Frequência de atividades físicas pode ser mais importante do que quantidade

Em um estudo publicado no periódico Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports, cientistas da Universidade Edith Cowan, na Austrália, em parceria com duas universidades japonesas, indicaram que atividades físicas de intensidade moderada, se praticadas diariamente, podem ser benéficas para a força muscular.

Durante o trabalho, pesquisadores analisaram três grupos de participantes. Ao longo de quatro semanas, foram realizados exercícios de resistência do braço em contração excêntrica, ou seja, quando o músculo está se alongando; nesse caso, abaixando um haltere pesado em uma rosca direta. “Um grupo fez 30 contrações em único dia na semana e outro fez as mesmas contrações cinco vezes na semana. Eles observaram que aqueles que dividiram essas contrações ao longo da semana, além do aumento da espessura, tiveram um aumento da força muscular em torno de 10%”, explica Tiago Fernandes, professor e pesquisador da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

Profissional com enfoque em bioquímica e biologia molecular do exercício, Fernandes esclarece que os músculos precisam de descanso para melhorar sua força e sua massa muscular. Por isso, é necessário adotar intervalos entre as atividades físicas para que elas sejam eficazes, pautando-se nos princípios do treinamento físico. “Se a gente fizer todas as repetições uma única vez na semana, o nosso sistema não entende que aquela adaptação vai promover feitos funcionais no nosso organismo. Então, geralmente faz-se um estímulo no organismo numa forma sistêmica. Isso é atrelado a um período de recuperação em que o sistema consegue recuperar, em média de 24 a 48 horas, para gerar um novo estímulo”, aponta.

O pesquisador destaca também que pesquisas como essa são necessárias para compreendermos a importância dos exercícios como fator diretamente relacionado à melhoria da nossa saúde e qualidade de vida. “O exercício físico, realizado ao longo dos anos, é capaz de reduzir diversas condições de doenças, índices de obesidade e, consequentemente, acúmulo no cômodo de gordura nas nossas principais artérias do coração, evitando a instauração de placas de ateroma, o infarto à pessoa e melhorando os níveis de diabete”, conta.

A partir dessa descoberta, será possível aprofundar as investigações relacionadas ao bem-estar e à prática de exercícios como uma atividade diária, em vez de uma meta semanal de uma vez por semana, por exemplo. “Você deve começar a se exercitar hoje, não deixe para amanhã. Qualquer tempo em movimento conta, porque movimento é vida”, conclui o professor.

Por Gabriele Koga

FONTE: Jornal da USP

Gordura no fígado pode regredir com atividades físicas e alimentação balanceada

Débora Terrabuio fala sobre a doença hepática gordurosa não alcoólica, a qual é considerada epidemia global e pode evoluir para casos de fibrose no fígado, cirrose, câncer, infarto, derrame e até AVC

Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), também conhecida como esteatose hepática, já atinge 30% dos brasileiros e representa atualmente uma epidemia global. Ela é considerada uma manifestação hepática da síndrome metabólica, composta por obesidade ou sobrepeso, pré-diabete ou diabete, hipertensão e alterações de colesterol. Segundo a hepatologista e coordenadora da Clínica de Transplante Hepático do Hospital das Clínicas (HC) da USP, Débora Terrabuio, pessoas que possuem pelo menos três desses problemas têm mais risco de desenvolver a esteatose: “Nos pacientes com diabete, a prevalência pode chegar até 60%”.

Consequências da doença

A DHGNA ainda pode evoluir para uma esteato-hepatite com o passar do tempo, facilitando que o paciente acometido desenvolva fibrose no fígado, cirrose ou até câncer, sendo necessário, em alguns casos, realizar transplante hepático. De acordo com Débora, de um a dois pacientes em cada dez podem progredir para esse quadro. Além disso, a esteato-hepatite também está associada ao aumento do risco de infarto, derrame e AVC, ou seja, é uma doença com comprometimento sistêmico.

A hepatologista informa que as doenças do fígado são, geralmente, pouco sintomáticas: “A gente só descobre que tem algum problema no fígado quando o olho amarela, quando aparece água na barriga, quando a plaqueta, que é responsável pela coagulação do sangue, baixa além do valor normal em um exame de hemograma ou quando [o paciente] vai fazer um ultrassom e já tem um fígado de tamanho diminuído”.

Diagnóstico

Para ver se a esteatose está ou não comprometendo o fígado, é considerado o sexo do paciente, sua idade e comorbidades. “Começamos fazendo ultrassom e depois os exames de sangue do fígado, para ver como esse paciente está, com as enzimas do fígado alteradas ou não”, diz a especialista.

Por se tratar de uma doença progressiva, é importante atuar nas diversas partes da evolução da doença e fazer o diagnóstico precoce para obter mais chances de reverter o quadro. Conforme explica Débora, estudos mostram que aproximadamente 40% dos pacientes acometidos com hepatite sabem do seu diagnóstico e estão comprometidos com o tratamento, contra menos de 5% dos que possuem a esteatose hepática.

Tratamento e prevenção

Se um indivíduo possui a esteatose grau três no fígado, é preciso que ele mude seus hábitos de vida a partir da diminuição do consumo de produtos industrializados e da intensificação da atividade física, já que, perdendo cerca de 10% do peso quando é dado o diagnóstico, e controlando a síndrome metabólica, há uma melhora significativa da gordura no fígado. Aumentar o consumo de café sem adição de açúcar também pode diminuir a inflamação.

Débora reforça a importância de o paciente conversar com seu médico endócrino para avaliar a possibilidade de realizar ultrassom de abdômen e exames do fígado em casos em que ele possui outras doenças, como diabete e hipertensão. Para o público leigo, há ainda diversos formulários científicos feitos pela Sociedade Brasileira de Patologia e pelo site Tudo Sobre Fígado, o qual disponibiliza informações sobre a DHGNA.

FONTE: Jornal da USP