24 de junho, Dia Mundial de Prevenção de Quedas

Hoje (24/06) é o Dia Mundial de Prevenção de Quedas e o assunto será discutido no Hospital Universitário (HU) da USP. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Maria Elisa Pimentel Piemonte, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina (FMUSP), informa que fraturas decorrentes de quedas são responsáveis por 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos.

Maria Elisa alerta que um indivíduo com fratura pode ficar acamado e, em função da imobilidade, passar a sofrer complicações renais e respiratórias que podem levar a óbito. Ela também informa sobre as consequências psicológicas acarretadas pela primeira queda: “Se é uma queda com injúria ou mesmo uma queda, por exemplo, num ambiente público, em que a pessoa se sinta muito constrangida, ela desencadeia o que se chama Síndrome do Medo de Cair. A pessoa começa a se autorrestringir por causa do medo de cair”.

Possíveis riscos

Segundo a professora, os riscos de queda são divididos conforme a funcionalidade do idoso. Os idosos saudáveis, normalmente, caem por problema ambientais, como irregularidades no piso e tapetes escorregadios. Mas também há outras condições, como fraqueza muscular, tontura, vertigem e uso de vários fármacos. “Sedativos, ansiolíticos e remédios para dormir, tudo isso aumenta o risco de queda. E a gente não pode esquecer também que, ao lado do declínio físico, há o declínio cognitivo”, reitera Maria Elisa. Ela completa: ”Por exemplo, a atenção está relacionada com o aumento de risco de queda, e um estudo mostra que testes cognitivos podem prever o risco até cinco anos antes da primeira queda”.

A especialista ainda fala sobre a influência do sexo nessa questão. De acordo com ela, mulheres caem mais que homens, devido às alterações hormonais da menopausa. Assim, pessoas do sexo feminino possuem um declínio mais abrupto no sistema motor.

Prevenção 

Ao contrário do senso comum, idosos com escadas em casa caem menos que aqueles que não as têm, pois as escadas auxiliam no exercício diário e no fortalecimento dos músculos nos idosos que as utilizam regularmente. Como a fraqueza muscular em função da idade afeta o equilíbrio e ocasiona quedas, exercícios físicos são uma forma de preveni-las.

A indicação da professora são exercícios variados, os quais combinam força, elasticidade, coordenação e equilíbrio. Ela reforça que as atividades precisam ser de longa duração: “Não é uma coisa para curto prazo. Não adianta esperar que você vai começar a fazer esse exercício e daqui um mês vai notar efeito. Tem que descobrir alguma coisa que você faça com prazer para que isso perdure bastante”.

No Dia Mundial de Prevenção de Quedas, às 9h, o anfiteatro do HU avaliará o risco de queda em pacientes de toda a comunidade. Serão dois testes motores rápidos para que qualquer pessoa possa identificar seu risco. Para saber mais, acesse www.hu.usp.br.

FONTE: Jornal da USP

Risco de queda: mulheres com obesidade mórbida têm menos sensibilidade na sola dos pés e déficit de equilíbrio

Pessoas com obesidade têm uma pressão mais alta aplicada aos pés, com potenciais prejuízos para a sensibilidade nas solas e, consequentemente, para o equilíbrio. Uma pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP avaliou mulheres com obesidade mórbida e indicou que, de fato, elas tinham diminuída a sensibilidade tátil em diferentes regiões das solas dos pés, afetando assim a postura estável do corpo. Essa condição está associada a riscos de quedas, à falta de autonomia e limitações para realização de tarefas diárias.

No estudo, os pesquisadores identificaram algumas regiões dos pés que sofrem mais deterioração sensorial do que outras e que esta condição está associada à obesidade extrema. Os cientistas avaliaram a sensibilidade das solas dos pés de 26 mulheres, sendo metade com obesidade mórbida (índice de massa corpórea – IMC – acima de 40 kg/m2) e a outra metade com peso considerado saudável (IMC entre 18,5 e 24,9). O índice de massa corporal é determinado pela divisão do peso da pessoa pela sua altura ao quadrado. As participantes foram selecionadas na fila de espera para cirurgia bariátrica, no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Dos nove pontos avaliados, o maior déficit de sensibilidade encontrado entre os dois grupos foi de 76%, sob o arco lateral do mediopé (ponto 7 da figura abaixo).

Regiões da sola dos pés com mais e menos sensibilidade

Foto cedida pelo pesquisador

 

Os resultados da pesquisa foram descritos no artigo Associations Between Women’s Obesity Status and Diminished Cutaneous Sensibility Across Foot Sole Regions, publicado em fevereiro de 2021. O trabalho faz parte da dissertação de mestrado de Jair Wesley Ferreira Bueno, com orientação do professor e pesquisador da EEFE, Luis Augusto Teixeira.

O pé humano é composto de três arcos plantares: dois arcos longitudinais (medial e lateral) e um arco transversal anterior, estruturas que contribuem para uma melhor estabilidade do corpo. Os arcos possuem funções essenciais de biomecânica e o de impulsionar o corpo para frente em tarefas de movimento. Como uma mola, também suportam o peso e absorvem o choque que é produzido na locomoção cotidiana como caminhar e correr.

“O mapeamento detalhado das regiões da sola dos pés mais comprometidas do ponto de vista de sensibilidade ratifica estudos anteriores que mostravam que pessoas obesas possuem mais pressão sob os pés e têm dificuldades em manter o equilíbrio postural”, explica ao Jornal da USP o autor da pesquisa, Ferreira Bueno. E justamente onde os pés sofrem mais pressão é que foram detectados os baixos índices de sensibilidade, completa.

Mecanorreceptores

Para que ocorra uma postura estável do corpo, explica Bueno, é necessário que haja interação do sistema neural e musculoesquelético, incluindo relações biomecânicas. E uma das hipóteses levantadas pelo estudo e que levaria à instabilidade corporal em pessoas obesas está relacionada aos mecanorreceptores (receptores plantares) das solas dos pés. Eles têm a função de levar ao sistema nervoso central informações sobre a interação da região plantar e a superfície de contato dos pés.

Pessoas obesas sofrem maiores pressões sob os pés (o contato plantar) para a realização de tarefas cotidianas e apresentam menores níveis de sensibilidade tátil. “Informações sensoriais do mecanismo de receptores da pele podem ser afetadas pelo aumento prolongado da pressão nas solas dos pés provocado pela obesidade”, relata Bueno.

O estudo fez um mapa detalhado das regiões de maior e menor déficit de sensibilidade na sola dos pés de mulheres obesas, incluindo dedos, cabeças dos metatarsos, arcos interno e lateral do mediopé e calcanhar, usando um instrumento que mede o nível de sensibilidade da pele denominado monofilamentos de Semmes-Weinstein.

Foto cedida pelo pesquisador

Os resultados observados nas comparações intergrupos por região das solas dos pés indicaram menor sensibilidade para o grupo que tinha obesidade mórbida sobre as cabeças do quinto e terceiro metatarsos (pontos 4 e 5 da figura), arcos lateral (ponto 7 da figura) e interno (ponto 8 da figura) do mediopé e calcanhar (ponto 9 da figura).

A menor diferença entre os grupos obesas e não obesas foi observada no hálux/dedão, 18% (ponto 3 da figura), e a maior diferença foi sob o arco lateral do mediopé, 76% (ponto 7 da figura). Segundo o estudo, uma deterioração sensorial acima de 50% em várias regiões da superfície plantar pode ter implicações funcionais para a pessoa e afetar sua capacidade de manter o equilíbrio corporal estável.

Segundo o professor Teixeira, a relação entre a sensibilidade de diferentes regiões do pé e alterações no controle postural de pessoas com obesidade mórbida representava uma lacuna na literatura.

“O achado mais importante foi a identificação de algumas regiões dos pés que sofrem mais deterioração sensorial do que outras e que esta condição está associada à obesidade extrema.”

Os pesquisadores explicam que a amostra envolveu apenas mulheres, no entanto, um perfil semelhante de pressão mecânica nas regiões da sola do pé quando em pé foi observado entre homens e mulheres, sugerindo que as conclusões podem se aplicar a ambos os sexos.

“Embora não seja um ponto avaliado no estudo,  a falta de sensibilidade nas solas dos pés é reversível desde que haja redução de peso, revertendo também os déficits de equilíbrio”, diz Teixeira. “Esse é um efeito que tem sido mostrado em estudos, indicando que a redução acentuada de peso corporal, por diferentes procedimentos, leva ao restabelecimento tanto da sensibilidade tátil das solas dos pés quando da estabilidade do equilíbrio em postura ereta quieta”, completa.

Mais informações: com o professor Luis Augusto Teixeira (orientador da pesquisa), e-mail lateixei@usp.br, e com Jair Wesley Ferreira Bueno (autor da pesquisa), e-mail jwesleybueno@usp.br

Crescimento da obesidade mórbida no Brasil

O número de brasileiros com idade entre 25 e 44 anos classificados com obesidade mórbida passou de 0,9% para 2,1% entre 2006 e 2017, de acordo com estudo de pesquisadores da UFMG.

A obesidade mórbida é uma condição mais prevalente em mulheres e adultos de menor escolaridade. Mas, de acordo com a pesquisa, o aumento ocorreu em todos os gêneros, níveis de escolaridade e regiões do Brasil. O maior aumento foi verificado em mulheres que vivem nas capitais Belo Horizonte, Campo Grande, Rio de Janeiro e Teresina.

Além de estar associado a doenças crônicas (hipertensão, acidente vascular cerebral, diabete e elevação dos triglicerídeos), o excesso de peso afeta o equilíbrio postural, que é a falta de capacidade de manter o centro de massa corporal dentro dos limites de base de apoio (os pés).

Texto: Ivanir Ferreira
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Pesquisadores do Elsa-Brasil vão estudar a relação entre equilíbrio e audição

A quarta onda do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) vai continuar com as avaliações por audiometria tonal, além de avaliar também as alterações de equilíbrio que podem estar relacionadas com quedas entre os idosos.

Envelhecimento, exposição a ruídos e doenças crônicas são alguns dos fatores que podem contribuir para perdas auditivas. Tentando entender quais desses fatores realmente têm um impacto na audição e de que forma isso acontece, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) acompanham, desde 2009, voluntários do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

O Elsa-Brasil é um estudo de cunho epidemiológico que investiga na população brasileira a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares (acidente vascular cerebral, hipertensão, arteriosclerose, infarto, entre outras) e algumas doenças associadas. Os participantes da pesquisa, cerca de 15 mil pessoas de várias regiões do País, com idade entre 35 e 74 anos, serão novamente convocados em agosto para entrevistas e exames que identifiquem uma possível evolução dos fatores de risco para estas doenças – que são consideradas a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

“Estudos longitudinais da audição no Brasil não são feitos. Então, este é um estudo inédito e grande e temos vários parâmetros acompanhados no estudo Elsa, o que nos ajuda a fazer as análises”, conta ao Jornal da USP a professora Alessandra Samelli, líder do estudo relacionado à audição.

As avaliações já relacionam a perda auditiva a fatores como envelhecimento, doenças crônicas e declínio cognitivo. Agora, na quarta onda do estudo Elsa, em agosto, os pesquisadores vão estudar a relação entre alterações auditivas e equilíbrio.

“Sabemos que a cóclea, que faz parte do sistema auditivo, está ao lado do aparelho vestibular, que é um dos responsáveis pelo equilíbrio”, explica Alessandra sobre essa nova avaliação.

Com o envelhecimento, diversos sistemas são afetados e, para o equilíbrio ocorrer, há dependência de parte desses sistemas, como o vestibular e o visual. A análise da relação entre a audição e o equilíbrio pode ajudar a identificar se há uma associação entre esses fatores e descobrir possíveis falhas no equilíbrio do idoso, prevenindo possíveis acidentes. “Um problema muito grande nos idosos são as quedas e entender essa relação pode ser uma forma de evitá-las”, complementa.

Metodologias, resultados e expectativas

Para analisar a audição dos voluntários, é feito o exame de audiometria tonal. Nesse exame, as pessoas ficam em cabines acústicas isoladas e escutam sons de diferentes frequências. Assim, é possível identificar qual é o limiar auditivo de cada um — nível mínimo de pressão acústica necessário para provocar uma sensação auditiva. A partir disso, identifica-se o grau da perda auditiva e o seu tipo.

Também é feita uma anamnese padrão a fim de entender históricos de saúde e ocupacionais de cada participante e analisar possíveis influências nas alterações auditivas. O trabalho de uma pessoa, por exemplo, em um ambiente com ruídos, pode afetar a audição. Para entender outras influências, ainda são utilizados os resultados de pesquisas realizadas nas outras áreas do estudo Elsa-Brasil.

Foto: Reprodução/PxHere

Ao longo desses anos, não é possível afirmar definitivamente se a relação entre doenças crônicas e perdas auditivas existe, mas já se concluiu que o envelhecimento contribui para a perda auditiva. “O que a gente consegue dizer é que o efeito da idade sobre a audição é o mais evidente; por isso precisamos fazer esse acompanhamento audiológico durante o envelhecimento e fazer a intervenção o mais rapidamente possível”, diz a professora Alessandra.

A intervenção pode evitar possíveis consequências da perda auditiva, como declínio cognitivo, isolamento social e depressão. A expectativa com a nova onda é que a triagem do equilíbrio ajude a evitar outras consequências, como as quedas entre os idosos.

Veja, neste link, outras pesquisas realizadas pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Autora: Bianca Camatta
Arte: Adrielly Kilryann e Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP