA/SUS) do Ministério da Saúde revelam que, de 2019 a 2021, foram realizados no Brasil 16.274.018 procedimentos com finalidade diagnóstica para identificação de glaucoma, sendo 5.932.119 em 2019; 4.357.866 em 2020; e 5.984.033 em 2021. Em 2020, o número de exames realizados foi 27% menor do que a quantidade total do ano anterior; já em 2021, houve expansão de 37% em relação a 2020.

Os estados que realizaram a maior quantidade de exames para diagnóstico de glaucoma entre 2019 e 2021 foram São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Em termos regionais, o Norte do país registrou o maior aumento percentual na quantidade de exames diagnósticos realizados em 2021, comparativamente a 2020, com crescimento de 71%, seguido pela Região Centro-Oeste com 51%.

O SIA/SUS mostra que somente um procedimento diagnóstico teve aumento percentual no primeiro ano da pandemia do novo coronavírus. Foi a tomografia de coerência óptica, com aumento de 47% em 2020, comparativamente ao ano anterior. Em 2021, a quantidade desse tipo de exame aumentou 70%, em relação a 2020.

O levantamento evidencia que os idosos foram os que mais voltaram a fazer os exames específicos e abrangentes para diagnóstico de glaucoma no ano passado. Pessoas a partir de 50 anos tiveram evolução de pelo menos 40% na quantidade de exames efetuados. As mulheres foram as pessoas que mais deixaram de fazer exames diagnósticos para glaucoma em 2020, comparado ao ano anterior. A redução foi de 29%, enquanto nos homens a queda foi de 25%.

Em 2021, tanto pessoas do sexo feminino quanto do sexo masculino voltaram a fazer mais exames do que ano anterior. O aumento foi 38% para homens e 40% para mulheres.

Em relação a cirurgias de glaucoma, o estudo do Ministério da Saúde mostra que, no período de 2019 a 2021, houve 82.417 cirurgias de glaucoma no Brasil, sendo que, em 2020, foi registrada diminuição de 22% na quantidade de cirurgias comparado ao ano anterior. A Região Sul apresentou o maior decréscimo (-32%), em 2020. Em 2021, o avanço foi de 35% em relação a 2020.

Entre 2019 e 2021, o Brasil gastou R$35.429.158,36 em procedimentos cirúrgicos de glaucoma. Pará foi o estado que mais gastou no período (R$ 11.202.854,50), quase duas vezes mais que São Paulo, segundo no ranking, revelou o SIA/SUS.

Guia para o paciente com Glaucoma

O “Guia do paciente sobre como cuidar do glaucoma durante a pandemia” traz recomendações para serem seguidas por portadores de glaucoma durante a crise da covid-19. O guia foi produzido pelo Comitê dos Pacientes da Associação Mundial de Glaucoma e pode ser acessado no link. As orientações são direcionadas para a população em geral, incluindo pessoas com diagnóstico ou não de glaucoma. Ele alerta que a doença não espera pelo fim da pandemia de covid-19. Por isso, o paciente deve manter sua rotina de visitas a oftalmologistas e não adiar a realização de exames. “É importante agir antes de uma perda perceptível da visão, pois este é um sintoma tardio e irreversível de quadros fora de controle”, advertem os especialistas da WGA.

Para o paciente com glaucoma que pegar a covid-19, o guia observa que a covid deve ser tratada conforme recomendado pelo médico porque, normalmente, isso não influencia diretamente o glaucoma. “Os corticosteróides sistêmicos podem causar aumento da pressão ocular em alguns pacientes, mas geralmente leva um certo tempo de uso (algumas semanas) para que a pressão do olho aumente”, indica a publicação.

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil

Testes em laboratório mostram que o canabidiol pode auxiliar no tratamento de dor crônica

Pesquisa desenvolvida por cientistas do campus de Ribeirão Preto da USP em animais de laboratório mostra a ação positiva do canabidiol (CBD) – substância extraída da planta Cannabis sativa – na redução da dor crônica e comorbidades associadas, como ansiedade. A pesquisadora Gleice K. Silva-Cardoso, do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, acredita que o CBD seja uma estratégia promissora no tratamento da dor crônica neuropática já que o sistema canabinoide tem participação essencial no circuito de sensibilidade à dor. O sistema endocanabinoide (encontrado no cérebro e em diversos outros locais do organismo humano e animal) foi descoberto no final da década de 1980 e, desde então, vários estudos nacionais e internacionais envolvendo os efeitos terapêuticos do CDB ganharam força. Um artigo de Gleice K. Silva-Cardoso foi publicado na revista Neuropharmacology.

 

Christie Panissi – Foto: Reprodução/Fapesp

 

Os resultados são da fase pré-clínica (testes realizados em animais de laboratório), mas mostraram o potencial terapêutico do CBD em reduzir a percepção à alodinia (dor a estímulos leves, como um simples toque) e à hiperalgesia térmica (quadro doloroso provocado pelo aumento do calor) em animais com dor neuropática. De acordo com a professora Christie Ramos Andrade Leite Panissi, do Departamento de Psicologia da FFCLRP e orientadora da pesquisa, além da diminuição da dor, os cientistas observaram “ativação de regiões do sistema nervoso central relacionadas com a modulação de respostas emocionais”.

Quanto ao fator emocional, Gleice afirma que a dor crônica nunca vem sozinha e, muitas vezes, está associada a alguma comorbidade, “principalmente, ansiedade e depressão”. Assim, ela acredita que o transtorno deve ser trabalhado em aspecto multifatorial e não somente físico. As avaliações da pesquisadora têm também como base resultados anteriores de um outro estudo que ela realizou na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, quando avaliou atividades neuronais (comunicação entre neurônios e seus receptores) de uma área localizada no tronco cerebral: o núcleo parabraquial, envolvido na modulação da percepção da dor crônica e que também foi testada para receptores canabinoides.

Terapia para dor e respostas emocionais

Cannabis é composta de flavonoides, mais de 200 terpenos e mais de 100 fitocanabinoides, dentre os quais os mais conhecidos são o canabidiol (CBD, que não possui efeito psicoativo) e o tetra-hidrocanabinol (THC, que possui efeito psicoativo). Como um dos mais estudados, o CBD é capaz de ativar receptores canabinoides presentes no organismo e que fazem parte do sistema endocanabinoide. Esses receptores podem ser ativados por substâncias endocanabinoides (produzidas pelo próprio organismo) e por derivados da Cannabis, como o CBD, ou outro agente sintético.

 

Gleice Silva-Cardoso – Foto: Reprodução/Fapesp

 

A professora Christie destaca que a busca por agentes terapêuticos, “em especial para casos de dores crônicas resistentes aos tratamentos tradicionais”, confirma a relevância do estudo, não apenas para a descoberta de novos medicamentos, mas para investigar “novos usos de compostos já conhecidos e as possibilidades de sua atuação conjunta, minimizando possíveis efeitos colaterais indesejáveis”.

Gleice considera que os achados de seu estudo podem indicar o CBD como um auxiliar no tratamento da dor crônica que também pode reverter comportamentos do tipo ansioso. Se este componente da Cannabis ajuda a modular a aversão à dor, como observado, ele o faz acessando “não somente a parte de alívio mecânico do animal, mas também a questão dessa modulação da percepção”.

Apesar de comemorar os resultados, a professora Christie lembra que o estudo ainda é pré-clínico e que mais pesquisas devem ser realizadas sobre o uso do canabidiol e demais derivados da Cannabis “até serem indicados para uso clínico no tratamento da dor crônica”.

Tratamentos com canabidiol

Gleice informa que, atualmente, há “um leque de opções de estudos com o uso do canabidiol em diversas doenças”, principalmente com foco sobre suas propriedades “em comorbidades e doenças neuropsiquiátricas”. A substância tem revelado benefícios farmacológicos analgésicos e imunossupressores, com ação terapêutica para os distúrbios de ansiedade, do sono e do movimento, “o que o torna uma substância com grande potencial terapêutico”, observa Christie.

Produtos com o CBD já são comercializados em outros países e “indicados para o tratamento da epilepsia, Parkinson ou Alzheimer, assim como analgésicos em doentes oncológicos terminais”, diz a professora. Mas, no Brasil, os medicamentos à base de canabidiol que são autorizados pela Anvisa “têm como principal indicação o tratamento de espasmos musculares relacionados com a esclerose múltipla”, conta.

Ouça no player abaixo a entrevista da pesquisadora Gleice Silva-Cardoso e da professora  Christie Ramos Andrade Leite Panissi ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional. 

Por Brenda Marchiori

FONTE: Jornal da USP

Ombro Congelado? Equipamento desenvolvido na USP pode ajudar a tratar

Estudo preliminar com um equipamento desenvolvido no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP pode ajudar no tratamento da capsulite adesiva, uma lesão no ombro também conhecida como “ombro congelado”. A inflamação provocada pela capsulite impede o movimento do ombro. Os testes mostraram que a nova técnica tem potencial para tratar a doença e levar recuperação e qualidade de vida em apenas seis semanas, contra os três anos da terapia convencional.

Ana Carolina Negraes Canelada – Foto: Reprodução/LinkedIn

De acordo com a fisioterapeuta Ana Carolina Negraes Canelada, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e participante do Projeto Fotodinâmica do IFSC, a nova terapia é capaz de fazer o paciente voltar rapidamente à vida normal.

O novo equipamento é portátil e “constituído por duas esferas que, conjugadas com a aplicação de laser, ao deslizarem e comprimirem o músculo afetado, provocam a mobilização da fáscia muscular [pele que envolve o músculo], promovendo uma recuperação da amplitude do membro”.

Os resultados da pesquisa que testou o equipamento e a técnica foram publicados recentemente pelo Journal of Novel Physiotherapies e mostram o caso de um paciente de 57 anos com capsulite adesiva que apresentava os dois ombros comprometidos e sentia muitas dores que impediam movimentos, como a flexão dos ombros, abdução e rotação interna.

Com os tratamentos convencionais, relata a fisioterapeuta, o paciente levaria de dois a três anos para se curar, mas que, em apenas seis semanas de aplicação do novo tratamento, a inflamação desapareceu e os movimentos dos ombros voltaram. Ana Carolina relata que o paciente foi submetido a sessões de 15 minutos de aplicações, duas vezes por semana. Ao término da sexta semana, “o paciente teve uma recuperação total de todos os movimentos, sem qualquer vestígio de inflamação e com ausência completa de dores, colocando-o, assim, apto para o trabalho normal”, comemora a pesquisadora.

Foto: Alessandra Cuba/Comunicação da Santa Casa de Misericórdia de São Carlos

Novos testes

Antonio Eduardo de Aquino Junior – Foto: Reprodução/LinkedIn

O novo tratamento está disponível na Unidade de Terapia Fotodinâmica (UFT), sediada na Santa Casa da Misericórdia de São Carlos (SCMSC), numa parceria com o IFSC.

No dia 20 de setembro, o estudo entrou em uma nova fase, com o teste em 120 voluntários já diagnosticados com capsulite adesiva para “certificar que a nossa metodologia é realmente funcional e que esse método de tratamento reduzido vai se manter nos demais pacientes”, diz o professor do IFSC e orientador do estudo, Antonio Eduardo de Aquino Junior.

De acordo com o professor, se for realmente viável, o tratamento poderá ser implementado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), “diante de toda a documentação e certificação dos órgãos necessários”.

Causas da capsulite adesiva

As causas da capsulite adesiva não estão bem determinadas. Mas, dentre as possibilidades, encontram-se alguns fatores como traumatismo (com ou sem fratura associada), cirurgias ou causas sistêmicas, como diabete ou doenças da tireoide. Rigidez muscular e dor são os principais sintomas que limitam os movimentos ativos e passivos do ombro.

Estima-se que a doença acometa entre 2% e 5% da população geral, mas chegue a 20% nos diabéticos, sendo as mulheres de 40 a 60 anos a população mais afetada. Os atuais tratamentos aplicados são a termoterapia, crioterapia, eletroterapia, cinesioterapia e massagem direta, em um período de recuperação que varia entre dois e três anos.

Por: Brenda Marchiori e Ferraz Junior
Colaboração: Rui Cintra, IFSC

FONTE: Jornal da USP

Sensor vestível em material natural analisa substâncias presentes no suor

Desenvolvido na USP em São Carlos, adesivo aplicado sobre a pele poderá ser usado para monitorar o funcionamento do organismo, através do suor, e administrar medicamentos

Um sensor vestível, impresso em nanocelulose microbiana, um polímero natural, foi criado por pesquisadores da  USP, no campus de São Carlos, em colaboração com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, Universidade de Araraquara, Universidade de Campinas (Unicamp) e Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), em Campinas. O dispositivo poderá substituir, com vantagens, os sensores convencionais, impressos em superfícies plásticas. Aplicado sobre a pele, permite detectar várias substâncias presentes no suor, funcionando como um sensor não invasivo de amostras.

Robson Rosa da Silva, pós-doutor do Grupo de Polímeros Prof. Bernhard Gross do Instituto de Física de São Carlos da USP – Foto: Reprodução/Lattes

 

A pesquisa, coordenada pelo professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por meio dos projetos “Biossensor impresso e implantável fabricado com biopolímeros para monitoramento de longa duração”; “Design e fabricação de dispositivos flexíveis nanoestruturados para detecção de biomarcadores”; “Desenvolvimento de instrumentos analíticos baseados em línguas eletrônicas para detecção simultânea de ameaças bacterianas” e um apoio da Equipamento Multiusuários.

“A nanocelulose microbiana é um polímero 100% natural, produzido por bactérias a partir do açúcar. Sua principal vantagem em relação ao plástico é que propicia uma interface muito maior com a pele e já é encontrada no mercado há alguns anos na forma de curativos. No entanto, ainda não havia sido estudada como matriz para a fabricação de sensores eletroquímicos”, diz Robson Rosa da Silva, também do IFSC e um dos dois autores principais do artigo.

Nos sensores de matriz plástica, a transpiração forma uma espécie de barreira entre a pele e o dispositivo, dificultando a detecção e constituindo também um fator alergênico. “Já o sensor em nanocelulose é totalmente respirável: o suor consegue chegar até a camada ativa do eletrodo através da matriz de nanocelulose”, explica.

O sensor tem a forma de um pequeno adesivo retangular, com 1,5 centímetro de comprimento e 0,5 centímetro de largura e a espessura de uma folha de papel de seda. E consegue detectar vários biomarcadores, como sódio, potássio, ácido úrico, ácido láctico, glicose, etc. “Esses elementos ou substâncias, que circulam na corrente sanguínea, são detectáveis também no suor. Assim, uma aplicação possível do sensor de nanocelulose é o monitoramento da diabete. Outra é o controle hormonal em mulheres, por meio da detecção do hormônio estradiol”, informa Silva.

Paulo Augusto Raymundo Pereira, atualmente pós-doc do Instituto de Física de São Carlos da USP – Foto: Reprodução /Lattes

 

O dispositivo poderia ser usado para detectar também a presença de poluentes atmosféricos no organismo. “Como prova de conceito, expusemos o sensor a baixas de concentrações de metais tóxicos, como chumbo e cádmio. E o resultado foi positivo”, acrescenta o pesquisador.

As unidades de detecção são impressas sobre a matriz de nanocelulose microbiana por meio de uma técnica de serigrafia semiautomatizada, com o uso de pasta com grande concentração de partículas de carbono, devido à alta condutividade elétrica desse material. “Reações químicas de oxidação ou redução produzem o sinal elétrico que indica a concentração do metabólito de interesse”, explica Paulo Augusto Raymundo Pereira, o outro autor principal do artigo, que realiza pós-doutorado no IFSC.

“Para isso, o sensor é conectado a um potenciostato, que faz as medidas eletroquímicas por meio da variação da corrente elétrica. E as informações obtidas são, finalmente, transmitidas a um computador e traduzidas por meio da curva-padrão”, detalha Pereira. Segundo ele, a conexão wireless do sensor com o aparato de medição e leitura é uma possibilidade tecnológica de fácil resolução.

Os pesquisadores estudam, agora, o uso do dispositivo para a administração de medicamentos, bem como sua viabilização comercial. A primeira fase do projeto “Fabricação de eletrodos impressos por serigrafia em substratos biodegradáveis (nanocelulose e filmes de cebola Allium cepa l) para aplicações das indústrias médica, alimentícia e agroindustrial”, desenvolvido pela Biosmart Nanotechnology, teve o apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fapesp.

O artigo Microbial nanocellulose adherent to human skin used in electrochemical sensors to detect metal ions and biomarkers in sweat, publicado no periódico Talanta, pode ser acessado no link.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Por José Tadeu Arantes/Agência Fapesp

FONTE: Jornal da USP

Método traça perfil mais detalhado dos tipos de gordura presentes no sangue

Análise mostra que mulheres jovens não obesas apresentaram grande acúmulo de gordura no sangue após as refeições

Pessoas saudáveis, mas com um metabolismo mais lento, acumulam mais gordura no sangue após as refeições, o que pode servir como marcador de problemas metabólicos e cardiovasculares. A conclusão é de uma pesquisa realizada na USP em mulheres com menos de 40 anos de idade, não obesas, submetidas a uma dieta rica em gorduras. A análise feita no estudo, que identificou um perfil mais preciso dos tipos de gordura existentes no sangue em relação aos testes clínicos tradicionais, tem potencial para ajudar a prever, detectar e monitorar doenças. As conclusões do trabalho são descritas em artigo do The Journal of Nutritional Biochemistry.

Os pesquisadores estudaram a lipemia pós-prandial, que é o acúmulo de gordura no sangue decorrente de uma refeição. “Ela aumenta o número de lipídeos plasmáticos, especialmente lipoproteínas ricas em triglicerídeos (TG). Entre os fatores de risco para doenças cardiovasculares está a tríade de lipídeos, ou seja, altos níveis de TG, de LDL e concentrações reduzidas de HDL-C”, relata o pesquisador Marcos Yoshinaga, do Instituto de Química (IQ) da USP, que participou do estudo. “Portanto, a lipemia pós-prandial prolongada pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares por um aumento exacerbado de TG plasmático combinado ao catabolismo acentuado de HDL, que implica menores concentrações de HDL-C.”

De acordo com o professor Marcelo Rogero, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, que também integra o grupo de pesquisadores, o objetivo geral do trabalho foi estudar os efeitos de uma refeição enriquecida em gorduras saturadas sobre os lipídeos plasmáticos, em um grupo selecionado de pacientes saudáveis. “O alvo da pesquisa eram mulheres com menos de 40 anos de idade e não obesas”, aponta. “O objetivo específico do trabalho era examinar como o lipidoma plasmático ou as diferentes espécies moleculares de lipídeos plasmáticos se comportam no período pós-prandial em mulheres jovens e saudáveis.”

Os pesquisadores realizaram uma análise lipidômica para descrever e quantificar as espécies moleculares de lipídeos no plasma humano. “Abordando cerca de 300 moléculas, as análises lipidômicas aumentam o potencial de se encontrar biomarcadores, se comparadas ao perfil lipídico clínico de rotina, como triglicérides, colesterol total, LDL, HDL”, descreve Yoshinaga. “Por exemplo, o perfil lipídico clínico fornece informação sobre os TG totais, enquanto a análise lipidômica permite quantificar centenas de espécies moleculares de TG, com informações precisas sobre a natureza e a composição de ácidos graxos, sejam eles saturados, monoinsaturados ou poli-insaturados.”

Os lanches de fast food, embora muito populares, são refeições altamente gordurosas
Foto: Unsplash

 

Metabolismo

O estudo também analisou parâmetros clínicos das pacientes, como perfil lipídico, insulina, glicose, marcadores inflamatórios e medidas antropométricas. Ao todo, 274 lipídeos plasmáticos distribuídos em 18 classes lipídicas foram comparados com parâmetros clínicos do sangue. “Identificamos, como esperado, um enriquecimento em inúmeras espécies moleculares de TG entre uma e três horas após a refeição”, aponta o pesquisador. “Depois de cinco horas, porém, pudemos classificar dois grupos distintos entre as pacientes, um com metabolismo rápido, que voltou aos níveis em jejum, e outro com metabolismo lento, que mantinha níveis elevados de TG.”

A comparação entre os dois grupos revelou que as diferenças no metabolismo de TG estavam relacionadas ao incremento de insulina pós-prandial, bem como às classes lipídicas TG e fosfatidilinositol (PI). “As análises lipidômicas realizadas em fração rica em TG (LDL e VLDL) e em fração enriquecida em HDL revelaram que a fração HDL de pacientes de metabolismo lento continha maiores concentrações de PI e TG”, destaca Yoshinaga. “Verificamos assim uma assinatura da lipemia pós-prandial prolongada relacionada não somente ao enriquecimento de TG plasmático, mas particularmente um aumento das concentrações de TG e PI em HDL.”

O pesquisador aponta que, no aspecto nutricional, após serem confirmadas em estudos de larga escala, as ferramentas analíticas utilizadas no estudo têm potencial para identificar como indivíduos jovens e saudáveis lidam com dietas ricas em gordura, principalmente com relação ao risco de acúmulo de lipídeos específicos. “A análise lipidômica identificou distintas respostas pós-prandiais em indivíduos saudáveis com maior precisão se comparadas ao perfil lipídico clínico de rotina, e pode potencialmente ajudar na detecção, monitoramento e predição de doenças metabólicas.”

 

Frituras possuem altas concentrações de VLDL
Foto: Unsplash

“No aspecto clínico, o acúmulo de PI e TG em HDL durante a lipemia pós-prandial prolongada traz perspectivas futuras para avançarmos no entendimento do lipidoma de HDL durante o metabolismo intravascular em relação à insulina”, observa Yoshinaga. “Em especial, será possível compreender o papel do lipidoma de HDL influenciando suas funções antiaterogênica e anti-inflamatória, bem como as concentrações de HDL-C, que são um fator de risco independente para doenças cardiovasculares.”

O estudo foi realizado por pesquisadores do IQ e da Faculdade de Saúde Pública (FSP), que integram os projetos Centro de Pesquisa de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma) e Food Research Center (FoRC), dois Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além de Yoshinaga, que realiza pesquisa de pós-doutoramento com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o trabalho teve a participação de Adriano Britto Chaves-Filho, cujo pós doutorado é financiado pela Fapesp; Bruna Jardim Quintanilha, doutoranda da FSP; além dos professores Marcelo Rogero, da FSP e do FoRC, e Sayuri Miyamoto, do IQ e do Redoxoma.

Mais informações: e-mail marcosyukio@gmail.com, com Marcos Yoshinaga

Por Júlio Bernardes

FONTE: Jornal da USP

Entenda a diferença entre alimentos diet, light e zero

Os termos dietlight e zero são normalmente associados a alimentos pouco calóricos. Mas nem sempre é assim. A expressão mais antiga, diet, ficou associada a alimentos próprios para portadores de diabetes por não conterem açúcar. Mas isso também não é regra. A Agência Brasil entrevistou a nutricionista Tatiane Cortes Roso, para esclarecer dúvidas sobre a diferença entre os três tipos de alimentos.

Diet

Tatiane explica que os alimentos diet são regulamentados pela Portaria/MS 29, de 13 de janeiro de 1998 – o Regulamento Técnico de alimentos para fins especiais. “Produtos diet são direcionados para pessoas com dietas especiais para certas doenças, como diabetes, hipertensão, obesidade, dislipidemia. Então é a redução de algum nutriente. Por exemplo, retiram o sódio de uma batata frita, como a gente vê no mercado, e substituem por cloreto de potássio”.

Normalmente os alimentos diet têm redução de componentes como açúcar, gordura, proteína ou outros. Mas Tatiane alerta que nem sempre a redução dos nutrientes é total.  “Pode haver residual de açúcares e gorduras totais no produto de, no máximo, 0,5g por 100g/ml”, ressalta.

Esses alimentos são indicados para pessoas com restrições alimentares ou que não querem consumir algum desses ingredientes. Dessa forma, não basta o rótulo dizer que determinado alimento é diet. É preciso que o rótulo especifique qual nutriente foi retirado ou substituído no produto.

Tatiane afirma ainda que nem sempre o produto diet é menos calórico do que o tradicional. Em um iogurte, por exemplo, a indústria reduz o teor de gordura, mas acrescenta amido, açúcares e espessantes para substituir as gorduras totais.

Light

Um alimento light é aquele que tem redução de pelo menos 25% de algum componente, que pode ser açúcar, gordura, sódio ou outros. Dessa forma, o conteúdo energético normalmente é reduzido quando comparado com o tradicional de referência. “Então, não basta só alegar que o produto foi reduzido em algum nutriente, é preciso compará-lo com uma versão convencional do mesmo alimento. Assim, o consumidor saberá se realmente houve redução em nutrientes e/ou valor energético”, diz a nutricionista.

Os alimentos light são regulamentados pela Resolução RDC 54, de 12 de novembro de 2012 da Anvisa – o Regulamento Técnico sobre Informação Nutricional Complementar. Nesse caso, as orientações são para o público em geral.

Os produtos light costumam ser indicados em dietas para emagrecer. No entanto, Tatiane ressalta que para que a redução de peso aconteça, a quantidade ingerida deve ser similar à que se comeria do produto normal. “Um grande erro é exagerar no consumo do produto light e acabar ganhando peso”, afirma.

Zero

Já o termo zero é usado quando o alimento não tem algum componente. Pode ser zero açúcar, zero gordura, zero sódio, entre outros. No entanto, esse produto não tem adição de outro nutriente para repor o sabor, diferentemente do diet. Quando o alimento é zero açúcar, ele pode ser consumido por pessoas portadoras de diabetes. Grande parte dos produtos zero é reduzida em calorias e açúcares, podendo ser utilizada tanto por pacientes com diabetes quanto por quem deseja perder peso.

“Uma pessoa com diabetes pode consumir alimento light? Sim, mas ela vai ter que olhar no rótulo se houve redução de açúcares. E se o açúcar foi substituído pelo adoçante, no caso dos portadores de diabetes. No caso da pessoa hipertensa, tem que checar se houve redução no sódio, por exemplo. É importante que as pessoas aprendam a ler o rótulo”, orienta Tatiane.

FONTE: Agência Brasil

Bullying, Associação Brasileira de Psiquiatria faz campanha sobre os efeitos

Campanha inédita da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) busca a conscientização da população contra o bullying com o tema Delete Essa Ideia. Bullying é uma palavra de origem inglesa que designa atos de agressão e intimidação repetitivos e intencionais contra pessoas que não são aceitas por determinado grupo. A iniciativa visa esclarecer, alertar e combater o bullying e o cyberbullying (bullying pela internet) e, assim, diminuir o índice de casos.

De acordo com o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva, muito associado ao período escolar de crianças e adolescentes, o bullying pode se estender por outras fases da vida. “O ambiente escolar é um local em que os indivíduos estabelecem relações de superioridade em termos de poder e competência sobre os seus pares e, a partir deste momento, acontecem as relações de assédio”, disse o médico em entrevista à Agência Brasil.

Nos últimos anos, o bullying tornou-se um grave problema de saúde pública. Crianças e jovens sofrem diariamente agressões psicológicas e físicas, que resultam em sérias consequências para a saúde física e mental.

Segundo Silva, os transtornos provocados pelo bullying nas crianças e jovens dependem muito de como as agressões serão internalizadas e como serão trabalhadas no âmbito escolar e familiar. “Algumas crianças e adolescentes, dependendo do nível de resiliência e adaptabilidade, vão precisar de suporte psiquiátrico e, por vezes, até jurídico. Podem ser desenvolvidos quadros depressivos e ansiosos, entre outros, incluindo o abuso de álcool e outras substâncias.”

O psiquiatra ressaltou que, nos casos de bullying, as pessoas não devem se preocupar apenas com a saúde mental das vítimas, que, mais à frente, podem se tornar agressoras. Muitas vezes, os indivíduos que estão praticando bullying podem estar submetidos a situações em que tais atitudes podem ser a válvula de escape. “Depressão, baixa autoestima e tentativas de suicídio são algumas das consequências geradas por essas atitudes”, afirmou Silva.

Silva alertou que vivenciar tais situações gera impacto negativo na vida das pessoas atacadas e que tanto os agressores quanto as vítimas de bullying podem desenvolver sérios problemas de saúde, como ansiedade e depressão. “Por isso, é fundamental combater essa prática que cresce cada vez mais. A partir deste ano, a campanha contra o bullying será um dos nossos pilares.”

Agravamento do bullying

O diretor da ABP e especialista em infância e adolescência, Kleber Oliveira, lembrou que, antigamente, existiam brincadeiras entre crianças que, teoricamente, não tinham a mesma repercussão que hoje. “A principal diferença que vemos é a intensidade e a dimensão que a tecnologia proporciona. Agora as atitudes são gravadas, divulgadas, e a gente não tem mais controle do que vai ser acrescentado àquela brincadeira, o que gera muita insegurança nas crianças e adolescentes”, afirmou.

Ainda neste mês, a Associação Brasileira de Psiquiatria vai lançar nas redes sociais várias ações de conscientização sobre o tema. O objetivo é oferecer diferentes perspectivas sobre as formas de combater esse tipo de atitude e conseguir diminuir o número de casos.

Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicado no ano passado, mostra que cerca de 23% dos estudantes afirmaram ter sofrido bullying por parte de colegas. A pesquisa revelou também que um em cada dez adolescentes, do total de 188 mil entrevistados, já se sentiu ameaçado, ofendido e humilhado em redes sociais ou aplicativos, sendo vítima do cyberbullying.

Quanto à saúde mental, 50,6% dos estudantes disseram se sentir muito preocupados com as coisas mais comuns do dia a dia. De acordo com o estudo, um em cada cinco estudantes afirmou que a vida não valia a pena ser vivida.

FONTE: Agência Brasil

Álcool na gestação traz riscos para o bebê, afirma médica

“Se você bebe, o seu bebê também bebe” é o tema da campanha da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) que visa alertar mulheres grávidas para os riscos que o consumo de bebidas alcoólicas na gestação pode trazer para os filhos. “Esse é o nosso foco de interesse, de ação in advocacy (lobby do bem)”, disse a presidente da Abead, Alessandra Diehl. A entidade busca prevenir sobre o álcool na gestação, para evitar o que os especialistas chamam de Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).

No Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, lembrado hoje (18), a psiquiatra destaca os riscos de desenvolvimento da SAF, que ainda é subnotificada no Brasil e subtratada, por não ser identificada durante a gestação. Segundo ela, não existe informação, principalmente para quem trabalha na rede de atenção primária à saúde e que faz o pré-natal, “que são as enfermeiras, os ginecologistas”, para identificar a mulher que está bebendo.

A SAF tem alto impacto na vida da criança, da mãe, do pai e da sociedade como um todo. De acordo com a Abead, não existe bebê seguro durante a gestação porque qualquer quantidade de bebida pode trazer complicações que incluem retardo mental, microcefalia, baixo peso ao nascer, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, além de complicações gestacionais.

Estudos mostram que entre 12% e 22 % das mulheres grávidas apresentam históricos de consumo de álcool durante a gravidez. Essa ingestão de álcool pode variar de beber ocasionalmente ao consumo excessivo semanal e até ao uso crônico durante os nove meses da gestação. A Abead defende medidas preventivas para o uso de álcool por mulheres grávidas devido ao risco de desenvolvimento da SAF. A estimativa é de que cerca de 1,5 mil a 6 mil crianças nasçam com SAF todos os anos no Brasil.

A Abead sugere, entre as medidas preventivas, a adoção de rótulos de advertência sobre o álcool nas embalagens das bebidas, utilizando-os como ferramentas para aumentar a conscientização sobre os riscos gerados pelo produto. Também recomenda abordagens mais amplas de políticas públicas para o controle do consumo, com informações direcionadas ao público-alvo e específicas sobre beber na gestação. A entidade apoia o Projeto de Lei (PL) 4.259/2020, em tramitação na Câmara dos Deputados, que institui o sistema de prevenção à Síndrome Alcoólica Fetal, bem como dispõe sobre a obrigatoriedade de advertência dos riscos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez. “É uma das primeiras iniciativas que começam a colocar a advertência em bebidas alcoólicas, indicando que a mulher não pode beber, como já existe em outros países. Acho que isso pode ajudar”, afirmou Alessandra.

Álcool x Adolescentes

Para a presidente da Abead, outro problema que deve ser atacado sem demora por meio de políticas públicas é o consumo de álcool cada vez mais cedo entre os jovens. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada em setembro do ano passado, 34,6% dos estudantes consultados haviam experimentado bebida alcóolica pela primeira vez antes dos 14 anos, sendo o percentual maior entre meninas (36,8%) do que entre meninos (32,3%). Mais de 63% dos estudantes entrevistados tomaram uma dose de bebida alcoólica em 2019, contra 61,4% em 2016.

O Terceiro Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado em 2019, confirmou a dependência de álcool entre adolescentes. Segundo o estudo, 7 milhões de brasileiros menores de 18 anos, ou o correspondente a 34,3%, disseram já ter consumido bebida alcoólica na vida, sendo que 119 mil jovens entre 12 e 17 anos apresentavam algum tipo de vício em álcool.

“É um fenômeno mundial”, disse Alessandra Diehl. Os jovens estão bebendo cada vez mais cedo. A PeNSE mostra claramente que eles começam em torno dos 14 anos”.

O hábito entre mulheres, que começa quando jovens e se perpetua, também preocupa a Abead, que vem chamando a atenção para o fenômeno há algum tempo. No entanto, segundo a presidente da entidade, não há correspondência em termos de políticas públicas que olhem para essa questão do gênero. “Acho que esse é o nosso gap (lacuna) aqui no Brasil”.

Alessanda advertiu que embora haja no país uma legislação que proíbe a venda de bebidas para adolescentes, os jovens conseguem comprar bebidas alcoólicas facilmente. “É fácil e não há fiscalização”, afirmou.

Sacolé

A psiquiatra lembrou que um novo produto acaba de ser lançado, em parceria com uma indústria de bebidas, apresentando teor alcoólico de 7,9%. “É um geladinho que contém álcool, tem colorido muito interessante e que atrai, sem dúvida, o jovem. Quero ver como vai ser a fiscalização para a venda desse produto, com teor alcoólico de 7%. São coisas que vão causando impacto entre para a iniciação precoce no Brasil”. Na sua opinião, uma parcela significativa desses jovens vai evoluir para uso mais regular e um padrão de dependência. Por si só, acrescentou, o alcoolismo já é um problema de saúde pública imenso.

O professor de psiquiatria da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Jorge Jaber Filho, se referiu também a essa espécie de sacolé, com 7,9% de teor alcoólico, cujas amostras estão sendo distribuídas no país gratuitamente e que pode estimular o uso por adolescentes.

Jaber advertiu que as principais causas de morte de jovens nas grandes cidades são os acidentes, especialmente de trânsito, que envolvem consumo de álcool não só pelo condutor do veículo mas também pelos menores de idade na via pública. Em segundo lugar, aparecem os homicídios e, na terceira posição, o aumento de suicídio entre jovens que utilizam álcool e substâncias químicas, sendo o álcool em maior quantidade. “Em termos de saúde pública entre os jovens brasileiros, a liberação do álcool é devastadora, porque envolve as três principais causas de morte”, disse o psiquiatra.

Recomendações

Uma das recomendações feitas pela presidente da Abead no Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo é que os pais devem estar atentos ao comportamento de beber dentro de casa, porque as crianças tendem a imitar o exemplo dos adultos. “Se a gente consegue postergar a iniciação de beber na adolescência, se o jovem começar a experimentação acima dos 18 ou 21 anos, as chances desse adolescente vir a desenvolver dependência diminuem em 50%. Essa é questão importante”. Para Alessandra, isso tem a ver também com propaganda, fiscalização da venda de bebida alcoólica, ou seja, diminuição da demanda.

Segundo a médica, é preciso aumentar os fatores de proteção, entre eles o convívio com atividades mais saudáveis que não incluam bebida alcoólica e o aumento de práticas relacionadas à prevenção ao consumo de álcool, como a realização de refeições em família. “Parece pouco. Mas há uma série de estudos que avaliaram o quanto fazer refeições em família previne o uso de álcool e outras drogas, principalmente no contexto brasileiro”. Incentivo à leitura, religiosidade, espiritualidade, educação, menos jogos e convívio com áreas que não utilizam bebida são outras indicações da presidente da Abead.

Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está em elaboração uma linha de cuidados sobre álcool e drogas para lançamento no próximo mês de abril.

Permissividade com o uso do Álcool

Jorge Jaber Filho lembrou ainda que é comum o consumo de álcool começar dentro da própria família. Argumentou que muitos pais acham que o fato de o filho tomar uma cerveja não tem nenhum problema quando, na verdade, estão estimulando o uso do produto que traz efeitos negativos para a saúde orgânica e mental. “De maneira geral, a sociedade é muito permissiva com o uso do álcool”.

Para ele, embora a venda de bebidas alcoólicas seja proibida para menores, o que ocorre é um desrespeito à lei, atingindo uma atividade alarmante, que é a venda de bebidas para adolescentes em postos de gasolina. O mesmo acontece em festas e shows, onde é comum ver jovens com garrafas de refrigerante contendo bebidas alcoólicas misturadas. “Não há nenhuma manifestação da sociedade para coibir isso. É considerado normal”.

FONTE: Agência Brasil

Dietas sustentáveis ajudam o planeta, mas seu corpo também agradece

Após desenvolverem o Índice da Dieta da Saúde Planetária, que mede a aderência da população à alimentação com menor impacto ambiental, pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP avaliaram o efeito dessas dietas sustentáveis na saúde da população, mais especificamente na gordura corporal. Os participantes que tiveram maior pontuação no índice, e portanto maior adesão às dietas saudáveis ao planeta, possuíam risco 24% menor de apresentar sobrepeso e obesidade.

A pesquisa também mostrou que os ‘campeões’ no índice também possuem 14% menos risco de terem obesidade abdominal e 27% menos risco de apresentarem o quadro agravado dessa condição, a obesidade abdominal aumentada. O estudo mostra que uma alimentação mais baseada em frutas, verduras, legumes, cereais integrais e oleaginosas – e menos em carnes vermelhas, laticínios, tubérculos, açúcares de adição e gorduras animais – pode ser tão saudável ao planeta quanto ao nosso corpo.

O estudo faz parte do doutorado sanduíche  do pesquisador Leandro Cacau, da FSP, sob orientação da professora Dirce Maria Lobo Marchioni, junto à Universidade de Zaragoza, na Espanha, com supervisão de Luis Moreno. O artigo foi publicado em outubro na revista científica Nutrients. O projeto tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Leandro Cacau – Foto : Arquivo Pessoal

O índice desenvolvido pelos pesquisadores é baseado na Dieta da Saúde Planetária, um modelo de alimentação proposto no relatório Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems, publicado no jornal científico The Lancet. A ideia dessa dieta é promover um uso sustentável e consciente dos recursos do planeta para garantir nutrição e saúde às 10 bilhões de pessoas estimadas em 2050 – o que não acontecerá sem mudanças radicais no nosso padrão de consumo atual.

Ao dividir os alimentos em 16 grupos e relacioná-los à emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) gerada na produção de cada um deles, o índice é capaz de avaliar as dietas através de uma  pontuação de 0 a 150. Em geral, quanto mais vegetais se consome, chega-se mais próximo de 150 pontos; enquanto que quanto mais se opta por alimentos de origem animal e ultraprocessados, a dieta fica mais perto de zerar – e, então, maior é o custo ambiental das refeições.

A recomendação da EAT- Lancet, assim como a primeira aplicação do índice, sugeriam que, quanto menos nocivas ao planeta, maior seria a qualidade nutritiva da dieta, mas esse é o primeiro estudo a avaliar o que de fato acontece com a saúde humana se optarmos por dietas saudáveis também ao planeta. “Os resultados vão ao encontro do relatório: seguir uma dieta saudável e sustentável traz benefícios para a saúde da população, já que o sobrepeso e obesidade são importantes fatores de risco para outras doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares”, afirma Leandro Cacau em entrevista ao Jornal da USP.

Foram avaliados 14,515 brasileiros, participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), que acompanha os voluntários de vários estados do Brasil desde 2008 e 2010. De acordo com o pesquisador, os resultados mostram que os que melhor pontuaram no índice apresentaram melhor saúde quanto à gordura corporal, quando comparados aos que não seguem a Dieta de Saúde Planetária. “Eles possuíam 24% menor probabilidade de terem sobrepeso e obesidade. Isso independente de características sociodemográficas, de estilo de vida e estado de saúde, como sexo, idade, escolaridade, hábito de fumar, prática de atividade física, presença de diabetes e hipertensão, entre outros”, completa.

Os pesquisadores também identificaram que aqueles que pior pontuaram no índice tinham os maiores valores de Índice de Massa Corporal (IMC) e de circunferência da cintura. O próximo passo da pesquisa é avaliar a relação dessa ferramenta com marcadores de doenças cardiovasculares.

Mais informações: e-mail lcacau@usp.br, com Leandro Cacau

FONTE: Jornal da USP

Estudo avalia se substância contida em vieiras pode combater metástase

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras investigam se um composto presente em vieiras pode ser usado no combate a metástase.

Com financiamento do Ministério da Saúde, a pesquisa conseguiu estabelecer uma cadeia de produção do molusco – parente das ostras e mexilhões – e uma unidade produtiva piloto para isolar a substância. A próxima etapa é a realização de testes pré-clínicos e clínicos para confirmar a segurança e a eficácia do medicamento proposto em animais e seres humanos.

Segundo o professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ Mauro Pavão, testes feitos em laboratório com ratos e camundongos indicaram que o composto heparán sulfato, presente na massa visceral das vieiras, tem potencial para ajudar na prevenção das metástases, processo em que as células cancerosas se espalham pelo corpo e formam novos tumores.

Pavão explica que, quando as células se desprendem do tumor inicial e circulam pela corrente sanguínea, interagem com as plaquetas, que se colam a elas, protegendo-as da ação do sistema imune. Nos testes com roedores, a substância foi capaz de inibir essa interação em casos de câncer de pele, próstata e pulmão, deixando as células cancerosas mais expostas às defesas do organismo.

A partir desses resultados, já publicados, o biólogo marinho e doutor em bioquímica, em parceria com a Uerj e o Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai Cetiqt), obteve financiamento do governo federal para estruturar toda a linha de produção que permitirá a fabricação do fármaco em quantidade necessária para a etapa de testes, da criação da vieira até o isolamento do composto em laboratório.

Pavão ressalta que, no caminho que o possível novo medicamento pode trilhar até estar disponível nas farmácias, o próximo passo são mais testes com animais e, ainda, experimentos com seres humanos, que precisam ser autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e realizados por uma instituição credenciada pela agência.

“A primeira coisa que a gente tinha que provar é que esse composto podia ser obtido de forma escalonada. Mesmo que tivesse alto valor terapêutico, se não fosse capaz de ser produzido em larga escala, de nada adiantaria. E, com esse estudo, a gente pode dizer que consegue produzir”, explica Mauro Pavão.

O pesquisador destaca que, além dos potenciais benefícios para a saúde, a comprovação da eficácia desse medicamento poderia agregar valor à produção das vieiras na aquacultura, gerando emprego e renda para famílias de comunidades costeiras. “Tem um resultado prático muito importante em um contexto tanto de sustentabilidade quanto de economia social, porque as vieiras podem ser cultivadas em fazendas marinhas por pescadores.”

Produção

Diretor da Faculdade de Oceanografia da UERJ, o oceanógrafo Marcos Bastos participa da pesquisa e acrescenta que a criação de vieiras depende de um meio ambiente preservado, já que esses moluscos precisam de água marinha de alta qualidade para se desenvolver. Bastos explica que, como a substância estudada está presente na massa visceral das vieiras, e essa parte é descartada antes do consumo desses moluscos, o cultivo visando fármacos não representa concorrência com a oferta das vieiras como alimento.

“Essa parte, que chamamos de bainha, sempre foi considerada um resíduo. Às vezes, se utilizava como ração para os peixes, mas muitas vezes era descartada”, acrescenta. “É uma oportunidade que não é só de negócio. Trabalhamos em um alimento que pode ser produzido por comunidades locais, e em um fármaco que a gente espera que pode ser muito importante para mitigar todas essas questões da metástase.”

As vieiras usadas na pesquisa são reproduzidas no Laboratório de Maricultura Sustentável da Uerj em Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, e, então, enviadas a fazendas marinhas de produtores locais para o manejo e engorda, que dura mais de um ano. Quando prontas para a comercialização, os produtores separam a massa visceral da parte comestível, e essa bainha passa por um processo de ressecamento para ser enviada ao laboratório onde o composto é isolado.

O segundo laboratório envolvido na pesquisa foi criado com o apoio do Senai Cetiqt em uma unidade modular no Parque Tecnológico da UFRJ. De acordo com o coordenador da Engenharia de Processo e Transformação Química no Instituto Senai Inovação em Biossintético e Fibras, João Bruno Valentim, a unidade produtiva foi montada em um contêiner para evitar que ficasse dentro do hospital universitário da UFRJ, onde a pesquisa teve início.

Valentim explica que a unidade modular pode ser operada por apenas duas pessoas e que, caso o medicamento tenha sua eficácia comprovada, uma das possibilidades seria instalá-la em locais próximos da produção das vieiras, o que poderia reduzir custos logísticos, já que cada quilo da bainha ressecada gera apenas 4 gramas do composto ao ser processada.

O coordenador do Senai ressalta que países desenvolvidos, principalmente os europeus, têm se engajado em explorar os oceanos de forma sustentável para gerar matérias-primas renováveis, o que é proposto na pesquisa. “Essa é uma tendência, e o Brasil tem um potencial muito grande por razões óbvias. É só olhar o tamanho da nossa costa.”

Por Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil