Sensor vestível em material natural analisa substâncias presentes no suor

Desenvolvido na USP em São Carlos, adesivo aplicado sobre a pele poderá ser usado para monitorar o funcionamento do organismo, através do suor, e administrar medicamentos

Um sensor vestível, impresso em nanocelulose microbiana, um polímero natural, foi criado por pesquisadores da  USP, no campus de São Carlos, em colaboração com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, Universidade de Araraquara, Universidade de Campinas (Unicamp) e Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), em Campinas. O dispositivo poderá substituir, com vantagens, os sensores convencionais, impressos em superfícies plásticas. Aplicado sobre a pele, permite detectar várias substâncias presentes no suor, funcionando como um sensor não invasivo de amostras.

Robson Rosa da Silva, pós-doutor do Grupo de Polímeros Prof. Bernhard Gross do Instituto de Física de São Carlos da USP – Foto: Reprodução/Lattes

 

A pesquisa, coordenada pelo professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por meio dos projetos “Biossensor impresso e implantável fabricado com biopolímeros para monitoramento de longa duração”; “Design e fabricação de dispositivos flexíveis nanoestruturados para detecção de biomarcadores”; “Desenvolvimento de instrumentos analíticos baseados em línguas eletrônicas para detecção simultânea de ameaças bacterianas” e um apoio da Equipamento Multiusuários.

“A nanocelulose microbiana é um polímero 100% natural, produzido por bactérias a partir do açúcar. Sua principal vantagem em relação ao plástico é que propicia uma interface muito maior com a pele e já é encontrada no mercado há alguns anos na forma de curativos. No entanto, ainda não havia sido estudada como matriz para a fabricação de sensores eletroquímicos”, diz Robson Rosa da Silva, também do IFSC e um dos dois autores principais do artigo.

Nos sensores de matriz plástica, a transpiração forma uma espécie de barreira entre a pele e o dispositivo, dificultando a detecção e constituindo também um fator alergênico. “Já o sensor em nanocelulose é totalmente respirável: o suor consegue chegar até a camada ativa do eletrodo através da matriz de nanocelulose”, explica.

O sensor tem a forma de um pequeno adesivo retangular, com 1,5 centímetro de comprimento e 0,5 centímetro de largura e a espessura de uma folha de papel de seda. E consegue detectar vários biomarcadores, como sódio, potássio, ácido úrico, ácido láctico, glicose, etc. “Esses elementos ou substâncias, que circulam na corrente sanguínea, são detectáveis também no suor. Assim, uma aplicação possível do sensor de nanocelulose é o monitoramento da diabete. Outra é o controle hormonal em mulheres, por meio da detecção do hormônio estradiol”, informa Silva.

Paulo Augusto Raymundo Pereira, atualmente pós-doc do Instituto de Física de São Carlos da USP – Foto: Reprodução /Lattes

 

O dispositivo poderia ser usado para detectar também a presença de poluentes atmosféricos no organismo. “Como prova de conceito, expusemos o sensor a baixas de concentrações de metais tóxicos, como chumbo e cádmio. E o resultado foi positivo”, acrescenta o pesquisador.

As unidades de detecção são impressas sobre a matriz de nanocelulose microbiana por meio de uma técnica de serigrafia semiautomatizada, com o uso de pasta com grande concentração de partículas de carbono, devido à alta condutividade elétrica desse material. “Reações químicas de oxidação ou redução produzem o sinal elétrico que indica a concentração do metabólito de interesse”, explica Paulo Augusto Raymundo Pereira, o outro autor principal do artigo, que realiza pós-doutorado no IFSC.

“Para isso, o sensor é conectado a um potenciostato, que faz as medidas eletroquímicas por meio da variação da corrente elétrica. E as informações obtidas são, finalmente, transmitidas a um computador e traduzidas por meio da curva-padrão”, detalha Pereira. Segundo ele, a conexão wireless do sensor com o aparato de medição e leitura é uma possibilidade tecnológica de fácil resolução.

Os pesquisadores estudam, agora, o uso do dispositivo para a administração de medicamentos, bem como sua viabilização comercial. A primeira fase do projeto “Fabricação de eletrodos impressos por serigrafia em substratos biodegradáveis (nanocelulose e filmes de cebola Allium cepa l) para aplicações das indústrias médica, alimentícia e agroindustrial”, desenvolvido pela Biosmart Nanotechnology, teve o apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fapesp.

O artigo Microbial nanocellulose adherent to human skin used in electrochemical sensors to detect metal ions and biomarkers in sweat, publicado no periódico Talanta, pode ser acessado no link.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Por José Tadeu Arantes/Agência Fapesp

FONTE: Jornal da USP

Método traça perfil mais detalhado dos tipos de gordura presentes no sangue

Análise mostra que mulheres jovens não obesas apresentaram grande acúmulo de gordura no sangue após as refeições

Pessoas saudáveis, mas com um metabolismo mais lento, acumulam mais gordura no sangue após as refeições, o que pode servir como marcador de problemas metabólicos e cardiovasculares. A conclusão é de uma pesquisa realizada na USP em mulheres com menos de 40 anos de idade, não obesas, submetidas a uma dieta rica em gorduras. A análise feita no estudo, que identificou um perfil mais preciso dos tipos de gordura existentes no sangue em relação aos testes clínicos tradicionais, tem potencial para ajudar a prever, detectar e monitorar doenças. As conclusões do trabalho são descritas em artigo do The Journal of Nutritional Biochemistry.

Os pesquisadores estudaram a lipemia pós-prandial, que é o acúmulo de gordura no sangue decorrente de uma refeição. “Ela aumenta o número de lipídeos plasmáticos, especialmente lipoproteínas ricas em triglicerídeos (TG). Entre os fatores de risco para doenças cardiovasculares está a tríade de lipídeos, ou seja, altos níveis de TG, de LDL e concentrações reduzidas de HDL-C”, relata o pesquisador Marcos Yoshinaga, do Instituto de Química (IQ) da USP, que participou do estudo. “Portanto, a lipemia pós-prandial prolongada pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares por um aumento exacerbado de TG plasmático combinado ao catabolismo acentuado de HDL, que implica menores concentrações de HDL-C.”

De acordo com o professor Marcelo Rogero, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, que também integra o grupo de pesquisadores, o objetivo geral do trabalho foi estudar os efeitos de uma refeição enriquecida em gorduras saturadas sobre os lipídeos plasmáticos, em um grupo selecionado de pacientes saudáveis. “O alvo da pesquisa eram mulheres com menos de 40 anos de idade e não obesas”, aponta. “O objetivo específico do trabalho era examinar como o lipidoma plasmático ou as diferentes espécies moleculares de lipídeos plasmáticos se comportam no período pós-prandial em mulheres jovens e saudáveis.”

Os pesquisadores realizaram uma análise lipidômica para descrever e quantificar as espécies moleculares de lipídeos no plasma humano. “Abordando cerca de 300 moléculas, as análises lipidômicas aumentam o potencial de se encontrar biomarcadores, se comparadas ao perfil lipídico clínico de rotina, como triglicérides, colesterol total, LDL, HDL”, descreve Yoshinaga. “Por exemplo, o perfil lipídico clínico fornece informação sobre os TG totais, enquanto a análise lipidômica permite quantificar centenas de espécies moleculares de TG, com informações precisas sobre a natureza e a composição de ácidos graxos, sejam eles saturados, monoinsaturados ou poli-insaturados.”

Os lanches de fast food, embora muito populares, são refeições altamente gordurosas
Foto: Unsplash

 

Metabolismo

O estudo também analisou parâmetros clínicos das pacientes, como perfil lipídico, insulina, glicose, marcadores inflamatórios e medidas antropométricas. Ao todo, 274 lipídeos plasmáticos distribuídos em 18 classes lipídicas foram comparados com parâmetros clínicos do sangue. “Identificamos, como esperado, um enriquecimento em inúmeras espécies moleculares de TG entre uma e três horas após a refeição”, aponta o pesquisador. “Depois de cinco horas, porém, pudemos classificar dois grupos distintos entre as pacientes, um com metabolismo rápido, que voltou aos níveis em jejum, e outro com metabolismo lento, que mantinha níveis elevados de TG.”

A comparação entre os dois grupos revelou que as diferenças no metabolismo de TG estavam relacionadas ao incremento de insulina pós-prandial, bem como às classes lipídicas TG e fosfatidilinositol (PI). “As análises lipidômicas realizadas em fração rica em TG (LDL e VLDL) e em fração enriquecida em HDL revelaram que a fração HDL de pacientes de metabolismo lento continha maiores concentrações de PI e TG”, destaca Yoshinaga. “Verificamos assim uma assinatura da lipemia pós-prandial prolongada relacionada não somente ao enriquecimento de TG plasmático, mas particularmente um aumento das concentrações de TG e PI em HDL.”

O pesquisador aponta que, no aspecto nutricional, após serem confirmadas em estudos de larga escala, as ferramentas analíticas utilizadas no estudo têm potencial para identificar como indivíduos jovens e saudáveis lidam com dietas ricas em gordura, principalmente com relação ao risco de acúmulo de lipídeos específicos. “A análise lipidômica identificou distintas respostas pós-prandiais em indivíduos saudáveis com maior precisão se comparadas ao perfil lipídico clínico de rotina, e pode potencialmente ajudar na detecção, monitoramento e predição de doenças metabólicas.”

 

Frituras possuem altas concentrações de VLDL
Foto: Unsplash

“No aspecto clínico, o acúmulo de PI e TG em HDL durante a lipemia pós-prandial prolongada traz perspectivas futuras para avançarmos no entendimento do lipidoma de HDL durante o metabolismo intravascular em relação à insulina”, observa Yoshinaga. “Em especial, será possível compreender o papel do lipidoma de HDL influenciando suas funções antiaterogênica e anti-inflamatória, bem como as concentrações de HDL-C, que são um fator de risco independente para doenças cardiovasculares.”

O estudo foi realizado por pesquisadores do IQ e da Faculdade de Saúde Pública (FSP), que integram os projetos Centro de Pesquisa de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma) e Food Research Center (FoRC), dois Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além de Yoshinaga, que realiza pesquisa de pós-doutoramento com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o trabalho teve a participação de Adriano Britto Chaves-Filho, cujo pós doutorado é financiado pela Fapesp; Bruna Jardim Quintanilha, doutoranda da FSP; além dos professores Marcelo Rogero, da FSP e do FoRC, e Sayuri Miyamoto, do IQ e do Redoxoma.

Mais informações: e-mail marcosyukio@gmail.com, com Marcos Yoshinaga

Por Júlio Bernardes

FONTE: Jornal da USP

Entenda a diferença entre alimentos diet, light e zero

Os termos dietlight e zero são normalmente associados a alimentos pouco calóricos. Mas nem sempre é assim. A expressão mais antiga, diet, ficou associada a alimentos próprios para portadores de diabetes por não conterem açúcar. Mas isso também não é regra. A Agência Brasil entrevistou a nutricionista Tatiane Cortes Roso, para esclarecer dúvidas sobre a diferença entre os três tipos de alimentos.

Diet

Tatiane explica que os alimentos diet são regulamentados pela Portaria/MS 29, de 13 de janeiro de 1998 – o Regulamento Técnico de alimentos para fins especiais. “Produtos diet são direcionados para pessoas com dietas especiais para certas doenças, como diabetes, hipertensão, obesidade, dislipidemia. Então é a redução de algum nutriente. Por exemplo, retiram o sódio de uma batata frita, como a gente vê no mercado, e substituem por cloreto de potássio”.

Normalmente os alimentos diet têm redução de componentes como açúcar, gordura, proteína ou outros. Mas Tatiane alerta que nem sempre a redução dos nutrientes é total.  “Pode haver residual de açúcares e gorduras totais no produto de, no máximo, 0,5g por 100g/ml”, ressalta.

Esses alimentos são indicados para pessoas com restrições alimentares ou que não querem consumir algum desses ingredientes. Dessa forma, não basta o rótulo dizer que determinado alimento é diet. É preciso que o rótulo especifique qual nutriente foi retirado ou substituído no produto.

Tatiane afirma ainda que nem sempre o produto diet é menos calórico do que o tradicional. Em um iogurte, por exemplo, a indústria reduz o teor de gordura, mas acrescenta amido, açúcares e espessantes para substituir as gorduras totais.

Light

Um alimento light é aquele que tem redução de pelo menos 25% de algum componente, que pode ser açúcar, gordura, sódio ou outros. Dessa forma, o conteúdo energético normalmente é reduzido quando comparado com o tradicional de referência. “Então, não basta só alegar que o produto foi reduzido em algum nutriente, é preciso compará-lo com uma versão convencional do mesmo alimento. Assim, o consumidor saberá se realmente houve redução em nutrientes e/ou valor energético”, diz a nutricionista.

Os alimentos light são regulamentados pela Resolução RDC 54, de 12 de novembro de 2012 da Anvisa – o Regulamento Técnico sobre Informação Nutricional Complementar. Nesse caso, as orientações são para o público em geral.

Os produtos light costumam ser indicados em dietas para emagrecer. No entanto, Tatiane ressalta que para que a redução de peso aconteça, a quantidade ingerida deve ser similar à que se comeria do produto normal. “Um grande erro é exagerar no consumo do produto light e acabar ganhando peso”, afirma.

Zero

Já o termo zero é usado quando o alimento não tem algum componente. Pode ser zero açúcar, zero gordura, zero sódio, entre outros. No entanto, esse produto não tem adição de outro nutriente para repor o sabor, diferentemente do diet. Quando o alimento é zero açúcar, ele pode ser consumido por pessoas portadoras de diabetes. Grande parte dos produtos zero é reduzida em calorias e açúcares, podendo ser utilizada tanto por pacientes com diabetes quanto por quem deseja perder peso.

“Uma pessoa com diabetes pode consumir alimento light? Sim, mas ela vai ter que olhar no rótulo se houve redução de açúcares. E se o açúcar foi substituído pelo adoçante, no caso dos portadores de diabetes. No caso da pessoa hipertensa, tem que checar se houve redução no sódio, por exemplo. É importante que as pessoas aprendam a ler o rótulo”, orienta Tatiane.

FONTE: Agência Brasil

Bullying, Associação Brasileira de Psiquiatria faz campanha sobre os efeitos

Campanha inédita da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) busca a conscientização da população contra o bullying com o tema Delete Essa Ideia. Bullying é uma palavra de origem inglesa que designa atos de agressão e intimidação repetitivos e intencionais contra pessoas que não são aceitas por determinado grupo. A iniciativa visa esclarecer, alertar e combater o bullying e o cyberbullying (bullying pela internet) e, assim, diminuir o índice de casos.

De acordo com o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva, muito associado ao período escolar de crianças e adolescentes, o bullying pode se estender por outras fases da vida. “O ambiente escolar é um local em que os indivíduos estabelecem relações de superioridade em termos de poder e competência sobre os seus pares e, a partir deste momento, acontecem as relações de assédio”, disse o médico em entrevista à Agência Brasil.

Nos últimos anos, o bullying tornou-se um grave problema de saúde pública. Crianças e jovens sofrem diariamente agressões psicológicas e físicas, que resultam em sérias consequências para a saúde física e mental.

Segundo Silva, os transtornos provocados pelo bullying nas crianças e jovens dependem muito de como as agressões serão internalizadas e como serão trabalhadas no âmbito escolar e familiar. “Algumas crianças e adolescentes, dependendo do nível de resiliência e adaptabilidade, vão precisar de suporte psiquiátrico e, por vezes, até jurídico. Podem ser desenvolvidos quadros depressivos e ansiosos, entre outros, incluindo o abuso de álcool e outras substâncias.”

O psiquiatra ressaltou que, nos casos de bullying, as pessoas não devem se preocupar apenas com a saúde mental das vítimas, que, mais à frente, podem se tornar agressoras. Muitas vezes, os indivíduos que estão praticando bullying podem estar submetidos a situações em que tais atitudes podem ser a válvula de escape. “Depressão, baixa autoestima e tentativas de suicídio são algumas das consequências geradas por essas atitudes”, afirmou Silva.

Silva alertou que vivenciar tais situações gera impacto negativo na vida das pessoas atacadas e que tanto os agressores quanto as vítimas de bullying podem desenvolver sérios problemas de saúde, como ansiedade e depressão. “Por isso, é fundamental combater essa prática que cresce cada vez mais. A partir deste ano, a campanha contra o bullying será um dos nossos pilares.”

Agravamento do bullying

O diretor da ABP e especialista em infância e adolescência, Kleber Oliveira, lembrou que, antigamente, existiam brincadeiras entre crianças que, teoricamente, não tinham a mesma repercussão que hoje. “A principal diferença que vemos é a intensidade e a dimensão que a tecnologia proporciona. Agora as atitudes são gravadas, divulgadas, e a gente não tem mais controle do que vai ser acrescentado àquela brincadeira, o que gera muita insegurança nas crianças e adolescentes”, afirmou.

Ainda neste mês, a Associação Brasileira de Psiquiatria vai lançar nas redes sociais várias ações de conscientização sobre o tema. O objetivo é oferecer diferentes perspectivas sobre as formas de combater esse tipo de atitude e conseguir diminuir o número de casos.

Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicado no ano passado, mostra que cerca de 23% dos estudantes afirmaram ter sofrido bullying por parte de colegas. A pesquisa revelou também que um em cada dez adolescentes, do total de 188 mil entrevistados, já se sentiu ameaçado, ofendido e humilhado em redes sociais ou aplicativos, sendo vítima do cyberbullying.

Quanto à saúde mental, 50,6% dos estudantes disseram se sentir muito preocupados com as coisas mais comuns do dia a dia. De acordo com o estudo, um em cada cinco estudantes afirmou que a vida não valia a pena ser vivida.

FONTE: Agência Brasil

Bronquiolite, campanha quer reforçar prevenção ao vírus causador

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a farmacêutica AstraZeneca divulgaram hoje (17) uma campanha para reforçar a prevenção aos casos de vírus sincicial respiratório (VSR) em bebês prematuros e com condições de saúde consideradas de risco para essa infecção. O vírus é o principal responsável por casos de bronquiolite e pneumonia em bebês e também está associado a uma maior frequência de internações por síndromes respiratórias nesse grupo.

O presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP, Renato Kfouri, explicou que ainda não há vacina que previna esse vírus, mas o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza, desde 2013, outra forma de prevenção: os anticorpos monoclonais, que são anticorpos artificiais que podem ser dados aos bebês mensalmente durante o período de maior circulação do vírus.

“Eles têm a função de se ligar ao vírus da bronquiolite e impedir a adesão dele ao epitélio respiratório (mucosas). É prevenção, é imunização, mas não é vacina. É um conceito um pouco diferente. A gente oferece um anticorpo artificial, pronto, para o indivíduo”, diferencia Kfouri, já que, nas vacinas, a estratégia de prevenção é estimular o corpo humano a produzir os anticorpos.

Anticorpos

Os anticorpos monoclonais contra o VSR estão presentes no fármaco palivizumabe, que a AstraZeneca fornece tanto para a saúde privada quanto para a saúde pública no Brasil.

O Ministério da Saúde prevê que esses anticorpos devem ser oferecidos a crianças prematuras de até 29 semanas e com idade inferior a 1 ano, ou a crianças de até 2 anos com doença pulmonar crônica da prematuridade, doença cardíaca congênita ou repercussão hemodinâmica demonstrada. Segundo determinação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), planos de saúde também devem cobrir o medicamento nesses mesmos casos.

Com a campanha, a Sociedade Brasileira de Pediatria pretende conscientizar pediatras sobre a importância da prescrição desses anticorpos nos casos em que ele é recomendado. Kfouri acrescenta que pais e responsáveis pelas crianças prematuras também podem levantar esse assunto nas consultas ou buscar o pediatra que acompanha o bebê, caso a prescrição não tenha sido feita.

“Esses prematuros nem sempre estão vinculados a um serviço de seguimento de prematuros. Muitas vezes, são acompanhados por pediatras da rede pública, do SUS, de consultórios particulares e muitas vezes é necessária uma atualização e uma capacitação desse profissional.”

Cuidados especiais

A campanha conta com fotos de bebês prematuros vestidos como guerreiros e guerreiras para lembrar que essas crianças passam por momentos difíceis logo após o parto e precisam de cuidados especiais para fortalecer as defesas de seus organismos. “Perder um bebê prematuro, depois de muito lutar, para uma doença respiratória evitável, prevenível, é muito triste.”

Além dos anticorpos artificiais, a prevenção ao vírus sincicial respiratório em bebês prematuros também deve ser feita com cuidados não farmacológicos, que devem ser reforçados nos períodos de maior circulação do vírus que causa a bronquiolite.

Entre essas medidas está o aleitamento materno sempre que possível, a higiene adequada das mãos (uso de álcool em gel e sabonetes germicidas), o uso de máscara, evitar que a criança respire fumaça de cigarro, retardar a entrada em creches e berçários e evitar visitas.

“Um bebê mais vulnerável é como se a gente tivesse dentro de casa uma pessoa imunocomprometida, alguém com câncer, alguém transplantado. O bebê prematuro tem uma imunidade rebaixada e por isso é mais vulnerável não só ao VSR”, explica Kfouri, que reforça a importância de que os familiares dessas crianças tomem todas as vacinas disponíveis em seu calendário no Programa Nacional de Imunizações e, assim, não transmitam outras doenças imunopreviníveis aos bebês.

Circulação da bronquiolite

Como a maior parte das doenças de transmissão respiratória, o VSR circula principalmente no outono e inverno, mas essa sazonalidade também pode ser afetada por fatores como umidade e até volume de chuvas. No Brasil, o período de maior circulação desse vírus costuma começar em fevereiro no Norte, em março no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, e em abril no Sul.

O período de circulação costuma durar cerca de quatro meses, e o especialista da SBP afirma que é recomendável iniciar a imunização com o palivizumabe um mês antes dessa janela, administrando o fármaco uma vez por mês por até cinco meses. Como os anticorpos já chegam prontos ao corpo das crianças, o sistema imune não aprende a produzi-lo e, por esse motivo, o remédio precisa ser administrado uma vez por mês.

Com a pandemia de covid-19, o predomínio do SARS-CoV-2 sobre outros vírus e as medidas de prevenção tomadas para conter sua circulação, outras doenças foram afetadas, o que inclui o VSR. O vírus teve sua circulação praticamente interrompida nos períodos de maior isolamento social e voltou de forma atípica em 2021, causando um aumento de casos até mesmo depois de setembro, quando já deveria estar em queda. Mesmo assim, dados do sistema InfoGripe mostram que o VSR pode ter causado mais casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) na faixa etária de menos de 1 ano que a covid-19, ao longo do ano de 2021.

Por Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil

Álcool na gestação traz riscos para o bebê, afirma médica

“Se você bebe, o seu bebê também bebe” é o tema da campanha da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) que visa alertar mulheres grávidas para os riscos que o consumo de bebidas alcoólicas na gestação pode trazer para os filhos. “Esse é o nosso foco de interesse, de ação in advocacy (lobby do bem)”, disse a presidente da Abead, Alessandra Diehl. A entidade busca prevenir sobre o álcool na gestação, para evitar o que os especialistas chamam de Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).

No Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, lembrado hoje (18), a psiquiatra destaca os riscos de desenvolvimento da SAF, que ainda é subnotificada no Brasil e subtratada, por não ser identificada durante a gestação. Segundo ela, não existe informação, principalmente para quem trabalha na rede de atenção primária à saúde e que faz o pré-natal, “que são as enfermeiras, os ginecologistas”, para identificar a mulher que está bebendo.

A SAF tem alto impacto na vida da criança, da mãe, do pai e da sociedade como um todo. De acordo com a Abead, não existe bebê seguro durante a gestação porque qualquer quantidade de bebida pode trazer complicações que incluem retardo mental, microcefalia, baixo peso ao nascer, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, além de complicações gestacionais.

Estudos mostram que entre 12% e 22 % das mulheres grávidas apresentam históricos de consumo de álcool durante a gravidez. Essa ingestão de álcool pode variar de beber ocasionalmente ao consumo excessivo semanal e até ao uso crônico durante os nove meses da gestação. A Abead defende medidas preventivas para o uso de álcool por mulheres grávidas devido ao risco de desenvolvimento da SAF. A estimativa é de que cerca de 1,5 mil a 6 mil crianças nasçam com SAF todos os anos no Brasil.

A Abead sugere, entre as medidas preventivas, a adoção de rótulos de advertência sobre o álcool nas embalagens das bebidas, utilizando-os como ferramentas para aumentar a conscientização sobre os riscos gerados pelo produto. Também recomenda abordagens mais amplas de políticas públicas para o controle do consumo, com informações direcionadas ao público-alvo e específicas sobre beber na gestação. A entidade apoia o Projeto de Lei (PL) 4.259/2020, em tramitação na Câmara dos Deputados, que institui o sistema de prevenção à Síndrome Alcoólica Fetal, bem como dispõe sobre a obrigatoriedade de advertência dos riscos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez. “É uma das primeiras iniciativas que começam a colocar a advertência em bebidas alcoólicas, indicando que a mulher não pode beber, como já existe em outros países. Acho que isso pode ajudar”, afirmou Alessandra.

Álcool x Adolescentes

Para a presidente da Abead, outro problema que deve ser atacado sem demora por meio de políticas públicas é o consumo de álcool cada vez mais cedo entre os jovens. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada em setembro do ano passado, 34,6% dos estudantes consultados haviam experimentado bebida alcóolica pela primeira vez antes dos 14 anos, sendo o percentual maior entre meninas (36,8%) do que entre meninos (32,3%). Mais de 63% dos estudantes entrevistados tomaram uma dose de bebida alcoólica em 2019, contra 61,4% em 2016.

O Terceiro Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado em 2019, confirmou a dependência de álcool entre adolescentes. Segundo o estudo, 7 milhões de brasileiros menores de 18 anos, ou o correspondente a 34,3%, disseram já ter consumido bebida alcoólica na vida, sendo que 119 mil jovens entre 12 e 17 anos apresentavam algum tipo de vício em álcool.

“É um fenômeno mundial”, disse Alessandra Diehl. Os jovens estão bebendo cada vez mais cedo. A PeNSE mostra claramente que eles começam em torno dos 14 anos”.

O hábito entre mulheres, que começa quando jovens e se perpetua, também preocupa a Abead, que vem chamando a atenção para o fenômeno há algum tempo. No entanto, segundo a presidente da entidade, não há correspondência em termos de políticas públicas que olhem para essa questão do gênero. “Acho que esse é o nosso gap (lacuna) aqui no Brasil”.

Alessanda advertiu que embora haja no país uma legislação que proíbe a venda de bebidas para adolescentes, os jovens conseguem comprar bebidas alcoólicas facilmente. “É fácil e não há fiscalização”, afirmou.

Sacolé

A psiquiatra lembrou que um novo produto acaba de ser lançado, em parceria com uma indústria de bebidas, apresentando teor alcoólico de 7,9%. “É um geladinho que contém álcool, tem colorido muito interessante e que atrai, sem dúvida, o jovem. Quero ver como vai ser a fiscalização para a venda desse produto, com teor alcoólico de 7%. São coisas que vão causando impacto entre para a iniciação precoce no Brasil”. Na sua opinião, uma parcela significativa desses jovens vai evoluir para uso mais regular e um padrão de dependência. Por si só, acrescentou, o alcoolismo já é um problema de saúde pública imenso.

O professor de psiquiatria da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Jorge Jaber Filho, se referiu também a essa espécie de sacolé, com 7,9% de teor alcoólico, cujas amostras estão sendo distribuídas no país gratuitamente e que pode estimular o uso por adolescentes.

Jaber advertiu que as principais causas de morte de jovens nas grandes cidades são os acidentes, especialmente de trânsito, que envolvem consumo de álcool não só pelo condutor do veículo mas também pelos menores de idade na via pública. Em segundo lugar, aparecem os homicídios e, na terceira posição, o aumento de suicídio entre jovens que utilizam álcool e substâncias químicas, sendo o álcool em maior quantidade. “Em termos de saúde pública entre os jovens brasileiros, a liberação do álcool é devastadora, porque envolve as três principais causas de morte”, disse o psiquiatra.

Recomendações

Uma das recomendações feitas pela presidente da Abead no Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo é que os pais devem estar atentos ao comportamento de beber dentro de casa, porque as crianças tendem a imitar o exemplo dos adultos. “Se a gente consegue postergar a iniciação de beber na adolescência, se o jovem começar a experimentação acima dos 18 ou 21 anos, as chances desse adolescente vir a desenvolver dependência diminuem em 50%. Essa é questão importante”. Para Alessandra, isso tem a ver também com propaganda, fiscalização da venda de bebida alcoólica, ou seja, diminuição da demanda.

Segundo a médica, é preciso aumentar os fatores de proteção, entre eles o convívio com atividades mais saudáveis que não incluam bebida alcoólica e o aumento de práticas relacionadas à prevenção ao consumo de álcool, como a realização de refeições em família. “Parece pouco. Mas há uma série de estudos que avaliaram o quanto fazer refeições em família previne o uso de álcool e outras drogas, principalmente no contexto brasileiro”. Incentivo à leitura, religiosidade, espiritualidade, educação, menos jogos e convívio com áreas que não utilizam bebida são outras indicações da presidente da Abead.

Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está em elaboração uma linha de cuidados sobre álcool e drogas para lançamento no próximo mês de abril.

Permissividade com o uso do Álcool

Jorge Jaber Filho lembrou ainda que é comum o consumo de álcool começar dentro da própria família. Argumentou que muitos pais acham que o fato de o filho tomar uma cerveja não tem nenhum problema quando, na verdade, estão estimulando o uso do produto que traz efeitos negativos para a saúde orgânica e mental. “De maneira geral, a sociedade é muito permissiva com o uso do álcool”.

Para ele, embora a venda de bebidas alcoólicas seja proibida para menores, o que ocorre é um desrespeito à lei, atingindo uma atividade alarmante, que é a venda de bebidas para adolescentes em postos de gasolina. O mesmo acontece em festas e shows, onde é comum ver jovens com garrafas de refrigerante contendo bebidas alcoólicas misturadas. “Não há nenhuma manifestação da sociedade para coibir isso. É considerado normal”.

FONTE: Agência Brasil

Dietas sustentáveis ajudam o planeta, mas seu corpo também agradece

Após desenvolverem o Índice da Dieta da Saúde Planetária, que mede a aderência da população à alimentação com menor impacto ambiental, pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP avaliaram o efeito dessas dietas sustentáveis na saúde da população, mais especificamente na gordura corporal. Os participantes que tiveram maior pontuação no índice, e portanto maior adesão às dietas saudáveis ao planeta, possuíam risco 24% menor de apresentar sobrepeso e obesidade.

A pesquisa também mostrou que os ‘campeões’ no índice também possuem 14% menos risco de terem obesidade abdominal e 27% menos risco de apresentarem o quadro agravado dessa condição, a obesidade abdominal aumentada. O estudo mostra que uma alimentação mais baseada em frutas, verduras, legumes, cereais integrais e oleaginosas – e menos em carnes vermelhas, laticínios, tubérculos, açúcares de adição e gorduras animais – pode ser tão saudável ao planeta quanto ao nosso corpo.

O estudo faz parte do doutorado sanduíche  do pesquisador Leandro Cacau, da FSP, sob orientação da professora Dirce Maria Lobo Marchioni, junto à Universidade de Zaragoza, na Espanha, com supervisão de Luis Moreno. O artigo foi publicado em outubro na revista científica Nutrients. O projeto tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Leandro Cacau – Foto : Arquivo Pessoal

O índice desenvolvido pelos pesquisadores é baseado na Dieta da Saúde Planetária, um modelo de alimentação proposto no relatório Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems, publicado no jornal científico The Lancet. A ideia dessa dieta é promover um uso sustentável e consciente dos recursos do planeta para garantir nutrição e saúde às 10 bilhões de pessoas estimadas em 2050 – o que não acontecerá sem mudanças radicais no nosso padrão de consumo atual.

Ao dividir os alimentos em 16 grupos e relacioná-los à emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) gerada na produção de cada um deles, o índice é capaz de avaliar as dietas através de uma  pontuação de 0 a 150. Em geral, quanto mais vegetais se consome, chega-se mais próximo de 150 pontos; enquanto que quanto mais se opta por alimentos de origem animal e ultraprocessados, a dieta fica mais perto de zerar – e, então, maior é o custo ambiental das refeições.

A recomendação da EAT- Lancet, assim como a primeira aplicação do índice, sugeriam que, quanto menos nocivas ao planeta, maior seria a qualidade nutritiva da dieta, mas esse é o primeiro estudo a avaliar o que de fato acontece com a saúde humana se optarmos por dietas saudáveis também ao planeta. “Os resultados vão ao encontro do relatório: seguir uma dieta saudável e sustentável traz benefícios para a saúde da população, já que o sobrepeso e obesidade são importantes fatores de risco para outras doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares”, afirma Leandro Cacau em entrevista ao Jornal da USP.

Foram avaliados 14,515 brasileiros, participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), que acompanha os voluntários de vários estados do Brasil desde 2008 e 2010. De acordo com o pesquisador, os resultados mostram que os que melhor pontuaram no índice apresentaram melhor saúde quanto à gordura corporal, quando comparados aos que não seguem a Dieta de Saúde Planetária. “Eles possuíam 24% menor probabilidade de terem sobrepeso e obesidade. Isso independente de características sociodemográficas, de estilo de vida e estado de saúde, como sexo, idade, escolaridade, hábito de fumar, prática de atividade física, presença de diabetes e hipertensão, entre outros”, completa.

Os pesquisadores também identificaram que aqueles que pior pontuaram no índice tinham os maiores valores de Índice de Massa Corporal (IMC) e de circunferência da cintura. O próximo passo da pesquisa é avaliar a relação dessa ferramenta com marcadores de doenças cardiovasculares.

Mais informações: e-mail lcacau@usp.br, com Leandro Cacau

FONTE: Jornal da USP

Estudo avalia se substância contida em vieiras pode combater metástase

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras investigam se um composto presente em vieiras pode ser usado no combate a metástase.

Com financiamento do Ministério da Saúde, a pesquisa conseguiu estabelecer uma cadeia de produção do molusco – parente das ostras e mexilhões – e uma unidade produtiva piloto para isolar a substância. A próxima etapa é a realização de testes pré-clínicos e clínicos para confirmar a segurança e a eficácia do medicamento proposto em animais e seres humanos.

Segundo o professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ Mauro Pavão, testes feitos em laboratório com ratos e camundongos indicaram que o composto heparán sulfato, presente na massa visceral das vieiras, tem potencial para ajudar na prevenção das metástases, processo em que as células cancerosas se espalham pelo corpo e formam novos tumores.

Pavão explica que, quando as células se desprendem do tumor inicial e circulam pela corrente sanguínea, interagem com as plaquetas, que se colam a elas, protegendo-as da ação do sistema imune. Nos testes com roedores, a substância foi capaz de inibir essa interação em casos de câncer de pele, próstata e pulmão, deixando as células cancerosas mais expostas às defesas do organismo.

A partir desses resultados, já publicados, o biólogo marinho e doutor em bioquímica, em parceria com a Uerj e o Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai Cetiqt), obteve financiamento do governo federal para estruturar toda a linha de produção que permitirá a fabricação do fármaco em quantidade necessária para a etapa de testes, da criação da vieira até o isolamento do composto em laboratório.

Pavão ressalta que, no caminho que o possível novo medicamento pode trilhar até estar disponível nas farmácias, o próximo passo são mais testes com animais e, ainda, experimentos com seres humanos, que precisam ser autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e realizados por uma instituição credenciada pela agência.

“A primeira coisa que a gente tinha que provar é que esse composto podia ser obtido de forma escalonada. Mesmo que tivesse alto valor terapêutico, se não fosse capaz de ser produzido em larga escala, de nada adiantaria. E, com esse estudo, a gente pode dizer que consegue produzir”, explica Mauro Pavão.

O pesquisador destaca que, além dos potenciais benefícios para a saúde, a comprovação da eficácia desse medicamento poderia agregar valor à produção das vieiras na aquacultura, gerando emprego e renda para famílias de comunidades costeiras. “Tem um resultado prático muito importante em um contexto tanto de sustentabilidade quanto de economia social, porque as vieiras podem ser cultivadas em fazendas marinhas por pescadores.”

Produção

Diretor da Faculdade de Oceanografia da UERJ, o oceanógrafo Marcos Bastos participa da pesquisa e acrescenta que a criação de vieiras depende de um meio ambiente preservado, já que esses moluscos precisam de água marinha de alta qualidade para se desenvolver. Bastos explica que, como a substância estudada está presente na massa visceral das vieiras, e essa parte é descartada antes do consumo desses moluscos, o cultivo visando fármacos não representa concorrência com a oferta das vieiras como alimento.

“Essa parte, que chamamos de bainha, sempre foi considerada um resíduo. Às vezes, se utilizava como ração para os peixes, mas muitas vezes era descartada”, acrescenta. “É uma oportunidade que não é só de negócio. Trabalhamos em um alimento que pode ser produzido por comunidades locais, e em um fármaco que a gente espera que pode ser muito importante para mitigar todas essas questões da metástase.”

As vieiras usadas na pesquisa são reproduzidas no Laboratório de Maricultura Sustentável da Uerj em Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, e, então, enviadas a fazendas marinhas de produtores locais para o manejo e engorda, que dura mais de um ano. Quando prontas para a comercialização, os produtores separam a massa visceral da parte comestível, e essa bainha passa por um processo de ressecamento para ser enviada ao laboratório onde o composto é isolado.

O segundo laboratório envolvido na pesquisa foi criado com o apoio do Senai Cetiqt em uma unidade modular no Parque Tecnológico da UFRJ. De acordo com o coordenador da Engenharia de Processo e Transformação Química no Instituto Senai Inovação em Biossintético e Fibras, João Bruno Valentim, a unidade produtiva foi montada em um contêiner para evitar que ficasse dentro do hospital universitário da UFRJ, onde a pesquisa teve início.

Valentim explica que a unidade modular pode ser operada por apenas duas pessoas e que, caso o medicamento tenha sua eficácia comprovada, uma das possibilidades seria instalá-la em locais próximos da produção das vieiras, o que poderia reduzir custos logísticos, já que cada quilo da bainha ressecada gera apenas 4 gramas do composto ao ser processada.

O coordenador do Senai ressalta que países desenvolvidos, principalmente os europeus, têm se engajado em explorar os oceanos de forma sustentável para gerar matérias-primas renováveis, o que é proposto na pesquisa. “Essa é uma tendência, e o Brasil tem um potencial muito grande por razões óbvias. É só olhar o tamanho da nossa costa.”

Por Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil

Estudo mostra que quanto mais baixa a escolaridade dos idosos, maior o risco de demência

Um estudo realizado no município de Tremembé, em São Paulo, registrou alta taxa de demência na população de idosos. Essa é uma das poucas pesquisas sobre a doença na América Latina e também indica que envelhecimento e escolaridade são fatores de risco.

O estudo aponta que entre os cuidados preventivos estão o incentivo à escolaridade, a boa alimentação, a prática de atividades físicas e os estímulos cognitivos

A pesquisadora e neurologista Karolina César-Freitas, membro do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FM) da USP, conta que o estudo segue uma linha de pesquisa iniciada em 2012. Um acompanhamento de cerca de cinco anos foi feito com idosos que inicialmente não tinham demência para, em seguida, analisar a parcela dessa população que desenvolveu o quadro.

“O principal fator de risco foi o próprio envelhecimento e a escolaridade”, afirma Karolina ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição. “Quanto mais idoso e mais baixa a escolaridade, maior o risco de demência.” Pessoas que já possuíam algum tipo de comprometimento cognitivo também tiveram mais chances de desenvolver demência.

A pesquisadora explica que demência é um termo utilizado para diversas condições, como o Alzheimer. Entre os sintomas, estão o prejuízo de memória recente, desorientação temporal e dificuldade de linguagem. “Muitos familiares demoram para procurar ajuda médica porque acham que a falha de memória é normal nessa faixa etária”, afirma.

O estudo também ressalta fatores preventivos que se aplicam a todas as faixas etárias, como o estímulo à escolaridade e à atividade física, o controle de hipertensão e diabete, evitar abuso de álcool, boa alimentação e estímulos cognitivos. “São mudanças de comportamento, atitude e estímulos que fazem a gente ter uma vida mais saudável e envelhecer com o cérebro mais saudável possível”, ressalta Karolina.

FONTE: Jornal da USP

Caramboxina, substância neurotóxica da carambola é sintetizada por pesquisadores da USP

A caramboxina traz problemas graves a pacientes com problemas renais. Síntese da substância vai ajudar na melhor compreensão da toxina e do uso da fruta em produtos alimentícios, além de inspirar novas terapias e drogas para doenças neurológicas.

Pesquisadores do campus de Ribeirão Preto da USP realizaram a síntese da molécula caramboxina, uma toxina presente na carambola que é prejudicial a pessoas com problemas renais. O feito deve permitir uma maior compreensão da atividade neurotóxica da substância e poderá ajudar no controle da caramboxina em produtos industrializados à base de carambola (doces e sucos), além de “inspirar o desenvolvimento de novos tratamentos e medicamentos para doenças neurológicas”, aponta o professor Giuliano Cesar Clososki, do Departamento de Ciências BioMoleculares da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

O processo de sintetização da molécula da caramboxina foi realizado durante o mestrado do pesquisador Franco Caires, do programa de Pós-Graduação em Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, que trabalhou sob orientação do professor Clososki. A pesquisa Estudo visando a síntese da caramboxina, uma toxina isolada de Averrhoa carambola, foi apresentado em 2019, na FCFRP.

Anteriormente, a caramboxina já havia sido isolada e caracterizada pelos pesquisadores Norberto Peporine Lopes e Norberto Garcia-Cairasco, da FCFRP e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, respectivamente, em um projeto que contou com a colaboração de outros pesquisadores da USP.  O feito foi destaque em uma matéria publicada na Agência USP de Notícias, em dezembro de 2013.

Por que sintetizar?

A inviabilidade econômica da obtenção in natura da caramboxina diretamente da carambola explica o caminho escolhido por Caires e Clososki. São “necessários muitos quilos do fruto para isolar apenas alguns miligramas da toxina”, dizem os pesquisadores. Eles contam que utilizaram a síntese orgânica, uma das principais áreas de pesquisa da química orgânica, para a obtenção da via sintética da molécula. E apontam que desejam continuar os estudos farmacológicos sobre os efeitos neurotóxicos da substância.

Caires relata que eles avaliaram várias possibilidades de obtenção da toxina, por meio do produto natural, mas optaram pelo “processo sintético que usa materiais de partida amplamente disponíveis e que se mostrou altamente eficiente e reprodutível em diferentes escalas”. Ao explicar o trabalho desenvolvido, o professor Clososki diz que a sintetização de um produto natural, como a caramboxina, passa pela “etapa de planejamento sintético”, em que os químicos avaliam detalhadamente a estrutura molecular, suas particularidades estruturais e determinam cada nova ligação química, ou seja, “como cada parte da molécula poderia ser conectada, para preparação da toxina”.

Histórico e efeitos da caramboxina

As investigações sobre a caramboxina começaram no final da década de 1990, conta o médico Miguel Moysés Neto, da Divisão de Nefrologia da FMRP. Segundo Neto, na época, houve casos de pacientes, especialmente em diálise, que comeram carambola e apresentaram quadros de soluços que “se mantinham o dia todo, às vezes, mais de um dia”. Além dos soluços, apresentavam também confusão mental, coma e quadros graves de convulsão que levaram alguns pacientes a óbito.

O médico explica que em pessoas sem doenças renais que consomem a carambola a caramboxina é eliminada normalmente, sem causar problema. Mas “se os rins não funcionam”, a caramboxina se acumula no sangue, “penetra na barreira do cérebro e se deposita em centros vitais, em regiões responsáveis pela consciência, centros cardiorrespiratórios e também provoca excitação cerebral suficiente, às vezes, para provocar convulsões de difícil controle”, informa Moysés Neto.

Mais informações: e-mail gclososki@usp.br

Por Vitória Pierri

FONTE: Jornal da USP