Chocolate com alto teor de cacau contribui no estado nutricional e conforto de idosos com câncer

Ao apontar associação entre o consumo do alimento e a melhora do estado nutricional, estudo destaca o papel da assistência nutricional – respeitando as preferências pessoais – para pacientes com câncer em cuidados paliativos.

Considerado um dos doces mais queridos em todo o mundo, o chocolate também pode oferecer benefícios para a saúde, especialmente para idosos com câncer em cuidados paliativos, ou seja, sem possibilidade de cura. É o que aponta um estudo de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP que sugere que o consumo de chocolate com maior teor de cacau pode contribuir para a melhora do estado nutricional, da funcionalidade e a diminuição de sintomas nesses pacientes.

“Nós queríamos fazer um trabalho de pesquisa que fosse útil para o público-alvo, promovendo melhora nos problemas nutricionais, conforto e prazer. Foi assim que pensamos em estudar o chocolate, que tem uma história antiga na sociedade e que é alvo de estudos na área cardiovascular”, comenta Nereida Kilza da Costa Lima, médica geriatra, professora da FMRP e orientadora do estudo Effect of chocolate on older patients with cancer in palliative care: a randomised controlled study.

A pesquisa foi realizada com 46 pacientes idosos com câncer em cuidados paliativos em tratamento no Serviço de Oncologia e Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP). Todos os voluntários receberam tratamento padrão e foram divididos em três grupos, um com pessoas que não receberam chocolate, outro de pessoas que consumiram 25 gramas diárias de chocolate com 55% cacau e, por último, aquelas que ingeriram a mesma quantidade de chocolate branco.

“Nós coletamos os dados sociodemográficos e informações do estado de saúde, com exames laboratoriais e da avaliação nutricional dos participantes antes e após quatro semanas da intervenção, usando ferramentas específicas e validadas na comunidade científica”, explica Josiane Cheli Vettori, que é nutricionista, doutora pela FMRP e primeira autora do estudo.

Os voluntários tinham média de 67 anos de idade e 43,5% estavam em risco de desnutrição ou estavam desnutridos antes do início do trabalho. “No final do estudo, observamos que os índices das avaliações nutricionais foram aumentados significativamente. A elevação teve significância clínica e não houve indivíduo classificado como desnutrido após a intervenção, evidenciando que, possivelmente, a intervenção nutricional pode ser capaz de reduzir a perda de peso em pacientes com câncer em estágio avançado melhorando o estado nutricional”, conta.

Alimentação como conforto em cuidados paliativos

O câncer é a segunda principal causa de mortes no mundo, com 9,6 milhões de vítimas em 2018, de acordo com dados da Organização Pan-Americana da Saúde. “Diante desse cenário, cresce a preocupação com o impacto da nutrição em pacientes com câncer em cuidados paliativos. Assim, a alimentação como preservação do estado nutricional, prevenção da desnutrição e promoção de conforto são importantes”, conta a nutricionista Josiane.

Além de nutrir o corpo, a alimentação está associada às memórias, conexão com amigos, autonomia e prazer. “O suporte nutricional deve ser adaptado para atender às necessidades e desejos de cada paciente, pois eles são únicos quanto aos valores, história, desejos, lembranças e necessidades nutricionais e emocionais”, ressalta.

Ela ainda conta que a assistência nutricional é importante para o controle dos sintomas durante o tratamento oncológico e deve ser realizada pela equipe de saúde junto com o paciente, familiares e cuidadores. Para isso, é preciso que os profissionais de saúde tenham criatividade e sensibilidade para respeitar as preferências, verificar o acesso a determinado alimento e outras necessidades envolvidas no ato de se alimentar, como dentição e controle motor para segurar talheres.

“Antes de recomendar o chocolate, é importante observar as preferências alimentares, que são altamente pessoais, e pensar em conjunto com a equipe multiprofissional, familiares e paciente para entender se faz sentido no tratamento, se é algo que ele gosta e se tem acesso”, reforça a nutricionista.

Chocolate branco pode não ser um vilão

Há quem diga que o chocolate branco não é chocolate por ele ser produzido com a manteiga do cacau e não com a massa usada na fabricação do chocolate ao leite e daqueles com mais teor de cacau. Apesar do rótulo de vilão, cientistas buscam entender quais são os efeitos do alimento e quais propriedades podem ser benéficas.

“Nos surpreendeu que o chocolate branco, que é sempre visto como sem efeito, contribuiu para a melhora dos voluntários do nosso estudo. Ele demonstrou ter efeito benéfico no estresse oxidativo, que causa danos celulares; melhora na inflamação e nas reservas corporais. Agora a comunidade científica precisa continuar pesquisando quais são e os impactos de possíveis componentes positivos desse tipo de chocolate”, diz a professora Nereida.

O estudo Effect of chocolate on older patients with cancer in palliative care: a randomised controlled study foi publicado em janeiro na BMC Palliative Care. Além de Nereida e Josiane, o trabalho conta com autoria de Luanda G. da Silva, Karina Pfrimer, Alceu A. Jordão, Paulo Louzada Junior, Júlio C. Moriguti e Eduardo Ferriolli.

Texto: Giovanna Grepi
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Bactéria encontrada no mangue produz matéria-prima para plástico biodegradável

Identificada nas águas do mangue de Cubatão, na Baixada Santista, a bactéria Methylopila oligotropha produz grãos de um material biodegradável, chamado de PHAs, para armazenar energia, com propriedades similares a alguns tipos de plásticos, como a maleabilidade, o que viabilizaria seu uso em grande escala como matéria-prima para substituir plásticos derivados do petróleo, reduzindo a poluição ambiental – Fotos: Cedidas pela pesquisadora

Com propriedades similares a alguns tipos de plásticos, material tem potencial para substituir derivados do petróleo e reduzir poluição ambiental.

Nas águas do mangue da Baixada Santista existe uma bactéria chamada Methylopila oligotropha que, para acumular energia, produz grãos microscópicos de reserva na forma de poli-hidroxialcanoatos, ou simplesmente PHAs, um material biodegradável com propriedades similares a alguns tipos de plásticos. Em pesquisa do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia da USP, a bactéria foi isolada e cultivada para avaliar o potencial da produção de PHAs em grande escala, a fim de ser usados como matéria-prima nas indústrias, com o objetivo de substituir os plásticos produzidos a partir do petróleo, de forma a reduzir a poluição ambiental. O estudo teve apoio do Research Center for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), centro de pesquisa em engenharia sediado na Escola Politécnica (Poli) da USP que reúne pesquisadores de diversas instituições nacionais e estrangeiras.

“Os PHAs são atraentes comercialmente pela possibilidade de serem substitutos para os derivados do petróleo, pois possuem propriedades similares a vários termoplásticos e elastômeros”, aponta ao Jornal da USP a professora Elen Aquino Perpétuo, do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Baixada Santista, que coordenou a pesquisa. Os elastômeros e termoplásticos são dois tipos de plásticos que podem ser moldados e transformados por meio de processos de injeção, extrusão e sopro, de acordo com a temperatura em que são aquecidos. “A variabilidade da composição dos PHAs determina suas propriedades mecânicas e permite seu uso em diversas aplicações, como na produção de biopolímeros, usados nas áreas de farmácia e medicina para confecção de suturas, implantes e fixações ósseas, sendo absorvidos pelo organismo na mesma escala de tempo em que ocorre a regeneração do tecido.”

O projeto foi objeto da dissertação de mestrado de Esther Cecília Nunes da Silva, no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia da USP. Na pesquisa, que procurava identificar linhagens bacterianas produtoras de materiais de origem natural como os PHAs, a bactéria Methylopila oligotropha foi isolada do mangue da Baixada Santista, na cidade de Cubatão, através da coleta de amostras no próprio local. “Posteriormente, as amostras passaram por um processo de enriquecimento seletivo, onde somente o metanol foi adicionado como fonte de carbono”, explica a professora. “Assim, foi possível transferir uma parte desse cultivo para uma placa de Petri, a fim de isolar colônias bacterianas, para posterior identificação molecular.”

De acordo com Elen, já existiam alguns relatos sobre a possibilidade da Methylopila oligotropha acumular PHB, um tipo de PHA. “No entanto, a grande novidade desta pesquisa foi verificar e quantificar a capacidade desta bactéria em produzir, além de PHB, também o copolímero PHB-HV”, relata Elen, “que apresenta melhores propriedades mecânicas, pois é menos cristalino e mais flexível, facilitando o seu processamento industrial”.

Produção

Os pesquisadores analisaram o conteúdo interno da bactéria, na forma de grânulos, que indicavam a produção de PHB. “A produção de PHAs por bactérias, de modo geral, ocorre em cultivos com excesso de carbono e deficiência de algum nutriente, como, por exemplo, nitrogênio, fósforo e potássio”, afirma a professora. “Especificamente, a indução do PHB-HV foi feita a partir do cultivo bacteriano em excesso de fonte de carbono, no caso, metanol, e limitação do nitrogênio, além da adição de um co-substrato, o ácido valérico.”

Segundo Elen, para chegar à produção industrial de PHAs, é necessário que haja estudo de escalonamento. “Há somente uma empresa no Brasil que produzia PHB microbiano, mas hoje trabalha somente sob demanda e ainda assim toda a produção é exportada”, ressalta. “Tudo isso porque o PHB ainda tem um custo elevado para o mercado interno.”

“No entanto, para além do escalonamento, é também necessário que haja incentivo fiscal e políticas públicas voltadas para a diminuição do uso de plásticos derivados de petróleo, principalmente aqueles de ‘uso único’”, destaca a professora. “A Alemanha já fez isso em 2021, quando proibiu a venda de plásticos descartáveis, entre eles pratos, copos, canudos, talheres, aplicando uma diretiva europeia destinada a proteger os oceanos da poluição.”

O projeto foi desenvolvido no Bio4Tec Lab do Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema) da Escola Politécnica (Poli) da USP, em Cubatão, e teve apoio do Research Center for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), um centro de pesquisa em engenharia (CPE) que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com patrocínio da Shell, através de recursos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Coordenado pelo professor Júlio Meneghini e sediado na Escola Politécnica (Poli) da USP, o RCGI conta com atuação de pesquisadores de várias universidades nacionais e internacionais.

Mais informações: e-mail elen.aquino@unifesp.br, com a professora Elen Aquino Perpétuo

Texto: Júlio Bernardes
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Estudo descreve os mecanismos moleculares da disfunção erétil por consumo de álcool

Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP descreve os mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção erétil desencadeada pelo consumo excessivo de álcool. O estudo realizado pelo professor Carlos Renato Tirapelli, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, mostrou que o álcool afeta a circulação sanguínea do corpo cavernoso, músculo do pênis que se dilata ou contrai conforme o órgão recebe estímulos. Para ficar ereto, os vasos sanguíneos no corpo cavernoso precisam estar dilatados, permitindo maior circulação de sangue. Porém, com o álcool presente no organismo, os vasos se contraem mais, o que reduz o fluxo sanguíneo e impede a ereção do pênis. Os resultados da pesquisa estão em artigo da European Journal of Pharmacology.

A relação entre o etanol e a disfunção erétil não é novidade, uma vez que já vem sendo descrita na literatura científica há bastante tempo. Pesquisadores da Universidade de Hong Kong descreveram os efeitos prejudiciais do álcool na ereção em 2007.

Entretanto, diz o professor, “essa é a primeira vez que um estudo foca nos mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção erétil desencadeada pelo consumo excessivo de álcool”.

A disfunção erétil é um problema muito comum entre os homens. Dentre os brasileiros, cerca de 16 milhões sofrem da condição, principalmente homens acima de 40 anos. Mas, independentemente da idade, fatores como estresse, depressão e baixa autoestima podem desencadear o problema de impotência sexual. E, ainda, a impotência sexual pode ser um indicador de doenças cardíacas no futuro. Já se sabe também que o consumo excessivo de álcool pode contribuir significativamente para a disfunção erétil. A pesquisa da USP ajuda a mostrar como isso ocorre.

Prejudica a vasodilatação

No estudo, o corpo cavernoso foi analisado in vitro (em células no laboratório) e em ratos. O professor Tirapelli conta que um grupo de cobaias recebeu, diariamente, uma solução com 20% de teor alcoólico, durante seis semanas. “Ao final desse período percebeu-se que o músculo do pênis se contraía mais que o normal, indicando que o consumo frequente de álcool prejudica a vasodilatação do órgão.”

O exagero nas bebidas alcoólicas prejudica a dilatação dos vasos sanguíneos do órgão que, por sua vez, pode resultar em disfunção erétil – Foto: Wikipédia

 

Segundo o professor Tirapelli, os resultados mostraram que o consumo regular de álcool desencadeia o estresse oxidativo no corpo cavernoso, provocando menor produção de óxido nítrico (NO), molécula presente no organismo que contribui para a vasodilatação. Assim, o pesquisador administrou um antioxidante em outro grupo de ratos tratados com a solução contendo álcool. “Esse grupo não sofreu os efeitos do estresse oxidativo e, com isso, não houve prejuízos na vasodilatação do pênis. Assim, é possível afirmar que o etanol pode ser considerado um fator que prejudica a vasodilatação do corpo cavernoso e predispõe o indivíduo a desenvolver disfunção erétil.”

Degradação dos neurônios

Fazendo analogia com os seres humanos, diz o professor, “dependendo da quantidade de álcool consumida numa festa, por exemplo, independentemente da bebida ser destilada ou não, o corpo cavernoso fica contraído até que o álcool seja eliminado da corrente sanguínea”. O professor ainda lembra que, devido ao consumo crônico de álcool, o indivíduo pode desenvolver a neuropatia, uma doença que causa a lesão e degradação dos neurônios. “Durante o estudo, o grupo de animais tratado apenas com a solução de álcool apresentou uma resposta menor aos estímulos neurais. Esse resultado aponta o prejuízo aos neurônios causado pelo consumo da solução de álcool.”

“O mais recomendável seria evitar as bebidas alcoólicas. O problema é que o álcool é uma droga lícita acessível a grande parte da população. E não é só isso, a população em geral acredita que os efeitos do álcool se limitam a algumas horas após seu consumo, o que não é verídico.”

Mais informações: e-mail crtirapelli@eerp.usp.br, com o professor Carlos Renato Tirapelli

FONTE: Jornal da USP

Doenças evitáveis são importantes causas de deficiência visual intratável

Estudos globais indicam que o número de pessoas com baixa visão funcional, caracterizada por uma deficiência visual intratável, está aumentando. Com o objetivo de traçar o perfil dos pacientes com a condição, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP avaliaram os prontuários médicos de pessoas atendidas no Centro de Reabilitação (CER) do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) entre 2009 e 2017.

“Como há poucos estudos epidemiológicos que nos dizem as causas de baixa visão funcional ou cegueira irreversível, principalmente em crianças, artigos como esse nos ajudam a ter um panorama das principais doenças na nossa região. Assim, podemos planejar ações de educação em saúde, diagnóstico, tratamento e reabilitação”, explica Manuela Molina Ferreira, médica oftalmologista, mestre pela FMRP e primeira autora do estudo Causes of functional low vision in a Brazilian rehabilitation service.

Os resultados do estudo em Ribeirão Preto mostraram que, entre as crianças, as três maiores causas de baixa visão funcional são: paralisia cerebral (alteração neurológica que afeta o desenvolvimento motor e cognitivo) em 27,9% dos casos, toxoplasmose ocular (doença causada por um protozoário) em 8,2%, e retinopatia da prematuridade (problema na vascularização da retina) em 7,8%. “Nas duas últimas situações é possível adotar medidas preventivas que podem diminuir o índice. Por exemplo, orientação sobre consumo de água e alimentos para casos de toxoplasmose e campanhas de educação direcionadas a gestantes sobre retinopatia da prematuridade, além do pré-natal adequado”, conta.

Já entre os adultos de meia-idade e idosos a retinopatia diabética, que é causada por um dano nos vasos sanguíneos da retina e está associada ao mau controle da glicemia, está presente em 18% dos casos e a degeneração macular relacionada à idade, que é uma lesão progressiva da mácula, em 25,3%. “A retinopatia é uma causa importante e os dados nos contam que muitos diabéticos não estão fazendo o controle adequado da glicemia”, explica João Marcello Furtado, professor da FMRP e coordenador do estudo.

Furtado conta que a degeneração macular relacionada à idade é a principal causa em idosos. “A doença possui um tratamento caro e não curativo. Por isso, com o aumento da expectativa de vida que deve ocorrer nas próximas décadas, o impacto da degeneração macular relacionada à idade deve ser ainda maior em um futuro próximo”, afirma.

A importância do resultado está em aumentar o conhecimento sobre as doenças que estão relacionadas à baixa visão funcional. “Se conseguimos evitar a cegueira, melhoramos a qualidade de vida das pessoas e aumentamos a chance desses indivíduos atingirem um maior nível de estudo e produtividade no trabalho. Isto gera um benefício direto para quem sofre a ação em saúde, mas também para seu entorno e a sociedade em geral”, conclui o professor Furtado.

A pesquisa

Os pesquisadores recuperaram e avaliaram os dados dos prontuários médicos físicos e digitais de pessoas atendidas no ambulatório de Reabilitação Visual do Centro de Reabilitação (CER) do HCFMRP entre 2009 e 2017. Entre as informações recuperadas estão a causa, o quanto enxergavam e quais foram os auxílios ópticos prescritos.

Para os estudos, foram incluídos 1.393 pacientes, que foram separados por três faixas etárias: de 0 a 14 anos, de 15 a 49 anos e com 50 anos ou mais. Sendo que os idosos representavam o número mais volumoso, com 38,8% dos pacientes, seguidos pelas crianças com 36,7%.

O estudo Causes of functional low vision in a Brazilian rehabilitation service foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, em fevereiro e conta com autoria de Manuela Ferreira, Furtado e da médica Rosalia Antunes Foschini, do HCFMRP.

Centro de Reabilitação

Criado em dezembro de 2007, o CER do HCFMRP é referência em reabilitação de alta complexidade para Ribeirão Preto e região. Os atendimentos são voltados para as áreas de Reabilitação Física, Visual, Auditiva, Intelectual, Ostomia e Múltiplas Deficiências, além da dispensação de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção e auxílios ópticos.

A equipe é composta de profissionais de diferentes formações, como: fisioterapeutas, médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, assistente social, psicólogos, fonoaudiólogos, educador físico, ortoptista, pedagoga e técnico ortopédico, além de Equipe Técnica e Equipe Administrativa.

Mais informações: manuelamf@hotmail.comfurtadojm@gmail.comantunesfoschini@gmail.com com os pesquisadores.

FONTE: Jornal da USP

24 de junho, Dia Mundial de Prevenção de Quedas

Hoje (24/06) é o Dia Mundial de Prevenção de Quedas e o assunto será discutido no Hospital Universitário (HU) da USP. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Maria Elisa Pimentel Piemonte, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina (FMUSP), informa que fraturas decorrentes de quedas são responsáveis por 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos.

Maria Elisa alerta que um indivíduo com fratura pode ficar acamado e, em função da imobilidade, passar a sofrer complicações renais e respiratórias que podem levar a óbito. Ela também informa sobre as consequências psicológicas acarretadas pela primeira queda: “Se é uma queda com injúria ou mesmo uma queda, por exemplo, num ambiente público, em que a pessoa se sinta muito constrangida, ela desencadeia o que se chama Síndrome do Medo de Cair. A pessoa começa a se autorrestringir por causa do medo de cair”.

Possíveis riscos

Segundo a professora, os riscos de queda são divididos conforme a funcionalidade do idoso. Os idosos saudáveis, normalmente, caem por problema ambientais, como irregularidades no piso e tapetes escorregadios. Mas também há outras condições, como fraqueza muscular, tontura, vertigem e uso de vários fármacos. “Sedativos, ansiolíticos e remédios para dormir, tudo isso aumenta o risco de queda. E a gente não pode esquecer também que, ao lado do declínio físico, há o declínio cognitivo”, reitera Maria Elisa. Ela completa: ”Por exemplo, a atenção está relacionada com o aumento de risco de queda, e um estudo mostra que testes cognitivos podem prever o risco até cinco anos antes da primeira queda”.

A especialista ainda fala sobre a influência do sexo nessa questão. De acordo com ela, mulheres caem mais que homens, devido às alterações hormonais da menopausa. Assim, pessoas do sexo feminino possuem um declínio mais abrupto no sistema motor.

Prevenção 

Ao contrário do senso comum, idosos com escadas em casa caem menos que aqueles que não as têm, pois as escadas auxiliam no exercício diário e no fortalecimento dos músculos nos idosos que as utilizam regularmente. Como a fraqueza muscular em função da idade afeta o equilíbrio e ocasiona quedas, exercícios físicos são uma forma de preveni-las.

A indicação da professora são exercícios variados, os quais combinam força, elasticidade, coordenação e equilíbrio. Ela reforça que as atividades precisam ser de longa duração: “Não é uma coisa para curto prazo. Não adianta esperar que você vai começar a fazer esse exercício e daqui um mês vai notar efeito. Tem que descobrir alguma coisa que você faça com prazer para que isso perdure bastante”.

No Dia Mundial de Prevenção de Quedas, às 9h, o anfiteatro do HU avaliará o risco de queda em pacientes de toda a comunidade. Serão dois testes motores rápidos para que qualquer pessoa possa identificar seu risco. Para saber mais, acesse www.hu.usp.br.

FONTE: Jornal da USP

Cientistas identificam genes associados à proliferação de tumores do câncer de pâncreas

Análises indicam genes ligados a características essenciais das células de tumores, como alta proliferação e capacidade de migração e invasão

No Instituto de Química (IQ) da USP, uma pesquisa identificou genes associados à proliferação de tumores do câncer de pâncreas, que apresenta grande resistência ao tratamento. Por meio de técnicas computacionais, os cientistas também conseguiram atribuir possíveis funções aos genes, como crescimento e migração das células de tumores, para serem confirmadas em experimentos de laboratório. Os resultados do trabalho ajudarão a definir novos alvos para a terapia do câncer, além de marcadores de doença residual ou reincidente em pacientes tratados. As conclusões do estudo são apresentadas em artigo publicado na revista científica Cellular Oncology no último dia 14 de maio.

“O câncer de pâncreas é a sétima causa de morte por câncer no Brasil e no mundo, e um dos mais letais: a sobrevida dos pacientes cinco anos após o diagnóstico é menor do que 5%. Atualmente o único tratamento curativo é a remoção cirúrgica em estágios iniciais da doença”, relata ao Jornal da USP o professor Eduardo Moraes Rego Reis, que coordenou o estudo. “Porém, o diagnóstico precoce é difícil devido à ausência de sintomas e, quando é detectado, frequentemente já se espalhou para outros locais do corpo. É ainda um câncer resistente às quimioterapias e imunoterapias.”

A pesquisa teve como objetivo gerar um catálogo com alta resolução dos genes ativos em tumores pancreáticos, com foco na identificação de RNAs não codificadores longos (IncRNAs, sigla em inglês para long noncoding RNAs). “As funções dos IncRNAs ainda são pouco conhecidas pelos cientistas, ao contrário, por exemplo, dos RNAs mensageiros, responsáveis pela síntese de proteínas que irão expressar as informações genéticas contidas no DNA”, explica o professor. “Identificamos genes de lncRNAs que desempenham um papel oncogênico, ou seja, contribuem para a célula tumoral manifestar características associadas à malignidade do tumor, como alta proliferação, capacidade de crescimento independente do substrato, migração e invasão”, explica o professor.

O estudo analisou o conjunto de genes expressos (transcriptoma) de 14 tumores pancreáticos e tecido pancreático não tumoral, a partir de amostras extraídas de pacientes. “Para isso, foi feito o isolamento de todos os RNAs, seguido da preparação de bibliotecas para o sequenciamento com alta capacidade”, descreve Reis. “Os dados obtidos no sequenciamento foram submetidos a análises bioinformáticas para reconstruir a sequência dos RNAs expressos no pâncreas e identificar lncRNAs com expressão aberrante nos tumores em relação ao tecido normal.”

Funções

“A partir do sequenciamento com alta resolução dos RNAs ativos em tumores e no tecido pancreático normal, identificamos ‘assinaturas’ de lncRNAs que geram expressão aberrante nos tumores, centenas deles inéditos, não descritos na literatura. Vários deles têm correlação com a sobrevida de pacientes e valor para fazer prognósticos da doença na clínica”, relata o professor. “A análise funcional de um conjunto de lncRNAs em linhagens celulares de tumor de pâncreas mostrou que o silenciamento destes RNAs reduziu características tumorais, como proliferação, migração e invasão, confirmando se tratarem de lncRNAs oncogênicos.”

Imagem mostra processo de identificação de genes de RNAs não codificadores longos (na sigla em inglês, IncRNAs) que desempenham um papel oncogênico, isto é, contribuem para a célula tumoral manifestar características associadas à malignidade do tumor, como alta proliferação, capacidade de crescimento independente do substrato, migração e invasão – Imagem: cedida pelo pesquisador

 

Usando uma abordagem computacional baseada em redes de coexpressão gênica, a pesquisa atribuiu função para diversos lncRNAs oncogênicos, indicando os prováveis processos biológicos onde atuam e que podem ser confirmados experimentalmente. “Validamos essa abordagem mostrando que um desses RNAs, o lncRNA UCA1, é necessário para o reparo de DNA em células tumorais expostas à radiação ionizante”, destaca Reis.

O estudo terá sequência com a investigação do efeito do silenciamento individual e combinado dos lncRNAs oncogênicos descritos no trabalho, usando agora modelos tumorais in vivo. “Para isso utilizaremos uma coleção de xenotumores já disponível em nosso laboratório, gerada a partir de tumores de pâncreas removidos de pacientes e implantados em camundongos imunossuprimidos”, aponta o professor. “Também pretendemos avaliar a presença dos lncRNAs em exossomos, vesículas secretadas pelas células tumorais, e em fluidos biológicos de pacientes com câncer de pâncreas ao longo do tratamento.”

“Esses experimentos serão importantes para avaliar o potencial dos lncRNAs como alvos terapêuticos ou como marcadores para a detecção de doença residual ou reincidente em pacientes com câncer de pâncreas submetidos a tratamento”, salienta Reis. “Dessa forma, além de avançar o conhecimento sobre a biologia desses RNAs, o trabalho também contribui com novos alvos moleculares para o diagnóstico e possíveis intervenções terapêuticas para o controle da doença.”

A pesquisa foi realizada no Departamento de Bioquímica do IQ, com a colaboração de uma equipe multidisciplinar com bioquímicos, biólogos moleculares e celulares, especialistas em bioinformática e médicos de diferentes unidades da USP, e o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As amostras clínicas analisadas no estudo foram obtidas no biobanco do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, que também contribuiu com a atuação de médicos da instituição.

Mais informações: e-mail emreis@iq.usp.br, com o professor Eduardo Moraes Rego Reis

Autor: Júlio Bernardes
Arte: Ana Júlia Maciel

FONTE: Jornal da USP

Fungo têm potencial para proteção solar e combate a larvas e parasitas

A descoberta gerou patente e é o passo inicial para que as substâncias extraídas do fungo “Penicillium echinulatum” sejam usadas na produção de cosméticos e medicamentos.

O fungo Penicillium echinulatum, isolado da alga Adenocystis utricularis, encontrada em locais de clima frio, como a Antártida, é o protagonista de uma pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. O estudo, realizado a partir do cultivo deste fungo em laboratório, levou à descoberta de substâncias que podem proteger a pele humana contra raios ultravioleta, além de matar parasitas, como o causador da leishmaniose e o da malária, além de larvas, como as do mosquito da dengue.

A pesquisa da farmacêutica Thaiz Rodrigues Teixeira buscava, em extratos de fungos, substâncias que demonstrassem ação fotoprotetora, mecanismo que evita danos provocados pela luz solar à pele humana, carro-chefe das pesquisas do grupo liderado pela professora Hosana Maria Debonsi, orientadora do estudo.

A escolha da alga Adenocystis utricularis para este estudo, diz Hosana, “está associada à alta incidência de radiação dos raios ultravioleta, UVA e UVB, no Continente Antártico”. A descoberta é o primeiro passo para que as substâncias encontradas no fungo Penicillium echinulatum sejam usadas na produção de cosméticos e medicamentos tanto de uso humano quanto veterinário.

Testes em peles artificiais

Para o estudo, foi necessário determinar quais dos vários fungos encontrados na alga possuíam maior potencial biológico. “Para isso realizamos experimentos piloto, cultivamos esses fungos separadamente, identificamos e estudamos os extratos de cada um, ou seja, avaliamos o perfil químico e o perfil biológico”, conta a professora.

Os resultados do piloto indicaram as substâncias produzidas pelo fungo Penicillium echinulatum com o melhor potencial para uso em cosméticos, na proteção contra os raios UVA e UVB, que não se decompõe com a luz ou que apresenta potencial tóxico.

Após esse estudo inicial, os pesquisadores fizeram os testes em pele artificial, reconstituída a partir de células humanas. Essa fase foi feita em colaboração com a professora Lorena Gaspar Cordeiro, também da FCFRP. “Nessa etapa, verifica-se se a substância possui efeitos tóxicos e irritantes na pele. Com base nos ensaios, o fungo pode ser cultivado em escala ampliada, servindo para obter mais substâncias para os próximos testes.”

O próximo passo, diz Hosana, foi o depósito de patente, para que as metodologias e aplicações das substâncias possam ser protegidas e, ainda, virem a ser objeto de outros estudos em parceria com empresas da área cosmética e dermatológica, inclusive, na realização de ensaios clínicos para comprovação da segurança e eficácia, conforme exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Desafios: pandemia e falta de biorreatores

A pandemia da covid-19 foi um obstáculo para o andamento da pesquisa, informa a professora, com muitos dos trabalhos interrompidos na faculdade. Mesmo assim, os testes avançaram e, agora, avalia Thaiz Rodrigues Teixeira, a equipe deve enfrentar sua maior dificuldade: o cultivo em larga escala no laboratório. É que para os testes clínicos serão necessárias quantidades muito maiores das substâncias extraídas do fungo.

Thaiz comenta que nem sempre essas substâncias podem ser obtidas através de síntese química por envolverem várias etapas, além de ser algo muito caro. Assim, uma alternativa é utilizar o processo biológico de crescimento do fungo, podendo ser reproduzido em laboratório. Porém, isso depende de biorreatores, equipamentos robustos e caros que “esbarram em outra dificuldade, que é o financiamento”.

O estudo Prospecção química, avaliação biológica e uso de redes moleculares como ferramenta na busca por substâncias bioativas de microrganismos marinhos foi desenvolvido no doutorado da farmacêutica Thaiz Rodrigues Teixeira, sob orientação da professora Hosana, e defendido no último mês de maio. Foi realizado em colaboração com professores da FCFRP da USP, do Instituto de Química da Unesp, em Araraquara, da Universidade de Brasília (UnB), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e de professores e pesquisadores internacionais, sendo que uma parte da tese foi realizada em um estágio-sanduíche no Instituto de Oceanografia da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, com supervisão do professor William Gerwick.

Mais informações: e-mails hosana@fcfrp.usp.br, com a professora Hosana, ou thaizrt@gmail.com, com a pesquisadora Thaiz.

FONTE: Jornal da USP

Cartilha orienta a mobilidade urbana de idosos

https://blog.50maissaude.com.br/wp-content/uploads/2022/06/CARTILHA-ORIENTATIVA-A-GESTORES-PUBLICOS_PROFa_KAREN-REGINA_EDITADA.mp3?_=1

A professora Karin Regina Marins comenta que a cartilha é voltada para gestores públicos municipais e está disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP 

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Karin Regina de Castro Marins, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica (Poli) da USP, destrincha os principais pontos por trás da criação da cartilha orientadora, que visa a um melhor deslocamento de idosos nas áreas urbanas.

A valorização da condição das pessoas enquanto pedestres é premissa para a sustentabilidade urbana e saúde das pessoas. Pensando nisso, o Portal de Livros Abertos da USP criou uma cartilha com orientações para a melhoria do deslocamento da população idosa nas cidades. A intenção é repensar o desenho urbano para essa população, que cada vez mais tem sido uma parcela representativa da população mundial.

A relação entre o deslocamento nos centros urbanos e a população idosa é explicada pela professora Karin, que diz ser um conceito envolvendo o preparo de um determinado local, em que se estabelecem as condições necessárias para caminhar e aproveitar o espaço enquanto pedestre. Para ela, essas condições na população idosa são algo extremamente fundamental, uma vez que tratam da autonomia e da qualidade de vida do idoso.

Por ser benéfica para essa parcela da população, a reformulação das áreas pensadas na caminhabilidade atenderia bem também outras faixas etárias, porque os cuidados que são feitos nesse espaço também beneficiam outros. Pensando nisso, a professora ressalta alguns atributos que podem ser feitos para tornar o ambiente mais acessível e seguro: “Para ter uma travessia segura, você tem que ter sinalização de vários tipos, agregados à própria iluminação pública”.

Desenvolvimento da cartilha

Para atender a essas demandas, a cartilha inclui o trabalho de duas mestrandas de Engenharia Civil e é pensada na melhoria em políticas públicas, voltada não somente para pesquisadores nesse campo, como para gestores e usuários das cidades. “Portanto, é uma cartilha que a gente teve um cuidado de tentar trazê-la de uma forma mais didática, com elementos que facilitem a sua apropriação em projetos e planos de políticas públicas”, comenta Karin.

Ao elucidarem as estratégias a serem utilizadas pela cartilha, os pesquisadores trouxeram recortes técnicos e instrumentos específicos. Esses elementos trazem para a realidade urbana mecanismos diretos para os pontos que precisam ser melhorados em diversas cidades, na intenção de aprimorar a mobilidade urbana e a caminhabilidade da população.

Texto: Redação
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Atraso no diagnóstico do TOC traz prejuízos para seu portador e para a família

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Conforme pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) da USP, pessoas com TOC, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, podem levar pelo menos quatro anos para receber tratamento. Mais de 500 pacientes foram avaliados em oito centros de pesquisa de diferentes regiões do Brasil, especializados no transtorno, e o estudo aponta que as pessoas demoram muito tempo para buscar ajuda.

O que é o TOC?

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Daniel Costa, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do HC (IPq), atesta que o TOC acomete ao menos 2% da população e se caracteriza pela presença de dois principais sintomas: as obsessões e as compulsões. As primeiras são preocupações, pensamentos e imagens desagradáveis que invadem a consciência do paciente e se repetem. Já as compulsões são comportamentos repetitivos realizados com o objetivo de aliviar o desconforto provocado pelas obsessões.

“[O TOC] está associado a algum tipo de prejuízo, de impacto. As pessoas acabam se atrasando frequentemente para compromissos e progridem com muita dificuldade nos estudos e na carreira profissional”, informa Costa. Ele também diz que há impactos nos relacionamentos com outros indivíduos.

Ele diz que os aspectos genéticos hereditários são bem definidos no TOC e a doença se agrega à família. Além disso, há um fenômeno chamado acomodação familiar, que é quando a família, que convive intimamente com o portador da doença, desenvolve mudanças de comportamento ou do ambiente de modo a evitar com que ele entre em contato com situações desagradáveis. “Quando a gente fala que é uma doença incapacitante e grave, a gente sabe que isso impacta não só a vida do portador, mas também a dos seus familiares e de pessoas próximas”, declara.

Um prejuízo associado ao TOC não tratado é o desenvolvimento de outros transtornos psiquiátricos, como a depressão e o Transtorno de Ansiedade Generalizada. Segundo Alice de Mathis, psicóloga e coordenadora do projeto de pesquisa no IPq sobre eficácia da Terapia Cognitivo Comportamental pela internet para tratamento do TOC, existem duas linhas de tratamento, a medicação e a terapia cognitiva comportamental, e é importante fazer uma avaliação para decidir o tipo de tratamento mais adequado para o paciente: “Se for um caso leve, só a terapia comportamental tem um bom resultado. Se o caso for de moderado a grave, aí seria interessante a associação tanto do remédio quanto da terapia”.

A doutora também fala sobre os gatilhos que as pessoas com a doença podem identificar: “Ela [pessoa com o transtorno] sabe que se vai em um lugar cheio de pessoas, ela vai ter mais preocupação, mais sintomas”. Alice cita o sintoma de evitação, o qual se dá quando o paciente evita ir a determinados locais pois sabe que, se ele for, alguns pensamentos podem ser desencadeados. Isso contribui para que ele fique recluso em casa e outras doenças psiquiátricas sejam desenvolvidas.

Diagnósticos e tratamentos

Alice afirma que, dependendo da gravidade dos sintomas da doença, ela passa despercebida pela família. Isso colabora para a demora na busca pela ajuda. Ela ainda diz que o transtorno começa na infância e na adolescência e, observados os sintomas pelos pais, o tratamento deve ser iniciado cedo.

Costa acrescenta a vergonha dos sintomas como um fator determinante para o atraso no diagnóstico: “A grande maioria dos pacientes reconhece os pensamentos como exagerados, absurdos, sem sentido”. “Eles falam ‘Eu sei que a possibilidade, por exemplo, de eu pegar uma doença se eu encostar nessa maçaneta é mínima, mas ainda assim eu não consigo evitar esse pensamento e não consigo evitar ter uma reação emocional desconfortável’”, completa.

Para finalizar, ele  chama a atenção aos projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos no IPq e para os quais portadores de TOC e seus irmãos estão sendo recrutados para participar. O e-mail do projeto é protoc.projeto@gmail.com, para os interessados em colaborar com os estudos. Alice também comunica sobre o projeto online de Terapia Cognitivo Comportamental, o qual recebe diagnósticos da doença pelo e-mail protoctcc@gmail.com.

Autor: Redação
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Sete horas de sono por noite é o ideal na meia-idade e durante o envelhecimento

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Estudos indicam que sete horas de sono por noite é uma média ideal na meia-idade e na velhice e pessoas que dormem por pouco tempo ou longos períodos podem apresentar piora no bem-estar geral e mais sintomas de ansiedade e depressão. Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar 1ª Edição entrevistou Andrea Toscanini, médica clínica do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e da equipe Laboratório do Sono do instituto.

Andrea atenta para o fato de que a privação do sono é mais estudada que o excesso dele e destaca que ambos os casos não são benéficos. “Dormir, por exemplo, nove horas ou mais, não tem um efeito benéfico”, complementa. Há correlação entre o sono e o desenvolvimento de doenças degenerativas, como o Alzheimer, e alterações metabólicas também acompanham a falta de sono. No entanto, é  importante salientar que, para o desenvolvimento dessas enfermidades, a prática de se dormir mais ou menos precisa ocorrer há muitos anos.

Influência cultural

Para ela, a prática de se dormir pouco possui influências culturais vinculadas à produtividade. Por isso, para a prática do bom sono, é necessário, nas palavras dela, “lavar nosso preconceito em relação a dormir bem”, para depois organizar o seu dia, reservando oito horas de sono e 30 minutos para o adormecimento, e finalmente nos acostumando a uma dinâmica mais saudável.

A importância do sono está no processo de limpeza dos metabólitos de reações químicas e produtos proteicos, que só acontece no momento de descanso. Essa limpeza ocorre na segunda fase do sono, quando nos encontramos em sono profundo.

A médica finaliza dizendo que um aliado na prática do bom sono é o profissional especialista, área relativamente nova, mas que foca em questões pontuais. Ela expõe ainda que há a necessidade da implementação do estudo do sono na base dos cursos de medicina, por essa ser uma questão permeante em outras áreas médicas, justamente porque distúrbios do sono são extremamente prevalentes, afetando mais da metade da população do Brasil e do mundo.

FONTE: Jornal da USP