Declínio cognitivo é maior para quem consome mais de 20% das calorias diárias em ultraprocessados

Pães de forma, macarrão instantâneo, refrigerantes: os ultraprocessados são produtos que passaram por um longo processo industrial ao ponto de sua composição final não lembrar a comida de verdade. Vários estudos mostram os prejuízos que eles causam à saúde. Uma das pesquisas mais recentes foi realizada por cientistas da USP com base no Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) e mostra que o consumo de ultraprocessados é um dos fatores que contribuem para o declínio do desempenho cognitivo ao longo do tempo. Os resultados mostraram que a queda cognitiva ao longo da vida foi 28% maior entre os participantes que consumiram mais de 20% das calorias diárias em ultraprocessados. Isso equivale, por exemplo, a comer três pães de forma todos os dias.

Os dados estão sendo apresentados durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, que acontece ao longo desta semana, entre 31 de julho e 4 de agosto, em San Diego, nos Estados Unidos.

O Elsa-Brasil é um estudo epidemiológico nacional realizado desde 2008 por várias instituições como a USP, UFES, Fiocruz, UFBA, UFMG e UFRGS, que acompanha o estado de saúde de cerca de 15 mil funcionários. A ideia é investigar a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares (acidente vascular cerebral, hipertensão, arteriosclerose, infarto) e outras associadas. Os participantes, com idades entre 35 e 74 anos, são de várias regiões do País. No próximo mês de agosto, eles serão novamente convocados para entrevistas e exames que identifiquem uma possível evolução dos fatores de risco para essas doenças, consideradas a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

Entre vários outros aspectos da saúde, o Elsa é o estudo com a maior amostra e o maior tempo de avaliação da performance cognitiva no Brasil. Os dados das três primeiras ondas (entre 2008 e 2010, 2012 e 2014 e de 2017 a 2018) embasaram uma série de artigos que encontraram associações de piora do desempenho cognitivo com diversos fatores, como, por exemplo, enxaquecasconsumo de álcool, inflamação e, principalmente, doenças vasculares como a hipertensão.

Fatores sociais também se mostram relevantes: um dos artigos mostrou que a adesão à dieta MIND (Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay), criada para reduzir o risco de doenças que afetam a memória e a mente, só mostrou eficiência nesse objetivo em pacientes de alta renda, com melhores condições materiais de se alimentar de forma saudável. Em outro, os pesquisadores observaram que o estresse relacionado à rotina de trabalho também está associado ao declínio cognitivo.

Durante a conferência em San Diego, a equipe do Elsa apresenta dois novos estudos longitudinais, ainda não publicados, baseados no acompanhamento dos participantes durante as três primeiras ondas, que identificaram dois fatores que contribuem para o declínio do desempenho cognitivo ao longo do tempo: o consumo de ultraprocessados e o impacto do acúmulo de gordura nas artérias. 

Consumo de ultraprocessados

O estudo sobre ultraprocessados foi realizado pela pesquisadora Natália Gonçalves em colaboração com outros integrantes do Elsa, inclusive, o grupo de pesquisa do professor Carlos Augusto Monteiro, coordenador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública (FSP), um dos órgãos diretamente envolvidos na elaboração do Guia Alimentar para a População Brasileira.

A pesquisa utilizou os dados de 10.775 pessoas coletados nas três primeiras ondas do Elsa para classificar a alimentação dos participantes de acordo com os quatro grupos descritos pelo Guia: não processados (vegetais, frutas, cereais etc.), ingredientes culinários (azeites, sal, óleos), alimentos processados (com modificações leves como adição de sal ou açúcar) e ultraprocessados, “alimentos que passaram por um longo processo industrial ao ponto de que a sua composição final nem lembra comida de verdade” (pães de forma, macarrão instantâneo, marmitas prontas, refrigerantes, entre outros).

A partir disso, os pesquisadores dividiram as pessoas em quatro grupos, de acordo com a porcentagem de ultraprocessados na dieta, e descobriram que as pessoas que comem mais desse tipo de produto (acima de 20% da ingestão diária) têm uma queda 28% maior na performance cognitiva do que as que comem menos (abaixo de 20%).

Para tornar mais palpável o que isso significa, a pesquisadora explica que 20% de calorias diárias vindas de ultraprocessados equivalem a, por exemplo, míseras três fatias de pão de forma por dia.

“Esses resultados, além de inéditos, são muito importantes pois apontam para um comportamento que as pessoas podem modificar e, com isso, possivelmente diminuir a chance de declínio cognitivo ao longo dos anos”, diz Natália ao Jornal da USP.

Além dela, o artigo Higher consumption of ultra-processed foods is related to cognitive decline in the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil) tem como coautores Naomi Vidal Ferreira, Claudia Kimie Suemoto e Renata Bertazzi Levy, da Faculdade de Medicina da USP; Neha Khandpur, Euridice Martinez Steele, Dirce M. Marchioni, da Faculdade de Saúde Pública da USP; Paulo Andrade Lotufo e Isabela Judith Martins Bensenor, do Hospital Universitário da USP; Paulo Caramelli, da UFMG, e Sheila Maria Alvim de Matos, da UFBA.

Veja, neste link, outras pesquisas realizadas pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Mais informações: Claudia Suemoto, em cksuemoto@usp.br, Naomi Vidal Ferreira, em naomivferreira@gmail.com, e Natália Gonçalves, em natalia.g@fm.usp.br

Texto: Sebastião Moura
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

OMS aponta cobalto como provável causador de câncer

A carcinogenicidade do elemento químico é maior entre trabalhadores que se expõem ao cobalto em fábricas e mineradoras, mas também pode ocorrer em pessoas que ingerem alimentos contaminados

Como um componente da molécula da vitamina B12, em pequenas quantidades, o cobalto é essencial para o bom funcionamento do organismo. No entanto, em excesso, esse elemento químico pode causar diversas doenças, geralmente associadas à exposição desse mineral no trabalho. Agora, um estudo encomendado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS) traz mais evidências para o que já se suspeitava: o cobalto também pode causar câncer.

Publicado na revista Lancet Oncology, o trabalho foi realizado por cientistas de treze países, entre eles o farmacêutico-bioquímico Thomas Prates Ong, professor do departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e membro do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC). Participaram do estudo 31 especialistas de diversas áreas (epidemiologistas, biólogos, químicos, toxicologistas, patologistas, farmacêuticos entre outros), com experiência reconhecida em pesquisas sobre câncer. Ong contribuiu na área de nutrição, câncer e epigenética (modificações hereditárias que ocorrem nas funções genéticas sem alterações no DNA).

Os cientistas fizeram uma revisão de centenas de artigos, analisando a carcinogenicidade de nove agentes: cobalto (metal, sais solúveis, dois tipos de óxidos, sulfetos e outros compostos de cobalto), antimônio (trivalente e pentavalente) e tungstênio para munição de armas (contém níquel e cobalto). Para o metal cobalto e os compostos de cobalto, partículas moleculares de todos os tamanhos foram incluídas na avaliação.

As evidências de associação ao câncer foram suficientes para o metal, sais e um tipo de óxido de cobalto. “O cobalto e o antimônio registraram o mais alto índice de carcinogenicidade nos parâmetros do IARC, classificando-se como prováveis elementos carcinogênicos. Já o tungstênio registrou evidências menores, então segue sendo um possível carcinogênico”, afirma. “Concluímos que o cobalto induz a formação de tumores ao proporcionar um aumento das inflamações e mutações. Além disso, modifica o padrão epigenético ao causar alterações na forma como as células se proliferam, se diferenciam e morrem”, acrescenta.

Contaminação de alimentos

Segundo o estudo, “o cobalto é usado em muitas indústrias, inclusive na fabricação de ferramentas de corte e retificação, em pigmentos e tintas, vidro colorido, implantes médicos, galvanoplastia e, cada vez mais, na produção de baterias de íon-lítio”. Para o trabalhador dessas indústrias, a exposição ao cobalto se dá, principalmente por inalação de poeira e contato com a pele.

Para a população em geral, a ingestão de alimentos contaminados é a principal fonte de exposição, podendo ocorrer também pela fumaça de cigarro, poluição do ar e implantes médicos. No caso dos alimentos, a contaminação geralmente se dá quando os resíduos da fabricação de produtos que usam o cobalto chegam aos rios, ao solo e às plantações. “É um problema grave porque coloca em risco um amplo número de pessoas, com o consumo de alimentos e água contaminados, e por isso é muito importante o processo de fiscalização”, afirma Ong.

Um consumo normal de cobalto pela alimentação varia entre 5 e 50 microgramas (μg) por dia, com uma concentração no plasma sanguíneo de até 0,2 μg/litro. Sabe-se que acima de 7 μg/litro de plasma, sintomas de toxicidade podem ocorrer e o excesso de cobalto no organismo é eliminado principalmente pela urina.

Os alimentos que mais contêm cobalto são nozes, vegetais folhosos, cerais, chocolate, café, peixes e manteiga. A vitamina B12, que contêm esse metal, é encontrada em carnes e derivados do leite, porém a ingestão diária de 2,4 μg dessa vitamina – quantidade considerada ideal pela Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos (conhecida como Institute of Medicine) – contêm apenas 0,1 μg de cobalto. Mas, segundo evidências científicas, o consumo de alimentos que naturalmente contêm cobalto não representa riscos à saúde.

Texto: Assessoria de Comunicação da FCF

Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Preconceitos ligados à depressão podem retardar diagnóstico e tratamento

A gravidade da depressão no Brasil é desencadeada pela demora na procura médica e início do tratamento. A constatação veio a partir de uma pesquisa liderada pelo Instituto IPSOS, que diz que os brasileiros demoram cerca de três anos e três meses para, então, procurarem ajuda médica e iniciarem o tratamento da depressão. O quadro reflete não somente os desafios encontrados no combate à doença, como também expõe preconceitos de uma doença que avança aos poucos no processo de aceitação relacionado à condição mental dos enfermos.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DMS-5), criado pela Associação Americana de Psiquiatria, a depressão é a condição em que o paciente se encontra com “humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo”. E o Brasil apresenta 11,3% de pacientes nessa condição.

Demora no tratamento

Num cenário como esse, a questão envolvendo a demora por um tratamento efetivo traz sérias consequências. A médica Doris Hupfeld Moreno, supervisora do Programa de Transtornos Afetivos (Progruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, comenta que, como qualquer outra manifestação clínica, a demora no início do tratamento leva a uma piora significativa, já que, “quanto mais tempo a pessoa fica doente, maiores as consequências biológicas”. O ciclo social também é afetado, uma vez que pode desencadear prejuízos no relacionamento familiar, no núcleo de amigos e no âmbito profissional.

A depressão possui múltiplos fatores, que vão desde as alterações químicas cerebrais até disfunções crônicas e histórico familiar. É principalmente por causa da falta de conhecimento sobre a doença que surgem os estigmas vinculados à doença. Leila Salomão, professora do Instituto de Psicologia, explica melhor os fatores por trás do problema: “Os estigmas sociais existem. Aí entra o preconceito de culpabilizar o deprimido, então, a pessoa se sente envergonhada.”

Esse é um dos principais motivos que ocasionam a morosidade na busca por um tratamento. E, em complemento, a professora Leila destaca que a busca fica dificultada quando “ela é aumentada pela falta de compreensão, de diálogo e pelas formas rudes de enfrentar conflitos”, em decorrência de uma postura “de censura, de crítica preconceituosa” em relação à depressão.

Passos importantes no combate à depressão

Como outras doenças, as especialistas defendem a importância de um tratamento regular para a depressão. Leila Salomão frisa a relevância de se atuar em “todas as linhas de prevenção”, indo desde o acesso à informação e à educação adequada até a prestação de apoio às famílias dos enfermos. No que diz respeito ao tratamento, a psiquiatra Doris Hupfeld destaca que, para cada quadro clínico, a medicação certa e na dosagem correta deve ser indicada pelo profissional da área qualificada.

Ela também adiciona que: “Os caminhos em políticas públicas para amparar os acometidos pela depressão e investir em ambulatórios de saúde mental, mais CAPS [Centro de Atenção Psicossocial] para a população”, são algumas das medidas práticas que podem trabalhar em conjunto com um tratamento eficiente, para diminuir o estigma que envolve a doença e o número de acometidos pela depressão.

Por Fernanda Real

FONTE: Jornal da USP

Mudanças no estilo de vida diminuem risco de demência até em casos com predisposição genética

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Há sete hábitos que diminuem o risco de demência em até 43%, mesmo para quem tem predisposição genética para o quadro: permanecer ativo; adotar uma alimentação saudável; evitar o sobrepeso; não fumar; manter a pressão arterial adequada; controlar o colesterol e a taxa de açúcar no sangue. As conclusões são do estudo Genetic Risk, Midlife Life’s Simple 7 and Incident Dementia in the Atherosclerosis Risk in Communities Study, realizado nos Estados Unidos, que acompanhou cerca de 11.500 pacientes por três décadas.

“O que eles mostraram nessa base de dados é que você tendo um bom score de estilo de vida, de hábitos, mesmo que você tenha um risco genético alto, você consegue atenuar em parte esse risco”, explica Orestes Vicente Forlenza, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. O estudo determinou cinco faixas de risco, avaliando como os hábitos influenciam em cada um.

Forlenza conta que a incidência de demência vem caindo em países desenvolvidos, o que é reflexo dos incentivos à mudança do estilo de vida. “Essa promoção de um envelhecimento mais saudável a partir da meia-idade, é muito importante para reduzir a quantidade de casos de demência lá na frente.” O número total de casos pode permanecer estável ou aumentar pelo fato de as pessoas estarem vivendo mais.

Comorbidades

Outros hábitos podem ser melhorados e contribuírem na redução do risco de demência, como evitar a perda de acuidade auditiva e visual e fazer o tratamento correto da depressão. “Todas as intervenções feitas na meia-idade na população vão resultar num benefício populacional, que é uma redução de até 30%, 35% dos casos de demência”, afirma o professor.

Fatores de risco cardiovasculares têm relação direta com o risco cérebro-vascular, que impacta na doença de Alzheimer, a doença mais frequente do grupo da demência, acelerando o início dos sintomas, segundo Orestes. “A promoção de bons hábitos, o controle adequado das comorbidades, das doenças que se associam a isso, tudo isso em conjunto vai levar a um envelhecimento cerebral mais saudável, mesmo para quem tem ou para quem não tem doença de Alzheimer.”

FONTE: Jornal da USP

Fórmula de guaraná ajuda a controlar oleosidade da pele e cabelos

Uma fórmula cosmética contendo extrato de guaraná, fruto típico da Amazônia, se mostrou eficaz na redução da oleosidade excessiva e promoção das condições normais de hidratação da pele e cabelos. O estudo Avaliação da pele e cabelos oleosos, desenvolvimento e eficácia clínica de formulações cosméticas contendo extrato de guaraná, que deu origem à formula, foi desenvolvido pela farmacêutica Marcella Gabarra Almeida Leite, com orientação da professora Patrícia Maia Campos, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

O estudo, conta Marcella, mostra que o uso de produtos com extrato de guaraná em suas formulações, além de reduzir a oleosidade sem causar danos à fibra capilar ou à pele, promove diminuição do tamanho dos poros e de fatores associados à formação de espinhas. “Nós percebemos uma diminuição no número de porfirinas, que são metabólitos da bactéria Cutibacterium acnes, aquela relacionada à formação de espinhas e de outros problemas envolvendo a oleosidade.”

A professora Patrícia ainda informa que a fibra capilar continuou com a maleabilidade e sem ressecamento, bem como os níveis de oleosidade normais na pele, que mantiveram o equilíbrio. Quanto às propriedades que explicam o uso do guaraná em cosméticos, as pesquisadoras afirmam tratar-se de um fruto brasileiro rico em compostos como saponinas e taninos, que conferem atividade detergente e adstringente, além de trazer compostos fenólicos, como catequinas e epicatequinas, que possuem potente atividade antioxidante.

Desta forma, enfatiza a professora Patrícia, utilizar extrato de guaraná no combate da oleosidade representa um passo importante para o desenvolvimento sustentável, principalmente por conta da utilização de produtos da biodiversidade brasileira nos cosméticos na busca de produtos mais inovadores e efetivos.

O controle da oleosidade na qualidade de vida

Os problemas com a oleosidade de pele e cabelos dos brasileiros são considerados “muito relevantes” já que são o principal motivo de procura por dermatologistas no País. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a oleosidade é predominante em 56,5% da população, fato que, segundo as pesquisadoras, justifica os estudos e a busca por soluções.

Outro fato é o de que alterações capilares, em especial as causadas pela produção excessiva de sebo, podem afetar negativamente a imagem e influenciar diretamente na qualidade de vida. Marcella informa que, além dos desconfortos usuais causados pelo aspecto gorduroso e brilhante, a oleosidade pode causar alterações cutâneas como acnes, dermatites seborreicas e comprometimentos na eudermia (estado fisiologicamente normal da pele).

Em números, a oleosidade é considerada normal até atingir 150 microgramas por centímetro quadrado. Apesar disso, a pesquisadora explica que a quantidade de sebo é considerada anormal quando gera incômodo. Marcella conta que os níveis da oleosidade presente na pele são medidos através de um equipamento chamado Sebumeter. “Esse equipamento possui uma fita opaca que fica transparente quando ela está em contato com o sebo presente na pele e aí essa transparência é contabilizada por uma fotocélula que é quantificada”, explica.

Essas medidas de oleosidade fizeram parte do experimento realizado com voluntárias mulheres de 18 a 40 anos com pele e cabelos oleosos. Após a seleção, que procurava por um padrão no nível de oleosidade, as participantes receberam uma formulação básica que foi usada por 15 dias para promover o wash out (tratamento para normalizar as condições do cabelo e pele das mulheres, evitando a influência de outros produtos). Na sequência, passaram por novas etapas de análises.

O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Tecnologia de Cosméticos, da FCFRP, como parte do doutorado da farmacêutica Marcella. Os pesquisadores estão preparando artigos científicos sobre os achados e, por enquanto, ainda não há perspectivas para o desenvolvimento de formulações comerciais com a fórmula.

Mais informações: e-mails pmcampos@usp.br (com Patrícia) ou marcellagabarra@hotmail.com (com Marcella)

Autora: Laura Oliveira
Arte: Ana Júlia Maciel

FONTE: Jornal da USP

Interação entre antioxidantes de origem natural e filtros solares pode elevar a eficácia fotoprotetora

Pesquisadora da USP analisou a capacidade dos antioxidantes resveratrol e ácido ferúlico de conferirem maior estabilidade de absorção da radiação ultravioleta pelos filtros solares

A adição de antioxidantes de origem natural às formulações de filtros solares podem garantir uma maior proteção contra a radiação ultravioleta, mostra estudo da pesquisadora Thamires Batello Freire. Em seu doutorado Influência de antioxidantes na fotoestabilização da avobenzona (filtro UVA) e do p-metoxicinamato de octila (filtro UVB) em fotoprotetoresela avaliou as interações entre agentes fotoprotetores e os antioxidantes resveratrol (encontrado principalmente na casca da uva) e ácido ferúlico (presente em diversas fontes naturais). O trabalho, realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, teve orientação da professora Maria Valéria Robles Velasco.
Em entrevista ao Jornal da USP, Thamires explica que os filtros solares são substâncias que, ao receberem as ondas eletromagnéticas da radiação solar, absorvem a energia transmitida por elas, protegendo a pele do dano solar. Eles podem apresentar mais de um componente ativo, pois alguns filtros solares são mais eficientes frente aos raios ultravioleta A (UVA) e outros aos raios ultravioleta B (UVB).O Sol emite radiação ultravioleta, que são ondas eletromagnéticas: os raios UVB são ondas curtas, entre 290 e 320 nanômetros (nm) e mais energéticas, que atingem a epiderme (primeira camada da pele), provocando vermelhidão (eritema), queimaduras e danos diretos ao DNA, que podem levar ao surgimento do câncer de pele. Já os raios UVA são formados por ondas mais longas (entre 320 e 400 nm), com menos energia, que chegam até a derme (camada mais profunda) e podem degradar as fibras de colágeno e elastina, favorecendo o envelhecimento da pele. Além disso, os raios UVA podem ocasionar a liberação de radicais livres (moléculas reativas que podem provocar danos às células) que, ao interagirem com o DNA, também podem resultar em câncer de pele.

Os antioxidantes, geralmente utilizados em cosméticos devido a sua ação contra os sinais de envelhecimento, são substâncias capazes de proteger o organismo contra a ação de radicais livres. A pesquisa utilizou esses elementos no intuito de aumentar a eficácia e a segurança de protetores solares, que podem sofrer alterações físico-químicas devido à absorção dos raios do sol ou à presença de outros filtros, princípios ativos ou componentes do produto. “Durante os testes, nós percebemos que os antioxidantes viabilizam a absorção energética do filtro solar por mecanismos diferentes”, conta Thamires.

A interação entre filtros e antioxidantes

Nos experimentos com células de animais, Thamires trabalhou com a avobenzona (filtro UVA) e o p-metoxicinamato de octila (filtro UVB) na companhia dos antioxidantes resveratrol e ácido ferúlico. “No setor de cosméticos é comum o apelo pelo natural com a utilização de componentes de origem vegetal, como os encontrados em extratos, óleos e ceras.  Isso porque os de origem animal podem provocar alergias por conterem aminoácidos que são reconhecidos como substâncias estranhas pelo corpo”, explica. Os testes foram realizados através das técnicas de Análise Térmica, Ressonância Magnética Nuclear, Ressonância Paramagnética Eletrônica e fluorimétricas (FRET e inibição da fluorescência).

A pesquisadora explica que, ao absorver a radiação ultravioleta, as moléculas dos filtros solares orgânicos ficam excitadas e os elétrons dos átomos migram para um orbital de maior energia. Ao retornar ao seu estado original, o elétron libera a energia absorvida em uma forma menos energética. Com a adição de antioxidantes às soluções, as moléculas retornam ao estado original e captam novamente a radiação, aumentando a fotoestabilização e a capacidade de absorção dos filtros analisados.

Durante o teste, o antioxidante resveratrol inibiu a fluorescência das soluções B e C, que continham o filtro avobenzona. Imagem: Arquivo Pessoal/Thamires

Para Thamires, a tendência do uso de filtros solares com antioxidantes deve continuar sendo seguida pela indústria de cosméticos devido ao seu uso multifuncional de proteção contra os danos causados pelos raios ultravioleta e o envelhecimento da pele. “Para isso, é necessário a publicação de mais artigos científicos que comprovem a eficácia, além do interesse de empresas do setor para a introdução dessas fórmulas no mercado”, afirma.

Câncer de pele

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em 2021, a estimativa é de que haja uma incidência de 2 a 3 milhões de casos de câncer de pele não melanoma e mais de 130 mil casos de câncer de pele melanoma no mundo anualmente. Apesar da menor incidência, o melanoma (originado nas células que produzem a melanina) é mais agressivo e responsável pela maior parte das mortes, enquanto o não melanoma possui um prognóstico melhor.

Mais informações: e-mail tbfreire@usp.br, com Thamires Batello Freire

Religião e espiritualidade influenciam índices de qualidade de vida

A influência da religiosidade e espiritualidade na saúde e qualidade de vida de indivíduos é foco de interesse da sociedade há décadas. Enquanto muitos acreditam em benefícios da crença como forma complementar de tratamentos, outros enxergam nela prejuízos para os métodos da medicina tradicional. Nos últimos anos aumentou o número de pesquisas que pretendem resultados mais específicos sobre o tema. Apesar de ainda ser uma área com escassez de publicações objetivas a respeito da aplicabilidade clínica de intervenções religiosas e espirituais, alguns resultados e conclusões já podem ser analisados e pretendidos como padrões.

Nesse contexto se insere o artigo, produzido na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Avaliação da Prática de Terapia Complementar Espiritual/Religiosa em Saúde Mental, de Juliane P. de Bernardin Gonçalves, Giancarlo Lucchetti, Frederico C. Leão, Paulo R. Menezes e Homero Vallada, que analisa estudos já publicados, a fim de encontrar semelhanças entre suas conclusões, juntar os resultados em uma técnica estatística e, então, contribuir para a evolução da pesquisa na área.

As publicações analisadas estudam as intervenções espirituais e religiosas – as IERs – e suas influências na saúde e qualidade de vida, principalmente de pacientes crônicos, mas também de profissionais da saúde e indivíduos saudáveis. Trata-se, porém, de estudos muito heterogêneos, o que, segundo a pesquisadora Juliane Gonçalves, dificulta a sumarização dos dados encontrados numa metanálise. Na maioria dos dados analisados – qualidade de vida, dor, sobrepeso – foi possível somente uma comparação descritiva dos resultados.

Por trabalhar com conceitos amplos, a pesquisa escolheu seguir uma linha de pensamento que define a espiritualidade como valores morais, crença em uma “força maior”, sem a necessidade de alguma filiação religiosa, podendo incluir grupos religiosos específicos e até indivíduos ateus e agnósticos; e a religião como “ligação com o sagrado ou transcendental através de um sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos”, como o catolicismo, judaísmo ou islamismo.

 

 

As IERs analisadas se davam, entre outras formas, através de grupos de oração, troca interpessoal, discussões sobre valores morais e éticos, psicoterapia, intervenções com áudio ou vídeo e serviços pastorais. Os estudos comparavam, então, as IERs com técnicas complementares já reconhecidamente benéficas, como meditação tradicional, propostas educativas, yoga e tai chi chuan.

Os resultados obtidos revelaram que as intervenções têm, na maioria dos casos, efeitos ainda mais benéficos dos que os já conhecidos na qualidade de vida dos indivíduos. As IERs estão associadas a redução dos sintomas de ansiedade em pacientes e do nível de estresse e exaustão emocional em profissionais da saúde, diminuição na intensidade do consumo de drogas e nos sintomas de depressão.

Efeito placebo?

Questionada a respeito do “efeito placebo” dessas intervenções, ou seja, efeitos psicológicos que interferem nas respostas do organismo ao tratamento pela crença do paciente, Juliane disse que não é possível precisar a porcentagem desse efeito no resultado das intervenções. Isso porque se trata de ensaios clínicos nos quais há participação e consciência do paciente sobre a técnica aplicada em seu tratamento.

Em testes de efeito placebo em casos de hipertensão, por exemplo, o paciente não sabe qual intervenção recebeu (medicamento placebo ou com princípios ativos): é a prática chamada de “duplo cego”, impossível nos casos das IERs. Isso não diminui, porém, a validade da pesquisa, já que analisa artigos baseados em metodologias mundialmente reconhecidas. Ainda assim, a pesquisadora garante que esses efeitos existem e são importantes fatores de influência.

Juliane conta, ainda, que outras pesquisas publicadas validam os argumentos dos que veem a religiosidade e a espiritualidade como algo prejudicial.

Respostas negativas ao tratamento são observadas quando se encara a religião de forma punitiva, como se a doença fosse um castigo divino ou uma forma de pagar pelos pecados cometidos. Nesses casos, a crença pode contribuir para o aumento nos índices de ansiedade, depressão e até de mortalidade.

A literatura que trata da religião e da espiritualidade na saúde ainda dá seus primeiros passos. Muitas questões, inclusive metodológicas, seguem sem respostas. O que se sabe é que o campo avança nas pesquisas e que elas, via de regra, indicam para consequências positivas de intervenções desse tipo na qualidade de vida dos indivíduos.

Mais informações: e-mail juliane.pbg@usp.br

FONTE: Jornal da USP

Depressão e ansiedade: projeto de telepsicoterapia oferece ajuda

Diante do contexto da pandemia de covid-19, o número de quadros de ansiedade e depressão aumentou entre crianças e adolescentes. Com dificuldades na adaptação às aulas presenciais e o estresse diário com a falta de socialização, o desenvolvimento mental dos jovens foi prejudicado e a busca por atendimentos cresceu. Para suprir a necessidade de tratamento durante a emergência sanitária, o Projeto Jovens na Pandemia utiliza a internet como ferramenta na psicoterapia e na compreensão de estratégias para oferecer ajuda.

A telepsicoterapia, tratamento psicológico por meio digital, é o método utilizado pelo projeto para ofertar o serviço aos pacientes. “Desenvolvemos um protocolo de psicoterapia baseado em técnicas cognitivas e técnicas comportamentais que estão presentes nas terapias presenciais que nós sabemos que funcionam”, explica  Guilherme Polanczyk, professor do Departamento de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP.

Situação preocupante

Além disso, a escassez de serviços de saúde mental no País e o crítico índice de crianças e adolescentes com transtornos psicológicos merece atenção do público, na opinião de Polanczyk: “A situação nas escolas, nos consultórios e ambulatórios de saúde mental de crianças e adolescentes é uma situação preocupante”.

Para ele, as consequências do isolamento e do ambiente em que vivem são fatores que influenciam nas mudanças no comportamento dos jovens, pois são “alterações que podem ser muito inespecíficas e que, realmente, em uma avaliação especializada, é possível detectar que existe um quadro de depressão ou de ansiedade ou de outra situação”. Essas alterações podem incluir sintomas de insônia, dificuldade em respirar, vontade de chorar e desinteresse.

Por meio da elaboração de um protocolo e de testes, “a psicoterapia segue estratégias bem estruturadas, cognitivas e comportamentais, e tem um componente também de vídeos educativos” no tratamento de pacientes. O acesso ao serviço é gratuito para todos os jovens do País e também busca auxiliar as famílias no processo. “É feita essa primeira conversa para avaliar se é uma criança que tem esses critérios para estar incluído no estudo. Então, (ela) participa de uma forma voluntária e do estudo por seis semanas”, complementa.

Emergência da saúde mental

A primeira etapa do projeto foi um estudo de monitoração da saúde mental das crianças e adolescentes em todo o País entre 2020 e 2021. “Identificamos que uma em cada três crianças e adolescentes apresentava esses níveis clínicos”, o que requer pelo menos uma avaliação, de acordo com ele. O agravamento destes casos nos Estados Unidos levou a Associação Americana de Pediatria a declarar emergência de saúde mental das crianças em outubro de 2021.

FONTE: Jornal da USP

No futuro, tratamento contra o câncer deve combinar dois tipos de imunoterapia

A imunoterapia contra o câncer é, atualmente, uma das abordagens mais eficazes para o tratamento de pacientes. Nela, as células cancerígenas são combatidas pelo próprio sistema imunológico do organismo. Apesar do sucesso clínico, nem todas as pessoas respondem satisfatoriamente a esse tipo de intervenção ou, se respondem, apresentam apenas respostas de curto prazo, além de muitos efeitos colaterais.

Mas uma revisão sistemática da literatura, realizada por Rafaela Rossetti, doutoranda pelo Programa de Oncologia Clínica, Células-Tronco e Terapia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, observou que a combinação de dois tratamentos (conhecidos como bloqueio do checkpoint imunológico e transferência adotiva de células T geneticamente modificadas) pode trazer resultados promissores.

O artigo Combination of genetically engineered T cells and immune checkpoint blockade for the treatment of cancer foi publicado em janeiro de 2022 no jornal Immunoterapy Advances.

“Esses estudos fornecem ensinamentos sobre possíveis abordagens para potencializar a atuação das células do sistema imunológico contra o câncer, tornando-as mais resistentes aos mecanismos imunossupressores [que reduzem a atividade desse sistema] impostos pelo microambiente tumoral”, explica Rafaela Rossetti ao Jornal da USP.

Já as T-CARs são células T geneticamente modificadas em laboratório para produzir um tipo de proteína conhecida como CAR (que significa Receptor de Antígeno Quimérico) antes de serem cultivadas e “devolvidas” à pessoa doente. Existem seis produtos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) –  agência de regulação americana para medicamentos – para uso clínico e disponíveis no mercado.

“O uso dessas células tem fornecido resultados impressionantes para o tratamento de câncer no sangue. Por outro lado, ainda existem limitações na sua eficácia contra tumores sólidos”, afirma Lucas Eduardo Botelho, coordenador do Laboratório de Transferência Gênica do Hemocentro de Ribeirão Preto e pesquisador associado do Centro de Terapia Celular (CTC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“A ineficiência se deve, em parte, aos mecanismos de imunossupressão empregados pelos tumores para escapar do ataque mediado por células do sistema imunológico”, diz Botelho.

Já o bloqueio do checkpoint imunológico baseia-se em um grupo de proteínas presentes na superfície dos linfócitos T que precisam de ser ativadas ou inativadas para desencadearem uma resposta imunológica. Estudos anteriores, liderados por americanos e japoneses, mostraram que as células do câncer estimulam a expressão dessas proteínas (chamadas de checkpoints) e seus ligantes (acionadores) no tecido tumoral. Com isso, os tumores “desligam” o sistema imunológico, o que favorece o crescimento do câncer. Os mesmos cientistas também demonstraram que o uso de anticorpos capazes de inibir a interação entre os checkpoints e seus ligantes restaura a resposta antitumoral de defesa, permitindo a reativação dos linfócitos T.

“Esta revisão teve como objetivo avaliar se o bloqueio dos checkpoints imunológicos seria um caminho promissor para aumentar a eficácia terapêutica das células T geneticamente modificadas contra neoplasias sólidas”, resume Botelho.

Terapia para câncer com Células T-CAR

Ensaios pré-clínicos e clínicos

A revisão sistemática é um método de pesquisa que busca reunir estudos semelhantes avaliando-os criticamente em sua metodologia e reunindo-os numa análise estatística. Ao sintetizar estudos semelhantes e de boa qualidade, é considerado o melhor nível de evidência para tomadas de decisões sobre tratamentos, de acordo com a Cochrane, rede global de pesquisadores especializada em trabalhos de revisão sistemática.

Para realizar esta revisão, Rafaela e Botelho delimitaram os principais pontos a serem abordados e cada um deles contribuiu para a busca bibliográfica, contextualização e redação sobre os tópicos escolhidos. “Nessa revisão, buscamos trazer um compilado de estudos que forneceram conhecimentos importantes, bem como estudos pré-clínicos e clínicos publicados recentemente”, explica Rafaela Rossetti.

“O objetivo foi fornecer uma visão mais completa do cenário atual do uso de inibidores de checkpoints imunológicos em combinação com a infusão de células T geneticamente modificadas para o tratamento contra o câncer.” Ao final, 112 artigos foram selecionados para o trabalho da pesquisadora.

Na avaliação dela, este trabalho contribuiu para enriquecer o conhecimento na área e permitiu refletir sobre possíveis implementações em pesquisas que atualmente abordam principalmente células T geneticamente modificadas para o tratamento do câncer, visando a uma melhoria na eficiência dessas células.

Trabalhos no CTC

O Centro de Terapia Celular foi o pioneiro no Brasil a estabelecer uma infraestrutura para estudo e aplicação clínica de células-tronco e, há alguns anos, houve a incorporação do uso de células T modificadas geneticamente para reconhecer e destruir células tumorais nas áreas de pesquisa e desenvolvimento.

Como resultado, foi estabelecida uma plataforma para produção e uso clínico de células T expressando receptores quiméricos de antígenos contra a proteína CD-19 (expressa em leucemias e linfomas de células B). “Esse estudo resultou na primeira aplicação bem-sucedida de células T-CAR anti CD-19 para o tratamento compassivo de pacientes com linfoma na América Latina”, diz Botelho.

Já o laboratório de Transferência Gênica do Hemocentro de Ribeirão Preto está empenhando esforços para contribuir com a ampliação da plataforma de produção e uso clínico das células CAR-T por meio da criação de ferramentas moleculares de controle de qualidade e ensaios pré-clínicos, além de desenvolver novas construções genéticas e estratégias para melhorar a eficácia e o acesso dos pacientes a esse tipo de terapia.

Botelho conta que, atualmente, existem projetos em andamento para avaliar construções genéticas contra três novos alvos expressos por células tumorais, incluindo tumores sólidos. Além disso, uma plataforma de edição gênica para geração de células T de uso alogênico está em fase de implementação.

Essa estratégia pode reduzir drasticamente os custos dessa tecnologia, e permite modificações celulares capazes de elevar sua eficácia por meio de deleção de genes que limitam sua atividade antitumoral, por exemplo.

“O levantamento que fizemos reforça a ideia de que utilizar ferramentas de edição genética para deletar os circuitos moleculares envolvidos nessa interação pode resultar em um produto mais eficaz, por não mais sofrer a ação supressora do microambiente tumoral”, ressalta o último autor do estudo. “Certamente essas informações serão incorporadas ao nosso esforço de desenvolver a próxima geração de imunoterapias celulares anticâncer”, conclui.

Mais informações: e-mail rafaelarossetti@usp.br, com Rafaela Rossetti; e-mail lucasebsouza@usp.br, com Lucas Eduardo Botelho

Reportagem: Fabiana Mariz
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Gordura no fígado pode regredir com atividades físicas e alimentação balanceada

Débora Terrabuio fala sobre a doença hepática gordurosa não alcoólica, a qual é considerada epidemia global e pode evoluir para casos de fibrose no fígado, cirrose, câncer, infarto, derrame e até AVC

Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), também conhecida como esteatose hepática, já atinge 30% dos brasileiros e representa atualmente uma epidemia global. Ela é considerada uma manifestação hepática da síndrome metabólica, composta por obesidade ou sobrepeso, pré-diabete ou diabete, hipertensão e alterações de colesterol. Segundo a hepatologista e coordenadora da Clínica de Transplante Hepático do Hospital das Clínicas (HC) da USP, Débora Terrabuio, pessoas que possuem pelo menos três desses problemas têm mais risco de desenvolver a esteatose: “Nos pacientes com diabete, a prevalência pode chegar até 60%”.

Consequências da doença

A DHGNA ainda pode evoluir para uma esteato-hepatite com o passar do tempo, facilitando que o paciente acometido desenvolva fibrose no fígado, cirrose ou até câncer, sendo necessário, em alguns casos, realizar transplante hepático. De acordo com Débora, de um a dois pacientes em cada dez podem progredir para esse quadro. Além disso, a esteato-hepatite também está associada ao aumento do risco de infarto, derrame e AVC, ou seja, é uma doença com comprometimento sistêmico.

A hepatologista informa que as doenças do fígado são, geralmente, pouco sintomáticas: “A gente só descobre que tem algum problema no fígado quando o olho amarela, quando aparece água na barriga, quando a plaqueta, que é responsável pela coagulação do sangue, baixa além do valor normal em um exame de hemograma ou quando [o paciente] vai fazer um ultrassom e já tem um fígado de tamanho diminuído”.

Diagnóstico

Para ver se a esteatose está ou não comprometendo o fígado, é considerado o sexo do paciente, sua idade e comorbidades. “Começamos fazendo ultrassom e depois os exames de sangue do fígado, para ver como esse paciente está, com as enzimas do fígado alteradas ou não”, diz a especialista.

Por se tratar de uma doença progressiva, é importante atuar nas diversas partes da evolução da doença e fazer o diagnóstico precoce para obter mais chances de reverter o quadro. Conforme explica Débora, estudos mostram que aproximadamente 40% dos pacientes acometidos com hepatite sabem do seu diagnóstico e estão comprometidos com o tratamento, contra menos de 5% dos que possuem a esteatose hepática.

Tratamento e prevenção

Se um indivíduo possui a esteatose grau três no fígado, é preciso que ele mude seus hábitos de vida a partir da diminuição do consumo de produtos industrializados e da intensificação da atividade física, já que, perdendo cerca de 10% do peso quando é dado o diagnóstico, e controlando a síndrome metabólica, há uma melhora significativa da gordura no fígado. Aumentar o consumo de café sem adição de açúcar também pode diminuir a inflamação.

Débora reforça a importância de o paciente conversar com seu médico endócrino para avaliar a possibilidade de realizar ultrassom de abdômen e exames do fígado em casos em que ele possui outras doenças, como diabete e hipertensão. Para o público leigo, há ainda diversos formulários científicos feitos pela Sociedade Brasileira de Patologia e pelo site Tudo Sobre Fígado, o qual disponibiliza informações sobre a DHGNA.

FONTE: Jornal da USP