De acordo com Walkiria Ávila, as doenças do coração afetam mais mulheres que homens e possuem fatores agravantes como hipertensão, tabagismo e obesidade
As doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e síndrome do coração partido, são um grande desafio para a saúde feminina e mais da metade das mortes de mulheres são causadas por problemas no sistema cardiovascular. A cardiologista e coordenadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Cardiopatia, Gravidez e Aconselhamento Reprodutivo do Hospital das Clínicas da USP, Walkiria Ávila, fala sobre as causas desse problema e como evitá-lo em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
Walkiria constata que, mesmo havendo uma diminuição dessas doenças nas mulheres, elas continuam sendo a principal causa de morte e afetam menos os homens. “A mulher, de forma geral, acha que infarto é coisa de homem. Em 850 mulheres que nós perguntamos ‘Do que você acha que vai morrer?’, 60% achavam que iriam morrer de câncer de mama e somente 18% achavam que seria por doença do coração. E é exatamente o contrário”, revela. Segundo a cardiologista, somente 14% das mortes de mulheres têm como causa o câncer de mama. Isso se deve aos programas para prevenção à doença, os quais são mais escassos no que diz respeito às doenças cardiovasculares.
Sintomas diferentes
A cardiologista também alerta para as diferenças nos sintomas sentidos por homens e mulheres, fator que pode retardar a procura por profissionais da saúde e prognósticos: “Na mulher, os sintomas de infarto são minimizados. No homem, [pode haver] uma dor no peito, na mulher pode não [haver]. A mulher pode ter uma dor na mandíbula, dor nos braços e até uma dor nas costas. E isso passa como se fosse uma dor na lombar”.
Walkiria também alerta para a falta de conhecimento das mulheres sobre sua saúde. Ela informa que hipertensão, tabagismo, obesidade e depressão contribuem para acelerar essas condições e que dietas e atividades físicas são os pilares preventivos das doenças do coração e até cânceres. A cardiologista ainda fala sobre gravidez e questões hormonais: “Isso já começa na puberdade. O uso dos anticoncepcionais, quando não são formulados ou receitados de formas adequadas. A gravidez é um teste à saúde da mulher e nós temos a pré-eclâmpsia, que é a hipertensão da gestação e é a principal causa de morte obstétrica”. “A menopausa, que perde o estrógeno, o protetor cardiovascular, e as doenças começam a se somar”, completa.
A médica incentiva a realização de exames precocemente para o tratamento adequado das doenças cardiovasculares. “Isso aqui é um programa de saúde pública, inclusive trazendo o alerta a essas mulheres à prevenção, e a gente tem uma visão e uma esperança de que futuramente essas doenças tendam a diminuir no sexo feminino também”, afirma.
O uso de produtos ditos “naturais” sem indicação médica é um risco à saúde, podendo levar a óbito. As pessoas costumam entrar em uma loja de produtos naturais, manipulados ou até mesmo em farmácias para procurar o que pode ajudar a emagrecer, melhorar a pele, crescer cabelo ou minimizar sua queda sem conhecer ou saber exatamente o que está sendo consumido. A compra também é facilitada com a venda pela internet. Daniel Demarque, professor do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, lembra que aquela frase “porque é natural não faz mal” não existe. Os venenos e as plantas tóxicas também são naturais. “Quando nós consumimos os produtos ditos naturais, nós precisamos ter em mente que esses produtos não são inócuos, ou seja, ainda que naturais são produtos químicos que vão ter efeito no nosso organismo, que o nosso fígado precisa metabolizar para excretar. Não é porque ele é natural que não vai ter nenhum risco ou não vai ter nenhum efeito no nosso organismo.”
Daniel Demarque – Foto: Reprodução/Fapesp
Muita gente tem o hábito de tomar um chazinho e acaba aproveitando para tomar um remédio, mas essa é uma combinação perigosa e que deve ser evitada. “Os chás muitas vezes têm substâncias chamadas de taninos, muito comuns nos vinhos, e essas substâncias podem se complexar com os medicamentos e evitar sua absorção.”
Registro na Anvisa
Os produtos naturais, mesmo na forma de chá, de cápsula, contendo um extrato fabricado a partir de uma matéria vegetal, devem ter registro na Anvisa, não podem e não devem ser comercializados sem controle. Seu consumo só deve ser realizado com a orientação de um profissional de saúde. O professor Demarque conta que “existem fitoterápicos, medicamentos feitos a partir de plantas, que podem interagir, por exemplo, com contraceptivos. A erva de São João, ou Hypericum perforatum, é uma erva utilizada no tratamento de ansiedade e depressão que, quando utilizada com contraceptivos, diminui sua ação, permitindo que a pessoa engravide; Ginkgo biloba fitoterápico, muito utilizado para circulação venosa, auxilia também em distúrbios cognitivos, quando utilizado com anticoagulantes pode levar a quadros hemorrágicos. Esses produtos vão ter um efeito no nosso organismo, vão interagir com outros medicamentos que vamos tomar, por esse motivo é importante buscar informações com profissionais de saúde”.
O Programa Reouvir fornece aparelhos de surdez para pacientes encaminhados pelo sistema Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross). O encaminhamento acontece logo após o médico do posto constatar em exames a causa da surdez, as situações que podem agravar a perda e o diagnóstico audiológicos. A coordenadora do programa, Mara Gândara, vinculada à Divisão de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), descreve seu funcionamento em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
Com mais de 25 mil pacientes beneficiados durante dois anos, o programa de reabilitação auditiva com aparelho de amplificação sonora atende aos pacientes das unidades da rede pública. “Às vezes, os pacientes demoram para reconhecer a própria surdez, geralmente os amigos e a família que percebem, porém, é preciso identificar o mais rápido possível. Quanto maior o tempo de surdez, pior a recuperação”, ressalta Mara.
“No Hospital das Clínicas (HC), atendemos desde criança com 6 meses até idosos com 107 anos, com vários tipos de perda auditiva”, comenta a especialista. São vários os motivos para o indivíduo se tornar surdo, pode ocorrer durante a gestação, no parto, conforme a idade ou os ruídos muito altos ao longo da vida.
O funcionamento do Programa Reouvir
Mara E. Rocha Gândara – Foto: Reprodução home Mara Gândara
A professora explica que a Secretaria da Saúde faz mapeamentos e agenda esses pacientes pelo sistema Cross. Eles são encaminhados para o serviço mais próximo de sua residência. Depois, é feito o agendamento pela própria unidade de saúde e a equipe do Reouvir recebe o paciente e inicia o processo seletivo. O indivíduo que não tem tratamento clínico ou cirúrgico deverá receber o aparelho de amplificação do som individual de acordo com as especificidades de sua surdez. “Precisamos receber do médico o diagnóstico etiológico (o que causou a surdez) e audiológico (o nível de audição dele). No HC, o paciente passa pela consulta médica, depois faz uma audiometria, também há a verificação da documentação dele e a orientação sobre o que é um aparelho auditivo e como funciona.”
Após esse procedimento, a pessoa vai testar e se adaptar ao aparelho. É muito importante que tenha um apoio familiar nessa fase, pois o indivíduo não está acostumado com sons altos e fica incomodado. Esse período de adaptação é chamado de “aclimatização” e um treinamento com fonoaudiólogo auxilia nessa etapa, mas às vezes o indivíduo não tem dinheiro, o SUS banca somente o aparelho, segundo afirma Mara.
A equipe do Reouvir faz a consulta depois de dois meses após a entrega do aparelho para regulá-lo e um ano depois é realizada uma audiometria para saber o quanto o paciente está adaptado e satisfeito. Ele também volta para o médico de origem a cada quatro meses para limpeza, pois a cera obstrui e não deixa o som passar livremente. O programa também revê a regulagem para o acompanhamento e fica responsável pela troca do molde, pois há um tamanho diferente para cada idade.
No início de 2022, a internet foi dominada por postagens misteriosas de jogos que exibiam sequências de blocos verdes, amarelos e pretos. Tais publicações permitiam que os usuários de redes sociais compartilhassem sua pontuação no Wordle, jogo viral de adivinhação de palavras, sem dar um spoiler para aqueles que ainda não haviam completado o desafio diário.
Criado por Josh Wardle, o Wordle – cujo título é um trocadilho que combina o sobrenome do autor e o termo em inglês word, que significa palavra – é um quebra-cabeça on-line que propõe ao jogador descobrir uma palavra secreta de cinco letras por dia, em até seis tentativas. O sucesso do passatempo foi tanto que logo surgiram versões em português, como os jogos Term.ooo e Letreco, que funcionam da mesma maneira.
Estímulo ao cérebro
Sonia Maria Dozzi Brucki – Foto: Fapesp/Reprodução
Segundo Sonia Maria Dozzi Brucki, neurologista no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, além de oferecer uma divertida distração, jogos como o Wordle podem auxiliar na formação de novos neurônios, as células responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos cerebrais. “Qualquer tipo de atividade intelectual fará com que você crie novas sinapses”, diz a médica.
A cada partida, o jogador precisa desenvolver uma nova linha de raciocínio, o que estimula a neurogênese em áreas cerebrais diversas. Dessa forma, mesmo jogos baseados na repetição, como o próprio Wordle, que apresenta aos jogadores um mesmo desafio diariamente – a única mudança é a palavra que deve ser encontrada –, são benéficos para a amplificação das sinapses.
Outros fatores cotidianos também podem potencializar o funcionamento cerebral: Sonia indica aliar as atividades intelectuais à atividade física, social e também a uma alimentação adequada e saudável. “Uma boa alimentação é aquela que tem pouca carne vermelha e derivados lácteos, mas muitos peixes, nozes, verduras, legumes e azeites”, explica. O controle de doenças, como a diabete, hipertensão e alterações no colesterol também é um aspecto importante para a boa manutenção dos neurônios. “Além disso, é fundamental tratar a depressão, se a pessoa tiver; corrigir alterações sensoriais como distúrbios auditivos e visuais e também não fumar, porque o cigarro é deletério para a circulação sanguínea”, continua a neurologista.
Jogos aliados à saúde
Não há passatempos mais ou menos recomendados para a conservação da saúde do cérebro: a atividade deve ser escolhida com base em preferências individuais. Jogos, leitura, escuta de música, jardinagem, estudo de outras línguas e até mesmo faxinas são exercícios que podem contribuir para a vitalidade encefálica. “Uma atividade interessante, também, e que estimula o convívio social, são os jogos de cartas e de tabuleiro. Há uma infinidade enorme [de jogos do tipo]. Mas o importante é que a pessoa faça tudo com alegria, com bom humor, com felicidade, não adianta querer que alguém realize uma atividade sem ter vontade alguma”, finaliza Sonia.
No Dia Mundial de Combate à Tuberculose, 24/03, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alerta a população que a doença, quando não diagnosticada e tratada ou quando o tratamento é suspenso, pode provocar complicações em outros órgãos do corpo, entre as quais a tuberculose geniturinária, uma das consequências mais graves da tuberculose pulmonar.
O presidente da SBU, Alfredo Canalini, explicou à Agência Brasil que, no país, a porta de entrada do bacilo de Koch, causador da tuberculose, é o pulmão. Na grande maioria das vezes, a doença começa com uma infecção pulmonar que pode provocar alguns sintomas que o paciente acaba negligenciando, como febre, tosse persistente e perda de peso.
“Esse bacilo de Koch, na medida em que ele vai colonizando o pulmão, os gânglios linfáticos, ele pode chegar até a corrente sanguínea. Quando isso acontece, ele pode se alojar em diferentes partes do corpo”, disse. As consequências podem ser tuberculose óssea e tuberculose urinária. A tuberculose pode ser prevenida com a vacina BCG nos recém-nascidos.
No caso da tuberculose urinária, Canalini informou que, como o rim é um órgão extremamente vascularizado, a chance de ser acometido por essa doença é muito grande, em função da carga de sangue que recebe. A tuberculose atinge, em primeiro lugar, o tecido do rim, sem gerar, a princípio, nenhum problema para o paciente urinar.
“Só que, na medida em que a doença no rim vai crescendo, aquela bactéria vai se reproduzindo e pode começar a ser expelida através da urina. Chega ao sistema coletor, que é onde a urina produzida pelo rim vai sendo conduzida até a bexiga e, aí, os problemas urinários podem começar a acontecer”, indicou.
Quando há sintomas, podem ocorrer dor ao urinar, dor na região lombar, sangue na urina, micção frequente, infecção urinária de repetição e febre. Esses sintomas, entretanto, costumam demorar a aparecer.
Campanha
Segundo Canalini, os problemas lembram muito as queixas de uma cistite comum. Muitas vezes, o paciente pensa que é uma inflamação da bexiga comum e, inclusive, até os profissionais da atenção primária vão medicar como se fosse uma cistite e não atentam para a possibilidade de ser uma tuberculose urinária.
Caso o paciente não seja atendido por um urologista que peça os exames para detectar a tuberculose, o que pode acontecer é a doença evoluir e destruir o ureter, a bexiga e, no caso do homem, pode provocar um abcesso nos testículos.
“É uma doença que, se não for tratada da maneira adequada, pode, inclusive, provocar a morte do paciente”. O presidente da SBU lembrou que, quando a tuberculose não tinha tratamento, muitas pessoas morriam. Hoje, há tratamento.
Por isso, a campanha que a SBU está fazendo visa levar as pessoas a pensarem na possibilidade de diagnóstico em pacientes que apresentam queixas urinárias e não melhoram com os tratamentos que seriam usados em situações mais corriqueiras, como uma cistite simples.
Em segundo lugar, a finalidade é advertir a população que, no momento em que o diagnóstico da tuberculose é feito, o tratamento tem que ser realizado com uma disciplina muito rígida.
“O paciente tem que seguir as recomendações do médico. Ele não pode abandonar o tratamento no meio. Isso é uma situação com que, às vezes, a gente se depara. O paciente começa o tratamento e, ao fim do terceiro mês, decide abandonar o tratamento. Daqui a alguns anos, estará com uma tuberculose urinária”, disse.
O tratamento dura seis meses e tem que ser feito até o fim, mesmo que os sintomas tenham desaparecido. É que o fim dos sintomas não significa, necessariamente, que a doença esteja totalmente debelada. A medicação está disponível nos serviços públicos de saúde e é dada de graça. “O paciente tem que aderir ao tratamento e seguir rigorosamente as recomendações do médico”, frisou o especialista.
Infecção específica
Nas mulheres, além do aparelho urinário, a tuberculose geniturinária pode afetar trompas, endométrio e ovários, causar infertilidade, doença inflamatória pélvica, amenorreia ou aumento do fluxo menstrual.
A doença tem incidência entre 7,1% e 15% dos casos de tuberculose pulmonar. Canalini esclareceu que, na medicina, a tuberculose é chamada de infecção específica. Isso quer dizer que as reações que o bacilo de Koch causa, nenhum outro bacilo provoca.
Outro aspecto é que, na tuberculose urinária, há complicações decorrentes da infecção e, ao longo do tratamento, o paciente tem que ser acompanhado por um urologista porque o processo de cicatrização das lesões pode gerar problemas.
“A gente tem que ficar atento e acompanhar esse paciente durante todo o processo de tratamento porque, à medida que aquelas lesões vão cicatrizando, elas podem gerar uma obstrução do ureter, que é um tubo fininho que leva a urina do rim até a bexiga”, disse. Essa obstrução é desfeita por meio de cirurgia.
Ele acrescentou que o paciente só pode ser submetido a um tratamento definitivo quando a doença estiver curada e debelada. As sequelas serão tratadas depois.
Fatores de risco da tuberculose
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou, em 2019, 73.864 casos novos da doença (35 por 100 mil habitantes). Esse número caiu, em 2020, para 66.819 casos novos de tuberculose, o que corresponde a uma incidência de 31,6 casos por 100 mil habitantes. A queda pode ter sido consequência da pandemia de covid-19.
Diabetes, tabagismo e doenças que diminuem a imunidade (como Aids) podem facilitar a infecção pelo bacilo de Koch. O presidente da SBU afirmou, ainda, que o tabagismo é a principal causa de morte evitável no planeta, responsável por uma série de problemas como enfisema pulmonar, câncer de pulmão e câncer de bexiga.
Para o paciente que é tabagista, tem enfisema e adquire tuberculose, “isso é um potencializador da gravidade do problema e da insuficiência respiratória que ele pode ter”. A tuberculose é mais comum entre o sexo masculino, além de pessoas em situações vulneráveis, como profissionais de saúde, moradores de rua e indivíduos privados de liberdade.
Pessoas diagnosticadas com transtornos de personalidade possuem maior propensão a serem dependentes de álcool, especialmente em sua forma mais grave. A análise é de um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina (FMUSP) com mais de cinco mil moradores da região metropolitana de São Paulo.
Carolina Hanna de Aquino Chaim, médica psiquiátrica do IPq e uma das pesquisadoras envolvidas nas análises dos dados – Foto: Arquivo pessoal da pesquisadora
“Pessoas que sofrem com transtornos de personalidade adquirem ao longo da vida alguns padrões de comportamentos disfuncionais (pensamentos, percepções, reações) que acabam interferindo em suas relações com a vida e com o outro, trazendo-lhes muito sofrimento”, explica ao Jornal da USP Carolina Hanna de Aquino Chaim, médica psiquiátrica do IPq e uma das pesquisadoras envolvidas nas análises dos dados.
O transtorno envolve a presença de variados sintomas comportamentais patológicos, como instabilidade emocional, tendência a relacionamentos interpessoais complicados, excentricidade, necessidade de chamar atenção, dificuldade em ter empatia e seguir condutas sociais, relata o estudo.
“A compreensão de fatores comportamentais associados ao consumo e à dependência do álcool contribui para direcionar abordagens terapêuticas e traçar estratégias mais específicas de prevenção e intervenção direcionadas para essa população”
Os dados estão no artigo Alcohol use patterns and disorders among individuals with personality disorders in the Sao Paulo Metropolitan Area, publicado em março na revista científica PLOS ONE, a partir da pesquisa de amostragem sobre saúde mental na região metropolitana de São Paulo, feita entre 2005 e 2007, por um grupo de instituições nacionais e estrangeiras, em uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o levantamento foi coordenado pela professora Laura Helena Silveira Guerra de Andrade, orientadora de Carolina Hanna e uma das autoras do artigo.
A médica psiquiátrica diz que “a compreensão de fatores comportamentais associados ao consumo e à dependência do álcool contribui para direcionar abordagens terapêuticas e traçar estratégias mais específicas de prevenção e intervenção direcionadas para essa população”. Ela diz que “a existência de uma ou mais doenças adicionais pode complicar os sintomas e atrasar o diagnóstico, além de interferir no prognóstico e tratamento dos pacientes”.
Segundo Carolina, é importante ressaltar que, apesar da dependência do álcool ser mais comumente presente em pessoas com algum transtorno mental prévio, todo indivíduo pode desenvolver a dependência se o consumo começar a ser prioritário e gerar problemas de saúde mental ou física, ou de relacionamentos.
Muitos estudos mostram que não existe um nível seguro de consumo de álcool e este deve ter evitado especialmente em populações de risco, como crianças e adolescentes, grávidas, ou pessoas com outras doenças clínicas e/ou psiquiátricas que possam ter a evolução agravada pelo álcool.
Afetividade negativa
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) e o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), os sintomas dessa patologia estão subdivididos em três grupos, “clusters A, B e C” (veja quadro abaixo). As pessoas cujos sintomas fazem parte do cluster B foram as que mais pontuaram (70%) na pesquisa para dependência ou abuso de álcool, relata o artigo.
Segundo Carolina, “a afetividade negativa é um solo fértil para dependências de drogas e jogos”, exemplifica. “Quem sofre com esse problema tem uma tendência em beber na busca de um prazer imediato e para fugir/compensar o vazio. Passado o efeito da substância, o desconforto persiste e a pessoa recai no afeto negativo, o que a leva a buscar novamente a intoxicação”, diz.
Classificação de Transtornos de Personalidades de acordo com DSM-5 – Clusters A, B e C
CLUSTER A
CLUSTER B
CLUSTER C
Transtorno de personalidade paranoica
Transtorno de personalidade antissocial
Transtorno de personalidade esquiva
Transtorno de personalidade esquizoide
Transtorno de personalidade limítrofe
Transtorno de personalidade dependente
Transtorno de personalidade esquizotípica
Transtorno de personalidade histriônica
Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva
Transtorno de personalidade narcisista
Resultados
Analisando os dados, a maior prevalência encontrada para ambos os transtornos (de personalidade e de abuso de álcool) foi para o cluster B (36,3%), quando comparado com os clusters A (32,7%) e C (23,6%). Quando se avaliou “padrões e transtornos do uso de álcool entre indivíduos com transtornos de personalidade”, os resultados apresentados para os que relataram uso de álcool em anos anteriores foram: 72,4% dos entrevistados eram do cluster B; 64,9%, do cluster A; e 48%, do cluster C.
Quando questionados sobre regularidade do consumo de bebida alcóolica, 89,2% era do cluster B, sendo que, destes, 36,3% apresentaram “padrão de beber pesado e com frequência”. Já os do cluster A pontuaram em 80,4% para regularidade e 32,7% para beber pesado e com frequência; e os do cluster C, 79,3%, para regularidade e 23,6% para o beber pesado frequentemente.
Resultado semelhante aconteceu quando foi perguntado aos entrevistados sobre o “padrão de consumo de bebida alcoólica”, considerando como categorias o “uso frequente” e “beber pesado”. Neste quesito, as pessoas do cluster B também tiveram pontuação mais elevada para o “beber pesado” (37,1%), o que corresponde a mais de cinco doses por ocasião; o cluster A ficou com 19,5%, e o C, com 22,4%.
Métricas para diagnóstico de abusos de álcool
Carolina explica que a métrica usada para diagnóstico de transtornos por uso de álcool é baseada na quantidade de problemas relacionados (ao todo são 11), considerando ainda as categorias “leve”, “moderado” e “grave”, conforme o número de problemas apresentados nos últimos 12 meses. “Leve”, quando há a presença de dois a três problemas relacionados; “moderado”, de quatro a cinco; e “grave”, com seis ou mais.Entre os 11 critérios ou problemas relacionados estão: se o álcool é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido; se há fissura e/ou desejo intenso de consumir álcool; se o uso da bebida continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico que pode ser exacerbado pelo seu uso; se muito tempo é gasto em atividades necessárias para obtenção do álcool, dentre outros.
Já a métrica para o “beber pesado” considera a ingestão de quatro a cinco doses de álcool numa mesma ocasião, sendo que cada dose teria que ter o volume de etanol contido em uma cerveja (330 mililitros – ml) ou de uma taça de vinho, de 100 a 120 ml, ou de 40 a 50 ml de bebidas destiladas.
Mais informações: e-mail carolina.hanna@usp.br, com Carolina Hanna de Aquino Chaim
Cerca de 745 mil mortes por ano são atribuídas a jornadas de trabalho iguais ou superiores a 55 horas semanais, que afetam 8,9% da população mundial
De 2000 a 2016, estimativa conjunta entre Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) avaliou pela primeira vez a relação entre doenças sistêmicas do coração com a duração de jornadas de trabalho em todo o globo. Os dados mostram que jornadas de trabalho iguais ou superiores a 55 horas semanais, quando comparadas a jornadas de 35 a 40 horas semanais, aumentam em 35% o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, e em 17% o risco de desenvolvimento de doença isquêmica do coração, doenças que levam à perda da vida e da capacidade no trabalho.
Em 2016, 745.194 mortes/ano foram atribuídas a essa condição de trabalho excessiva, que abrange 8,9% da população mundial (488 milhões de pessoas), um aumento de 29% em relação há 16 anos. Segundo a professora Frida Marina Fischer, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, que foi membro do grupo técnico consultivo do estudo, com a atual pandemia há uma tendência ao aumento da duração da jornada de trabalho e à precarização das condições de trabalho, cenário ainda mais preocupante nos próximos anos.
O estudo avaliou a exposição a longas horas de trabalho em 194 países e as taxas de doenças cardíacas e neurovasculares em 183, relacionada a dados de 2.324 pesquisas transversais e 1.742 conjuntos de dados por revisões sistemáticas e metanálises. Os dados foram organizados em idade, sexo, região e em grupos de duração de jornada (até 48 horas; de 49 a 54 horas; e igual ou superior a 55 horas), entre os anos de 2000, 2010 e 2016. Em 2016, 398 mil pessoas tiveram mortes relacionadas ao AVC e 347 mil a doenças cardíacas, aumento de 19% e 42%, respectivamente. O fator de risco compartilhado por essas pessoas era a exposição a jornadas de trabalho iguais ou superiores a 55 horas por semana, 11 horas por dia, sem contar os finais de semana. Esses e outros resultados foram publicados em 17 de maio deste ano, na revista científicaEnvironment International.
Qual o futuro do trabalho?
Excesso de trabalho – Foto: GraphicMama,Joseph Mucira Pixabay/Fotomontagem Jornal da USP
O artigo nos leva a questionar o futuro do trabalho. Para a pesquisadora, o presente se mostra triste e preocupante e o futuro, incerto. De acordo com ela, países que estavam seguindo as recomendações da OMS de diminuição das jornadas de trabalho voltaram a apresentar seu aumento. As populações mais atingidas pela carga de trabalho elevada são as situadas principalmente no Pacífico Ocidental e Sudeste Asiático, onde 11,7% das pessoas trabalham mais de 55 horas de trabalho por semana. A região com menor número foi a Europa, com 3,5%. “Em geral, quanto menos regulamentado o trabalho, maior o risco oferecido à população”, completa.
Para os cientistas, outra preocupação, além das mortes e desenvolvimento de doenças incapacitantes, está nos chamados “agentes mediadores”, que são ligados a pesquisas anteriores que sugerem o estresse psicossocial associado à maior mortalidade dessas doenças. Eles estão associados às respostas biológicas, tais como a liberação excessiva de hormônios ligados ao estresse e a disfunção do sistema cardiovascular e comportamentos em função do estresse (por exemplo, o excesso na ingestão de álcool, o consumo de tabaco, sedentarismo, nutrição inadequada, a perturbação de sono, entre outros). “Esses mediadores vão agravar uma situação degradada de saúde potencialmente iniciada pelas longas jornadas de trabalho”, completa.
Segundo a pesquisadora, esse aumento acompanha o crescimento do trabalho informal e orientado pelas plataformas digitais, dinâmica chamada de uberização do trabalho. No Brasil, o futuro do trabalho na pandemia covid-19 reflete o cenário de desemprego de 14,7%, onde o mercado de trabalho é mais exigente, competitivo e mal remunera os empregados. Está inserido nos serviços mediados por aplicativos e abalado pela pandemia do covid-19, o que configura, para a pesquisadora, uma condição prejudicial ao País e à população. Porém, ela destaca que até mesmo condições de trabalho consideradas melhores, com maior garantia de direitos e autonomia, estão sujeitas à exposição do trabalhador a riscos de saúde. “Exemplos que podemos citar são os profissionais da saúde e professores, inclusive os universitários, que trabalham excessivo número de horas por semana.”
Os homens, entre 30-49 anos representam a população mais exposta às longas jornadas; e entre 60 a 74 anos, os que têm maior número e taxas de mortes por 100.000 habitantes por doença isquêmica do coração e acidente vascular cerebral. Entretanto, Frida Fischer destaca a dupla jornada de trabalho vivida por muitas mulheres que, além das atividades profissionais, são responsáveis pelos cuidados domiciliares, como cozinhar, limpar a casa e cuidar de crianças. Com a ampliação do teletrabalho, ou home office, devido à pandemia, tanto para homens quanto para mulheres, teme-se que as horas de trabalho aumentam em decorrência da dificuldade de conciliar tarefas domésticas e profissionais “Eu vejo nesse artigo um importante alerta, que chama atenção e diz: trabalhar muitas horas por semana faz mal à saúde”, afirma a pesquisadora.
Das cerca de 745 mil mortes atribuídas ao trabalho em excesso, em 2016, 3,7% eram por doença isquêmica do coração e 6,9% por Acidente Vascular Cerebral. Quando se fala em anos de vida perdidos por incapacidade física e mental no trabalho, 5,3% são decorrentes de doença isquêmica do coração e 9,3% de derrame, aproximadamente 23,3 milhões em anos perdidos. Esses dados foram obtidos por análises de 37 estudos sobre doenças cardíacas isquêmicas, com 768 mil participantes, 22 sobre AVC (839 mil participantes). “Qual o custo disso em vidas? Qual o custo para um país em termos de recursos humanos e Previdência social?”, questiona Frida.
Mais informações: e-mails fmfische@usp.br, com Frida Marina Fischer, e pegaf@who.int, com Frank Pega
Comemorado dia 18 de março, o Dia Mundial do Sono é uma oportunidade para refletir sobre a importância de uma boa e tranquila noite de sono para a saúde física e mental. No entanto, hábitos aparentemente inofensivos do cotidiano, como mexer no celular ou ver televisão na hora de dormir, contribuem para roubar preciosas horas de sono e prejudicar a saúde.
Para a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (Aborl-CCF), a data serve de alerta sobre a necessidade do sono saudável para garantir qualidade de vida. A associação lembra que a falta do sono pode interferir nas taxas de mortalidade e contribuir para o aumento da prevalência de doenças como hipertensão, diabetes, obesidade, síndrome metabólica, ansiedade, depressão, síndromes metabólicas.
“O sono é parte integrante do nosso processo fisiológico. Precisamos dormir para reparar a energia gasta em um dia todo de trabalho, para consolidar nossa memória”, disse à Agência Brasil o coordenador do Departamento de Medicina do Sono da entidade, Danilo Sguillar.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Sono, a população está dormindo menos nos últimos anos. Em 2018, a média foi de 6 horas e 36 minutos, e, em 2019, caiu para 6 horas e 24 minutos.
Sguillar lembra que ronco e insônia também são indicativos de problemas no sono que podem prejudicar a saúde da pessoa. O especialista destaca ainda a apneia obstrutiva do sono, caracterizada pela obstrução completa ou parcial do fluxo de ar nas vias respiratórias, enquanto a pessoa dorme.
Quando isso acontece, a pessoa pode roncar alto ou causar ruídos sufocantes enquanto tenta respirar, uma vez que o corpo está privado de oxigênio. Se não for tratada, a apneia obstrutiva do sono é fator de alto risco para o aparecimento de problemas como hipertensão arterial, doenças cardíacas e diabetes tipo 2, entre outras.
“Quem ronca e tem apneia não descansa o quanto deveria, não tem um sono reparador e tende a ficar sonolento durante o dia, ter dificuldade de concentração, irritabilidade e prejuízo na memória, o que afeta o rendimento profissional. Dependendo da gravidade do problema, essa má qualidade do sono pode acarretar hipertensão arterial, diabetes e obesidade, além de depressão, ansiedade e maior risco para acidentes, ou seja, a doença não tratada diminui a expectativa de vida”, esclarece o médico otorrinolaringologista.
Em razão disso, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial lançou uma campanha, com camisas, cartazes e postagens em redes sociais. O tema da campanha, Ronco Não É Piada, visa conscientizar a sociedade de que esse distúrbio precisa ser levado a sério.
“Estamos com uma campanha com o tema ronco, porque ronco é um sintoma muito frequente que ocorre na maioria dos lares e, muitas vezes, é tido como chacota, como brincadeira. Muitos se esquecem de que, por trás do ronco, existe uma importante patologia que é a apneia obstrutiva do sono”, alertou Sguillar.
Um estudo publicado em 2018 na revista científica The Lancet estimou que mais de 936 milhões de pessoas têm apneia obstrutiva do sono no mundo. O número é quase 10 vezes maior do que a estimativa da Organização Mundial da Saúde em 2007, de mais de 100 milhões de pessoas com a doença.
Prevalência
O distúrbio é mais frequente entre pessoas do sexo masculino, a partir dos 50 anos de idade, com obesidade e alterações faciais, como o queixo mais recuado, língua volumosa, amígdalas aumentadas e desvios de septo nasal.
Um passo importante para quem tem contato alguém que ronca, principalmente quando o barulho é alto, estridente ou interrompido por pausas na respiração, é alertar e aconselhar a pessoa a procurar um especialista para verificar possíveis problemas, diz Sguillar. “Quem está vendo a pessoa dormir e roncar tem que fazer o alerta para que ela vá procurar ajuda médica.”
Criado pela World Sleep Foundation, o Dia Mundial do Sono, é lembrado como oportunidade para celebrar a importância do sono e chamar a atenção global de problemas de saúde que tenham relação direta com o sono, desde a saúde até aspectos sociais ou educacionais.
A data é móvel e ocorre sempre na última sexta-feira antes do equinócio de outono, para o Hemisfério Sul, e o de primavera para o Hemisfério Norte.
As dicas da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial para ajudar as pessoas a dormir melhor e ter sono de qualidade são:
● Fazer atividade física regular.
● Ter alimentação adequada, com comidas leves no jantar, para ter uma noite de sono mais tranquila e sem interrupções.
● Não consumir alimentos à base de cafeína, como chá preto, café e refrigerante à base de cola.
● Evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
● Não fumar.
● Perder peso, no caso de pacientes com obesidade.
● Adotar práticas de higiene do sono, como evitar telas durante a noite. Celulares, tablets e televisores devem ser desligados pelo menos uma hora antes de se deitar.
● Ler fora da cama, pois ajuda a embalar o sono.
● Dormir no quarto escuro.
● Praticar meditação pode facilitar a preparação para o sono.
Por Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil – Brasília
O conceito de saúde, além de abranger o bem-estar físico e social do indivíduo, não prescinde da saúde mental. O tratamento para quem sofre de transtornos mentais, sejam quais forem, requer mais do que a prescrição de medicamentos, pois é imprescindível oferecer um cuidado especializado, proporcionando ao paciente acolhimento, atenção, valorizando-o como um ser merecedor de boa qualidade de vida. Nesse cuidado, quem acompanha mais de perto a pessoa internada em hospital é o profissional de enfermagem. A profundidade emocional do cuidado de enfermagem vai além do corpo, “o cuidado deve oferecer uma perspectiva holística e ir além da visão reducionista à doença”.
Um artigo da SMAD – Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas traz uma análise “sobre a realização de um treinamento em saúde mental com a utilização de metodologias ativas”, baseada no trabalho de cinco enfermeiras em um hospital geral de grande porte em leitos psiquiátricos.
A pesquisa com o pessoal de enfermagem contou com a realização de treinamento a partir de metodologias ativas, “com foco na aprendizagem baseada em problemas e problematização” e na avaliação desse treinamento. As autoras do artigo apontam a necessidade da formação de profissionais que inclua o cuidado humanizado ao paciente, com foco nas necessidades emocionais ou subjetivas e no estabelecimento de um vínculo de confiança entre enfermeiras(os) e doentes.
Metodologias ativas envolvem métodos de desenvolvimento e de estímulo de ações provenientes do pensamento crítico e reflexivo que podem auxiliar os profissionais de enfermagem a proporcionar melhoras significativas aos portadores de transtornos mentais. Essas novas metodologias se fundamentam em duas perspectivas: a aprendizagem baseada em problemas, procurando despertar “uma atitude ativa do aluno em busca do conhecimento”, e a problematização, em que os problemas são identificados pelo aluno(a)/enfermeiro(a) na prática da “ação – reflexão – ação”, ambas dedicadas a questões da realidade. Em relação à avaliação da reação ou da satisfação das metodologias, a pesquisa mostrou o resultado favorável do treinamento, comprovado o progresso “na assistência de enfermagem em saúde mental”.
A adoção de metodologias ativas revelou-se como processos vitais para a conquista de conhecimento em saúde mental, já que possibilitou a criação de recursos de comunicação e desenvolvimento do raciocínio crítico, “minimizando, assim, as dificuldades e tornando o profissional mais preparado para lidar com certas circunstâncias”. Observa-se também que o treinamento gerou transformações expressivas de comportamento dos profissionais, propiciando novos rumos em relação ao processo do cuidado, “tornando-se mais humanizado e integralizado”. Essa realização do processo educativo ligado à Educação Permanente em Saúde (EPS) difere muito do método tradicional. Neste último, os pacientes psiquiátricos são apáticos, e a EPS, ao contrário, viabiliza a participação ativa daqueles na tomada de decisões, junto das enfermeiras(os).
As autoras declaram a importância do olhar do profissional de enfermagem para com os doentes, ouvindo suas dores, aflições e conflitos, sem julgamentos ou preconceitos, destacando a relação necessária entre as enfermeiras(os) e os familiares de quem está hospitalizado, pois a equipe de enfermagem precisa “incentivar e integrar a participação da família no tratamento e reabilitação de pacientes com transtornos mentais”.
Finalizando, ressalta-se que o estudo favoreceu a elaboração de conhecimento no campo da saúde mental com o novo treinamento das metodologias ativas para pessoas com distúrbios mentais, ancorado tanto nas habilidades e novas atitudes adquiridas pelos profissionais de enfermagem quanto na “capacidade crítica no exercício cotidiano do trabalho nos hospitais psiquiátricos”.
Artigo
MACHADO, M. G. de O.; SAMPAIO, C. L. Treinamento em transtornos mentais comuns na enfermaria: uso de metodologias ativas na construção do cuidado. SMAD – Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas (Edição em português), São Paulo, v. 17, n. 1, p. 75-83, 2021. ISSN: 1806-6976. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2021.168134. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/smad/article/view/168134. Acesso em: 09 jun. 2021.
Contatos
Marília Girão de Oliveira Machado – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza (CE). E-mail mariliagirao05@hotmail.com
Cynthia Lima Sampaio – Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza (CE).
Hábitos saudáveis, exercícios físicos e controle do peso podem prevenir a incontinência urinária – sintoma caracterizado pela perda involuntária da urina, problema que acomete cerca de 20 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
De acordo com o doutor em urologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor da SBU, Carlos Sacomani, a incontinência, quando moderada ou grave, pode afetar a vida sexual, profissional e o convívio pessoal do paciente. “Em termos de comprometimento da qualidade de vida, pode ser bastante importante se a intensidade for de moderada a grave”, destaca.
Segundo o médico, quando ocorre em mulheres, as causas principais estão ligadas ao esforço, em pacientes que sofreram um enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico. “Quando elas tossem, espirram ou fazem esforço físico, alguma atividade física, escapa urina”, explica. De acordo com ele, a musculatura do assoalho pélvico pode ser sobrecarregada em caso de mulheres com muitos partos, gravidez de gêmeos ou de crianças muito pesadas.
As pacientes também podem ter incontinência devido a um quadro de bexiga hiperativa, explica o médico, quadro que pode ser acentuado pelo consumo de café e chá preto. “São mulheres que têm alteração na bexiga, elas têm vontade de urinar e se elas não forem rapidamente ao banheiro, perdem urina”.
Nos homens, o quadro de bexiga hiperativa ocorre também, mas é mais comum nos pacientes idosos. A incontinência urinária ainda ocorre em homens como sintoma secundário à cirurgia de próstata. “Há pacientes que fizeram cirurgia de próstata, principalmente por câncer, e que evoluem com perda urinária depois da cirurgia. A causa é a própria cirurgia”, ressalta Sacomani.
O tratamento da incontinência pode começar pela mudança do estilo de vida e fisioterapia do assoalho pélvico. Nos casos de bexiga hiperativa, há a possibilidade da utilização de medicamentos e até o implante de um marca-passo da bexiga. Nos pacientes com perda de urina associada ao esforço, pode-se também fazer o tratamento cirúrgico.
A prevenção passa por hábitos saudáveis, segundo o médico. “São aqueles hábitos de sempre, entre eles praticar atividade física adequada e evitar obesidade, que está diretamente relacionada à incontinência urinária – quanto maior o sobrepeso, maior a chance de incontinência urinária”.