Síndrome de burnout e fisioterapeutas

Estresse, medos e pânicos, cansaço e depressão são sintomas que descrevem a síndrome de burnout, conceito criado na década de 1970, nos Estados Unidos. O excesso de trabalho, responsável determinante pela doença afeta, principalmente, quem trabalha sob pressão. Na revista Fisioterapia e Pesquisa, um artigo discute a incidência e os efeitos da doença que acomete, entre outros profissionais, os fisioterapeutas que atuam em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Os autores desenvolveram o estudo em cinco hospitais públicos da cidade do Recife, com trabalhadores atuantes em UTIs adultas e pediátricas, constatando que a síndrome leva à negligência do período de lazer e descanso recomendados para o equilíbrio da saúde, gerando depressão e outros problemas emocionais graves. Além disso, o distúrbio causa dificuldades nos relacionamentos familiares e sociais.

Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome de burnout “é um distúrbio emocional […] resultante de situações de trabalho desgastante que demandam muita competitividade ou responsabilidade”. De acordo com o artigo, o estresse deve-se “à alta morbidade dos pacientes”, aos poucos recursos financeiros e à corrida contra o tempo dos profissionais das instituições hospitalares, gerada pelo acúmulo de trabalho, dentre outras causas.

Os autores do artigo apontam para a necessidade do desenvolvimento de medidas preventivas e modelos de intervenção para que tal efeito seja minimizado, visto o excesso de trabalho, o clima de tensão emocional em que os profissionais são submetidos diante da gravidade de saúde de quem pode ou não sobreviver, o sofrimento dos pacientes e que repercute nos trabalhadores “O convívio com o sofrimento e a morte é capaz de gerar sentimento de impotência nestes profissionais”, destacam.

A pesquisa relata que os profissionais intensivistas também apontam como fatores estressantes os entraves administrativos, o número excessivo de pacientes, a quantidade insuficiente de fisioterapeutas, a baixa remuneração e o despreparo para lidar com a dor, sofrimento e morte do próximo.

Além disso, o estudo também constatou falta de preparo profissional, interpessoal e psicossocial dos fisioterapeutas que trabalham em UTIs.

De acordo com o artigo, a síndrome de burnout é gatilho para sequelas extremamente negativas em virtude da depressão e outros problemas emocionais graves dos profissionais envolvidos. A ausência de períodos de lazer e descanso causa dificuldades nos relacionamentos familiares e sociais.

Os autores apontam as limitações de pesquisas publicadas sobre a síndrome, em especial a carência de estudos que possam estabelecer comparações sociais e populacionais entre os estados brasileiros para realizar “maiores associações entre variáveis sociodemográficas e a síndrome”. Nesse ponto, considera-se crucial a descrição dos fatores estressantes aos quais os fisioterapeutas intensivistas se submetem, para dar início a uma reflexão sobre como políticas públicas ou intervenções precisam funcionar. O objetivo é “garantir a qualidade do atendimento ao paciente”, sempre levando-se em conta as características socias da população em geral, universo que abrange os fisioterapeutas de UTI.

SILVA, R. A. D. da; ARAÚJO, B.; MORAIS, C. C. A.; CAMPOS, S. L.; ANDRADE, A. D. de; BRANDÃO, D. C. Síndrome de Burnout: realidade dos fisioterapeutas intensivistas? Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 25, n. 4, p. 388-394, 2022. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/fpusp/article/view/152858. Acesso em: 16 out. 2022.

Contatos
Rafaela Araújo Dias da Silva – Graduada em Fisioterapia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE).
Bruna Araújo – Mestre em Fisioterapia pelo Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE).
Caio César Araújo Morais – Mestre em Fisioterapia pelo Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE).
Shirley Lima Campos – Doutora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE).
Armèle Dornelas de Andrade – Doutora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE).
Daniella Cunha Brandão – Doutora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE). daniellacunha@hotmail.com

FONTE: Jornal da USP

Dezembro laranja alerta para o câncer de pele

O Hospital das Clínicas integra as ações da Sociedade Brasileira de Dermatologia no período do Dezembro Laranja, campanha nacional de conscientização sobre o câncer de pele.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, 30% dos tumores malignos diagnosticados no Brasil correspondem ao câncer de pele. Esse tipo é o mais frequente, mas pode ser prevenido. “[A prevenção] É possível sim, porque o câncer de pele que mais ocorre no nosso meio é aquele em áreas expostas ao sol. A principal maneira de prevenir o câncer de pele que comumente afeta a nossa população é fazer uma boa proteção solar”, explica o especialista Vitor Manoel Silva dos Reis, dermatologista responsável pela campanha de prevenção do Câncer de Pele no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

É preciso estar atento para algumas ocasiões, como o mormaço, que é um período sem sol a pino, mas que possui uma alta carga de radiação ultravioleta sem deixar a pele vermelha. Algumas pessoas também são mais suscetíveis ao desenvolvimento de câncer de pele: “Existem pessoas que têm uma suscetibilidade maior ao câncer de pele. Não se protegendo, elas com certeza vão ter esses fatores, fazendo com que aumente a possibilidade de ter os principais cânceres de pele: carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular. Esses são aqueles que o sol faz surgir, principalmente em pessoas que já têm uma certa tendência, como pele clara e olhos azuis”, comenta Reis.

Outras formas de prevenção são o uso de roupas que cobrem áreas expostas do corpo, de chapéu ou boné e, sobretudo, o protetor solar.

Diagnóstico

“[O câncer de pele] É bem lento no seu surgimento. Vai começando com uma lesãozinha, alteração de pele que parece uma casquinha que sai e, não pouco tempo, alguns meses, pode começar a dar problema”, ressalta o médico. Alguns sinais para ficar atento são o aparecimento de casquinhas semelhantes a pintas, como lesões escurecidas com bordas irregulares.

Reis também alerta para a necessidade de ficar atento aos tumores: “O tumor significa que há um crescimento, mesmo que pequeno, na pele.  Quando há um surgimento de alguma lesão, que os leigos podem chamar de verruga, se ela sangrar com frequência, se ela for localizada numa área exposta ao sol como dorso do nariz, face, bochecha, orelha, ou mesmo na região do tórax, você tem que suspeitar que esteja se iniciando aí um câncer de pele. Ele pode ser um carcinoma basocelular ou espinocelular e, no caso de melanoma, que é um um tumor de pele muito grave, porque ele pode realmente afetar as camadas de pele um pouquinho mais profundas, ele deve ser é diagnosticado precocemente para que o tratamento dê um ótimo resultado”, acrescenta o especialista.

Campanha

O Hospital das Clínicas integra as ações da Sociedade Brasileira de Dermatologia no período do Dezembro Laranja, campanha nacional de conscientização sobre o câncer de pele. Os atendimentos são gratuitos e ocorrem no dia 3 de dezembro, das 9h às 15h.

As ações não se limitam a São Paulo. Para consultar o ponto de ação da campanha mais próximo, acesse o site https://www.sbd.org.br/dezembrolaranja/.

FONTE: Jornal da USP

Cuidados com a pele e a saúde devem ser redobrados no verão

Está chegando o verão e, com ele, aquela prática tão característica da estação de tomar banho de sol. É nessa hora que as atenções e os cuidados com a pele devem ser redobrados. O aumento da radiação solar é um fenômeno muito comum e, em decorrência disso, a emissão dos raios ultravioleta, UVA e UVB, crescem e aumentam também os riscos de doenças da estação. A professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Cacilda da Silva Souza, especialista em dermatologia, explica que a proteção deve ser feita através do filtro solar, priorizando a face, e com a utilização de barreiras físicas, tais como roupas leves e de manga comprida, chapéus, bonés e sombrinhas.

“Atualmente já existe uma diversidade de vestimentas próprias para as atividades esportivas, a piscina, mar e também para as atividades diárias. Uma ideia muito simples e boa é o uso de mangas removíveis que o ciclistas e motociclistas utilizam”, recomenda. De acordo com a professora, a proteção deve ser maior em crianças, indivíduos de pele clara e que ficam muito vermelhos com a exposição solar, além de idosos, por possuírem uma pele mais sensível e um risco maior para o desenvolvimento de tumores.

Fator de proteção

No filtro solar é sempre indicado o fator de proteção que, segundo Cacilda, deve ser maior que 30. “O recomendado aqui na nossa região, com a intensidade da radiação ultravioleta, seria entre 50 e 60.” A professora ainda lembra que o filtro solar não deve arder os olhos e que uma opção é usar o filtro solar infantil.

Apesar de a pele clara exigir mais cuidados, a escura também sofre com as doenças da estação. “Enquanto a pele clara produz pouca melanina, que protege da radiação ultravioleta do sol, na pele escura essa produção da melanina é abundante. Os indivíduos de pele escura têm uma proteção natural contra o sol.” Mesmo assim, a professora reforça que o uso de filtro solar é indispensável.

Além da proteção contra o sol, que pode causar doenças de pele, a desidratação é outro problema recorrente e que precisa de atenção. “É essencial que haja um aumento da ingestão de água no verão, especialmente em atividades com exposição ao sol. Isso porque a falta de consumo de água, junto com a exposição solar excessiva, pode levar à desidratação e à insolação.”

E a insolação é uma condição comum nesta época do ano. É resultado de uma exposição intensa ao calor. A insolação acontece quando a temperatura corporal fica superior a 40º, o que causa uma falha no mecanismo de transpiração corporal.

Julia Gatto, estudante de 21 anos, conta que teve insolação depois de uma uma sessão de bronzeamento artificial, quando não foram tomados os cuidados necessários com a pele. “No momento em que saí da clínica já estava com muita febre, porque o meu corpo estava muito quente, acabei ficando com bolhas, febre e ânsia por uns três dias e tive que faltar na faculdade e no estágio.”

A professora lembra que a insolação e a desidratação são problemas que podem impactar diretamente o aproveitamento da estação. “A adoção das medidas preventivas vai ajudar a se proteger e aproveitar melhor e com menor risco este período de férias e de lazer”, conclui.

Por Laura Oliveira

FONTE: Jornal da USP

Remédios orais e injetáveis são absorvidos da mesma forma pelo organismo?

Os remédios orais são ingeridos pela boca, diferentemente dos injetáveis, aplicados por meio de agulhas. Os administrados pela via oral incluem os medicamentos de gota, as cápsulas e os comprimidos. “Se é um comprimido, após ser ingerido, ele vai se desagregar no estômago, e aí começa um processo de dissolução. Depois, ele vai passar para o intestino, onde os fragmentos desse comprimido ainda continuam a dissolver princípios ativos.

O que já foi dissolvido vai ser absorvido ali na mucosa intestinal para depois passar pelo sistema, onde vai ser metabolizado para, depois, atingir a circulação sistêmica”, explica o professor Gabriel Lima de Araújo da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. O professor ainda explica que, caso os remédios estejam na forma líquida, a absorção tende a ser mais rápida, porque o princípio ativo já está solubilizado. A trajetória é a mesma e Araújo ressalta: “Um ponto interessante é que as pessoas muitas vezes não sabem que a maioria dos princípios ativos não é absorvida no estômago e, sim, no intestino”.

Eficácia

Pelos remédios orais passarem pelo ácido clorídrico, componente do suco gástrico, alguns podem pensar que eles perdem eficácia quando comparados com os injetáveis. O professor explica que isso não ocorre: “Não são todos os princípios ativos que se degradam no suco gástrico. Os comprimidos, por exemplo, são revestidos com uma película de filme polimérico, que é resistente, então ele passa pelo estômago intacto. Ele só vai abrir lá no intestino, onde você tem um PH que não vai causar degradação do princípio. Não é uma diferença de eficácia, mas a gente usa os injetáveis quando precisamos de uma ação imediata, dessa forma a gente contorna todas essas barreiras da absorção intestinal”.

A maioria dos medicamentos de gota ou de comprimidos e cápsulas deve ser ingerida com intervalos de tempo regulares. Isso também não está relacionado com uma menor eficácia do princípio ativo. “O medicamento leva um tempo para poder atingir a concentração plasmática adequada. Você pode notar que, algumas fórmulas, tem que tomar duas ou três vezes por dia durante vários dias. Isso ocorre para que você possa ter realmente uma ação terapêutica”, explica Araújo.

Desenvolvimento

A pesquisa por trás do desenvolvimento de remédios varia muito conforme a via de administração, o tempo de efeito e o tipo de remédio. O professor comenta sobre essa linha de produção: “Num desenvolvimento existem diversos fatores: são equipes multidisciplinares que vão trabalhar para esse desenvolvimento. Assim, estuda-se toda a parte de estabilidade química, a toxicológica, se ele pode ser administrado por via oral ou precisa ser injetável. Tem que juntar tudo, tanto o conhecimento farmacológico quanto o conhecimento físico-químico, para que a gente consiga desenvolver uma medicação”.

Por Alessandra Ueno

FONTE: Jornal da USP

Consumo de ultraprocessados tem sérios impactos na saúde

O estudo “Mortes Prematuras Atribuídas ao Consumo de Ultraprocessados no Brasil”, estima em quase 57 mil o número de mortes anuais ligadas ao consumo desse tipo de alimento.

Seja pela praticidade, seja pelo sabor, há um crescimento na ingestão de alimentos ultraprocessados. De acordo com o estudo Mortes prematuras atribuídas ao consumo de ultraprocessados no Brasil, realizado por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens), Fiocruz, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Santiago do Chile, o número de mortes ligadas aos ultraprocessados aproxima-se a 57 mil por ano.

Esse é o primeiro estudo que estima as mortes prematuras associadas ao consumo de ultraprocessados em um país. Eduardo Nilson, pesquisador do Nupens, órgão integrado à Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, conta que o objetivo do estudo era resonder: “Quanto porcento das mortes por todas as causas nós poderíamos atribuir ao consumo de ultraprocessados?”.

Com base nos dados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a ingestão calórica de ultraprocessados, a pesquisa também visou a avaliar o impacto do consumo desse tipo de alimento. “Foi uma oportunidade de não olhar somente para nutrientes críticos, mas para a questão do padrão alimentar”, comenta ele.

O que são os ultraprocessados?

Os alimentos ultraprocessados são composições de substâncias derivadas de alimentos que contêm pouca ou nenhuma porção daquela comida. Com intuito comercial, são combinados açúcar, sal, gorduras aos aditivos sintetizados em laboratório – como emulsificadores, corantes artificiais e aromatizantes. A produção desses alimentos em escala industrial favorece a satisfação do paladar e a conveniência no consumo de alimentos, por geralmente virem embalados em porções individuais.

Por serem alimentos com baixo valor nutritivo, eles apresentam poucos nutrientes essenciais à saúde, como vitaminas e fibras. “Ao mesmo tempo, eles são frequentemente altos nos nutrientes críticos, que são o sódio, as gorduras saturadas, gorduras trans e o açúcar”, complementa Nilson. O processamento dos alimentos, método para aumentar a palatabilidade e a durabilidade da comida, altera a absorção de nutrientes e desregula as funções digestivas do corpo humano, segundo ele.

Uma parcela da dieta marcada pela ingestão de ulraprocessados eleva o risco do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). “Por exemplo, o sódio, relacionado à hipertensão e a doenças cardiovasculares, o açúcar, levando à obesidade, a gordura, que tem energia, e tem a questão das epidemias, levando a consequências cardiovasculares também”, elabora o pesquisador.

A ingestão calórica provinda dos ultraprocessados cresceu de 14,3% (2002/2003) para 19,4% (2017/2018) da dieta diária nas casas brasileiras, segundo o estudo. Nesse mesmo período, o IBGE aponta que o porcentual de obesidade entre pessoas de 20 anos ou mais passou de 12,2% para 26,8%.

A saída para uma alimentação saudável

O pesquisador reafirma a importância de analisar a alimentação não apenas no aspecto nutritivo, mas também o padrão alimentar brasileiro. Nilson indica que, nas últimas décadas, tem sido observada uma tendência de aumento no consumo de ultraprocessados. Esta métrica, contudo, atinge diretamente um grupo particular: “Há um aumento mais rápido [da ingestão de ultraprocessados], que é muito preocupante em termos de equidade, entre as famílias mais pobres”, menciona.

Como uma alternativa, o pesquisador sugere a redução do consumo desse tipo de alimento com base na implementação do Guia Alimentar para a População Brasileira. Essa escolha seria realizada tanto no âmbito da educação informativa como na transformação dos ambientes alimentares, passando desde as escolhas do consumidor até o sistema de produção alimentícia.

Nilson exemplifica os impactos dos ultraprocessados na produção de alimentos com a questão das mudanças climáticas: “A pegada de carbono e o uso de água dos ultraprocessados são muito maiores, por exemplo, do que os alimentos frescos e minimamente processados que são aqueles alimentos básicos”.

Além da redução do consumo, ele explora outras soluções: “Isso vai implicar […] na possível taxação de alimentos ultraprocessados, subsídios aos alimentos in natura e minimamente processados, regular publicidade de alimentos, trabalhar no acesso mais fácil aos alimentos saudáveis”. Para ele, apenas por meio de escolhas políticas seria possível reduzir os impactos na saúde da população brasileira.

FONTE: Jornal da USP

Dislexia não pode ser confundida com baixos níveis de inteligência

Confundida com o Transtorno de Déficit de Atenção, a dislexia é empecilho para uma educação plena; as escolas não estão preparadas para amparar esses alunos

De difícil compreensão e diagnóstico, a dislexia se apresenta em pelo menos 17% da população mundial. É um distúrbio de aprendizagem, especificamente de leitura e que tem consequências na escrita. Pessoas disléxicas têm dificuldade em decodificar palavras e em relacionar o fonema com o grafema, ou seja, ligar o som à letra.

“É uma dificuldade bastante específica no reconhecimento dos grafemas, que seriam as letras, e na conversão destes em sons no cérebro. A dislexia seria a falha e a dificuldade no reconhecimento de traços que são socialmente construídos para representar sons, então é uma dificuldade bastante específica que envolve leitura e escrita”, explica Telma Pantano, fonoaudióloga e coordenadora da Equipe Multidisciplinar do Hospital Dia Infantil do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.

Muito confundido com o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), a dislexia é uma doença genética relacionada a um problema de ordem neurobiológica, que afeta o lado esquerdo do cérebro, o qual é responsável pela leitura e pela escrita e onde funciona a memória de curto prazo. Dessa forma, fica difícil decorar palavras e letras. Por isso, para eles, é como se estivessem em um constante processo de aprender a ler. Existem diferentes graus, então algumas pessoas têm mais facilidade em lidar e conviver com a dislexia.

Os sintomas mais comuns são a dificuldade na escrita, na leitura, confundir esquerda com direita, trocar letras por outras de forma parecida, como d e b ou t e f, mesmo que o som não seja igual. Os disléxicos também têm dificuldade em seguir ordens, compreender frases muito longas, na compreensão de textos e de conceitos abstratos e podem apresentar um vocabulário pobre, confusão entre cores e formas, erros de concordância verbal e escrita espelho, invertendo a palavra.

Dificuldade de aprender

O processo de alfabetização também acaba se tornando mais lento. O distúrbio, porém, não pode ser confundido com baixos níveis de inteligência, criatividade ou falta de vontade de aprender. Quanto mais cedo a criança for diagnosticada e tratada, melhor será para seu desenvolvimento. Muitas pessoas disléxicas acabam desmotivadas a estudar porque não há um apoio ou estímulo adequado a elas, o que é essencial.

Por se tratar de uma dificuldade primária de aprendizagem, está relacionada à reprovação escolar. Por isso, a escola tem papel fundamental na identificação de alunos disléxicos. O distúrbio não se manifesta em nenhum outro lugar de maneira tão enfática ou clara, principalmente pelos estímulos cognitivos e de leitura.

“Muitas vezes o professor desconfia e tem toda a capacidade de perceber, de observar as dificuldades, mas a avaliação e diagnóstico tem que ser feita num contexto individual e clínico”, ressalta Telma.  Não existe diferenciação na hora da matrícula para alunos com dislexia e, até o ano passado, não existia diferença de tratamento no que tange o aprendizado nas escolas. Não incluído na lei de pessoas com deficiência, os disléxicos e pessoas com TDAH agora têm amparo legal por meio da lei n°14.254, de 30 de novembro de 2021. Por meio desta, fica assegurado acompanhamento integral para os alunos com o diagnóstico desses distúrbios de aprendizagem.

“É bastante importante que eles se sintam mais acolhidos e consigam aprender todo o conteúdo dado em sala de aula. Hoje a gente tem leis que deixam isso muito claro da necessidade de suporte e de intervenção comportamental que a escola pode e deve fazer mesmo sem um diagnóstico preciso”, lembra a psicóloga.

Como contornar esse problema?

A escola, para deixar mais fácil o processo de aprendizagem, pode adaptar às salas de aula algumas práticas simples de inclusão desses alunos: colocá-los à frente da sala, falar olhando para eles, dar ordens simples e estimular a consciência fonoaudióloga. É importante também que a forma de avaliação leve em conta essa dificuldade, para que as taxas de reprovação: não descontar erros ortográficos ou de pronúncia, disponibilizar mais tempo para a leitura e conclusão das atividades e propor diferentes atividades, não só as que incluam leitura e escrita.

“A gente precisa reestruturar a escola. Colocar a aprendizagem escolar, como é uma aquisição de conceitos que envolvem habilidades cognitivas socioemocionais, de uma forma mais ampla. Temos que entender que a escola precisa ainda reformular um ponto muito importante que é entender a necessidade de não colocar a leitura e a escrita como os pontos centrais dessas aquisições, tanto cognitivas como socioemocionais”, diz.

O professor, portanto, deve estar atento e comunicar os pais e responsáveis caso encontre algum dos sintomas no aluno ou veja que ele tenha alguma dificuldade. Importante dizer que apenas uma equipe multidisciplinar é capaz de dar o diagnóstico certeiro e que, mesmo tendo um papel muito importante no processo de descobrir a dislexia, o professor não deve dar o diagnóstico. Este, por sua vez, é feito por uma equipe multidisciplinar que conta com psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo e um neurologista. A confirmação do diagnóstico só aparece na ressonância funcional, que filma o cérebro em ação. O tratamento pode ser feito a partir de programas fonoaudiólogos associados à psicoeducação, aulas de reforço individual e psicoterapia.

Por Julia Estanislau

FONTE: Jornal da USP

Canabinoides sintéticos, uma ameaça à saúde pública

Cerca de 100 vezes mais forte que a natural, os canabinoides sintéticos começaram a serem comercializados em presídios. Hoje, é a substância sintética mais comum em São Paulo

Há alguns anos, uma droga tomou conta dos presídios e invadiu as ruas: a maconha sintética. A droga surgiu a partir da tentativa de separar os efeitos psicoativos das propriedades medicinais da Cannabis Sativa e, no último ano, teve um crescimento de 600% nas apreensões por parte do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, o Gaeco.

“Os canabinoides sintéticos, conhecidos popularmente como maconha sintética, K2, K4 e Spice, são substâncias que agem nas mesmas regiões do cérebro que o princípio ativo da Cannabis Sativa, o THC, presente nos cigarros de maconha”, explica Maurício Yonamine, professor do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Ela se apresenta de várias maneiras: dentro de saquinhos metalizados, na forma líquida (para cigarros eletrônicos), na forma de selos ou infusionadas em papel.

A droga é cerca de 100 vezes mais forte do que a maconha e, em 2016, causou em New Haven, ao lado da Universidade de Yale, uma overdose coletiva. Mais de 70 ocorrências foram registradas. A mesma coisa aconteceu em Nova York, onde usuários, por conta dos efeitos da droga, ficaram parecendo “zumbis”, vagando sem rumo e não respondendo a estímulos.

O Relatório Mundial sobre Drogas 2022 estima que 284 milhões de pessoas entre os 15 e 64 anos usaram drogas em 2020, um aumento de 26% em relação aos dez anos anteriores. A pandemia impediu que novos dados fossem coletados, mas houve um crescimento da insegurança e da vulnerabilidade, algo que tem impacto direto no consumo de drogas.

Segundo o Primeiro Informe do Subsistema de Alerta Rápido sobre Drogas (SAR), 135 países já reportaram identificar as chamadas Novas Substâncias Psicoativas, entre as quais os canabinoides sintéticos (incluindo as maconhas sintéticas). O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) registrou um aumento de 300% no número de novas substâncias psicoativas entre 2009 e 2019. O Núcleo de Exames de Entorpecentes fez 1.274 análises de substâncias sintéticas e, destas, 42% eram canabinoides sintéticos. Esse é o tipo de substância mais comum no Estado de São Paulo, segundo o informe.

Difícil identificação

Por se tratarem de substâncias facilmente modificadas no nível molecular, são muito difíceis de serem identificadas e a cada momento uma nova pode surgir. A sua fiscalização, portanto, é um desafio para a polícia e para os exames toxicológicos. Medidas como a aprovação da Portaria Nº 898, de 6 de junho de 2015, que criou o Grupo de Trabalho para regulamentar e aperfeiçoar a classificação e buscar novas estratégias ao controle das drogas, e o Projeto Minerva, que visa a preparar e capacitar peritos para identificar as novas substâncias, são caminhos para o enfrentamento.

Medidas como essas são de extrema importância, já que essas substâncias não estão listadas na Convenção Única de Entorpecentes, de 1961, nem na Convenção sobre Substâncias Psicoativas, de 1971. De forma que não há efetivamente um controle internacional.

Ela foi primeiro comercializada dentro dos presídios, e o Ministério Público de São Paulo estima que organizações criminosas já arrecadaram mais de R$ 1 milhão por mês com o tráfico e comércio dessa droga. Por ter vários formatos, a fiscalização é mais complicada e exige aparelhos de identificação nos laboratórios muito caros, além do constante aprimoramento dos cientistas, que sempre têm que decodificar uma nova combinação de elementos químicos sintéticos. “Como são drogas novas, a sua identificação representa um grande desafio para a polícia científica e não só no Brasil. É um desafio mundial”, alerta o professor.

“A gente tem fiscalização das polícias federais de todos os Estados. Mas isso é insuficiente para coibir em grande quantidade o tráfico, porque é muito lucrativo”, explica o professor titular da Faculdade de Direito da USP, Sérgio Salomão Shecaira. Por ter uma extensa faixa de fronteira com outros países, uns deles conhecidamente núcleo de tráfico de drogas, mesmo com alguma fiscalização, “é impossível ter um controle sobre a entrada de drogas no Brasil”, finaliza.

Para Marcelo da Silveira Campos, doutor em Sociologia pela USP e professor adjunto do Instituto de Ciências Humanas da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), o problema das drogas é, antes de tudo, um problema de saúde pública. Assim, combater o uso e o tráfico conta também com o tratamento dos usuários e dependentes por meio de políticas públicas que funcionem. Usar apenas a lei e recorrer ao encarceramento em todos os casos, portanto, não é a solução.

Desde 2006, a Lei n° 11.343 instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), mais conhecido como a Lei de Drogas. Ela pressupõe “a prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas”. Também conta com o apoio entre várias instâncias do governo, não só a força policial.

Outro ponto comentado por Campos é sobre o perfil dos incriminados pelo crime. Classe social, gênero, condição financeira, nível de escolaridade e raça são fatores determinantes para o consumo, tráfico e, principalmente, na hora de escolher quem deve levar a maior pena. “As mulheres são muito mais incriminadas que as pessoas nas periferias de São Paulo, cerca de duas vezes mais por tráfico do que com o uso, muitas vezes com as mesmas quantidades de drogas”, diz.

Muitas vezes aqueles que mais usam não são presos, por conta da posição social. A lei não chega a esses, que são capazes de pagar fiança ou não são vistos pela sociedade como possíveis traficantes ou usuários, como aqueles que estão em posições mais vulneráveis e de maior preconceito.

Por Julia Estanislau

FONTE: Jornal da USP

Diabetes pode ser hereditária?

Você tem diabetes e quer saber se ela pode ser hereditária? Ou você tem alguém na família com diabetes e está preocupado com a possibilidade de desenvolver essa doença? Nesse texto, podemos trazer algumas respostas para as suas dúvidas!

Antes de tudo, vamos só explicar brevemente o que é o diabetes para que, caso você ainda não saiba muito bem, entenda melhor e não se sinta confuso durante a leitura.

O diabetes

O diabetes é uma síndrome metabólica que acontece por conta da falta de insulina ou pela incapacidade de a insulina exercer seus efeitos no organismo. Isso causa altas taxas de açúcar no sangue de forma permanente. 1

A insulina é produzida no seu pâncreas e é responsável pela manutenção do metabolismo, permitindo que você tenha energia suficiente para manter o seu organismo todo funcionando. 1

Apenas 5 a 10% dos casos de diabetes correspondem ao tipo 1, que é aquele em que o sistema imunológico ataca as células que produzem insulina. Já o tipo 2 ocorre, principalmente, em pessoas com excesso de peso, sedentarismo, hábitos não saudáveis e histórico familiar. 1

Como o diabetes é uma doença silenciosa, é importante entender melhor sobre ele. Saiba mais nesse link.

Diabetes e hereditariedade

Existem alguns fatores de risco relacionados ao diabetes e a hereditariedade é um deles. O histórico familiar dessa doença coloca você em maior risco de desenvolvê-la em qualquer um dos tipos. O que não significa que você vai obrigatoriamente ter diabetes, ok? 2

O fator genético é mais determinante no diabetes tipo 2. Para o tipo 1, o fator com mais impacto são as infecções virais. 2

Nós nascemos com um conjunto de informações que dão instruções às nossas células de como elas devem funcionar. Essas informações são armazenadas em genes que formam o nosso DNA. Pesquisadores já identificaram vários tipos diferentes de genes que podem trazer mais risco de as pessoas desenvolverem a doença. 2

Esses genes são chamados de “suscetíveis ao diabetes”. Entretanto, essa ainda não é a resposta final, já que 45% das pessoas que possuem essas variantes não desenvolveram a doença. Comprovando o que dissemos no começo desse tópico: não é porque você tem o histórico familiar que desenvolverá o diabetes.  2

Além de ser mais impactante no diabetes tipo 2 do que no tipo 1, o fator genético tem seus números alterados nos dois. Se um portador de diabetes tipo 1 tiver um irmão gêmeo idêntico, há de 30 a 40% de chances de o irmão também desenvolver a doença. Já com o diabetes tipo 2, há de 60 a 75% do irmão desenvolver a doença. 2

Prevenção do diabetes

Mesmo sendo um fator hereditário, existem formas de prevenir o diabetes com hábitos saudáveis como alimentação, atividade física e outros. 3

Evitar ou cuidar de outras doenças crônicas também são formas de prevenir o diabetes, já que existem doenças que são fatores de risco para ele, como a obesidade. 3

Manter uma alimentação saudável de acordo com a dieta recomendada para o seu médico, além de manter o acompanhamento com um profissional, é um dos pontos importantes para cuidar da sua saúde e evitar o diabetes. Existe um Guia Alimentar disponibilizado pelo Ministério da Saúde que podem ajudar no seu dia a dia. 1, 3

Atividades físicas também são importantes para a sua saúde como um todo, não apenas no combate ao diabetes. Por isso, sua prática nunca deve ficar de lado. Faça atividades que goste, comece devagar, siga as orientações médicas e entenda seus limites. Para auxiliar você nessa jornada, também tem um Guia de Atividade Física disponibilizado pelo Ministério da saúde e vale a pena conferir. 1, 3

Nunca esqueça de manter o acompanhamento médico frequente e cuidar de outras doenças crônicas caso você já tenha alguma. Em nosso blog, tem diversos conteúdos sobre esse assunto. Se você já tem diabetes e está preocupado com a hereditariedade de alguém próximo, recomende essas dicas para essa pessoa e conheça mais algumas maneiras de controlar o seu diabetes.

Referências:  
  1. Secretaria da Saúde – Estado do Paraná. Diabetes (diabetes mellitus) [Internet]. [cited 2022 Oct 13]. Available from: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Diabetes-diabetes-mellitus#:~:text=A%20melhor%20forma%20de%20prevenir,f%C3%ADsicas%20devem%20ser%20uma%20prioridade 
  2. LIGIA – Liga Interdisciplinar de Diabetes. Meus filhos terão diabetes? [Internet]. UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2017 Sep 10 [cited 2022 Oct 13]. Available from: https://www.ufrgs.br/lidia-diabetes/2017/09/10/meus-filhos-terao-diabetes/
  3. Secretaria da Saúde – Estado da Goiás. Diabetes [Internet]. 2019 Nov 21 [cited 2022 Oct 13]. Available from: https://www.saude.go.gov.br/biblioteca/7592-diabetes  
BR-20449. Material destinado a todos os públicos

FONTE: Programa Blog FazBem

Exames periódicos ainda são a melhor forma de prevenir o câncer de próstata

O câncer de próstata, tipo mais comum entre os homens, é a causa de morte de 28,6% da população masculina que desenvolve neoplasias malignas. No Brasil, um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

O Novembro Azul é o mês mundial de combate ao câncer de próstata. O  urologista Daher Cezar Chade, professor da Clínica Urológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com ênfase em Uro-Oncologia,  explica que os cuidados devem ser mais frequentes a partir dos 50 anos.

Os tumores de próstata podem ser de baixa, média ou alta agressividade. Os exames regulares são muito importantes para detectar o câncer na próstata logo na fase inicial da doença. Fase essa em que o câncer não apresenta sintomas, segundo o urologista da USP.

Sintomas

Quando alguns sinais começam a aparecer, cerca de 95% dos tumores já estão em fase avançada, dificultando a cura. Entre os sintomas estão as dores nos ossos, dor para urinar, vontade constante de urinar e a presença de sangue na urina.

A prevenção do câncer na próstata é feita em duas etapas: a primária e a secundária. A primária está relacionada a hábitos saudáveis de vida. Já a secundária inclui os exames periódicos.

Esse tipo de câncer chega a atingir 16% dos homens e sua frequência aumenta com a idade. O especialista diz que a  escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e definida após médico e paciente discutirem os riscos e benefícios de cada um, de acordo com a fase da doença.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

Efeitos da obesidade na capacidade respiratória de mulheres

A resistência das vias aéreas está relacionada com a dificuldade de o ar se movimentar nessas vias, e afeta a capacidade funcional das mulheres, mesmo que elas não apresentem queixas ou sinais clínicos.

A resistência das vias aéreas é o grau de dificuldade com que o fluxo de ar se movimenta para dentro e para fora dos pulmões, o que está associado ao diâmetro do sistema respiratório. Quanto mais resistência, maior a dificuldade durante a respiração. Alguns estudos já haviam demonstrado que as pessoas com obesidade, tanto homens quanto mulheres, apresentam esse distúrbio.

Agora, uma pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP realizada com mulheres com obesidade grau 3, considerada a mais elevada, além de confirmar os resultados anteriores, traz novos dados ao mostrar que, embora haja um aumento da resistência do sistema respiratório, a maioria das participantes não reclamaram de falta de ar e nem de limitações importantes durante os testes de caminhada. Uma possível explicação para isso é que as mulheres que participaram do estudo se declararam fisicamente ativas.

De acordo com a professora Ada Clarice Gastaldi, uma das autoras da pesquisa, mesmo nessas pacientes que não se queixaram durante os exercícios, foi possível identificar que o aumento da resistência das vias aéreas se relaciona com uma diminuição da capacidade funcional do exercício e da habilidade na realização de atividades físicas e diárias. “Isso pode aumentar as chances de complicações em situações de maior demanda, como no controle da ventilação e nos níveis de oxigênio no sangue dos pacientes durante cirurgias, nos períodos de restrição ao leito, ou mesmo com o envelhecimento, e também, em situações críticas, como a necessidade de intubação”, explica a professora ao Jornal da USP.

Em casos de obesidade, o menor diâmetro das vias áreas pode ser causado pela diminuição de volume pulmonar, inflamação no interior das vias aéreas ou alterações hormonais. “Sabemos que os índices de obesidade estão aumentando na população em geral. O acúmulo de gordura no corpo pode causar o comprometimento da respiração, colaborando para insuficiência ventilatória”, diz a professora. Uma das maneiras de lidar com o problema é por meio de fisioterapia, um conjunto de técnicas manuais preventivas ou curativas que podem, por exemplo, melhorar a oxigenação do sangue e reeducar a função respiratória.

Os dados foram publicados na revista PLOS ONE no artigo Increased airway resistance can be related to the decrease in the functional capacity in obese women.

Identificação da resistência das vias aéreas

Participaram do estudo 37 mulheres em pré-operatório para cirurgia bariátrica do Hospital das Clínicas da FMRP. “Dentre as pessoas com obesidade, há uma prevalência maior em mulheres e, além disso, trabalhamos com um grupo vinculado a um serviço de cirurgia bariátrica [para redução de estômago] que atrai principalmente mulheres”, explica a professora Ada sobre o porquê de apenas pessoas do sexo feminino terem participado do estudo.

Além disso, as voluntárias não eram fumantes e tinham idade entre 18 e 50 anos. “Temos um grupo bem homogêneo, o que não é observado em muitas pesquisas. Vários estudos reúnem homens e mulheres ou grupos com diferentes graus de obesidade”, aponta.

A fisioterapeuta também explica que quando a resistência do sistema respiratório de pessoas sem obesidade é analisada, há um valor mais elevado em mulheres, já considerado nos valores de referência utilizados. Nas com obesidade, isso é intensificado.

As participantes foram avaliadas por meio do teste de caminhada de seis minutos, do teste de espirometria e do sistema de oscilometria de impulso.

No primeiro, durante seis minutos, o paciente caminha o mais rápido que conseguir em um corredor de 30 metros. Os níveis de frequência cardíaca, saturação periférica de oxigênio, frequência respiratória e pressão sanguínea são monitorados antes, durante e depois do exercício. E os pacientes informam, com base em uma escala, o nível de desconforto ao respirar e o de cansaço das pernas. A distância percorrida no teste é um indicador da capacidade funcional de exercício, que pode afetar o desempenho em atividades mais intensas e também as diárias.

A espirometria é o teste funcional pulmonar mais comum na prática clínica. Nele, é necessário que a pessoa inspire profundamente e expire o mais forte e rápido possível. A espirometria não fornece diretamente o valor da resistência, mas mostra o resultado que ela provoca no fluxo de ar.

Já a oscilometria é mais restrita às pesquisas. A vantagem desse teste é que não demanda esforço do paciente, que apenas precisa respirar tranquilamente em um bocal e avalia de forma direta o valor da resistência do sistema respiratório. “Na oscilometria, podemos medir a resistência inspiratória ou respiratória, a resistência das vias aéreas centrais ou periféricas”, acrescenta a professora Ada.

Avaliação para prevenção

Mesmo nas participantes que não relataram queixas durante os exercícios foi possível identificar que o aumento da resistência das vias aéreas se relaciona com uma diminuição da capacidade funcional do exercício. Ada acredita que seria interessante ainda adicionar ao estudo um grupo de mulheres com obesidade grau 3 e com queixas de dispneia —  falta de ar —, a fim de identificar se há um comprometimento proporcional da capacidade funcional.

Saber que o distúrbio pode acontecer sem sinais clínicos é positivo para identificação e prevenção desse estado, aponta a professora. “É importante lembrar que estamos trabalhando com avaliação, mas pensando sempre de que forma essa investigação pode contribuir. Não é só avaliar e identificar, mas é pensar, a partir do problema identificado, de que forma podemos tratá-lo”, complementa.

Mais informações: e-mail ada@fmrp.usp.br, com Ada Clarice Gastaldi

Por Bianca Camatta

FONTE: Jornal da USP