Diagnóstico precoce é fundamental no tratamento da Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla é uma condição autoimune potencialmente incapacitante do cérebro e do sistema nervoso central que dificulta a comunicação entre cérebro, medula e corpo. Em 30 de agosto, Dia Nacional da Consciência sobre a Esclerose Múltipla, o doutor Dagoberto Callegaro, chefe do Ambulatório de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica os principais sintomas, causas e efeitos da doença.

O que é 

De acordo com Callegaro, as causas básicas da Esclerose Múltipla  ainda estão em elaboração, mas é uma inflamação que proporciona a doença: “Praticamente, 85% a 95% dos casos iniciam-se por uma inflamação, que é danosa ao sistema nervoso central, seja o cérebro, a cabeça ou a medula espinhal. Nós dizemos que o neuroeixo do sistema nervoso central é comprometido e esse comprometimento pode ser difuso ou pontual”.

Geralmente, a doença inicia-se com a perda de uma função, que pode ser transitória ou definitiva. Segundo o médico, a maioria dos casos apresenta perdas de função transitória, que podem ser o adormecimento de um membro, uma fraqueza na mão, a alteração da sensibilidade em um membro inferior, um andar arrastado, um desequilíbrio e a turvação da visão, por exemplo. Esses sinais podem ser um indício do aparecimento da Esclerose Múltipla, que é mais comum entre jovens adultos e afeta mais mulheres do que homens.

Diagnóstico e tratamento 

A Esclerose Múltipla pode ser diagnosticada de forma rápida através do exame de Ressonância Magnética do Neuroeixo. Através dele, é possível identificar a localização da inflamação e o que ela causa de sintomas. “A característica de distribuição dessas lesões permite que a gente já comece a pensar na Esclerose Múltipla”, explica o especialista a respeito do padrão de lesões.

Se um indivíduo jovem do sexo feminino tem sintomas de visão dupla, faz o exame da Ressonância e identifica essa e outras lesões, é possível que haja a confirmação da suspeita de Esclerose Múltipla. O diagnóstico, além de identificar a condição e proporcionar um tratamento adequado, também é importante para afastar outras doenças semelhantes. Essa diferenciação pode ser feita através de outros exames, como a análise do líquido da espinha.

Depois de identificada, é necessário escolher a terapêutica específica para o paciente que apresenta a Esclerose Múltipla. Callegaro explica que existem dois tipos de tratamento da doença, que dependem da quantidade de lesões. “Para uma expressão da doença de baixa em quantidade de lesões, é utilizada uma terapêutica denominada de escalonada. Pacientes com muitas lesões nos primeiros movimentos da doença possuem um quadro chamado de alta atividade”, discorre.

A diferenciação dos grupos é importante, porque cada grupo recebe um tipo diferente de medicação. Os indivíduos que possuem poucas lesões utilizam remédios mais fracos; já os indivíduos com maior número de lesões recebem medicamentos mais potentes.  O tratamento da Esclerose Múltipla não é tratada apenas por médicos neurologistas. O médico explica que, juntamente com os medicamentos que combatem a inflamação, é preciso complementar com o tratamento de outros profissionais, como fisioterapeutas e psicólogos.

Mensagem 

Segundo o médico, qualquer sintoma neurológico em jovens precisa ser observado e tratado com seriedade. Os exames neurológicos e complementares são importantes para que haja um diagnóstico fechado o mais rápido possível. “Quanto mais rápido for o descobrimento da doença, é possível iniciar a terapêutica mais precocemente”, pontua o médico.

A Esclerose Múltipla não tem cura, mas, quando os tratamentos necessários são iniciados rapidamente, é possível que os pacientes tenham uma vida totalmente normal.

FONTE: Jornal da USP

Tratar esclerose múltipla com células-tronco é mais eficaz que medicação

O transplante com células-tronco da medula óssea do próprio paciente para combater a esclerose múltipla é mais eficaz do que a medicação disponível no mercado. Esta é a conclusão de estudo feito por pesquisadores do Brasil, Suécia, Inglaterra e Estados Unidos.

Os resultados foram apresentados em março no encontro anual da European Society for Blood and Marrow Transplantation e publicados na Neurology. uma revista científica de alto impacto. “Os resultados comprovam que os transplantes apresentam melhores resultados do que as medicações utilizadas para o tratamento da esclerose múltipla”, afirma a professora Maria Carolina de Oliveira, pesquisadora do Centro de Terapia Celular (CTC) da USP e da Divisão de Imunologia Clínica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

De acordo com ela, “parte da pesquisa ainda continua e os pacientes serão acompanhados por mais tempo e novos resultados devem ser apresentados em dois ou três anos. O objetivo é ver como a resposta ao transplante se sustenta em acompanhamento mais prolongado”, explica.

Ao todo, nos quatro países, participaram 110 voluntários, dos quais 55 foram transplantados e 55 receberam tratamento convencional. “Dos transplantados, apenas três (6%) reativaram a doença após o transplante. No outro grupo, tratado com a medicação disponível no País, 33 (60%)”, afirma Maria Carolina.

No entanto, o transplante deve ser aplicado apenas aos pacientes que estejam na fase de surto remissiva da doença. “É a fase em que o paciente tem surtos de perda neurológica súbita. Passa a ter dificuldade para andar e mexer os membros. Esses surtos acumulam incapacidades neurológicas e o transplante tem que ser realizado antes que chegue à fase progressiva”, explica.

Para identificar a possibilidade de transplante, os médicos utilizam a escala neurológica EDSS para medir o grau de comprometimento que a doença já provocou no paciente. Se estiver entre 2,5 e 5,5, o paciente pode ser transplantado. Fora desse parâmetro, não. O paciente não pode estar em cadeira de roda ou acamado, situações que acontecem nas fases mais avançadas da doença.

Experiência

O Hospital das Clínicas da FMRP tem experiência de 16 anos em transplante de medula óssea para pacientes com esclerose múltipla. Começou, em 2002, com o professor Júlio Voltarelli. Esses procedimentos não são pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A verba utilizada é de projetos de pesquisas. “Pretendemos, com esses resultados, convencer as autoridades a incluir este tipo de transplante na lista do SUS”, afirma Maria Carolina.

Entre os 90 transplantes realizados no HC-FMRP, “2/3 melhoraram. Sendo que deste total, metade manteve a doença controlada e na outra metade houve progressão ao longo do tempo. Isso porque a maioria desses pacientes foi transplantada na fase tardia, já degenerativa, da doença. O transplante funciona melhor nas fases mais precoces, inflamatórias da doença”, explica.

Infográfico: Adaptado de BruceBlaus via Wikimedia Commons CC BY-SA 4.0

Custo

O estudo não levantou custos comparativos entre o transplante e a medicação, mas a reportagem apurou que o transplante tem custo estimado de R$ 22 mil, considerando o uso de instrumental e a medicação usada durante o procedimento (não fazem parte deste valor os custos de salários da equipe e internação). Já a medicação tem preço aproximado de R$ 12 mil ao mês.

Um estudo de pesquisadores poloneses, apresentado também no encontro da European Society for Blood and Marrow Transplantation, comparou os gastos médios de 102 pacientes com esclerose múltipla no ano anterior ao transplante àqueles de um ano após o procedimento. A média de gastos anuais caiu de 4.520 euros para 810 euros.

O artigo Non-myeloablative hematopoietic stem cell transplantation (HSCT) is superior to disease modifying drug (DMD) treatment in highly active Relapsing Remitting Multiple Sclerosis (RRMS): interim results of the Multiple Sclerosis International Stem cell Transplant (MIST) Randomized Trial (S36.004) tem autoria deRichard K. BurtRoumen BalabanovJohn A. SnowdenBasil SharrackMaria Carolina de Oliveira e Joachim Burman, e pode ser acessado no site da revista Neurology.

Com informações de Marcos de Assis / Assessoria de Imprensa do Hemocentro de Ribeirão Preto

FONTE: Jornal da USP