Fatos interessantes sobre os rins

Seus rins são responsáveis por diversas funções para manter seu organismo saudável. Com isso, no mês em que comemoramos o dia Mundial do Rim, preparamos para vocês fatos interessantes para mostrar o quanto o trabalho desses órgãos vitais é essencial para mantê-lo sadio!

A maioria das pessoas tem dois rins

Com formato semelhante ao de um feijão, cada rim pesa cerca de 150g e apresenta o tamanho de um punho fechado. Embora a maioria das pessoas tenha dois rins, se você tem apenas um rim ou um rim funcionando, você pode ter uma vida saudável com apenas um rim, com a necessidade de seguir cuidados mais rigorosos ao cuidar de sua saúde renal.

Eles são os órgãos que mais trabalham no seu corpo

Seus rins podem ser pequenos, mas trabalham bastante! Os rins são responsáveis por remover resíduos e excesso de líquido do corpo, filtrando-os do sangue. Seus rins filtram cerca de 180 litros de sangue durante um determinado dia!

Eles regulam o teor de sal do seu corpo

Além de filtrar os resíduos do sangue, os rins também ajudam a regular os níveis de sódio do seu organismo. É importante ter em mente que, embora o sal seja essencial para o bom funcionamento do seu corpo, quantidades excessivas podem ser prejudiciais ao seu corpo, levando a doenças cardíacas, derrames e até insuficiência renal.

Os rins produzem hormônios que promovem a produção de glóbulos vermelhos

Eles ajudam a produzir os glóbulos vermelhos, conhecidas também como hemácias, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio pelo corpo.

Os néfrons são as unidades de filtragem do rim

Cada rim é composto por cerca de 1 milhão de néfrons e cada néfron é uma unidade de filtragem do rim. Esticados de ponta a ponta, eles têm cerca de 8 quilômetros de comprimento. Ao atingir os 40 anos de idade, 1% dos néfrons começam a degenerar a cada ano.

Beber água em excesso pode ser ruim para os rins

Manter-se hidratado ajuda a manter os rins em bom funcionamento, por outro lado, o excesso de água pode ser ruim para os rins. Isso pode causar uma condição chamada hiponatremia, que ocorre quando o sódio no sangue se dilui porque os rins não conseguem eliminar o líquido com rapidez suficiente. Essa condição é incomum, mas pode ocorrer entre atletas que se esforçam demais e bebem água extra para compensar.

Este material é destinado para fins informativos e não substitui o aconselhamento ou tratamento médico. Consulte o seu médico sobre o seu diagnóstico específico, tratamento, dieta e questões de saúde.

Autores: Paula Felicio e Cinthia Montenegro.

Referência:

FONTE: Blog FazBem

Entenda como funciona e para que serve a endoscopia

A Endoscopia Digestiva Alta, ou só endoscopia, como é conhecida, é um exame laboratorial realizado com um fino tubo que transmite as imagens do esôfago para uma tela, onde o especialista consegue, por meio dessas imagens, detectar áreas inflamadas, alterações na válvula e até presença de hérnia.¹

É um exame importante para a detecção de diversas doenças no trato intestinal, inclusive alguns tipos de câncer. ¹

Preparamos esse texto exclusivo para que você consiga entender melhor sobre a endoscopia.  

O que é Endoscopia Digestiva Alta? 

É um exame que ajuda no diagnóstico de doenças na parte superior do tubo digestivo, como esôfago, estômago e porção inicial do intestino delgado. ²

Com ele, é possível que o endoscopista consiga encontrar lesões ou alterações dentro desses órgãos. É um exame realizado com um aparelho flexível, fino, com uma microcâmera e iluminação na ponta de um tubo.²,³

Caso o endoscopista ache necessário e perceba alguma alteração, ou esteja no pedido do exame, é feito o pedido para a realização de biópsia. Em algumas situações ocorre uma investigação que busca a bactéria H. Pilory pelo método de urease.³

Como esse exame é realizado? 

Como dito antes, é feito por um aparelho que é introduzido através da boca do paciente. Nesse aparelho tem uma luz que iluminará todo o caminho que precisa ser examinado dentro desses órgãos e as imagens são projetadas em um monitor para análise.²

Para esse exame, é necessário estar sedado, por isso, existem duas opções de sedação:²

  • Anestesia tópica, usando um spray anestésico na garganta; 
  • Sedação endovenosa, administrada por uma veia para fazê-lo adormecer. 

O exame é indolor e, geralmente, é feito com a sedação endovenosa. Apenas pessoas com algum tipo de condição que impeça esse uso, usará a anestesia tópica.²

Na presença de lesões elevadas, dependendo do caso, o médico já pode solicitar a retirada da lesão durante o exame.²

A duração média desse exame é de no máximo 20 minutos, mas pode mudar caso precise de outros procedimentos naquele momento.²

Quais os motivos para o pedido de uma endoscopia?  

Se você se queixar de dor ou desconforto em áreas citadas anteriormente, o seu médico gastroenterologista, provavelmente, pedirá esse exame para você. Então caso você sinta e queixe-se de:³

  • Alguma alteração de hábito intestinal; 
  • Presença de sangue nas fezes; 
  • Dor abdominal; 
  • Azia; 
  • Queimação no estômago e no esôfago; 
  • Falta de apetite; 
  • Sensação de estufamento; 
  • Perda de peso; 
  • Refluxo; 
  • Sangramento digestivo alto: evacuar sangue escuro ou vomitar sangue; 
  • Sensação de parada de alimentos no esôfago; 
  • Dor ao engolir; 
  • Histórico familiar de tumores na região do intestino. 

A endoscopia pode diagnosticar as seguintes doenças:³

  • Gastrite; 
  • Hérnias; 
  • Tumores; 
  • Estenoses; 
  • Infecções 
  • Pólipos. 

E várias outras patologias.  

Como proceder após o exame? 

Após o exame, a recomendação e os próximos passos vão depender muito da sua reação ao sedativo após acordar. Primeiro você permanecerá na sala de repouso de 10 a 30 minutos, até os efeitos de sonolência passarem.²

Esse exame só é realizado quando o paciente comparece ao laboratório acompanhado de uma pessoa maior de 18 anos porque a medicação utilizada para o adormecimento pode afetar:²

  • Capacidade de raciocínio; 
  • Tomada de decisões; 
  • Reflexos. 

Além disso, é importante que você vá com uma pessoa que consiga guiá-lo ou dirigir, porque, além dos sintomas citados, também é proibido dirigir ou pilotar qualquer automóvel e não é recomendado voltar na garupa de uma moto.²

Caso seja necessário, o médico irá fornecer um atestado para interromper suas atividades daquele dia, como escola ou trabalho. As atividades voltam normalmente no dia seguinte.²

Como prevenir os problemas identificados em uma endoscopia?  

O acompanhamento médico anual é a melhor forma de cuidar da sua saúde e prevenir doenças, por isso, sempre esteja em dia com as consultas.4

Além disso, a demanda pela realização de exames endoscópicos para diagnóstico é grande e deve ser realizada por profissionais devidamente habilitados. Há intervenções que parecem procedimentos simples, mas podem causar danos permanentes se forem mal indicadas, ou realizadas por pessoas não capacitadas. 

Tenha atenção na sua escolha. O diagnóstico preciso, precoce e correto de doenças e problemas no aparelho digestivo deve ser feito por um endoscopista qualificado e capaz de atuar nos procedimentos de baixa complexidade e de alta complexidade.

Nunca deixe de realizar seus exames solicitados pelo seu médico e não deixe de retornar às suas consultas de rotina para entender com um profissional os resultados que esses exames geraram. Além disso, sempre conte com o FazBem na sua jornada de paciente, mas não substitua nenhuma consulta ou exame e nem deixe de seguir as orientações do seu médico. 

Referências: 

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. Doença de Refluxo Gastroesofágico. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/doencas-benignas/doenca-de-refluxo-gastroesofagico/. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. Endoscopia Digestiva Alta. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/orientacao-ao-paciente/o-que-e-especialista/. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  3. A. C. CAMARGO CANCER CENTER. Tudo sobre endoscopia. Disponível em: https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/medicina-diagnostica/tudo-sobre-endoscopia. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. O que é Especialista?. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/orientacao-ao-paciente/o-que-e-especialista/. Acesso em: 12 abr. 2023. 

FONTE: Blog FazBem

Cigarro e vírus HPV têm efeito conjunto nas células, potencializando o risco de câncer

Além de constituírem fatores de risco independentes para o câncer de cabeça e pescoço, o tabagismo e o papilomavírus humano (HPV) podem provocar efeitos nas células que interagem entre si, aumentando ainda mais o risco da doença. A conclusão é de um estudo feito por cientistas da USP e da Universidade do Chile, cujos resultados foram publicados em artigo no International Journal of Molecular Sciences. Ao aumentar a compreensão sobre os mecanismos moleculares envolvidos nesse tipo de tumor, a descoberta abre caminho para a adoção de novas estratégias de prevenção, tratamento ou outra intervenção capaz de beneficiar os pacientes.

O câncer de cabeça e pescoço engloba tumores nas cavidades nasal e oral, faringe e laringe. Em 2020, afetou cerca de 830 mil pessoas em todo o mundo, causando a morte de mais de 50% delas. Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca), foram quase 21 mil mortes no Brasil em 2019. Embora a doença esteja historicamente ligada a consumo de álcool, fumo e má higiene bucal, o HPV surgiu nas últimas décadas como fator de risco relevante, afetando uma população mais jovem e de nível socioeconômico mais alto. Hoje, trata-se de um dos tumores associados ao HPV que mais crescem no mundo.

“Em vez de continuar analisando tabagismo e HPV como fatores oncogênicos separados, passamos a focar na possível interação entre os dois”, explica Enrique Boccardo, professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e coautor do estudo. “Afinal, tanto o cigarro quanto o papilomavírus humano estão associados ao aumento do estresse oxidativo e a danos no DNA relacionados ao câncer e, de acordo com estudos prévios, podem regular a enzima superóxido dismutase 2 [SOD2], que é um biomarcador de doenças iniciais associadas ao HPV e do desenvolvimento e progressão de tumores.”

Em testes in vitro, os cientistas brasileiros e chilenos analisaram células orais que expressavam as oncoproteínas HPV16 E6/E7 (a expressão foi induzida em laboratório para imitar a condição de células infectadas pelo papilomavírus) e foram expostas a um condensado da fumaça do cigarro. Foi observado nessa condição um aumento considerável dos níveis da enzima e de danos ao DNA, reforçando o potencial nocivo da interação entre HPV e fumaça de cigarro em relação à condição-controle. Ou seja, as células-controle (não expostas a oncoproteínas ou fumo) expressam menos SOD2 que células que expressam E6/E7 ou que células tratadas com fumaça de cigarro, enquanto células que expressam E6/E7 e foram tratadas com fumaça de cigarro expressam níveis maiores da enzima do que qualquer outro grupo analisado. Isso indica a “interação” entre a presença de genes de HPV e a fumaça de cigarro.

Ponto de Partida

Uma segunda etapa do trabalho, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo por meio de dois projetos, envolveu a análise de dados genômicos de 613 amostras que integram o repositório público The Cancer Genome Atlas (TCGA). Na plataforma, são catalogadas as mutações genéticas responsáveis pelo câncer a partir de sequenciamento de genoma e bioinformática. O grupo focou na análise de transcrições da enzima para confirmar os achados.

“Apesar de serem realizados em um ambiente artificial, estudos in vitro são um ponto de partida para compreender o que acontece em modelos mais complexos e, no futuro, talvez nos permitam intervir de forma objetiva e trazer algum benefício”, afirma Boccardo. “Atualmente, por exemplo, a vacinação contra o HPV só está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças entre 9 e 14 anos, porque estudos apontaram maior eficácia na prevenção de patologias genitais, mas acredito que seja possível considerar a extensão para um grupo maior de indivíduos a fim de evitar doenças em outras regiões anatômicas.”

O pesquisador destaca ainda que este trabalho conduz os resultados obtidos em laboratório para a análise clínica ao superar o calcanhar de Aquiles da pesquisa básica, que é o acesso a amostras humanas. Isso se dá graças à evolução da tecnologia, que levou à criação de bases de dados de amostras humanas, como a utilizada na pesquisa. Esses bancos incluem estudos de análise de expressão de RNA e proteínas e permitem o acesso a informações de longos períodos de tempo.

“O próximo passo seria aumentar a complexidade do modelo utilizado, analisando a questão funcional em um contexto de expressão normal das proteínas virais, ou seja, em que o promotor do HPV regule de fato a expressão das oncoproteínas E6/E7″, acredita Boccardo. No caso do estudo, essa expressão foi induzida em laboratório e não pela infecção. “Não podemos esquecer, por exemplo, que existem eventos como o processo inflamatório, que não conseguimos visualizar in vitro, mas que sabemos que, na prática, pode ter um papel muito importante no desfecho da doença.” O artigo Interaction between Cigarette Smoke and Human Papillomavirus 16 E6/E7 Oncoproteins to Induce SOD2 Expression and DNA Damage in Head and Neck Cancer pode ser lido aqui.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Texto: Julia Moióli da Agência Fapesp, com edição de Júlio Bernardes

FONTE: Jornal da USP

Técnica usa anticorpos do sangue para detectar bactéria causadora da hanseníase

Uma nova estratégia para diagnosticar a hanseníase, doença que o Brasil é o país com maior número de novos casos por habitante, é proposta em pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Testada em ensaios de laboratório, a técnica usa anticorpos presentes no sangue para identificar uma proteína da bactéria causadora da doença. O método fornece um diagnóstico mais preciso do que o baseado nas técnicas laboratoriais existentes, como, por exemplo, a realização de biópsias. O próximo passo da pesquisa é desenvolver tecnologias que permitam a realização do teste no local de atendimento dos pacientes.

Os resultados são apresentados em artigo da revista científica Frontiers In Medicine. A hanseníase é uma doença infecciosa, de evolução crônica e tratável que tem como agentes as bactérias Mycobacterium leprae e Mycobacterium lepromatosis. “A sua transmissão ocorre por meio do contato com o paciente infectado através das mucosas do nariz e da boca”, relata ao Jornal da USP o autor do estudo, o biomédico Filipe Rocha. “A bactéria compromete principalmente a pele e os nervos periféricos, podendo deixar graves sequelas quando não há tratamento precoce. Essa ausência leva ao surgimento de incapacidades físicas que podem evoluir para deformidades devido aos graves danos nos nervos causados pela bactéria. Assim, as principais sequelas serão perda parcial, ou total e irreversível da sensibilidade em mãos e pés ao calor, frio, dor e toque, atrofia muscular, dedos em garra, alterações nos movimentos e mutilações das extremidades do corpo.”

“O Brasil é classificado como país de alta endemicidade, sendo o primeiro do mundo em registros de novos casos por habitante e o segundo em novos infectados por ano, representando 93% do total de contágios dos países das Américas”, destaca Rocha. De acordo com o biomédico, em 2019, foram reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) 202.185 casos novos da doença no mundo. Desses, 29.936 (93%) ocorreram na região das Américas e 27.864 foram notificados no Brasil. Em 2022, mais de 17 mil casos de hanseníase foram notificados, sendo que com a pandemia da covid-19 houve uma redução de mais de 30% na notificação de casos novos, devido ao impacto na busca ativa de casos e nos programas de controle da doença. “A doença é um importante problema de saúde pública no País, que faz parte dos países prioritários na estratégia global de hanseníase.”

O pesquisador observa que, tendo em vista a performance variável dos testes laboratoriais existentes, o diagnóstico da doença é, ainda hoje, baseado principalmente na clínica, através da identificação de sinais dermatológicos e neurológicos, tais como como manchas na pele, áreas de perda de sensibilidade, regiões com perda de pelos e diminuição do suor, formigamentos, câimbras, sensação de picadas e agulhadas, dor nos nervos, caroços no corpo, dormência, fraqueza e inchaço nas mãos e pés, rosto inchado, perda de cílios e sobrancelhas, diminuição da acuidade visual, ressecamento e inflamação nasal. “Atualmente, as ferramentas de diagnóstico disponíveis carecem de sensibilidade e precisão suficientes para atingir o objetivo de detecção precoce, como o caso da baciloscopia e biópsia de pele”, relata. “Ferramentas como testes sorológicos, diagnóstico molecular, ultrassonografia de nervos periféricos, eletroneuromiografia e outras técnicas são restritas a centros de referência e unidades de atendimento especializado.”

A pesquisa avaliou o significado clínico e a capacidade dos anticorpos contra uma proteína da bactéria Mycobacterium leprae para o diagnóstico da hanseníase e rastreio de casos sem manifestações clínicas clássicas e de difícil diagnóstico, principalmente aqueles com sinais essencialmente neurológicos. O estudo contou com a realização de dosagens de anticorpos em 405 pessoas na região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), sendo 200 casos novos da doença, 105 contatos intradomiciliares, dentro das residências, e 100 pessoas saudáveis.

Anticorpos

Por meio de um teste sorológico denominado Elisa, os anticorpos IgA, IgM e IgG, presentes no soro, que é a parte líquida do sangue, são capazes de reconhecer a proteína Mce1A, presente na bactéria. “Através dos níveis desses anticorpos os pacientes serão diagnosticados e monitorados ao longo e após o tratamento da doença”, descreve o biomédico. “Dessa forma, a análise combinada dos três anticorpos será capaz de avaliar e classificar as pessoas apenas em contato com a bactéria, casos de doença ativa e os que já foram tratados.”

Identificação da bactéria é feita por meio do teste sorológico Elisa, onde os anticorpos presentes na parte líquida do sangue (soro) são capazes de reconhecer proteína presente no micro-organismo – Imagem: Extraída do artigo – Tradução: Jornal da USP

Segundo Rocha, as próximas etapas da pesquisa envolvem a aplicação dos resultados encontrados para a testagem em plataformas tecnológicas capazes de ser comercialmente disponibilizadas e desenvolvimento de ensaios de testes no ponto de atendimento (point of care). “Certamente, esses são os objetivos futuros após a consolidação de todas as etapas necessárias para confecção de um kit diagnóstico”, avalia. “O diagnóstico da hanseníase é um desafio técnico e prático, principalmente nos casos maculares iniciais e os predominantemente neurais.”

“O desenvolvimento tecnológico e o investimento científico na área das doenças negligenciadas, como a hanseníase, é fundamental para o controle da doença como problema de saúde pública nacional e sendo a prospecção de novos exames laboratoriais de maior sensibilidade uma proposta para eliminação das principais limitações no diagnóstico da doença”, salienta o pesquisador. “Assim, novos biomarcadores para alcance das metas da OMS na identificação dos casos iniciais e infectados e para a interrupção da transmissão bacilar satisfazem os pilares de execução das pesquisas com impacto social e retorno ao Sistema Único de Saúde (SUS).”

De acordo com o biomédico, o tratamento farmacológico da hanseníase é feito com poliquimioterapia única (PQT-U), que associa três antibióticos – rifampicina, dapsona e clofazimina. “O esquema terapêutico é usado por seis meses para casos iniciais e 12 meses para os pacientes com formas clínicas avançadas. O tratamento é disponibilizado de forma gratuita e a hanseníase tem cura”, observa. “Conforme definido pelo Ministério da Saúde, é necessário concluir adequadamente o tratamento para que ocorra a cura e para evitar o retorno da doença, novas contaminações e resistência aos medicamentos”.

O estudo foi desenvolvido durante o doutorado de Filipe Rocha no programa de pós-graduação em Clínica Médica da FMRP, orientado pelo professor Marco Andrey Cipriani Frade. O trabalho contou com a participação de pesquisadores do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária e Hanseníase da FMRP, coordenado pelo professor Frade; Divisão de Dermatologia do Departamento de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da FMRP (HCRP); Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP; Instituto Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na Bahia; e Universidade de Califórnia, em Berkeley (Estados Unidos).

Mais informações: e-mail rfilipelima@gmail.com, com Filipe Rocha

 *Estagiária sob orientação de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Diagnóstico precoce é fundamental no tratamento da Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla é uma condição autoimune potencialmente incapacitante do cérebro e do sistema nervoso central que dificulta a comunicação entre cérebro, medula e corpo. Em 30 de agosto, Dia Nacional da Consciência sobre a Esclerose Múltipla, o doutor Dagoberto Callegaro, chefe do Ambulatório de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica os principais sintomas, causas e efeitos da doença.

O que é 

De acordo com Callegaro, as causas básicas da Esclerose Múltipla  ainda estão em elaboração, mas é uma inflamação que proporciona a doença: “Praticamente, 85% a 95% dos casos iniciam-se por uma inflamação, que é danosa ao sistema nervoso central, seja o cérebro, a cabeça ou a medula espinhal. Nós dizemos que o neuroeixo do sistema nervoso central é comprometido e esse comprometimento pode ser difuso ou pontual”.

Geralmente, a doença inicia-se com a perda de uma função, que pode ser transitória ou definitiva. Segundo o médico, a maioria dos casos apresenta perdas de função transitória, que podem ser o adormecimento de um membro, uma fraqueza na mão, a alteração da sensibilidade em um membro inferior, um andar arrastado, um desequilíbrio e a turvação da visão, por exemplo. Esses sinais podem ser um indício do aparecimento da Esclerose Múltipla, que é mais comum entre jovens adultos e afeta mais mulheres do que homens.

Diagnóstico e tratamento 

A Esclerose Múltipla pode ser diagnosticada de forma rápida através do exame de Ressonância Magnética do Neuroeixo. Através dele, é possível identificar a localização da inflamação e o que ela causa de sintomas. “A característica de distribuição dessas lesões permite que a gente já comece a pensar na Esclerose Múltipla”, explica o especialista a respeito do padrão de lesões.

Se um indivíduo jovem do sexo feminino tem sintomas de visão dupla, faz o exame da Ressonância e identifica essa e outras lesões, é possível que haja a confirmação da suspeita de Esclerose Múltipla. O diagnóstico, além de identificar a condição e proporcionar um tratamento adequado, também é importante para afastar outras doenças semelhantes. Essa diferenciação pode ser feita através de outros exames, como a análise do líquido da espinha.

Depois de identificada, é necessário escolher a terapêutica específica para o paciente que apresenta a Esclerose Múltipla. Callegaro explica que existem dois tipos de tratamento da doença, que dependem da quantidade de lesões. “Para uma expressão da doença de baixa em quantidade de lesões, é utilizada uma terapêutica denominada de escalonada. Pacientes com muitas lesões nos primeiros movimentos da doença possuem um quadro chamado de alta atividade”, discorre.

A diferenciação dos grupos é importante, porque cada grupo recebe um tipo diferente de medicação. Os indivíduos que possuem poucas lesões utilizam remédios mais fracos; já os indivíduos com maior número de lesões recebem medicamentos mais potentes.  O tratamento da Esclerose Múltipla não é tratada apenas por médicos neurologistas. O médico explica que, juntamente com os medicamentos que combatem a inflamação, é preciso complementar com o tratamento de outros profissionais, como fisioterapeutas e psicólogos.

Mensagem 

Segundo o médico, qualquer sintoma neurológico em jovens precisa ser observado e tratado com seriedade. Os exames neurológicos e complementares são importantes para que haja um diagnóstico fechado o mais rápido possível. “Quanto mais rápido for o descobrimento da doença, é possível iniciar a terapêutica mais precocemente”, pontua o médico.

A Esclerose Múltipla não tem cura, mas, quando os tratamentos necessários são iniciados rapidamente, é possível que os pacientes tenham uma vida totalmente normal.

FONTE: Jornal da USP

Desigualdades sociais contribuem para a diabete ser um grave problema de saúde pública

Artigo publicado na revista científica The Lancet aponta a diabete tipo 2, ou seja, aquela adquirida ao longo da vida, como um problema de saúde pública global; desigualdades sociais aceleram a crise, na medida em que três em cada quatro dos afetados viverão em países de baixa e de média renda. O estudo também traça uma perspectiva de que 1,3 bilhão de pessoas irão contrair a doença até 2050, com maior tendência para os jovens.

Maria Elizabeth Rossi, professora da Faculdade de Medicina da USP, endocrinologista do Hospital das Clínicas e chefe do Laboratório de Investigação Médica da FMUSP, ressalta a importância da contribuição do paciente com o tratamento e mudança de hábitos para um melhor resultado. “Diabete é a doença do século, porque tem opção terapêutica e tem opção de prevenção, mas isso implica acesso maior à informação no sentido de informar, chamar atenção e orientar”, considera a professora.

Fatores 

De acordo com o estudo, a frequência de pessoas que foram diagnosticadas com a patologia aumentou em 100% nos últimos 30 anos e a perspectiva é de repetição dessa alta até 2050. Além do impacto no sistema de saúde apontado pela médica, a projeção é preocupante por se tratar de uma patologia que implica inúmeras incapacidades do organismo, comprometendo muito a qualidade de vida. “A diabete pode levar ao alto risco de doença cardiovascular, é a principal causa de cegueira em adultos e é uma das principais causas da necessidade de hemodiálise ou de transplante renal”, pontua Maria Elizabeth.

Esse cenário alarmante foi ocasionado por uma série de fatores e a professora chama a atenção para o quadro assintomático dos dez ou 15 primeiros anos da doença, que podem impactar o tratamento adequado, caso não sejam feitos exames de rotina. Assim, a professora estabelece um importante paralelo entre o estilo de vida e o desenvolvimento da patologia. “Por exemplo, a obesidade é o fator mais importante no desencadeamento da diabete e no Brasil tem-se observado um quadro muito parecido: nos últimos 20 anos, a frequência de obesidade na população dobrou e a frequência de diabete seguiu na mesma linha”, menciona a médica.

O perfil da dieta dos brasileiros também se relaciona com o aumento na frequência de casos, visto que, mesmo com o quadro de insegurança alimentar, grande parte da alimentação tem alto nível calórico, mas baixo valor nutricional. “Nosso prato preferido, que é o arroz, feijão, uma verdura e uma carne tem sido deixado de lado e substituído por alimentos açucarados que não cumprem essas necessidades nutricionais”, nota Maria Elizabeth.

Desigualdade e diabete

Um quadro social dos afetados ou mais vulneráveis à doença também é percebido pela professora, já que a dieta é muito influenciada pelo tempo disponível para o preparo da alimentação. Maria Elizabeth comenta que, por exemplo, aqueles que cumprem uma jornada de trabalho maior possuem menos tempo para o preparo de uma refeição mais adequada. Além disso, o próprio estresse de uma condição social mais vulnerável também pode contribuir para o desencadeamento da doença.

O estigma também se relaciona diretamente com o tratamento da diabete, já que, muitas vezes, a doença é vista como um empecilho e até mesmo um fator excludente do mercado de trabalho. “Muitos pacientes escondem que eles têm diabete porque eles têm receio de perder o emprego ou não vão buscar o atendimento médico, porque isso implica perder um dia de trabalho”, exemplifica a médica.

Além da maior dificuldade no acesso aos medicamentos e tratamentos pelos países de baixa renda, o nível de escolaridade também é visto como crucial para o enfrentamento da diabete. Segundo Maria Elizabeth, a maior disponibilidade de informações sobre a doença favorece uma melhor prevenção e combate à diabete.

Ações 

Para o enfrentamento da patologia, a médica explica que cerca de 80% do tratamento parte da mudança de hábitos do paciente e a parte restante corresponde aos medicamentos. No Brasil, já é possível notar um grande suporte da saúde pública com medicamentos e do Sistema de Saúde Pública, apesar de não haver acesso a novas opções terapêuticas. Assim, a professora acredita que seja necessário um novo olhar para a educação da população sobre o assunto e, acima de tudo, sobre a possibilidade de prevenção à diabete.

FONTE: Jornal da USP

Mais de 10 milhões de brasileiros apresentam algum grau de surdez

A lesão pode ser bem significativa na idade adulta, principalmente entre os idosos, uma vez que pode levar à demência, se não detectada, apontam especialistas

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que 5% da população brasileira é composta de pessoas que apresentam alguma deficiência auditiva. Essa porcentagem significa que mais de 10 milhões de cidadãos apresentam a deficiência e 2,7 milhões têm surdez profunda, ou seja, não escutam nada. Essa lesão pode ser bem significativa na idade adulta, principalmente entre os idosos, uma vez que pode levar à demência se não detectada. Segundo a Constituição Federal, são proibidos atos de discriminação à pessoa humana. O Estatuto do Deficiente, em seu artigo 4°,  informa que “toda pessoa com deficiência tem direito a igualdade de oportunidade com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”. Apesar da garantia legal, os deficientes auditivos totais ou parciais enfrentam dificuldades no seu dia a dia e no mercado de trabalho.

“A situação da deficiência auditiva é ainda mais desafiadora por se tratar de uma deficiência invisível. Sempre que se fala em pessoa com deficiência nos vem à mente um deficiente físico, afinal, os símbolos de estacionamentos, por exemplo, são de um cadeirante. Porém, as vagas são liberadas para todos os deficientes”, cita Luciana Morillas, professora associada na Faculdade Economia, Administração e Contabilidade (FEA-RP) da USP de Ribeirão Preto. Ela lembra que, ao realizar uma pesquisa para o Conselho Nacional de Justiça sobre a aplicação da lei brasileira de inclusão no Judiciário, em uma entrevista, uma pessoa com deficiência contou que ficou indignada porque um grupo de pessoas aparentemente normal estava usando uma vaga de deficientes, depois ela percebeu que se tratava de um grupo de surdos. Ainda assim, a pessoa disse achar injusto que eles fizessem o uso das vagas. A professora destaca que “é importante tomarmos consciência de que as deficiências são um conjunto muito diverso de condições e cada uma delas deve ter os seus direitos respeitados.

Causas da deficiência

Vários fatores podem levar à perda auditiva, explica Ricardo Bento, do Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “Desde o problema congênito, crianças que nascem com perda total de audição, e, durante a vida, nós vamos adquirindo doenças: são viroses, outras doenças infecciosas do ouvido e também doenças autoimunes, hoje em dia muito comuns e, no final da vida, tem a surdez do idoso, a chamada presbiacusia, após os 60 anos de idade, aproximadamente.” Os ruídos ambientais também são um fator que causa bastante perda de audição no mundo. “Muita gente não percebe que está ficando surdo e demora para procurar um médico.” Muitos trabalhos publicados apontam demências precoces como Alzheimer. “Eles vão ficando isolados, com perda de memória. Por este motivo, a busca por um profissional de saúde é tão importante.” Quem apresenta perda parcial ou profunda fica isolado, não consegue produzir no trabalho.

Na maioria das vezes, é possível reverter o estado de surdez com tratamento e até cirurgias ou o uso de aparelhos de audição. Vale lembrar que todo brasileiro tem direito ao tratamento auditivo. O Brasil tem uma legislação avançada nessa área, permitindo que todo o brasileiro tenha direito ao aparelho de audição gratuitamente através do SUS e também a algumas cirurgias complexas, como implantes cocleares.

Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que, até 2050, o mundo terá cerca de 1 bilhão de pessoas com deficiência auditiva. Tanto o deficiente quanto a economia nacional são prejudicados por apresentarem a falta de audição. Às vezes, a pessoa não consegue ter rendimento no trabalho e acaba se aposentando por invalidez, e os recursos públicos são utilizados para essa situação. Nos Estados Unidos, os problemas de comunicação causados pela surdez levam a um custo anual de aproximadamente US$ 4 bilhões.

FONTE: Jornal da USP

Doação de órgãos: incentivo e conscientização da família são fundamentais para salvar vidas

No mês que vem, inicia-se o Setembro Verde, período de conscientização e incentivo à doação de órgãos. A campanha tem como objetivo enfatizar a importância da doação, considerando que um único doador pode salvar a vida de várias pessoas — já que é possível doar mais de um órgão e diferentes tecidos.

Apesar da importância da ação, as filas de espera para receber um órgão ainda são longas no País e a taxa de recusa das famílias segue elevada — cerca de 44%. Débora Terrabuio, médica hepatologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), explica que o mês representa um período de conscientização, mas que a campanha é permanente.

Melhorias

O Brasil conta com uma central nacional no Ministério da Saúde (MS), 27 centrais estaduais, 650 hospitais, mais de 1.250 serviços e 1.660 equipes de transplante habilitadas, dessa forma, observa-se que o País apresenta uma boa estrutura para atender à população. Débora Terrabuio comenta que o que falta é apostar no diálogo com as pessoas, já que quem autoriza a doação é a família. “A família é abordada no momento em que ela perdeu o ente mais querido, então existe um tabu de não se conversar sobre a morte em vida”, comenta.

A falta de discussões sobre esse tópico, portanto, forma o alto índice de recusa da doação. Além disso, a especialista explica que existem muitos mitos associados à doação de órgãos, como a confusão que é feita entre a morte encefálica e o coma, juntamente com a crença de que, com a doação, o corpo ficaria desfigurado e esse fator poderia retardar o velório do indivíduo. Dessa forma, a conscientização acerca da temática é importante, uma vez que, para algumas pessoas, o órgão a ser doado é vital para a sobrevivência.

Tempo de espera

O tempo de espera é outro aspecto importante para esse debate e ele costuma variar pela ordem de gravidade dos pacientes; assim, quanto mais grave pela escala Meld, mais rápido ele transplanta. Aspectos como o estado e o tipo sanguíneo também afetam esse período. Segundo Débora, nos melhores cenários, o período de espera dura cerca de dez meses.

Nos casos do transplante de fígado, por exemplo, a mortalidade de pacientes que estão na fila é de cerca de 15%, valor que pode variar e costuma aumentar dependendo da necessidade do paciente. Atualmente, a lista para os transplantes é única e funciona nacionalmente, com isso, os pacientes são alocados dependendo de algumas prioridades definidas previamente. Existem também algumas listas locais que são utilizadas nos casos de menor gravidade.

Ponto-chave

A conversa com as famílias e o apelo por campanhas de conscientização parecem ser, portanto, os pontos mais importantes nesse debate. Por esse motivo, os profissionais da área são treinados para lidar com a situação delicada pela qual os familiares do paciente estão passando.

Débora destaca ainda que muitas pessoas não conhecem a importância da doação de órgãos, por isso, é necessário conversar com a sociedade sobre a importância desse tema e destacar a seriedade que envolve todo o processo. “É importante conversar sobre isso não só em setembro, mas em todos os meses do ano”, destaca a médica.

Por fim, a decisão sobre os órgãos que serão doados é feita após o preenchimento de uma ficha que conta com dados clínicos, exames físicos e exames sanguíneos, para então ser passada para o serviço de transplante que irá avaliar as condições do órgão e a compatibilidade relacionada aos pacientes da fila de espera.

*Estagiária sob orientação de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Testamento vital: “a voz do paciente quando ele não tiver mais voz”

Na nossa cultura, morte e finitude da vida ainda são assuntos que suscitam desconforto. Mas fugir do tema está longe de ser uma boa alternativa: algumas das angústias de quem passa pelos momentos finais inclusive poderiam ser minimizadas se, enquanto em plena consciência e capacidade de tomar decisões, essas pessoas tivessem registrado suas vontades em um “testamento vital”. O documento indica a manifestação da vontade do paciente – seja de aceitação ou de recusa – quanto aos procedimentos, cuidados e tratamentos de saúde a que ele deseja ser submetido caso esteja com uma doença terminal.

Uma pesquisa da USP aborda a questão do ponto de vista dos profissionais de enfermagem que lidam no dia a dia com pacientes terminais. O estudo traz as percepções deles com relação ao testamento vital, às divergências familiares no leito de morte e de quando se deparam com o autoritarismo médico em encaminhamentos que levam ao prolongamento artificial da vida.

“O testamento vital representa a autonomia e o direito do paciente a um tratamento digno em seus últimos dias de vida. É a garantia de que ele não será mantido vivo [contra sua vontade] com a ajuda de aparelhos e nem será submetido a procedimentos médicos invasivos ou dolorosos”, descreve ao Jornal da USP a enfermeira do Instituto do Coração (Incor) da USP, Fabiana Remédio. Ela, que também é especialista em cardiologia e administração hospitalar e bacharel em Direito, é autora da pesquisa de mestrado defendida na Escola de Enfermagem (EE) da USP.

O documento pode ser registrado em cartório ou escrito de forma particular; seja de próprio punho ou redigido no computador e depois impresso e assinado. Uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) também prevê que, no hospital, quando o paciente verbalizar sua vontade quanto aos procedimentos a que ele deseja ser submetido, o médico deve registrar essa decisão em seu prontuário, explica, ao Jornal da USP, a advogada e bioeticista Luciana Dadalto.

Independentemente de como ele é elaborado, o testamento vital precisa ser levado ao conhecimento da família e dos profissionais de saúde, de forma a embasar tomadas de decisões com relação ao desejo do paciente sobre como quer ser tratado ao final de seus dias, observa Fabiana Remédio.

Mesmas angústias

A pesquisadora entrevistou 15 enfermeiros com especialização em cardiologia – a maioria com longa experiência profissional na área (entre seis e 15 anos) – que trabalhavam em um hospital público de São Paulo, em 2017. Trabalhando na mesma instituição há 20 anos, Fabiana Remédio queria saber se os colegas compartilhavam suas angústias ao presenciar debates calorosos de familiares quanto ao encaminhamento do tratamento de pacientes em terminalidade. Principalmente quando eles, em algum momento no decorrer da internação, já haviam manifestado verbalmente o desejo de serem poupados de sofrimentos advindos de tratamentos dolorosos e indignos.

As análises das respostas foram baseadas no “Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)”, uma técnica científica de tabulação de dados qualitativos pela qual se conhece o pensamento, as representações, as crenças e os valores de uma coletividade sobre um determinado tema. Separando aspectos mais significativos com expressões-chaves e ideias centrais, identificou-se três discursos manifestados pelos profissionais de saúde.

No primeiro, “O enfermeiro frente às diretivas antecipadas de vontade”, os enfermeiros demonstraram compreender o conteúdo e a importância do testamento vital; que o desejo do paciente manifestado no documento deveria ser respeitado pelos profissionais de saúde; e que, se existisse o testamento vital e eles não pudessem cumprir a vontade do paciente, eles se sentiriam muito frustrados.

Cada pessoa é um mundo diferente, tem convicções diferentes, crenças diferentes e cultura diferente; a gente tem que aprender a trabalhar com o outro e com essas diferenças – trecho do discurso coletivo.

No segundo discurso, “O enfermeiro frente à família do paciente em terminalidade”, os enfermeiros relataram a importância de explicar o prognóstico do paciente à família; de fazer a comunicação da existência de um testamento vital expressando a vontade do paciente; e de promover o diálogo entre familiares, paciente e profissionais de saúde quanto à condição do paciente e os caminhos que deveriam ser seguidos em relação aos cuidados paliativos.

Segundo a mais recente definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2017, cuidados paliativos são uma “abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes e suas famílias que enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam a vida. Considerando valores e a biografia dos pacientes, o procedimento, que envolve equipe multidisciplinar, previne e alivia o sofrimento, através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais ou espirituais”.

Eu vejo que a grande maioria dos pacientes não conversa com a família sobre isso. Normalmente é a equipe médica ou a equipe de enfermagem que começa a conversar, entre si, para poder chegar na família, introduzir esse assunto e apresentar, enquanto o paciente está lúcido, o testamento vital, para ser tudo acordado – trecho do discurso coletivo

No terceiro discurso, “O enfermeiro frente ao médico do paciente em terminalidade”, os profissionais mencionaram os casos de autoritarismo médico como impedimento para conduzir os cuidados paliativos com os pacientes em terminalidade; e o sentimento de frustração por não atender à vontade do paciente, mesmo fazendo parte da equipe médica.

 (…) vou tentar conversar, explicar que esse não é o desejo do paciente, falar que o paciente tem o direito. Pediria para família também conversar com o médico. É sempre isso que a gente faz, tenta conversar, mas eles que mandam. Eu não poderia ir contra” – trecho do discurso coletivo.

Baseando-se nessas manifestações, o que estudo indica, em síntese, é que o testamento vital representa, na perspectiva dos enfermeiros, a autonomia e o direito do paciente sobre as decisões nas situações de terminalidade. E que este documento deve ser compartilhado com familiares e profissionais de saúde.

De casa ao ambiente hospitalar

Há programas governamentais multiprofissionais que dão assistência às famílias e aos pacientes terminais em domicílio – Foto: Freepik

Segundo o trabalho, ao longo da história o momento da morte foi sendo retirado do ambiente familiar e doméstico e transferido para ambientes hospitalares, onde existe aparato tecnológico e pessoas capazes de prolongar a vida humana. Porém, este mesmo ambiente, capaz de proporcionar cura e vida, pode ser desumano para pacientes em terminalidade, que podem perder a consciência e a capacidade de decisão sobre como desejam viver seus últimos dias.

Um estudo citado na pesquisa, feito com 458 indivíduos em um hospital geral nos Estados Unidos, buscou saber como eles desejariam passar os últimos dias quando estivessem perto de morrer. Foi constatado que a maior parte desejava morrer em casa (75%). Mesmo assim, a maioria veio a falecer em alguma instituição de saúde (66%). Essa realidade talvez fosse outra se as pessoas pudessem escolher como morrer e deixassem essa vontade explícita e registrada, relata Fabiana Remédio.

Por outro lado, a formação de profissionais de saúde não contempla o assunto na grade curricular da graduação, como sugere uma pesquisa realizada com alunos de enfermagem na cidade de São Paulo. Nesse estudo, apenas 25% dos graduandos responderam adequadamente quanto à definição do testamento vital; 44% responderam de forma parcialmente adequada; 25% responderam não ter conhecimento; e 56% afirmaram não ter discutido o tema até aquele momento, o que reforça a necessidade de inclui-lo na graduação.

Morte: um tabu social

A pesquisadora recomenda que as pessoas falem em seu dia a dia sobre finitude da vida e morte, um processo natural pelo qual todo ser vivo irá passar. “É preciso quebrar os tabus culturais porque somos mortais”, diz a enfermeira.

Segundo ela, existem programas governamentais multiprofissionais que dão assistência às famílias e aos pacientes terminais em domicílio. No SUS, há o Melhor em Casa, e o próprio Saúde da Família, entre outros. No sistema particular, estão disponíveis algumas alternativas de home care. Mesmo com esses serviços, porém, o medo e a insegurança ainda prevalecem em pacientes e familiares – o que reforça a necessidade de se falar mais em terminalidade. É fundamental saber que podemos cuidar de nossos entes queridos em casa, provendo conforto, qualidade de vida e alívio do sofrimento através da prevenção de situações dolorosas.

A advogada Luciana Dadalto considera o assunto abordado pela pesquisa importantíssimo e diz que, embora o testamento vital traga repercussões na rotina de toda a equipe de saúde e precise ser feito com o auxílio de um médico, o documento é do paciente. Ela lembra que, no Brasil, a introdução do tema se deu de forma diferente ao que ocorreu em outros países, onde o assunto começou a ser discutido via movimentos sociais. O tema foi introduzido no País com a resolução 1.995 do Conselho Federal de Medicina, em 2012, o que fez com que muitas pessoas – tanto da sociedade quanto da gestão das instituições da saúde – olhassem para o testamento vital como documento médico.

Embora não haja legislação específica sobre o assunto, a validade do testamento vital é fundamentada na Constituição Federal de 1988: artigo 1º, III, que trata do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, artigo 5º, que trata do Princípio da Autonomia Privada e no artigo 5º, III, que trata da proibição constitucional de tratamento desumano, informa a pesquisadora.

Aspectos éticos

A contribuição da pesquisa também está no fato de ter lançado luz em situações normalmente escamoteadas, como a dificuldade de cumprimento da vontade dos pacientes e os dilemas gerados em família, diz Luciana Dadalto.

Para a advogada, é preciso efetivamente reconhecer como valor ético o cumprimento das manifestações de vontades dos pacientes. Segundo ela, vivemos em uma sociedade que, por ter dificuldade em lidar com a finitude da vida, confunde o cuidado com o prolongamento artificial do processo de morrer. Assim, há uma falsa ideia de que a morte de um paciente é um fracasso dos profissionais de saúde e que o prolongamento da vida deva acontecer indefinidamente.

Em sua opinião, o principal aspecto ético do testamento vital é o deslocamento do interesse social de negar a morte para o interesse individual do paciente, dele decidir e delimitar o que vale a pena ser vivido – uma vida “biográfica” ou apenas “biológica”. “O testamento vital é a voz do paciente quando ele não tiver mais voz”, conclui.

A pesquisa de mestrado Representação Social das Diretivas Antecipadas de Vontade teve orientação do professor Marcelo José dos Santos, da EE. O assunto também foi tratado em artigo na Revista Eletrônica de Enfermagem em junho de 2023.

Mais informações: e-mail fabiana.remedio@incor.usp.br, com Fabiana Remédio, e e-mail luciana@lucianadadalto.com.br, com a advogada e bioeticista Luciana Dadalto

FONTE: Jornal da USP

Ondas de calor no Hemisfério Norte mostram impacto das mudanças climáticas na saúde

O impacto das mudanças climáticas já é uma realidade e seus efeitos têm se intensificado cada vez mais. O mês de julho evidenciou esse processo muito claramente a partir da onda de calor que atingiu uma série de países em três continentes: Europa, Ásia e América do Norte.

De acordo com o observatório europeu Copernicus, julho foi o mês mais quente já registrado na história do planeta, ao superar o último recorde mundial de 2019 em 0,33ºC. Com essa intensificação, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirma que o mundo ultrapassou o nível de aquecimento, atingindo o estado de “ebulição global”.

“A atmosfera terrestre está ficando com uma quantidade maior de energia e uma das maneiras do sistema climático dissipar essa energia é através do aumento de eventos climáticos extremos”, esclarece Paulo Artaxo, professor do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP.

Esse episódio impactou não somente a natureza, mas também afetou seriamente a saúde da população dessas regiões com temperaturas acima dos 30ºC. Paulo Saldiva, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, explica que pensar a mudança climática juntamente com a saúde pode favorecer a mudança de comportamentos.

Além disso, nota-se um impacto desigual na saúde e vivência da sociedade, uma vez que a população mais pobre e periférica está mais vulnerável às mudanças climáticas. Helena Ribeiro, professora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP, intitula o fenômeno de injustiça climática.

Reação biológica

A zona de conforto e preparo térmico varia de acordo com cada país e cada região dentro do país. Saldiva situa cada uma dessas populações em uma escala de temperatura ideal e extremos de quente e frio – os quais ocasionam um aumento da mortalidade –, além da capacidade de adaptação de cada país. “Nova York, por exemplo, está mais preparada para o frio do que para o calor. Existe também um processo de aclimatização dentro do mesmo país; em São Paulo, o desconforto térmico começa quando a temperatura sobe de 26 graus, que é a zona de perfeito conforto para Teresina”, exemplifica o professor.

No momento em que as condições climáticas extrapolam a predisposição do ser humano de se adaptar, o organismo passa a reagir e adoecer. Diferentemente do senso comum, Saldiva ressalta que hipotermia e hipertermia não resumem nem predominam as causas de morte diante de temperaturas extremas, representam a absoluta minoria.

Na maior parte dos casos, os pacientes falecem por causas naturais desencadeadas por uma diversidade de complicações na saúde. Por exemplo, quadros de insuficiência renal ou infecção urinária provocados pela desidratação, assim como consequências cardíacas ocasionadas pela vasodilatação intensa e sobrecarga do coração. Assim, a professora Helena Ribeiro aponta idosos, crianças e mulheres grávidas como os mais vulneráveis, além de pessoas que já apresentam comorbidades crônicas na saúde. “Em termos sociais, frequentemente pessoas de menor renda são as mais afetadas, pois moram em áreas de maior risco de enchentes e deslizamentos, mais poluídas e com menor arborização urbana”, pontua Helena.

Previsões brasileiras

Por se tratar de um país tropical e já se situar nos limites de temperaturas, Artaxo comenta que o Brasil se torna ainda mais frágil às mudanças climáticas. Em regiões como Teresina, em que já se observam os termômetros atingirem 40ºC durante o verão, são previstas altas até 48ºC e consequências graves para a saúde da população, de acordo com Artaxo.

Helena revela que o Brasil possui uma maior sensibilidade a ondas de frio do que calor, tendo em vista que, diferentemente do clima mediterrâneo do sul da Europa e oeste do Estados Unidos, o clima tropical do País possui verões chuvosos que atenuam o fenômeno. Além disso, existem algumas adaptações culturais, como vestimentas leves e frequência de banhos.

Todavia, a professora ressalta a pouca infraestrutura ainda enfrentada pelo sistema de saúde para oferecer ambientes climatizados tanto para os profissionais da área quanto para os pacientes. “O sistema brasileiro já é bastante sobrecarregado e se houver um agravamento de ondas de calor, será necessário fazer uma formação de pessoal da saúde”, destaca Helena.

Ações

Saldiva afirma que a atividade de prevenção em nível de atenção primária é central para o preparo do sistema de saúde diante das condições ambientais, a fim de transmitir alertas para a população. “Veja a previsão do tempo, eles dizem se você vai ter que levar guarda-chuva para o dia, mas não tem uma previsão de saúde”, compara o professor para demonstrar a importância de uma política de prevenção.

A relação direta entre a mudança climática e a saúde humana pode trazer um novo ponto de vista para o enfrentamento e conscientização dessa crise mundial, na opinião de Saldiva. Com a saúde individual e de pessoas queridas em jogo, o professor reflete sobre o maior impacto nos hábitos e perfis de consumo da população.

*Estagiária sob supervisão de Paulo Capuzzo

Fonte: Jornal da USP