Chocolate com alto teor de cacau contribui no estado nutricional e conforto de idosos com câncer

Ao apontar associação entre o consumo do alimento e a melhora do estado nutricional, estudo destaca o papel da assistência nutricional – respeitando as preferências pessoais – para pacientes com câncer em cuidados paliativos.

Considerado um dos doces mais queridos em todo o mundo, o chocolate também pode oferecer benefícios para a saúde, especialmente para idosos com câncer em cuidados paliativos, ou seja, sem possibilidade de cura. É o que aponta um estudo de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP que sugere que o consumo de chocolate com maior teor de cacau pode contribuir para a melhora do estado nutricional, da funcionalidade e a diminuição de sintomas nesses pacientes.

“Nós queríamos fazer um trabalho de pesquisa que fosse útil para o público-alvo, promovendo melhora nos problemas nutricionais, conforto e prazer. Foi assim que pensamos em estudar o chocolate, que tem uma história antiga na sociedade e que é alvo de estudos na área cardiovascular”, comenta Nereida Kilza da Costa Lima, médica geriatra, professora da FMRP e orientadora do estudo Effect of chocolate on older patients with cancer in palliative care: a randomised controlled study.

A pesquisa foi realizada com 46 pacientes idosos com câncer em cuidados paliativos em tratamento no Serviço de Oncologia e Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP). Todos os voluntários receberam tratamento padrão e foram divididos em três grupos, um com pessoas que não receberam chocolate, outro de pessoas que consumiram 25 gramas diárias de chocolate com 55% cacau e, por último, aquelas que ingeriram a mesma quantidade de chocolate branco.

“Nós coletamos os dados sociodemográficos e informações do estado de saúde, com exames laboratoriais e da avaliação nutricional dos participantes antes e após quatro semanas da intervenção, usando ferramentas específicas e validadas na comunidade científica”, explica Josiane Cheli Vettori, que é nutricionista, doutora pela FMRP e primeira autora do estudo.

Os voluntários tinham média de 67 anos de idade e 43,5% estavam em risco de desnutrição ou estavam desnutridos antes do início do trabalho. “No final do estudo, observamos que os índices das avaliações nutricionais foram aumentados significativamente. A elevação teve significância clínica e não houve indivíduo classificado como desnutrido após a intervenção, evidenciando que, possivelmente, a intervenção nutricional pode ser capaz de reduzir a perda de peso em pacientes com câncer em estágio avançado melhorando o estado nutricional”, conta.

Alimentação como conforto em cuidados paliativos

O câncer é a segunda principal causa de mortes no mundo, com 9,6 milhões de vítimas em 2018, de acordo com dados da Organização Pan-Americana da Saúde. “Diante desse cenário, cresce a preocupação com o impacto da nutrição em pacientes com câncer em cuidados paliativos. Assim, a alimentação como preservação do estado nutricional, prevenção da desnutrição e promoção de conforto são importantes”, conta a nutricionista Josiane.

Além de nutrir o corpo, a alimentação está associada às memórias, conexão com amigos, autonomia e prazer. “O suporte nutricional deve ser adaptado para atender às necessidades e desejos de cada paciente, pois eles são únicos quanto aos valores, história, desejos, lembranças e necessidades nutricionais e emocionais”, ressalta.

Ela ainda conta que a assistência nutricional é importante para o controle dos sintomas durante o tratamento oncológico e deve ser realizada pela equipe de saúde junto com o paciente, familiares e cuidadores. Para isso, é preciso que os profissionais de saúde tenham criatividade e sensibilidade para respeitar as preferências, verificar o acesso a determinado alimento e outras necessidades envolvidas no ato de se alimentar, como dentição e controle motor para segurar talheres.

“Antes de recomendar o chocolate, é importante observar as preferências alimentares, que são altamente pessoais, e pensar em conjunto com a equipe multiprofissional, familiares e paciente para entender se faz sentido no tratamento, se é algo que ele gosta e se tem acesso”, reforça a nutricionista.

Chocolate branco pode não ser um vilão

Há quem diga que o chocolate branco não é chocolate por ele ser produzido com a manteiga do cacau e não com a massa usada na fabricação do chocolate ao leite e daqueles com mais teor de cacau. Apesar do rótulo de vilão, cientistas buscam entender quais são os efeitos do alimento e quais propriedades podem ser benéficas.

“Nos surpreendeu que o chocolate branco, que é sempre visto como sem efeito, contribuiu para a melhora dos voluntários do nosso estudo. Ele demonstrou ter efeito benéfico no estresse oxidativo, que causa danos celulares; melhora na inflamação e nas reservas corporais. Agora a comunidade científica precisa continuar pesquisando quais são e os impactos de possíveis componentes positivos desse tipo de chocolate”, diz a professora Nereida.

O estudo Effect of chocolate on older patients with cancer in palliative care: a randomised controlled study foi publicado em janeiro na BMC Palliative Care. Além de Nereida e Josiane, o trabalho conta com autoria de Luanda G. da Silva, Karina Pfrimer, Alceu A. Jordão, Paulo Louzada Junior, Júlio C. Moriguti e Eduardo Ferriolli.

Texto: Giovanna Grepi
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Bactéria encontrada no mangue produz matéria-prima para plástico biodegradável

Identificada nas águas do mangue de Cubatão, na Baixada Santista, a bactéria Methylopila oligotropha produz grãos de um material biodegradável, chamado de PHAs, para armazenar energia, com propriedades similares a alguns tipos de plásticos, como a maleabilidade, o que viabilizaria seu uso em grande escala como matéria-prima para substituir plásticos derivados do petróleo, reduzindo a poluição ambiental – Fotos: Cedidas pela pesquisadora

Com propriedades similares a alguns tipos de plásticos, material tem potencial para substituir derivados do petróleo e reduzir poluição ambiental.

Nas águas do mangue da Baixada Santista existe uma bactéria chamada Methylopila oligotropha que, para acumular energia, produz grãos microscópicos de reserva na forma de poli-hidroxialcanoatos, ou simplesmente PHAs, um material biodegradável com propriedades similares a alguns tipos de plásticos. Em pesquisa do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia da USP, a bactéria foi isolada e cultivada para avaliar o potencial da produção de PHAs em grande escala, a fim de ser usados como matéria-prima nas indústrias, com o objetivo de substituir os plásticos produzidos a partir do petróleo, de forma a reduzir a poluição ambiental. O estudo teve apoio do Research Center for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), centro de pesquisa em engenharia sediado na Escola Politécnica (Poli) da USP que reúne pesquisadores de diversas instituições nacionais e estrangeiras.

“Os PHAs são atraentes comercialmente pela possibilidade de serem substitutos para os derivados do petróleo, pois possuem propriedades similares a vários termoplásticos e elastômeros”, aponta ao Jornal da USP a professora Elen Aquino Perpétuo, do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Baixada Santista, que coordenou a pesquisa. Os elastômeros e termoplásticos são dois tipos de plásticos que podem ser moldados e transformados por meio de processos de injeção, extrusão e sopro, de acordo com a temperatura em que são aquecidos. “A variabilidade da composição dos PHAs determina suas propriedades mecânicas e permite seu uso em diversas aplicações, como na produção de biopolímeros, usados nas áreas de farmácia e medicina para confecção de suturas, implantes e fixações ósseas, sendo absorvidos pelo organismo na mesma escala de tempo em que ocorre a regeneração do tecido.”

O projeto foi objeto da dissertação de mestrado de Esther Cecília Nunes da Silva, no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia da USP. Na pesquisa, que procurava identificar linhagens bacterianas produtoras de materiais de origem natural como os PHAs, a bactéria Methylopila oligotropha foi isolada do mangue da Baixada Santista, na cidade de Cubatão, através da coleta de amostras no próprio local. “Posteriormente, as amostras passaram por um processo de enriquecimento seletivo, onde somente o metanol foi adicionado como fonte de carbono”, explica a professora. “Assim, foi possível transferir uma parte desse cultivo para uma placa de Petri, a fim de isolar colônias bacterianas, para posterior identificação molecular.”

De acordo com Elen, já existiam alguns relatos sobre a possibilidade da Methylopila oligotropha acumular PHB, um tipo de PHA. “No entanto, a grande novidade desta pesquisa foi verificar e quantificar a capacidade desta bactéria em produzir, além de PHB, também o copolímero PHB-HV”, relata Elen, “que apresenta melhores propriedades mecânicas, pois é menos cristalino e mais flexível, facilitando o seu processamento industrial”.

Produção

Os pesquisadores analisaram o conteúdo interno da bactéria, na forma de grânulos, que indicavam a produção de PHB. “A produção de PHAs por bactérias, de modo geral, ocorre em cultivos com excesso de carbono e deficiência de algum nutriente, como, por exemplo, nitrogênio, fósforo e potássio”, afirma a professora. “Especificamente, a indução do PHB-HV foi feita a partir do cultivo bacteriano em excesso de fonte de carbono, no caso, metanol, e limitação do nitrogênio, além da adição de um co-substrato, o ácido valérico.”

Segundo Elen, para chegar à produção industrial de PHAs, é necessário que haja estudo de escalonamento. “Há somente uma empresa no Brasil que produzia PHB microbiano, mas hoje trabalha somente sob demanda e ainda assim toda a produção é exportada”, ressalta. “Tudo isso porque o PHB ainda tem um custo elevado para o mercado interno.”

“No entanto, para além do escalonamento, é também necessário que haja incentivo fiscal e políticas públicas voltadas para a diminuição do uso de plásticos derivados de petróleo, principalmente aqueles de ‘uso único’”, destaca a professora. “A Alemanha já fez isso em 2021, quando proibiu a venda de plásticos descartáveis, entre eles pratos, copos, canudos, talheres, aplicando uma diretiva europeia destinada a proteger os oceanos da poluição.”

O projeto foi desenvolvido no Bio4Tec Lab do Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema) da Escola Politécnica (Poli) da USP, em Cubatão, e teve apoio do Research Center for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), um centro de pesquisa em engenharia (CPE) que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com patrocínio da Shell, através de recursos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Coordenado pelo professor Júlio Meneghini e sediado na Escola Politécnica (Poli) da USP, o RCGI conta com atuação de pesquisadores de várias universidades nacionais e internacionais.

Mais informações: e-mail elen.aquino@unifesp.br, com a professora Elen Aquino Perpétuo

Texto: Júlio Bernardes
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Pesquisa da USP traz dados inéditos sobre malária na gestação

Pesquisa teve o objetivo de preencher uma lacuna envolvendo a falta de dados sobre a repercussão da doença nas gestantes. Com informações de mais de 60 mil mulheres, foi possível identificar os principais pontos de atenção para malária gestacional, chamados de hotspots, e assim definir quais regiões e Estados requerem mais esforços sanitários para o seu controle – Foto: Reprodução/Pixnio e Flickr

Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas analisaram dados de 2004 a 2018 e fizeram mapeamento das regiões mais afetadas pela doença no País. Estudo oferece subsídios ao Ministério da Saúde para a tomada de decisões.

Um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP revelou dados importantes para o combate da malária gestacional no Brasil. A pesquisa, publicada na Lancet Regional Health – Americas, analisou a série histórica da doença na região da Floresta Amazônica durante um período de 15 anos, descobrindo as áreas mais afetadas, os grupos de maior risco e informações sobre os tratamentos receitados aos pacientes.

Coordenado pelo professor Claudio Romero Farias Marinho e realizado pela pesquisadora Jamille Gregório Dombrowski, ambos do Laboratório de Imunoparasitologia Experimental, o trabalho teve o objetivo de cobrir uma lacuna da falta de um conhecimento amplo sobre o problema para viabilizar o planejamento de políticas públicas. “Até então, os estudos que forneciam dados sobre a doença eram pontuais e não apresentavam um panorama do número de casos de uma forma mais ampla; agora podemos transformar esses dados em informações que possam subsidiar o Ministério da Saúde na tomada de decisões”, afirma Marinho.

A malária é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Plasmodium e transmitida pelo mosquito Anopheles, com duas espécies prevalentes: a Plasmodium vivax, a mais incidente na região, e a Plasmodium falciparum. Junto das crianças menores de cinco anos, as gestantes são consideradas o principal grupo de risco para a doença, devido às mudanças fisiológicas e à presença do parasita na placenta. Além dos sintomas característicos (febre alta, calafrios, tremores, sudorese e dor de cabeça) serem mais intensos nelas, a doença aumenta os riscos de anemia materna, partos prematuros, baixo peso da criança no nascimento, abortos espontâneos e até microcefalia.

Levantamento amplo – Na pesquisa, foram utilizados modelos estatísticos para mapear a incidência de casos na região no período entre 1º de janeiro de 2004 e 31 de dezembro de 2018. Depois, foi rastreado o número de grávidas entre 10 e 49 anos e feito o mapeamento da população dos locais analisados com base em dados do Serviço de Informação de Vigilância Epidemiológica de Malária do DataSUS.

Com informações de mais de 60 mil mulheres, foi possível identificar os principais pontos de atenção para malária gestacional, chamados de hotspots, e assim definir quais regiões e Estados requerem mais esforços sanitários para o seu controle.

Áreas e grupos de risco – Ao longo dos anos, os números apontaram uma incidência significativa de malária gestacional em municípios dos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Pará. Destacam-se neste contexto as cidades de Mâncio Lima (Acre), situado na microrregião do Juruá, que fica entre o Acre e o Amazonas; Anajás, Bagre, Breves, Curralinho, Limoeiro do Ajuru, Muaná, Oeiras do Pará, São Sebastião da Boa Vista e Cachoeira do Piriá, no Pará; e São Gabriel da Cachoeira, Japurá, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Fonte Boa e Maraã, no Amazonas.

O estudo também mostra que a maior prevalência da doença se dá entre gestantes de 15 a 24 anos de idade. “Isso ocorre porque é nessa faixa etária que se observa o maior número de primigestas [mulheres que engravidaram pela primeira vez], pois é o grupo que, na maioria dos casos, ainda não foi infectado, fator que as deixa mais suscetíveis à infecção. É também um grupo que sofre muito com os efeitos mais graves da doença”, explica a pesquisadora.

O grupo de maior risco é o das grávidas mais jovens e a pesquisa aponta que a situação é preocupante. “Quando se considera a falta de imunidade, as alterações fisiológicas associadas à gestação e a infecção por Plasmodium, o resultado é muito preocupante. Infelizmente, não é raro encontrar meninas de 10 a 14 anos grávidas nessas regiões. Durante o período analisado, tivemos 2.674 casos, um número que totaliza mais de 4% do total de notificações”, afirma Dombrowski.

Medicação equivocada –
 Por ser de notificação compulsória, os pesquisadores obtiveram dados sobre o esquema de tratamento utilizado e descobriram que, em alguns, houve o registro de distribuição da primaquina para as gestantes, um medicamento utilizado no tratamento de malária, mas contraindicado para grávidas porque pode acarretar abortos espontâneos. “Como nosso trabalho foi desenvolvido com informações secundárias, provenientes de um banco de dados, não é possível afirmar que essa medicação foi realmente prescrita. Pode ter havido erro no preenchimento da ficha de notificação ou o profissional escolheu a medicação que mais se aproximava da que foi de fato prescrita, por exemplo”, aponta ela.

Apesar dos problemas encontrados, os pesquisadores observaram uma melhora na notificação correta do tratamento. “Para avançarmos ainda mais é fundamental que tenhamos mais treinamentos e capacitações dos profissionais para o correto preenchimento da ficha de notificação, pois é um documento importante para os programas de controle e eliminação da doença”, afirma a pesquisadora.

A capacitação de profissionais de saúde na região é fundamental para a correta atuação no acompanhamento de gestantes que contraíram a doença – Foto: Reprodução/Freepik

Redução de casos

O estudo mostrou que houve uma redução de cerca de metade dos casos de malária gestacional ao longo do período analisado. Este fato deve-se à ampliação da rede de diagnóstico e tratamento em toda a região. Além disso, a partir de 2006, foram inseridos no tratamento os combinados de artemisinina, um fármaco com ação potente contra a doença. Porém, a tendência de queda sofre o empecilho da descentralização das ações públicas para o combate à malária. Os municípios possuem autonomia para lidar com os casos e podem sofrer perdas com a alternância de equipes vinculadas aos órgãos de saúde a cada nova eleição.

Apesar da redução do número de casos, a doença permanece sendo um grande problema de saúde pública. “Os índices de malária caíram devido a uma série de medidas adotadas para o controle da doença, mas continuam oscilando, ainda que apresentem uma tendência de queda”, pondera Dombrowski.

Diagnóstico precoce

Em anos anteriores, o laboratório voltou seus esforços para desenvolver novas terapias contra a doença por meio do sequenciamento de genomas e do bloqueio de receptores envolvidos no processo inflamatório decorrente da infecção. Agora, com o aspecto epidemiológico já completo, o foco das pesquisas será em ações de diagnóstico precoce. Atualmente, por mais que as gestantes não apresentem sintomas, elas podem estar com o parasita na placenta (malária placentária). Na maioria dos casos, a constatação da doença só é feita após o nascimento do bebê, sem a possibilidade de intervenção ou tratamento. “Estamos trabalhando com a identificação de biomarcadores para a detecção da malária placentária no sangue periférico da mãe”, conta a pesquisadora.

A malária placentária é uma das consequências graves da malária gestacional que acontece em cerca de 20% a 50% dos casos. Como as gestantes geralmente não apresentam sintomas, trata-se de um dos principais desafios para os programas de triagem e tratamento da doença. “A identificação de biomarcadores é fundamental para o diagnóstico precoce dessa complicação, melhorando o cuidado com a gestante e o bebê. A molécula ou as moléculas candidatas devem ser de rápida mensuração, bem como ter um custo razoável para ser acessível e introduzido à rotina de pré-natal”, afirma Dombrowski.

Da Assessoria de Comunicação do ICB

Texto: Redação
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Estudo descreve os mecanismos moleculares da disfunção erétil por consumo de álcool

Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP descreve os mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção erétil desencadeada pelo consumo excessivo de álcool. O estudo realizado pelo professor Carlos Renato Tirapelli, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, mostrou que o álcool afeta a circulação sanguínea do corpo cavernoso, músculo do pênis que se dilata ou contrai conforme o órgão recebe estímulos. Para ficar ereto, os vasos sanguíneos no corpo cavernoso precisam estar dilatados, permitindo maior circulação de sangue. Porém, com o álcool presente no organismo, os vasos se contraem mais, o que reduz o fluxo sanguíneo e impede a ereção do pênis. Os resultados da pesquisa estão em artigo da European Journal of Pharmacology.

A relação entre o etanol e a disfunção erétil não é novidade, uma vez que já vem sendo descrita na literatura científica há bastante tempo. Pesquisadores da Universidade de Hong Kong descreveram os efeitos prejudiciais do álcool na ereção em 2007.

Entretanto, diz o professor, “essa é a primeira vez que um estudo foca nos mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção erétil desencadeada pelo consumo excessivo de álcool”.

A disfunção erétil é um problema muito comum entre os homens. Dentre os brasileiros, cerca de 16 milhões sofrem da condição, principalmente homens acima de 40 anos. Mas, independentemente da idade, fatores como estresse, depressão e baixa autoestima podem desencadear o problema de impotência sexual. E, ainda, a impotência sexual pode ser um indicador de doenças cardíacas no futuro. Já se sabe também que o consumo excessivo de álcool pode contribuir significativamente para a disfunção erétil. A pesquisa da USP ajuda a mostrar como isso ocorre.

Prejudica a vasodilatação

No estudo, o corpo cavernoso foi analisado in vitro (em células no laboratório) e em ratos. O professor Tirapelli conta que um grupo de cobaias recebeu, diariamente, uma solução com 20% de teor alcoólico, durante seis semanas. “Ao final desse período percebeu-se que o músculo do pênis se contraía mais que o normal, indicando que o consumo frequente de álcool prejudica a vasodilatação do órgão.”

O exagero nas bebidas alcoólicas prejudica a dilatação dos vasos sanguíneos do órgão que, por sua vez, pode resultar em disfunção erétil – Foto: Wikipédia

 

Segundo o professor Tirapelli, os resultados mostraram que o consumo regular de álcool desencadeia o estresse oxidativo no corpo cavernoso, provocando menor produção de óxido nítrico (NO), molécula presente no organismo que contribui para a vasodilatação. Assim, o pesquisador administrou um antioxidante em outro grupo de ratos tratados com a solução contendo álcool. “Esse grupo não sofreu os efeitos do estresse oxidativo e, com isso, não houve prejuízos na vasodilatação do pênis. Assim, é possível afirmar que o etanol pode ser considerado um fator que prejudica a vasodilatação do corpo cavernoso e predispõe o indivíduo a desenvolver disfunção erétil.”

Degradação dos neurônios

Fazendo analogia com os seres humanos, diz o professor, “dependendo da quantidade de álcool consumida numa festa, por exemplo, independentemente da bebida ser destilada ou não, o corpo cavernoso fica contraído até que o álcool seja eliminado da corrente sanguínea”. O professor ainda lembra que, devido ao consumo crônico de álcool, o indivíduo pode desenvolver a neuropatia, uma doença que causa a lesão e degradação dos neurônios. “Durante o estudo, o grupo de animais tratado apenas com a solução de álcool apresentou uma resposta menor aos estímulos neurais. Esse resultado aponta o prejuízo aos neurônios causado pelo consumo da solução de álcool.”

“O mais recomendável seria evitar as bebidas alcoólicas. O problema é que o álcool é uma droga lícita acessível a grande parte da população. E não é só isso, a população em geral acredita que os efeitos do álcool se limitam a algumas horas após seu consumo, o que não é verídico.”

Mais informações: e-mail crtirapelli@eerp.usp.br, com o professor Carlos Renato Tirapelli

FONTE: Jornal da USP

Chegada do frio provoca alterações no funcionamento do organismo: cuidados são necessários

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As baixas temperaturas são responsáveis por alterar diversos aspectos da vida humana. Um desses fatores é a mudança no funcionamento do corpo de uma pessoa. O frio interfere de forma ativa em sua fisiologia e é capaz de potencializar algumas doenças.

O professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP,  examina as alterações do corpo humano no frio: “Quando esfria, você aumenta o seu metabolismo basal, tem um aumento da produção de adrenalina e de todos os hormônios que vão acelerar o seu metabolismo. Você também fecha os vasos da pele, porque a pele tem entre 1,5 a 2 metros quadrados e tem que ser aquecida. Quando você tira o sangue da periferia, impede a troca de calor e desloca ela mais para dentro do corpo”. O estímulo descrito faz com que o metabolismo basal do corpo aumente, gerando mais calor a ponto de contrair os músculos. A contração serve para gerar e manter o calor, como se estivesse se exercitando.

A chegada do frio impacta diretamente as vias aéreas. “O pulmão de um adulto tem mais ou menos 100 metros quadrados, empacotado em pequenos alvéolos e separados da rua por uma barreira que tem menos de um milésimo de milímetro. ‘Como é que você não congela?’ Através do trabalho das vias aéreas e do aumento da perfusão das vias aéreas”, relata Saldiva.

Essa alteração tem consequências, os cílios que removem as impurezas funcionam mais devagar, isso deve-se ao muco que reveste a via aérea, que fica mais rígido por conta das baixas temperaturas. O professor aponta que “as vias aéreas, principalmente as superiores, pagam um preço alto para fazer esse trabalho de condicionamento térmico. Nós submetemos nosso corpo a um metabolismo maior e a via aérea sob estresse com perda de eficiência dos mecanismos de limpeza e de remoção das vias aéreas.”

As baixas temperaturas costumam estar relacionadas a alguns tipos de doenças. “As estações de frio são as estações das doenças respiratórias e cardiovasculares”, indica Saldiva. O professor ainda comenta que a variação ao longo do dia e as mudanças de temperatura de dias precedentes também influenciam no contágio de doenças.

Saldiva também destaca as doenças cardiovasculares: “Quando você aumenta o metabolismo, você está dizendo para o teu coração que funcione mais depressa, você pisa no acelerador, se o coração não tiver condição de fazer isso, se ele já tiver uma vulnerabilidade maior, aquilo pode ser a diferença para ele ter uma arritmia ou mesmo ter um infarto do miocárdio”.

Dores no corpo

Nesse período, também é comum que as pessoas acusem dores no corpo, sobretudo as mais velhas. A fisioterapeuta encarregada do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Ana Paula Monteiro, analisa: “As baixas temperaturas causam algumas contraturas musculares e as pessoas se encolhem. As pessoas fazem isso para diminuir o espaço que elas vão ficar sob as baixas temperaturas. Os animais também fazem isso, se enrolam para diminuir a superfície de contato com o frio”.

As articulações são os locais mais prejudicados pelas contraturas devido à falta de movimento. “A lubrificação delas depende do movimento, se você não tiver movimento, você não tem a lubrificação adequada. Imagine uma polia sem uma lubrificação adequada, o movimento vai falhar. O corpo funciona da mesma forma, as articulações funcionam da mesma forma”, comenta a fisioterapeuta.

De acordo com Ana Paula, a movimentação do corpo é uma maneira de amenizar a dor: “Movimentar as articulações, começar o dia se movimentando, pensar no corpo todo, você tem que se movimentar. Lembra da polia, tem que aquecer, o corpo produz coisas boas quando você se movimenta, incluindo a graxa natural das articulações, que a gente chama de sinóvia. É uma graxa que o movimento causa, se você não se mexe, a graxa resseca e você não vai ter a polia funcionando de acordo”. A idade também é um fator determinante. “Após os 25 anos você já está em um declínio da sua função motora”, ressalta a fisioterapeuta.

O problema não é só físico

Paulo Saldiva reitera a importância do esporte para conter alterações no corpo e possíveis doenças, mas faz ressalvas. “É lógico que a prática esportiva é importante, mas você tem que estar em uma região que você possa praticar. Os equipamentos de esporte da Prefeitura, por exemplo, previnem muito o risco de morrer de infarto, mas eles têm que estar a menos de um quilômetro para o indivíduo ir a pé, para as pessoas irem a pé”, atesta, ao abordar a falta de acesso por parte da população.

Embora os exercícios físicos amenizem os problemas que chegam com o frio, a desigualdade de recursos para conter os impactos é preponderante, sobretudo para a população de baixa renda: “As políticas públicas deveriam se incorporar na esfera de decisão da saúde humana. Um indicador importante é a aglutinação das políticas públicas. Nesse contexto, as respostas ao frio e às mudanças de temperatura têm um carimbo de desigualdade e vulnerabilidade em cima delas, “ ressalta Saldiva.

Ao finalizar, o professor questiona a capacidade humana de adaptação em meio às constantes mudanças no clima: “A velocidade das mudanças no clima está muito mais rápida do que nossa capacidade adaptativa, seja do ponto de vista fisiológico, seja do ponto de vista construtivo de modificar a cidade. Qual vai ser a nossa capacidade adaptativa nos próximos anos?”.

Por João Dall’ara

FONTE: Jornal da USP

Doenças evitáveis são importantes causas de deficiência visual intratável

Estudos globais indicam que o número de pessoas com baixa visão funcional, caracterizada por uma deficiência visual intratável, está aumentando. Com o objetivo de traçar o perfil dos pacientes com a condição, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP avaliaram os prontuários médicos de pessoas atendidas no Centro de Reabilitação (CER) do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) entre 2009 e 2017.

“Como há poucos estudos epidemiológicos que nos dizem as causas de baixa visão funcional ou cegueira irreversível, principalmente em crianças, artigos como esse nos ajudam a ter um panorama das principais doenças na nossa região. Assim, podemos planejar ações de educação em saúde, diagnóstico, tratamento e reabilitação”, explica Manuela Molina Ferreira, médica oftalmologista, mestre pela FMRP e primeira autora do estudo Causes of functional low vision in a Brazilian rehabilitation service.

Os resultados do estudo em Ribeirão Preto mostraram que, entre as crianças, as três maiores causas de baixa visão funcional são: paralisia cerebral (alteração neurológica que afeta o desenvolvimento motor e cognitivo) em 27,9% dos casos, toxoplasmose ocular (doença causada por um protozoário) em 8,2%, e retinopatia da prematuridade (problema na vascularização da retina) em 7,8%. “Nas duas últimas situações é possível adotar medidas preventivas que podem diminuir o índice. Por exemplo, orientação sobre consumo de água e alimentos para casos de toxoplasmose e campanhas de educação direcionadas a gestantes sobre retinopatia da prematuridade, além do pré-natal adequado”, conta.

Já entre os adultos de meia-idade e idosos a retinopatia diabética, que é causada por um dano nos vasos sanguíneos da retina e está associada ao mau controle da glicemia, está presente em 18% dos casos e a degeneração macular relacionada à idade, que é uma lesão progressiva da mácula, em 25,3%. “A retinopatia é uma causa importante e os dados nos contam que muitos diabéticos não estão fazendo o controle adequado da glicemia”, explica João Marcello Furtado, professor da FMRP e coordenador do estudo.

Furtado conta que a degeneração macular relacionada à idade é a principal causa em idosos. “A doença possui um tratamento caro e não curativo. Por isso, com o aumento da expectativa de vida que deve ocorrer nas próximas décadas, o impacto da degeneração macular relacionada à idade deve ser ainda maior em um futuro próximo”, afirma.

A importância do resultado está em aumentar o conhecimento sobre as doenças que estão relacionadas à baixa visão funcional. “Se conseguimos evitar a cegueira, melhoramos a qualidade de vida das pessoas e aumentamos a chance desses indivíduos atingirem um maior nível de estudo e produtividade no trabalho. Isto gera um benefício direto para quem sofre a ação em saúde, mas também para seu entorno e a sociedade em geral”, conclui o professor Furtado.

A pesquisa

Os pesquisadores recuperaram e avaliaram os dados dos prontuários médicos físicos e digitais de pessoas atendidas no ambulatório de Reabilitação Visual do Centro de Reabilitação (CER) do HCFMRP entre 2009 e 2017. Entre as informações recuperadas estão a causa, o quanto enxergavam e quais foram os auxílios ópticos prescritos.

Para os estudos, foram incluídos 1.393 pacientes, que foram separados por três faixas etárias: de 0 a 14 anos, de 15 a 49 anos e com 50 anos ou mais. Sendo que os idosos representavam o número mais volumoso, com 38,8% dos pacientes, seguidos pelas crianças com 36,7%.

O estudo Causes of functional low vision in a Brazilian rehabilitation service foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, em fevereiro e conta com autoria de Manuela Ferreira, Furtado e da médica Rosalia Antunes Foschini, do HCFMRP.

Centro de Reabilitação

Criado em dezembro de 2007, o CER do HCFMRP é referência em reabilitação de alta complexidade para Ribeirão Preto e região. Os atendimentos são voltados para as áreas de Reabilitação Física, Visual, Auditiva, Intelectual, Ostomia e Múltiplas Deficiências, além da dispensação de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção e auxílios ópticos.

A equipe é composta de profissionais de diferentes formações, como: fisioterapeutas, médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, assistente social, psicólogos, fonoaudiólogos, educador físico, ortoptista, pedagoga e técnico ortopédico, além de Equipe Técnica e Equipe Administrativa.

Mais informações: manuelamf@hotmail.comfurtadojm@gmail.comantunesfoschini@gmail.com com os pesquisadores.

FONTE: Jornal da USP

Projeto do Instituto da Criança humaniza procedimentos cardiológicos para pacientes

É como se fosse…, livro da cardiologista Vanessa Guimarães, com supervisão da psicóloga Jussara Zimmermann, busca tornar a cardiologia mais palatável para crianças e adolescentes.

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O livro É como se fosse… humaniza e aborda de forma didática e educativa exames cardiológicos para o público infantil. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, as autoras da obra, Vanessa Guimarães, cardiologista pediátrica do Instituto do Coração (Incor), e Jussara Zimmermann, psicóloga e coordenadora da Assessoria de Humanização do Instituto da Criança e do Adolescente (ICr), ambas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, discorrem sobre o projeto.

Vanessa relata que cuidar de crianças com problemas cardíacos parece um desafio para a maioria das pessoas, mas para ela é uma forma de ajudá-las a viver melhor: “A minha parcela de ajuda nisso é conseguir dar mais qualidade de vida e conseguir permitir que todas as potencialidades delas sejam alcançadas. Dá muito prazer estar nessa jornada com elas.”

É como se fosse… é o quarto livro de uma série de cardio-humanização idealizada desde 2019 pela especialista. “Comecei a escrever em 2019 e este é o último. Ele tenta mostrar para a criança no pensamento dela, no mundo da criança, como ela pode enxergar aqueles exames”, descreve Vanessa.

O Instituto da Criança e do Adolescente possui um ambiente que favorece o universo infantil, mas no Incor a área dos exames é feita para adultos, é um hospital misto, comenta a cardiologista: “Então, nós não temos essa questão da humanização e da ambiência tão presentes. Através do livro, nós passamos para a criança que em seu universo ela pode entender e vivenciar essa experiência mais agradável.”

De acordo com Jussara, a humanização nasce junto com a Instituição da Criança e do Adolescente: “Se essas famílias vão permanecer durante tanto tempo aqui e realizar tantos procedimentos, é nosso dever fazer com que essa permanência e esse cuidado sejam os melhores e mais abrangentes possíveis, não só lidando com as questões médicas, mas com tudo que envolve o universo infantil.”

A psicóloga ainda fala sobre a importância da adaptação de temas técnicos ao universo lúdico das crianças. “Já que essa criança está aprendendo e está crescendo, ela vive em um contexto de desenvolvimento lúdico. Então, a brincadeira e a adaptação dos temas são muito importantes em qualquer momento da jornada desse paciente, e em relação aos exames não é diferente”, indica Jussara.

No livro, são descritos todos os exames que um paciente com cardiopatia se submete ao longo da vida. Vanessa comenta que “nesses exames eu explico a parte técnica para os cuidadores, mas com uma linguagem acessível para que eles entendam por que o médico solicita e o que acontece durante o exame, para que eles façam parte dessa jornada”.

Uma proposta da cardiologista foi que alunos formandos em Medicina de várias universidades do País escrevessem sobre algum exame de forma lúdica, processo lapidado pela psicóloga Jussara, que deu encantamento ao livro. Um dos exemplos foi a radiografia de tórax. “É como se a criança fosse um modelo fotográfico e o técnico fosse o fotógrafo, que vai orientar poses e com isso a gente tem a foto do coraçãozinho da criança.”

Para conferir a obra, acesse o link: https://clubedeautores.com.br/livro/e-como-se-fosse

Autor: Redação
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Você sabe o que é a síndrome de cri-du-chat?

Síndrome de cri-du-chat deve ser investigada nas primeiras horas de vida. De acordo com a médica geneticista Chong Ae Kim, o tratamento da doença é individualizado e atua no controle dos sintomas, que diferem de criança para criança.

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A síndrome de cri-du-chat é uma doença rara, que tem alteração no cromossomo 5, a falta de um pedacinho do braço do cromossomo, por isso resulta em uma anomalia genética.

Conhecida como “miado de gato”, por causa da má formação da laringe, ela altera o som do choro do bebê.  A médica geneticista Chong Ae Kim, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e chefe da Unidade de Genética do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, explica que a criança tem sintomas variados como o formato facial  peculiar, incluindo olhos bem separados, orelhas baixas, mandíbula pequena e face arredondada.

Essa desordem genética é caracterizada por deficiências intelectuais e retardo no desenvolvimento físico, cabeça pequena (microcefalia), baixo peso ao nascer e tonicidade muscular fraca (hipotonia) na infância. Além disso, são crianças hiperativas e muitas vezes agressivas.

Tratamento individualizado

O tratamento da síndrome é individualizado, não existindo um modelo específico. A professora explica que o médico atua no controle dos sintomas, que diferem conforme a criança. “Alguns precisam de fisioterapia, outros de cardiologista, clínico geral; enfim, conforme a necessidade do momento”, conclui.

É importante que o tratamento tenha início o mais breve possível, já que a estimulação precoce possibilita um melhor desenvolvimento, adaptação e aceitação da síndrome pela pessoa na adolescência e vida adulta. Cerca de 10% dos portadores da síndrome de cri-du-chat herdam a anormalidade cromossômica de um dos pais não afetados pela doença. Chong diz que a mutação ocorre em casais normais.

A especialista do Instituto da Criança alerta que, por hora, a doença ainda não tem cura, mas essa possibilidade não está descartada em função dos avanços da genética.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

24 de junho, Dia Mundial de Prevenção de Quedas

Hoje (24/06) é o Dia Mundial de Prevenção de Quedas e o assunto será discutido no Hospital Universitário (HU) da USP. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Maria Elisa Pimentel Piemonte, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina (FMUSP), informa que fraturas decorrentes de quedas são responsáveis por 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos.

Maria Elisa alerta que um indivíduo com fratura pode ficar acamado e, em função da imobilidade, passar a sofrer complicações renais e respiratórias que podem levar a óbito. Ela também informa sobre as consequências psicológicas acarretadas pela primeira queda: “Se é uma queda com injúria ou mesmo uma queda, por exemplo, num ambiente público, em que a pessoa se sinta muito constrangida, ela desencadeia o que se chama Síndrome do Medo de Cair. A pessoa começa a se autorrestringir por causa do medo de cair”.

Possíveis riscos

Segundo a professora, os riscos de queda são divididos conforme a funcionalidade do idoso. Os idosos saudáveis, normalmente, caem por problema ambientais, como irregularidades no piso e tapetes escorregadios. Mas também há outras condições, como fraqueza muscular, tontura, vertigem e uso de vários fármacos. “Sedativos, ansiolíticos e remédios para dormir, tudo isso aumenta o risco de queda. E a gente não pode esquecer também que, ao lado do declínio físico, há o declínio cognitivo”, reitera Maria Elisa. Ela completa: ”Por exemplo, a atenção está relacionada com o aumento de risco de queda, e um estudo mostra que testes cognitivos podem prever o risco até cinco anos antes da primeira queda”.

A especialista ainda fala sobre a influência do sexo nessa questão. De acordo com ela, mulheres caem mais que homens, devido às alterações hormonais da menopausa. Assim, pessoas do sexo feminino possuem um declínio mais abrupto no sistema motor.

Prevenção 

Ao contrário do senso comum, idosos com escadas em casa caem menos que aqueles que não as têm, pois as escadas auxiliam no exercício diário e no fortalecimento dos músculos nos idosos que as utilizam regularmente. Como a fraqueza muscular em função da idade afeta o equilíbrio e ocasiona quedas, exercícios físicos são uma forma de preveni-las.

A indicação da professora são exercícios variados, os quais combinam força, elasticidade, coordenação e equilíbrio. Ela reforça que as atividades precisam ser de longa duração: “Não é uma coisa para curto prazo. Não adianta esperar que você vai começar a fazer esse exercício e daqui um mês vai notar efeito. Tem que descobrir alguma coisa que você faça com prazer para que isso perdure bastante”.

No Dia Mundial de Prevenção de Quedas, às 9h, o anfiteatro do HU avaliará o risco de queda em pacientes de toda a comunidade. Serão dois testes motores rápidos para que qualquer pessoa possa identificar seu risco. Para saber mais, acesse www.hu.usp.br.

FONTE: Jornal da USP

Ambientes secos, arejados e limpos são os grandes inimigos dos ácaros

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Os ácaros são animais que medem menos de um milímetro, mas são muito importantes no nosso dia a dia. Apesar de microscópicos, esses organismos estão presentes em quase toda parte. E Alguns deles são responsáveis por problemas na agricultura e pela transmissão de doenças aos humanos.

O termo ácaro é utilizado para classificar milhares de espécies pertencentes à classe dos aracnídeos. O professor Gilberto Moraes, do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, explicou ao Jornal da USP que, por isso, os ácaros são mais próximos das aranhas do que dos insetos.

Eles possuem quatro pares de patas e um par de quelíceras, órgão que serve como pinça para a obtenção de alimento. Esses animais também não têm cabeça. “Eles têm uma região anterior, onde está a boca. O cérebro dele fica dentro do corpo”, diz Moraes. “Inclusive, o intestino deles passa pelo meio do cérebro, nós costumamos dizer que eles não podem comer muito senão terão dor de cabeça”, brinca o professor.

Em relação aos hábitos alimentares, Moraes conta que grande parte dos ácaros são predadores e se alimentam de líquidos. Outras espécies não são predadoras e se alimentam de plantas. “Eles perfuram as células das plantas e retiram o conteúdo líquido delas”, conta. A maior parte dos inimigos dos ácaros é constituída de pequenos insetos ou mesmo de outros ácaros.

Grande parte das espécies possui machos e fêmeas, “mas existem muitas que não têm macho, são só fêmeas que se reproduzem por partenogênese”, comenta o professor, ao explicar o processo em que não é necessária fecundação do óvulo. Outras espécies conseguem se reproduzir com ou sem a presença de machos. “Quando ele está ausente, todos os filhos são machos. Quando está presente, os filhos são machos e fêmeas, o que permite que a população se mantenha no ambiente.”

Esses animais podem ser encontrados em diversos ambientes, como o solo e a superfície de plantas ou pelos. “E nós temos muitos ácaros em nós mesmos”, conta Moraes. “Eles vivem principalmente na face das pessoas”, explica. Além de não ser possível vê-los, normalmente esses animais não causam problemas, por isso não são percebidos. Mas existem casos em que eles são prejudiciais.

Ácaros na agricultura

Moraes conta que esses organismos costumam ser identificados pelos agricultores a partir de sua cor. “Muitos ácaros que atacam plantas são de um tom vermelho muito vivo. E eles chegam a populações bem altas, então o agricultor consegue ver aquela massa de pequenos organismos coloridos.” Essas infestações podem causar a descoloração e a morte de folhas, além da transmissão de doenças para as plantas. Morango, tomate, feijão, limão, laranja, sementes, grãos e farinhas são apenas alguns exemplos de vítimas dos ácaros agrícolas.

As infestações normalmente são controladas com produtos químicos e acaricidas. Entretanto, Moraes conta que o uso em excesso pode tornar os animais resistentes. “Um produto que hoje funciona muito bem pode deixar de funcionar.” Essa situação levou à adoção do controle biológico, em que predadores naturais são espalhados pela região para controlar os ácaros resistentes aos acaricidas.

Segundo o professor, normalmente os ácaros agrícolas são controlados com outras espécies de ácaros predadores. “Aqui no Brasil nós temos laboratórios comerciais que produzem esses predadores e vendem para os agricultores, que podem deixar de usar produtos químicos.”

Ácaros, saúde e proteção

Outros ácaros têm importância médica. Eles podem provocar sarnas, causar reações alérgicas e transmitir vírus ou bactérias causadores de outras doenças. É o caso, por exemplo, de um dos ácaros mais famosos e importantes: o carrapato, transmissor do micro-organismo causador da febre maculosa.

“A proporção de pessoas que se salvam quando adquirem essa doença é baixa”, alerta o professor. Ele explica que o carrapato é mais comum em regiões com grandes animais como cavalos, capivaras e porcos. “Tem que tomar muito cuidado e vistoriar o corpo periodicamente. Se a pessoa estiver com carrapato e sentindo sintomas de gripe, precisa ir ao médico e avisar a suspeita”, orienta o professor.

Os ácaros mais comuns nos ambientes domésticos são mais associados a alergias e problemas respiratórios. Esses animais procriam em locais com muita umidade, poeira e restos de alimentos. Para evitá-los, Moraes recomenta que as pessoas mantenham os ambientes secos e arejados. “Basta abrir as portas, janelas e cortinas para entrar o sol, isso ajuda muito no controle dos ácaros.”

A limpeza também é muito importante. Travesseiros, colchões e cobertores e ambientes empoeirados são um prato cheio para os ácaros que se alimentam dos restos de pele e de alimentos. Por isso, é importante higienizá-los com frequência.

Por Rodrigo Tammaro

FONTE: Jornal da USP