Saiba como funciona a memória muscular

“Quando a gente fala de memória muscular, nós estamos nos referindo a alterações que acontecem diretamente nas fibras musculares mediante o treinamento que é realizado. Se você pratica algum tipo de atividade física, as suas fibras musculares vão ser transformadas devido ao treinamento. Se você parar de realizar esse treinamento, a tendência é que suas fibras musculares se transformem novamente e voltem a ser parecidas com aquilo que elas eram antes. Entretanto, se você volta para um período de treinamento, elas, por já terem tido uma experiência prévia, têm uma facilidade de ganhar novamente aquela transformação inicial porque elas guardam essa memória de alguma vez já terem sido transformadas”, explica a fisioterapeuta Andrea Peterson Zomignani, doutora em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da USP.

Essa explicação é tida, no senso comum, como a ideia do que é a memória muscular: a modificação nos músculos que faz lembrar de como realizar aquele movimento. Entretanto, Andrea acrescenta que ela é muito mais do que isso: “Para que um movimento se torne automático, ele precisa ser executado repetidas vezes sob vários contextos. O indivíduo tem que registrar os erros que aconteceram para que o sistema nervoso registre as sequências de neurônios que tiveram mais sucessos para que esse movimento acontecesse. Então, quando eu realizo um movimento pela primeira vez ou nas primeiras vezes, eu tenho uma exigência bastante grande de várias áreas do meu sistema nervoso. A partir disso são ativadas áreas do meu cérebro, do meu córtex cerebral, relacionadas a essa intenção e elas conversam com outras áreas solicitando alguma ajuda para que esse movimento seja planejado”.

Processo da memória muscular

Por mais que a modificação das fibras musculares seja importante para o movimento automatizado, é o sistema nervoso e os seus componentes que estão nos bastidores. “É uma memória que, embora aja no sentido de causar contrações musculares, ela é guardada dentro do sistema nervoso e esses músculos só são acionados porque o sistema nervoso é capaz de gerenciar essa ativação muscular numa determinada ordem. Estamos falando da automatização de movimentos”, diz a fisioterapeuta.

Os núcleos da base, conforme Andrea, são fundamentais na automatização. Eles são estruturas encontradas na substância branca do cérebro e têm a função de modular os movimentos do corpo: “Uma das áreas que são solicitadas para que haja o sequenciamento ideal para esse movimento são os núcleos da base. Eles vão ser recrutados para que o planejamento adequado e, principalmente, a iniciação do movimento aconteça. Eles processam a informação que chegou até eles e devolvem essa ‘receita’ de como o movimento deve ser realizado para o córtex cerebral que vai fazer a conexão com as áreas de execução do movimento. A ordem que essas áreas são ativadas é muito importante para que o movimento aconteça da maneira correta e para que o indivíduo tenha sucesso na ação que ele vai realizar”.

Entretanto, eles não estão sozinhos e se juntam aos engramas. “Para que o movimento automático aconteça, o sistema nervoso, especialmente a região dos núcleos da base, participa bastante desse processo de construção do que a gente chama de engramas. Eles são sequências de ativação de redes neurais que ativarão, consequentemente, determinados músculos para que uma ação motora aconteça. Então, a construção desses engramas é essencial para que a gente consiga automatizar essas atividades que fazem parte da nossa rotina”, explica Andrea.

Exemplos de memória muscular

Tudo isso é realizado para destinar a consciência para problemas mais importantes enquanto o corpo realiza a ação motora automatizada, além de economizar energia, já que uma sequência nervosa mais rápida será escolhida para o movimento em questão: “O nosso processamento consciente tem um gasto energético bastante grande e a nossa consciência precisa estar direcionada a algumas ações específicas, que muitas vezes não estão relacionadas ao movimento”, diz a especialista.

Por exemplo, é comum se distrair e pegar um caminho corriqueiro quando se dirige, já que, provavelmente, os pensamentos estavam destinados a outros assuntos. “Isso que a gente chama de realizar ações sem um processamento consciente é como se o nosso sistema nervoso, com as repetições, fosse fazendo uma depuração do ato motor, retirando conexões que não são importantes para a execução daquela determinada tarefa”, completa a especialista.

“Quando a gente fala da capacidade de andar, a gente tem algumas regiões do sistema nervoso envolvidas. Esse movimento de mexer os membros inferiores precisa estar mais automatizado, porque os meus níveis superiores de consciência precisam estar preocupados com outras ações que não o movimento das minhas pernas. Então, a minha atenção, por exemplo, precisa estar direcionada para o objetivo daquela marcha: para onde eu estou indo, qual velocidade eu preciso ter na minha marcha, qual o horário – eu estou em cima da hora, eu estou atrasada ou não?; eu estou entrando no prédio do meu trabalho, qual é o andar que eu trabalho? Ou seja, as áreas do meu sistema nervoso ligadas a esse processamento mais consciente estão como que ocupadas com outras funções: elas estão preocupadas com o contexto, mas não são a ação motora de fato”, acrescenta a fisioterapeuta.

FONTE: Jornal da USP

Deixar de fumar pode aumentar a qualidade de vida de hipertensos

O tabagismo é o responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas anualmente. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), quase 1,1 bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda e o fumo passivo é tão perigoso para a saúde quanto a exposição ativa ao cigarro.

Um estudo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas aponta que parar de fumar pode reduzir a pressão arterial de hipertensos em apenas 12 semanas. Pesquisadores avaliaram cerca de 360 pessoas, sendo 113 hipertensos. Segundo Jacqueline Scholz, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo em Cardiologia do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade Medicina da USP, o estudo concluiu que o indivíduo hipertenso que abandona o tabagismo apresenta maior qualidade de vida.

Estudo

Para a compreensão do estudo é necessário entender que o tabagismo não é uma causa direta da hipertensão arterial. Contudo, é possível notar que o sujeito hipertenso, quando deixa de fumar, apresenta melhor nível de pressão arterial. “Existem pouquíssimos estudos que avaliam e acompanham o fumante ao longo do tempo. Parar de fumar é uma questão difícil, apenas dizer que o cigarro faz mal não faz com que as pessoas deixem de fumar”, explica Jacqueline.

Ela reforça que o estudo em questão comprovou que o paciente que realiza um tratamento para a hipertensão e deixa de fumar apresenta uma queda de 10 mm na pressão arterial. Segundo Jacqueline, “o paciente chega mais perto da meta de tratamento sem precisar adicionar mais um medicamento, ação que é realizada na maioria dos casos”.

Para a regulação da hipertensão arterial, o ideal seria uma pressão arterial diastólica menor que 85 mmHg e sistólica menor que 130 mmHg. “Quando estamos tratando um paciente que tem pressão alta, nós tentamos nos aproximar desses valores”, reforça a especialista. Jacqueline comenta também que, contrário à crença popular, o problema não é resolvido apenas por meio de medicamentos, mas é também necessário prevenir problemas futuros.

Tratamento 

Além disso, é necessário entender que parar de fumar não é apenas uma decisão, mas um processo para quem é viciado. A médica explica que são aplicadas técnicas comportamentais para a redução do consumo para indivíduos que desejam abandonar o tabagismo. Uma delas é a “técnica do castigo”, que consiste em pedir para que o paciente escolha uma área distanciada para fumar e que realize o consumo olhando para a parede. “Pedimos isso para que o ato de fumar qualifique-se apenas como uma necessidade química.”

Juntamente à medicação adequada, o método possui 70% de adesão e permite que o paciente deixe de fumar de forma adequada e confortável. Assim, o estudo aponta ganhos relevantes para a solução da questão.

FONTE: Jornal da USP

Como a restrição de sono afeta a saúde das crianças

Diante da restrição de sono, o organismo reage aumentando marcadores inflamatórios, que estão associados a um maior risco de desenvolvimento de vários problemas de saúde.

Crianças entre cinco e sete anos de idade que dormem menos de seis horas por noite têm mais chances de desenvolver problemas cognitivos, comportamentais, doenças do coração e obesidade. Além disso, a restrição de sono e o excesso de gordura corporal podem ser um gatilho para o desenvolvimento de doenças inflamatórias. É o que sugerem resultados de pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP com 199 crianças, alunos de escolas públicas e particulares de São Paulo e Fortaleza, no Ceará. O estudo usou como referência o tempo de sono recomendado por faixa etária da National Sleep Foundation, organização norte-americana sem fins lucrativos que promove a compreensão pública sobre os distúrbios do sono.

O objetivo principal do estudo foi investigar a associação entre sono e perfil inflamatório, mediada pela circunferência da cintura em crianças. Foram avaliados o tempo de sono, amostras de sangue e a média da circunferência abdominal. Com os dados em mãos, a pesquisadora realizou análises descritivas, de associação e, adicionalmente, construiu um modelo teórico para avaliar esses parâmetros. As crianças tinham, em média, 5,72 horas (h) de tempo de sono e 59,61 centímetros (cm) de cintura.

Estudos prévios sugerem que a qualidade do sono e a hora irregular de dormir das crianças contribuem para o surgimento de problemas como cognição prejudicada, dificuldades comportamentais (agressão e dificuldades para controlar a emoção), redução de desempenho acadêmico e maior risco de desenvolver obesidade.

Já o excesso de peso altera as funções do sistema imunológico e gera processos inflamatórios crônicos [produção de quimiocinas – pequenas proteínas secretadas pelas células que funcionam como potentes mediadores ou reguladores da inflamação e ativação de glóbulos brancos (leucócitos)] – , que desempenham um papel fundamental na mediação dos estágios de arterosclerose. Estudos também indicam que o risco de desenvolver síndromes coronarianas agudas e outras complicações é definido, em parte, por altos níveis de proteína C-Reativa, uma substância produzida pelo fígado que costuma ter seus níveis aumentados quando o paciente está passando por processos inflamatórios ou infecciosos. “A interrupção do ciclo natural do sono é interpretada pelo organismo como um estresse, que passa a emitir sinais para a produção de marcadores inflamatórios, tais como a proteína C-Reativa (PCR), como resposta ao estresse gerado pela privação de sono”, explica ao Jornal da USP Vanessa Cássia Medeiros de Oliveira, nutricionista e autora da dissertação de mestrado sobre o tema.

O projeto é parte de um estudo maior, denominado Novas fronteiras em saúde nutricional e cardiovascular pediátrica: desenvolvimento de métodos para avaliar a dupla carga da má-nutrição e a saúde cardiovascular ideial em países de baixa-média rendaconhecido como Saycare Cohort Study, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), que avalia a saúde cardiovascular de crianças latino-americanas. Os participantes foram alunos de escolas públicas e privadas de quatro cidades da América do Sul com mais de 500 mil habitantes (Buenos Aires, Argentina; Lima, Peru; Medellín, Colômbia; Fortaleza, São Paulo e Teresina, Brasil).

Vanessa utilizou, então, os dados de base dessa coorte (estudo de acompanhamento de longo prazo) de São Paulo e Fortaleza para realizar sua pesquisa, cuja coleta de dados foi feita entre setembro de 2019 e março de 2020. Segundo o orientador do trabalho, Augusto César F. de Moraes, professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, os resultados da dissertação colocam luz sobre um importante comportamento que muitas vezes negligenciamos, que é a saúde do sono na população, e mais especificamente em crianças, cujos índices mostram que mais de 50% dormem menos que o recomendado para a idade. “Esse dado é preocupante porque se a noite é mal dormida, o corpo não descansa, e para as crianças isso pode ter efeitos nocivos na concentração, no desempenho escolar e na aprendizagem.”

Fases da pesquisa

O primeiro passo de Vanessa foi a realização de uma revisão sistemática da literatura. Foram selecionados 2.724 artigos potencialmente elegíveis, mas apenas cinco atendenderam aos critérios de elegibilidade. O objetivo foi verificar se já existiam informações contundentes sobre a associação entre tempo e qualidade do sono com biomarcadores inflamatórios em crianças e adolescentes, já que essa ligação ainda permanecia incerta.

O tempo de sono não apresentou associação significativa com os biomarcadores inflamatórios, entretanto, a baixa qualidade dele teve associação positiva com o PCR, com baixa magnitude. A associação entre tempo, qualidade do sono e biomarcadores inflamatórios em países de baixa-média renda não trouxe resultados consistentes depois das análises.

A pesquisadora decidiu, assim, acessar os dados disponibilizados pelo Saycare Study referentes às cidades de Fortaleza e São Paulo. Para entender qual era o padrão de sono das crianças e como o organismo se comportava diante dessa variável, foi avaliado, por meio de um questionário, o momento em que a criança acorda, a hora em que ela vai para a cama, o tempo de siesta e a duração do sono noturno. Um acelerômetro (aparelho que mede repouso e movimento) foi preso à cintura dos voluntários por sete dias consecutivos, durante 24 horas. Pais ou responsáveis foram instruídos a não retirar o aparelho e a preencher um diário com as informações solicitadas. Os dados foram considerados válidos quando registrados por, pelo menos, oito horas diárias e três dias (dois na semana e um no fim de semana).

Os participantes foram classificados de acordo com a tabela da National Sleep Foundation (NSF), que recomenda 10 a 13 horas diárias de sono para crianças de três a cinco anos; e de 9 a 11 horas para crianças de seis a 13 anos. O tempo apropriado foi fixado entre 8 e 12 horas.

As variáveis antropométricas foram medidas de acordo com a padronização recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nesta ordem: peso, altura, circunferência da cintura, do quadril, do pescoço e dobras cutâneas (bíceps, tríceps, subescápulas (músculo do ombro) e dobra cutânea supra-ilíaca. Todas as médias foram realizadas com o mínimo de roupas possível e sem sapatos.

Resultados

Os valores de proteína C-Reativa encontrados nos exames de sangue foram em torno de 1,0 mg/L (um miligrama por litro), acima do valor de referência, que é abaixo de 0,3mg/L. A média de tempo de sono rastreado pelo acelerômetro foi de menos de seis horas (5,72 h), contrapondo o recomendado pela NSF, que é de 9 a 11 horas para a faixa etária investigada no estudo.

Sobre a medida da cintura, o valor médio encontrado foi de 59 centímetros. Acima desse valor, as chances de desenvolver doenças metabólicas (como diabete e doenças coronarianas) são grandes, descreve a pesquisa.

Segundo a autora, foi possível fazer a associação entre o tempo de sono aferido pelo acelerômetro e o perfil inflamatório medido pelo PCR. Esses dois fatores são mediados pela circunferência da cintura. O tamanho alterado, principalmente em crianças, está associado a eventos cardiovasculares adversos aumentando em três vezes a taxa de mortalidade quando comparados a pessoas com peso normal.

O diagnóstico de obesidade abdominal aferida pela circunferência da cintura está associado a um perfil de risco mais aterogênico (colesterol que pode se acumular nas artérias, formar placas e causar estreitamento e bloqueio de vasos sanguíneos), porque aumenta os fatores de risco cardiometabólicos (perfil lipídico, hipertensão sistólica e glicemia de jejum anormal), tanto em crianças quanto em adolescentes.

Sono

O sono é fundamental para o bom funcionamento das vias endócrinas, metabólicas e imunológicas do nosso corpo. “É durante o sono noturno que são restaurados todos os processos bioquímicos e hormonais do organismo e, no caso das crianças, é um momento de muita atividade celular porque eles estão no auge de seu desenvolvimento físico, emocional e cognitivo.
“Quando se dorme pouco ou além do que é recomendado, toda a cascata fisiológica e bioquímica do nosso corpo é afetada, alterando o nosso relógio biológico interno, que está alinhado ao ciclo circadiano de 24 horas”, diz a pesquisadora.
O ciclo circadiano é o ritmo natural do próprio corpo, que dura as 24 horas do dia e que regula atividades e processos biológicos, que vão desde o metabolismo até os períodos de sono e vigília. Quando anoitece, nosso corpo começa a produzir melatonina, o hormônio do sono. Ao amanhecer, libera outro tipo de hormônio, o cortisol, para que despertemos.

Recomendação de horas de sono por faixa etária

Segundo a National Sleep Foundation, os tempos de sono são divididos em nove faixas etárias. Entretanto, dormir uma hora a mais ou a menos do que a o recomendado é aceitável e não traz prejuízo a ninguém. As horas recomendadas são as seguintes:

FAIXA ETÁRIA HORAS DE SONO RECOMENDADAS
0-3 meses 14-17 horas
4-11 meses 12-15 horas
1-2 anos 11-14 horas
3-5 anos 10-13 horas
6-13 anos 9-11 horas
14-17 anos 8-10 horas
18-25 anos 7-9 horas
26-64 anos 7-9 horas
65 anos ou mais 7-8 horas

A dissertação de mestrado de Vanessa de Oliveira Associação entre tempo de sono e perfil inflamatório em crianças sul-americanas contou com a orientação do professor Augusto César Ferreira de Moraes, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Mais informações: e-mail vanessacnutricionista@gmail.com, com Vanessa Cássia Medeiros de Oliveira

Texto: Ivanir Ferreira
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Qual a diferença entre Doença Renal Crônica e a Injúria Renal Aguda?

Você sabia que, além das doenças renais, também existe a injúria renal?

Os rins têm um importante papel dentro do nosso organismo. Eles devem ser cuidados com muito carinho e atenção para que não sejam prejudicados ao longo da sua vida.

Eles são peças-chave na hora de eliminar as toxinas do seu corpo e deixar tudo em ordem aí dentro, mas, assim como todo órgão, eles requerem alguns cuidados. Isso porque existem diversas doenças que podem afetá-los, bem como injúria renal.

Você sabe a diferença entre eles? Se não souber, vai ficar sabendo agora!

O que é injúria renal aguda?

A injúria renal aguda é uma agressão inesperada e repentina aos rins. Geralmente, é uma agressão temporária, mas que, em alguns casos, pode levar à doença renal crônica. Já conseguiu entender por que estamos falando dos dois no mesmo texto, né?

É uma síndrome caracterizada pela piora na capacidade do rim em excretar as toxinas, aumentando a creatinina e os compostos nitrogenados, como a ureia no sangue.

O nome “injúria” começou a ser usado depois de muito tempo, já que antes era conhecida como insuficiência renal aguda. A mudança ocorreu porque o nome atual representa muito melhor o quadro de agressão dos rins.

Causas da injúria renal aguda

Existem diversos fatores que podem causar a injúria renal aguda, entre eles, temos a redução do fluxo de sangue nos rins, podendo ser resultado de uma grande cirurgia, desidratação severa e ataques cardíacos.

Também temos a injúria no tecido renal causada diretamente, que pode ser resultado de um acidente, intoxicação, infecção grave ou substância radioativa. Outros pontos que podem causar a injúria renal são obstruções na saída da urina, causada, por exemplo, por pedras nos rins.

Sintomas da injúria renal aguda

Como ela pode acontecer em questão de dias, os sintomas podem aparecer de diferentes formas:

  • Redução do volume de urina;
  • Retenção de líquido;
  • Alteração na cor da urina;
  • Redução do volume normal da urina;
  • Cansaço;
  • Falta de concentração;
  • Falta de apetite e vômito.

Apesar disso, em alguns casos, pode não aparecer nenhum sintoma.

Diagnóstico da injúria renal aguda

Para descobrir o diagnóstico da injúria renal, os exames laboratoriais são as melhores opções. Só assim o médico vai conseguir entender melhor a evolução da sua função renal.

Um exame de urina também costuma ser pedido pelo médico, já que ajuda a identificar uma injúria renal inicial e com grande chance de ser reversível. A injúria renal aguda é confirmada pela análise do sangue, avaliando os níveis de creatinina e/ou pela quantidade de urina excretada no tempo de observação.

Diferença entre doença renal e injúria renal

As doenças renais causam alterações que afetam a função renal. Elas podem ser causadas por diversos fatores de risco. Além disso, um paciente com doença renal pode ter a sua função renal perdida definitivamente, coisa que pode acontecer no caso de injúria renal, se ela não for tratada corretamente.

Os sintomas também mudam, sendo os de doença renal crônica:

  • Dificuldade em controlar a pressão arterial;
  • Inchaço;
  • Perda de peso;
  • Falta de apetite;
  • Mudanças na urina;
  • Vômitos e náuseas.

Sendo os últimos cinco, iguais ao da injúria renal.

A importância de cuidar de uma injúria renal é exatamente evitar que ela se torne uma doença renal crônica, prejudicando muito mais a sua função renal e, automaticamente, prejudicando a sua saúde. 4

Tratamento da injúria renal

Depois do tratamento de injúria renal, é comum que a função dos seus rins vá se recuperando e voltando ao normal com o tempo.

As formas de tratamento mais recomendadas para isso são:

  • Verificar fatores que possam causar ou contribuir com a evolução da função renal, como algumas doenças crônicas, por exemplo;
  • Seguir todas as orientações médicas;
  • Ter suporte nutricional para manter uma dieta equilibrada;
  • Tomar os medicamentos recomendados pelo seu médico nas doses corretas.

O FazBem está aqui para ajudar você a entender melhor a importância dos seus rins e como cuidar deles para que nada comprometa a sua função renal.

Além disso, no blog está cheio de conteúdos exclusivos sobre rins, doenças renais e tratamentos. Uma forma de você ficar por dentro de tudo e ter uma jornada de paciente e uma adesão ao tratamento muito mais tranquila e eficiente.

Retorne às consultas e siga as orientações do seu médico. Essa é parte fundamental da sua jornada!

FONTE: Blog Programa Faz Bem

Você sabe o que é dezembrite?

É só começar dezembro e chega aquela sensação de que o ano está terminando. O desespero, a ansiedade do fim de um ciclo se mistura com a chegada de um novo ano, que promete a realização de sonhos e desejos. As emoções se juntam: alegria e tristeza convivem e algumas vezes surge a depressão, tudo misturado a uma sensação de que o tempo não é suficiente para atender a todas as demandas desse período. Mas será que isso não se resume apenas a uma sensação, para a qual já se escolheu até um nome: dezembrite, a síndrome do fim de ano?

O psicanalista Christian Dunker , professor do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, nos ajuda a entender o que acontece nesse período. Ocorre um rompimento com o que vivemos nos últimos 11 meses. As festas familiares nos remetem a pessoas que já partiram e não fazem mais parte daquela comemoração, motivo mais do que suficiente para um quadro de depressão. A expectativa de novos planos se mistura com as frustrações dos planos que não foram concretizados.

Viagem interior

Além de tudo isso, dezembro é aquele momento de voltar para casa, para sua cidade, rever familiares e amigos, mas não só um retorno físico, mas para dentro de si mesmo.

O especialista da USP explica que, para conviver com essa catarse de sentimentos, em apenas 30 dias do ano, é importante desenvolver a tolerância consigo mesmo e principalmente com o outro. A dica é saber que esse período é importante, mas passageiro. Logo ali tem mais 12 meses lhe esperando, repleto de possibilidades para viver e ser feliz.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

3 direitos garantidos por lei à pacientes com câncer

Pacientes acometidos de doenças consideradas graves pela legislação brasileira possuem alguns direitos e garantias especiais que, de alguma forma, buscam aliviar o sofrimento do paciente em questão.  

O câncer (neoplasia maligna) é uma dessas doenças. Vamos te mostrar, de forma simples, como adquirir os principais diretos (FGTS, PIS/PASES e AUXÍLIO-DOENÇA) da forma mais objetiva possível, pois sabemos que seu tempo é precioso.  

O primeiro passo 

Organize uma pasta com diversos documentos (inclusive os laudos comprovando diagnóstico com CID) para tê-los facilmente em mãos quando necessário. Isso vai facilitar bastante sua jornada para adquirir seus direitos.  

1 – FGTS 

É previsto por lei que pacientes com câncer possam fazer saque de seu FGTS. Também é possível sacar ao comprovar ser responsável por um dependente com a patologia. 

A solicitação pode ser feita em qualquer Caixa Econômica Federal (CEF) e, após validação dos documentos, o dinheiro é liberado no prazo de cinco dias úteis, a partir da solicitação.  

O que levar quando for solicitar (via original e cópia): 

  • Carteira de Trabalho ou documento de identificação do trabalhador ou diretor não empregado 
  • PIS/PASEP ou Inscrição de Contribuinte Individual junto ao INSS 
  • Atestado médico com validade de 30 dias, contendo as seguintes informações:  

– Diagnóstico expresso da doença  

– Estágio clínico atual da doença/paciente  

– CID – Classificação Internacional de Doenças.  

– Data, nome, carimbo e CRM do médico com a devida assinatura 

  • Cópia do laudo do exame histopatológico ou anatomopatológico que serviu de base para a elaboração do atestado médico  
  • Comprovante de dependência, no caso de saque para o dependente do titular da conta acometida por neoplasia maligna (câncer)  
  • Atestado de óbito do dependente, caso este tenha vindo a falecer em consequência da doença

2 – PIS/ PASEP 

Se você possuir saldo no Fundo PIS/PASEP, você tem direito a sacar e o dinheiro é liberado em até cinco dias úteis. 

Como saber se tem saldo? 

  • Se você for trabalhador da iniciativa privada, procure a Caixa Econômica Federal e informe-se sobre saldos.  
  • Se você for servidor público, procure pelo Banco do Brasil e informe-se sobre saldos.  

Para solicitação, tenha os documentos já citados para o saque do FGTS e vá até uma Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil.   

3 – Auxílio-doença 

Ao ficar incapacitado de trabalhar em virtude da doença por mais de 15 dias, é seu direito receber auxílio-doença. 

O auxílio-doença é garantido depois da confirmação da patologia pela perícia médica realizada pela Previdência Social.  

Como fazer a solicitação?  

Você tem 3 opções:  

  1. Ligar para o telefone da Previdência Social 135  
  1. Solicitar pelo site (https://meu.inss.gov.br/#/login 
  1. Dirigir-se a uma agência de Previdência Social com os documentos requeridos: 
  • Carteira de Trabalho original ou documentos que comprovem a contribuição à Previdência Social 
  • Número de Identificação do Trabalhador – NIT (PIS/Pasep)  
  • Relatório médico original com as seguintes informações: diagnóstico da doença, histórico clínico do paciente, CID (Classificação Internacional de Doenças), eventuais sequelas provocadas pela doença, justificativa da incapacidade temporária para o trabalho. O relatório deve conter data, assinatura, carimbo e CRM do médico  
  • Exames que comprovem a existência da doença 

 Para ler os outros 6 direitos, baixe nossa cartilha completa! 

 Fonte: Manual dos direitos do paciente com câncer – Instituto Oncoguia  

BR-18659. Material destinado a todos os públicos. Jul/2022

FONTE: Blog Programa FazBem

Reduzindo a confusão mental no pós-operatório de idosos

A disfunção cognitiva pós-operatória (DCPO) é uma condição que costuma afetar pós-operatório de idosos submetidos a cirurgias sob anestesia geral. Caracteriza-se usualmente por prejuízos à memória e à concentração que podem ser temporários ou tornarem-se permanentes e incapacitantes. O problema tem se tornado cada vez mais frequente, tanto em função do envelhecimento da população como do aumento no número de procedimentos cirúrgicos em idosos propiciado pelo avanço nas tecnologias médicas. Dados da literatura científica sugerem que os casos anestésico-cirúrgicos que evoluem com DCPO têm mortalidade aumentada no primeiro ano após o procedimento.

A boa notícia é que, de acordo com um estudo publicado no dia 6 de maio na revista PLoS One, duas medidas relativamente simples podem ajudar a reduzir a incidência de DCPO: administrar uma pequena dose do anti-inflamatório dexametasona imediatamente antes da cirurgia e, durante a operação, evitar uma hipnose muito profunda.

A pesquisa coordenada por Maria José Carvalho Carmona, professora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenadora da pesquisa, foi conduzida com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) durante o doutorado de Lívia Valentin, primeira autora do artigo.

Atualmente, não há consenso sobre a profundidade anestésica adequada e sobre os riscos da anestesia muito profunda. Sabe-se que, quando a anestesia é demasiadamente superficial, existe a possibilidade de o paciente ter lembrança do intraoperatório, o que é indesejável. “Os resultados confirmam evidências recentes de que, quanto mais profunda é a hipnose anestésica, maior é a incidência de DCPO. Dados da literatura indicam que o problema estaria relacionado a uma resposta inflamatória sistêmica induzida pelo trauma cirúrgico, que seria lesiva para o sistema nervoso central. Por esse motivo o anti-inflamatório pode ter um efeito protetor”, explica a professora.

“Quanto mais profunda é a hipnose anestésica, maior é a incidência de DCPO

Foram avaliados 140 pacientes, entre 60 e 87 anos, submetidos à cirurgia sob anestesia geral no Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP – a maioria para remoção de cálculos na vesícula. Como agente hipnótico foi utilizado o anestésico propofol. “Excluímos os casos de cirurgia cardíaca e ortopédica, dois dos procedimentos mais associados ao desenvolvimento de DCPO e, portanto, os mais explorados em estudos anteriores”, explicou Carmona.

Status cognitivo

Antes da cirurgia, os pacientes passaram por uma avaliação do status cognitivo, sendo excluídos aqueles que não alcançavam o escore mínimo. Em seguida, os selecionados foram divididos aleatoriamente em quatro grupos. O primeiro não recebeu dexametasona e foi induzido a uma hipnose anestésica profunda, como a utilizada frequentemente em cirurgias de grande porte. O segundo grupo também não recebeu o anti-inflamatório, mas foi induzido a uma hipnose mais superficial. O terceiro recebeu dexametasona e hipnose profunda. O último grupo recebeu a droga anti-inflamatória e hipnose superficial.

A profundidade anestésica foi monitorada por uma tecnologia conhecida como BIS (índice bispectral, na sigla em inglês), baseada na análise espectral do traçado do eletroencefalograma. Valores entre 35 e 45 nesse índice foram considerados pelos pesquisadores como hipnose profunda. Entre 46 e 55 foi considerada hipnose superficial.

No primeiro grupo (hipnose profunda, sem anti-inflamatório), a incidência de DCPO logo após a cirurgia foi de 68% – sendo que 25,3% dos pacientes ainda apresentavam o problema na reavaliação feita após seis meses. No segundo (hipnose superficial, sem anti-inflamatório), o número caiu para 27,2% após a cirurgia. Seis meses depois, 21,7% ainda apresentavam prejuízo cognitivo. No terceiro grupo (dexametasona e hipnose profunda), a incidência foi parecida com o grupo anterior logo após o procedimento cirúrgico: 25,2%. No entanto, na reavaliação feita após seis meses apenas 3,1% dos pacientes ainda apresentavam DCPO.

Já no grupo que recebeu dexametasona e foi submetido a hipnose superficial, a incidência de DCPO caiu para 15,3% no primeiro momento e, após seis meses, todos os pacientes já haviam recuperado o status cognitivo pré-cirúrgico. “Os resultados obtidos reforçam evidências recentes sobre a importância de evitar-se a anestesia profunda. Já em relação ao uso da dexametasona, há necessidades de mais estudos, de preferência multicêntricos, para confirmar o achado. Mas há um forte indício de que ela pode ser benéfica em muitos casos”, avaliou Carmona.

Reabilitação

Os primeiros estudos com pacientes que desenvolveram DCPO começaram a surgir, de acordo com Carmona, após os anos 1950. Antes dessa época dificilmente eram realizadas cirurgias de grande porte em idosos. Pesquisas nessa área, portanto, ganharam relevância principalmente nos últimos 15 ou 20 anos. “Ainda se discutem as causas e os fatores de risco da DCPO, mas pouco se fala em reabilitação e em metodologias para fazer com que esses pacientes voltem à sua condição do pré-operatório”, opinou Carmona.

Para que o diagnóstico e a reabilitação sejam viáveis, um dos desafios é desenvolver instrumentos práticos e seguros para avaliação do status cognitivo no pré e no pós-operatório. “Os testes hoje disponíveis ou são muito demorados ou, quando são rápidos, não são confiáveis. Isso dificulta o acompanhamento dos pacientes”, afirmou Carmona. Conforme explicou Valentin, os testes neuropsicológicos convencionais são de difícil aplicação e são de uso exclusivo do psicólogo especialista em neuropsicologia. “Isso dificulta a avaliação cognitiva pré e pós cirúrgica, principalmente em equipes multiprofissionais que não contam com um neuropsicólogo”, disse a pesquisadora.

“Os testes hoje disponíveis ou são muito demorados ou, quando são rápidos, não são confiáveis

Visando solucionar essa deficiência, desde o término de seu doutorado, Valentin tem se dedicado a desenvolver em parceria com a empresa Izotonic Games o jogo digital MentalPlus. O software avalia as funções cognitivas de maneira lúdica em 25 minutos – enquanto uma bateria de testes neuropsicológicos convencionais pode levar mais de duas horas para ser concluída. O projeto está sendo conduzido em parceria com nove instituições internacionais, entre elas Harvard Medical School (Estados Unidos), The University of Copenhagen (Dinamarca), L’Université Paris-Sorbonne (França) e The University of Oxford (Reino Unido). A validação do método está sendo feita na FMUSP sob a coordenação de Valentin.

“O game está sendo validado para uso na população em geral, como um dos recursos mais atuais para a avaliação das funções cognitivas. Além disso, seu uso pode ajudar o jogador na reorganização das funções cognitivas prejudicadas. A ideia é que seja um instrumento de domínio público, não restrito ao uso de psicólogos ou neuropsicólogos”, afirmou Valentin.

Karina Toledo / Agência FAPESP

FONTE: Jornal da USP

Dormir não é perda de tempo e sim um hábito saudável

Para Luciano Drager, o sono é uma parte significante na nossa vida e não pode ser roubado por maus hábitos, como, por exemplo, usar celular antes de dormir.

O “sono ruim” não é, necessariamente, poucas horas dormidas. Ele tem uma relação maior com a qualidade de sono, que é prejudicada pela ansiedade, depressão, excesso de trabalho e conectividade.

“Eu acho que a gente precisa entender, respeitar o nosso ritmo”, comenta o médico Luciano Drager, do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Associação Brasileira do Sono.

O estudo Sleep quality in the Brazilian general population: A cross-sectional study, que tem Drager como o principal autor, chegou à conclusão de que mulheres, jovens, pessoas com insônia e que usam celulares antes de deitar são mais prováveis de terem uma qualidade de sono ruim. Por mais que esse seja um recorte brasileiro, Drager analisa: “Não chega a surpreender se você comparar com dados de outros países e pelas tendências de piora que nós já verificamos em outros estudos epistemológicos feitos no Brasil”.

Estudo

Para a pesquisa, Drager e a equipe contataram uma agência experiente na área: “Nós usamos um questionário validado em português, inclusive já usado mundialmente: 2.635 pessoas responderam ativamente a essas perguntas para, a partir dessa qualificação de idade, de sexo, de local onde mora e de hábitos de vida, procurarmos tentar entender não só os 65% dormindo mal, mas também identificar aqueles fatores que possam estar contribuindo para isso”, comenta o especialista.

Para Drager, é necessário respeitar a rotina, já que a regularidade ajuda na melhora do sono. A conectividade também precisa diminuir próximo do horário de dormir.

O estudo conclui que as mulheres são as mais afetadas pela má qualidade de sono. Esse dado pode estar relacionado com a pressão social vivida pela mulher, com a menopausa ou também com o fato de a insônia ser mais comum nas mulheres. É necessária orientação médica para o uso de medicação no combate dessa má qualidade, porém, a mudança de hábito é fundamental segundo Drager.

Hábito de dormir

“Temos que fazer uma higiene do sono, se a gente considerar o sono uma fase importante da vida e não uma fase em que você está perdendo tempo”, analisa ele. Na atualidade, o estilo de vida envolve estar conectado constantemente e, dessa forma, dormir é considerado perda de tempo. Drager diz que os jovens estão tendo uma pior qualidade de sono do que os mais velhos, sendo que os de maior idade têm uma necessidade biológica.

Esse hábito impacta no sono e isso é grave, porque o sono é muito importante na consolidação da memória, na performance, na incidência de distúrbios cognitivos. “[É importante] Reconhecer o sono como uma parte significante na nossa vida, não roubar esse sono em termos de privação, respeitar a regularidade e tratar esses distúrbios”, ressalta Luciano Drager.

FONTE: Jornal da USP

Menopausa: Terapia hormonal ainda é a mais eficaz

A menopausa é uma etapa da vida fisiológica das mulheres e, dependendo do caso, exige tratamento dos sintomas causados, como os fogachos (calores), as alterações no sono e no humor.

“[A terapia hormonal] É a primeira linha para o tratamento dos sintomas menopausais, os sintomas vasomotores que atrapalham a atividade de vida diária das mulheres”, comenta a professora Isabel Cristina Esposito Sorpreso, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP.

O estudo The Women’s Health Initiative (WHI), publicado em 2017, durou cerca de 18 anos e analisou a relação do uso da terapia hormonal e a mortalidade, sobretudo por câncer e doenças cardiovasculares.

Tratamento da menopausa

“Os sintomas da menopausa surgem em mais de 60% das mulheres”, diz a professora. Com isso, a terapia hormonal, sendo a primeira opção para o tratamento dos sintomas da menopausa, exceto quando há contraindicação, é muito importante.

O tratamento pode começar até quatro anos antes da menopausa, caso os sintomas apareçam, mas Isabel ressalta a importância de analisar todas as variáveis: “Cada caso sempre deve ser individualizado, sempre temos que pesar os antecedentes pessoais e familiares e também o comportamento dessa mulher: se ela é tabagista, se ela tem alguma outra comorbidade. Então, tudo isso influencia na prescrição da terapia hormonal.”

De forma geral, antes dos 60 anos e nos primeiros 10 anos da menopausa, é uma faixa etária oportuna para o tratamento.

Estudo

A pesquisa da WHI, considerada pela especialista a mais completa até o momento, mostrou que não houve aumento de mortalidade por câncer e doenças cardiovascularesA posição da Sociedade Norte-Americana de 2022 atualiza as colocações da organização feitas em 2017. Nela, a terapia hormonal continua como o tratamento mais eficaz. Isabel pontua alguns fatores importantes sobre o assunto: “A gente tem que lembrar algumas coisas específicas: primeiro, a faixa etária é fundamental, essas janelas de oportunidade para utilizar a terapia hormonal são fundamentais. A via de administração da terapia hormonal também é uma coisa importante. Hoje em dia, nós temos outras medicações, com outras dosagens e outras vias de administração, para que nós possamos sempre administrar o melhor para as nossas pacientes”.

A professora Isabel Cristina Esposito Sorpreso também é coordenadora do projeto Menopausando. Para saber mais sobre essa iniciativa, acesse o link: https://sites.usp.br/menopausando/

Por Alessandra Ueno

FONTE: Jornal da USP

Câncer de mama: mitos e desinformações

Os resultados de uma pesquisa inédita sobre o câncer de mama, realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) mostra que para muitas mulheres o autoexame das mamas é a principal forma de detectar tumores de mama precocemente. Essa percepção difere da recomendação das sociedades médicas brasileiras.

O autoexame é importante, reforçam especialistas, mas a mamografia é o principal exame para detectar o câncer de mama na fase inicial. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o  autoexame é indicado como autoconhecimento em relação ao próprio corpo, mas não deve substituir os exames realizados ou prescritos pelo médico, já que muitas lesões, ainda pequenas, não são palpáveis. Contudo, 64% das mulheres que participaram da nova pesquisa do Ipec dizem acreditar que o procedimento seria o principal meio para o diagnóstico do câncer de mama no estágio inicial.

A pesquisa Câncer de Mama Hoje: Como o Brasil Enxerga a Paciente e Sua Doença?, foi feita pelo Ipec com 1.397 mulheres, a pedido da Pfizer. Foram entrevistadas internautas de São Paulo (capital) e das regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com 20 anos ou mais de idade.

Os resultados desta pesquisa foram divulgados nesta quinta-feira (29), em São Paulo, pelo Coletivo Pink. Durante o encontro, especialistas como a médica especialista em câncer de mama do Centro de Oncologia e Hematologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Débora Gagliato; a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz; bem como a líder médica da Pfizer, Márcia Pinheiro, comentaram sobre a pesquisa e o cenário atual do câncer de mama, que ainda ocupa o primeiro lugar nas causas de morte por câncer entre as brasileiras. A coordenadora de projetos e voluntariado no Oncoguia, Evelin Scarelli Terwak, também participou do encontro, e contou sobre a própria trajetória de tratamento do câncer de mama.

Autoexame

Além da confusão em torno do papel do autoexame, a maioria das mulheres ouvidas pelo Ipec também demonstra desconhecer as recomendações médicas para a realização da mamografia, que pode detectar tumores menores que 1 centímetro. Para 54% das respondentes, não está clara a necessidade de passar pelo procedimento caso outros exames, como o ultrassom das mamas, não indiquem alterações: 38 % acreditam que a mamografia deve ser feita apenas mediante achados suspeitos em outros testes, enquanto 16% não sabem opinar.

A recomendação geral das sociedades médicas é a de que, a partir dos 40 anos, as mulheres realizem a mamografia anualmente. Mas 51% das respondentes da pesquisa não estão cientes da importância dessa regularidade: 30% das entrevistadas estão convencidas de que, após um primeiro exame com resultado normal, a mulher estaria liberada para realizar apenas o autoexame em casa, enquanto 21% da amostra afirma desconhecer qual seria a orientação correta.

Mitos sobre o câncer de mama

Os mitos ligados ao tema se mostram fortes na população estudada: 8% das mulheres que responderam à pesquisa atribuem o câncer de mama a causas divinas, alegando que a doença teria aparecido porque “estava nos planos de Deus”. Além disso, 6% das mulheres que acreditam que o tumor teria relação com a possibilidade de a mulher “não ter perdoado alguém”, acumulando mágoa.

Entre as mulheres mais jovens, algumas fake news recorrentes sobre o tema aparecem: na faixa que abrange entrevistadas de 20 a 29 anos, por exemplo, 47% não estão convencidas de que o tipo de sutiã usado não tem impacto no risco de ter câncer de mama: 11% acreditam que os modelos com bojo elevam esse risco e 36% não sabem opinar sobre o assunto. Considerando todas as faixas etárias, tanto em Porto Alegre quanto em Belém, apenas 59% das entrevistadas estão cientes de que a relação com essa peça de roupa é falsa.

O dado sobre o uso da peça e o risco do câncer surpreendeu a líder médica na Pfizer Brasil, Márcia Pinheiro. “Fiquei surpresa com a questão do sutiã com bojo causar o câncer. Mas é nosso papel explicar e tirar essa dúvida da população. É fundamental essa propagação de informação correta porque isso não deixa de ser uma fake news, é uma informação errada”.

Para Márcia, é preciso desmistificar outras informações, como só fazer a mamografia depois de 50 anos, quando o recomendado é a partir dos 40 anos. “A partir do momento que se começa a ter uma uma rotina de ir ao ginecologista anualmente, o exame da mama já tem que estar incluído. O autoexame também é uma coisa que a gente precisa desmistificar: ele é importantíssimo, ele precisa ser feito, não estamos tirando a importância do autoexame, mas ele não é a ferramenta mais importante para fazer o diagnóstico precoce, ou seja não é porque você está fazendo que não precisa fazer a mamografia”.

Márcia destaca que a mamografia é a forma mais precisa de detectar um tumor pequeno. “Já ouvi muitas vezes pacientes reclamando de fazer a mamografia porque é desconfortável, dolorido, mas é uma vez por ano, temos que fazer, pois é a forma mais sensível e acurada de chegar no diagnóstico de um tumor pequeno. Também considero importante a gente dizer que o diagnóstico do câncer não é uma maldição, uma condenação. Hoje temos tratamentos. Então, quanto mais precoce for detectada a doença, mais fácil de tratar e ter um êxito no tratamento”.

Para a coordenadora de projetos e voluntariado no Oncoguia, Evelin Scarelli Terwak, o Outubro Rosa é o momento de trocar o olhar de celebração para um olhar de conscientização. “O Outubro Rosa é um mês de conscientização, de informação”, reforça.

Evelin foi diagnosticada com câncer de mama aos 23 anos. Passou pelo tratamento e hoje, aos 34 anos, trabalha no Oncoguia. Ela destaca a importância da informação. “O medo é trocado no momento que a informação chega, é importante saber os níveis da doença. A mulher com informação compartilha com o médico e assim faz suas escolhas”.

Hereditariedade e fatores de risco

A pesquisa evidencia que a maior parte ignora a relação entre o estilo de vida e a doença: 58% das mulheres não associam o excesso de peso como um fator de risco, enquanto 74% não identificam a relação com o consumo de bebidas alcoólicas.

“O estilo de vida saudável reduz o risco de desenvolver câncer. Então, nunca é tarde. Promover a saúde e a conscientização sobre alimentação e atividade física sempre vale a pena. O álcool é um fator de risco, não recomendamos que a mulher beba álcool ou se consumirem,  limitar uma quantidade pequena. Nós sabemos que tem mulheres que vêm aumentando muito o consumo de álcool, então nunca é demais falar sobre mudança de estilo de vida e se conseguimos implementar essas mudanças, nós conseguimos impactar positivamente nos índices de câncer que a gente vê aumentar. Claro que a idade que a mulher quer ser mãe é um fator que não dá para controlar. Mas o sedentarismo, a obesidade, o etilismo, tem que frisar muito por que são fatores de risco que podem ser modificados”, destaca a oncologista Débora Gagliato, especialista em câncer de mama..

Por outro lado, a herança genética é o fator mais apontado pelas entrevistadas quando perguntadas sobre as causas do câncer de mama: 82% estão convencidas de que a existência de outros casos do tumor na família seria o principal motivo para o desenvolvimento da doença. A literatura médica, contudo, aponta que apenas 5% a 10% do total de casos estão associados a esse elemento.

As participantes da pesquisa desconhecem, por exemplo, a relação entre comportamentos associados à mulher moderna e o câncer de mama: apenas 17% estão cientes de que não ter filhos biológicos aumenta o risco para a doença e muitas ignoram o efeito protetor da

amamentação, como é o caso de 55% das entrevistadas de Porto Alegre  e de 54% das paulistanas.

Elementos ligados ao perfil reprodutivo das mulheres também compõem o leque de fatores de risco para o câncer de mama, como a menopausa tardia (após os 55 anos), mas apenas 13% das respondentes conhecem essa informação. Além disso, somente 8% estão cientes de que ter a primeira menstruação antes dos 12 anos também contribui para elevar esse risco.

Pandemia

Os dados da pesquisa indicam que o cenário pandêmico continua a impactar o cuidado com a saúde feminina. Quando questionadas sobre os exames mamários feitos nos últimos 18 meses, 48% das participantes do levantamento responderam que não realizaram procedimentos com acompanhamento médico: 21% recorreram ao autoexame e 27% não passaram por nenhuma avaliação nesse período.

Considerando o total da amostra, apenas 34% das respondentes afirmam ter mantido a mamografia nos últimos 18 meses, número que cai para 26% tanto no Distrito Federal quanto em Belém. Quando se trata dos cuidados gerais de saúde, somente 17% das mulheres ouvidas pelo Ipec dizem que, durante a pandemia, realizaram os exames de rotina com a mesma frequência habitual que mantinham anteriormente.

O novo levantamento aponta, ainda, que uma porcentagem considerável de mulheres ainda não retomou suas consultas médicas e exames desde que a pandemia começou: essa é a situação de 7% das respondentes, mas a taxa chega a 9% em Porto Alegre e no Recife.

Outubro Rosa e o câncer de mama

Exposições, debates, experiência imersiva e outras atividades relacionadas ao tema vão ocupar, a partir do dia 4 de outubro, o busto gigante, com 300 metros quadrados, montado no Largo da Batata, em São Paulo. Serviços realizados por parceiros do projeto, como corte de cabelo solidário e carreta da mamografia, também fazem parte da programação, bem como oficinas, performances artísticas e palestras.

Busto feminino gigante instalado no Largo da Batata pelo movimento Coletivo Pink – Por um Outubro Além do Rosa, em Pinheiros.

Criado em 2018, o Coletivo Pink é um projeto colaborativo idealizado pela Pfizer que busca formas de dialogar sobre o câncer de mama com a sociedade e dar voz para quem já enfrenta a doença, em todos os estágios. Este ano o Coletivo tem apoio de 15 associações de pacientes oncológicos, que representam diferentes partes do País.

Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil