Desigualdade de gênero pode afetar estrutura cerebral de mulheres

Um novo estudo encontrou evidências de diferenças significativas na espessura do córtex cerebral entre homens e mulheres em populações com grande desigualdade de gênero. Nas regiões do cérebro onde foi identificada, a variação é interpretada pelos pesquisadores como maior vulnerabilidade em termos de saúde mental – e pode indicar que as mulheres estiveram mais expostas a situações adversas desde o início da vida.

Quando comparadas, imagens de ressonância de homens e mulheres mostraram diferenças nas seguintes regiões: giro cingulado anterior caudal direito, giro orbitofrontal direito e córtex occipital lateral esquerdo. Nesta população, os homens possuíam uma espessura cortical maior em relação às mulheres nessas áreas. Ainda não há como determinar as consequências destas diferenças na prática, mas sabe-se que estas regiões são responsáveis pelo gerenciamento das emoções, pela resiliência em situações adversas e na regulação dos sentimentos negativos. Também são associadas ao processamento de memória, à avaliação de riscos e à modulação do medo e ansiedade.

O índice de desigualdade de gênero foi estabelecido pelo Fórum Econômico Mundial em 2006. Desde então, é avaliado anualmente em 156 países do mundo e abrange quatro dimensões: participação e oportunidade econômica, acesso à educação, empoderamento político, saúde e sobrevivência. Os dados são colhidos localmente e se traduzem em uma comparação das informações para compor um indicativo da diferença entre homens e mulheres, considerados a partir de sexo biológico somente, sem levar em conta as identidade de gênero. No artigo, os pesquisadores reconhecem que esta é uma limitação dos dados com que trabalharam, já que não há sobreposição entre sexo biológico e identidade de gênero.

Com essas informações, foi possível correlacionar situações de vida menos favoráveis das mulheres com o desenvolvimento neuronal. Assim, menos escolaridade, menos cuidados na infância, e maior mortalidade materna parecem ter impacto não só psicológico, mas também na estrutura do cérebro.

O que torna o estudo especialmente relevante é a utilização de diferentes populações combinadas e uma amostra grande, trazendo uma nova perspectiva sobre essas diferenças cerebrais. Foram colhidas e analisadas por um grupo internacional de cientistas imagens de ressonância magnética de 7876 adultos, entre 18 e 40 anos de idade, de 79 países.

O médico Pedro Gomes Rosa, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que participou da pesquisa, destaca alguns pontos importantes para compreender os resultados obtidos:

Quando nascemos, existem diferenças entre os cérebros de bebês do sexo masculino e feminino. No entanto, as semelhanças entre eles são muito maiores, sem que sejam percebidas diferenças na região cortical. Os resultados da pesquisa não são explicados pela biologia somente, mas considerando uma variável social específica, a desigualdade de gênero, que pode ter impacto ao longo do crescimento. As variáveis sociais são difíceis de serem estudadas de forma isolada. Este estudo é pioneiro nesse sentido, pois conseguimos mostrar uma relação entre essa variável e modificações na espessura cortical.”

O pesquisador explica que as diferenças documentadas no estudo podem ser compreendidas como um reflexo do que aconteceu ao longo da vida, particularmente em alguns momentos da infância e adolescência. “Há dois momentos dramáticos em termos de neurodesenvolvimento – os chamados primeiros mil dias, que englobam a gestação e os dois primeiros anos de vida, além da puberdade. As meninas iniciam a puberdade antes dos meninos muitas vezes em um contexto de estresse, o que tem reflexos na saúde mental”, disse ao Jornal da USP.

No Brasil, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, as meninas de 13 a 17 anos se sentem mais tristes, sofrem mais violência doméstica e abuso sexual e possuem uma maior insatisfação com o próprio corpo em relação aos meninos. Esses dados justificam um quadro menos favorável em termos de bem-estar psicológico.

Para o neurocientista Raymundo Machado de Azevedo Neto, assistente de pesquisa no Instituto de Cérebro no Hospital Albert Einstein, o trabalho apresentou resultados coerentes com o que ele tem se deparado em diversos estudos. “Maiores diferenças de espessura cortical e volume de hipocampo entre homens e mulheres em populações com maior desigualdade social eram esperadas por conta dos estudos prévios. O que esse estudo tem de novidade é a possibilidade de verificar essas diferenças combinando diferentes populações e com uma amostra robusta.”

As imagens foram feitas em diferentes países (veja mapa). Uma das preocupações dos pesquisadores foi verificar se havia a possibilidade de distorções locais, isto é, alguns dos países apresentavam resultados destoantes do resultado mais amplo. Entretanto, de acordo com os autores, os testes estatísticos mostraram que o resultado permanece constante nos diferentes países, sem apresentar variações de uma localidade a outra, ou mesmo entre regiões diferentes, o que reforça a possibilidade de um fenômeno que vai além dos aspectos culturais locais.

 

Mapa mostra regiões que entraram na pesquisa. No estudo, quanto maior o nível de desigualdade de gênero em um país, maior foi a diferença média encontrada na espessura cortical entre mulheres e homens – Imagem do artigo/PNAS Psychological and Cognitive Sciences

Ressalvas

Bruna Velasques, psicóloga e neurocientista especializada em desenvolvimento infantil, vê os resultados com ressalvas: “o fato da pesquisa ter sido realizada em diversas culturas não significa que a cultura não possa ter promovido esse efeito. O neocórtex e as áreas subcorticais são estruturas dependentes do ambiente. Quando falamos em neurodesenvolvimento estamos falando de estruturas que estão em formação durante o contato da criança com o mundo que a cerca. E a maior parte das culturas têm essa oposição de homem versus mulher. Estudos que tentam identificar as diferenças de gênero e os efeitos da pobreza são sensíveis, já que é difícil isolar essas variáveis.” Ela acrescenta ainda que o fato de se verificar as diferenças estruturais cerebrais entre os gêneros não implica em saber o que essas diferenças significam efetivamente.

É nessa direção que Pedro Gomes Barbosa conclui: “o estudo traz novas perguntas em vez de responder a questões que gostaríamos. As variáveis precisarão ser melhor compreendidas. Por exemplo, como pensar a prevalência de depressão entre as mulheres? Ou o abuso de substâncias entre os homens?”

artigo foi liderado pelo pesquisador Nicolas Crossley, professor visitante da Universidade de Oxford, Reino Unido e por André Zugman, pesquisador do National Institute of Mental Health, nos Estados Unidos, que completou seu doutorado na Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Contou ainda com a colaboração dos professores do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e dos pesquisadores do Laboratório de Neuroimagem em Psiquiatria da FMUSP.

Mais informações: e-mail pedrogomesrosa@gmail.com, com Pedro Gomes Rosa

*Pesquisadora colaboradora da FMUSP, com edição de Luiza Caires e Valéria Dias
**Sob supervisão de Moisés Dorado e Simone Gomes de Sá

FONTE: Jornal da USP

Por dentro do coração: pesquisa busca entender recusa familiar na doação de órgãos

Estigma, falta de preparo da equipe médica e o processo de luto dos familiares podem ser fatores que dificultam a doação de órgãos

De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), a fila de espera por um órgão no Brasil ultrapassa 50 mil pessoas. O dado é preocupante, principalmente quando alinhado ao aumento do percentual de recusas em doar, que atingiu 47% em 2022. Frente a isso, pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP analisa o contexto envolvido na recusa familiar, o que pode ajudar a traçar estratégias para reverter o quadro.

No artigo Family Refusal of Heart Valve Donation, publicado na revista Transplantation Proceedings, foi estudada especificamente a recusa do donativo das válvulas cardíacas – responsáveis por controlar o fluxo de sangue e participar do seu processo de bombeamento para o corpo. Para a pesquisa, foi consultado um banco de dados do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) com termos de autorização familiares de doação de órgãos e tecidos.

Entre os anos de 2001 a 2020, 236 pessoas (9,65% do total apurado) recusaram doar as válvulas cardíacas de seus entes queridos. “Nós buscamos investigar se a idade, o tipo da instituição e a razão do óbito eram fatores influentes na decisão da família e se existe uma relação entre os períodos de tempo. Para isso, realizamos alguns testes estatísticos para avaliar o aumento ou a redução da recusa ao longo dos  anos”, explica Rafael Pimentel, doutorando em Gerenciamento de Enfermagem na EEUSP,  ao Jornal da USP.

Os pesquisadores apontaram um perfil entre o grupo de recusa: a maioria dos pacientes tinha entre 41 a 59 anos e estava em instituições privadas. Baseado em relatos que ouviu das famílias, o pesquisador acredita que o simbolismo social do coração e o apego da família ao corpo podem ser possíveis motivos por trás das negativas. “Pode ser que os familiares tenham algum desejo de preservação do corpo, além do próprio significado do órgão. Com a remoção da válvula o coração seria ‘violado’, sendo que o lugar é vinculado ao amor e ao afeto.”

Abordagem médica

A doação de órgãos pode ser feita em vida ou após o diagnóstico de morte encefálica – quando ocorre a ausência de funções neurológicas e o quadro se torna irreversível. No último caso, a escolha de quais órgãos serão doados fica a cargo da família ou cônjuge do paciente. Ou seja, é possível escolher o que será doado e o que não será. Nesse caso, Pimentel frisa a importância de uma equipe médica bem preparada para lidar com delicadeza e conversar com os familiares.

“Essa perspectiva de ‘violação’ é muito baseada nessa representação social por falta de conhecimento sobre o funcionamento do processo, até mesmo por um déficit de informações que o profissional deveria fornecer no momento da entrevista familiar. Essa deve ser uma conversa de esclarecimento e oferecimento da oportunidade de lidar com o luto”, propõe o pesquisador. Atualmente, não existem protocolos oficiais para a abordagem dos familiares do paciente.

Contudo, há uma legislação reguladora, que orienta o trabalho da equipe médica e do ambiente hospitalar: conhecida como a “Lei dos Transplantes”, de 18 de outubro de 2017. Além disso, existe o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), administrado pelo Ministério da Saúde, que é considerado o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo.

Considerando a atuação do programa concisa, Pimentel avalia que seria preciso expandir o programa para diferentes áreas e traçar estratégias para melhorar cada vez mais o atendimento médico. “Melhorar a entrevista implicaria em menos familiares dizendo ‘não’. Nós precisamos investir em um plano nacional de capacitação desses profissionais o quanto antes.”

O projeto de lei (PL) 2839/2019, intitulado Lei Tatiane, busca a inserção de matérias e programas de ensino sobre a doação e o Transplante de Órgãos na grade curricular escolar e universitária. O PL, que aguarda por votação no Senado, leva o nome de Tatiane Penhalosa, que faleceu aos 32 anos esperando por um transplante de coração. Ela permaneceu na fila por dois anos, mas não resistiu à espera.

A fila de espera por transplantes no Brasil cresceu 30,45% após o período pandêmico, segundo dados da ABTO. A doação de órgãos é uma ação fundamental para o sistema de saúde: um doador pode beneficiar múltiplas pessoas, que por sua vez, podem retomar suas vidas. Muitas doenças crônicas podem ser tratadas apenas por meio de um transplante, esgotadas todas as opções de tratamento. Podem ser transplantados rins, fígado, coração, pâncreas e pulmões, além de tecidos como as córneas, válvulas cardíacas, vasos sanguíneos, e até mesmo segmentos de osso.

“Agora é preciso retomar os esforços para reduzir essa fila de espera, otimizando os recursos de saúde. Se otimizarmos o processo de doação nós reduzimos os recursos familiares gastos com o paciente em morte encefálica e aumentamos a qualidade no cuidado com o paciente”, afirma o pesquisador.

Pimentel ainda destaca que o processo de doação pode ser uma alternativa para a família enfrentar o luto e ressignificar a vivência da perda de seu ente querido. “O mais importante não é só doar ou não doar, mas a família entender que aquilo é uma oportunidade de transformação. Hoje a gente ainda não tem uma cultura doadora fortalecida no País, já que ainda existe um estigma muito grande e uma dificuldade em lidar com a morte. Porém, essa conversa é muito importante e precisa adentrar os lares brasileiros.”

Mais informações: e-mail rafaelpimentel@usp.br, com Rafael Rodrigo da Silva Pimentel

*Sob supervisão de Fabiana Mariz e Luiza Caires

FONTE: Jornal da USP

Novo medicamento para tratamento de câncer de tireoide

Incorporado recentemente ao rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS), Lenvima (mesilato de lenvatinibeé o novo medicamento para câncer de tireoide destinado a pacientes que já passaram por iodoterapia e não obtiveram sucesso no combate à doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 750 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de alguma patologia da tireoide e aproximadamente 60% desse número não sabe que tem problemas na glândula. No Estado de São Paulo, são cerca de 8 mil casos por ano.

Problemas comuns da tireoide

De acordo com Marco Aurélio Kulcsar, chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), o problema mais comum da tireoide é o hipotireoidismo, uma inflamação na tireoide que pode acontecer após um processo viral ou períodos de longo estresse. O problema do hipotireoidismo é seguido dos nódulos no pescoço: “A maior parte deles são benignos e os que são malignos são a menor parte dos nódulos, são menos de 20%. Na ergonomia do ser humano, o câncer de tireoide representa 3%”.

Esses problemas, bem como o câncer de tireoide, podem ser identificados em exames de rotina. Kulcsar também ressalta que eles são curáveis e possuem diversas opções de tratamento à disposição do paciente.

Identificação do câncer 

Como parte fundamental da descoberta da doença, está o papel do médico ao saber examinar seus pacientes: “Quando faz o exame da tireoide, o importante é o médico da unidade básica de saúde saber examinar o pescoço, apalpar um pescoço, não fazer ultrassonografia aleatória”, diz Kulcsar. A partir dessa primeira análise do médico, se encontrado um nódulo, ele deve encaminhar o paciente para ultrassonografia e, se o nódulo for suspeito na ultrassonografia, deve-se fazer a punção. Na identificação do câncer é necessário fazer cirurgia.

“A cirurgia é fundamental. Há exceções que vão usar lenvatinibe. É o caso daquele doente que tem uma doença mais grave desde o começo. Provavelmente, esse doente tinha um nódulo pequeno que cresceu muito rápido, deu metástase para pulmão ou mesmo para osso e que não responde ao tratamento tradicional para essa metástase a distância. No pulmão e osso o radioiodo funciona muito bem ou às vezes até a radioterapia externa, principalmente para osso, mas quando não tem resposta e continua evoluindo, essas drogas imunobiológicas vão lá e bloqueiam por uma atividade imunitária”, explica.

A incidência de câncer de tireoide é maior em mulheres. No entanto, quando acomete homens, pode ser mais agressivo. Para Kulcsar, mais importante do que aprovar drogas como tratamento é aprovar testes moleculares para medir a gravidade das doenças, mudando a forma de tratamento ou até antecipando o uso de medicamentos como o Lenvima. Esse seria o próximo passo para o avanço dos tratamentos de câncer.

Lenvima e expectativa de vida 

O novo medicamento não proporciona a cura, mas diminui o avanço do câncer. “Tem pacientes que fizeram um tratamento cirúrgico, às vezes voltou a doença, às vezes faz um segundo tratamento cirúrgico, fez uma ou duas vezes iodo radioativo. Quando você já fez essa dose e essa doença pulmonar ou alguma doença do pescoço, apesar de operada, continua crescendo, você usa essa droga, o lenvatinibe ou Lenvima, e ela bloqueia o crescimento da doença”.  Kulcsar explica que ao fazer esse bloqueio tem-se um aumento da qualidade de vida do paciente e o medicamento não causa tantos efeitos colaterais quanto outros medicamentos utilizados anteriormente.

FONTE: Jornal da USP

Cuidados paliativos precisam avançar para oferecer qualidade de vida a um maior número de pessoas

O papel dos cuidados paliativos para pessoas que chegam ao final da vida sem o devido bem-estar e dignidade é fundamental. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), das cerca de 56,8 milhões de pessoas que precisam de cuidados paliativos em todo o mundo, incluindo 25,7 milhões que estão no último ano de vida, apenas 14% são atendidas de forma a receberem tratamento que proporcionem melhoria na qualidade de vida do paciente, dos familiares e amigos próximos.

Considerar a morte um processo natural ainda é um tabu. No entanto, a medicina, alinhada a outros pilares como a psicologia e a espiritualidade, reconstroem essa cultura ao implementar os cuidados paliativos para proporcionar bem-estar de pacientes terminais ou com uma doença crônica potencialmente fatal.

A professora Marysia Prado De Carlo, do curso de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP explica que se trata de uma abordagem interprofissional para poder compreender os processos vividos pelos pacientes em todas as suas dimensões, sendo elas físicas, emocionais, sociais e espirituais.

Além disso, a especialista avalia que existe um equívoco sobre quando o cuidado paliativo deve ser aplicado e a quem. Segundo ela, a abordagem pode ser oferecida em qualquer etapa do desenvolvimento da doença. “Estudos internacionais têm mostrado que quanto mais precocemente for oferecido o cuidado paliativo melhor a resposta do paciente e melhores condições de vida ele vai ter enquanto houver vida”, explica.

A terapeuta defende que, desde o diagnóstico de uma doença potencialmente fatal, o portador tenha o acesso necessário a todo tipo de cuidado paliativo de modo a melhorar sua qualidade de vida, o seu bem-estar, o correto manejo da dor, dos sintomas e do sofrimento espiritual existencial. “Então é sempre importante destacar que o cuidado paliativo não é falar de morte o tempo todo, é falar de vida, de qualidade de vida”, pontua.

Segundo a OMS, os cuidados paliativos são necessários para uma ampla gama de doenças. As mais comuns entre os adultos são as doenças cardiovasculares (38,5%), o cancro (34%), as doenças respiratórias crônicas (10,3%), aids (5,7%) e diabete (4,6%).

Além disso, a organização aponta que muitas outras condições podem exigir cuidados paliativos, incluindo insuficiência renal, doença hepática crônica, esclerose múltipla, doença de Parkinson, artrite reumatoide, doença neurológica, demência, anomalias congênitas e tuberculose resistente a medicamentos.

Pilar essencial 

Durante o recebimento dos cuidados paliativos a família do paciente exerce um papel fundamental e, para isso, essa rede de apoio também precisa ser cuidada pelos profissionais. “A família também sofre muito quando há um diagnóstico de uma doença potencialmente fatal, ela tem que ser cuidada também”, declara Marysia.

De acordo com a professora, os familiares do paciente participam da definição de todos os processos relacionados ao tratamento, desde as opções em relação ao que a pessoa deseja para o seu final de vida até o local de morte. “A família tem que ter um papel ativo nesse processo, não só para ajudar a pessoa adoecida a viver de uma forma melhor, como para ela ser acolhida dentro das próprias necessidades.”

Tratamentos clínicos

Por mais que a abordagem dos cuidados paliativos permita que os pacientes tenham maior qualidade de vida, bem-estar e alívio de sintomas, o médico generalista Vinicius Akio Suzuki destaca que isso não exclui os tratamentos clínicos. Para ele, é de extrema importância o entendimento de que se complementam. “Essa noção é fundamental para a quebra do principal paradigma que nos deparamos no dia a dia: a culpa e o abandono por parte da família”, reflete.

Diferentemente de outros países já desenvolvidos, os latino-americanos têm uma cultura própria de abordagem sobre valores de vida e sua terminalidade. “Quando o doente já está crítico e no leito de terapia intensiva, nos deparamos com a fragilidade dele e de muitas famílias também. Acolher as necessidades daqueles que estão de partida como também daqueles que ficam é fundamental para que tenhamos mais humanidade no mundo”, argumenta Suzuki.

“Dentro da perspectiva paliativa a estratégia terapêutica é importante, ter alicerces em seu pilar, mas as necessidades humanas acabam por ser muito mais complexas, tendo que lidar não somente com físico, mas também com mental, emocional, social e espiritual”, finaliza.

FONTE: Jornal da USP

A importância da reposição de colágeno para a pele e para as articulações

O colágeno é essencial para homens e mulheres que, a partir dos 45 anos, deveriam fazer sua reposição no organismo. Essa é uma proteína que forma a matriz da pele junto com outras proteínas e tem uma importância na função das juntas e da estética. Patrícia Campos Ferraz, nutricionista, mestre em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, cita que “o colágeno é muito importante e estrutural, apesar de ser nutricionalmente de baixa ou menor qualidade e de não ter todo o perfil de aminoácidos que nosso corpo não consegue produzir, conhecidos como aminoácidos essenciais”.

Por volta dos 50 anos, o colágeno deixa de ser produzido ou acontece uma grande redução de sua produção no corpo, o que torna a pele madura, com menos hidratação e mais rugas. A nutricionista destaca que a proteína, “de acordo com pesquisas que a gente vê, pode ter algum efeito, ainda que pequeno, na questão da hidratação, na diminuição de rugas e também na melhora da mobilidade das articulações. É importante salientar que suplementos de colágeno que possuem esse efeito, documentados em vários artigos científicos, sempre estão associados à vitamina C, que entra também na síntese do colágeno, um nutriente importante, e ao silício, que é um mineral bastante importante para síntese da proteína, além de outros antioxidantes associados”.

Suplementos orais a partir dos 45 anos

Evidências científicas demonstram que, a partir dos 45 anos, é indicado usar suplementos orais de colágeno, porque os alimentos não conseguem suprir sua deficiência. “Os efeitos positivos descritos com suplementação de colágeno são muito variáveis, mas, grosso modo, entre 2,5 g a 10 g de colágeno por dia. Na alimentação é um pouco difícil a gente conseguir colágeno peptídeo, de colágeno isolado nessa quantidade, mas existem suplementos no mercado comercializados com essa quantidade padrão de mais ou menos 10 gramas por envelope”, destaca Patrícia.

A princípio, a proteína do colágeno é segura. Não apresenta efeitos colaterais, além de fazer parte do nosso corpo. Ela está muito presente na nossa alimentação através de gelatina ou de várias fontes proteicas. “As pessoas comem proteína em grande quantidade e os aminoácidos de todas as proteínas teoricamente também podem servir para aumentar ou propiciar a síntese de colágeno. Acontece que a maior oferta de hidróxido e prolina, que são os aminoácidos contidos nos peptídeos de colágeno, além de outros nutrientes, parece ter um efeito um pouco diferente das proteínas da dieta em si.” A reposição de colágeno sempre deve ser feita com acompanhamento de um profissional de saúde. Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto existe um grupo que estuda os efeitos de suplementos de colágeno e outros nutrientes na firmeza da pele.

FONTE: Jornal da USP

Inteligência artificial auxilia desenvolvimento de antibiótico contra superbactéria

Inteligência artificial (IA) ajuda a criar antibiótico contra superbactéria mortal, a Acinetobacter baumannii, segundo os pesquisadores dos EUA e do Canadá. Esse avanço mostra como a tecnologia pode ser aliada na criação de novos medicamentos mais rapidamente.

O professor Max Igor Banks, infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), ressalta o trabalho de estudiosos no desenvolvimento do modelo matemático responsável por testar os compostos para o antibiótico. “Esse trabalho foi superimportante ao tentar mostrar caminhos para a seleção e desenvolvimento de compostos que possam ser ativos contra bactérias de alta resistência”, comenta.

Desafios do tratamento

De acordo com Banks, o enfrentamento de doenças bacterianas é um desafio, uma vez que se torna difícil o desenvolvimento de antibióticos que sempre funcionem. Essa problemática tem relação com o mecanismo de escape desses seres, ou seja, um processo natural de criação de resistências das bactérias. “O que acontece é que, com o tempo, esses antibióticos passam a não funcionar porque as bactérias vão desenvolvendo o mecanismo de resistência e isso acaba, por vezes, limitando as opções de tratamento”, alerta o professor. Além da Acinetobacter baumannii, outras bactérias como Pseudomonas aeruginosa e a Staphylococcus aureus são denominadas superbactérias.

Todavia, Banks esclarece que não se trata de microrganismos necessariamente muito agressivos, o termo “super” está relacionado com o tratamento difícil devido à sua alta resistência a medicamentos. Assim, apesar de existir um meio de combate dessas, há uma certa dificuldade de curar a infecção.

Uso do medicamento

“Podemos colocar, por vezes, o antibiótico como um mal necessário”, declara o professor, uma vez que, mesmo combatendo a doença, a droga também pode selecionar uma bactéria resistente. Banks explica que essa seleção ocorre inevitavelmente por conta de remédios ativos que combatem um grande número de seres e não só o responsável pela infecção.

Dessa forma, o trabalho desenvolvido tenta buscar medicamentos que enfrentem microrganismos específicos, a fim de evitar uma disbiose, ou seja, um desequilíbrio nas bactérias boas. “Então, se você conseguir ter um antibiótico que mata só aquela bactéria que está causando problema e conseguir identificar, seria positivo”, discorre o professor.

Contribuição da IA

O auxílio da tecnologia foi importante para o desenvolvimento desse medicamento com ação específica no que tange o processo de descoberta e testagem. Segundo Banks, primeiramente, é necessário a população entender como se dá o processo de criação do antibiótico.

“Você vai procurando sinais de atividade nos vários compostos químicos que existem. Então você cultiva bactéria juntamente ao composto para ver se a bactéria cresce frente a ação dele. Vai testando até achar alguma coisa que possa ter utilidade”, explica. Assim, a partir de uma base de dados de inúmeros testes com diversos compostos, criou-se um modelo matemático para que a IA tentasse prever se algumas combinações funcionariam ou não diante de determinadas bactérias.

Com esse modelo, o processo de pesquisa e testes é acelerado, visto que, com a triagem de compostos com maior potencial de sucesso, o número de possibilidades é reduzido. Banks relata que existe uma importante relação entre os conhecimentos do ser humano e os meios disponibilizados pelas tecnologias.

FONTE: Jornal da USP

Nova perspectiva para pessoas com atrofia muscular espinhal

Estudo da USP constatou que pessoas com Atrofia Muscular Espinhal (AME) conseguem se adaptar às limitações decorrentes da doença; atividades descritas podem auxiliar profissionais a enxergarem estratégias dos pacientes como ‘capacidade eficiente’

A Atrofia Muscular Espinhal (AME) é uma doença progressiva que tem como sintoma principal a fraqueza muscular. Ela pode ocasionar problemas de mobilidade, respiração, na fala e deglutição. A causa da doença é hereditária e está relacionada a um defeito no gene produtor da proteína SMN, responsável pela sobrevivência dos neurônios motores. Mesmo diante das limitações impostas pela condição, um estudo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP constatou que pessoas com a doença são capazes de realizar adaptações nos movimentos corporais para executar tarefas motoras.

A pesquisa foi realizada por Ana Angélica Ribeiro de Lima, sob orientação do professor Edison de Jesus Manoel. O estudo contou com a participação de nove pessoas diagnosticadas com AME, com diferentes níveis de competência motora. A cada quatro meses, durante um ano, os participantes enviavam vídeos realizando uma tarefa de mudança de postura: de deitado de barriga para cima para sentado, repetidamente.

Ao final, foram observadas adaptações para que a tarefa fosse concretizada mesmo com as limitações motoras presentes. Essas adaptações envolviam, principalmente, a utilização dos membros superiores para se puxar pela roupa, coxa ou borda da cama, ou empurrar o colchão para auxiliar na transferência de posição. No entanto, cada participante realizou uma estratégia diferente para transferir-se para a postura sentada.

Tarefa realizada pelos voluntários consistia em transferir-se da postura de deitado de barriga para cima para sentado, repetidamente – Fotos: Reprodução/EEFE

Ana Angélica explica que esses comportamentos já são amplamente relatados em outras doenças, como nas distrofias musculares, mas sempre são vistos e descritos como movimentos compensatórios. Sob essa nova perspectiva, foi possível considerar que essas adaptações são como uma capacidade eficiente e inteligente do organismo para superar as limitações impostas pela doença.

Segundo a pesquisadora, os resultados trazem uma nova perspectiva para o desenvolvimento motor de pessoas com AME: a importância de enxergar esses corpos como capazes e criativos, tanto quanto os de pessoas sem deficiência. O estudo também permite enxergar aqueles com doenças progressivas como corpos capazes de explorar o ambiente de maneiras diversas.

“É crucial compreender que não existe um ‘modo correto’ de se movimentar, uma vez que essas pessoas apresentam variações consideráveis entre si e encontram diferentes estratégias para solucionar problemas motores. Além disso, os profissionais podem se beneficiar ao ter acesso a descrições detalhadas dessas diversas estratégias, a fim de aplicá-las no tratamento de seus pacientes”, conclui a pesquisadora.

A tese, intitulada Adaptação motora em pessoas com atrofia muscular espinal em relação à gravidade da doença, foi apresentada à EEFE, na área de concentração de Estudos Socioculturais e Comportamentais da Educação Física e Esporte. O trabalho completo encontra-se disponível no banco de teses da USP e pode ser acessado on-line.

*Com texto da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE

FONTE: Jornal da USP

Quimioterapia e queda de cabelo

A queda de cabelo durante a quimioterapia é um dos efeitos colaterais mais indesejados. O tratamento para o câncer envolve o uso de medicamentos que destroem as células cancerosas, mas acaba trazendo consequências na qualidade de vida, na aparência e também na autoestima do paciente.

Os medicamentos da quimioterapia se misturam com o sangue e são levados para todas as partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que elas se espalhem. A queda do cabelo pode ser total ou parcial e pode acontecer entre 14 a 21 dias.¹

A quimioterapia é indicada após a consulta médica e a liberação dos exames laboratoriais. O paciente agenda a aplicação da medicação com a equipe responsável e precisa seguir as orientações conforme a prescrição médica.

Por que a quimioterapia causa queda de cabelo? 

A quimioterapia provoca a queda do cabelo, porque danifica os folículos pilosos, responsáveis pelo crescimento dos pelos. Esse efeito colateral dependerá do medicamento utilizado.

Geralmente a perda de cabelo não é imediata e ocorre, geralmente, após as primeiras semanas ou ciclos de quimioterapia e tende a aumentar com a continuidade do tratamento. Com o término da quimioterapia o cabelo volta a crescer renovado.

Existem casos em que a perda de cabelo não tem como ser evitada. Nessas situações, a recomendação é que o paciente se prepare para essa mudança na aparência. Recorrer à terapia, ou buscar apoio de amigos, familiares ou pessoas que já passaram por experiência semelhante, pode trazer algum conforto. A recomendação é que você fale sobre os seus sentimentos com alguém que te ajude a lidar com a situação. ²

Algumas pessoas preferem cortar o cabelo mais curto antes do início do tratamento, tornando a perda menos traumática.²

Cuidados com o cabelo e couro cabeludo 

Como aprender a lidar com o inevitável é uma das premissas para viver bem durante o tratamento da doença. Recomenda-se também que o paciente descubra nas atividades do cotidiano, uma motivação ou algum motivo para manter-se com uma boa saúde mental.

Ter uma rotina de autocuidado pode contribuir para uma melhora na autoestima. Confira, a seguir, algumas dicas: ²

  • Escolha um xampu suave para limpar o cabelo e o couro cabeludo.
  • Utilize uma escova de cabelo macia para arrumar o cabelo remanescente.
  • Use protetor solar no couro cabeludo quando estiver ao ar livre.
  • Cubra a cabeça durante os meses mais frios para evitar perda de calor do corpo.
  • Evite secar o cabelo com altas temperaturas.
  • Evite o uso de produtos químicos.
  • Evite fazer permanente.
  • Utilize fronhas com tecidos macios.

Como evitar a queda de cabelo durante a quimioterapia? 

A queda de cabelo é um efeito colateral comum em pacientes. Isso acontece devido à atuação da medicação, que foi desenvolvida para atacar células que se multiplicam rapidamente, reduzindo os tumores e aumentando a chance de cura após a cirurgia.

O problema disso é que existem células normais do corpo que também se multiplicam rapidamente, como as células do sistema imunológico, e também as células responsáveis pelo crescimento do cabelo.³

Existem, porém, um tratamento que pode reduzir o volume da queda de cabelo, conhecido como a Touca Inglesa.  É um equipamento que resfria o couro cabeludo do paciente para evitar a queda de cabelo típica da quimioterapia. Embora o seu uso seja mais difundido na rede privada, o tratamento também é oferecido no Instituto Nacional de Câncer (IncaNCA), no Rio de Janeiro. Com a utilização dessa espécie de capacete foi observado que é possível preservar entre 50 e 60% dos fios. 4

Como é a utilização da Touca Inglesa?  

A Touca Inglesa é utilizada meia hora antes do início da quimioterapia e até uma hora e meia depois da sessão. Ela resfria o couro cabeludo gradualmente. A diminuição da temperatura, que fica na casa dos 18 °C, reduz o fluxo sanguíneo local. Assim, o quimioterápico não alcança as células do couro cabeludo. Essa tática auxilia na preservação dos fios.

Outra sugestão é cortar o cabelo para diminuir seu peso e evitar esfregar o couro nas lavagens. Vale lembrar que, essa opção não impede a queda, mesmo que passageira.4

Cuidados durante a quimioterapia 

A queda de cabelo e de pelêlos do corpo são apenas alguns dos efeitos provocados pela medicação da quimioterapia. Caso você precise passar por esse tipo de tratamento, informe-se com o seu médico sobre outros possíveis sintomas que podem aparecer.

Além da alopecia, o paciente pode apresentar outras reações adversas, como enjoo, náuseas, prisão de ventre ou diarreia, feridas na boca, hiperpigmentação, anemia, leucopênia e trombocitopenia.

É importante lembrar que esse efeito é temporário e reversível. O cabelo voltará a crescer após o término da quimioterapia. Além disso, o INCA possui serviço de voluntariado que empresta perucas durante o tratamento. Ao sentir-se angustiado, converse com o médico e/ou enfermeiro sobre seus sentimentos e, se necessário, procure o serviço de psicologia.¹

Referência:

¹ Quimioterapia. Instituto Nacional de Câncer – INCA. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tratamento/quimioterapia. Acesso em 16 de abril de 2023.

² Alopecia. Oncoguia. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/alopecia/194/109/. Acesso em 16 de abril de 2023.

³ Toda quimioterapia faz cair o cabelo?. Oncologia Em Destaque. Disponível em: https://www.einstein.br/especialidades/oncologia/oncologia-em-destaque/edicao-102/toda-quimioterapia-faz-cair-cabelo. Acesso em 16 de abril de 2023.

4 Para o cabelo não cair na quimioterapia. Oncoguia. DIsponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/para-o-cabelo-nao-cair-na-quimioterapia/14383/7/. Acesso em 16 de abril de 2023.

FONTE: Blog FazBem

Um a cada três diagnosticados com anorexia nervosa é do sexo masculino

Embora ainda seja um tabu na sociedade, a ocorrência de transtornos alimentares entre pessoas do sexo masculino é uma realidade e um problema em ascensão. Apesar disso, algumas das histórias relacionadas a essa condição mais conhecidas ainda envolvem mulheres, como o caso Terri Schiavo. A norte-americana passou 15 anos em estado vegetativo após sofrer uma parada cardíaca, o que gerou uma batalha judicial entre seu marido e seus pais sobre a realização da eutanásia, até sua morte, em 2005. O motivo do fatídico desmaio de Terri, em 1990, foram os baixos níveis de potássio no sangue, em função de uma dieta restritiva, motivada pela bulimia.

Apesar de histórias como as de Terri e de supermodelos que colocavam a saúde em risco pelo tão sonhado corpo ideal, os transtornos alimentares ficam cada vez mais evidentes como uma condição unissex. “Recentemente, foi publicada uma revisão sistemática, com estudos do mundo inteiro, e os autores concluíram que a prevalência de transtornos alimentares foi de, aproximadamente, 19% no sexo feminino e 14% no masculino. Um outro dado interessante é que de 20% a 30% dos pacientes com anorexia nervosa são homens. Isso significa que, a cada três pacientes diagnosticados, um é do sexo masculino”, revela Maria Fernanda Laus, docente do curso de Nutrição na Unaerp, doutora e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Ela afirma que, além da evolução nos diagnósticos, esse número se deve a “um aumento na incidência dos transtornos mentais de forma geral, além das questões socioculturais, como a supervalorização da aparência e o uso muito frequente de redes sociais, o que acaba influenciando diretamente o corpo e a mente”. Maria Fernanda alerta que homens homossexuais e bissexuais, inclusive, são mais afetados pela condição, e que os transtornos não são apenas em busca de um corpo magro, mas também musculoso.

De acordo com a especialista, os primeiros indícios começam a surgir logo na adolescência, com o chamado comer transtornado, que envolve ações comuns no cotidiano de muitas pessoas. “Isso inclui uma série de comportamentos como a prática de contar calorias, de pesar os alimentos, utilizar suplemento alimentar para aumentar a massa muscular, entre outros comportamentos que desviam do que é considerado uma alimentação normal.”

Entretanto, a professora destaca que um leva ao outro, mas a recíproca não é, necessariamente, verdadeira. “Nem todo mundo que tem comer transtornado tem um transtorno alimentar, mas o transtorno alimentar sempre começa na forma de comer transtornado”, explica.

Um grande tabu

A primeira barreira a romper rumo à saúde é psicológica. Conseguir falar sobre o problema pode ser a diferença entre a recuperação e o agravamento da condição. “É importante lembrar que os transtornos alimentares podem afetar todos os sistemas orgânicos do corpo, e as pessoas que lutam contra um transtorno alimentar precisam procurar ajuda profissional”, afirma Maria Fernanda.

O crescimento na quantidade de pessoas do sexo masculino diagnosticadas gera, em um primeiro momento, preocupação, mas ainda pode significar evolução, e está relacionado, justamente, a uma abertura para debater o assunto. Com mais segurança e liberdade, maior tende a ser, consequentemente, o número de ocorrências registradas e menor será a quantidade de pessoas que sofrem em segredo ou que sequer sabem que precisam enfrentar um problema.

Apesar do progresso conquistado, a luta contra a descriminação promete ser longa, com vitórias, derrotas, altos e baixos. Como ressalta a professora, “apesar das estatísticas, os homens são, frequentemente, ridicularizados, menosprezados ou ignorados, numa cultura que vê o transtorno alimentar como uma doença que afeta só as mulheres”.

A luta contra dois adversários – o preconceito e o próprio transtorno – não é fácil, mas precisa ser feita para que os homens, e também as mulheres acometidas, conquistem o corpo perfeito: o que ostenta saúde. “Quanto mais cedo a pessoa com transtorno alimentar procurar tratamento, maior a probabilidade de recuperação física e emocional”, conclui a professora.

FONTE: Jornal da USP

Vacinação na terceira idade contribui para longevidade

A vacinação em larga escala tem sido um marco crucial no Brasil e no mundo, resultando em longevidade e até mesmo na erradicação de diversas doenças que antes representavam sérios problemas de saúde pública. Doenças como poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche, que já foram frequentes no passado, são agora apenas lembranças distantes para as novas gerações. O Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde desempenha um papel fundamental nessa conquista, pois representa um esforço contínuo para proteger a saúde pública e conter a propagação de doenças.

Uma ênfase especial tem sido dada à imunização dos idosos, uma vez que, devido à idade avançada e às condições de saúde que caracterizam essa faixa etária, se torna uma população mais vulnerável, sujeita a complicações. O assunto é importante porque a população brasileira está envelhecendo rapidamente, com pessoas com mais de 60 anos representando 14,7% da população, segundo dados do IBGE. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% entre 2012 e 2021.

Mas a vacinação nem sempre fez parte da cultura brasileira. Foi a partir do Brasil Império, com a imunização compulsória contra a varíola, que as vacinas entraram em destaque. Oswaldo Cruz, diretor-geral de saúde pública do Brasil em 1903, exerceu um papel essencial no combate às doenças, tendo estruturado a primeira campanha de vacinação nacional.

O infectologista Fernando Bellissimo Rodrigues, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, destaca a importância do calendário de vacinação em todas as faixas etárias. “O conceito de que a vacina é para criança é uma ideia do passado. Hoje, o Programa Nacional de Imunização tem vacinas recomendadas para todos os períodos da vida”.

Bellissimo ainda ressalta que as vacinas não só prolongam, mas melhoram a qualidade de vida das pessoas em qualquer faixa etária, pois previnem doenças graves, como difteria, tétano, hepatite B, sarampo, entre outras.

Intrínseco à importância da vacinação está a importância de uma campanha de vacinação. O Brasil tem uma história de sucesso em diversas campanhas de vacinação, como a Campanha de Erradicação da Varíola, realizada entre 1966 e 1973, a Campanha Nacional de Imunização contra a Poliomielite, que resultou na interrupção da transmissão do vírus no País e em um certificado emitido pela OMS que atesta o Brasil como livre da doença. A Campanha de Vacinação contra o Sarampo, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza (gripe) e a Campanha de Vacinação contra a covid-19 também são destaques.

Mas Bellissimo faz uma ressalva: “Não existem muitas campanhas voltadas para o público adulto e idoso em relação à necessidade de vacinação, o que pode ser considerado uma falha. A vacinação da covid-19 teve uma campanha de conscientização robusta para a terceira idade, mas não é uma precedência comum.”

Importância do calendário de vacinação

Apesar de não existir muitas campanhas com o enfoque na população idosa, há um calendário que informa as vacinas que devem ser tomadas. “O calendário para a população idosa compreende uma série de vacinas recomendadas, incluindo a dose anual contra a covid-19 e a gripe”, relata o professor.

Bellissimo acredita ser importante esclarecer que a vacinação contra a gripe é fundamental para o grupo da terceira idade, pois, embora possa parecer uma doença banal na maioria das vezes, para os idosos pode desencadear complicações graves, como pneumonia, diabetes, insuficiência cardíaca, derrame e até mesmo infarto.

A vacinação contra a covid-19 foi essencial para conter o avanço da doença no Brasil – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Além dessas, Bellissimo informa sobre a vacina dupla (DT), que protege contra difteria e tétano, a vacina contra hepatite B, a vacina contra a febre amarela, a SCR, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, e a pneumocócica 23-valente. “Essas quatro vacinas são recomendadas para todos os adultos e idosos, independentemente de possuírem ou não alguma doença”.

Para idosos com doenças crônicas, existem indicações de outras vacinas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “É o caso da vacina contra a varicela, meningite, pneumonia, febre tifóide, raiva e a meningocócica, que não estão amplamente disponíveis no SUS, mas são gratuitas para aqueles que as necessitam”, comenta Bellissimo.

A importância da vacinação para o público idoso é refletida em dados e percentuais emitidos durante a pandemia da covid-19. Um estudo realizado pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) de São Paulo concluiu que, entre os idosos, a vacinação de reforço foi capaz de diminuir em 95% a incidência de óbito na terceira idade.

O infectologista ainda compara a eficiência da vacinação em relação à sua ampla abrangência e seu baixo custo. “Pouquíssimas intervenções têm o potencial de impacto da saúde pública que as vacinas têm, considerando o baixo custo investido. A vacinação com esquema completo, em especial quando acrescida do reforço, é fundamental e é a forma mais efetiva da população se proteger”.

Contactada pelo Jornal da USP no ArEdição Regional, a Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto não respondeu às solicitações feitas para esclarecimentos sobre as campanhas de vacinação destinadas à terceira idade no âmbito do município.

FONTE: Jornal da USP