Mudanças no estilo de vida diminuem risco de demência até em casos com predisposição genética

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Há sete hábitos que diminuem o risco de demência em até 43%, mesmo para quem tem predisposição genética para o quadro: permanecer ativo; adotar uma alimentação saudável; evitar o sobrepeso; não fumar; manter a pressão arterial adequada; controlar o colesterol e a taxa de açúcar no sangue. As conclusões são do estudo Genetic Risk, Midlife Life’s Simple 7 and Incident Dementia in the Atherosclerosis Risk in Communities Study, realizado nos Estados Unidos, que acompanhou cerca de 11.500 pacientes por três décadas.

“O que eles mostraram nessa base de dados é que você tendo um bom score de estilo de vida, de hábitos, mesmo que você tenha um risco genético alto, você consegue atenuar em parte esse risco”, explica Orestes Vicente Forlenza, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. O estudo determinou cinco faixas de risco, avaliando como os hábitos influenciam em cada um.

Forlenza conta que a incidência de demência vem caindo em países desenvolvidos, o que é reflexo dos incentivos à mudança do estilo de vida. “Essa promoção de um envelhecimento mais saudável a partir da meia-idade, é muito importante para reduzir a quantidade de casos de demência lá na frente.” O número total de casos pode permanecer estável ou aumentar pelo fato de as pessoas estarem vivendo mais.

Comorbidades

Outros hábitos podem ser melhorados e contribuírem na redução do risco de demência, como evitar a perda de acuidade auditiva e visual e fazer o tratamento correto da depressão. “Todas as intervenções feitas na meia-idade na população vão resultar num benefício populacional, que é uma redução de até 30%, 35% dos casos de demência”, afirma o professor.

Fatores de risco cardiovasculares têm relação direta com o risco cérebro-vascular, que impacta na doença de Alzheimer, a doença mais frequente do grupo da demência, acelerando o início dos sintomas, segundo Orestes. “A promoção de bons hábitos, o controle adequado das comorbidades, das doenças que se associam a isso, tudo isso em conjunto vai levar a um envelhecimento cerebral mais saudável, mesmo para quem tem ou para quem não tem doença de Alzheimer.”

FONTE: Jornal da USP

Fórmula de guaraná ajuda a controlar oleosidade da pele e cabelos

Uma fórmula cosmética contendo extrato de guaraná, fruto típico da Amazônia, se mostrou eficaz na redução da oleosidade excessiva e promoção das condições normais de hidratação da pele e cabelos. O estudo Avaliação da pele e cabelos oleosos, desenvolvimento e eficácia clínica de formulações cosméticas contendo extrato de guaraná, que deu origem à formula, foi desenvolvido pela farmacêutica Marcella Gabarra Almeida Leite, com orientação da professora Patrícia Maia Campos, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

O estudo, conta Marcella, mostra que o uso de produtos com extrato de guaraná em suas formulações, além de reduzir a oleosidade sem causar danos à fibra capilar ou à pele, promove diminuição do tamanho dos poros e de fatores associados à formação de espinhas. “Nós percebemos uma diminuição no número de porfirinas, que são metabólitos da bactéria Cutibacterium acnes, aquela relacionada à formação de espinhas e de outros problemas envolvendo a oleosidade.”

A professora Patrícia ainda informa que a fibra capilar continuou com a maleabilidade e sem ressecamento, bem como os níveis de oleosidade normais na pele, que mantiveram o equilíbrio. Quanto às propriedades que explicam o uso do guaraná em cosméticos, as pesquisadoras afirmam tratar-se de um fruto brasileiro rico em compostos como saponinas e taninos, que conferem atividade detergente e adstringente, além de trazer compostos fenólicos, como catequinas e epicatequinas, que possuem potente atividade antioxidante.

Desta forma, enfatiza a professora Patrícia, utilizar extrato de guaraná no combate da oleosidade representa um passo importante para o desenvolvimento sustentável, principalmente por conta da utilização de produtos da biodiversidade brasileira nos cosméticos na busca de produtos mais inovadores e efetivos.

O controle da oleosidade na qualidade de vida

Os problemas com a oleosidade de pele e cabelos dos brasileiros são considerados “muito relevantes” já que são o principal motivo de procura por dermatologistas no País. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a oleosidade é predominante em 56,5% da população, fato que, segundo as pesquisadoras, justifica os estudos e a busca por soluções.

Outro fato é o de que alterações capilares, em especial as causadas pela produção excessiva de sebo, podem afetar negativamente a imagem e influenciar diretamente na qualidade de vida. Marcella informa que, além dos desconfortos usuais causados pelo aspecto gorduroso e brilhante, a oleosidade pode causar alterações cutâneas como acnes, dermatites seborreicas e comprometimentos na eudermia (estado fisiologicamente normal da pele).

Em números, a oleosidade é considerada normal até atingir 150 microgramas por centímetro quadrado. Apesar disso, a pesquisadora explica que a quantidade de sebo é considerada anormal quando gera incômodo. Marcella conta que os níveis da oleosidade presente na pele são medidos através de um equipamento chamado Sebumeter. “Esse equipamento possui uma fita opaca que fica transparente quando ela está em contato com o sebo presente na pele e aí essa transparência é contabilizada por uma fotocélula que é quantificada”, explica.

Essas medidas de oleosidade fizeram parte do experimento realizado com voluntárias mulheres de 18 a 40 anos com pele e cabelos oleosos. Após a seleção, que procurava por um padrão no nível de oleosidade, as participantes receberam uma formulação básica que foi usada por 15 dias para promover o wash out (tratamento para normalizar as condições do cabelo e pele das mulheres, evitando a influência de outros produtos). Na sequência, passaram por novas etapas de análises.

O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Tecnologia de Cosméticos, da FCFRP, como parte do doutorado da farmacêutica Marcella. Os pesquisadores estão preparando artigos científicos sobre os achados e, por enquanto, ainda não há perspectivas para o desenvolvimento de formulações comerciais com a fórmula.

Mais informações: e-mails pmcampos@usp.br (com Patrícia) ou marcellagabarra@hotmail.com (com Marcella)

Autora: Laura Oliveira
Arte: Ana Júlia Maciel

FONTE: Jornal da USP

Interação entre antioxidantes de origem natural e filtros solares pode elevar a eficácia fotoprotetora

Pesquisadora da USP analisou a capacidade dos antioxidantes resveratrol e ácido ferúlico de conferirem maior estabilidade de absorção da radiação ultravioleta pelos filtros solares

A adição de antioxidantes de origem natural às formulações de filtros solares podem garantir uma maior proteção contra a radiação ultravioleta, mostra estudo da pesquisadora Thamires Batello Freire. Em seu doutorado Influência de antioxidantes na fotoestabilização da avobenzona (filtro UVA) e do p-metoxicinamato de octila (filtro UVB) em fotoprotetoresela avaliou as interações entre agentes fotoprotetores e os antioxidantes resveratrol (encontrado principalmente na casca da uva) e ácido ferúlico (presente em diversas fontes naturais). O trabalho, realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, teve orientação da professora Maria Valéria Robles Velasco.
Em entrevista ao Jornal da USP, Thamires explica que os filtros solares são substâncias que, ao receberem as ondas eletromagnéticas da radiação solar, absorvem a energia transmitida por elas, protegendo a pele do dano solar. Eles podem apresentar mais de um componente ativo, pois alguns filtros solares são mais eficientes frente aos raios ultravioleta A (UVA) e outros aos raios ultravioleta B (UVB).O Sol emite radiação ultravioleta, que são ondas eletromagnéticas: os raios UVB são ondas curtas, entre 290 e 320 nanômetros (nm) e mais energéticas, que atingem a epiderme (primeira camada da pele), provocando vermelhidão (eritema), queimaduras e danos diretos ao DNA, que podem levar ao surgimento do câncer de pele. Já os raios UVA são formados por ondas mais longas (entre 320 e 400 nm), com menos energia, que chegam até a derme (camada mais profunda) e podem degradar as fibras de colágeno e elastina, favorecendo o envelhecimento da pele. Além disso, os raios UVA podem ocasionar a liberação de radicais livres (moléculas reativas que podem provocar danos às células) que, ao interagirem com o DNA, também podem resultar em câncer de pele.

Os antioxidantes, geralmente utilizados em cosméticos devido a sua ação contra os sinais de envelhecimento, são substâncias capazes de proteger o organismo contra a ação de radicais livres. A pesquisa utilizou esses elementos no intuito de aumentar a eficácia e a segurança de protetores solares, que podem sofrer alterações físico-químicas devido à absorção dos raios do sol ou à presença de outros filtros, princípios ativos ou componentes do produto. “Durante os testes, nós percebemos que os antioxidantes viabilizam a absorção energética do filtro solar por mecanismos diferentes”, conta Thamires.

A interação entre filtros e antioxidantes

Nos experimentos com células de animais, Thamires trabalhou com a avobenzona (filtro UVA) e o p-metoxicinamato de octila (filtro UVB) na companhia dos antioxidantes resveratrol e ácido ferúlico. “No setor de cosméticos é comum o apelo pelo natural com a utilização de componentes de origem vegetal, como os encontrados em extratos, óleos e ceras.  Isso porque os de origem animal podem provocar alergias por conterem aminoácidos que são reconhecidos como substâncias estranhas pelo corpo”, explica. Os testes foram realizados através das técnicas de Análise Térmica, Ressonância Magnética Nuclear, Ressonância Paramagnética Eletrônica e fluorimétricas (FRET e inibição da fluorescência).

A pesquisadora explica que, ao absorver a radiação ultravioleta, as moléculas dos filtros solares orgânicos ficam excitadas e os elétrons dos átomos migram para um orbital de maior energia. Ao retornar ao seu estado original, o elétron libera a energia absorvida em uma forma menos energética. Com a adição de antioxidantes às soluções, as moléculas retornam ao estado original e captam novamente a radiação, aumentando a fotoestabilização e a capacidade de absorção dos filtros analisados.

Durante o teste, o antioxidante resveratrol inibiu a fluorescência das soluções B e C, que continham o filtro avobenzona. Imagem: Arquivo Pessoal/Thamires

Para Thamires, a tendência do uso de filtros solares com antioxidantes deve continuar sendo seguida pela indústria de cosméticos devido ao seu uso multifuncional de proteção contra os danos causados pelos raios ultravioleta e o envelhecimento da pele. “Para isso, é necessário a publicação de mais artigos científicos que comprovem a eficácia, além do interesse de empresas do setor para a introdução dessas fórmulas no mercado”, afirma.

Câncer de pele

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em 2021, a estimativa é de que haja uma incidência de 2 a 3 milhões de casos de câncer de pele não melanoma e mais de 130 mil casos de câncer de pele melanoma no mundo anualmente. Apesar da menor incidência, o melanoma (originado nas células que produzem a melanina) é mais agressivo e responsável pela maior parte das mortes, enquanto o não melanoma possui um prognóstico melhor.

Mais informações: e-mail tbfreire@usp.br, com Thamires Batello Freire

Religião e espiritualidade influenciam índices de qualidade de vida

A influência da religiosidade e espiritualidade na saúde e qualidade de vida de indivíduos é foco de interesse da sociedade há décadas. Enquanto muitos acreditam em benefícios da crença como forma complementar de tratamentos, outros enxergam nela prejuízos para os métodos da medicina tradicional. Nos últimos anos aumentou o número de pesquisas que pretendem resultados mais específicos sobre o tema. Apesar de ainda ser uma área com escassez de publicações objetivas a respeito da aplicabilidade clínica de intervenções religiosas e espirituais, alguns resultados e conclusões já podem ser analisados e pretendidos como padrões.

Nesse contexto se insere o artigo, produzido na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Avaliação da Prática de Terapia Complementar Espiritual/Religiosa em Saúde Mental, de Juliane P. de Bernardin Gonçalves, Giancarlo Lucchetti, Frederico C. Leão, Paulo R. Menezes e Homero Vallada, que analisa estudos já publicados, a fim de encontrar semelhanças entre suas conclusões, juntar os resultados em uma técnica estatística e, então, contribuir para a evolução da pesquisa na área.

As publicações analisadas estudam as intervenções espirituais e religiosas – as IERs – e suas influências na saúde e qualidade de vida, principalmente de pacientes crônicos, mas também de profissionais da saúde e indivíduos saudáveis. Trata-se, porém, de estudos muito heterogêneos, o que, segundo a pesquisadora Juliane Gonçalves, dificulta a sumarização dos dados encontrados numa metanálise. Na maioria dos dados analisados – qualidade de vida, dor, sobrepeso – foi possível somente uma comparação descritiva dos resultados.

Por trabalhar com conceitos amplos, a pesquisa escolheu seguir uma linha de pensamento que define a espiritualidade como valores morais, crença em uma “força maior”, sem a necessidade de alguma filiação religiosa, podendo incluir grupos religiosos específicos e até indivíduos ateus e agnósticos; e a religião como “ligação com o sagrado ou transcendental através de um sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos”, como o catolicismo, judaísmo ou islamismo.

 

 

As IERs analisadas se davam, entre outras formas, através de grupos de oração, troca interpessoal, discussões sobre valores morais e éticos, psicoterapia, intervenções com áudio ou vídeo e serviços pastorais. Os estudos comparavam, então, as IERs com técnicas complementares já reconhecidamente benéficas, como meditação tradicional, propostas educativas, yoga e tai chi chuan.

Os resultados obtidos revelaram que as intervenções têm, na maioria dos casos, efeitos ainda mais benéficos dos que os já conhecidos na qualidade de vida dos indivíduos. As IERs estão associadas a redução dos sintomas de ansiedade em pacientes e do nível de estresse e exaustão emocional em profissionais da saúde, diminuição na intensidade do consumo de drogas e nos sintomas de depressão.

Efeito placebo?

Questionada a respeito do “efeito placebo” dessas intervenções, ou seja, efeitos psicológicos que interferem nas respostas do organismo ao tratamento pela crença do paciente, Juliane disse que não é possível precisar a porcentagem desse efeito no resultado das intervenções. Isso porque se trata de ensaios clínicos nos quais há participação e consciência do paciente sobre a técnica aplicada em seu tratamento.

Em testes de efeito placebo em casos de hipertensão, por exemplo, o paciente não sabe qual intervenção recebeu (medicamento placebo ou com princípios ativos): é a prática chamada de “duplo cego”, impossível nos casos das IERs. Isso não diminui, porém, a validade da pesquisa, já que analisa artigos baseados em metodologias mundialmente reconhecidas. Ainda assim, a pesquisadora garante que esses efeitos existem e são importantes fatores de influência.

Juliane conta, ainda, que outras pesquisas publicadas validam os argumentos dos que veem a religiosidade e a espiritualidade como algo prejudicial.

Respostas negativas ao tratamento são observadas quando se encara a religião de forma punitiva, como se a doença fosse um castigo divino ou uma forma de pagar pelos pecados cometidos. Nesses casos, a crença pode contribuir para o aumento nos índices de ansiedade, depressão e até de mortalidade.

A literatura que trata da religião e da espiritualidade na saúde ainda dá seus primeiros passos. Muitas questões, inclusive metodológicas, seguem sem respostas. O que se sabe é que o campo avança nas pesquisas e que elas, via de regra, indicam para consequências positivas de intervenções desse tipo na qualidade de vida dos indivíduos.

Mais informações: e-mail juliane.pbg@usp.br

FONTE: Jornal da USP

Depressão e ansiedade: projeto de telepsicoterapia oferece ajuda

Diante do contexto da pandemia de covid-19, o número de quadros de ansiedade e depressão aumentou entre crianças e adolescentes. Com dificuldades na adaptação às aulas presenciais e o estresse diário com a falta de socialização, o desenvolvimento mental dos jovens foi prejudicado e a busca por atendimentos cresceu. Para suprir a necessidade de tratamento durante a emergência sanitária, o Projeto Jovens na Pandemia utiliza a internet como ferramenta na psicoterapia e na compreensão de estratégias para oferecer ajuda.

A telepsicoterapia, tratamento psicológico por meio digital, é o método utilizado pelo projeto para ofertar o serviço aos pacientes. “Desenvolvemos um protocolo de psicoterapia baseado em técnicas cognitivas e técnicas comportamentais que estão presentes nas terapias presenciais que nós sabemos que funcionam”, explica  Guilherme Polanczyk, professor do Departamento de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP.

Situação preocupante

Além disso, a escassez de serviços de saúde mental no País e o crítico índice de crianças e adolescentes com transtornos psicológicos merece atenção do público, na opinião de Polanczyk: “A situação nas escolas, nos consultórios e ambulatórios de saúde mental de crianças e adolescentes é uma situação preocupante”.

Para ele, as consequências do isolamento e do ambiente em que vivem são fatores que influenciam nas mudanças no comportamento dos jovens, pois são “alterações que podem ser muito inespecíficas e que, realmente, em uma avaliação especializada, é possível detectar que existe um quadro de depressão ou de ansiedade ou de outra situação”. Essas alterações podem incluir sintomas de insônia, dificuldade em respirar, vontade de chorar e desinteresse.

Por meio da elaboração de um protocolo e de testes, “a psicoterapia segue estratégias bem estruturadas, cognitivas e comportamentais, e tem um componente também de vídeos educativos” no tratamento de pacientes. O acesso ao serviço é gratuito para todos os jovens do País e também busca auxiliar as famílias no processo. “É feita essa primeira conversa para avaliar se é uma criança que tem esses critérios para estar incluído no estudo. Então, (ela) participa de uma forma voluntária e do estudo por seis semanas”, complementa.

Emergência da saúde mental

A primeira etapa do projeto foi um estudo de monitoração da saúde mental das crianças e adolescentes em todo o País entre 2020 e 2021. “Identificamos que uma em cada três crianças e adolescentes apresentava esses níveis clínicos”, o que requer pelo menos uma avaliação, de acordo com ele. O agravamento destes casos nos Estados Unidos levou a Associação Americana de Pediatria a declarar emergência de saúde mental das crianças em outubro de 2021.

FONTE: Jornal da USP

No futuro, tratamento contra o câncer deve combinar dois tipos de imunoterapia

A imunoterapia contra o câncer é, atualmente, uma das abordagens mais eficazes para o tratamento de pacientes. Nela, as células cancerígenas são combatidas pelo próprio sistema imunológico do organismo. Apesar do sucesso clínico, nem todas as pessoas respondem satisfatoriamente a esse tipo de intervenção ou, se respondem, apresentam apenas respostas de curto prazo, além de muitos efeitos colaterais.

Mas uma revisão sistemática da literatura, realizada por Rafaela Rossetti, doutoranda pelo Programa de Oncologia Clínica, Células-Tronco e Terapia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, observou que a combinação de dois tratamentos (conhecidos como bloqueio do checkpoint imunológico e transferência adotiva de células T geneticamente modificadas) pode trazer resultados promissores.

O artigo Combination of genetically engineered T cells and immune checkpoint blockade for the treatment of cancer foi publicado em janeiro de 2022 no jornal Immunoterapy Advances.

“Esses estudos fornecem ensinamentos sobre possíveis abordagens para potencializar a atuação das células do sistema imunológico contra o câncer, tornando-as mais resistentes aos mecanismos imunossupressores [que reduzem a atividade desse sistema] impostos pelo microambiente tumoral”, explica Rafaela Rossetti ao Jornal da USP.

Já as T-CARs são células T geneticamente modificadas em laboratório para produzir um tipo de proteína conhecida como CAR (que significa Receptor de Antígeno Quimérico) antes de serem cultivadas e “devolvidas” à pessoa doente. Existem seis produtos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) –  agência de regulação americana para medicamentos – para uso clínico e disponíveis no mercado.

“O uso dessas células tem fornecido resultados impressionantes para o tratamento de câncer no sangue. Por outro lado, ainda existem limitações na sua eficácia contra tumores sólidos”, afirma Lucas Eduardo Botelho, coordenador do Laboratório de Transferência Gênica do Hemocentro de Ribeirão Preto e pesquisador associado do Centro de Terapia Celular (CTC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“A ineficiência se deve, em parte, aos mecanismos de imunossupressão empregados pelos tumores para escapar do ataque mediado por células do sistema imunológico”, diz Botelho.

Já o bloqueio do checkpoint imunológico baseia-se em um grupo de proteínas presentes na superfície dos linfócitos T que precisam de ser ativadas ou inativadas para desencadearem uma resposta imunológica. Estudos anteriores, liderados por americanos e japoneses, mostraram que as células do câncer estimulam a expressão dessas proteínas (chamadas de checkpoints) e seus ligantes (acionadores) no tecido tumoral. Com isso, os tumores “desligam” o sistema imunológico, o que favorece o crescimento do câncer. Os mesmos cientistas também demonstraram que o uso de anticorpos capazes de inibir a interação entre os checkpoints e seus ligantes restaura a resposta antitumoral de defesa, permitindo a reativação dos linfócitos T.

“Esta revisão teve como objetivo avaliar se o bloqueio dos checkpoints imunológicos seria um caminho promissor para aumentar a eficácia terapêutica das células T geneticamente modificadas contra neoplasias sólidas”, resume Botelho.

Terapia para câncer com Células T-CAR

Ensaios pré-clínicos e clínicos

A revisão sistemática é um método de pesquisa que busca reunir estudos semelhantes avaliando-os criticamente em sua metodologia e reunindo-os numa análise estatística. Ao sintetizar estudos semelhantes e de boa qualidade, é considerado o melhor nível de evidência para tomadas de decisões sobre tratamentos, de acordo com a Cochrane, rede global de pesquisadores especializada em trabalhos de revisão sistemática.

Para realizar esta revisão, Rafaela e Botelho delimitaram os principais pontos a serem abordados e cada um deles contribuiu para a busca bibliográfica, contextualização e redação sobre os tópicos escolhidos. “Nessa revisão, buscamos trazer um compilado de estudos que forneceram conhecimentos importantes, bem como estudos pré-clínicos e clínicos publicados recentemente”, explica Rafaela Rossetti.

“O objetivo foi fornecer uma visão mais completa do cenário atual do uso de inibidores de checkpoints imunológicos em combinação com a infusão de células T geneticamente modificadas para o tratamento contra o câncer.” Ao final, 112 artigos foram selecionados para o trabalho da pesquisadora.

Na avaliação dela, este trabalho contribuiu para enriquecer o conhecimento na área e permitiu refletir sobre possíveis implementações em pesquisas que atualmente abordam principalmente células T geneticamente modificadas para o tratamento do câncer, visando a uma melhoria na eficiência dessas células.

Trabalhos no CTC

O Centro de Terapia Celular foi o pioneiro no Brasil a estabelecer uma infraestrutura para estudo e aplicação clínica de células-tronco e, há alguns anos, houve a incorporação do uso de células T modificadas geneticamente para reconhecer e destruir células tumorais nas áreas de pesquisa e desenvolvimento.

Como resultado, foi estabelecida uma plataforma para produção e uso clínico de células T expressando receptores quiméricos de antígenos contra a proteína CD-19 (expressa em leucemias e linfomas de células B). “Esse estudo resultou na primeira aplicação bem-sucedida de células T-CAR anti CD-19 para o tratamento compassivo de pacientes com linfoma na América Latina”, diz Botelho.

Já o laboratório de Transferência Gênica do Hemocentro de Ribeirão Preto está empenhando esforços para contribuir com a ampliação da plataforma de produção e uso clínico das células CAR-T por meio da criação de ferramentas moleculares de controle de qualidade e ensaios pré-clínicos, além de desenvolver novas construções genéticas e estratégias para melhorar a eficácia e o acesso dos pacientes a esse tipo de terapia.

Botelho conta que, atualmente, existem projetos em andamento para avaliar construções genéticas contra três novos alvos expressos por células tumorais, incluindo tumores sólidos. Além disso, uma plataforma de edição gênica para geração de células T de uso alogênico está em fase de implementação.

Essa estratégia pode reduzir drasticamente os custos dessa tecnologia, e permite modificações celulares capazes de elevar sua eficácia por meio de deleção de genes que limitam sua atividade antitumoral, por exemplo.

“O levantamento que fizemos reforça a ideia de que utilizar ferramentas de edição genética para deletar os circuitos moleculares envolvidos nessa interação pode resultar em um produto mais eficaz, por não mais sofrer a ação supressora do microambiente tumoral”, ressalta o último autor do estudo. “Certamente essas informações serão incorporadas ao nosso esforço de desenvolver a próxima geração de imunoterapias celulares anticâncer”, conclui.

Mais informações: e-mail rafaelarossetti@usp.br, com Rafaela Rossetti; e-mail lucasebsouza@usp.br, com Lucas Eduardo Botelho

Reportagem: Fabiana Mariz
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Gordura no fígado pode regredir com atividades físicas e alimentação balanceada

Débora Terrabuio fala sobre a doença hepática gordurosa não alcoólica, a qual é considerada epidemia global e pode evoluir para casos de fibrose no fígado, cirrose, câncer, infarto, derrame e até AVC

Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), também conhecida como esteatose hepática, já atinge 30% dos brasileiros e representa atualmente uma epidemia global. Ela é considerada uma manifestação hepática da síndrome metabólica, composta por obesidade ou sobrepeso, pré-diabete ou diabete, hipertensão e alterações de colesterol. Segundo a hepatologista e coordenadora da Clínica de Transplante Hepático do Hospital das Clínicas (HC) da USP, Débora Terrabuio, pessoas que possuem pelo menos três desses problemas têm mais risco de desenvolver a esteatose: “Nos pacientes com diabete, a prevalência pode chegar até 60%”.

Consequências da doença

A DHGNA ainda pode evoluir para uma esteato-hepatite com o passar do tempo, facilitando que o paciente acometido desenvolva fibrose no fígado, cirrose ou até câncer, sendo necessário, em alguns casos, realizar transplante hepático. De acordo com Débora, de um a dois pacientes em cada dez podem progredir para esse quadro. Além disso, a esteato-hepatite também está associada ao aumento do risco de infarto, derrame e AVC, ou seja, é uma doença com comprometimento sistêmico.

A hepatologista informa que as doenças do fígado são, geralmente, pouco sintomáticas: “A gente só descobre que tem algum problema no fígado quando o olho amarela, quando aparece água na barriga, quando a plaqueta, que é responsável pela coagulação do sangue, baixa além do valor normal em um exame de hemograma ou quando [o paciente] vai fazer um ultrassom e já tem um fígado de tamanho diminuído”.

Diagnóstico

Para ver se a esteatose está ou não comprometendo o fígado, é considerado o sexo do paciente, sua idade e comorbidades. “Começamos fazendo ultrassom e depois os exames de sangue do fígado, para ver como esse paciente está, com as enzimas do fígado alteradas ou não”, diz a especialista.

Por se tratar de uma doença progressiva, é importante atuar nas diversas partes da evolução da doença e fazer o diagnóstico precoce para obter mais chances de reverter o quadro. Conforme explica Débora, estudos mostram que aproximadamente 40% dos pacientes acometidos com hepatite sabem do seu diagnóstico e estão comprometidos com o tratamento, contra menos de 5% dos que possuem a esteatose hepática.

Tratamento e prevenção

Se um indivíduo possui a esteatose grau três no fígado, é preciso que ele mude seus hábitos de vida a partir da diminuição do consumo de produtos industrializados e da intensificação da atividade física, já que, perdendo cerca de 10% do peso quando é dado o diagnóstico, e controlando a síndrome metabólica, há uma melhora significativa da gordura no fígado. Aumentar o consumo de café sem adição de açúcar também pode diminuir a inflamação.

Débora reforça a importância de o paciente conversar com seu médico endócrino para avaliar a possibilidade de realizar ultrassom de abdômen e exames do fígado em casos em que ele possui outras doenças, como diabete e hipertensão. Para o público leigo, há ainda diversos formulários científicos feitos pela Sociedade Brasileira de Patologia e pelo site Tudo Sobre Fígado, o qual disponibiliza informações sobre a DHGNA.

FONTE: Jornal da USP

Atividade intelectual pode melhorar o desempenho cerebral

A especialista diz que “a construção da reserva cognitiva é feita ao longo de toda a vida, desde a infância, com uma boa alimentação, atividade intelectual, uma boa estimulação e através da escolarização, nível educacional e atividades cognitivas”

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A reserva cognitiva é de extrema importância para o nosso dia a dia e nos ajuda a viver melhor, principalmente na terceira idade. Mas antes de explicar vamos entender primeiro o que é a reserva cerebral. É justamente o espaço físico que existe no cérebro, com todos os seus neurônios e estruturas. A médica Sônia Brucki, professora de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP (FM) e coordenadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas, explica que “reserva cerebral é uma reserva estrutural do cérebro, número de neurônios, por exemplo, uma pessoa que tem um acidente vascular cerebral vai ter como sequela uma menor reserva cerebral do que outra que não teve porque vai ter uma região do cérebro que foi afetada e que não vai ter mais os neurônios e as outras estruturas que tem no cérebro normal”, diz.

Sendo assim, a reserva cognitiva é a funcional, construída ao longo da vida com boas condições de saúde, trata-se de um estilo de vida. “Podemos dizer que é um conceito mais funcional em que você vai construindo essa reserva cognitiva ao longo de toda sua vida, desde a infância, com uma boa alimentação, uma boa estimulação e também através da escolarização. O nível educacional que o indivíduo alcança é importante para todas as suas atividades cognitivas intelectuais durante a vida.

Quanto mais você ler, estudar e fazer coisas diversificadas melhor para a sua reserva cognitiva e consequentemente aumenta o número de sinapses neuronais entre as células. O termo reserva cognitiva descreve a resistência da mente às lesões do cérebro, AVC e Alzheimer” explica Sônia.

A professora comenta que é importante desenvolver essas reservas cognitivas, como se fosse um exercício mental. A atividade intelectual vai melhorar o desempenho cerebral. Existem algumas dicas que valem para a vida toda. A primeira delas é que sempre há tempo de melhorar a cognição, independentemente da idade. Jogos de tabuleiros, hábito de leitura, aprender outro idioma, tocar um instrumento musical, palavras cruzadas, algo que desperte a curiosidade.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

Estudo aponta sistema de enzimas antioxidantes como alvo para o desenvolvimento de antibióticos

Pesquisadores do Instituto de Biociências indicam o sistema formado pelas proteínas Ohr (uma enzima antioxidante) e OhrR (seu fator de transcrição) como um potencial alvo a ser explorado na busca por novos antibióticos

Em artigo de revisão publicado na revista Free Radical Biology and Medicine, pesquisadores brasileiros apontam o sistema formado pelas proteínas Ohr (uma enzima antioxidante) e OhrR (seu fator de transcrição) como um potencial alvo a ser explorado na busca por novos antibióticos.

O trabalho foi coordenado por Luis Netto, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP e integrante do Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Há mais de 20 anos o grupo de Netto tem estudado esse sistema proteico, que desempenha papel central na defesa de patógenos contra danos oxidativos. No trabalho recentemente publicado, os pesquisadores descrevem aspectos da estrutura, catálise, filogenia, regulação e papéis fisiológicos das proteínas. O objetivo foi sistematizar informações que estavam dispersas na literatura.

Segundo os autores, o sistema Ohr-OhrR desempenha importantes funções na interface entre patógenos como Xylella fastidiosaPseudomonas aeruginosaChromobacterium violaceum e Bacillus cereus e seus hospedeiros – entre eles mamíferos e plantas vasculares. No entanto, os mecanismos envolvidos nessas interações são complexos e os papéis desempenhados por Ohr e OhrR nesses processos variam muito entre as diversas bactérias.

Como não são encontradas em animais vertebrados nem em plantas vasculares e têm características estruturais únicas, dizem os pesquisadores, as proteínas Ohr e OhrR podem ser alvos para o desenvolvimento de novos antibióticos – algo muito relevante, considerando o alarmante fenômeno das bactérias multirresistentes. Além disso, essas proteínas desempenham outras funções fisiológicas, como proteger bactérias simbióticas fixadoras de nitrogênio do estresse oxidativo associado a esse processo.

Para Netto, a pouca atenção dada ao sistema Ohr-OhrR é de certa forma surpreendente e poderia ser explicada por razões históricas. Enquanto as enzimas antioxidantes mais conhecidas foram descobertas a partir de 1937, a primeira Ohr só foi descrita em 1998, como uma proteína envolvida na resposta de bactérias ao estresse induzido por hidroperóxidos orgânicos, sendo que, em 2000, cientistas brasileiros identificaram o gene que codifica essa proteína no genoma da Xylella fastidiosa, bactéria que causa uma doença chamada clorose variegada dos citros (CVC), provocando grandes prejuízos à agricultura no Estado de São Paulo.

“Quando apareceu a Ohr no genoma da Xylella, não se sabia a atividade bioquímica dessa proteína. Como eu já tinha trabalhado com peroxirredoxinas, vi que a Ohr tinha duas cisteínas que eram muito conservadas. Aí surgiu a ideia: talvez seja uma peroxidase”, conta Netto, que fez parte do grupo responsável pelo sequenciamento do genoma da bactéria. O primeiro trabalho do grupo sobre a Ohr foi publicado em 2003, no Journal of Biological Chemistry, e demonstrou que, de fato, Ohr é um tipo de peroxidase.

Resumo gráfico – Foto: Reprodução

O pesquisador enfatiza, no entanto, que a Ohr não é uma peroxirredoxina como descrito em alguns artigos. “A Ohr tem propriedades muito diferentes, como a sequência primária, a estrutura, a especificidade para redutor e oxidante e a dinâmica ao longo do ciclo catalítico.” As peroxirredoxinas (Prx), que também são foco de estudo do grupo de Netto, são proteínas antioxidantes consideradas sensores celulares de peróxido de hidrogênio.

Em 2020, o grupo elucidou seis estruturas cristalográficas da proteína Ohr do patógeno oportunista Chromobacterium violaceum, incluindo a estrutura do complexo entre a Ohr e seu substrato biológico, a di-hidrolipoamida (DHL). Os pesquisadores identificaram intermediários do ciclo catalítico da enzima e reforçaram as evidências de que Ohr e Prx pertencem a classes diferentes de proteínas. Além disso, mostraram que a Ohr tem um colar hidrofóbico ao redor de seu sítio ativo, uma característica estrutural única que explica a especificidade dessa enzima para peróxidos orgânicos.

Inflamação

A resposta inflamatória é uma estratégia dos hospedeiros para combater microrganismos patogênicos e envolve a produção de várias moléculas oxidantes. Portanto, se uma inflamação demora para terminar, pode causar danos ao próprio hospedeiro. Hidroperóxidos orgânicos de ácidos graxos são oxidantes que também podem atuar como sinalizadores de processos tanto inflamatórios quanto anti-inflamatórios.

“A sinalização envolvida nesses processos de inflamação e de resolução da inflamação é bastante complexa, envolvendo diferentes hidroperóxidos de ácidos graxos, como dos derivados de ácido araquidônico”, conta Netto.

A hipótese levantada pelos pesquisadores é de que a Ohr poderia estar envolvida de alguma forma na virulência de patógenos via controle dos níveis desses hidroperóxidos lipídicos. “Acredito que o envolvimento biológico da Ohr poderia estar relacionado com o processo de resolução [finalização] da inflamação. Contraintuitivamente, se a bactéria tem muito antioxidante [no caso, a enzima Ohr], acaba sendo ruim para ela e bom para o hospedeiro por, entre outros motivos, facilitar o recrutamento de células fagocitárias. Mas essa é uma hipótese ainda especulativa, que requer evidência experimental”, afirma o pesquisador.

A OhrR é a proteína que controla a transcrição do gene da Ohr. Para que a enzima antioxidante (Ohr) seja produzida, o gene que a codifica precisa ser transcrito para o RNA mensageiro correspondente. A OhrR quando está reduzida se liga ao DNA e impede a transcrição. Quando a célula está sob estresse oxidativo e é exposta ao peróxido orgânico, a OhrR é oxidada e sofre uma mudança estrutural que libera o DNA para ser transcrito e depois traduzido na proteína Ohr.

Como explica Netto, o próprio fator de transcrição é regulado por um processo redox (oxidação ou redução). “E ele vai induzir ou reprimir a expressão de uma proteína que tem propriedades que interferem no metabolismo dos hidroperóxidos orgânicos.”

Diversos grupos do Cepid Redoxoma estão envolvidos em estudos com hidroperóxidos orgânicos derivados de ácidos graxos, como os liderados pelos pesquisadores Sayuri Miyamoto e Paolo Di Mascio, bem como em estudos de cinética envolvendo a Ohr e a OhrR, como os grupos dos pesquisadores Ohara Augusto e Daniela Truzzi, ou ainda em estudos estruturais, como o grupo do pesquisador Marcos Antonio de Oliveira.

Em 2021, um grupo de pesquisadores chineses identificou o primeiro inibidor contra Ohr da bactéria Acinetobacter baumannii ATCC19606. O tratamento desse microrganismo com o inibidor de Ohr potencializou a atividade antibacteriana de antibióticos como canamicina e gentamicina. O grupo chinês entrou em contato com Netto, para colaboração no sentido de identificar moléculas com atividade microbicida mais potente.

O artigo Ohr – OhrR, a neglected and highly efficient antioxidant system: Structure, catalysis, phylogeny, regulation, and physiological roles pode ser acessado no link.

* Com informações da Assessoria de Imprensa do Redoxoma.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Texto: Agência Fapesp
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Impacto do acúmulo de gordura nas artérias no desempenho cognitivo é maior em pessoas brancas

Os participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) acompanhados entre 2008 e 2018 que apresentaram maior espessura das carótidas tiveram pior desempenho cognitivo, principalmente entre as pessoas brancas

Estudo da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) avaliou a relação entre a espessura das paredes internas das artérias carótidas e a cognição. A medida indica acúmulo de gordura nos vasos que pode levar a infartos ou derrames, tendo como causa colesterol alto, tabagismo, diabete, hipertensão e até fatores genéticos. Os participantes foram acompanhados entre 2008 e 2018. Os resultados mostraram que aqueles com medida maior dessa espessura no início do estudo apresentaram mais perda cognitiva nos quatro domínios avaliados (memória, fluência verbal, função executiva e domínio global) ao longo dos oito anos de acompanhamento.

Essa relação já havia sido observada em outras pesquisas internacionais, mas a amostra do Elsa-Brasil pôde mostrar, devido à sua maior diversidade, algo inédito: essa associação é maior entre as pessoas brancas que participaram do estudo do que entre as pessoas negras. Ainda são necessários mais estudos para averiguar os motivos dessa diferença.

A pesquisa, conduzida pela pós-doutoranda da FMUSP, Naomi Vidal, usou os dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), levantamento epidemiológico nacional de longo prazo que tem a maior amostra e tempo de avaliação da performance cognitiva no País.

Os resultados estão sendo apresentados na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, que acontece entre 31 de julho e 4 de agosto, em San Diego, nos Estados Unidos.

Além de Naomi, o artigo Association between common carotid artery intima media thickness and cognitive decline differs by race também é assinado pelos pesquisadores Laiss Bertola, da Unifesp; Itamar Santos, Alessandra Goulart, Marcio Bittencourt e Isabela Judith Martins Bensenor, do Hospital Universitário da USP; Sandhi Maria Barreto e Luana Giatti, da UFMG; Paulo Caramelli, da UEMG; Paulo Lotufo, da Faculdade de Saúde Pública da USP, e Claudia Suemoto, da Faculdade de Medicina da USP.

Na conferência em San Diego, as pesquisadoras também vão apresentar um outro artigo que mostra a relação entre o consumo de ultraprocessados e o declínio cognitivo ao longo do tempo – leia a matéria completa aqui.

Futuros estudos e a importância do Elsa-Brasil

O Elsa-Brasil é um estudo epidemiológico nacional realizado desde 2008 em parceria com várias instituições como USP, UFES, Fiocruz, UFBA, UFMG e UFRGS que acompanha o estado de saúde de cerca de 15 mil funcionários. A ideia é investigar a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares (acidente vascular cerebral, hipertensão, arteriosclerose, infarto) e outras associadas. Os participantes, com idades entre 35 e 74 anos, são de várias regiões do País.

Cláudia Suemoto, médica graduada pela FMUSP e pesquisadora do Elsa-Brasil especializada em demências e suas associações com doenças cardiovasculares, diz ao Jornal da USP que todos os estudos do projeto devem ser replicados para o formato longitudinal, de forma que a evolução dos participantes possa ser acompanhada e analisada ao longo do tempo. Ela também cita que está nos planos do projeto começar fazer avaliações cognitivas mais detalhadas com os participantes que apresentarem resultados alarmantes que permitam diagnosticar casos de demência.

O acompanhamento longo é especialmente importante porque as principais demências, como a doença de Alzheimer, se desenvolvem ao longo do tempo, então quanto maior o período analisado, maior a nossa capacidade de isolar o efeito de uma variável que realmente aumenta o risco da doença”, afirma.

Além disso, ela conta que o grande número de participantes do Elsa permitiu estabelecer padrões cognitivos normais de acordo com idade e escolaridade que podem ser usados como referência em outros estudos. E fazer essa análise no Brasil, especificamente, é muito importante devido às particularidades da nossa população.

A amostra brasileira permite investigar como os fatores de risco interagem com baixos índices socioeconômicos e de escolaridade, por exemplo. Outra questão importante, como o estudo sobre a espessura das artérias ilustra, é a diversidade racial. Isso porque, apesar de existir literatura científica apontando para uma maior prevalência de demência entre pessoas negras (devido a questões relacionadas às desigualdades econômicas e vulnerabilidades sociais ligadas ao racismo estrutural), a maior parte dos estudos na área é feita com amostras majoritariamente brancas.

No próximo mês de agosto, os participantes do Elsa-Brasil serão novamente convocados para entrevistas e exames.

Veja, neste link, outras pesquisas realizadas pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Mais informações: Claudia Suemoto, em cksuemoto@usp.br, Naomi Vidal Ferreira, em naomivferreira@gmail.com, e Natália Gonçalves, em natalia.g@fm.usp.br

Texto: Sebastião Moura
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP