Fake news sobre uso do flúor colocam em risco saúde bucal de brasileiros

“Justificativas para adição do flúor na água são válidas; é o método de menor custo per capita”. A avaliação é do professor Wilson Mestriner, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, contra o movimento antifluoretação das águas de abastecimento público que tem ganhado força no País. O movimento espalha fake news e preocupa autoridades sanitárias, principalmente, pela prevalência de doenças bucais relacionadas à desigualdade social.

Segundo Mestriner, “graças à fluoretação da água de abastecimento público, nós temos a redução do índice de cáries”, fato que só é “observado através do censo nacional, dos levantamentos epidemiológicos para avaliar a condição de saúde bucal da população brasileira”. E a desigualdade social, persistente no País, justifica a conduta de adicionar flúor à água da população já que, apesar das conquistas das últimas décadas, a quantidade de desdentados no País ainda é grande, como mostra a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A condição brasileira faz com que, baseados na ciência, especialistas da USP defendam os benefícios da lei federal (lei 6.050 de 24 de maio de 1974), enquanto as fake news engrossam o movimento antifluoretação no Brasil. Em publicação recente, pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, analisaram conteúdos de 297 sites e redes sociais e identificaram mais de 300 publicações falsas na área de odontologia com impactos na saúde da população.

O movimento é contra a utilização do íon flúor na água de consumo diário e também nos produtos odontológicos para prevenção da doença dentária cárie. Iniciado nos Estados Unidos, o movimento ganha força no Brasil através do compartilhamento de informações falsas pela internet e mídias sociais.

Utilizam “argumentos verdadeiros, como a possibilidade de neurotoxicidade do flúor, entretanto de forma descontextualizada, então não leva em consideração a concentração do flúor e que é utilizada em águas de abastecimento ou em produtos odontológicos”, comenta o professor Thiago Cruvinel, líder da equipe da FOB.

De adeptos naturalistas a profissionais da odontologia

Os resultados do estudo da FOB indicam que a chegada desse movimento no Brasil ocorre através de pessoas com conhecimento da língua inglesa que consomem esses conteúdos provenientes dos Estados Unidos. Esses indivíduos, segundo Cruvinel, disseminam através de suas mídias sociais e na internet os conteúdos que incentivam outras pessoas a se tornarem antifluoretos.

“O que nós temos percebido nas nossas pesquisas é que essas pessoas normalmente têm um estilo de vida ligado a hábitos naturalistas, como, por exemplo, a não utilização de produtos industrializados ou cosméticos que contêm produtos artificiais na sua composição”, destaca o professor sobre o perfil dos publicadores de fake news na odontologia. Como se trata de um comportamento de risco que parte de pessoas com práticas adequadas de saúde, as falsas notícias se tornam “um problema, porque a partir disso surgem outras formas de pensar a odontologia e outras formas de combater doenças bucais que não são pautadas em evidências científicas”, analisa Cruvinel.

E as justificativas utilizadas pelas pessoas que participam desses movimentos são diversas. “Dentre elas, podemos observar justificativas relacionadas à toxicidade do flúor e também baseando-se em teorias da conspiração, como, por exemplo, uma política adotada por Hitler durante o nazismo ou ainda uma política que é utilizada por governos para controlar as mentes das pessoas. Existem também teorias ligadas à espiritualidade, como a calcificação da glândula pineal, que levaria à impossibilidade de conexão com Deus, com o criador”, diz o professor.

Nem os profissionais da área de odontologia ficam de fora. “É importante salientar que esse movimento não ocorre somente entre leigos, existem também profissionais hoje que acreditam nessa questão da necessidade de não utilização do flúor por sua toxicidade”, conta Cruvinel, afirmando que se trata de adeptos de uma pseudociência chamada “odontologia biológica”.

Fluoretação da água 

A adição mundial do flúor na água de abastecimento público começou na primeira metade do século 20, quando o dentista norte-americano Frederick McKay comprovou a atividade do íon flúor, na concentração ideal e segura, na prevenção da doença cárie. No Brasil, estudos similares apareceram na segunda metade do século 20. “O primeiro estudo desenvolvido, um estudo também de caráter epidemiológico, foi no Baixo Guandu, no Espírito Santo, em 1953, através da concentração regular do íon flúor na água de abastecimento público. Nós conseguimos a redução em torno de 60% da atividade da doença cárie”, conta Mestriner.

 

Uso de fluoretos nas águas auxilia na prevenção da cárie dentária – Foto: Edson Lopes Jr/A2 fotografias via Fotos Públicas

 

A fluoretação da água de abastecimento público em todo o País começou a partir de lei federal em 1974 que, adianta o professor Mestriner, indica a concentração ideal do íon flúor: deve estar no intervalo de 0,60 a 0,80 miligramas por litro ou partes por milhão (ppm) em função da temperatura. O controle desses níveis, continua o professor, é realizado simultaneamente pelos serviços de saneamento municipais, órgãos cadastrados e laboratórios credenciados no acompanhamento periódico.

Fake news na saúde

As fake news estão presentes nas mais diversas áreas, porém quando ligadas à saúde podem causar danos irreparáveis. Elas geralmente circulam nas mídias sociais e na internet com o intuito de atingir um grande número de pessoas.

Essas desinformações utilizam diversas técnicas para atrair e manipular o usuário como distorcer informações verdadeiras e apresentá-las junto com inverdades, explica o especialista no estudo das fake news João Henrique Júnior, do Instituto de Estudos Avançados da USP em Ribeirão Preto.

“Utilizam também teorias da conspiração ajustadas à narrativa em questão, produzindo mensagens com forte apelo emocional tentando provocar sentimentos como medo e ódio. Aproveitam-se, ainda, das brechas das empresas de tecnologia, que priorizam o lucro em vez da qualidade, para disseminar esse conteúdo de modo orquestrado, coordenado e em larga escala. Esse movimento contínuo, quando não é enfrentado e moderado efetivamente, consegue ao longo do tempo conquistar novos adeptos e radicalizar os mais antigos”, comenta Henrique Júnior.

Para o especialista, “essas campanhas de desinformação podem, no curto e no médio prazo, levar o indivíduo a utilizar produtos ou tratamentos nocivos à sua saúde, colocando até mesmo sua vida em risco. Já no longo prazo, as informações falsas podem abalar a confiança do usuário gerando descrédito em relação às fontes confiáveis como a imprensa profissional, centros de pesquisa e órgãos de governo, podendo prejudicar inclusive políticas públicas de saúde”.

Varíola dos macacos: entenda a transmissão, os sintomas e a vacina

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, há seis dias, a varíola dos macacos como emergência de saúde pública de interesse internacional. Conhecida internacionalmente como monkeypox, a doença, endêmica em regiões da África, já atingiu neste ano 20.637 pessoas em 77 países.

No Brasil, são 978 casos, sendo 744 apenas em São Paulo. Considerando a importância da informação para combater o avanço do surto, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou, nesta quinta-feira (28), um encontro onde especialistas apresentaram o que já se sabe sobre a doença e também responderam dúvidas de participantes presenciais e online.

“Esse vírus nós conhecemos e sabemos como lidar com ele. Temos todos os elementos para fazer sua erradicação”, disse o médico Amilcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ e consultor do Ministério da Saúde.

Segundo ele, como já existem muitos estudos sobre a monkeypox, é uma situação diferente da covid-19, que surgiu como uma doença nova. No entanto, o pesquisador alerta que o sucesso no combate ao surto dependerá do compromisso do poder público.

monkeypox é causada por um poxvírus do subgrupo orthopoxvírus, assim como ocorre por outras doenças como a cowpox e a varíola humana, erradicada em 1980 com o auxílio da vacinação. O quadro endêmico no continente africano se deve a duas cepas distintas.

Uma delas, considerada mais perigosa por ter uma taxa de letalidade de até 10%, está presente na região da Bacia do Congo. A outra, com uma taxa de letalidade de 1% a 3%, encontra-se na África Ocidental e é a que deu origem ao surto atual.

No entanto, segundo o médico, o vírus em circulação sofreu um rearranjo gênico que contribuiu para sua capacidade de transmissão pelo mundo. “Ele teve uma evolução disruptiva, sofreu uma mutação drástica”, afirmou. O pesquisador afirmou que casos graves não são recorrentes. A preocupação maior abrange os grupos de risco que incluem imunossuprimidos, crianças acima de 13 kg e gestantes.

“A taxa de letalidade tem relação com o sistema de saúde local. No surto atual, até o momento, não tivemos óbitos fora das áreas endêmicas. Isso mostra que o vírus da monkeypox é de baixa letalidade”, salientou a virologista Clarissa Damaso, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da UFRJ e assessora da OMS.

Transmissão e sintomas

A varíola dos macacos foi descrita pela primeira vez em humanos em 1958. Na época, também se observava o acometimento de macacos, que morriam. Vem daí o nome da doença. No entanto, no ciclo de transmissão, eles são vítimas como os humanos. Na natureza, roedores silvestres representam o reservatório animal do vírus.

“Não há reservatórios descritos em locais fora da África. Uma das maiores preocupações no surto atual é impedir o vírus de encontrar um reservatório em outros países. Se isso acontece, é muito mais difícil a contenção”, explicou Clarissa.

Sem um reservatório animal, a transmissão no mundo vem ocorrendo de pessoa para pessoa. A infecção surge a partir das feridas, fluidos corporais e gotículas do doente. Isso pode ocorrer mediante contato próximo e prolongado sem proteção respiratória, contato com objetos contaminados ou contato com a pele, inclusive sexual.

O tempo de incubação do vírus varia de cinco a 21 dias. O sintoma mais característico é a formação de erupções e nódulos dolorosos na pele. Também podem ocorrer febre, calafrios, dores de cabeça, dores musculares e fraqueza.

“As lesões são profundas, bem definidas na borda e há uma progressão: começa como uma mancha vermelha que chamamos de mácula, se eleva tornando-se uma pápula, vira uma bolha ou vesícula e, por fim, se rompe configurando um crosta”, explicou o infectologista Rafael Galliez, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ.

Pelo protocolo da OMS, devem ser considerados suspeitos os casos em que o paciente tiver ao menos uma lesão na pele em qualquer parte de corpo e se enquadrar em um desses requisitos nos últimos 21 dias: histórico de viagem a país com casos confirmados, contato com viajantes que estiveram nesses país ou contato íntimo com desconhecidos.

Diagnóstico e tratamento

O Laboratório Molecular de Virologia da UFRJ se firmou como um dos polos nacionais para diagnóstico da doença. O primeiro caso no estado do Rio de Janeiro foi detectado em 14 de junho, cinco dias depois da primeira ocorrência no país ser confirmada em São Paulo. De lá pra cá, já são 117 resultados positivos no estado do Rio. Outros estados também têm enviado  amostras para análise na UFRJ.

Essas análises são realizadas em fluidos coletados diretamente das lesões na pele, usando um swab [cotonete estéril] seco. Existe a expectativa de que a população tenha, em breve, acesso a testes rápidos de detecção de antígenos, similar aos que foram feitos para a covid-19.

Mesmo nos quadros mais característicos, o exame é importante para confirmar análise clínica. Um desafio para a detecção da doença é a semelhança de suas lesões com as provocadas pela varicela, doença popularmente conhecida como catapora e causada por um vírus de outro grupo. A mudança de perfil dos sintomas também tem levantado um alerta de especialistas. Na varíola dos macacos, as erupções costumavam surgir mais ou menos juntas e evoluíam no mesmo ritmo.

“Começamos a ver casos com lesões únicas, às vezes na região genital ou anal, às vezes no lábio, às vezes na mão. E também vemos lesões que aparecem em momentos diferentes, de forma mais parecida com a catapora. Esse padrão é diferente do que se estudava sobre monkeypox“, disse o infectologista Rafael.

Uma vez detectada a doença, o tratamento se baseia em suporte clínico e medicação para alívio da dor e da febre. Um antiviral chamado tecovirimat, que bloqueia a disseminação do vírus, já é usado em alguns países, mas ainda não está disponível no Brasil.

Segundo o médico, 10% dos pacientes têm sido internados para o controle da dor, geralmente quando há lesões no ânus, nas partes genitais ou nas mucosas orais, dificultando a deglutição.

Prevenção e vacinas

A vigilância para a rápida identificação de novos casos e o isolamento dos infectados são fundamentais para se evitar a disseminação da doença. Pode ser necessário o período de até 40 dias para a retomada das atividades sociais. Mesmo que o paciente se sinta melhor, deve se manter em isolamento enquanto ainda tiver erupções na pele. “Na catapora, a lesão com crosta já não transmite o vírus. Na varíola dos macacos, essa lesão transmite”, acentuou Rafael.

O infectologista alertou para a importância de se evitar contato com as pessoas que integram os grupos de risco. Segundo ele, embora existam poucos estudos de casos envolvendo gestantes, os resultados não são bons. “Há uma letalidade pediátrica alta. Existe o que a gente chama de transmissão vertical, isto é, o acometimento do feto com danos graves: perda das estruturas da placenta e abortos espontâneos. Com o pouco que se sabe, é considerada uma doença obstétrica grave. Suspeitos de estarem contaminados devem ser orientados a evitar contato com qualquer pessoa que possa estar grávida”, alertou.

Os especialistas da UFRJ também observaram que o uso de preservativo não previne a infecção, já que o intenso contato e a troca de fluidos corporais durante o ato sexual oferece diversas oportunidades para a transmissão do vírus. Por outro lado, há indícios de que as pessoas vacinadas contra a varíola humana tenham proteção contra a monkeypox.

Também sabe-se que sistema imunológico desenvolve proteção cruzada contra os diferentes orthopoxvírus. Isso significa que quem já foi contaminado com a varíola humana ou com a vaccinia, por exemplo, e possivelmente possui imunidade para a varíola dos macacos. Foi com base nesse conhecimento que se criou a vacina antivariólica. Embora voltado para combater a varíola que acometia exclusivamente humanos e possuía uma alta taxa de letalidade entre 30% e 40%, o imunizante foi desenvolvido a partir do vírus da vaccinia, doença que costuma infectar o gado leiteiro e os ordenhadores.

Com a erradicação da varíola, a vacinação foi suspensa em todo o mundo por volta de 1980. No Brasil, campanhas mais robustas ocorreram até 1975, mas até 1979 o imunizante era aplicado nos postos de saúde. Os indícios apontam que quem nasceu antes dessa data e foi vacinado está protegido contra a monkeypox. A média de idade dos contaminados está abaixo dos 38 anos.

Embora já existam vacinas para ajudar no combate ao surto da varíola dos macacos, não há previsão quanto a uma campanha para imunização em massa.

A OMS orienta que se garanta a proteção de profissionais de saúde e pesquisadores laboratoriais. Para os demais grupos populacionais, a imunização deve ser após a exposição. Segundo a virologista Clarissa, trata-se de usar a estratégia de vacinação em anel: são vacinadas pessoas que vivem e que tiveram contato com um paciente positivo na tentativa de bloquear a disseminação do vírus. “Essa vacina funciona muito bem até quatro dias pós-infecção”, observou.

Clarissa acrescenta que não há, neste momento, vacina para todos e a produção mundial vai levar tempo. “Os fabricantes não tinham previsão de produção para uma doença que afetasse o mundo todo. A produção era exclusivamente para estoque estratégico de países que têm programas de biodefesa. O Brasil, como várias outras nações, não tem isso”, explicou. Segundo Rafael, estudos já mostraram a eficácia da estratégia de vacinação em anel em determinados cenários de surto.

Perfil dos infectados

Homens com menos de 40 anos representam a grande maioria dos infectados. Estudos no Reino Unido constataram que muitas vítimas se declaram homossexuais ou bissexuais. Os especialistas, no entanto, alertam que a varíola dos macacos pode acometer qualquer pessoa e não apenas aquelas do sexo masculino com vida sexual ativa. Mulheres e adolescentes já foram diagnosticados com a doença pelo Laboratório Molecular de Virologia da UFRJ.

O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, aconselhou esta semana que homens que fazem sexo com homens reduzam, neste momento, o número de parceiros sexuais. Ao mesmo tempo, alertou que “estigma e discriminação podem ser tão perigosos quanto qualquer vírus e podem alimentar o surto”.

Segundo o médico Amilcar Tanuri, a desinformação pode deixar a sociedade despreparada para lidar com o surto. “Isso nos remonta à história da AIDS e do HIV. No começo, ficou um estigma que só atrapalhou a prevenção da doença. Isso ocorre porque quando o vírus entra por um grupo inicial leva um tempo até se disseminar para outros grupos. Com o HIV começou assim. Depois se percebeu que os hemofílicos estavam com HIV, que as crianças nasciam com HIV. Não existe nenhuma evidência biológica de que o vírus da varíola dos macacos seja específico para um sexo. Aliás, não sei que vírus tem essa especificidade”, disse.

Por Léo Rodrigues – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil

Palhaços que atuam em hospitais ajudam na recuperação

Artigo publicado no The British Medical Journal mostra que a interação com palhaços durante a internação ajuda a amenizar os sintomas de doenças crônicas e agudas em crianças e adolescentes

Durante o processo de hospitalização de um paciente pediátrico, muitos sintomas psicológicos podem afetar o processo de recuperação, entre eles a ansiedade. Um estudo pioneiro, realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, avaliou a eficácia da presença dos palhaços na melhora de crianças hospitalizadas, tanto por doenças crônicas, quanto agudas. A medida não farmacológica se mostrou eficiente em reduzir o conjunto de sintomas apresentados durante a hospitalização e  positivo para a recuperação dos pacientes.

O artigo Efectiveness of hospital clowns for symptom management in paediatrics: systematic review of randomised and non-randomised controlled trials foi publicado no influente periódico inglês The British Medical Journal e seus resultados têm sido observados no mundo todo. A publicação faz parte da tese de doutorado do pesquisador Luís Carlos Lopes Júnior, defendida em 2017.

O trabalho teve orientação da professora Regina Aparecida Garcia de Lima e contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“A pesquisa buscou identificar medidas não farmacológicas para qualificar o cuidado em saúde”, diz ao Jornal da USP a professora Regina Aparecida Garcia. Durante a hospitalização de  pacientes pediátricos há um contexto de ruptura do convívio social e todas as questões fisiológicas e patológicas que estão ligadas ao processo, ressaltam os pesquisadores. Nesse contexto, os palhaços auxiliam no processo de recuperação das crianças, tornando-o mais ameno, tanto para os próprios pacientes quanto para os pais e a equipe médica.

“Essas questões humanas são importantes como forma de qualificar o cuidado”, explica  Luis Carlos. Até então, as revisões sobre a eficiência da intervenção dos palhaços eram focadas na análise de estudos sobre as condições agudas — doenças com o curso acelerado — que levavam o paciente a ser internado. A análise tanto das condições agudas, como crônicas — condições de saúde de curso mais ou menos longo ou permanente que exigem respostas e ações contínuas — é um dos diferenciais que o artigo traz.

O estudo traz uma revisão sistemática da literatura sobre os palhaços que se apresentam em hospitais como medida não farmacológica para auxiliar no tratamento de crianças e adolescentes. No total, foram analisados 24 estudos sobre o tema, sendo 13 ensaios clínicos randomizados e 11 estudos experimentais não randomizados.

Efeitos positivos nos pacientes

Os resultados indicaram que a interação com os palhaços — tanto em procedimentos médicos, cirurgias, como em internações em decorrência de condições crônicas — ajuda no manejo de sintomas, durante a hospitalização. A presença dos palhaços foi benéfica para controlar sintomas em relação ao grupo controle, que não estava recebendo nada além do tratamento convencional dos hospitais. O estudo ratifica que palhaços melhoram o bem-estar psicológico e as respostas emocionais das crianças e adolescentes tanto para condições agudas quanto para condições crônicas.

Crianças com doenças crônicas têm contato frequente com o hospital, por isso ele precisa ser um ambiente que ajude a desenvolver o paciente, ressaltam os pesquisadores. “Há uma série de medidas que podem ser aplicadas nos hospitais para que este não seja só um lugar de dor e sofrimento, mas um local que promove o desenvolvimento das pessoas”, destaca Regina.

Resultados com palhaços

Para a revisão, os pesquisadores decidiram analisar estudos que haviam sido realizados sobre palhaços que atuam em hospital. Para a escolha de material foram incluídas as principais bases de dados na área:  PsycInfo, Medline, Cochrane Library, Medline, ISI of Knowledge, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Science Direct, Scopus, American, Cumulative Index to Nursing e Allied Health Literature, and Latin American and Caribbean Health Sciences Literature.

“Nós excluímos todos os estudos que, em uma hierarquia de evidências, foram mal classificados e colocamos os de classificação mais alta”, informa Luís. Além disso, os pesquisadores fizeram uma seleção metódica de palavras-chave para encontrar os melhores resultados nos buscadores. Em cada base de dados foram considerados estudos controlados, sinônimos e combinações. Cada base tem uma especificidade grande porque a forma de domínio é distinta em cada uma.

Na busca, os cientistas encontraram 136 estudos sobre o tema e então os critérios de inclusão e exclusão foram aplicados. “Os artigos precisavam atender a alguns critérios de inclusão como abordar crianças e adolescentes que foram admitidos no hospital tanto por condição aguda ou crônica”, elucida Luís. Foram removidas 91 pesquisas, 85 delas não se relacionavam com o tema da análise e seis não estavam dentro dos delineamentos estabelecidos. Restaram 31 estudos que foram lidos, na íntegra, pelos pesquisadores e sete deles foram excluídos. Assim, 24 estudos entraram para a revisão sistemática, com uma população total de 1.612 crianças e adolescentes. Ansiedade foi o sintoma mais estudado, sendo o foco de 13 pesquisas, seguida de dor, descrita em nove.

O artigo se destaca por uma série de motivos, um deles é que analisa o conjunto de sintomas dos pacientes ao invés de focar em apenas um deles. Outro ponto de destaque é a metodologia de prevenção sobre risco de viés nos estudos analisados. Para cada um dos delineamentos escolhidos — estudos randomizados e não randomizados — uma ferramenta diferente de análise de viés foi utilizada.

Para os randomizados, os pesquisadores utilizaram a ferramenta Risk of Bias 2 (RoB 2) e para os não randomizados, a Risk of Bias Tool to Assess Non-randomized Studies (ROBINS-I). “Esse foi um ponto elogiado no nosso trabalho, pois as outras revisões utilizaram a mesma ferramenta para as duas categorias”, conta Luís. O estudo também foi revisado por dois revisores independentes.

Mais informações:
e-mail: lopesjr.lc@gmail.com,
Luís Carlos Lopes Júnior

Por Beatriz Azevedo

FONTE: Jornal da USP

Hipertensão: casados têm mais chances de controlar pressão do que solteiros

O estado civil pode interferir no índice de controle da pressão arterial das pessoas, sugere pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP. Segundo o estudo, realizado com dados de 253 pacientes atendidos em um ambulatório de alta complexidade do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), mulheres e homens casados ou aqueles que vivem em união estável têm 2,3 vezes mais chances de controlar a hipertensão do que os solteiros, viúvos e divorciados. A pesquisa recebeu prêmio no 27º Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão como melhor trabalho da área multidisciplinar.

O grupo estudado era composto de homens (39,3%) e mulheres (61,7%) acima de 18 anos (média de 60 anos). A maioria era casada (52,8%) e com ensino médio completo (44,3%). Foram coletadas informações biossociais (características sociais, como renda, raça, idade, etc.), etilismo (consumo de álcool), tabagismo, atividade física, morbidades, medicamentos em uso e avaliação de adesão ao tratamento pela escala terapêutica de Morisky (perguntas feitas aos pacientes, cujas respostas permitem saber se são aderentes ou não a um tratamento).

Além de mostrar que homens e mulheres casados ou que viviam em união estável tinham mais chances de controlar a pressão arterial, o estudo também observou que 69,2% dos hipertensos estavam com a pressão arterial controlada e 90% informaram fazer tratamento medicamentoso. Esses achados chamaram a atenção dos pesquisadores, principalmente a taxa de controle dos hipertensos, semelhante à de países desenvolvidos. Mas Mayra ressalta que essa não é a realidade do restante do País, pois o controle da pressão tem sido um grande desafio.

Polifarmácia

O estudo mostrou também que o uso de muitos medicamentos interferia no índice de controle da pressão arterial. Quanto maior o número de medicamentos em uso (polifarmácia), menor era a chance de controle. A cada fármaco prescrito ao tratamento, a chance de controle diminuía em 21,3%.

Segundo a pesquisadora, na literatura médica, o uso de cinco ou mais medicamentos já é considerado polifarmácia. O fenômeno está associado ao aumento do risco e da gravidade das reações adversas ligadas a interações medicamentosas e à redução de adesão ao tratamento. Os hipertensos da pesquisa apresentavam outras doenças como diabete e dislipidemia (níveis aumentados de gordura no sangue), que também requerem tratamento medicamentoso, o que justificaria o elevado número de fármacos.

O uso de um grupo de medicamentos utilizado para tratamento de hipertensão (bloqueadores de canal de cálcio) influenciou no controle. Os hipertensos que faziam uso desses fármacos apresentaram 55,9% menos chances de controlar a pressão arterial.

Segundo a pesquisadora, “essa associação negativa do bloqueador do canal de cálcio com o controle da pressão é difícil de ser analisada pois são anti-hipertensivos eficazes: reduzem a morbimortalidade cardiovascular, possuem boa tolerabilidade e proporcionam segurança no tratamento da hipertensão arterial. Diversos fatores podem ter influenciado nesse resultado, tais como a complexidade da condição dos hipertensos e, consequentemente, dificuldade de controle da pressão”, diz a pesquisadora ao Jornal da USP. Morbimortalidade cardiovascular é um conceito que se refere ao índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica dentro de determinado grupo populacional.

Hipertensão

No Brasil, a hipertensão arterial atinge cerca de 31% dos adultos e 60% dos idosos. É a principal causa de morbimortalidade cardiovascular e o controle da pressão arterial é a forma mais eficaz de evitar complicações.

Segundo a pesquisadora, a meta de controle não é uma tarefa fácil de ser atingida por falta de implementação de estratégias populacionais. Ter uma fonte usual de cuidados, otimizar a adesão ao tratamento e minimizar a inércia terapêutica (garantir que a dose e os números de medicamentos estejam corretos para cada indivíduo) estão associados a maiores taxas de controle.

Uma parceria entre paciente, profissionais de saúde e sistema de saúde incorpora uma abordagem multinível para o controle da hipertensão e pode trazer resultados mais satisfatórios, diz Mayra.

A dissertação de mestrado Controle da hipertensão arterial em um ambulatório especializado de alta complexidade foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem (EE) da USP. Um artigo será enviado para publicação na revista International Journal of Clinical Practice.

Mais informações: e-mail mayraguimaraes@usp.br, com Mayra Cristina da Luz Pádua Guimarães, ou e-mail pierin@usp.br, com Ângela Maria Geraldo Pierint

Por Ivanir Ferreira

FONTE: Jornal da USP

Novo piso salarial do profissional de enfermagem necessita de formação

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A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Piso da Enfermagem, que define o piso salarial nacional para a categoria, foi aprovada na Câmara dos Deputados e segue para promulgação. Contratados em Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), os enfermeiros terão o piso de R$ 4.750, técnicos de enfermagem contarão com R$ 3.325 e auxiliares de enfermagem e parteiras, com R$ 2.375. A categoria recebeu mais atenção pela atuação no combate à pandemia, mas a demanda já é de mais de 20 anos.

“É uma luta do Conselho Federal de Enfermagem e dos conselhos regionais de enfermagem, que se aliaram a algumas lideranças políticas que reconheceram […] a importância dos profissionais de enfermagem na linha de frente da pandemia”, afirma Pedro Fredemir Palha, professor do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, da qual também é diretor, ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.

Os trabalhadores da enfermagem representam 60% da força de trabalho nos sistemas públicos, filantrópicos e privados de saúde, de acordo com o professor. “Os enfermeiros, os técnicos de enfermagem e os auxiliares de enfermagem são os profissionais que mais adoeceram e morreram pela covid”, lembra Palha. Também são eles “que permitem que os serviços de saúde se mantenham ativos e abertos para a população em geral”. Antes da pandemia, a categoria “não tinha essa visibilidade para a população”.

Outras condições de trabalho

A valorização dos profissionais também passa pela qualificação do ensino da maioria das escolas em enfermagem e de ensino técnico profissionalizante no Brasil. “Embora se tenha o Ministério da Educação como órgão regulador, nem sempre a qualidade da regulação desses cursos é adequada”, avisa Palha.

Outra questão necessária é uma política de formação permanente dos enfermeiros, “para que a tomada de decisão dos profissionais de enfermagem, nas diferentes atividades assistenciais e gerenciais em que eles atuam, possa ser por meio de evidências científicas”.

FONTE: Jornal da USP

Hospital de diagnóstico de câncer ganha espaço humanizado

O Hospital Municipal Jesus (HMJ), especializado em atendimentos pediátricos e referência para o diagnóstico de câncer infantil na rede pública do Rio de Janeiro, inaugurou hoje (22) duas novas salas de exames humanizadas. Com elas, é concluído o projeto de humanização do setor de radiologia daquela unidade, que faz cerca de 50 mil consultas por ano.

O projeto tem a assinatura do artista e arquiteto brasileiro Gringo Cardia e foi viabilizado pelo Instituto Desiderata, organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), em parceria com a Chevron Brasil. Os atendimentos no novo espaço serão iniciados ainda este mês.

O secretário municipal de Saúde, Rodrigo Prado, destacou, em entrevista à Agência Brasil, que o ambiente humanizado ajuda a tranquilizar as crianças na hora dos exames. “E até reduz a necessidade de alguns exames das crianças”, disse. Ele considerou fundamental a realização de exames o mais cedo possível “para ter o diagnóstico mais precoce”.

Acrescentou que, ao entrar em um ambiente humanizado e lúdico, “com certeza as crianças vão se sentir bem fazendo exames e aceitando melhor o tratamento”.

O arquiteto Gringo Cardia transformou o setor de exames do HMJ em um ambiente lúdico e agradável, inspirado no fundo do mar. Esse ambiente humanizado permite que exames demorados e que, muitas vezes, exigem procedimentos invasivos, sejam feitos de maneira mais tranquila para acalmar os pacientes.

O setor recebeu também um aparelho telecomandado, doado ao hospital pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O equipamento permite a realização de estudos contrastados de maneira dinâmica, em tempo real, possibilitando a aquisição da imagem da escopia, muitas vezes submetendo a criança a uma exposição à radiação menor que a de uma radiografia convencional.

O HMJ é o único hospital da rede pública municipal a realizar exames contrastados e é referência no atendimento pediátrico, atendendo pacientes de zero a 18 anos.

Águas Vivas e Robôs

Por realizar procedimentos mais demorados e complexos que as demais salas, a nova Sala do Telecomando foi transformada em um universo carregado de luz e movimento, chamado Jardim das Águas Vivas.

Já a Sala de Raios X virou a Sala dos Robôs Abissais. Ali, os equipamentos são representados por robôs subaquáticos, seguindo uma proposta estética similar à da Sala dos Robôs Submarinos, inaugurada em 2020, no mesmo setor. Os equipamentos do hospital fazem um trabalho similar ao dos robôs subaquáticos, que é explorar e diagnosticar o paciente.

A diretora executiva do Instituto Desiderata, Renata Couto, informou que o projeto de humanização de espaço oncológico, tanto de diagnóstico como de tratamento, começou em 2012, no HMJ. Mas, desde 2007, já foram entregues espaços humanizados em mais quatro hospitais públicos do Rio de Janeiro. O 1º Aquário Carioca, sala de quimioterapia pediátrica, por exemplo, foi inaugurado no Hospital Federal dos Servidores do Estado, em 2007.

“A gente faz esse projeto porque tem muita confiança nessa metodologia, porque é um momento muito delicado para as crianças, as famílias e os cuidadores, pela descoberta de um câncer em fase infantil”, explicou.

Para ela, o câncer infanto juvenil tem 80% de chance de cura, embora seja mais agressivo do que o câncer em adultos porque evolui muito rapidamente. “Todo o trabalho do Desiderata é para garantir o diagnóstico precoce. O instituto é uma articulação em rede de vários serviços especializados, gestores de saúde e outras organizações civis para garantir o diagnóstico e o tratamento intenso. Porque o câncer infantil não pode esperar”, especificou.

Ansiedade

Nos outros espaços que o instituto já tem humanizado, a situação de ansiedade é minimizada. “As crianças se sentem menos ansiosas, com menos medo, têm menos dor. Já há registro, inclusive, do uso de menos anestésicos nesses locais porque, às vezes, só o diagnóstico pode ser um pouco invasivo, tem que colocar um cateter. Essas situações são necessárias, mas elas podem ser amenizadas”, disse Renata.

Segundo a diretora executiva do instituto, os pais e cuidadores relatam também que o espaço humanizado facilita o engajamento das crianças no tratamento, porque elas se sentem mais estimuladas a ir e a frequentar os locais. Do mesmo modo, os profissionais de saúde ficam mais motivados nesses ambientes de trabalho. “A gente só vê resultados positivos e acredita que a saúde deve ser mais acolhedora. Com o público infantil, a gente tem que ter mais cuidado”, observou.

A humanização realizada no HMJ teve aporte de cerca de R$ 400 mil do Instituto Desiderata e Chevron Brasil. Inaugurado em 1935 e localizado em Vila Isabel, zona norte do Rio, o Hospital Municipal Jesus faz parte da estratégia de diagnóstico precoce do câncer infantil “Unidos pela Cura”.

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil

Síndrome metabólica: restrição de proteínas ajuda a controlar diabete e reduzir obesidade

Durante 27 dias, pesquisadores da USP, da Unicamp, do Instituto Nacional do Câncer e da Universidade de Copenhague acompanharam 21 pessoas com síndrome metabólica que receberam dietas com restrição proteica e com restrição calórica.

Estabelecer uma dieta adequada faz parte do tratamento de pessoas com síndrome metabólica: um conjunto de fatores de risco, como hipertensão, nível elevado de açúcar no sangue, excesso de gordura corporal em torno da cintura e colesterol alto, que podem levar ao desenvolvimento de diabete e de doenças cardíacas. Em busca de novas estratégias alimentares para esse grupo, pesquisadores brasileiros e dinamarqueses compararam os efeitos entre a dieta de restrição proteica e a dieta de restrição calórica. “Os resultados do estudo mostram que a dieta de restrição de proteína é eficaz para controlar a diabete e reduzir a obesidade. Além disso, diminuiu os níveis de colesterol, controlou a pressão arterial e auxiliou na redução do peso corporal com perda de gordura e manutenção de músculos”, explica o biomédico Rafael Ferraz Bannitz, doutor pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Bannitz é o primeiro autor do artigo Dietary Protein Restriction Improves Metabolic Dysfunction in Patients with Metabolic Syndrome in a Randomized, Controlled Trial publicado na revista Nutrients.

O estudo contou com 21 participantes que foram divididos em dois grupos. O primeiro foi submetido a uma dieta com restrição de 25% das calorias ideais para cada pessoa. No outro grupo também foi mantida a quantidade calórica ideal, porém, a quantidade de proteínas foi reduzida para o mínimo recomendado. “No grupo com restrição calórica, tivemos uma concentração de 20% de proteínas, 50% de carboidrato e 30% de gordura. Já o grupo com restrição de proteínas teve 10% de proteínas, 60% de carboidrato e 30% de gordura”, explica Ferraz Bannitz.

Os voluntários eram homens e mulheres, com idade entre 25 e 60 anos, com Índice de Massa Corporal (IMC) que indicava obesidade moderada a grave. O IMC é determinado pela divisão do peso da pessoa pela sua altura ao quadrado. Todos tinham Diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial e níveis elevados de gordura no sangue. Eles foram acompanhados por 27 dias por uma equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP) da USP com avaliação da pressão arterial, peso, composição corporal, distribuição de gordura, gasto energético basal e outras análises bioquímicas e moleculares, como microbioma intestinal (conjunto de microrganismos que habitam o intestino) e modificação da expressão de genes do tecido adiposo.

“A característica isocalórica da dieta de restrição proteica torna essa abordagem nutricional mais atraente e menos drástica para ser aplicada em ambientes ambulatoriais e na casa dos pacientes. Além disso, tem potencial para ser usada como terapia auxiliar em pessoas com síndrome metabólica com diabete e obesidade”, aponta o cientista biomédico.

O estudo foi coordenado pela professora Maria Cristina Foss de Freitas, orientadora do Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da FMRP, e teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Entre os autores estão pesquisadores da FMRP, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e da Universidade de Copenhague, da Dinamarca.

Mais informações: e-mail Rafael.FerrazBannitz@joslin.harvard.edu

Texto: Giovanna Grepi
Arte: Simone Gomes

FONTE: Jornal da USP

Idosos devem adotar cuidados extras com a pele no inverno

A pele dos idosos é naturalmente mais seca e no frio fica ainda mais sensível

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O inverno provoca maior sensibilização da pele por ser um período de baixa umidade do ar, afetando em especial quem tem o subtipo mais seco. É o caso dos idosos, que possuem uma pele menos hidratada por conta da idade. Cuidados com o banho, as roupas e a hidratação são necessários para manter a saúde desse órgão, evitando coceiras e machucados.

A pele é uma barreira importante do corpo contra a entrada de microorganismos que possam causar infecções, além de controlar a perda de água para o meio ambiente e a temperatura. Com o passar dos anos, “nós temos uma diminuição na produção do suor e na lubrificação produzida por nossas glândulas sebáceas, nossas glândulas de gordura”, explica a dermatologista Andrezza Telles Westin, médica assistente do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

“Com isso, nós não temos uma formação de uma barreira adequada na pele, favorecendo com que ela tenha perda de água para o ambiente.” Os danos acumulados ao longo da vida da radiação solar e de hábitos como o tabagismo também aumentam a fragilidade da pele. “Toda vez que perdemos a barreira cutânea e a sua lubrificação”, alerta Andrezza, “ela se torna mais propensa ao desenvolvimento de alergias, de irritações, de dermatite no geral.”

O geriatra Paulo Fernandes Formighieri, também médico do HC-FMRP-USP,  complementa que a elasticidade da pele diminui com o envelhecimento. “A pele tende a ter uma redução da espessura da sua camada, do conteúdo de sustentação.” Nesse aspecto, as mulheres sentem um impacto maior pela queda dos níveis dos hormônios depois da menopausa.

No banho

A hidratação da pele deve ocorrer em todas as épocas do ano, “não só você ingerir adequadamente líquidos durante o dia e se manter com corpo bem hidratado, mas fazer uma hidratação tópica”, lembra Formighieri. No inverno, é preciso lidar com um fator extra: a irritação que a água mais quente do banho causa na pele.

Procurar tomar banhos rápidos, com água morna e sem uso de produtos abrasivos, como esfoliantes e buchas, é a recomendação de Andrezza. Os sabonetes devem ser neutros ou glicerinados, que se aproximam do pH da pele, evitando os antibacterianos, “porque eles mudam a nossa flora de microorganismos que estão protegendo nossa pele”.

Logo após o banho, faça a secagem da pele com uma toalha macia, “sem grandes atritos, para que não tenha ressecamento, até mesmo mais esfoliação pelo atrito com a toalha”, adiciona. Por último, hidrate a pele, principalmente pernas, joelhos, cotovelos e calcanhares.

Os produtos hidratantes disponíveis no mercado são de quatro tipos: os hidratantes propriamente ditos (trazem água até as camadas profundas da pele), os emolientes (deixam a pele com uma consistência mais macia, facilitando a entrada de água; geralmente são os óleos), os umectantes (promovem uma película de umidade na pele) e os oclusivos (diminuem a perda de água para o ambiente). Em geral, os cremes são uma mistura de todos, mas Andrezza ressalta que quem tem pele sensível deve buscar um dermatologista para receber a melhor indicação.

Nas roupas

Considerando o fato de usarmos várias camadas de roupa contra o frio, o que aumenta o atrito contra a pele, outra recomendação para atenuar a sensibilização de uma pele mais frágil é escolher tecidos mais respiráveis. Os naturais são a melhor opção, de acordo com Andrezza. “Os tecidos de algodão, por exemplo, permitem uma maior absorção do creme na superfície da pele, e também a correta transpiração, impedindo que o suor seja um fator irritante na pele do paciente.”

Para evitar a pinicação, busque tecidos macios, “não necessariamente amaciados por amaciantes, mas tecidos que tenham uma leveza, um toque mais agradável”.

Por Luísa Hirata

FONTE: Jornal da USP

Conheça a técnica que permite 100% de cura em cânceres de pele

O Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), da Universidade Federal Fluminense (UFF), é a primeira unidade da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado do Rio de Janeiro a ter um aparelho usado na cirurgia micrográfica de Mohs, cuja técnica aumenta a chance de cura em cânceres de pele, em torno de 100%, para tumores com baixa capacidade de disseminação via linfática ou sanguínea. 

O aparelho foi doado ao HUAP pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), com a contrapartida que o hospital ofereça a formação de novos especialistas nesta técnica, que permite uma visão completa da superfície tumoral na pele durante sua retirada.

O coordenador da Dermatologia do HUAP, professor Flavio Luz, explicou hoje (20) à Agência Brasil que essa técnica permite a visualização microscópica de 100% da superfície do tumor. “Dessa maneira e mapeando o material, a peça, a gente consegue uma precisão quase que absoluta, plena, de onde está o tumor e até onde ele vai. Isso nos permite remover totalmente o tumor”. Ou seja, a cirurgia micrográfica de Mohs é que permite a visualização da superfície tumoral e faz com que seja possível um mapeamento mais preciso e a chance maior de cura.

A técnica da cirurgia micrográfica de Mohs é consagrada e considerada padrão ouro no tratamento de câncer de pele no mundo. Para ser viabilizada, entretanto, a técnica precisa do aparelho doado pela SBCD, além de outros equipamentos. Flavio Luz assegurou que os benefícios são grandes para os pacientes, uma vez que o tumor é totalmente removido. “Ele não volta. É uma vantagem enorme. Ele deixa de ser agressivo, o paciente fica curado, diminui mutilações, previne novas cirurgias, previne radioterapia, quimioterapia, etc”.

O médico esclareceu que o câncer de pele é o tipo de câncer mais frequente no ser humano, respondendo por cerca de 30% de todos os cânceres que afetam o homem. “É um volume gigantesco de pacientes com câncer de pele por todo o sistema de saúde. O Antonio Pedro não foge à regra”, disse.

Especialização

O HUAP está iniciando, no momento, a formação de novos especialistas na técnica da cirurgia micrográfica de Mohs. Essa formação leva em média dois anos. “A pessoa tem que completar 75 cirurgias plenas, do início ao fim, para poder se certificar como cirurgião micrográfico. E quando ele entra nessa formação, já é um cirurgião dermatológico pleno. Quer dizer, ele já domina todo o conhecimento de oncologia cutânea, já domina a cirurgia dermatológica e já tem uma boa noção de dermatopatologia. Aí, sim, ele vai se habilitar a fazer a formação específica em cirurgia micrográfica”, indicou o professor. “Um colega que tente fazer a técnica sem se especializar, vai ter dificuldades”, manifestou Flavio Luz.

Há um tipo de câncer, em especial, para o qual a cura pode ser assegurada totalmente com essa técnica. Trata-se do carcinoma basocelular primário, que nunca foi operado previamente. “Ele tem 100% de chance de cura. Existe uma possibilidade mínima do tumor voltar. Por isso, o que se tem nas estatísticas, na verdade, é 99,9% de cura para um carcinoma basocelular primário”. Já para um tumor que tenha voltado após alguma cirurgia, o índice de cura fica em torno de 95%. Luz lembrou que o carcinoma basocelular representa 70% dos cânceres de pele.

“A cirurgia micrográfica beneficia muitos pacientes”, disse Flavio Luz, mas admitiu que o Brasil ainda está aquém de países como Estados Unidos e Austrália, que têm mais de mil cirurgiões micrográficos certificados, cada, enquanto o Brasil está atingindo agora o número de 100 especialistas, dos quais dez estão no Rio de Janeiro. “O aparelho é fundamental, principalmente em um hospital universitário, para poder formar novas pessoas. Mas a gente precisa de cirurgiões micrográficos bem formados”, salientou.

Formação

A primeira cirurgia micrográfica com o uso do aparelho doado pela SBCD está prevista para o próximo dia 27. A ideia, em um primeiro momento, é realizar uma cirurgia desse tipo no HUAP a cada semana. “Vamos começar com uma cirurgia por semana e, como é uma formação, a gente não tem como fazer a cirurgia em quantidade”. O foco, atualmente, é a formação de bons cirurgiões micrográficos. Na medida em que o hospital for formando novos especialistas, serão realizadas cirurgias em um menor tempo, o que permitirá realizar mais cirurgias a cada dia. “E, com mais pessoas, isso vai se multiplicando cada vez mais. Essa é a intenção”, afirmou o coordenador da Dermatologia do HUAP/UFF.

Segundo expôs, os resultados para o SUS são também positivos porque, quando se consegue cerca de 100% de cura com essa técnica, evita-se custos de novas cirurgias e tratamentos. Em casos que demandariam, às vezes, várias cirurgias, passa a ser necessário apenas um procedimento cirúrgico resolutivo.

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil

Ministério da Saúde incorpora ao SUS medicamento para osteoporose

O Ministério da Saúde (MS) decidiu incorporar na lista de medicamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) o ácido zoledrônico. Medicamento é usado para o tratamento de pacientes com osteoporose que apresentam intolerância ou dificuldades de deglutição dos bisfosfonatos orais. A portaria foi publicada hoje (21) no Diário Oficial da União (DOU).

A incorporação do medicamento atende a uma recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do MS. Segundo a portaria, o medicamento deverá ser oferecido à população no SUS no prazo máximo de 180 dias.

A osteoporose atinge o metabolismo dos ossos, diminuindo a massa óssea e comprometendo a estrutura dos tecidos responsáveis pela formação dos ossos. A doença é a principal causa de fratura em pessoas acima de 50 anos.

O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do MS já disponibiliza no âmbito do SUS o uso de Vitamina D e Cálcio, raloxifeno, estrógenos conjugados, calcitonina (spray nasal) e os bisfosfonatos orais (alendronato e risedronato) para o tratamento de pacientes com osteoporose.

De acordo com a Conitec, a incorporação do ácido zoledrônico se deve, entre outras razões, a sua alta capacidade de se ligar ao osso mineralizado. Ao ser administrado, o medicamento age rapidamente no osso, inibindo o desequilíbrio entre a reabsorção de cálcio e a remodelação óssea.

or Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil – Brasília

FONTE: Agência Brasil