Mudanças hormonais na menopausa podem provocar problemas cardíacos

As doenças cardiovasculares em mulheres já ultrapassam as estatísticas de câncer de mama e de útero. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, um terço das mortes no mundo são causados pelo problemas, representando 23 mil óbitos de mulheres por dia.

Incidência no Brasil

No Brasil, a cardiopatia em mulheres pode representar 30% das causas de mortes, sendo a maior taxa da América Latina. Os problemas cardíacos aumentam por várias razões, mas estão principalmente relacionados a mudanças hormonais e seus efeitos no organismo.

“O estrógeno tem um fator protetor do sistema cardiovascular. Ele ajuda a manter os vasos sanguíneos flexíveis e favorece os fatores protetores do sistema cardiovascular. Com a menopausa há um aumento de colesterol, dos triglicérides, levando a chamada dislipidemia, aumento da pressão arterial, aumento do peso e redistribuição das gorduras. A gordura se acumula na região abdominal, que sabidamente tem maior risco de doença cardiovascular. Além disso, na menopausa pode levar a uma diminuição na sensibilidade e insulina aumentando o risco de desenvolver diabete do tipo 2; inflamação e estresse oxidativos também então associados à menopausa, levando então à progressão da doença aterosclerótica”, destaca Walquíria Samuel Ávila, coordenadora do Programa de Cardiopatia, Gravidez e Aconselhamento Reprodutivo do Incor – Instituto do Coração do Estado de São Paulo.

Nessa fase da vida, destaca a médica, as mulheres na menopausa apresentam fatores de risco e mudanças de estilo de vida pior: como sedentarismo, dieta inadequada, aumento de stress, e todos os fatores combinados explicam por que a menopausa é um período crítico para a saúde cardiovascular das mulheres.

Check-up e sintomas

Os cuidados quando uma mulher apresenta fatores de risco como história familiar, é hipertensa, diabética, obesa, essas avaliações devem ser a partir de 30 anos de idade e deve ser obrigatória na pré-menopausa 40, 50 anos e na menopausa, após 50 anos de idade. Walquíria destaca que “independentemente da idade, é importante que todas as mulheres façam o check-up médico regular, incluindo exames de colesterol, glicose, pressão arterial e outros indicadores da saúde cardiovascular bem conhecidos”.

As mulheres podem apresentar sintomas diferentes dos homens durante um evento cardiovascular, por este motivo é importante reconhecer os sintomas. Muitas vezes as mulheres subestimam a gravidade de seus sintomas, podendo atribuir a condições menos graves como estresse ou problemas digestivos. Além disso, às vezes o sintoma de um ataque cardíaco pode ser uma dor forte nas costas, uma dor na mandíbula ou até mesmo no abdômen superior.

Os principais problemas cardíacos que podem acometer as mulheres são: primeiro a hipertensão, pressão alta, diabete, a dislipidemia que alterações de colesterol, a obesidade, doenças renais crônicas, apneia obstrutiva do sono, doenças inflamatórias e autoimunes como artrite reumatoide e lúpus, sedentarismo, história familiar estresse crônico, uso excessivo de álcool e tabagismo. Esses são fatores que podem, além da menopausa, levar a doença cardiovascular e a outros problemas que podem desencadear eventos cardíacos além do climatério.

Exames

Diversos exames podem ajudar a detectar problemas cardíacos. “Entre os mais comuns o inicial é conhecer os seus números medindo sua pressão arterial, o perfil lipídico, saber os números seus valores LDL, HDL e colesterol, a glicemia, hemoglobina glicada, um eletrocardiograma, um ecocardiograma, um teste de esforço para quem faz atividade física e daí para frente. Existem vários exames que vão surgir de acordo com a indicação médica para cada paciente.”

O problema é tão sério que, buscando evitar problemas cardiovasculares, o Incor conta com um programa que começou em 2019 chamado Mulher, Cuide do Coração. Nesse trabalho de prevenção é realizada uma abordagem multidisciplinar, multifacetada que pode incluir a mudança de estilo de vida, medicamentos e intervenções. A dieta do Mediterrâneo, redução de sal, limitação de gordura saturadas e trans, aumento de fibras, atividade física, não só exercício aeróbico, mas o treinamento de força de resistência, controle de peso, evitar fumo, moderar o álcool e o tratamento medicamentoso que vai servir para cada tipo de paciente, para cada tipo de situação clínica, que deve ser considerada nos seus check-ups periódicos, aconselha a coordenadora do Programa de Cardiopatia, Gravidez e Aconselhamento Reprodutivo do Incor.

FONTE: Jornal da USP

Menopausa precoce? Sintomas, causas e tratamento

Enquanto a média mundial da menopausa das mulheres fica em torno dos 50 anos, algumas vivenciam esse período antes dos 40. A condição é rara, afetando somente 1% das mulheres, mas é importante entender os sintomas e saber como reagir. O professor José Maria Soares Júnior, chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, comenta o assunto. Ele afirma que a menopausa precoce pode “trazer sérias consequências para a saúde da mulher”, mas que há soluções.

A primeira medida é saber identificar os sintomas. Nas mulheres que não usam a pílula, “o primeiro sinal é a alteração da sua menstruação: ela fica sem menstruar”, explica o professor. Ele complementa que outros sinais podem aparecer: “Quedas de cabelo, aumento de peso, distúrbio de sono e alteração da libido”.

Um efeito comum em quem passa pela menopausa, mesmo que no período comum, é a sensação de calor. Segundo Soares, “40% têm ondas de calor acentuadas que alteram até o seu sono e a sua qualidade de vida”. Nas que passam pela menopausa prematura, no entanto, “a tendência é ser muito maior [a porcentagem], porque ela estava convivendo com uma quantidade de estrogênio maior e, de repente, essa quantidade de estrogênio caiu. Não tem um período de adaptação”.

Causas

O médico comenta que as razões que podem levar à menopausa precoce podem ser diversas. Há a predisposição biológica, por exemplo, que está associada à genética. Esta, de acordo com ele, pode inclusive se apresentar antes dos 30, e mesmo na adolescência, ocasionalmente. Nesses casos, a mulher tem até dificuldade para desenvolver características femininas.

Mas as razões também podem decorrer de eventos durante a vida. Como o especialista ressalta, “têm hábitos de vida [que podem causar a precocidade], um deles é o tabagismo, que devemos chamar a atenção porque diminui a função do ovário”. Além desses, ele aponta o alcoolismo, causas imunológicas e cirurgias feitas no ovário ou útero como outras possíveis razões.

Tratamento

O profissional afirma que há formas de tratar e que são importantes, pois a menopausa precoce pode estar associada a doenças sérias: “Ela pode aumentar o risco de doença cardiovascular, osteoporose e até de demência no futuro”. Por isso, é recomendado que a mulher inicie uma terapia hormonal o quanto antes. Soares afirma que “até hoje não tem medicamento melhor que o estrogênio”, que é combinado com uma ação da progesterona. Ambos são hormônios femininos que diminuem após a menopausa.

O progestagênio (suplemento que possibilita a ação da progesterona), no entanto, pode levar a efeitos colaterais. Algumas mulheres não respondem muito bem a certos tipos de tratamentos específicos, por isso, como diz o médico, “nós temos vários tipos e esses tipos são individualizados, dependendo de cada mulher, das suas características”. Alguns ajudam na libido, outros na ação diurética e outros ainda não têm efeito nenhum; o indicado é aquele ao qual a mulher melhor se adapte.

O profissional afirma que a “osteoporose e doenças cardiovasculares podem reduzir a chance de sobrevida no futuro em 28% naquelas mulheres que não receberam terapia hormonal [nos casos de menopausa precoce]”, ressaltando a importância dos cuidados. Por fim, ele relembra: “Teve algum sinal, procure um médico”.

FONTE: Jornal da USP


Menopausa: Terapia hormonal ainda é a mais eficaz

A menopausa é uma etapa da vida fisiológica das mulheres e, dependendo do caso, exige tratamento dos sintomas causados, como os fogachos (calores), as alterações no sono e no humor.

“[A terapia hormonal] É a primeira linha para o tratamento dos sintomas menopausais, os sintomas vasomotores que atrapalham a atividade de vida diária das mulheres”, comenta a professora Isabel Cristina Esposito Sorpreso, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP.

O estudo The Women’s Health Initiative (WHI), publicado em 2017, durou cerca de 18 anos e analisou a relação do uso da terapia hormonal e a mortalidade, sobretudo por câncer e doenças cardiovasculares.

Tratamento da menopausa

“Os sintomas da menopausa surgem em mais de 60% das mulheres”, diz a professora. Com isso, a terapia hormonal, sendo a primeira opção para o tratamento dos sintomas da menopausa, exceto quando há contraindicação, é muito importante.

O tratamento pode começar até quatro anos antes da menopausa, caso os sintomas apareçam, mas Isabel ressalta a importância de analisar todas as variáveis: “Cada caso sempre deve ser individualizado, sempre temos que pesar os antecedentes pessoais e familiares e também o comportamento dessa mulher: se ela é tabagista, se ela tem alguma outra comorbidade. Então, tudo isso influencia na prescrição da terapia hormonal.”

De forma geral, antes dos 60 anos e nos primeiros 10 anos da menopausa, é uma faixa etária oportuna para o tratamento.

Estudo

A pesquisa da WHI, considerada pela especialista a mais completa até o momento, mostrou que não houve aumento de mortalidade por câncer e doenças cardiovascularesA posição da Sociedade Norte-Americana de 2022 atualiza as colocações da organização feitas em 2017. Nela, a terapia hormonal continua como o tratamento mais eficaz. Isabel pontua alguns fatores importantes sobre o assunto: “A gente tem que lembrar algumas coisas específicas: primeiro, a faixa etária é fundamental, essas janelas de oportunidade para utilizar a terapia hormonal são fundamentais. A via de administração da terapia hormonal também é uma coisa importante. Hoje em dia, nós temos outras medicações, com outras dosagens e outras vias de administração, para que nós possamos sempre administrar o melhor para as nossas pacientes”.

A professora Isabel Cristina Esposito Sorpreso também é coordenadora do projeto Menopausando. Para saber mais sobre essa iniciativa, acesse o link: https://sites.usp.br/menopausando/

Por Alessandra Ueno

FONTE: Jornal da USP