Conscientização sobre dermatite atópica

Presente majoritariamente em crianças, a dermatite atópica é a doença de pele mais comum na infância. Segundo Roberto Takaoka, médico da divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HC-FM) da USP e responsável pela organização da exposição, a mostra “foi um pedido dos pacientes porque sentem que não há o conhecimento amplo da doença”. A exibição interativa estará aberta entre hoje (12) e 23 de setembro, no hall de entrada do Instituto Central do HC.

A necessidade de conscientização ao público serve como educação para evitar os casos de bullying e isolamento dos pacientes. Takaoka destaca as causas da doença: “É importante salientar que não é contagioso, é de origem genética”. Além das crianças, a dermatite atópica também acomete pessoas com outras alergias, como a asma, e aqueles em transição da infância para a adolescência.

O médico sinaliza a possibilidade de prevenção do agravamento: “Contato com água quente, sabonete mais forte, bucha. Isso pode começar a causar uma reação mais forte, são fatores desencadeadores”. A parte emocional, como as situações escolares e domiciliares, também deve ser levada em consideração, na opinião dele. “Estresse e ansiedade, isso pode piorar a parte da coceira e piora a [condição da] dermatite”, informa.

Tratamento

A inflamação cutânea deve ser observada por um pediatra e, em casos mais graves, por um dermatologista, sugere Takaoka. O tratamento depende da intensidade da doença, e é “importante ressaltar que se deve evitar os fatores desencadeantes e a parte do controle emocional”, indica ele. Os casos leves, caracterizados por lesões isoladas, devem ser tratados por medicamentos locais, enquanto nos casos fortes são aplicados medicamentos sistêmicos via oral ou injetável.

O médico explica que há um incentivo para o paciente entender o que acontece na sua pele e identificar os fatores desencadeadores: “Tem muita pesquisa sobre novos medicamentos e acho que vamos conseguir um melhor controle dessa doença. Mas nunca esquecer desse apoio emocional, da educação sobre a doença”.

FONTE: Jornal da USP

Nanopartículas podem tratar infecções bacterianas oculares

As nanopartículas dispersas em sistemas lipídicos (de gorduras) e carregadas com antibióticos são usadas para transportar medicamentos e podem aumentar a ação dos fármacos, deixando-os mais eficientes.

As infecções bacterianas são um grave problema de saúde global: afetam desde a expectativa de vida até a produção de alimentos, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Pensando em soluções terapêuticas mais eficazes para infecções bacterianas oculares, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP desenvolvem estudos com nanopartículas à base de lipídios (gorduras) carregadas com antibióticos (LBNs). Essas partículas minúsculas – menores que 500 nanômetros (o equivalente a 5 centímetros divididos por cem mil) – são capazes de levar um medicamento pelo organismo até o local da infecção.

Atualmente, há vários tipos de nanopartículas difundidas no mercado, usadas em medicamentos com diferentes vias de administração, como oral e oftalmológica, para tratar doenças infecciosas, bacterianas e cardiovasculares, inflamações crônicas, transtornos neurológicos e até mesmo câncer. O intuito dos cientistas da USP é melhorar a ação desses fármacos através das vantagens proporcionadas pelo uso das LBNs, como a maior velocidade de absorção do medicamento pelo organismo, com o objetivo de tratar infecções nos olhos causadas por bactérias.

A pesquisadora Mirla Bazan Henostroza, doutoranda no Programa de Fármacos e Medicamentos da FCF, explica ao Jornal da USP que existem vários tipos de nanopartículas: elas podem ser dispersas em meio aquoso orgânico (como no caso de sistemas lipídicos — LBNs — e poliméricos), inorgânicos (como em nanopartículas metálicas) ou híbridos.

Antes de iniciar sua pesquisa de doutorado, Mirla realizou um levantamento dos estudos publicados nos últimos seis anos que mostram o aprimoramento da atividade antimicrobiana desses nanocarreadores em testes in vitro e in vivo. O objetivo era compreender os últimos avanços do uso dessa tecnologia antes de iniciar sua tese.

“O levantamento mostrou que antibióticos nanoestruturados em sistemas lipídicos tiveram uma eficácia, no mínimo, duas vezes maior quando comparados ao antibiótico livre”, conta Mirla. “Nos resultados mais surpreendentes, houve uma melhora até 12 vezes maior na atividade antimicrobiana.”

Os dados foram publicados no artigo Antibiotic-loaded lipid-based nanocarrier: A promising strategy to overcome bacterial infection, disponível desde abril deste ano na revista international Journal of Pharmaceutics.

Entre as vantagens das LBNs, Mirla destaca a maior velocidade de absorção pelo organismo, proteção do medicamento contra a degradação química ou enzimática, maior capacidade de carga e menor toxicidade. Segundo a pesquisadora, as nanopartículas podem ser consideradas como um suplemento dos fármacos que potencializam seus efeitos e uma alternativa promissora para o uso terapêutico de antibióticos devido às suas características superiores em relação aos tratamentos convencionais.

Além de prevenir ou reduzir a toxicidade relacionada à maioria dos antibióticos disponíveis hoje, “os nanocarreadores contribuem para o aumento da solubilidade, o que permite que uma maior quantidade do fármaco esteja disponível em concentrações terapêuticas adequadas para agir contra as bactérias”, explica a pesquisadora. Com a maior eficiência dessas partículas no transporte do medicamento, é possível reduzir até mesmo o número de doses da medicação, o que contribui para uma maior adesão dos pacientes ao tratamento.

Colírio com nanopartículas à base de lipídios

Em seu mestrado, a pesquisadora estudou uma nanoemulsão contendo rifampicina para o tratamento da tuberculose ocular. Atualmente Mirla desenvolve sua tese de doutorado na FCF, sob orientação da professora Nádia Araci Bou Chacra. Os estudos estão focados na preparação e caracterização de nanocarreadores inovadores para o tratamento de infecções oftalmológicas (nos olhos) por meio de colírios. As próximas etapas da tese, que deve ser defendida em meados de 2023, pretendem avaliar a eficácia antimicrobiana dessas nanopartículas lipídicas contendo antibiótico produzidas no laboratório em testes in vitro e in vivo.

Segundo Mirla, a expectativa é de que, no futuro, esses produtos possam ser aprovados pelas agências reguladoras e cheguem ao mercado para uso da população.

Uma estratégia contra as superbactérias

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência bacteriana tem crescido no mundo todo e se tornado um problema de saúde global cada vez mais preocupante. O uso excessivo e a prescrição errônea dos fármacos contribuem para que as bactérias sofram mutações e tornem-se mais resistentes à ação desses antibióticos, o que faz com que doenças infecciosas como pneumonia, tuberculose e gonorreia sejam cada vez mais difíceis de serem tratadas.

Segundo Mirla, a utilização das nanopartículas pode auxiliar no combate à criação de superbactérias. “Os nanocarreadores representam uma das estratégias mais viáveis a curto e a médio prazo para o controle da resistência bacteriana devido ao complexo mecanismo de ação da junção antibiótico-nanopartícula, que pode gerar um aumento da eficácia dos antibióticos existentes atualmente e que, em sua forma livre, não seriam capazes de matar as bactérias resistentes”, finaliza.

Mais informações: e-mail mirlabazan@usp.br, com Mirla Bazan Henostroza

Texto: Pedro Ferreira
Arte: Ana Júlia Maciel

FONTE: Jornal da USP

Médicos propõem mudanças na classificação da obesidade para a valorização da saúde

Médicos propõem mudar a classificação da obesidade e o objetivo é valorizar o impacto do emagrecimento na saúde, priorizando o bem-estar em detrimento da estética. A iniciativa é da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

O médico Márcio Corrêa Mancini, do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, discorre sobre o assunto ao relembrar uma frase do médico e professor, já falecido, Alfredo Halpern. De acordo com este, o ideal é atingir um peso onde as complicações associadas à obesidade são anuladas ou minimizadas.

Mancini aponta que a obesidade é um problema de saúde tratado de forma diferente dos demais: “Quando falamos de tratar diabetes, não falamos de normalizar a glicemia como se fosse um indivíduo que não tem diabetes, falamos de atingir um controle da glicose no sangue para o indivíduo não ter complicações ao longo do tempo.” Além disso, a influência da sociedade na imposição de um padrão estético também atrapalha.

Obesidade controlada

De acordo com o entrevistado, o objetivo da obesidade controlada é perder aproximadamente 10% ou 15% do peso para melhorar a saúde. “Se o indivíduo com 100 quilos passar a ter 90 ou 85, ele não normaliza o peso corporal, mas melhora muito a sua saúde. Ele vai aumentar a expectativa de vida e isso é suficiente, porque ,muitas vezes, com a ideia de normalizar o peso, o paciente se frustra”, menciona.

A normalização do peso corporal está associada ao IMC (Índice de Massa Corporal), que calcula se uma pessoa está acima do peso ao considerar seu peso e altura. No entanto, Mancini comenta que muitas vezes a busca pela normalização pode frustrar o paciente, é um processo longo e os resultados não aparecem de forma rápida. Por isso, controlar a obesidade deve ser o primeiro passo.

Mancini aponta que a obesidade controlada estimula as pessoas a encararem o processo, que é demorado em razão do próprio organismo humano: “Ele tende a se defender da perda de peso. O famoso efeito sanfona não vem do nada, ele vem de forças internas, de substâncias que o organismo produz para impedir a desnutrição. O organismo aceita o ganho de peso com facilidade e não aceita a perda de peso com facilidade.”

A perda de 10% ou 15% do peso é benéfica em um período mais longo. “A vigilância a longo prazo é muito importante para que o paciente não recupere peso. Por menor que seja a perda de peso, mesmo que seja somente 5% a 10%, o paciente não vai perder de uma forma mágica”, indica Mancini, ao ressaltar a importância do acompanhamento.

FONTE: Jornal da USP

Neuromielite óptica, doença ainda sem cura, pode levar à cegueira

De uma hora para a outra, você apresenta problemas de visão, começando a não enxergar direito sem nenhum motivo aparente. Fique muito atento e procure um auxílio médico, pois pode estar com neuromielite óptica, doença rara, autoimune e ainda sem cura. Tarso Adoni, assistente do Departamento de Neurologia e também médico do Ambulatório de Doenças Desmielinizantes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que “essa é uma doença autoimune do sistema nervoso central em que canais de água, chamados aquaporina 4, são atacados por anticorpos produzidos pelo próprio paciente. O aquaporina 4 é fundamental para o funcionamento normal do sistema nervoso central. Quando esse canal é bloqueado pela presença dos anticorpos, existe uma lesão, que acontece principalmente nas estruturas do sistema nervoso central, que são ricas em aquaporina 4, nos nervos ópticos, na medula espinhal e áreas que apresentam contato com o líquor no sistema nervoso central e nos vasos”.

Por ser uma doença autoimune, não se sabe o que a desencadeia. As mulheres são mais afetadas do que os homens pela neuromielite óptica. “De cada nove mulheres, somente um homem desenvolve a lesão, que costuma ser detectada por volta dos 38, 40 anos. Ela é mais comum em afrodescendentes e orientais, embora possa acontecer também em caucasianos”, destaca o neurologista.

Duas características

Essa doença apresenta duas características que se entrelaçam. Ela é mais comum em indivíduos que tenham outras doenças autoimunes. Assim, quem tem neuromielite óptica pode ter mais chances de um diagnóstico de miastenia gravis, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide e síndrome de Sjögren. Ao mesmo tempo, se a pessoa já tem alguma doença autoimune, está mais suscetível a apresentar a neuromielite óptica, que apresenta uma evolução de seus sintomas atingindo não só os olhos, mas outros órgãos, como destaca Adoni.

“Os principais sintomas da neuromielite óptica são: inflamação do nervo óptico, conhecida como neurite óptica, que ocasiona dor ao redor ou atrás do olho, com danos à visão que, em casos graves, pode levar à cegueira. A medula espinhal também pode ser atacada, ocasionando um caso de mielite, ou seja, uma inflamação que pode levar à perda de movimentos, de sensibilidade, uma sensação de aperto no abdome ou no tórax, com dificuldade para urinar e evacuar. Podem ocorrer também inflamações na região do tronco encefálico, ocasionando caracteristicamente soluços, vômitos incoercíveis e vertigens.”

Tratamento

Há tratamentos efetivos, bastante eficazes, que buscam atenuar a resposta imunológica do portador, reduzindo a chance de que ele produza anticorpos que ataquem o seu próprio corpo. Há medicamentos disponíveis na rede pública de saúde que podem controlar boa parte dos problemas. Somente os casos chamados de “refratários”, que não respondem aos remédios disponíveis no SUS, necessitam de  um tratamento mais caro. Não há estudos definitivos sobre a patologia, mas, segundo Adoni, há uma estimativa de 4 mil a 7 mil pessoas com neuromielite óptica em todo o Brasil. Se você apresentar algum dos sintomas já discriminados, procure um neurologista, pois exames específicos irão ajudar em sua identificação, já que ela pode ser confundida com outras doenças.

Por Simone Lemos

FONTE: Jornal da USP

Queda da pálpebra superior dos olhos é doença que pode ser congênita ou adquirida

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Ptose palpebral é um termo médico utilizado para indicar a queda da pálpebra superior, aquela pele que fica em cima dos olhos. Trata-se de uma doença oftalmológica, conhecida também como pálpebra caída, e ocorre tanto de forma congênita como pode ser adquirida ao longo da vida. Em um primeiro momento, pode parecer apenas um problema estético, mas vai muito além disso, porque existe o risco de causar a perda da visão.

O oftalmologista Antônio Augusto Velasco Cruz, professor do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, deixa claro que não se trata de excesso de pele. A doença está relacionada ao músculo que levanta os nervos e  pode ocorrer bilateralmente – nos dois olhos –  ou unilateral, apenas em  um deles.

O professor esclarece também o que é ptose adquirida, aquela que chega com o passar dos anos, e que pode ocorrer por vários motivos e situações.

Sensação de peso

As pálpebras caídas dão a sensação de peso sobre os olhos, cansaço visual, baixa visão por causa da sombra no campo visual. O uso de lentes, alergias ou até questões neurológicas também podem levar à queda dessa pele sobre o olho.

O tratamento da pálpebra caída é feito de forma cirúrgica. Existem várias técnicas cirúrgicas indicadas, de acordo com a causa. Velasco Cruz explica que nunca deve ser usado o botox, já que esse método não resolve o caso.

O oftalmologista explica que, muitas vezes, a cirurgia é confundida com outra doença, que também trata do excesso de pele nos olhos, e explica a diferença entre ptose e dermatocalase. Por outro lado, a recuperação da cirurgia de ptose é muito tranquila, seja ela congênita ou adquirida, requerendo apenas os cuidados pós-cirúrgicos, como qualquer outra.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

Dor crônica pode indicar problemas de saúde mais graves

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O primeiro Consenso Latino-Americano sobre Dor Crônica reuniu especialistas de 14 países da América Latina, com o objetivo de redefinir e discutir os impactos da saúde da população. A médica fisiatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Lin Tchia Yeng, destaca que a dor é um sinal para as áreas de atenção do corpo.

A dor crônica é um problema comum e impacta de diversas formas a qualidade de vida do paciente. Desde incômodos constantes e problemas no sono, até afastamentos no trabalho, a condição é bastante prejudicial e pode indicar problemas de saúde mais graves. O Consenso Latino-Americano foi pensado de forma a aumentar a discussão sobre a dor na formação de médicos e fisioterapeutas, essencial para a identificação do problema no momento do atendimento: “Então, a gente tem que melhorar essa discussão sobre dor, que é fundamental na área da saúde”, completa a médica Lin.

Incômodos crônicos têm diferentes causas e são, geralmente, de origem “musculoesqueléticos”, como destaca Lin. Uma porcentagem de pacientes apresenta dores nas costas e de cabeça, sem mencionar dores decorrentes de incômodos operatórios. No entanto, em alguns casos, a dor pode até ser de origem oncológica, proveniente do desenvolvimento de um câncer. Algumas delas podem até ter causa em movimentos repetitivos e rotineiros, e o home office demonstrou isso com o aumento das queixas de dor.

Diagnóstico e automedicação 

Com o diagnóstico adequado, é possível identificar casos e realizar um tratamento direcionado com os fármacos específicos. Porém, não são todos os remédios disponíveis para dor que são disponibilizados pela “cesta básica do governo”, como os de diabete e hipertensão. Além disso, a médica salienta que algumas dores podem demandar um tratamento por medicação escorado ao suporte emocional, por meio de psicólogos e de terapeutas: “Muitas vezes, as dores pioram com estresse, ansiedade e depressão. Por isso, muitas vezes também precisamos de um psicólogo”, adiciona Lin.

Lin Yeng chama atenção para a questão envolvendo a automedicação e o autotratamento: “Não é bacana fazer automedicação, porque você pode encobrir um sintoma, que é um importante alerta”. E enfatiza dizendo ser importante esperar por um diagnóstico direcionado de um especialista, que pode demandar um tratamento combinado, antes de tomar uma atitude em relação à dor.

FONTE: Jornal da USP

Fibromialgia pode causar depressão

Estima-se que de 2 a 4% da população mundial tenha quadro compatível com a fibromialgia

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O especialista em reumatologia Rodrigo de Oliveira, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, afirma que existem estudos cujos resultados mostram que até metade das pessoas que tem dor crônica pode desenvolver quadros depressivos por ter fortes dores.

Oliveira incentiva pacientes que costumam ter fortes dores com frequência a procurarem ajuda para ver se não é algo mais grave. “Estima-se que de 2 a 4% da população mundial tenha quadro compatível com a fibromialgia, o que pode comprometer a qualidade de vida, pois a doença ocasiona fortes dores, o que afeta o humor”. O médico lembra que a doença não oferece risco de vida aos pacientes, mas é recomendável seguir corretamente o tratamento para diminuir as dores.

O programa Saúde sem Complicações é produzido pela locutora Mel Vieira e pela estagiária Júlia Gracioli, da Rádio USP Ribeirão, com trabalhos técnicos de Mariovaldo Avelino e Luiz Fontana. Apresentação de Mel Vieira e direção de Rosemeire Soares Talamone.  Ouça acima, na íntegra, o programa Saúde sem Complicações com o especialista em reumatologia Rodrigo de Oliveira.

Por  Júlia Gracioli

FONTE: Jornal da USP

Sedentarismo, inatividade física e ansiedade são as principais comorbidades ligadas à asma

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 300 milhões de pessoas sofrem com asma. Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Newcastle (Austrália), registrou, pela primeira vez, as comorbidades ligadas à asma. Dentre elas, inatividade física, sedentarismo e ansiedade se destacam como as principais. Os pesquisadores ainda publicaram outro estudo que aponta a prática regular de exercícios como fator positivo no tratamento da doença.

Cabe ressaltar que, de acordo com os pesquisadores, inatividade física difere de sedentarismo. Enquanto o primeiro termo se caracteriza por uma ausência total de exercícios físicos, o segundo se refere a pessoas que passam grande parte do tempo sentadas.

As conclusões fazem parte dos estudos Identification of asthma phenotypes based on extrapulmonary treatable traits, publicado pelo European Respiratory Journal, e A Behavior Change Intervention Aimed at Increasing Physical Activity Improves Clinical Control in Adults With Asthma: A Randomized Controlled Trial. O trabalho abre perspectivas para o desenvolvimento de tratamentos que não levem em conta apenas a parte respiratória da doença, podendo envolver uma equipe multiprofissional para atingir o bem-estar do paciente.

O estudo é pioneiro em identificar grupos com base em características tratáveis extrapulmonares em pessoas com asma moderada a grave.

“Até hoje, pensava-se que inatividade física e sedentarismo fossem consequências na vida dos asmáticos porque muitos acreditam que a falta de exercícios ajuda a prevenir os ataques, mas descobrimos que é justamente o contrário”, diz ao Jornal da USP o professor Celso Carvalho, líder da pesquisa.

Comorbidades ligadas à asma

Para chegar aos resultados, a pesquisa envolveu 269 pacientes com asma moderada e grave, sendo 243 do Brasil e 53 da Austrália. Os participantes eram, em sua maioria, do sexo feminino, com sobrepeso, baixa atividade física, alto tempo de sedentarismo e leve obstrução das vias aéreas. Dentre os participantes, 68% tinham asma não controlada e 64% experimentaram — pelo menos — uma crise, nos últimos 12 meses.

A partir disso, 15 comorbidades foram identificadas: osteoporose, disfunção das cordas vocais, dislipidemia, doença intestinal, hipotireoidismo, diabete, dermatite, síndrome da apneia obstrutiva do sono, sinusite, comprometimento musculoesquelético, distúrbio psicológico, hipertensão, obesidade, doença do refluxo gastroesofágico e rinite. As seis últimas foram as comorbidades prevalentes.

O estudo mostrou que 98% dos participantes tinham pelo menos uma comorbidade e 50% tinham mais de três delas. Assim, os pesquisadores conseguiram classificá-los em quatro grupos, ou fenótipos.

Fisicamente ativos
25%

 A maioria mulheres, com sobrepeso, que tinha a asma controlada


Moderadamente inativos, obesos e ansiosos
23%

Em sua maioria mulheres, obesas e apresentando sintomas de asma não controlada


Pouco ativos
27,5%

Este grupo tinha menos pacientes do sexo feminino, estavam com sobrepeso, mas um número menor de pacientes obesos. Em sua maioria, apresentam sintomas de asma controlada


Fisicamente inativos, obesos e ansiosos
24%

A obesidade esteve presente em 64% dos participantes, todos eram fisicamente inativos e com alto volume de tempo sedentário. Os participantes apresentaram aumento dos sintomas de ansiedade e depressão. A maioria apresentava asma não controlada mesmo recebendo o tratamento medicamentoso adequado


De maneira geral, o que se viu foi que traços mais elevados de sedentarismo, o sexo feminino, obesidade e sintomas de ansiedade foram associados a maiores chances de risco de crises de asma. O estudo comprovou que a prática regular de atividades físicas é um fator protetor para a hospitalização por asma.

Exercícios físicos como tratamento

No segundo estudo, os cientistas trabalharam com um grupo de 51 pessoas, em sua maioria mulheres obesas, que aceitaram procurar elevar o nível de atividade física durante oito semanas. “Por aumentar a atividade física, estamos falando apenas em caminhar mais. Não foi preciso fazer exercícios físicos nem entrar numa academia”, explica Carvalho ao Jornal da USP. Cada participante recebeu um acelerômetro de pulso para monitorar a quantidade de passos diária.

A pesquisa partiu dos resultados do primeiro estudo para comprovar se uma intervenção para mudança de comportamento dos pacientes adultos com asma moderada a severa, com o objetivo de aumentar a atividade física, alteraria o controle clínico da asma. Os resultados mostraram que o aumento da atividade física serviu para melhorar a qualidade de vida, combater o sedentarismo e reduzir a ansiedade.

Observou-se também a redução das crises de asma e do uso de medicamentos para o controle da doença. A melhora no controle clínico da asma foi estatisticamente significativa e clinicamente importante. “Nossa descoberta foi que os participantes experimentaram menos crises e utilizaram menos corticosteroide oral ao longo do período de intervenção,” conclui Carvalho.

Mais informações: e-mail cscarval@usp.br, com o professor Celso Carvalho

Por Beatriz Azevedo
Arte: Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Frequência de atividades físicas pode ser mais importante do que quantidade

Em um estudo publicado no periódico Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports, cientistas da Universidade Edith Cowan, na Austrália, em parceria com duas universidades japonesas, indicaram que atividades físicas de intensidade moderada, se praticadas diariamente, podem ser benéficas para a força muscular.

Durante o trabalho, pesquisadores analisaram três grupos de participantes. Ao longo de quatro semanas, foram realizados exercícios de resistência do braço em contração excêntrica, ou seja, quando o músculo está se alongando; nesse caso, abaixando um haltere pesado em uma rosca direta. “Um grupo fez 30 contrações em único dia na semana e outro fez as mesmas contrações cinco vezes na semana. Eles observaram que aqueles que dividiram essas contrações ao longo da semana, além do aumento da espessura, tiveram um aumento da força muscular em torno de 10%”, explica Tiago Fernandes, professor e pesquisador da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

Profissional com enfoque em bioquímica e biologia molecular do exercício, Fernandes esclarece que os músculos precisam de descanso para melhorar sua força e sua massa muscular. Por isso, é necessário adotar intervalos entre as atividades físicas para que elas sejam eficazes, pautando-se nos princípios do treinamento físico. “Se a gente fizer todas as repetições uma única vez na semana, o nosso sistema não entende que aquela adaptação vai promover feitos funcionais no nosso organismo. Então, geralmente faz-se um estímulo no organismo numa forma sistêmica. Isso é atrelado a um período de recuperação em que o sistema consegue recuperar, em média de 24 a 48 horas, para gerar um novo estímulo”, aponta.

O pesquisador destaca também que pesquisas como essa são necessárias para compreendermos a importância dos exercícios como fator diretamente relacionado à melhoria da nossa saúde e qualidade de vida. “O exercício físico, realizado ao longo dos anos, é capaz de reduzir diversas condições de doenças, índices de obesidade e, consequentemente, acúmulo no cômodo de gordura nas nossas principais artérias do coração, evitando a instauração de placas de ateroma, o infarto à pessoa e melhorando os níveis de diabete”, conta.

A partir dessa descoberta, será possível aprofundar as investigações relacionadas ao bem-estar e à prática de exercícios como uma atividade diária, em vez de uma meta semanal de uma vez por semana, por exemplo. “Você deve começar a se exercitar hoje, não deixe para amanhã. Qualquer tempo em movimento conta, porque movimento é vida”, conclui o professor.

Por Gabriele Koga

FONTE: Jornal da USP

Levantamento revela números da hérnia diafragmática congênita no Estado de São Paulo

Um estudo recém-publicado pela revista científica The Lancet Regional Health – Americas traça o panorama epidemiológico da hérnia diafragmática congênita (HDC) no Estado de São Paulo. A anomalia, que consiste em um defeito embrionário que impede o desenvolvimento normal do pulmão, não tinha, até então, dados sobre sua incidência na América Latina, incluindo o Brasil. A situação acaba de mudar graças a uma equipe de alunos de graduação da USP dos cursos de Medicina em Ribeirão Preto e em Bauru, liderada pelo professor Lourenço Sbragia Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP).

Com base em informações de livre acesso do DataSUS e do Sistema Nacional de Informações de Registro Civil, os pesquisadores verificaram que, dos mais de 7,3 milhões de nascimentos ocorridos entre 2006 e 2017, em São Paulo, mais de 1.100 apresentavam algum problema relacionado à HDC.

O dado, avalia Sbragia Neto, mostra que a prevalência da anomalia no Estado é de um para cada seis mil nascimentos, não muito distante da realidade de países desenvolvidos (Canadá, Estados Unidos e Comunidade Europeia) que têm entre um caso em três mil a um caso em seis mil nascimentos, dependendo da região.

Os resultados da HDC em São Paulo, estado brasileiro com cerca de 45 milhões de habitantes, devem servir de base tanto para o restante do País quanto para outros países latino-americanos. Com as informações, “podemos pleitear políticas de atendimento perinatal, envolvendo a gestante, o nascimento e o cuidado pós-operatório” necessário para o tratamento da anomalia, informa Sbragia Neto.

O professor orientou os três graduandos da USP, Eduardo Pavarino e Victória Oliveira Maia, da FMRP, além de Leandro Tonderys Guidio, do campus de Bauru. Guidio destaca que “o principal resultado do estudo é mostrar um panorama epidemiológico sobre a HDC, trazendo uma estimativa da prevalência geral no Estado de São Paulo e também como essa prevalência está distribuída segundo algumas estratificações, como idade materna, escolaridade da mãe, idade gestacional, entre outras, e como esses fatores podem afetar a mortalidade de crianças”, diz. Espera-se que os dados fornecidos pelo estudo ajudem o sistema de saúde a oferecer um melhor atendimento a quem tem a anomalia.

O trabalho está descrito no artigo Crossing birth and mortality data as a clue for prevalence of congenital diaphragmatic hernia in Sao Paulo State: A cross sectional study.

Embora não seja muito comum, a hérnia diafragmática congênita está consideravelmente presente tanto em São Paulo quanto no restante do País, argumentam os pesquisadores. E não havia dados sobre a HDC para a sociedade brasileira e latino-americana. Autoridades e cientistas da área de saúde usavam “informações importadas e que, possivelmente, não refletiam nossa realidade”, afirma Pavarino.

Questionado sobre as causas da HDC, Sbragia Neto afirma que ainda são desconhecidas e ainda não existe forma de prevenção. Por isso, reforça a importância de planejamento antes da gravidez, sendo necessário “tomar as vitaminas, colher os exames prévios para o acompanhamento da gestação e fazer o ultrassom pré-natal, que pode identificar a anomalia”.

Tratamento é feito com ventilação e cirurgia

Apesar de menos frequente, o tratamento da hérnia diafragmática congênita é muito caro, “pelo uso do oxigênio, de antibiótico e de deixar muitas sequelas, com maiores danos para as crianças”, enfatiza Sbragia Neto. Com a malformação do músculo do diafragma, intestino, estômago e fígado sobem para o tórax e pressionam o pulmão. “Então a criança acaba morrendo de insuficiência respiratória, pelo fato de o pulmão não crescer”, informa.

A correção do problema é feita por cirurgia, que pode recuperar 85% dos casos leves (devolvendo vida normal às crianças) e 40% dos casos graves (em que os sobreviventes convivem com problemas pulmonares crônicos – como asma e enfisema – e até com lesão cerebral, dependendo do tempo que ficarem sem oxigênio).

O professor informa ainda que há casos em que a correção pode ser feita dentro do útero. Dependendo da gravidade, detectada por exames de ressonância, é possível a intervenção fetal, “colocando um balãozinho dentro da traqueia, para impedir que o líquido do pulmão saia” e possa crescer. O procedimento é realizado em Ribeirão Preto e outras localidades do Estado de São Paulo.

Impacto social e na formação de cientistas

Feliz com os resultados da pesquisa, Sbragia Neto destaca o impacto social dos dados e também do investimento na formação de cientistas. A ciência “pode mudar a realidade do nosso País, que sofre pela escassez de quem quer se dedicar e ser devotado a ela”, diz o professor.

Sobre a atuação de estudantes em atividades de pesquisa, Guidio diz que é “fundamental que se incentive a pesquisa já na graduação para que se forme novos pesquisadores”. Com conhecimentos em estatística adquiridos em sua primeira graduação, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA),  o estudante de medicina foi o responsável pelo preparo dos dados e análises estatísticas. Pavarino é graduado em Ciências da Computação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e se responsabilizou pelo processamento dos dados levantados pela colega Victória, usando ferramentas de tecnologia da informação.

Além de Victória, Guidio e Pavarino, também assinam o artigo na The Lancet Regional Health – Americas João Paulo Dias de Souza e Amaury Lelis Dal Fabbro, todos da FMRP, e Rodrigo Ruano e Augusto Frederico Schmidt, ambos da Escola de Medicina da Universidade de Miami, nos Estados Unidos.

Texto: Rita Stella e Rosemeire Talamone
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP