Prevenção é arma contra insuficiência cardíaca

A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica que se caracteriza pelo enfraquecimento do coração ou por uma dificuldade do coração se encher. “Isso gera aumento das pressões no sangue, na circulação do pulmão ou, eventualmente, do lado direito do coração, na veia”, disse à Agência Brasil o cardiologista Edimar Bocchi.

O médico é chefe da Unidade de Insuficiência Cardíaca do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, e membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), onde foi fundador do Departamento de Insuficiência Cardíaca.

O especialista afirmou que o coração fica fraco ou se torna mais rígido, necessitando de um aumento de pressão. Nas duas circunstâncias, isso leva a uma série de sintomas. Como há um aumento de pressão no pulmão, na circulação pulmonar, a pessoa tem falta de ar, cansaço. E como isso pode levar também a pressões do lado direito do coração, o paciente pode ter inchaço nas pernas, na barriga, ficar com o organismo todo inchado. O inchaço geral é provocado por uma retenção de água e de líquidos pelo rim..

Como o coração fica mais fraco ou mais duro, ele perde a capacidade de jogar sangue para a frente, com os nutrientes dos quais as células do corpo dependem. Então, o coração provoca uma falta de nutrientes no organismo todo e, às vezes, a pressão pode cair, por causa disso. “Tem uma série de consequências devido ao enfraquecimento do coração ou à dificuldade de o coração se encher”.

Hoje (9), se comemora o Dia Nacional de Alerta contra a Insuficiência Cardíaca.

Frequência

A doença ou síndrome é silenciosa e perigosa e relativamente frequente na população. Ela acomete 2% da população mundial, cerca de 26 milhões de pessoas, e vai aumentando conforme a idade. A tendência é que esse número cresça aproximadamente 25%, até 2030.

No Brasil, a estimativa é que a doença acomete um percentual maior de pessoas, devido à Doença de Chagas e à falta de acesso ao tratamento médico adequado. Por isso, Bocchi advertiu que, no Brasil, há maior comprometimento.

No país, a insuficiência cardíaca apresenta outro fator importante. Ela está relacionada a hospitalizações frequentes, em razão da falta de ar. “Hoje, a insuficiência cardíaca é a principal causa de hospitalização por doença cardiocirculatória. É muito mais frequente a hospitalização por insuficiência cardíaca do que por infarto, por pressão alta”.

Além disso, a insuficiência cardíaca apresenta elevado risco de óbito, “uma alta mortalidade”. Cerca de 50% dos pacientes morrem em torno de cinco anos. “É o estágio final de todas as doenças do coração. A pessoa teve um infarto, compromete o coração, o coração vai enfraquecendo progressivamente, ele pode ter outros infartos que vão piorando ainda mais. A pessoa pode ter Doença de Chagas, que enfraquece o coração também de forma progressiva e o paciente vai evoluindo para hospitalização e óbito.”

Hipertensão

Edimar Bocchi informou também que a hipertensão, como fator de risco, pode levar a comprometimento do coração pelo próprio desenvolvimento de cardiopatia, uma sobrecarga do coração crônica, e ocasionar o infarto. Destacou ainda que o diabetes é importante porque pode levar a um risco maior de infarto e, em menor incidência, à miocardiopatia.

Normalmente, na medida em que a idade vai evoluindo, aumenta a incidência de insuficiência cardíaca. “Quando mais velho, a incidência é maior”. Cerca de 15% dos pacientes idosos chegam a ter insuficiência cardíaca. Após os 70 ou 75 anos, a incidência é muito alta. “À medida que vai passando a idade, vai aumentando a incidência e a prevalência. No Brasil, como o acesso à saúde e aos cuidados médicos é mais limitado, é esperado ter insuficiência cardíaca em pacientes mais jovens, em idade mais precoce, com 55 anos”.

Campanha

A Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj) está engajada na campanha de alerta contra a insuficiência cardíaca, promovida pela SBC. “Porque, quando a doença é reconhecida mais precocemente, ela pode ser tratada mais rapidamente. Hoje, com tratamento, 30% dos pacientes podem reverter (a doença) ou melhorar a insuficiência cardíaca. Quanto mais precoce o tratamento, melhor. Este é um aspecto importante”, destacou Edimar Bocchi.

A campanha tem dois objetivos principais. O primeiro é a prevenção, para evitar que a pessoa desenvolva os fatores de risco. “Tem que tratar a hipertensão, o diabetes, não fumar, tratar o colesterol alto, para evitar que tenha o infarto”. O outro objetivo é fazer um diagnóstico precoce.

O médico afirmou que, com um diagnóstico precoce, se consegue efetuar um tratamento em fase mais inicial, evitando que a pessoa evolua na insuficiência cardíaca, cuja mortalidade é muito alta. Bocchi informou que a mortalidade por insuficiência cardíaca é maior do que muitos cânceres não tratados. “É um problema de saúde. As pessoas desconhecem isso. Só tem um tipo de câncer que mata mais do que insuficiência cardíaca. É o câncer de pulmão. Por isso, é importante esse alerta”, afirmou.

Prevenção

À Agência Brasil, a chefe do Departamento de Insuficiência Cardíaca da Socerj, Jacqueline Sampaio, reiterou que essa é uma doença grave, com mortalidade muito alta e uma incapacidade funcional importante. “Está no rol das cardiopatias graves. Então, prevenir é muito importante. Quando a gente fala de prevenção, está se referindo, basicamente, à saúde cardiovascular e ao controle de coisas que podem, futuramente, causar a síndrome da insuficiência cardíaca”. Neste sentido, a médica chamou a atenção sobre a necessidade de a população controlar bem a pressão, não fumar, ter hábitos de vida saudáveis, acompanhar o colesterol. “Isso tudo é uma maneira de você ser preventivo à insuficiência cardíaca”.

Segundo Jacqueline Sampaio, a insuficiência cardíaca é mais comum em homens do que em mulheres. “Estatisticamente, o gênero masculino tem mais predisposição que o feminino”. Ela estimou que a proporção deve ser da ordem de 60% para 40%. “É mais prevalente no sexo masculino, mas também está presente na mulher”.

A médica informou que, atualmente, há inúmeras medicações para a doença. Se elas forem adotadas na fase inicial retardam sua evolução. “Porque a insuficiência cardíaca nada mais é do que o coração perder sua capacidade de bombear (sangue)”. Nos casos de diagnóstico de insuficiência leve, o problema está quando a pessoa negligencia o uso dos remédios prescritos pelo especialista justamente para que ela não evolua para uma insuficiência grave.

“É preciso ter o entendimento de que, apesar de não estar sentindo nada, a pessoa não deve deixar de tomar as medicações, nem negligenciar o tratamento. Isso é muito importante também”. Jacqueline insistiu que mesmo que não esteja sentindo nada, a pessoa não deve deixar de tomar a medicação prescrita porque os remédios são preventivos para o não agravamento da doença. “O agravamento vai muito de uma negligência e da má orientação, de um diagnóstico que não foi feito a tempo.”

Data

O 9 de julho foi instituído pela SBC como Dia Nacional de Alerta contra a Insuficiência Cardíaca, em homenagem ao aniversário do pesquisador Carlos Chagas, cientista cardiovascular pioneiro e responsável pela descoberta da Doença de Chagas, fator de risco importante para a insuficiência cardíaca. Na Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), durante todo o mês de julho, estão sendo realizados encontros com cardiologistas, dedicados à educação continuada da classe médica sobre a insuficiência cardíaca.

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil

Consumir vegetais é saudável ao coração. Mas de quem?

É comum que se associe o consumo de alimentos como frutas e vegetais à manutenção de uma vida saudável. De fato, pesquisas diversas apontam como este hábito associa-se à redução do risco de diversas doenças, como câncer, diabete e doenças cardiovasculares. Entretanto, se estas constatações podem ser ditas com segurança em relação à população adulta, o mesmo vale para adolescentes?

Esta é a questão geral que guiou os autores do artigo O papel das frutas e vegetais na saúde cardiovascular de adolescentes: uma revisão sistemática, que ganhou destaque na edição de maio deste ano da Nutrition Reviews, uma das publicações mais importantes do mundo no campo da nutrição. Embora o estudo tenha notado que o consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes está muito abaixo da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de cinco porções ao dia, não é possível afirmar que este baixo consumo esteja relacionado a riscos cardiovasculares em pessoas nesta faixa etária. E a própria medição deste consumo é também um problema. Os adolescentes são um grupo etário pouco estudado, por conta da sua alta complexidade e constantes alterações biológicas, psíquicas e sociais.”

Vegetais?

De modo geral, pesquisas na área “costumam associar a ingestão de alimentos ricos em gorduras saturadas, sódio e açúcar com o desenvolvimento de indicadores de risco cardiovascular em adolescentes”, afirma Tatiana Collese, primeira autora do artigo e doutoranda em medicina preventiva pela Faculdade de Medicina (FM) da USP. Entretanto, “os adolescentes são um grupo etário pouco estudado, por conta da sua alta complexidade e constantes alterações biológicas, psíquicas e sociais”, adiciona a pesquisadora, o que leva a uma falta de definição clara sobre o que de fato seja risco cardiovascular nestas pessoas. Além disso, como o consumo de frutas e vegetais neste grupo é muito baixo, não é possível afirmar quais efeitos este hábito pode ter em sua saúde.

Ausência de critérios

O resultado inconclusivo deriva da falta de critérios comuns dentre a própria comunidade científica neste tipo de pesquisa.

Poucos estudos sobre adolescentes levam em conta a recomendação da OMS quanto ao consumo adequado de frutas e vegetais – Cesta de Frutas, de Giuseppe Arcimboldo via  Wikimedia Commons

Mais de 5.600 artigos a respeito da relação de riscos de doenças cardiovasculares em adolescentes e consumo de frutas e vegetais foram considerados no estudo. Como conta Tatiana, em muitos destes a classificação do que é ser adolescente diferia daquela adotada pela OMS: pessoas maiores de 10 e menores de 19 anos.

Notou-se também uma grande variedade de métodos para classificar o consumo de frutas e vegetais neste grupo. “Não há consenso quanto ao melhor método para se avaliar o consumo alimentar em adolescentes”, diz Tatiana. Além disso, constatou-se inclusive a falta de padronização nos critérios sobre o que é risco cardiovascular em adolescentes.

“Antigamente, as doenças cardiovasculares surgiam apenas nos nossos avós. Não se cogitava medir indicadores, como a glicemia ou a pressão arterial, nos adolescentes, já que era muito improvável desenvolver tais riscos em idades precoces sem ser congênito. Portanto, estudar risco cardiovascular em adolescentes é assunto inconclusivo”, destaca a pesquisadora.

De todo modo, revisões como esta permitem justamente identificar caminhos que futuras pesquisas podem percorrer, a fim de mostrar se aquilo que se observa em adultos pode ser dito de adolescentes. Como diz Tatiana, o trabalho do grupo ressalta “a necessidade de padronização destes critérios, a fim de se obter uma classificação unificada, capaz de estimar a prevalência global de risco cardiovascular em adolescentes e possibilitar comparações válidas entre as nações”.

Por Raphael Concli

FONTE: Jornal da USP