Disautonomia é pouco conhecida, mas comum nas ocorrências médicas

Disautonomia é uma doença caracterizada pela disfunção do sistema nervoso autônomo (SNA). A condição é pouco discutida pela população e pouco presente nos currículos médicos. Entretanto, é relativamente comum nas ocorrências hospitalares e pode passar despercebida se não houver um diagnóstico preciso.

Edson Bor-Seng Shu, professor e médico da Clínica Neurocirúrgica do Hospital das Clínicas e vice-coordenador do curso de extensão universitária do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP, explica as possíveis causas da doença e como diagnosticá-la.

A doença 

O sistema nervoso autônomo, também conhecido como sistema neurovegetativo, é um componente do sistema nervoso e é responsável por controlar autonomamente algumas funções do organismo, como o sistema cardiocirculatório cerebral, o sistema urinário e o sistema gastrointestinal, por exemplo. Segundo Shu, o SNA tenta adaptar o meio interno ao meio externo, fazendo o organismo funcionar da melhor forma possível. Entretanto, quando há uma perda ou diminuição da eficácia dessa autonomia de regulação do corpo, os médicos classificam essa condição como disautonomia, ou disfunção autônoma.

Como explica Shu, a disautonomia pode acontecer concomitantemente a outras doenças, como a doença de Parkinson, doenças autoimunes inflamatórias e doenças infecciosas. “Durante a pandemia de covid-19, tivemos uma explosão de casos de disautonomia, já que o próprio coronavírus pode desencadear sintomas dessa condição.”

Possíveis causas 

O médico pontua que existem inúmeros fatores que desencadeiam ou agravam a falta de eficácia de funcionamento do SNA. “O álcool – um vasodilatador – pode provocar vermelhidão no rosto, que nada mais é do que uma disautonomia na microcirculação da pele. Dependendo da quantidade ingerida, pode ser possível identificar sintomas da disautonomia” explica. Além disso, medicamentos como anti-hipertensivos, antidiuréticos e antidepressivos também podem desencadear a condição de disautonomia.

Existem também os casos chamados de disautonomia primária, em que os médicos investigam e não encontram nenhuma condição associada ou causa para a doença. Atualmente, de acordo com o especialista, a medicina está conseguindo desvendar algumas possíveis causas, como mutações nos genes.

De acordo com Shu, o diagnóstico da disautonomia é eminentemente clínico e os médicos podem solicitar exames que comprovem os sinais da doença no organismo. Para realizar um diagnóstico, entretanto, é preciso conhecer seus sintomas. O sistema nervoso autônomo controla o funcionamento de diferentes órgãos e sistemas. Portanto, os sintomas são decorrentes do mau funcionamento desse conjunto.

“Os sintomas podem ser: intolerância ortostática – caracterizado pela dificuldade em permanecer muito tempo em pé –, mal-estar, desconforto, tontura, cansaço, palpitações, dificuldade em controlar a pressão arterial em níveis estreitos, desmaios, e embaçamento de visão, por exemplo. Existem também os sintomas cerebrais, como diminuição da atenção e concentração, dificuldade em focar nas atividades, memória fraca” aponta o especialista.

De modo geral, os sintomas mais frequentes são decorrentes de alterações na circulação central e o sistema nervoso autônomo é responsável por regular o fluxo de sangue no corpo e no cérebro. No plano horizontal, é muito mais fácil manter o sangue circulando da cabeça aos pés. Quando o indivíduo está de pé, o sangue começa a se acumular na metade inferior do corpo, devido à gravidade. Em condições normais, o SNA promove a vasoconstrição da microcirculação, que bombeia sangue dos membros inferiores para o coração, que posteriormente será bombeado para o cérebro.

Acompanhamento

Para os indivíduos acometidos pela doença, é preciso realizar um acompanhamento profissional, que pode ser feito por cardiologistas e neurologistas. Entretanto, Shu pontua que qualquer médico consegue realizar o diagnóstico, já que a disautonomia provoca sintomas em múltiplos órgãos do sistema.

Primeiro, os médicos realizam uma avaliação clínica geral do paciente, independentemente da especialidade. Depois, se há suspeita de disautonomia, os profissionais investigam os fatores que precipitam ou desencadeiam a condição e investigam as doenças que frequentemente estão associadas a ela.

FONTE: Jornal da USP