Mães são maioria entre cuidadoras de pacientes com doenças raras

Pesquisa Nacional dos Cuidadores de Pacientes Raros no Brasil mostra que as mães representam 81% das cuidadoras de pacientes com doenças raras. Desse percentual, 78% acompanham o paciente 24 horas por dia e 46% tiveram de pedir demissão do emprego para cuidar do paciente. Outro dado é que 65% dessas mães dizem não sentir-se plenamente reconhecidas pelo trabalho como cuidadora.

O estudo foi encomendado pela Casa Hunter, entidade sem fins lucrativos que promove assistência aos portadores de doenças genéticas, com apoio da Federação Brasileira das Associações de Doenças Raras (Febrararas).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), doenças raras acometem até 65 pessoas para cada grupo de 100 mil, ou seja: 1,3 a cada 2 mil indivíduos. No Brasil, há 13 milhões de pessoas com doenças raras.

O neuropediatra, Ciro Matsui, médico colaborador do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital das Clínicas e membro do Departamento Científico de Doenças Neuromusculares da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, explica que isoladas as enfermidades são consideradas raras, mas em conjunto chegam a 7 mil doenças.

“O diagnóstico depende de qual a doença em questão. Muitas delas vão acometer crianças, mas algumas tem início na idade adulta. A maioria tem uma origem genética, mas não de maneira obrigatória”.

Atualmente, o teste do pezinho diagnostica apenas 6 doenças raras, dentre as 7 mil existentes – Edilson Rodrigues/Agência Senado

O teste do pezinho, exame feito a partir do sangue coletado do calcanhar do bebê logo após o nascimento, diagnostica apenas seis doenças raras. O exame é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todas as maternidades do País.

“As doenças apontadas no teste do pezinho são consideradas doenças raras, mas o teste do pezinho não diagnostica todas as doenças raras, apenas seis hoje. Há lei aprovada para ampliação do número de doenças pesquisadas ”, completa o especialista.

Em 2021, o Governo Federal ampliou para 50 o número de doenças detectadas pelo Teste do Pezinho, por meio da Lei nº 14.154 de 26 de maio de 2021.

Iris

A estudante Iris Giuliani Oliveira Assis, de 17 anos, é uma paciente com doença rara. Ela foi diagnosticada com com atrofia muscular espinhal (AME), do tipo intermediário, quando tinha 1 ano e 8 meses. “Foi um diagnóstico bem difícil”, conta Aline Giuliane, mãe da Iris.

Aline largou a carreira para cuidar da filha Iris, que tem Atrofia Muscular Espinhal – Arquivo pessoal

“A AME é uma doença rara, genética, neuromuscular, altamente incapacitante, é uma doença bastante séria e foi um processo bem complexo quando a gente recebeu o diagnóstico dela. A médica que diagnosticou não nos deu nenhuma esperança. Então foi um processo bastante traumático”, relembra.

Com a demanda de cuidados que a bebê precisava, a mãe Aline, que tinha 24 anos na época, abandonou a carreira para cuidar exclusivamente da filha: “A decisão de parar de trabalhar foi muito difícil, eu tinha acabado de me formar em artes e tinha o sonho de abrir um espaço cultural com duas amigas. Mas me vi numa situação muito complicada, porque, além de a Iris adoecer muito, ela passou por várias internações, então muitas vezes eu saía correndo de lá para poder acudir, então eu não conseguia me dedicar, para mim foi muito difícil porque eu sempre gostei de trabalhar e era muito motivada”.

A responsabilidade dos cuidadores é grande. A pesquisa mostra que 92% acompanham o paciente em consultas, escola e outras atividades externas; 80% alimentam o paciente; 73% realizam a higiene pessoal do paciente; 70% o auxiliam a se vestir; 58% levam ao banheiro e 48% ajudam o paciente a se locomover.

“A maioria das doenças raras são progressivas, degenerativas e multissistêmicas. Por isso, as pessoas que têm doenças raras são afetadas de maneira ampla, o que leva, muitas vezes, à deficiência física ou problemas que impactam diariamente a vida desses pacientes. Assim, o cuidador se torna responsável por essa pessoa quase que integralmente, dependendo da situação e do comprometimento do paciente”, explica Antoine Daher, presidente da Casa Hunter e da Febrararas.

Ou seja, dedicação exclusiva, como relata Aline. “Cuidar da Iris foi uma decisão que eu não tinha muito como optar. Era ou seguir com minha vida ou cuidar da minha filha, então cuidar dela era muito mais importante”.

Presença paterna

A pesquisa também tratou da participação do pai no auxílio dos cuidados de pessoas com doenças raras: 78% das mães afirmam receber ajuda financeira do pai do paciente, 72% vivem com o pai do paciente e 64% das mães afirmam receber apoio emocional do pai do paciente.

O apoio financeiro, no caso da família da Iris, foi do marido e pai da criança.

“O Ricardo [Porva] é atleta profissional de skate. Na época do diagnóstico, ele estava no auge da carreira, viajava muito e era ele quem trazia o maior sustento da casa, então parei de trabalhar, larguei todos os meus sonhos para cuidar da Íris. Ela adoecia muito na época, foi bem difícil quando ela era pequena. Então eu me dediquei exclusivamente aos cuidados com ela”, conta Aline.

Há cerca de cinco anos Aline voltou a trabalhar. Hoje, ela é ativista e fundadora do VivaIris, instituto em Uberlândia (MG) que nasceu com o propósito de ajudar a mudar a vida das crianças portadoras de desordens neurológicas ou motoras, por meio de espaço com terapias integradas e outros projetos de alcance social para famílias com crianças portadoras destas doenças.

“Hoje eu consigo conciliar os cuidados com a minha profissão, porque o pai da Iris hoje está muito presente e ajuda nos cuidados com ela. Quando ela estava com 12 anos, o Ricardo começou a diminuir as viagens e pode ficar mais em casa e atuar mais nos cuidados dela. Ela também já vai fazer 18 anos, está uma adolescente bastante independente no que é possível. Na maior parte do tempo em que ela está na escola ou na terapia, eu consigo trabalhar”.

De acordo com a pesquisa, entre as cuidadoras, 63% perdem ao menos um dia de trabalho no mês em função do cuidado ao paciente; 75% sentem menos disposição para desempenhar seu trabalho; 44% recebem ligações diárias durante o trabalho sobre o paciente; 97% se preocupam com o paciente enquanto estão no trabalho; 73% não tem outra fonte de renda além do trabalho formal; 61% sentem-se insatisfeitas com a qualidade do trabalho que está entregando; 30% recebem algum benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Situação financeira

A pesquisa também abordou a situação financeira das cuidadoras: 65% dizem que o dinheiro não é suficiente e 77% afirmam que as despesas da casa aumentaram após o diagnóstico do paciente. Dentre os entrevistados, 47% têm renda familiar de até dois salários mínimo, 42% têm ensino superior completo, 62% não têm emprego formal e 46% pediram demissão para cuidar do paciente.

Aline conta que, atualmente, a situação está estável, mas diz que já passou por muita dificuldade por conta dos altos custos dos tratamentos da filha Iris. “Hoje a gente está numa classe média, não tem dinheiro sobrando, mas também não nos falta nada para manter uma vida com qualidade, mas nem sempre foi assim. Durante muito tempo passamos muita dificuldade financeira, muita mesmo. Precisamos de auxílio do INSS, que a gente teve muita dificuldade para conseguir, e veio através de uma medida judicial. A Íris demandava muitos cuidados, equipamentos, medicamentos e muita coisa a gente conseguiu via judicial”.

Pesquisa

O presidente da Casa Hunter explica que o objetivo da pesquisa, é levantar dados para auxiliar na construção de políticas públicas voltadas aos cuidadores de pessoas com doenças raras.

“Cientes de que um grande número dos cuidadores abandona suas vidas e os seus empregos para se dedicar apenas aos pacientes, e isso representa também uma perda financeira na família, que, de repente, tem menos renda e mais responsabilidades, precisamos construir políticas públicas que pensem nesses cuidadores que dêem um apoio para essas famílias”, defende Daher.

Autocuidado

Com relação à saúde de cuidadores, a pesquisa mostrou que 60% dizem não ter uma boa noite de sono (sono de qualidade); 68% não realizam atividades de lazer; 74% não realizam qualquer tipo de atividade física; 63% sentem que não tem disposição para concluir as atividades diárias; 82% sentem não ter energia para concluir as atividades que precisam fazer no dia a dia e 79% sentem algum tipo de dor física, assim como Aline.

“Recentemente eu tenho feito atividade física, mas isso depois de um processo muito doloroso, emocional e físico, de sentir muitas dores, muito esgotada. Com muito custo e orientação, consegui me organizar para cuidar de mim”.

Com relação à saúde mental, os pesquisados disseram que 48% sentem ter perdido coisas importantes na vida por conta dos cuidados com o paciente; 68% sentem que não há realmente ninguém que entenda o que está passando; 72% sente-se perdidos ou esquecem de si mesmos por conta dos cuidados; 55% sentem que não conseguem realizar todas as tarefas do dia a dia; 58% dizem ter mais coisas para fazer no dia a dia do que poderia e 66% não tem contato social com outras pessoas, além dos familiares que vivem na mesma residência.

“Essa pesquisa mostrou necessidades de se falar mais da saúde mental do cuidador, que é diretamente afetada pelo fato dessa pessoa ficar sete dias por semana cuidando daquele paciente e se colocando em segundo plano. Mas, de fato, o foco principal aqui é com a construção de políticas públicas que venham a beneficiar não só cuidadores, com também toda a família, como apoio financeiro e reconhecimento”, avalia Daher.

Segundo o presidente da entidade, a Casa Hunter está em diálogo com parlamentares que se engajaram na construção de políticas públicas para beneficiar esses cuidadores.

Políticas públicas

Dentre as políticas públicas em vigor voltadas às pessoas com doenças raras estão a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, a aprovação das Diretrizes para Atenção Integral no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e a ampliação dos incentivos financeiros para a temática. Entre 2019 e 2021, foram repassados mais de R$ 3,8 bilhões para custeio de tratamentos, segundo informações do Ministério da Saúde.

Ainda de acordo com a pasta, atualmente há mais de 20 estabelecimentos de saúde habilitados como Serviços Especializados e Centros de Referência no país para atendimento de pessoas com doenças raras. Esses pacientes também podem receber atendimento e acompanhamento médico, de acordo com cada caso, nas Unidades Básicas de Saúde ou na Atenção Especializada.

Para o neuropediatra Ciro Matsui, as principais dificuldades são o diagnóstico precoce e o alto custo dos tratamentos. “Algumas doenças raras dispõem de tratamento específico, mas ainda são poucas e com perspectiva de aumento do número de tratamentos. As dificuldades do tratamento são o diagnóstico precoce e os custos de determinados tratamentos. É importante aumentar a conscientização sobre as doenças raras para que mais pessoas possam ser diagnosticadas e tratadas” .

Na opinião da Aline, ainda há muito o que se fazer no país para pacientes e seus responsáveis. “Principalmente pelas pessoas com doenças raras, a gente vive ainda um cenário de muito abandono, muita dificuldade no acesso ao diagnóstico, a tratamento, acolhimento, e aconselhamento genético, que é tão importante. Muita coisa precisa acontecer para gente conseguir ter um verdadeiro cuidado para essas pessoas e para essas famílias. A gente que vive com uma doença rara, com uma deficiência, sabe que a todo momento esbarra em alguma barreira, e a gente segue tentando passar por elas”.

FONTE: Agência Brasil

Pitt-Hopkins, estudo analisa tratamento gênico para a síndrome

Um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade da Califórnia San Diego, nos Estados Unidos, estudam atualmente uma mutação no gene TCF4, que causa a Síndrome Pitt-Hopkins.

A Síndrome Pitt-Hopkins é uma desordem de neurodesenvolvimento que tem características de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela tem causa genética e é rara, provocando em seu paciente déficit cognitivo, atraso neuropsicomotor, ausência de fala, crises convulsivas e distúrbios respiratórios. A estimativa é que a síndrome afete uma em cada 30 mil pessoas.

“Todos os pacientes com essa síndrome tem mutação nesse gene. Esse gene também está associado com outras doenças como o transtorno bipolar e a esquizofrenia. É importante lembrar que uma doença genética não é a mesma coisa que dizer que a doença é hereditária. Uma doença hereditária é quando ela é herdada do pai e da mãe. Nesse caso, não é. Os pais não tem mutação do gene, não carregam esse problema genético”, explicou Fabio Papes, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e um dos coordenadores do estudo.

Conhecendo o mecanismo que causa essa condição, os pesquisadores passaram a estudar esse gene TCF4 em laboratório. Para esse estudo eles não utilizaram animais, mas células humanas. “O cérebro de um animal de laboratório não se desenvolve da mesma forma que o cérebro de uma criança portadora dessa síndrome. Isso nos levou então a estudar as células dos próprios pacientes. Essas células foram coletadas, cultivadas em laboratório e transformadas em células-tronco para que então a gente pudesse obter os chamados organóides cerebrais. Organóides são uma mini-versão do cérebro, mas no tubo de ensaio, dentro do laboratório”, explicou.

Fabio Papes, professor do Instituto de Biologia da Unicamp – Fulvia DIPillo/Direitos reservados

Durante essa fase de estudo, Papes e os demais pesquisadores buscaram criar e testar uma terapia gênica que pudesse reverter os efeitos provocados pela mutação no gene TCF4. E, no laboratório, os testes foram promissores.

“A terapia gênica pode ser feita de várias formas. Você pode simplesmente substituir o gene problemático tirando aquele gene por um que funciona de forma apropriada. No caso dessa doença, isso não é possível porque o gene é muito grande. No nosso trabalho, abordamos a terapia gênica de outras duas formas. Em uma delas, introduzimos um terceiro gene dentro das células do indivíduo doente. Todas as nossas células possuem duas cópias de cada gene, inclusive desse gene TF4: uma cópia que herdamos do pai e outra que herdamos da mãe. Nos pacientes com essa síndrome, uma das cópias não funciona direito. Para compensar essa cópia que não funciona muito bem nós, pesquisadores, introduzimos nas células uma terceira cópia, normal, funcional, para compensar pelo gene que dentro das células não funciona muito bem”, observou.

Papes disse que os cientistas também testaram uma outra estratégia em laboratório para tentar reverter os efeitos da mutação: eles utilizaram a técnica chamada CRISPR-Cas9, cujas criadoras ganharam o Prêmio Nobel de Química em 2020. “Nós, pesquisadores, fizemos com que a cópia boa que está presente nas células, a que funciona normalmente, tenha mais atividade”, disse.

Para explicar o que aconteceu nessa estratégia, ele comparou os dois genes com duas velas. “É como se uma pessoa tivesse, em uma célula qualquer, duas velas acesas lá dentro. No paciente com a síndrome, existe só uma velinha acesa. O que fizemos foi fazer com que essa vela, que estava acesa, queimasse duas vezes mais rápido. A atividade do gene passa a ser maior do que o gene normal. Então ele compensaria a falta de atividade do gene que é defeituoso dentro da célula do paciente”, exemplificou.

Ao final dos experimentos, as duas técnicas utilizadas pelos cientistas (a de introdução de um terceiro gene e a do CRISPR) deram resultados semelhantes. “Tudo igualzinho, com o mesmo tipo de resultado. E agora os testes clínicos é que vão determinar qual das duas abordagens será efetiva para ser empregada em pessoas”.

Testes clínicos

Apesar dos resultados promissores em laboratório, a pesquisa ainda precisa passar por novos testes, os chamados testes clínicos, quando passará a ser aplicada em voluntários humanos. Essa etapa, segundo Papes, pode demorar ainda entre cinco ou dez anos para começar a dar resultados. Uma empresa dos Estados Unidos, a Ultragenics, já licenciou o projeto e ficará responsável por essa etapa de estudos, que ainda não tem data para serem iniciados. A previsão é que a fase clínica seja aplicada em diversos países, entre eles, o Brasil.

Em entrevista à Agência Brasil e à Rádio Nacional, o pesquisador disse que os resultados devem ajudar também no tratamento de outros transtornos tais como a esquizofrenia, o estresse pós-traumático e o transtorno bipolar. “Pacientes dessas outras enfermidades possuem mutações no mesmo gene e, eventualmente, poderão ser beneficiados da mesma terapia”, falou.

Terapia gênica no Brasil

terapia gênica começou a ser aplicada no Brasil em fevereiro deste ano, contra a leucemia, quando foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa terapia pode custar até 475 mil dólares. No câmbio atual, isso equivaleria a mais de R$ 2 milhões. Mas, segundo Papes, até que o estudo esteja concluído, o preço das terapias gênicas devem custar bem menos. Ele espera também que esse tipo de tratamento possa ser utilizado no Sistema Único de Saúde (SUS).

O estudo foi publicado na revista Nature Communications e é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

FONTE: Agência Brasil

Talassemia: saiba o que é e a importância do diagnóstico precoce

Dia 08 de maio foi o Dia Internacional da Talassemia, um tipo de anemia hereditária. A data reforça a divulgação de informações sobre a doença, diagnóstico precoce e conscientização da população.

Segundo o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o atendimento integral, desde o diagnóstico, monitoramento e o transplante de medula óssea quando indicado.

De acordo com dados da pasta, até abril deste ano, já foram registrados 930 pacientes com a doença no Brasil. Entre os pacientes, quase 36% tem entre 20 e 39 anos. Ao todo, foram mapeados 137 Serviços de Atenção Especializada em Talassemias em todo o Brasil.

Talassemia

As talassemias são um grupo de doenças hereditárias crônicas que se caracterizam pela redução ou ausência de hemoglobina – substância dos glóbulos vermelhos do sangue responsável pelo transporte de oxigênio para todo o corpo. Pessoas acometidas pelo problema possuem uma variabilidade de sintomas, como anemia persistente, aparência pálida, aumento do baço, distúrbios cardíacos e endócrinos, atraso no crescimento e na maturação sexual, além de infecções recorrentes.

Tratamento

Em geral, o tratamento e acompanhamento desses pacientes são realizados pela Rede Nacional de Hematologia e Hemoterapia (Hemorrede), integrada pelos hemocentros coordenadores estaduais e suas respectivas hemorredes regionais. Nos locais em que o tratamento não é oferecido na hemorrede, os estados instituem outros serviços de referência para esse tratamento especializado, necessário para evitar complicações da doença, que em casos mais graves pode implicar, inclusive, em transplantes de medula óssea.

O diagnóstico precoce da doença é fundamental. Os pacientes com o tipo de talassemia com anemia grave necessitam de transfusões de sangue de forma regular, geralmente a cada 20 dias, em média, para sempre, desde os primeiros dias de vida.

O Ministério da Saúde publicou materiais técnicos para padronizar o atendimento e orientar os profissionais de saúde no tratamento das pessoas com a doença, como o Manual de Orientações para o Diagnóstico e Tratamento das Talassemias Beta, Caderneta da Pessoa com Talassemia e Folder Talassemias.

FONTE: Agência Brasil

Estudo identifica substância que pode conter avanço de Parkinson

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram substância capaz de barrar o avanço da doença de Parkinson. A AG-490, constituída à base da molécula tirfostina, foi testada em camundongos e impediu 60% da morte celular. Ela inibiu um dos canais de entrada de cálcio nas células do cérebro, um dos mecanismos pelos quais a doença causa a morte de neurônios. Não há cura para o Parkinson, apenas controle dos sintomas. 

“Estamos sugerindo que é esse composto que pode um dia, depois de muita pesquisa, que inclusive estamos continuando, ser usado na medicina humana”, explica o professor Luiz Roberto Britto, que coordena o projeto em conjunto com pesquisadores do Instituto de Química da USP e da Universidade de Toronto, no Canadá. Os resultados foram publicados na revista Molecular Neurobiology.

A doença de Parkinson é caracterizada pela morte precoce ou degeneração das células da região responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor. A ausência ou diminuição da dopamina afeta o sistema motor, causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. A doença pode provocar também alterações gastrointestinais, respiratórias e psiquiátricas.

“A doença é progressiva, os neurônios continuam morrendo, esse é o grande problema. Morrem no começo 10%, depois 20%, mais um pouco, aliás o diagnóstico só é feito praticamente quando morrem mais de 60% naquela região específica do cérebro”, explica Britto. A identificação dessa substância pode estabilizar a doença em certo nível. “Não seria ainda a cura, mas seria, pelo menos, impedir que ela avance ao longo dos anos e fique cada vez mais complicado. O indivíduo acaba morrendo depois por complicações desses quadros.”

Substância

Britto explica que a AG-490 é uma substância sintética já conhecida da bioquímica. A inspiração para o trabalho veio de um modelo aplicado no Canadá, que mostrou que a substância teve efeito protetor em AVC, também em estudos com animais. Ele acrescenta que não são conhecidos ao certo os mecanismos que causam a doença, mas há alguns que favorecem a morte de neurônios. “Acúmulo de radicais livres, inflamação no sistema nervoso, erros em algumas proteínas e excesso de entrada de cálcio nas células”, cita.

O estudo, portanto, começou a investigar esse canal de entrada de cálcio que se chama TRPM2. Pode-se concluir, com a pesquisa, que quando o canal é bloqueado, a degeneração de neurônios, especificamente nas regiões onde eles são mortos pela doença, diminuiu bastante. “A ideia é que, talvez, se bloquearmos esses canais com a substância, ou outras que apareçam, poderemos conseguir, pelo menos, evitar a progressão da doença depois que ela se instala”, diz o pesquisador.

As análises seguem e agora um dos primeiros passos é saber como a substância se comporta com uma aplicação posterior à toxina que induz à doença. Britto explica que no modelo utilizado, a toxina e o composto foram aplicados quase simultaneamente. Os pesquisadores querem saber ainda se o composto administrado dias depois da toxina levará à proteção dos neurônios.

“Outra coisa que a gente precisa fazer, e já conseguiu os animais para isso, é usar um modelo de camundongo geneticamente modificado, que não tem esse canal TRTM2. Esperamos que os animais que não têm, geneticamente, esses canais para cálcio, sejam teoricamente mais resistentes a esse modelo de doença de Parkinson”, acrescenta.

Também será necessário avaliar possíveis efeitos colaterais. “Esses canais de cálcio estão em muitos lugares do sistema nervoso e fora do sistema nervoso também. Bloqueando os canais, pode ser que se tenha alguma repercussão em outros lugares. Precisamos avaliar isso”. As análises seguem com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

FONTE: Agência Brasil

Membrana amniótica pode ser utilizada para recuperação de tecidos e acelerar cicatrização

https://blog.50maissaude.com.br/wp-content/uploads/2022/05/USO-DE-MEMBRANA-DE-PLASCENTA-EM-QUEIMADOS_PROFo_ANDRE-PAGGIARIO_Ao-Vivo.mp3?_=1

Tecnologia envolvendo a membrana amniótica, uma camada da placenta, foi liberada no Brasil no final de 2021 e é eficiente no tratamento de queimaduras e feridas. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição,  André Paggiaro, diretor do Banco de Tecidos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, examina a aplicação da técnica e os seus resultados.

Ele indica que “a membrana amniótica já é utilizada internacionalmente há bastante tempo, ela foi liberada para uso no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina no final do ano passado. No banco de tecidos do HC (Hospital das Clínicas da USP), a gente já vinha usando e até hoje vem utilizando como um projeto de pesquisa. Apesar de estar liberada pelo Conselho Federal de Medicina, ela ainda não é completamente regulamentada pelo Sistema Nacional de Transplante”.

A membrana amniótica é a camada mais interna da placenta. “É uma camada bem fininha, que produz o líquido amniótico, esse líquido tem muitos fatores de crescimento que estimulam a cicatrização, melhoram a cicatrização e fazem com que as cicatrizes praticamente desapareçam. Essa membrana é muito rica nesses fatores, por isso se descobriu que, quando ela for utilizada para tratamento de feridas ou de queimaduras, pode estimular com que essa cicatrização aconteça mais rapidamente”, comenta Paggiaro.

Para que a membrana amniótica seja utilizada em pesquisas e tratamentos, é necessária a autorização. Antes do parto, a doadora é selecionada e passa por uma bateria de exames que buscam identificar a presença de doenças infectocontagiosas. O médico aponta: “Depois de assegurado que a paciente não tem essas doenças e que não vai trazer risco para o receptor, uma enfermeira realiza toda essa triagem, conversa com a mãe e solicita autorização para ver se ela concorda ou não em doar a sua membrana amniótica.”

O processo de retirada da placenta é chamado de dequitação e acontece logo após o parto. Ela é removida e, a partir de um processo manual, a membrana amniótica é extraída pelos médicos. Após o procedimento, a membrana é levada para o banco de tecidos para ser preparada.

Aplicação da tecnologia

De acordo com Paggiaro, a membrana amniótica é especialmente interessante para queimaduras de segundo grau que tenham a destruição de toda a epiderme e de parte da derme: “Essa membrana vai estimular a cicatrização dessa ferida e estimular que as próprias células do indivíduo se multipliquem, se reproduzam e tenham a formação de uma nova pele. Ela também pode ser utilizada para aqueles pacientes que têm feridas crônicas, uma ferida crônica provocada pelo diabete, provocada por úlceras venosas ou de outras causas.”

Muitas vezes as feridas ficam estagnadas e não cicatrizam. “A membrana amniótica vai funcionar como um choque quando você aplica no leito. Ela vai liberar uma série de fatores inflamatórios e esses fatores inflamatórios vão agir na ferida, reduzir a inflamação local e os fatores de crescimento vão chamar novas células que vão estimular o processo de cicatrização. Ela vai servir principalmente para queimaduras de segundo grau e feridas crônicas”, ressalta Paggiaro.

Os resultados da técnica mostraram-se surpreendentes. Paggiaro relata: “A gente aplicou, por exemplo, em uma paciente na semana passada, com uma queimadura de segundo grau em face, e em cinco, seis dias, ela já tinha a ferida completamente restaurada, coisa que demoraria dez dias para ter. Então, estamos bem animados com essa nova tecnologia e esperamos que em breve consigamos disponibilizá-la de forma mais abrangente para todo o País.”

FONTE: Jornal da USP

Pessoas que não sentem dor podem ser a chave para novos analgésicos

Análise de mutações genéticas em pessoas insensíveis à dor leva à descoberta de novo alvo para analgésicos. Estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Química e do Instituto de Ciências Biomédicas da USP foi capa da revista Science Signaling. Com base nessa ideia, pesquisadores liderados pela professora Deborah Schechtman, do departamento de Bioquímica do Instituto de Química (IQ) da USP, analisaram mutações genéticas em pacientes com insensibilidade congênita à dor com anidrose (CIPA) e identificaram proteínas modificadas que impedem a transmissão do impulso doloroso. A partir dos dados obtidos, eles desenvolveram um peptídeo, o TAT-pQYP, que apresentou efeito analgésico em um modelo animal de dor inflamatória. Os resultados foram publicados como matéria de capa da revista Science Signaling.

“Pessoas que têm mutações no receptor do fator de crescimento neural (NGF) não sentem dor. Fizemos um estudo detalhado das mutações descritas na literatura para essa doença e modelamos os efeitos das diferentes mutações encontradas em pacientes. Ao entender o que acontece com pessoas que não sentem dor, podemos mimetizar essa situação para tratar quem sente dor e também tentar uma inibição mais específica para algum processo, evitando efeitos colaterais,” afirma a professora Débora Schechtman.

Especialista em dor e coautora do estudo, a professora Camila Squarzoni Dale, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, explica que “os analgésicos usados hoje para dor crônica são moduladores da neurotransmissão, no caso dos antidepressivos e dos anticonvulsivantes, ou moduladores da resposta inflamatória, no caso dos anti-inflamatórios. Nosso peptídeo é diferente, ele modula diretamente uma via de dor. Nossa intenção é modificar como o cérebro interpreta a dor, modificando como os impulsos dolorosos vão entrar no sistema nervoso”.

Cerca de 10% da população adulta mundial é portadora de dor crônica. Nos Estados Unidos, para cerca de 7% das pessoas a dor crônica é incapacitante. “O que é impactante é que esses números superam o total de diabéticos ou de pessoas com doenças cardíacas ou mesmo de pessoas com câncer”, afirma a pesquisadora. A dor crônica já é um problema de saúde pública, tornando a busca por novos analgésicos cada vez mais urgente. Em pacientes com dores crônicas, a modificação e deterioração das vias nociceptivas, que transmitem os estímulos dolorosos, faz com que os remédios muitas vezes não funcionem adequadamente, ou ainda percam efeito com o tempo. Além disso, alguns países têm enfrentado a chamada epidemia de opioides, que já levou a mais de 500 mil mortes por overdose nos últimos 20 anos só nos Estados Unidos. Embora analgésicos opioides sejam indicados principalmente para alivio de dor aguda, como a dor pós-operatória, eles podem causar vício e têm efeitos colaterais.

Caminhos da dor

A insensibilidade congênita à dor com anidrose (CIPA) é uma doença autossômica recessiva rara que tem como principais sintomas a falta de percepção da dor sensorial e a incapacidade de suar. Como a dor física tem função protetora, sendo fundamental para nossa sobrevivência, é comum que pessoas com essa doença morram na infância, por lesões ou doenças não percebidas.

Como explica Déborah, pacientes com CIPA têm mutações no gene NTRK1, que codifica o receptor de tropomiosina quinase (TrkA), afetando a expressão e/ou atividade desse receptor. Um dos principais fatores que levam à doença é a perda de função do TrkA, que é ativado pelo fator de crescimento neural (NGF). A dor inflamatória se inicia com a liberação do NGF, que ativa o TrkA nos neurônios sensoriais periféricos, seguida da despolarização neuronal, atingindo o Sistema Nervoso Central (SNC).

Níveis de NGF elevados são encontrados em diversas condições de dor, como artrite reumatóide, endometriose e dores de cabeça crônicas. Anticorpos bloqueadores de NGF têm sido usados para tratar a dor da osteoartrite em humanos, mas eles apresentam efeitos colaterais como osteonecrose, que é a morte de um segmento de osso. Segundo os pesquisadores, isso pode acontecer devido à inibição da remodelação óssea, uma vez que a sinalização de NGF é necessária para o ‘brotamento’ (sprouting) e sobrevivência de fibras nervosas simpáticas durante a formação óssea. Igualmente, foram desenvolvidos inibidores do domínio quinase do receptor TrkA, mas, por não serem seletivos, também apresentam efeitos colaterais. “Se você inibe completamente a atividade de quinase, você também vai impedir o crescimento dos neuritos e o remodelamento dos neurônios”, explica Deborah.

As mutações ligadas à CIPA estão espalhadas pelo gene, resultando em sintomas variados da doença. A maior parte delas, no entanto, está concentrada no domínio de quinase. Para obter informações sobre o impacto na função da proteína e na sinalização, os pesquisadores mapearam as alterações moleculares causadas pelas mutações numa estrutura em 3D do TrkA. Com esse estudo de modelagem molecular, realizado em parceria com o grupo do professor Paulo de Oliveira, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), e análise bioquímica, realizada pelo grupo de Deborah, eles identificaram mutações que diminuem a interação entre o receptor TrkA e um de seus substratos, a fosfolipase C gama (PLC). Esta fosfolipase está envolvida na ativação de canais iônicos, que são como condutores elétricos na membrana celular, possibilitando a comunicação no sistema neural.

A partir dos dados obtidos, eles desenharam um peptídeo permeável à célula, baseado na região de ancoragem da fosfolipase C no receptor TrkA. O peptídeo foi testado em células, nas quais inibiu a ligação entre TrkA e PLC e reduziu a ativação de PLC mediada pelo fator de crescimento neural (NGF). O passo seguinte foi testar em um modelo animal de dor inflamatória para confirmar o papel da PLC na sinalização celular da dor e a eficácia do peptídeo. “Vimos que o peptídio reverte a dor nos animais provocada por estímulos mecânicos e térmicos, por um período prolongado. Temos um peptídeo que modula uma das vias mediada pelo NGF e pode funcionar para dor tanto aguda quanto crônica”, disse Dale.

O peptídeo potencialmente terá menos efeitos colaterais. “Mostramos que o peptídeo inibe a fosforilação da fosfolipase C, mas não inibe toda a sinalização mediada pelo NGF. Dessa maneira, ele inibe pontualmente uma via da dor”, afirmou Deborah, acrescentando que “o peptídeo pode ser um lead para um fármaco. Um bom alvo de droga pode modular a atividade enzimática ou uma interação proteína-proteína, como é o nosso caso”. Os pesquisadores agora estão trabalhando para resolver a estrutura do complexo TrkA/PLC.

Outro objetivo é encontrar a melhor formulação terapêutica do peptídeo. “Nossa intenção é dividir esse trabalho com a indústria farmacêutica, para podermos desenvolver um produto. Como ele é uma molécula pequena, acreditamos que possa ser usado em formulações como pomadas, em apresentações tópicas, para ser absorvido pela pele. Achamos que ele vai ter uma eficácia diferenciada em termos de efeito para a dor”, conclui Dale.

O estudo contou com colaboradores das áreas de modelagem molecular, biologia celular e experts em dor e foi realizado no âmbito de um Projeto Temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O artigo Structural analysis of TrkA mutations in patients with congenital insensitivity to pain reveals PLCγ as an analgesic drug target pode ser lido aqui.

Texto: da assessoria de comunicação do ICB

FONTE: Jornal da USP

Começam a nascer os primeiros bebês de casais homoafetivos formados por homens

Após a atualização dos critérios de reprodução assistida no Brasil, ocorrida em julho do ano passado, começam a nascer os primeiros bebês de casais homoafetivos formados por homens.

Isso só foi possível graças à aprovação da Resolução 2.294/2021 , do Conselho Federal de Medicina (CFM), que desde a publicação, em julho de 2021 que permite o uso de óvulos de parentes, de até quarto grau, para gerar bebês por meio de reprodução assistida.

Os primeiros bebês a serem concebidos depois da publicação da norma são os gêmeos Marc e Maia, filhos do casal Robert e Gustavo. As crianças, que estão com dois meses de vida, são o motivo da alegria dos pais.

“É um prazer gigantesco, tem sido o momento mais especial da nossa vida. Tem momentos de desespero também: na hora que os dois começam a chorar e às vezes a gente não sabe o que fazer, aí tenta uma coisa, tenta outra, dá o leite, troca fralda, até conseguir alinhar. Mas tirando isso, é uma rotina muito animada, é muito gostoso”, diz o engenheiro Gustavo Catunda de Rezende.

O casal usou o material genético de Robert, o óvulo da irmã de Gustavo e o ventre da prima de Gustavo, que carregou os gêmeos durante as 35 semanas de gestação.

A relação com a prima continua o mesmo. “A gente se fala praticamente todos os dias. Infelizmente a gente mudou para São Paulo, ela está em Brasília. Mas em breve ela deve vir visitar a gente, visitar os bebês. É um prazer gigantesco, mas é sempre bom lembrar que barriga solidária não configura mudança em arranjo familiar. Então a relação dela com os meus filhos é a mesma se tivesse nascido do meu próprio útero, então ela é tia ou prima dos bebês, como elas preferirem”, disse Gustavo.

O casal de engenheiros e criadores de conteúdo montou no Instagram o perfil @2depais para compartilhar todo o processo de fertilização in vitro, gestação, parto e os melhores momentos da vida de Marc e Maya.

Mudança

Antes da atualização desta resolução, só era permitido aos casais homoafetivos do sexo feminino a gestação compartilhada, onde uma das mulheres captava os óvulos e a outra gestava, com espermatozoides doados. “Na resolução de 2021 entrou o entendimento de que casais do sexo masculino tem essa total liberdade. Mas, no caso do casal masculino, não pode ser embriões provenientes de espermatozoides de um e de outro, tem que ser de um ou de outro, porque a carga genética precisa ser conhecida”, explica a médica especialista em reprodução assistida na Huntington Medicina Reprodutiva, Thais Domingues.

A resolução diz que “Na eventualidade de embriões formados de doadores distintos, a transferência embrionária deverá ser realizada com embriões de uma única origem para a segurança da prole e rastreabilidade”.

Avanço

Membro da Câmara Técnica do CFM que se dedica ao tema da reprodução assistida e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, o médico Adelino Amaral Silva, especialista em Reprodução Humana Assistida pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), considera a atualização da resolução um avanço.

Casais gays podem ter bebês com material genético dos dois pais – Arquivo pessoal

“A resolução veio acompanhar a evolução dos modelos de família. A união homoafetiva já é uma entidade reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, é totalmente legal. O CFM tinha realmente que legislar em prol desses casais. Isso foi uma proposta que saiu da câmara técnica de maneira que você não descrimine, que inclua e assim tenham direito a fazer a sua família. Eu considero um avanço. Nos últimos dez anos o conselho vem sempre na vanguarda para aperfeiçoar as suas resoluções de acordo com a evolução dos modelos familiares e evolução do perfil sociológico”, afirma o médico.

Procedimento

Existem cinco técnicas de reprodução assistida, entre elas a fertilização in vitro (FIV), opção utilizada para os casais homoafetivos. A FIV segue as seguintes etapas: cerca de dez dias depois da menstruação é feita uma medicação subcutânea, que é uma injeção na barriga para fazer os folículos crescerem, chamada estimulação ovariana.

“Então no último dia, que seria perto do dia ovulatório normal da mulher, a gente retira os óvulos por via vaginal e esses óvulos são fertilizados com sêmen de doador, no caso do casal do sexo feminino, e depois de cinco dias são formados os blastócitos [células primordiais do embrião]. Se não tiver indicação de congelamento, eles podem ser introduzidos já na mulher, que pode ser tanto naquela que retirou os óvulos, quanto na outra, se ela tiver feito o preparo do útero para receber os embriões”, explica a médica.

Para os casais homoafetivos formados por homens, quem faz essa retirada de óvulos é uma doadora. Já a gestante de substituição deve pertencer à família de um dos parceiros em grau de parentesco consanguíneo até o quarto grau, desde que não ocorra a consanguinidade. Além desse vínculo, a cedente deve ter pelo menos um filho vivo. No Brasil, não é permitida a “barriga de aluguel”, ou seja, a cessão temporária do útero não pode ter caráter lucrativo.

“Os óvulos podem estar congelados ou pode ser retirado no momento que eles vão colher o sêmen. Os dois podem colher [o sêmen] para fertilizar, mas na hora da transferência só pode fertilizar material de um dos dois homens”, reforça a especialista.

Transgêneros

Outra novidade da resolução é que foi inserido o grupo de transgêneros para tratamento de reprodução assistida. No entanto, a preparação deve ocorrer antes da mudança de sexo, aconselha a médica.

“É extremamente importante, antes de fazer a mudança de sexo, com uso  hormônio e tudo mais, aconselhá-los a congelar tanto o óvulo, quanto o espermatozoide, para no futuro não precisar passar por um desconforto de parada de hormônios para tentar resgatar uma função do órgão reprodutor”.

FONTE: Agência Brasil

Cuidados com a voz passam por uma boa hidratação

Suave, potente, aguda, grave, a voz pode se apresentar de várias formas e intensidades, podendo ser um destaque entre tantas existentes. A voz é tão importante que conta com uma data especial e campanha para sua prevenção e cuidado. Quando bebês, emitimos alguns sons e grunhidos e, conforme vamos crescendo, balbuciamos palavras até aprendermos a falar de forma que todos escutem e entendam o que está sendo dito. Mas, para que isso seja possível, há uma série de órgãos que funcionam em conjunto para que a voz seja ouvida nitidamente, como explica a fonoaudióloga Kátia Nemr, coordenadora do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Voz da Faculdade de Medicina da USP. “A voz é produzida pelo ar vindo dos pulmões e passa pela laringe, nela encontrando as pregas vocais, que vão vibrar e produzir um som que vai ser modificado pela articulação e pela ressonância.” Se essa engrenagem estiver em equilíbrio, a voz será produzida de forma mais harmônica e a comunicação será mais efetiva.

HidrataçãoAlterações podem ser verificadas, com o passar do tempo, seja por doenças ou mudas vocais, como a adolescência, ou por hábitos inadequados, como o fumo, bebidas alcoólicas, uso de drogas e medicamentos sem prescrição médica. Kátia destaca situações em que fazemos o uso incorreto da voz. “Evitar gritar, pigarrear, falar alto ou por um tempo prolongado em um tom mais alto ou em ambiente com muito ruído, muita poeira, ar condicionado.” Todas essas situações podem danificar sua voz, por esse motivo o ideal é se poupar o máximo possível.

Hidratação é a palavra-chave no cuidado com sua voz. A fonoaudióloga lembra que beber água ao longo do dia ajuda na prevenção de problemas, assim como evitar alimentos que possam favorecer o refluxo gastroesofágico ou laringofaríngeo, cuidar do hábito do sono e ter tempo para o lazer. Também é importante evitar estresse muito intenso, que gere tensão corporal, o que vai interferir na produção da voz e na sua comunicação.

Estados de rouquidão persistentes, por mais de 15 dias, merecem atenção e uma avaliação médica. Exercícios ou técnicas vocais divulgadas na internet podem não fazer bem para a sua voz, já que cada pessoa tem características próprias, assim o ideal é procurar a ajuda de um fonoaudiólogo, que irá fazer o tratamento adequado.

FONTE: Jornal da USP

TDAH/autismo: estudos investigam comportamento e aprendizagem motora de pacientes

Os transtornos de neurodesenvolvimento são uma das principais causas de distúrbios comportamentais em adultos e crianças. Desatenção, hiperatividade e impulsividade estão entre os sintomas centrais do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), o mais comum na infância. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) também afeta a comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação. Estudos mostram que anormalidades neurais podem prejudicar também a aprendizagem motora dos indivíduos. O tema pautou três trabalhos de mestrado defendidos recentemente na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, orientados pelo professor Jorge Alberto de Oliveira.

Autora de um desses trabalhos, Sandra Katayama dos Santos estudou aspectos motores do autismo. Em seu estudo de caso, 22 adultos diagnosticados foram submetidos a testes para averiguar a dominância lateral (preferência pelo lado esquerdo ou direito), a gravidade do transtorno e a habilidade motora manual, com a manipulação e a apreensão de objetos com as mãos. Os voluntários apresentaram valores muito abaixo da normalidade quando comparados a indivíduos típicos nos mesmos testes. A pesquisadora também constatou que, quanto maior a gravidade do transtorno, menor a consistência e a habilidade manual do indivíduo.

Além disso, a pesquisadora também analisou o microssistema dos voluntários, buscando compreender e interpretar suas variáveis de dimensão pessoal, vida institucional e aspectos relacionais. Fatores como o conhecimento dos pais, a forma de lidar com o diagnóstico, a ausência de acompanhamento médico, falta de estimulação e superproteção representam empecilhos no comportamento motor dos indivíduos com TEA, apresentando correlação com resultados menos favoráveis nos testes de habilidade motora.

Já em relação ao Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), o comportamento socioemocional de crianças pode apresentar problemas significativos quando comparado com crianças sem o transtorno. Para analisar o perfil socioemocional dessas crianças, a pesquisadora Daniela Coelho Lastoria de Godoi aplicou questionários a pais/responsáveis e professores de educação física do ensino fundamental II, de uma escola da rede particular de ensino da cidade de São Paulo A partir das respostas, foram identificados 14 escolares com  indicativos de TDAH. A pesquisadora realizou, então, análises descritivas das variáveis e comparativas dos informantes, por meio de métodos estatísticos.

Dentre os maiores entraves apontados pelos dados, destacam-se problemas emocionais e de conduta, hiperatividade e dificuldades de relacionamento com os colegas. A pesquisadora concluiu que as dificuldades dos (as) escolares analisados se encontravam em déficits quando comparadas às normas de referência. Entretanto, o comportamento pró-social, que avalia a empatia e a solidariedade, foi classificado como normal por ambos os grupos de avaliadores.

O estudo aponta para o fato de que habilidades sociais específicas devem ser desenvolvidas nessas crianças, pois sabe-se que prejuízos socioemocionais podem levar à depressão, ansiedade, problemas de alimentação, abuso de substâncias e evasão escolar, entre outros. A pesquisadora sugere que haja um maior entendimento do transtorno, tanto pelos familiares como pelos professores, para que o (a) escolar possa ser acompanhado adequadamente durante seu desenvolvimento.

Revisão da literatura
Se, por um lado, as variáveis pessoais podem afetar o desenvolvimento das habilidades motoras e sociais dos indivíduos com transtornos de neurodesenvolvimento, por outro lado, a manipulação da prática por meio de diferentes estruturas pode representar um aliado na busca por intervenções adequadas. Em sua dissertação de mestrado, Andreza Rodrigues realizou uma revisão integrativa da literatura sobre o tema reunindo e analisando 116 artigos científicos.

A pesquisadora elucida que as estruturas de prática estão diretamente relacionadas à aprendizagem motora, ou seja, ao processo de mudanças no comportamento do indivíduo que leva a execuções cada vez mais eficientes de tarefas motoras. Essas habilidades são adquiridas por meio de práticas que podem ser manipuladas de diferentes maneiras  nas aulas de educação física. Por exemplo, em uma aula direcionada ao trabalho com o fundamento arremesso no basquete, essa prática poderia ser manipulada com variações de posição e distância da cesta.

A pesquisadora relata a correlação entre os acometimentos neurais característicos do TDAH e as áreas cerebrais ativadas em cada estrutura de prática. Porém, em seu levantamento foi constatada uma carência de estudos nesse sentido, sendo que a maior parte dos artigos publicados aborda outros aspectos do desenvolvimento motor ou correlaciona a aprendizagem motora e o TDAH sob diferentes óticas, como, por exemplo, do feedback, dos focos de atenção e do conhecimento de resultados. Assim, considerando os aspectos neurais em comum, a manipulação da prática poderia levar a uma melhora na aprendizagem motora dessa população.

Mais pesquisas no campo dos transtornos neurodesenvolvimentais e aprendizagem motora seriam benéficas não apenas no sentido de promover intervenções mais adequadas, mas também para o melhor entendimento da condição. A pesquisadora Daniela Coelho Lastoria de Godoi destaca a “importância da utilização de instrumentos rastreadores durante os anos escolares para investigar possíveis indicativos de transtornos do neurodesenvolvimento, favorecendo encaminhamentos e intervenções preventivas necessárias”.

Qualificação do profissional de Educação Física

Sandra Katayama ressalta também o papel da qualificação do profissional de Educação Física para o sucesso no atendimento a indivíduos com transtornos neurodesenvolvimentais. Para além da prescrição de atividades, “existem outros elementos envolvidos que influenciam no desenvolvimento motor de autistas, afetando de forma direta o sucesso ou fracasso. Isso se reflete na aquisição ou não de um padrão de movimento para o indivíduo e até na manutenção de uma rotina de atividade física que lhe garanta um estilo de vida saudável”, explica.

Andreza Rodrigues complementa que os professores, apesar de não emitirem diagnósticos, podem apontar indicativos, conversar com os pais e encaminhar aos médicos quando necessário. Por isso, o conhecimento e estudo dos transtornos pelos profissionais de Educação Física são essenciais para a abordagem correta aos indivíduos nessa situação.

Da Assessoria de Comunicação da EEFE

Mais informações: e-mail comunicaeefe@usp.br, na Assessoria de Comunicação da EEFE

FONTE: Jornal da USP

Neuropatias diabéticas podem ser tratadas ou prevenidas com fisioterapia

O Laboratório de Biomecânica e Postura Humana da Faculdade de Medicina da USP desenvolve pesquisa clínica para tratamento de neuropatias diabéticas. O objetivo é utilizar exercícios fisioterápicos para beneficiar pacientes acometidos pela doença e que sentem os sintomas, principalmente, nos pés e tornozelos. Segundo especialista, as neuropatias acometem cerca de 50% das pessoas diabéticas por volta de dez anos após o diagnóstico. O estudo é gratuito e abrange a faixa etária dos 18 aos 70 anos.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Isabel Sacco, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), explica que as neuropatias diabéticas decorrem da flutuação de glicemia no sangue, ou seja, da oscilação da taxa de açúcar, e prejudica os nervos, geralmente nas extremidades, como pés e mãos. A deterioração dos nervos causa a perda de estímulos táteis, térmicos, causa formigamento, queimação, agulhadas e incômodo. Os pés perdem força e podem, inclusive, apresentar deformações e, “quando dorme, quem tem neuropatia começa a sentir muito calor à noite, não consegue deixar os pés cobertos. Então, se você sente tudo isso, desconfie que pode ter essa neuropatia”.

Antes do estudo, o tratamento mais comum para a neuropatia na região dos pés era a recomendação de uso de calçado especializado para evitar que o pé sofresse algum ferimento. O diabete afeta o processo de cicatrização, portanto, a preocupação primordial é evitar qualquer tipo de úlcera, porque a dificuldade no tratamento da ferida pode levar à amputação. Ao todo o pé tem 25 músculos, 33 articulações e 108 ligamentos. E, dentro de um calçado rígido, o membro pode atrofiar e perder a flexibilidade. Pensando nisso, os pesquisadores viram na fisioterapia uma forma de prevenir a neuropatia, mas também tratar os sintomas. “Os exercícios vão fazer o papel de preservar a saúde desses músculos, dessas articulações, e manter a função, mesmo que a pessoa tenha perda de sensibilidade. No início da doença, é possível prevenir esses tipos de lesões e manter a saúde dos pés”, afirma Isabel.

O projeto atende pessoas diabéticas entre 18 e 70 anos. Os pacientes passam por avaliação completa, são diagnosticados e, se confirmada a neuropatia, são convidados a participar do ensaio clínico. São sorteados para remanejo em dois grupos: os que receberão tratamento e os que não receberão na primeira fase. O grupo a ser tratado terá acompanhamento por oito ou 12 semanas com fisioterapeuta e uma tecnologia de habilitação, que pode ser uma cartilha com orientações ou um software, caso a pessoa tenha acesso a internet. Depois do acompanhamento, a equipe avalia como foi o progresso do tratamento. Para participar, basta entrar em contato pelo e-mail foca.rct@gmail.com ou pelos telefones (11) 98287-9811 ou (11) 98549-2016.

FONTE:  Jornal da USP