Pipoca de micro-ondas pode causar alterações cerebrais

A ingestão do diacetil, um composto contido em alimentos como algumas marcas de pipoca de micro-ondas e responsável por dar o aroma e gosto amanteigado ao alimento tem sido foco de investigações. Uma pesquisa do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP traz novos indícios de que, em excesso, ele poderia ser nocivo à saúde – ao menos de ratos e em uso prolongado. No estudo, os cientistas identificaram proteínas associadas ao Alzheimer no cérebro de ratos que consumiram durante 90 dias seguidos o composto.

“Das 48 proteínas cerebrais que avaliamos após a exposição dos animais ao produto, 46 sofreram algum tipo de desregulação ou modificação em sua estrutura por conta do consumo prolongado do composto. Durante as análises, nós identificamos o aumento da concentração de proteínas beta-amiloides”, explica Lucas Ximenes, doutorando do IQSC e autor da pesquisa. Apesar dos mecanismos da doença ainda não estarem bem esclarecidos, essas proteínas normalmente são encontradas em pacientes com Alzheimer.

Como próximos passos do estudo, os pesquisadores do IQSC pretendem realizar novos testes com um número maior de animais visando a ampliar o entendimento a respeito destes resultados prelimimares.

Claro que comer esporadicamente certos alimentos não tem problema, e alguns prazeres em excesso podem fazer mal. Mas por mais que a gente coma o produto, nós temos muito menos contato com o diacetil do que os trabalhadores que lidam ou até inalam diariamente o composto nas fábricas”, exemplifica.

Análises

Segundo o cientista, o diacetil afetou tanto os cérebros de ratos machos como os de fêmeas, sendo que algumas regiões do órgão foram mais comprometidas, como o hipotálamo. “Até então, não se sabia exatamente quais os possíveis efeitos e modificações que o composto poderia gerar no cérebro de organismos vivos, existem poucos estudos nesse sentido, ainda é um universo pouco explorado. Além disso, alguns trabalhos utilizam quantidades absurdas do composto, até 50 vezes maiores que a nossa, o que facilita o aparecimento de problemas. O que nós fizemos foi utilizar concentrações de diacetil mais próximas do que seria um consumo diário normal”, revela Ximenes, que é orientado pelo professor Emanuel Carrilho, do IQSC, e co-orientado pelo professor Nilson Assunção, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Os cérebros dos ratos foram avaliados com a ajuda de dois equipamentos. Um deles, chamado espectrômetro de massas, faz a leitura e gera mapas de calor dos órgãos, formando uma espécie de impressão digital dos cérebros. Com isso, é possível observar como e em quais regiões certas proteínas e o diacetil estão distribuídos. Em uma segunda etapa, outro aparelho, chamado cromatógrafo, ajuda a determinar se essas proteínas sofreram alterações, como o aumento de sua concentração ou alguma mudança estrutural preocupante. Os testes foram realizados com um total de 12 ratos, sendo que metade foi o grupo controle (que tomou placebo) e a outra metade ingeriu o diacetil.
Amplamente empregado nos mais variados ramos da indústria, o diacetil ganhou destaque no setor alimentício, principalmente por seu uso como conservante e flavorizante (substância que confere sabor e aroma). Podendo ser encontrado naturalmente na composição de cafés, cervejas, chocolates, leites e iogurtes, o diacetil é utilizado na pipoca de micro-ondas como um aditivo, em concentrações maiores. Apesar de seu consumo ser aprovado pelas agências reguladoras, a exposição prolongada ao produto poderia ser prejudicial à saúde e, por estar presente no cotidiano da população, diferentes estudos buscam compreender a influência do composto em organismos vivos e como ele pode alterar funções biológicas.

Imagem à esquerda mostra o cérebro de ratos que não consumiram o diacetil. Já a da direita exibe o cérebro dos animais que ingeriram o composto, indicando forte presença de proteínas beta-amiloides (pontos em vermelho) – Foto: Lucas Ximenes

O estudo contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

FONTE: Jornal da USP

Atraso no diagnóstico do TOC traz prejuízos para seu portador e para a família

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Conforme pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) da USP, pessoas com TOC, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, podem levar pelo menos quatro anos para receber tratamento. Mais de 500 pacientes foram avaliados em oito centros de pesquisa de diferentes regiões do Brasil, especializados no transtorno, e o estudo aponta que as pessoas demoram muito tempo para buscar ajuda.

O que é o TOC?

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Daniel Costa, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do HC (IPq), atesta que o TOC acomete ao menos 2% da população e se caracteriza pela presença de dois principais sintomas: as obsessões e as compulsões. As primeiras são preocupações, pensamentos e imagens desagradáveis que invadem a consciência do paciente e se repetem. Já as compulsões são comportamentos repetitivos realizados com o objetivo de aliviar o desconforto provocado pelas obsessões.

“[O TOC] está associado a algum tipo de prejuízo, de impacto. As pessoas acabam se atrasando frequentemente para compromissos e progridem com muita dificuldade nos estudos e na carreira profissional”, informa Costa. Ele também diz que há impactos nos relacionamentos com outros indivíduos.

Ele diz que os aspectos genéticos hereditários são bem definidos no TOC e a doença se agrega à família. Além disso, há um fenômeno chamado acomodação familiar, que é quando a família, que convive intimamente com o portador da doença, desenvolve mudanças de comportamento ou do ambiente de modo a evitar com que ele entre em contato com situações desagradáveis. “Quando a gente fala que é uma doença incapacitante e grave, a gente sabe que isso impacta não só a vida do portador, mas também a dos seus familiares e de pessoas próximas”, declara.

Um prejuízo associado ao TOC não tratado é o desenvolvimento de outros transtornos psiquiátricos, como a depressão e o Transtorno de Ansiedade Generalizada. Segundo Alice de Mathis, psicóloga e coordenadora do projeto de pesquisa no IPq sobre eficácia da Terapia Cognitivo Comportamental pela internet para tratamento do TOC, existem duas linhas de tratamento, a medicação e a terapia cognitiva comportamental, e é importante fazer uma avaliação para decidir o tipo de tratamento mais adequado para o paciente: “Se for um caso leve, só a terapia comportamental tem um bom resultado. Se o caso for de moderado a grave, aí seria interessante a associação tanto do remédio quanto da terapia”.

A doutora também fala sobre os gatilhos que as pessoas com a doença podem identificar: “Ela [pessoa com o transtorno] sabe que se vai em um lugar cheio de pessoas, ela vai ter mais preocupação, mais sintomas”. Alice cita o sintoma de evitação, o qual se dá quando o paciente evita ir a determinados locais pois sabe que, se ele for, alguns pensamentos podem ser desencadeados. Isso contribui para que ele fique recluso em casa e outras doenças psiquiátricas sejam desenvolvidas.

Diagnósticos e tratamentos

Alice afirma que, dependendo da gravidade dos sintomas da doença, ela passa despercebida pela família. Isso colabora para a demora na busca pela ajuda. Ela ainda diz que o transtorno começa na infância e na adolescência e, observados os sintomas pelos pais, o tratamento deve ser iniciado cedo.

Costa acrescenta a vergonha dos sintomas como um fator determinante para o atraso no diagnóstico: “A grande maioria dos pacientes reconhece os pensamentos como exagerados, absurdos, sem sentido”. “Eles falam ‘Eu sei que a possibilidade, por exemplo, de eu pegar uma doença se eu encostar nessa maçaneta é mínima, mas ainda assim eu não consigo evitar esse pensamento e não consigo evitar ter uma reação emocional desconfortável’”, completa.

Para finalizar, ele  chama a atenção aos projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos no IPq e para os quais portadores de TOC e seus irmãos estão sendo recrutados para participar. O e-mail do projeto é protoc.projeto@gmail.com, para os interessados em colaborar com os estudos. Alice também comunica sobre o projeto online de Terapia Cognitivo Comportamental, o qual recebe diagnósticos da doença pelo e-mail protoctcc@gmail.com.

Autor: Redação
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Adolescentes do sexo feminino são as mais afetadas pela escoliose

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A escoliose é uma doença caracterizada por um desvio progressivo na coluna lombar, que atinge milhões de pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 4% da população é acometida por essa doença no mundo. No Brasil, são 6 milhões de pessoas, especialmente adolescentes do sexo feminino.

Em junho é celebrado o Dia Mundial da Escoliose; para conscientizar sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoce, ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição Alexandre Fogaça, especialista em coluna do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da FMUSP, comenta as causas e cuidados com a doença.

Fogaça explica que existem vários tipos de escoliose, como a congênita, em que a pessoa já nasce com essa deformidade. O principal tipo, entretanto, é a escoliose idiopática, sem causas conhecidas. “Não é nada que ela faça ou deixa de fazer que está causando aquilo”, afirma, ao dizer que não há relação entre a postura ou no fato de a pessoa ficar muito tempo em frente ao computador ou usando o celular.

Segundo o médico, quando o quadro de escoliose progride, ele causa uma deformidade que pode diminuir o espaço que seria ocupado por um dos pulmões, o que causa dificuldades para respirar. O funcionamento do estômago e do intestino também pode ser prejudicado. Nos casos mais graves, a medula é afetada e pode acarretar em problemas neurológicos como dor e dormência.

Diagnóstico precoce

Com o diagnóstico precoce e o tratamento, “o maior objetivo é não deixar essa curva progredir e chegar nos graus que podem causar problemas complicados”, diz Fogaça. Ele conta que normalmente quem percebe as deformidades são os pais e os professores, especialmente os de atividades físicas. Assimetrias nos ombros e cintura são sinais de curvatura na coluna que podem indicar um quadro de escoliose.

Nos graus mais leves, o tratamento pode ser feito com exercícios e o uso de um colete. Nos casos mais graves, entretanto, é necessária a intervenção cirúrgica. Segundo Fogaça, o grau de complexidade dessas cirurgias é menor quanto mais cedo o problema for identificado e tratado, também por isso a importância do diagnóstico precoce.

Essas cirurgias, de acordo com o especialista, “são grandes, mas hoje têm uma taxa de sucesso enorme e corrigem a deformidade e impedem que ela progrida”. O mais comum é que uma haste fixada na coluna seja utilizada para corrigir essa deformidade e fixar as vértebras na posição adequada. A recuperação pode durar até um ano, “mas depois disso é vida normal”, destaca Fogaça.

Ele reforça as orientações aos pais e professores, que devem estar atentos: “Se perceber essa deformidade na coluna da criança no começo de sua adolescência, ela deve ser encaminhada para a atenção médica, normalmente um ortopedista. Será feita uma radiografia para medir o tamanho dessa deformidade e instituir o tratamento mais precoce possível, para que tenha mais chance de funcionar e, se for o caso de uma cirurgia, que consiga operar com um grau pequeno, em que ela é menos complicada”.

Autor: Redação
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Gordura no fígado: ácido úrico e frutose altos podem desencadear esteatose hepática não alcoólica

A frutose vinda de produtos ultraprocessados aumenta o risco de associação entre o ácido úrico e a doença. A pesquisa, realizada na Faculdade de Medicina, usou dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, uma coorte (acompanhamento de longo prazo) em andamento no País.

Pesquisa desenvolvida pela Faculdade de Medicina (FMUSP) mostrou que há uma associação importante entre o aumento dos níveis de ácido úrico sérico e a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). A DHGNA é causada pelo acúmulo progressivo de gordura no fígado e não pelo consumo excessivo de álcool. Nos últimos anos, evidências clínicas sugerem que o ácido úrico elevado frequentemente está associado ao desenvolvimento ou progressão da DHGNA. Altos índices de ácido úrico podem levar ao desenvolvimento de resistência à insulina (RI).

Outro dado importante trazido pelo estudo mostra que o consumo elevado de frutose – vinda de produtos ultraprocessados – pode aumentar o risco de associação entre o ácido úrico e a DHGNA, tanto para homens quanto para mulheres.

Os resultados integram a tese de doutorado da nutricionista Clara Freiberg, defendida em janeiro de 2021. A partir desses achados, a pesquisadora sugere que a investigação prática da função hepática deva fazer parte do protocolo dos exames de rotina.

Do total da amostra estudada (10.597 pessoas), a pesquisa encontrou uma prevalência de DHGNA de 38,5% (44,9% em homens e 34% em mulheres). Quando comparados a outros países, como Estados Unidos (34%), Índia (29%) e Coreia do Sul (26%), esse número parece bem elevado.

“Quando falamos de frutose estamos nos referindo àquela industrializada, presente em alimentos ultraprocessados, e não ao consumo da fruta propriamente dita”, esclarece Clara Freiberg, nutricionista autora do estudo.

A ingestão de frutose tem sido associada à progressão da doença devido ao seu potencial de aumentar os níveis de ácido úrico no sangue. Ela está presente em muitos produtos ultraprocessados na forma de xarope de milho enriquecido com frutose. Estudos estimam que a frutose tem sua absorção aumentada em quase 30% quando associada a soluções com esse tipo de carboidrato.

“Quando falamos de frutose estamos nos referindo àquela industrializada, presente em alimentos ultraprocessados, e não ao consumo da fruta propriamente dita”

Elsa-Brasil

Para realizar a pesquisa, a nutricionista utilizou os dados provenientes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), uma coorte (acompanhamento de longo prazo) de servidores públicos de todo o Brasil, iniciada em 2008, e que conta com cerca 15 mil participantes, com idade entre 36 e 74 anos.

A amostra final para a pesquisa foi composta de 10.597 participantes (4.309 homens e 6.288 mulheres) que preencheram os critérios para diagnóstico de DHGNA (exames antropométricos, clínicos, bioquímicos e ultrassonografia, para avaliar a presença da doença).

Todos os participantes foram classificados em quintis dos níveis de ácido úrico sérico para a análise de todas as variáveis, sendo o primeiro quintil (Q1) referente aos valores mais baixos e o último quintil (Q5) aos valores mais elevados. Quintil é o termo usado para um conjunto de dados que é dividido em cinco partes iguais.

As análises mostraram que não houve diferença entre os quintis quanto à idade, etnia e renda. Participantes com maior nível de ácido úrico apresentaram menor nível de escolaridade e maior prevalência de IMC (índice de massa corporal, calculado pelo peso da pessoa dividido pela altura dela ao quadrado). Também apresentaram mais hipertensão, diabete, níveis de enzimas do fígado altos, eram inativos fisicamente e tinham esteatose hepática de leve a grave. Além disso, possuíam maior média de circunferência da cintura, de HOMA-IR (marcador de que avalia se o paciente tem resistência à insulina), de enzimas hepáticas, colesterol total, LDL e triglicerídeos.

A circunferência da cintura deve ser tratada com atenção porque a deposição de tecido adiposo, que é a gordura localizada no abdômen, está associada ao aumento da mortalidade geral. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a medida da cintura não ultrapasse 102 centímetros (cm) nos homens e 88 cm nas mulheres.

Quanto ao nível de ácido úrico, 965 mulheres (15%) e 1.122 homens (26%) eram hiperuricêmicos (níveis altos de ácido úrico). Verificou-se também que 45% dos homens e 34% das mulheres apresentaram algum nível de DHGNA. A prevalência da doença hepática tendeu a aumentar à medida que se elevavam os níveis de ácido úrico sérico.

Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

 

Não houve diferenças de idade, etnia e renda entre os homens com alto consumo de frutose quando comparados aos participantes normouricêmicos (com níveis normais de ácido úrico) e hiperuricêmicos.

As mulheres hiperuricêmicas com maior consumo de frutose têm chance aumentada de apresentar DHGNA. Para os homens, a chance de hiperuricêmicos com consumo elevado de frutose apresentarem a doença foi maior do que aqueles com consumo adequado de frutose. “Com esses resultados, acho importante que a investigação prática da função hepática deva fazer parte do protocolo dos exames de rotina”, sugere Clara.

Ainda de acordo com a pesquisadora, os profissionais de saúde precisam ser mais claros ao orientar os pacientes sobre o controle do sal, do açúcar e da frutose, por exemplo. “As pessoas precisam entender que altos níveis de frutose nem sempre estão associados a um consumo excessivo de frutas.”

“Com esses resultados, acho importante que a investigação prática da função hepática deva fazer parte do protocolo dos exames de rotina”, sugere Clara. 

A doença

A doença hepática gordurosa não alcoólica vem se tornando uma das principais causas de doença hepática crônica no mundo. Sobrepeso, diabete, má nutrição, perda brusca de peso e sedentarismo estão entre os fatores de risco para o aparecimento da doença.

Há evidências de que a pressão alta, resistência à insulina, níveis elevados de colesterol e triglicérides estão diretamente associados ao excesso de gordura no fígado.

A patologia geralmente é assintomática e pode atingir um estágio avançado antes de ser diagnosticada. Desconforto no quadrante superior direito, fadiga e letargia foram relatados em até 50% dos pacientes mas, muitas vezes, a DHGNA é diagnosticada após a realização de exames de rotina.

Estudos mostram que, entre os pacientes com esteatose hepática simples, 12% a 40% desenvolverão NASH (forma mais avançada da doença hepática gordurosa não alcoólica) com fibrose precoce após oito a 13 anos. Desses, aproximadamente 15% desenvolverão cirrose e/ou evidência de descompensação hepática no mesmo período. Cerca de 7% das pessoas com cirrose compensada associada à DHGNA vão evoluir para câncer no fígado dentro de dez anos, enquanto 50% exigirão um transplante ou morrerão de causa relacionada ao fígado.

“Minha população estudada foi de adultos e idosos, mas seria importante avaliar o consumo de frutose em crianças e adolescentes”, explica. “A oferta de ultraprocessados é enorme para esse público. Na cantina da escola, por exemplo, refrigerante e água têm o mesmo preço.”

Foto: Reprodução/HCV-Trials

 

Jovens e adolescentes na mira

Clara contou ao Jornal da USP que o trabalho dela abriu várias outras possibilidades de estudo. “Minha população estudada foi de adultos e idosos, mas seria importante avaliar o consumo de frutose em crianças e adolescentes”, explica. “A oferta de ultraprocessados é enorme para esse público. Na cantina da escola, por exemplo, refrigerante e água têm o mesmo preço.”

Outro exemplo seria o acompanhamento mais próximo da dieta de alguns pacientes para verificar se há a mesma resposta clínica.

O Elsa-Brasil é um estudo iniciado em 2008, que investiga, na população brasileira, a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares (acidente vascular cerebral, hipertensão, arteriosclerose, infarto, entre outras) e doenças associadas. São 15 mil participantes, de várias regiões do País, com idade entre 35 e 74 anos. No próximo mês de agosto eles serão novamente convocados para entrevistas e exames que identifiquem uma possível evolução dos fatores de risco para essas doenças – que são consideradas a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

Veja, neste link, outras pesquisas realizadas pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Mais informações: e-mail clara.freiberg@gmail.com, com Clara Freiberg.

Texto: Fabiana Mariz
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Sete horas de sono por noite é o ideal na meia-idade e durante o envelhecimento

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Estudos indicam que sete horas de sono por noite é uma média ideal na meia-idade e na velhice e pessoas que dormem por pouco tempo ou longos períodos podem apresentar piora no bem-estar geral e mais sintomas de ansiedade e depressão. Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar 1ª Edição entrevistou Andrea Toscanini, médica clínica do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e da equipe Laboratório do Sono do instituto.

Andrea atenta para o fato de que a privação do sono é mais estudada que o excesso dele e destaca que ambos os casos não são benéficos. “Dormir, por exemplo, nove horas ou mais, não tem um efeito benéfico”, complementa. Há correlação entre o sono e o desenvolvimento de doenças degenerativas, como o Alzheimer, e alterações metabólicas também acompanham a falta de sono. No entanto, é  importante salientar que, para o desenvolvimento dessas enfermidades, a prática de se dormir mais ou menos precisa ocorrer há muitos anos.

Influência cultural

Para ela, a prática de se dormir pouco possui influências culturais vinculadas à produtividade. Por isso, para a prática do bom sono, é necessário, nas palavras dela, “lavar nosso preconceito em relação a dormir bem”, para depois organizar o seu dia, reservando oito horas de sono e 30 minutos para o adormecimento, e finalmente nos acostumando a uma dinâmica mais saudável.

A importância do sono está no processo de limpeza dos metabólitos de reações químicas e produtos proteicos, que só acontece no momento de descanso. Essa limpeza ocorre na segunda fase do sono, quando nos encontramos em sono profundo.

A médica finaliza dizendo que um aliado na prática do bom sono é o profissional especialista, área relativamente nova, mas que foca em questões pontuais. Ela expõe ainda que há a necessidade da implementação do estudo do sono na base dos cursos de medicina, por essa ser uma questão permeante em outras áreas médicas, justamente porque distúrbios do sono são extremamente prevalentes, afetando mais da metade da população do Brasil e do mundo.

FONTE: Jornal da USP

Canabidiol combinado a antibiótico mostra potencial contra superbactérias

Em testes no laboratório, a combinação do canabidiol ultrapuro com o antibiótico polimixina B teve atividade antibacteriana contra superbactérias resistentes inclusive ao antibiótico isolado.

Um estudo das Faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCFRP) e de Medicina (FMRP), ambas da USP em Ribeirão Preto, da Unesp em Araraquara e do Instituto Ramón y Cajal de Investigación Sanitaria, da Espanha, demonstrou o efeito antibacteriano sinérgico do canabidiol (CBD) em combinação com a polimixina B, antibiótico já utilizado nos hospitais para o tratamento de infecções hospitalares graves. Os resultados preliminares foram obtidos em testes laboratoriais e publicados no artigo Potential cannabidiol (CBD) repurposing as antibacterial and promising therapy of CBD plus polymyxin B (PB) against PB-resistant gram-negative bacilli em abril, na revista Scientific Reports.

“Nossos achados demonstraram que a combinação do canabidiol ultrapuro com o antibiótico polimixina B teve atividade antibacteriana contra superbactérias como a Klebsiella pneumoniae, extremamente resistente a antibióticos, e que pode causar infecções graves em pessoas hospitalizadas como pneumonia, infecções no sangue e meningite. De modo surpreendente, os resultados foram promissores contra bactérias que também eram resistentes à polimixina B, ou seja, para aquelas em que o antibiótico sozinho não tem atividade”, explica Leonardo Neves de Andrade, professor da FCFRP, biomédico e coordenador do estudo.

Os pesquisadores também observaram que o canabidiol sozinho foi antibacteriano contra bactérias como: Staphylococcus, que pode causar de faringite a endocardite; Enterococcus, que pode afetar o aparelho digestivo e urinário; Streptococcus, que pode provocar faringite, escarlatina, febre reumática, até pneumonia e meningite; Micrococcus, que afeta o equilíbrio da microbiota da pele; Rhodococcus sp., relacionada com infecções respiratórias; Mycobacterium sp., Neisseria spe Moraxella sp., que podem causar infecções nas vias aéreas e são sexualmente transmissíveis.

“Utilizamos diferentes metodologias que contribuíram para o entendimento de conceitos microbiológicos sobre a atividade antibacteriana da combinação do CBD com a polimixina B. Sugerimos que os canabinoides sejam mais explorados pela ciência por meio de novas formulações farmacêuticas, ensaios pré-clínicos e testes clínicos em seres humanos, visando ao reposicionamento do canabidiol como novo antibiótico”, ressalta Andrade.

O artigo é resultado dos estudos de mestrado da farmacêutica Nathália de Lima Martins Abichabki sob orientação do professor Andrade no Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia da FCFRP. Além da FMRP, houve colaboração da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp em Araraquara e do Hospital Universitario Ramón y Cajal / Instituto Ramón y Cajal de Investigación Sanitaria (IRYCIS) de Madri-Espanha.

O canabidiol (CBD) é uma substância extraída da planta Cannabis sativa que não possui efeito psicoativo. “O canabidiol já tem sido associado a múltiplas e potenciais atividades biológicas, especialmente ansiolítica, antipsicótica, anti-inflamatória, analgésica e neuroprotetora em casos de epilepsia, transtornos de ansiedade, distúrbios do sono, Parkinson e esquizofrenia”, explica José Alexandre Crippa, professor da FMRP, médico psiquiatra e um dos autores do estudo.

Resistência bacteriana e a importância de novos tratamentos

resistência bacteriana à ação dos antibióticos atualmente disponíveis tem como resultado o aumento da dificuldade em tratar doenças infecciosas já conhecidas, causando um prolongamento da infecção, incapacidade e até morte.

“Considerando as implicações sanitárias, sociais e econômicas da crescente resistência bacteriana, a OMS chama a atenção para a pesquisa, descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos contra patógenos multidroga-resistentes ou extensivamente droga-resistentes”, explica Fernando Bellissimo Rodrigues, professor da FMRP, médico infectologista e um dos autores do estudo.

Ainda de acordo com o especialista, a comunidade científica investiga diversas substâncias, incluindo produtos naturais. “Existem infecções hospitalares causadas por bactérias extremamente resistentes a praticamente todas as opções terapêuticas disponíveis no mercado. Dessa forma, o canabidiol surge como uma promessa, pois já tem uso licenciado e já demonstrou ser seguro para outras indicações clínicas. Os próximos passos envolvem os testes pré-clínicos e clínicos futuros em seres humanos, para avaliar se os resultados obtidos in vitro serão confirmados”, explica Bellissimo Rodrigues.

O trabalho completo está disponível neste link.

Mais informações: e-mails leonardo@fcfrp.usp.brfbellissimo@fmrp.usp.brjcrippa@fmrp.usp.br

Texto: Giovanna Grepi
Entrevista: Ana Beatriz Fogaça
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Cérebro é capaz de filtrar emoções positivas e negativas durante o sono

Em estudo conduzido em ratos, pesquisadores do Departamento de Neurologia da Universidade de Berna, na Suíça, identificaram como o cérebro faz a triagem das emoções durante o sono.

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Todos sabemos que uma boa noite de sono é essencial para manter nosso corpo e mente em bom estado. Mas como exatamente dormir afeta nossas emoções e memórias ainda é assunto de investigação por cientistas.

Em um estudo publicado na revista Science, pesquisadores do Departamento de Neurologia da Universidade de Berna, na Suíça, identificaram, em ratos, como o cérebro faz a triagem das emoções durante o sono. Os cientistas analisaram especificamente a fase do sono em que nós sonhamos. De acordo com o trabalho, é nesse momento que o cérebro consolida o armazenamento de emoções positivas ao mesmo tempo em ele amortece a consolidação das negativas.

Para o professor Alan Luiz Eckeli, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, estudos como esse são mais uma peça do quebra-cabeça que busca compreender o processo complexo que envolve a retenção de memórias. “Essa retenção está relacionada a diversas áreas anatômicas, por isso, é importante sabermos de que maneira a consolidação da memória é mediada pelo processo biológico de sono”, destaca ele.

Especialista em Medicina do Sono, Eckeli explica que o estudo dos pesquisadores suíços se concentrou especificamente no sono de movimento rápido dos olhos, o sono REM. “Ele é um estado de sono único durante o qual a maioria dos sonhos ocorre em conjunto com conteúdos emocionais intensos”, reforça. Como e por que essas emoções são ativadas é que não está claro.

Durante o trabalho, os pesquisadores primeiro condicionaram os camundongos a reconhecer estímulos auditivos associados à segurança e outros associados ao perigo, também chamados de estímulos aversivos. A atividade dos neurônios no cérebro de camundongos foi então registrada durante os ciclos de sono vigília. Foi então que eles conseguiram mapear diferentes áreas e determinar como as memórias emocionais são transformadas durante o sono REM.

“O sono REM possui bastante conteúdo onírico, que envolve realismo fantástico, vários personagens, e isso gera curiosidade, mas todos os tipos de sono são importantes”, aponta o professor ao destacar que observar, fisiologicamente, como o sono influencia os gastos energéticos e metabólicos é alvo de diversos estudos da área.

Para compreender melhor o resultado do estudo europeu, é preciso lembrar que os neurônios são compostos de um corpo celular (que chamamos de “soma”) que integra informações provenientes dos dendritos (as entradas) e envia sinais para outros neurônios por meio de seus axônios (as saídas). Os resultados obtidos pela pesquisa mostraram que os somas celulares são mantidos em silêncio enquanto seus dendritos são ativados.

O professor esclarece que, de forma simplificada, o que se descobriu é que o cérebro favorece a discriminação de segurança versus perigo nos dendritos, mas bloqueia a reação exagerada à emoção, em particular ao perigo.

A partir da descoberta feita em ratos, futuramente, será possível aplicá-la em humanos, moderando o sono “até mesmo farmacologicamente. E essa modulação poderá ser utilizada para tratar condições clínicas como transtornos pós-traumáticos ou mesmo algo mais simples, como casos de transtorno do pesadelo, por exemplo”, finaliza Eckeli.

Por Denis Pacheco

Fonte: Jornal da USP

Tecnologia na medicina não pode substituir relação entre médico e paciente

Segundo Giovanni Guido Cerri, na era da saúde digital, a tecnologia, como a IA(Inteligência Artificial),  já são responsáveis por aumentar a rapidez e precisão de diversos diagnósticos, mas não podem substituir a avaliação de exames pelos médicos

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Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho de Inovação e do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, elucida os principais pontos envolvendo o equilíbrio entre inovação e humanismo na medicina digital.

Para ele, no decorrer das últimas duas décadas, a tecnologia apresentou um papel fundamental para que o homem pudesse viver mais e melhor. Mas, em alguns casos, ela se colocou acima da relação existente no contato humano, já que a  “formação do médico se transformou numa formação muito técnica e muitas vezes foi deixado de lado os aspectos humanísticos, a importante relação médico paciente”.

Por exemplo, os algoritmos de Inteligência Artificial ajudam médicos a fazer um diagnóstico mais preciso e também melhoram a produtividade do profissional em questão. Por um lado, isso configura um cenário de aliança entre o médico e a máquina, resultando em uma maior segurança do paciente. Por outro, Cerri destaca que isso pode estar sujeito a padrões de regulação, ampliando uma série de problemas, preconceitos e outros vieses.

Relação médico paciente

A inserção de ferramentas tecnológicas contribuiu em diversas formas para o avanço da medicina. “Com uma grande aceleração da tecnologia, não podemos esquecer da importante relação médico paciente que se constrói. Muitas vezes, uma relação de confiança é necessária para que o tratamento possa ser realizado com a eficácia esperada”, comenta o professor.

Esse cenário surge com a pandemia, período em que a telemedicina originou um novo tipo de relação que, para Cerri, necessita de uma ética adequada para as teleconsultas, a fim de se evitar um crescimento desordenado. Por fim, a utilização da tecnologia deve ir em benefício do paciente, sem prejudicar a relação entre ele e o médico, tomando cuidado para que essa incorporação tecnológica seja utilizada de forma adequada e segura: “Dessa segurança, nós temos que procurar dar ao paciente em questão esse equilíbrio entre o ser humano e a máquina”.

FONTE: Jornal da USP

Psicoestimulantes para melhora do desempenho mental causam dependência

Antônio Serafim se refere a psicoestimulantes como a Ritalina, que melhoram concentração e desempenho, mas têm efeito nocivo sobre o organismo

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A fase pré-universitária pode ser muito difícil e desgastante para os estudantes, assim como a busca por um novo emprego através de concursos públicos. Esse período de estudos costuma ser muito estressante devido ao volume de conteúdo e de informações a que o estudante é submetido. Por esse motivo, é muito comum as pessoas buscarem aumentar sua concentração e grau de absorção de informações através do consumo de medicamentos para tratar transtornos de déficit de atenção. Um levantamento feito com 12 neurologistas pelo jornal O Estado de S. Paulo apontou que houve um aumento nos últimos dois anos entre 70% e 100% no pedido de receita de psicoestimulantes por parte dos jovens.

Antônio Serafim, diretor do Serviço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que “vários fatores podem levar as pessoas as buscarem recursos, mecanismos para lidar com o desempenho e a melhora de determinados aspectos. Um deles é o uso de medicação, principalmente os estimulantes ou psicoestimulantes como a Ritalina, para melhorar a concentração e o desempenho acadêmico”. Mas o que leva uma pessoa a buscar esse artifício? Na opinião do professor Serafim, “você pode ter de fato pessoas que estão em uma pressão, sob uma determinada condição, como o preparatório para vestibular, concurso, e sentem uma sobrecarga para melhorar o desempenho, passando a fazer uso desses recursos para ampliar essa capacidade de raciocínio, de concentração e memorização. Já as pessoas mais competitivas também, porque elas buscam ser melhor que as outras por uma necessidade psicológica. E existem aqueles que se sentem incapazes, insuficientes, mesmo sem procurarem um atendimento adequado, e acabam usando esses recursos”.

Dependência

O uso desses medicamentos controlados inicialmente é eficiente. Essas substâncias têm um efeito no sistema nervoso central, melhorando a conectividade, conexão neuronal e desempenho. A pessoa fica mais atenta, mais rápida no processo. No entanto, o uso pode levar a uma dependência, como destaca o doutor Serafim. Ele explica que essa dependência pode ser química ou psicológica. A pessoa acaba associando seu bem-estar e seu sucesso ao uso dessa medicação, recorrendo ao seu uso sempre que se sente insegura. Para definir como tratar e lidar com essa situação, é necessário verificar a intensidade e a frequência do uso dessa substância. Muitas vezes o usuário perde a noção e a capacidade de entender que esse recurso vem sendo prejudicial, levando à dependência.

O psiquiatra explica que “jovens na fase pré-universitária, alunos de cursos que têm um nível de exigência muito grande, como, por exemplo, o de medicina, com cargas horárias muito longas, e adultos em uma sociedade que vive o imediatismo com soluções rápidas e muitas vezes mágicas, buscam esses recursos”. Ao se identificar esse tipo de comportamento, o ideal é procurar uma ajuda profissional médica e psicológica.

Por Simone Lemos

FONTE: Jornal da USP

Microplásticos da poluição podem contaminar o sangue por meio da alimentação e respiração

Pela primeira vez, um estudo holandês detectou a presença de microplásticos no sangue humano, que chega até o organismo através do consumo de alimentos embalados e da inalação do ar

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O impacto do plástico como poluidor já é um assunto recorrente em pautas ambientais, mas a presença do componente no organismo humano vem ganhando cada vez mais relevância. Pela primeira vez, um estudo holandês detectou a presença de microplástico no sangue humano, que chega até o organismo através do consumo de alimentos embalados e de carnes de animais contaminados, além da inalação do ar e da água que bebemos, por conta da poluição do material no meio ambiente. A análise é do hematologista José Roberto Ortega Júnior, do Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP.

Em estudo internacional, publicado recentemente, foram coletadas 22 amostras de sangue de doadores anônimos, todos adultos saudáveis, e a presença do microplástico foi detectada em 17 amostras, ou seja, 80% dos participantes.

E, no início deste ano, pesquisadores da USP apresentaram resultados de pesquisa que também identificou a presença do material no organismo humano, desta vez no tecido pulmonar, com 20 casos analisados e 13 tecidos contaminados.

Nos dois estudos, os tipos de plásticos encontrados foram os mais consumidos mundialmente, como o polipropileno, polietileno e o PET, usados na fabricação de embalagens plásticas, sacolas de mercado e garrafas plásticas. As partículas encontradas variaram entre 1,6 a 5,5 micrômetros.

Impactos na saúde

Identificado recentemente, o impacto na saúde causado pela presença do microplástico no organismo “ainda é uma pergunta a ser respondida pela ciência”, conta Ortega. O hematologista conta que algumas testagens em animais já foram concluídas, mas ainda não é possível definir as consequências à saúde humana.

Estudos iniciais, baseados em estudos de modelos de cultura celular, mostram que a presença de microplásticos do nylon no tecido pulmonar pode afetar o desenvolvimento de células tronco pulmonares, prejudicando pulmões em desenvolvimento e a cicatrização das vias aéreas, diz Luís Fernando Amato, pós-graduando e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, autor da pesquisa brasileira.

Consumo consciente

De acordo com Amato, o consumo consciente de materiais como plásticos é a melhor solução a curto prazo, evitando utilizações desnecessárias e de uso único como copos, canudos e sacolas plásticas de mercado, por exemplo.  “O uso do plástico na sociedade é inevitável, mas filtrar esse consumo em situações de necessidades reais, evitando desperdícios e descartes irregulares, pode ser a chave para uma melhora no cenário de poluição pelo plástico, seja no meio ambiente ou no organismo humano”, enfatiza Amato.

Por Vinicius Botelho

FONTE: Jornal da USP