Compilação de 48 estudos feitos na América do Norte, Europa, Japão, Paquistão e Austrália revelou que indivíduos do tipo sanguíneo A podem ser mais suscetíveis ao Acidente Vascular Cerebral antes dos 60 anos.
Em um estudo publicado no periódico Neurology, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, descobriram que pessoas com tipo sanguíneo A podem estar mais suscetíveis a sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) antes dos 60 anos.
A partir de um compilado de 48 estudos feitos na América do Norte, Europa, Japão, Paquistão e Austrália sobre genética e AVC isquêmico — que acontece pelo entupimento de veias e artérias responsáveis pela irrigação de diferentes partes do cérebro —, cientistas analisaram os dados de 17 mil pessoas que sofreram derrame ao longo da vida e quase 600 mil participaram do grupo controle e nunca desenvolveram a doença.
Durante o experimento, os pesquisadores notaram que o tipo sanguíneo A predominou em comparação com pessoas que tiveram AVC com 60 anos ou mais ou nunca tiveram: para essas pessoas, o risco de ter um derrame precoce foi 16% maior. Já para aqueles com o tipo O, o risco foi 12% menor.
Associação de genoma
“O estudo é de associação de genoma. Ele consegue ver essa relação, mas não testa o mecanismo dela. Então, ele traz algumas hipóteses junto com outros estudos. Uma das ideias é que o sistema ABO é dado por glicoproteínas que, além de estarem nos glóbulos vermelhos, também têm relação com proteínas em plaquetas na parede dos vasos. Isso muda os fatores de coagulação e foi mostrado em outros estudos anteriores uma mudança de fator de coagulação. Quem é do tipo A tem uma tendência maior a fazer coágulos e também tem mais trombose venosa”, explica Guilherme Diogo, neurologista no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Atuando nas áreas de neuroimunologia e de emergências neurológicas, o médico esclarece que, com base nas evidências científicas até o momento, ainda não é possível afirmar que pessoas com o grupo sanguíneo A estão mais suscetíveis ao AVC precoce, mas essa descoberta internacional pode abrir portas para que a comunidade científica entenda melhor quais fatores podem estar relacionados às conclusões da pesquisa.
“A ideia desses estudos de risco por genética é combinar vários fatores. Por exemplo, a gente pode juntar várias dessas mutações genéticas a fatores ambientais também. Será que eu vou conseguir desenvolver mais algum exame, mais algum tratamento precoce a partir daquela mutação? Sozinho, esse estudo não vai conseguir fazer isso, mas pode ser um passo para virar algo complexo”, finaliza o especialista.
Projeto da Faculdade de Saúde Pública se pauta no estudo sobre o estado nutricional das Obesidade infantil, ainda durante a gestação, e correlaciona a obesidade infantil com fatores genéticos advindos da mãe e do ambiente
Projeto Coorte sobre estado nutricional de crianças da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP – USP) avalia fatores genéticos e ambientais na instalação precoce da obesidade desde a fase uterina. A professora Patrícia Helen Rondo, coordenadora do projeto de pesquisa, salienta que a importância do estudo está relacionada à questão sobre a obesidade ser uma pandemia que atinge não apenas a população adulta como também as crianças, e as consequências relacionadas ao sobrepeso.
Os estudos sobre as causas da obesidade na fase uterina concentraram-se no objetivo de entender a formação da adipogênese, ou massa gorda, em crianças. A avaliação foi feita no segundo trimestre da gestação, com 2 mil gestantes, na cidade de Araraquara, em 2017 e, a partir dela, também foi possível observar a relação com a mãe e com fatores genéticos e ambientais.
Com um acompanhamento a longo prazo, foi possível identificar essa relação entre o índice de massa corporal pré-gestacional das mães, que está ligado ao ganho de peso durante a gestação, e o seu perfil glicêmico. Patrícia explica que isso ocorre porque a avaliação é feita no período gestacional e no neonatal, a partir da expressão gênica e do metabolismo lipídico do bebê, por meio do cordão umbilical. E adiciona: “Estamos tentando entender, através de mecanismos filogenéticos e de expressão gênica que estão relacionados com a formação da massa gorda já na vida fetal”.
Justamente por avaliar a composição corporal do feto e sua relação com a mãe, ao invés de pautar-se no tamanho e peso do bebê, o estudo traz uma relevância inédita. No que diz respeito à gestante, também buscou entender o porquê da maioria delas sofrer com a retenção de peso no período pós-parto e a predisposição a doenças crônicas.
Doenças crônicas
O estudo também tem como objetivo estudar a relação do sobrepeso infantil com a predisposição a doenças crônicas em crianças. Correlacionando a fatores maternos genéticos, a professora explica que, a partir dele, seria possível observar o risco a que o bebê estaria sujeito. “Não só saber quais são os fatores maternos genéticos relacionados com essa massa gorda do bebê, mas que risco esse bebê pode ter futuramente”, complementa.
Em relação à saúde materna, a professora chama atenção para os processos posteriores ao pré-natal e à gestação em si. Para ela, o período puerpério acaba recebendo uma menor atenção, mesmo sendo de “extrema importância”, pois é nesse intervalo que a mãe irá recuperar o peso e amamentará.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, sendo a mais comum a doença de Alzheimer, que atinge sete entre dez indivíduos nessa situação em todo o mundo. A OMS alerta para a tendência de aumento preocupante desses números, com o envelhecimento da população. Estimativas da Alzheimer’s Disease International, sediada no Reino Unido, os números globais poderão chegar a 74,7 milhões, em 2030, e 131,5 milhões, em 2050.
Já aqui no Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que em torno de 1,2 milhão de pessoas têm a doença e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.
Nesta quarta-feira (21) celebra-se o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, criado pela Associação Internacional do Alzheimer. No Brasil, a data marca o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, instituído para esclarecer os brasileiros sobre a importância da participação de familiares e amigos nos cuidados aos diagnosticados com a doença.
“A doença de Alzheimer se manifesta por uma disfunção em que alguns neurônios do nosso cérebro começam a morrer”, disse à Agência Brasil o neurologista Silvio Pessanha Neto, diretor do Instituto de Educação Médica (Idomed). As doenças neurodegenerativas têm todas esse mesmo perfil. “Dependendo da localização desses neurônios, vão ocorrer sinais e sintomas diferentes. Mas a fisiopatologia é a mesma”, destacou o médico.
No caso do Alzheimer, um conjunto de neurônios sofre um processo defeituoso e começa a morrer. Como esses neurônios são justamente aqueles responsáveis pela memória, o paciente começa a ter incapacidade para gerar novas memórias. “Começa o esquecimento relacionado a eventos recentes”.
Pessanha explica que os primeiros sinais são identificados pela família e por amigos. “O indivíduo começa a esquecer coisas, como o nome dos netos; começa a repetir a mesma pergunta várias vezes; não consegue aprender coisas novas”.
Mais jovens
O Alzheimer é uma das formas de demência neurodegenerativa que, geralmente, afetam os idosos, já que trata-se de um processo lento e progressivo. Os sintomas começam, em geral, depois da sexta ou sétima décadas de vida. Para especialistas, a doença em jovens é muito rara e ocorre quando há predisposição genética para a doença.
“O jovem, entendido como alguém na faixa de 40 anos, quando tem [Alzheimer], esse processo começa muito precocemente, porque é preciso muito tempo para essa disfunção se manifestar”, diz Pessanha.
O especialista esclarece ainda que o Alzheimer não pode ser confundido com a demência senil: “o cérebro envelhece, como todo o corpo envelhece. Alzheimer é a doença. Não é o envelhecimento natural do nosso cérebro”.
Ferramenta
O médico nuclear e membro titular da Sociedade Europeia de Medicina Nuclear, José Leite, conta que a medicina ganhou importantes aliados para a detecção do Alzheimer, como um teste de imagem não invasivo, chamado PET Amiloide Florbetabeno (PET-CT com Florbetabeno-18F). “O exame é capaz de fazer a medição do volume de placas beta amiloides que, quando acumuladas, interferem no funcionamento das células cerebrais e são consideradas como digitais do Alzheimer pelos médicos”.
O exame é uma novidade no país e importante porque potencializa o diagnóstico. Como é uma doença progressiva, quanto o diagnóstico mais chances de iniciar um tratamento correto para melhorar a qualidade de vida do paciente. “É muito importante porque, quanto antes tiver o diagnóstico, o médico pode tratar melhor, começar a medicar o paciente para que se reduza a velocidade com a qual os neurônios começam a morrer. Aí, você eleva a qualidade de vida e o prognóstico do paciente melhora muito”, avalia Pessanha.
Segundo Marcus Tulius, neurologista do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o novo exame é uma ferramenta para auxiliar no diagnóstico, mas, isoladamente, não é suficiente. “Ele fortalece a hipótese clínica. Possibilita a detecção precoce da condição e, juntamente com a avaliação dos sintomas existentes, é possível tentar estabilizá-los”.
Estímulos
Marcus Tulius destacou que a melhora da qualidade de vida do paciente com Alzheimer é propiciada quando se faz um tratamento mais precoce, “fazer com que a pessoa e a família se preparem para essa doença, apesar de saber que a doença vai progredir no futuro. Os medicamentos fazem com que essa evolução seja mais lenta”.
O Alzheimer é uma doença sem cura e não há uma prevenção comprovadamente eficiente. A prevenção consiste em manter uma atividade física e mental ativa, ler muito, escrever, fazer palavras-cruzadas, quebra-cabeças. “Quem ocupa o cérebro adia a doença”, diz Pessanha.
Além dos estímulos mentais, há evidências cada vez maiores de que exercícios físicos são benéficos para a prevenção e tratamento do Alzheimer. A atividade física regular, como por exemplo as caminhadas, não apenas protege contra alguns fatores de risco para o surgimento do Alzheimer, como hipertensão, colesterol alto e diabetes, como também traz benefício na velocidade de raciocínio, favorece a manutenção da memória e ajuda na prevenção do declínio cognitivo.
Estudos recentes relacionam o Alzheimer com outras doenças e, por esse motivo, um cuidado com a saúde em geral pode adiar o desenvolvimento da doença. “A gente sabe hoje que Alzheimer está ligado muito ao diabetes, à hipertensão, ao tabagismo, à síndrome da apneia obstrutiva do sono, a quadros de depressão. Então, se você precocemente trata essas situações, isso diminui o risco de o idoso, quando chega à terceira idade, desenvolver Alzheimer”, diz Marcus Tulius.
Apoio
O suporte da família ao paciente com Alzheimer é fundamental. “A pessoa está com uma enfermidade. Ela não confunde o nome do neto, por exemplo, porque quer. Tento pedir que a família apoie, estimule, leve para o cinema, o museu, o teatro, leve para passear, tenha paciência porque esses estímulos é que vão manter o paciente, por mais tempo, com uma qualidade mínima de vida para interagir com as pessoas”, recomenda Pessanha.
Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
A constatação é de um estudo da psicóloga Vera Paiva e revela que o suicídio nem sempre é motivado por doenças mentais e que pode estar atrelado a motivos sociais
Neste mês comemora-se o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização da população acerca do suicídio, criada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens entre 15 a 29 anos e 77% deles ocorre em países pobres.
O artigo Prevalência e determinantes sociais da ideação suicida entre estudantes brasileiros em escolas públicas do ensino médio busca sanar uma lacuna nas estatísticas de suicídio entre jovens brasileiros. Comumente associado a doenças mentais, o suicídio pode estar atrelado a motivos sociais, “à desigualdade econômica, um crescimento de desemprego, da flexibilidade de emprego, a falta e a destruição das políticas de proteção social”, como explica a professora do Instituto de Psicologia da USP e um dos autores do estudo, Vera Paiva. Ela também ressalta que esse problema “tem sido associado com desigualdade de gênero”.
O estudo revela que a taxa de suicídio é maior entre meninos e que está diretamente ligada a fatores socioeconômicos, de bem-estar social e pertencimento, como a renda baixa, bullying e até ao estudo no período noturno. Ainda assim, jovens que estão diretamente expostos à LGBT+ fobia e que se assumem parte da comunidade LGBTQIA+ são o grupo mais afetado.
Mesmo que o número de suicídios não tenha aumentado consideravelmente na pandemia, o que aconteceu foi uma mudança nos grupos que o idealizam. “A gente não viu um aumento expressivo, a gente viu mudanças dos grupos que estão mais ou menos afetados”, explica a professora.
O papel da escola
O projeto, financiado pela Fapesp e liderado pela professora e por Marcos Roberto Vieira Garcia, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), surgiu a partir de uma demanda das escolas e dos professores para que o assunto de saúde mental fosse abordado nas escolas.
“A escola não tem condições plenas de resolver esse assunto, mas tem sim condições de evitar a discriminação, o bullying baseado em qualquer uma desses elementos e fazer o compartilhamento das situações de sofrimento”, ressalta Vera. “As professoras não são capacitadas para lidar com um evento de saúde mental ou lidar com famílias”, observa.
A atuação das escolas na prevenção do suicídio e na diminuição do sofrimento psicossocial desses grupos mais afetados é muito importante, porém, deve ser direcionado. Abordar o assunto, promover um ambiente de segurança a esses grupos, pautar temas como a LGBT fobia e estar atento a sinais são medidas que podem ser tomadas por essas instituições. Uma das melhores formas de prevenção, segundo Vera Paiva, é o sentimento de pertencimento e poder conversar e se reunir com pessoas parecidas.
Sistema de saúde
A culpabilização dos pacientes e o encaminhamento destes não são o mais recomendado. O Sistema Único de Saúde, que oferece acompanhamento nesses casos, não dispõe de atenção individualizada, o que é imprescindível. “A maior parte do que é oferecido para eles é o atendimento em grupo, e na primeira chegada eles querem ser recebidos individualmente, querem ser escutados individualmente”, explica a pesquisadora. “É necessário mudar o modo como o serviço de saúde acolhe os jovens”, finaliza Vera.
Pesquisa liderada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou um conjunto de proteínas ligadas à depressão tardia, doença que acomete idosos. Foram determinadas moléculas que podem contribuir para diagnósticos e tratamentos mais eficazes. O estudo, que foi publicado no periódico europeu Journal of Proteomics, envolve também cientistas das universidades de Connecticut (EUA) e de Toronto (Canadá), além da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Daniel Martins-de-Souza, professor da Unicamp e coordenador do trabalho, destaca que um dos objetivos é entender a similaridade com a depressão. “Ainda não temos ideia de quão similar, do ponto de vista molecular, essa depressão tem com a depressão maior, que afeta quase 10% da população. E, da mesma forma como [ocorre] para depressão maior, não temos biomarcadores que possam identificar ou predizer que alguém vai desenvolver isso no futuro”, aponta.
Uma das diferenças entre as duas manifestações da doença pode estar ligada ao aspecto ambiental. “Ou seja, as pessoas passam por experiências na vida que acabam dirigindo mudanças biológicas que levam à depressão. Isso também é verdade para a depressão maior, mas essas características podem ser mais proeminentes nas pessoas com depressão tardia”, relaciona. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos seis a cada 100 pessoas, entre 65 e 74 anos, serão diagnosticadas com depressão.
Análises
Foram estudadas amostras sanguíneas de 50 pessoas, das quais 19 tinham diagnóstico de depressão tardia. A análise mostrou diferenças significativas na concentração de 96 proteínas. Entre elas, 75 são candidatas para a determinação de uma identidade molecular para a doença geriátrica.
“A gente conseguiu achar o que nós chamamos de uma assinatura molecular. Ou seja, nós identificamos algumas moléculas no sangue que teriam esse poder de distinguir quem tem a depressão e quem não tem”, pontuou Martins-de-Souza.
As próximas etapas do estudo envolvem a coleta de novas amostras dessa população. A ideia é “quantificar especificamente estas 75 proteínas para ver se a gente consegue replicar esses dados”, explica o coordenador.
Além disso, a doutoranda Lícia Silva-Costa, do Laboratório de Neuroproteômica da Unicamp e uma das autoras do estudo, identificou seis proteínas que tem uma correlação a severidade dos sintomas. “Também pode ser uma marcação para predizer que uma pessoa vai ter uma piora muito grande de sintomas, o que poderia ser previamente tratado”, acrescenta o professor. A proposta agora é também validar essas informações com novas amostras.
Por Camila Maciel – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
Você sabe para que serve a vitamina B6? Cresce o número de estudos que sugerem que a ausência desse composto no organismo pode impactar a saúde mental.
O complexo B é uma das vitaminas mais importantes para o corpo, entre elas, a B12, utilizada para combater a anemia e saúde dos ossos e a B9, indicada para grávidas por causa do ácido fólico, entre outras.
A nutricionista Paula Sozza Silva Gulá, doutora no Programa de Psicobiologia do Departamento de Psicologia e do Laboratório de Nutrição e Comportamento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que o ser humano não consegue sintetizar as vitaminas do complexo B, por isso é importante a complementação alimentar com a ingestão adequada.
Reações químicas
A vitamina B6 está envolvida em uma série de reações químicas importantes para o sistema nervoso central, sendo essencial para o funcionamento do nosso organismo e atuando através da corrente sanguínea. Participa ativamente não só da parte cerebral, mas também tem sua importância no metabolismo e na função hormonal.
“A vitamina B6 está disponível amplamente em alimentos como salmão, atum, cereais fortificados, grão de bico, aves, folhas verdes escuras, banana, laranja e melão. Mas também em alimentos como carnes, ovos, castanhas, nozes, entre outros grupos alimentares”, orienta Paula.
Médicos propõem mudar a classificação da obesidade e o objetivo é valorizar o impacto do emagrecimento na saúde, priorizando o bem-estar em detrimento da estética. A iniciativa é da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
O médico Márcio Corrêa Mancini, do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, discorre sobre o assunto ao relembrar uma frase do médico e professor, já falecido, Alfredo Halpern. De acordo com este, o ideal é atingir um peso onde as complicações associadas à obesidade são anuladas ou minimizadas.
Mancini aponta que a obesidade é um problema de saúde tratado de forma diferente dos demais: “Quando falamos de tratar diabetes, não falamos de normalizar a glicemia como se fosse um indivíduo que não tem diabetes, falamos de atingir um controle da glicose no sangue para o indivíduo não ter complicações ao longo do tempo.” Além disso, a influência da sociedade na imposição de um padrão estético também atrapalha.
Obesidade controlada
De acordo com o entrevistado, o objetivo da obesidade controlada é perder aproximadamente 10% ou 15% do peso para melhorar a saúde. “Se o indivíduo com 100 quilos passar a ter 90 ou 85, ele não normaliza o peso corporal, mas melhora muito a sua saúde. Ele vai aumentar a expectativa de vida e isso é suficiente, porque ,muitas vezes, com a ideia de normalizar o peso, o paciente se frustra”, menciona.
A normalização do peso corporal está associada ao IMC (Índice de Massa Corporal), que calcula se uma pessoa está acima do peso ao considerar seu peso e altura. No entanto, Mancini comenta que muitas vezes a busca pela normalização pode frustrar o paciente, é um processo longo e os resultados não aparecem de forma rápida. Por isso, controlar a obesidade deve ser o primeiro passo.
Mancini aponta que a obesidade controlada estimula as pessoas a encararem o processo, que é demorado em razão do próprio organismo humano: “Ele tende a se defender da perda de peso. O famoso efeito sanfona não vem do nada, ele vem de forças internas, de substâncias que o organismo produz para impedir a desnutrição. O organismo aceita o ganho de peso com facilidade e não aceita a perda de peso com facilidade.”
A perda de 10% ou 15% do peso é benéfica em um período mais longo. “A vigilância a longo prazo é muito importante para que o paciente não recupere peso. Por menor que seja a perda de peso, mesmo que seja somente 5% a 10%, o paciente não vai perder de uma forma mágica”, indica Mancini, ao ressaltar a importância do acompanhamento.
De uma hora para a outra, você apresenta problemas de visão, começando a não enxergar direito sem nenhum motivo aparente. Fique muito atento e procure um auxílio médico, pois pode estar com neuromielite óptica, doença rara, autoimune e ainda sem cura. Tarso Adoni, assistente do Departamento de Neurologia e também médico do Ambulatório de Doenças Desmielinizantes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que “essa é uma doença autoimune do sistema nervoso central em que canais de água, chamados aquaporina 4, são atacados por anticorpos produzidos pelo próprio paciente. O aquaporina 4 é fundamental para o funcionamento normal do sistema nervoso central. Quando esse canal é bloqueado pela presença dos anticorpos, existe uma lesão, que acontece principalmente nas estruturas do sistema nervoso central, que são ricas em aquaporina 4, nos nervos ópticos, na medula espinhal e áreas que apresentam contato com o líquor no sistema nervoso central e nos vasos”.
Por ser uma doença autoimune, não se sabe o que a desencadeia. As mulheres são mais afetadas do que os homens pela neuromielite óptica. “De cada nove mulheres, somente um homem desenvolve a lesão, que costuma ser detectada por volta dos 38, 40 anos. Ela é mais comum em afrodescendentes e orientais, embora possa acontecer também em caucasianos”, destaca o neurologista.
Duas características
Essa doença apresenta duas características que se entrelaçam. Ela é mais comum em indivíduos que tenham outras doenças autoimunes. Assim, quem tem neuromielite óptica pode ter mais chances de um diagnóstico de miastenia gravis, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide e síndrome de Sjögren. Ao mesmo tempo, se a pessoa já tem alguma doença autoimune, está mais suscetível a apresentar a neuromielite óptica, que apresenta uma evolução de seus sintomas atingindo não só os olhos, mas outros órgãos, como destaca Adoni.
“Os principais sintomas da neuromielite óptica são: inflamação do nervo óptico, conhecida como neurite óptica, que ocasiona dor ao redor ou atrás do olho, com danos à visão que, em casos graves, pode levar à cegueira. A medula espinhal também pode ser atacada, ocasionando um caso de mielite, ou seja, uma inflamação que pode levar à perda de movimentos, de sensibilidade, uma sensação de aperto no abdome ou no tórax, com dificuldade para urinar e evacuar. Podem ocorrer também inflamações na região do tronco encefálico, ocasionando caracteristicamente soluços, vômitos incoercíveis e vertigens.”
Tratamento
Há tratamentos efetivos, bastante eficazes, que buscam atenuar a resposta imunológica do portador, reduzindo a chance de que ele produza anticorpos que ataquem o seu próprio corpo. Há medicamentos disponíveis na rede pública de saúde que podem controlar boa parte dos problemas. Somente os casos chamados de “refratários”, que não respondem aos remédios disponíveis no SUS, necessitam de um tratamento mais caro. Não há estudos definitivos sobre a patologia, mas, segundo Adoni, há uma estimativa de 4 mil a 7 mil pessoas com neuromielite óptica em todo o Brasil. Se você apresentar algum dos sintomas já discriminados, procure um neurologista, pois exames específicos irão ajudar em sua identificação, já que ela pode ser confundida com outras doenças.
Ptose palpebral é um termo médico utilizado para indicar a queda da pálpebra superior, aquela pele que fica em cima dos olhos. Trata-se de uma doença oftalmológica, conhecida também como pálpebra caída, e ocorre tanto de forma congênita como pode ser adquirida ao longo da vida. Em um primeiro momento, pode parecer apenas um problema estético, mas vai muito além disso, porque existe o risco de causar a perda da visão.
O oftalmologista Antônio Augusto Velasco Cruz, professor do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, deixa claro que não se trata de excesso de pele. A doença está relacionada ao músculo que levanta os nervos e pode ocorrer bilateralmente – nos dois olhos – ou unilateral, apenas em um deles.
O professor esclarece também o que é ptose adquirida, aquela que chega com o passar dos anos, e que pode ocorrer por vários motivos e situações.
Sensação de peso
As pálpebras caídas dão a sensação de peso sobre os olhos, cansaço visual, baixa visão por causa da sombra no campo visual. O uso de lentes, alergias ou até questões neurológicas também podem levar à queda dessa pele sobre o olho.
O tratamento da pálpebra caída é feito de forma cirúrgica. Existem várias técnicas cirúrgicas indicadas, de acordo com a causa. Velasco Cruz explica que nunca deve ser usado o botox, já que esse método não resolve o caso.
O oftalmologista explica que, muitas vezes, a cirurgia é confundida com outra doença, que também trata do excesso de pele nos olhos, e explica a diferença entre ptose e dermatocalase. Por outro lado, a recuperação da cirurgia de ptose é muito tranquila, seja ela congênita ou adquirida, requerendo apenas os cuidados pós-cirúrgicos, como qualquer outra.
O primeiro Consenso Latino-Americano sobre Dor Crônica reuniu especialistas de 14 países da América Latina, com o objetivo de redefinir e discutir os impactos da saúde da população. A médica fisiatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Lin Tchia Yeng, destaca que a dor é um sinal para as áreas de atenção do corpo.
A dor crônica é um problema comum e impacta de diversas formas a qualidade de vida do paciente. Desde incômodos constantes e problemas no sono, até afastamentos no trabalho, a condição é bastante prejudicial e pode indicar problemas de saúde mais graves. O Consenso Latino-Americano foi pensado de forma a aumentar a discussão sobre a dor na formação de médicos e fisioterapeutas, essencial para a identificação do problema no momento do atendimento: “Então, a gente tem que melhorar essa discussão sobre dor, que é fundamental na área da saúde”, completa a médica Lin.
Incômodos crônicos têm diferentes causas e são, geralmente, de origem “musculoesqueléticos”, como destaca Lin. Uma porcentagem de pacientes apresenta dores nas costas e de cabeça, sem mencionar dores decorrentes de incômodos operatórios. No entanto, em alguns casos, a dor pode até ser de origem oncológica, proveniente do desenvolvimento de um câncer. Algumas delas podem até ter causa em movimentos repetitivos e rotineiros, e o home office demonstrou isso com o aumento das queixas de dor.
Diagnóstico e automedicação
Com o diagnóstico adequado, é possível identificar casos e realizar um tratamento direcionado com os fármacos específicos. Porém, não são todos os remédios disponíveis para dor que são disponibilizados pela “cesta básica do governo”, como os de diabete e hipertensão. Além disso, a médica salienta que algumas dores podem demandar um tratamento por medicação escorado ao suporte emocional, por meio de psicólogos e de terapeutas: “Muitas vezes, as dores pioram com estresse, ansiedade e depressão. Por isso, muitas vezes também precisamos de um psicólogo”, adiciona Lin.
Lin Yeng chama atenção para a questão envolvendo a automedicação e o autotratamento: “Não é bacana fazer automedicação, porque você pode encobrir um sintoma, que é um importante alerta”. E enfatiza dizendo ser importante esperar por um diagnóstico direcionado de um especialista, que pode demandar um tratamento combinado, antes de tomar uma atitude em relação à dor.