Pesquisa da USP traz dados inéditos sobre malária na gestação

Pesquisa teve o objetivo de preencher uma lacuna envolvendo a falta de dados sobre a repercussão da doença nas gestantes. Com informações de mais de 60 mil mulheres, foi possível identificar os principais pontos de atenção para malária gestacional, chamados de hotspots, e assim definir quais regiões e Estados requerem mais esforços sanitários para o seu controle – Foto: Reprodução/Pixnio e Flickr

Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas analisaram dados de 2004 a 2018 e fizeram mapeamento das regiões mais afetadas pela doença no País. Estudo oferece subsídios ao Ministério da Saúde para a tomada de decisões.

Um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP revelou dados importantes para o combate da malária gestacional no Brasil. A pesquisa, publicada na Lancet Regional Health – Americas, analisou a série histórica da doença na região da Floresta Amazônica durante um período de 15 anos, descobrindo as áreas mais afetadas, os grupos de maior risco e informações sobre os tratamentos receitados aos pacientes.

Coordenado pelo professor Claudio Romero Farias Marinho e realizado pela pesquisadora Jamille Gregório Dombrowski, ambos do Laboratório de Imunoparasitologia Experimental, o trabalho teve o objetivo de cobrir uma lacuna da falta de um conhecimento amplo sobre o problema para viabilizar o planejamento de políticas públicas. “Até então, os estudos que forneciam dados sobre a doença eram pontuais e não apresentavam um panorama do número de casos de uma forma mais ampla; agora podemos transformar esses dados em informações que possam subsidiar o Ministério da Saúde na tomada de decisões”, afirma Marinho.

A malária é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Plasmodium e transmitida pelo mosquito Anopheles, com duas espécies prevalentes: a Plasmodium vivax, a mais incidente na região, e a Plasmodium falciparum. Junto das crianças menores de cinco anos, as gestantes são consideradas o principal grupo de risco para a doença, devido às mudanças fisiológicas e à presença do parasita na placenta. Além dos sintomas característicos (febre alta, calafrios, tremores, sudorese e dor de cabeça) serem mais intensos nelas, a doença aumenta os riscos de anemia materna, partos prematuros, baixo peso da criança no nascimento, abortos espontâneos e até microcefalia.

Levantamento amplo – Na pesquisa, foram utilizados modelos estatísticos para mapear a incidência de casos na região no período entre 1º de janeiro de 2004 e 31 de dezembro de 2018. Depois, foi rastreado o número de grávidas entre 10 e 49 anos e feito o mapeamento da população dos locais analisados com base em dados do Serviço de Informação de Vigilância Epidemiológica de Malária do DataSUS.

Com informações de mais de 60 mil mulheres, foi possível identificar os principais pontos de atenção para malária gestacional, chamados de hotspots, e assim definir quais regiões e Estados requerem mais esforços sanitários para o seu controle.

Áreas e grupos de risco – Ao longo dos anos, os números apontaram uma incidência significativa de malária gestacional em municípios dos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Pará. Destacam-se neste contexto as cidades de Mâncio Lima (Acre), situado na microrregião do Juruá, que fica entre o Acre e o Amazonas; Anajás, Bagre, Breves, Curralinho, Limoeiro do Ajuru, Muaná, Oeiras do Pará, São Sebastião da Boa Vista e Cachoeira do Piriá, no Pará; e São Gabriel da Cachoeira, Japurá, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Fonte Boa e Maraã, no Amazonas.

O estudo também mostra que a maior prevalência da doença se dá entre gestantes de 15 a 24 anos de idade. “Isso ocorre porque é nessa faixa etária que se observa o maior número de primigestas [mulheres que engravidaram pela primeira vez], pois é o grupo que, na maioria dos casos, ainda não foi infectado, fator que as deixa mais suscetíveis à infecção. É também um grupo que sofre muito com os efeitos mais graves da doença”, explica a pesquisadora.

O grupo de maior risco é o das grávidas mais jovens e a pesquisa aponta que a situação é preocupante. “Quando se considera a falta de imunidade, as alterações fisiológicas associadas à gestação e a infecção por Plasmodium, o resultado é muito preocupante. Infelizmente, não é raro encontrar meninas de 10 a 14 anos grávidas nessas regiões. Durante o período analisado, tivemos 2.674 casos, um número que totaliza mais de 4% do total de notificações”, afirma Dombrowski.

Medicação equivocada –
 Por ser de notificação compulsória, os pesquisadores obtiveram dados sobre o esquema de tratamento utilizado e descobriram que, em alguns, houve o registro de distribuição da primaquina para as gestantes, um medicamento utilizado no tratamento de malária, mas contraindicado para grávidas porque pode acarretar abortos espontâneos. “Como nosso trabalho foi desenvolvido com informações secundárias, provenientes de um banco de dados, não é possível afirmar que essa medicação foi realmente prescrita. Pode ter havido erro no preenchimento da ficha de notificação ou o profissional escolheu a medicação que mais se aproximava da que foi de fato prescrita, por exemplo”, aponta ela.

Apesar dos problemas encontrados, os pesquisadores observaram uma melhora na notificação correta do tratamento. “Para avançarmos ainda mais é fundamental que tenhamos mais treinamentos e capacitações dos profissionais para o correto preenchimento da ficha de notificação, pois é um documento importante para os programas de controle e eliminação da doença”, afirma a pesquisadora.

A capacitação de profissionais de saúde na região é fundamental para a correta atuação no acompanhamento de gestantes que contraíram a doença – Foto: Reprodução/Freepik

Redução de casos

O estudo mostrou que houve uma redução de cerca de metade dos casos de malária gestacional ao longo do período analisado. Este fato deve-se à ampliação da rede de diagnóstico e tratamento em toda a região. Além disso, a partir de 2006, foram inseridos no tratamento os combinados de artemisinina, um fármaco com ação potente contra a doença. Porém, a tendência de queda sofre o empecilho da descentralização das ações públicas para o combate à malária. Os municípios possuem autonomia para lidar com os casos e podem sofrer perdas com a alternância de equipes vinculadas aos órgãos de saúde a cada nova eleição.

Apesar da redução do número de casos, a doença permanece sendo um grande problema de saúde pública. “Os índices de malária caíram devido a uma série de medidas adotadas para o controle da doença, mas continuam oscilando, ainda que apresentem uma tendência de queda”, pondera Dombrowski.

Diagnóstico precoce

Em anos anteriores, o laboratório voltou seus esforços para desenvolver novas terapias contra a doença por meio do sequenciamento de genomas e do bloqueio de receptores envolvidos no processo inflamatório decorrente da infecção. Agora, com o aspecto epidemiológico já completo, o foco das pesquisas será em ações de diagnóstico precoce. Atualmente, por mais que as gestantes não apresentem sintomas, elas podem estar com o parasita na placenta (malária placentária). Na maioria dos casos, a constatação da doença só é feita após o nascimento do bebê, sem a possibilidade de intervenção ou tratamento. “Estamos trabalhando com a identificação de biomarcadores para a detecção da malária placentária no sangue periférico da mãe”, conta a pesquisadora.

A malária placentária é uma das consequências graves da malária gestacional que acontece em cerca de 20% a 50% dos casos. Como as gestantes geralmente não apresentam sintomas, trata-se de um dos principais desafios para os programas de triagem e tratamento da doença. “A identificação de biomarcadores é fundamental para o diagnóstico precoce dessa complicação, melhorando o cuidado com a gestante e o bebê. A molécula ou as moléculas candidatas devem ser de rápida mensuração, bem como ter um custo razoável para ser acessível e introduzido à rotina de pré-natal”, afirma Dombrowski.

Da Assessoria de Comunicação do ICB

Texto: Redação
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Estudo descreve os mecanismos moleculares da disfunção erétil por consumo de álcool

Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP descreve os mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção erétil desencadeada pelo consumo excessivo de álcool. O estudo realizado pelo professor Carlos Renato Tirapelli, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, mostrou que o álcool afeta a circulação sanguínea do corpo cavernoso, músculo do pênis que se dilata ou contrai conforme o órgão recebe estímulos. Para ficar ereto, os vasos sanguíneos no corpo cavernoso precisam estar dilatados, permitindo maior circulação de sangue. Porém, com o álcool presente no organismo, os vasos se contraem mais, o que reduz o fluxo sanguíneo e impede a ereção do pênis. Os resultados da pesquisa estão em artigo da European Journal of Pharmacology.

A relação entre o etanol e a disfunção erétil não é novidade, uma vez que já vem sendo descrita na literatura científica há bastante tempo. Pesquisadores da Universidade de Hong Kong descreveram os efeitos prejudiciais do álcool na ereção em 2007.

Entretanto, diz o professor, “essa é a primeira vez que um estudo foca nos mecanismos moleculares responsáveis pela disfunção erétil desencadeada pelo consumo excessivo de álcool”.

A disfunção erétil é um problema muito comum entre os homens. Dentre os brasileiros, cerca de 16 milhões sofrem da condição, principalmente homens acima de 40 anos. Mas, independentemente da idade, fatores como estresse, depressão e baixa autoestima podem desencadear o problema de impotência sexual. E, ainda, a impotência sexual pode ser um indicador de doenças cardíacas no futuro. Já se sabe também que o consumo excessivo de álcool pode contribuir significativamente para a disfunção erétil. A pesquisa da USP ajuda a mostrar como isso ocorre.

Prejudica a vasodilatação

No estudo, o corpo cavernoso foi analisado in vitro (em células no laboratório) e em ratos. O professor Tirapelli conta que um grupo de cobaias recebeu, diariamente, uma solução com 20% de teor alcoólico, durante seis semanas. “Ao final desse período percebeu-se que o músculo do pênis se contraía mais que o normal, indicando que o consumo frequente de álcool prejudica a vasodilatação do órgão.”

O exagero nas bebidas alcoólicas prejudica a dilatação dos vasos sanguíneos do órgão que, por sua vez, pode resultar em disfunção erétil – Foto: Wikipédia

 

Segundo o professor Tirapelli, os resultados mostraram que o consumo regular de álcool desencadeia o estresse oxidativo no corpo cavernoso, provocando menor produção de óxido nítrico (NO), molécula presente no organismo que contribui para a vasodilatação. Assim, o pesquisador administrou um antioxidante em outro grupo de ratos tratados com a solução contendo álcool. “Esse grupo não sofreu os efeitos do estresse oxidativo e, com isso, não houve prejuízos na vasodilatação do pênis. Assim, é possível afirmar que o etanol pode ser considerado um fator que prejudica a vasodilatação do corpo cavernoso e predispõe o indivíduo a desenvolver disfunção erétil.”

Degradação dos neurônios

Fazendo analogia com os seres humanos, diz o professor, “dependendo da quantidade de álcool consumida numa festa, por exemplo, independentemente da bebida ser destilada ou não, o corpo cavernoso fica contraído até que o álcool seja eliminado da corrente sanguínea”. O professor ainda lembra que, devido ao consumo crônico de álcool, o indivíduo pode desenvolver a neuropatia, uma doença que causa a lesão e degradação dos neurônios. “Durante o estudo, o grupo de animais tratado apenas com a solução de álcool apresentou uma resposta menor aos estímulos neurais. Esse resultado aponta o prejuízo aos neurônios causado pelo consumo da solução de álcool.”

“O mais recomendável seria evitar as bebidas alcoólicas. O problema é que o álcool é uma droga lícita acessível a grande parte da população. E não é só isso, a população em geral acredita que os efeitos do álcool se limitam a algumas horas após seu consumo, o que não é verídico.”

Mais informações: e-mail crtirapelli@eerp.usp.br, com o professor Carlos Renato Tirapelli

FONTE: Jornal da USP

Chegada do frio provoca alterações no funcionamento do organismo: cuidados são necessários

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As baixas temperaturas são responsáveis por alterar diversos aspectos da vida humana. Um desses fatores é a mudança no funcionamento do corpo de uma pessoa. O frio interfere de forma ativa em sua fisiologia e é capaz de potencializar algumas doenças.

O professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP,  examina as alterações do corpo humano no frio: “Quando esfria, você aumenta o seu metabolismo basal, tem um aumento da produção de adrenalina e de todos os hormônios que vão acelerar o seu metabolismo. Você também fecha os vasos da pele, porque a pele tem entre 1,5 a 2 metros quadrados e tem que ser aquecida. Quando você tira o sangue da periferia, impede a troca de calor e desloca ela mais para dentro do corpo”. O estímulo descrito faz com que o metabolismo basal do corpo aumente, gerando mais calor a ponto de contrair os músculos. A contração serve para gerar e manter o calor, como se estivesse se exercitando.

A chegada do frio impacta diretamente as vias aéreas. “O pulmão de um adulto tem mais ou menos 100 metros quadrados, empacotado em pequenos alvéolos e separados da rua por uma barreira que tem menos de um milésimo de milímetro. ‘Como é que você não congela?’ Através do trabalho das vias aéreas e do aumento da perfusão das vias aéreas”, relata Saldiva.

Essa alteração tem consequências, os cílios que removem as impurezas funcionam mais devagar, isso deve-se ao muco que reveste a via aérea, que fica mais rígido por conta das baixas temperaturas. O professor aponta que “as vias aéreas, principalmente as superiores, pagam um preço alto para fazer esse trabalho de condicionamento térmico. Nós submetemos nosso corpo a um metabolismo maior e a via aérea sob estresse com perda de eficiência dos mecanismos de limpeza e de remoção das vias aéreas.”

As baixas temperaturas costumam estar relacionadas a alguns tipos de doenças. “As estações de frio são as estações das doenças respiratórias e cardiovasculares”, indica Saldiva. O professor ainda comenta que a variação ao longo do dia e as mudanças de temperatura de dias precedentes também influenciam no contágio de doenças.

Saldiva também destaca as doenças cardiovasculares: “Quando você aumenta o metabolismo, você está dizendo para o teu coração que funcione mais depressa, você pisa no acelerador, se o coração não tiver condição de fazer isso, se ele já tiver uma vulnerabilidade maior, aquilo pode ser a diferença para ele ter uma arritmia ou mesmo ter um infarto do miocárdio”.

Dores no corpo

Nesse período, também é comum que as pessoas acusem dores no corpo, sobretudo as mais velhas. A fisioterapeuta encarregada do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Ana Paula Monteiro, analisa: “As baixas temperaturas causam algumas contraturas musculares e as pessoas se encolhem. As pessoas fazem isso para diminuir o espaço que elas vão ficar sob as baixas temperaturas. Os animais também fazem isso, se enrolam para diminuir a superfície de contato com o frio”.

As articulações são os locais mais prejudicados pelas contraturas devido à falta de movimento. “A lubrificação delas depende do movimento, se você não tiver movimento, você não tem a lubrificação adequada. Imagine uma polia sem uma lubrificação adequada, o movimento vai falhar. O corpo funciona da mesma forma, as articulações funcionam da mesma forma”, comenta a fisioterapeuta.

De acordo com Ana Paula, a movimentação do corpo é uma maneira de amenizar a dor: “Movimentar as articulações, começar o dia se movimentando, pensar no corpo todo, você tem que se movimentar. Lembra da polia, tem que aquecer, o corpo produz coisas boas quando você se movimenta, incluindo a graxa natural das articulações, que a gente chama de sinóvia. É uma graxa que o movimento causa, se você não se mexe, a graxa resseca e você não vai ter a polia funcionando de acordo”. A idade também é um fator determinante. “Após os 25 anos você já está em um declínio da sua função motora”, ressalta a fisioterapeuta.

O problema não é só físico

Paulo Saldiva reitera a importância do esporte para conter alterações no corpo e possíveis doenças, mas faz ressalvas. “É lógico que a prática esportiva é importante, mas você tem que estar em uma região que você possa praticar. Os equipamentos de esporte da Prefeitura, por exemplo, previnem muito o risco de morrer de infarto, mas eles têm que estar a menos de um quilômetro para o indivíduo ir a pé, para as pessoas irem a pé”, atesta, ao abordar a falta de acesso por parte da população.

Embora os exercícios físicos amenizem os problemas que chegam com o frio, a desigualdade de recursos para conter os impactos é preponderante, sobretudo para a população de baixa renda: “As políticas públicas deveriam se incorporar na esfera de decisão da saúde humana. Um indicador importante é a aglutinação das políticas públicas. Nesse contexto, as respostas ao frio e às mudanças de temperatura têm um carimbo de desigualdade e vulnerabilidade em cima delas, “ ressalta Saldiva.

Ao finalizar, o professor questiona a capacidade humana de adaptação em meio às constantes mudanças no clima: “A velocidade das mudanças no clima está muito mais rápida do que nossa capacidade adaptativa, seja do ponto de vista fisiológico, seja do ponto de vista construtivo de modificar a cidade. Qual vai ser a nossa capacidade adaptativa nos próximos anos?”.

Por João Dall’ara

FONTE: Jornal da USP

Projeto do Instituto da Criança humaniza procedimentos cardiológicos para pacientes

É como se fosse…, livro da cardiologista Vanessa Guimarães, com supervisão da psicóloga Jussara Zimmermann, busca tornar a cardiologia mais palatável para crianças e adolescentes.

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O livro É como se fosse… humaniza e aborda de forma didática e educativa exames cardiológicos para o público infantil. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, as autoras da obra, Vanessa Guimarães, cardiologista pediátrica do Instituto do Coração (Incor), e Jussara Zimmermann, psicóloga e coordenadora da Assessoria de Humanização do Instituto da Criança e do Adolescente (ICr), ambas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, discorrem sobre o projeto.

Vanessa relata que cuidar de crianças com problemas cardíacos parece um desafio para a maioria das pessoas, mas para ela é uma forma de ajudá-las a viver melhor: “A minha parcela de ajuda nisso é conseguir dar mais qualidade de vida e conseguir permitir que todas as potencialidades delas sejam alcançadas. Dá muito prazer estar nessa jornada com elas.”

É como se fosse… é o quarto livro de uma série de cardio-humanização idealizada desde 2019 pela especialista. “Comecei a escrever em 2019 e este é o último. Ele tenta mostrar para a criança no pensamento dela, no mundo da criança, como ela pode enxergar aqueles exames”, descreve Vanessa.

O Instituto da Criança e do Adolescente possui um ambiente que favorece o universo infantil, mas no Incor a área dos exames é feita para adultos, é um hospital misto, comenta a cardiologista: “Então, nós não temos essa questão da humanização e da ambiência tão presentes. Através do livro, nós passamos para a criança que em seu universo ela pode entender e vivenciar essa experiência mais agradável.”

De acordo com Jussara, a humanização nasce junto com a Instituição da Criança e do Adolescente: “Se essas famílias vão permanecer durante tanto tempo aqui e realizar tantos procedimentos, é nosso dever fazer com que essa permanência e esse cuidado sejam os melhores e mais abrangentes possíveis, não só lidando com as questões médicas, mas com tudo que envolve o universo infantil.”

A psicóloga ainda fala sobre a importância da adaptação de temas técnicos ao universo lúdico das crianças. “Já que essa criança está aprendendo e está crescendo, ela vive em um contexto de desenvolvimento lúdico. Então, a brincadeira e a adaptação dos temas são muito importantes em qualquer momento da jornada desse paciente, e em relação aos exames não é diferente”, indica Jussara.

No livro, são descritos todos os exames que um paciente com cardiopatia se submete ao longo da vida. Vanessa comenta que “nesses exames eu explico a parte técnica para os cuidadores, mas com uma linguagem acessível para que eles entendam por que o médico solicita e o que acontece durante o exame, para que eles façam parte dessa jornada”.

Uma proposta da cardiologista foi que alunos formandos em Medicina de várias universidades do País escrevessem sobre algum exame de forma lúdica, processo lapidado pela psicóloga Jussara, que deu encantamento ao livro. Um dos exemplos foi a radiografia de tórax. “É como se a criança fosse um modelo fotográfico e o técnico fosse o fotógrafo, que vai orientar poses e com isso a gente tem a foto do coraçãozinho da criança.”

Para conferir a obra, acesse o link: https://clubedeautores.com.br/livro/e-como-se-fosse

Autor: Redação
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Dia Nacional do Diabetes: pacientes buscam qualidade de vida

O Dia Nacional do Diabetes, celebrado domingo (26/06), reforça a importância de hábitos saudáveis para evitar a doença, que acomete mais de 537 milhões de adultos com idade entre 20 e 79 anos, representando 10,5% da população mundial nessa faixa etária. Os dados são do Atlas do Diabetes 2021, divulgado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF).

O Brasil é o sexto país em incidência de diabetes no mundo e o primeiro na América Latina — são 15,7 milhões de pessoas adultas com esta condição, e a estimativa é que, até 2045, a doença alcance 23,2 milhões de adultos brasileiros.

A aposentada Walquiria Lopes, de 64 anos, teve o primeiro sinal de que poderia estar com a doença em um teste de rotina no escritório em que trabalhava. Após um mês de acompanhamento médico e aferição diária da glicemia capilar, ela recebeu o diagnóstico: diabetes tipo 2.

“Fiquei muito assustada pois já queriam até me aplicar insulina, porque já [o índice] estava muito alto. Aí comecei o tratamento com um endocrinologista. A descoberta é muito importante, porque eu não tinha sintomas, o diabetes é uma doença silenciosa. Eu não tinha sede, pois eu já tomava água por causa de cálculos renais. Já não comia muito doce, mas comia muito carboidrato, e não sabia que este também podia causar a doença”, lembra Walquiria. A aposentada destaca a importância dos exames e diz que foi com a picadinha no dedo que teve o alerta. A confirmação da doença veio depois, com exames de sangue.

Walquiria aprendeu a conviver com o diabetes, controlando a doença de forma adequada. “Continuo não tendo sintoma nenhum, mas convivo com a doença fazendo exames periódicos, tomo a medicação e vou ao médico regularmente.” Ela reforça que o exame é importante porque, se o diabetes for descoberto precocemente, a pessoa já pode iniciar o tratamento. Com o tratamento adequado, a vida é perfeitamente normal, afirma.

Tipos

Existem quatro tipos de diabetes, explica o endocrinologista e presidente da Associação de Diabetes do ABC, Marcio Krakauer. “O do tipo 1 acontece por uma doença autoimune, em que o corpo para de produzir insulina naquele momento (ou poucas horas e dias antes), e os sintomas são excessivos, como fome, sede intensa, perda de peso, visão embaçada, infecções urinárias e genitais, dores no corpo”.

Nesse tipo, quando se repõe a insulina, o indivíduo fica bom rapidamente. O diabetes do tipo 2 é uma doença que mistura o hereditário com o ganho de peso e vai surgindo de forma muito lenta na vida. Em geral, quando se faz um diagnóstico por causa de tais sintomas, estes já existem há cerca de cinco anos ou mais, acrescenta o médico. Segundo Krakauer, o diabetes do tipo 2 é completamente assintomático ou pouco sintomático.

Já o pré-diabetes é uma condição bem inicial. “Nós damos esse nome, mas, na verdade, a glicose já não está normal. O diagnóstico é feito por números de glicose na ponta do dedo, ou do exame hemoglobina glicada ou do exame de curva glicêmica. É o início da história do diabetes”, e aí as pessoas precisam ser tratadas para evitar que fiquem com diabetes, ressalta o médico.

O diabetes gestacional é aquele que aparece por causa da gravidez. “Em geral, são mulheres obesas, que têm história de pais com diabetes tipo 2 e que, quando estão entre a 26ª e 28ª semanas de gestação, por conta dos hormônios da gravidez, podem apresentar a glicose elevada, o diabetes. Essas mulheres devem tratar-se porque pode haver muitas complicações para mãe e para o bebê”, observa Krakauer.

Conviver com a doença

Os riscos do diabetes são vários, mas há formas adequadas de controlar a doença. “Todos [os tipos de diabetes] precisam de mudança de estilo de vida: primeiro plano, alimentar-se de forma saudável, nutricionalmente adequada. Aqueles que estão acima do peso devem perder peso, os que estão abaixo do peso, ganhar ou manter o peso”, destaca o médico.

Ele acrescenta que é importante reduzir os carboidratos simples e dar preferência aos carboidratos integrais, ingerindo-os em pequena quantidade, e ter a alimentação fracionada ao longo do dia. O prato precisa ser composto de forma saudável: metade de legumes, verduras, saladas, um quarto de carboidratos integrais e um quarto de proteína, que pode ser vegetal ou animal.

Quem tem diabetes tipo 1 precisa fazer a reposição de insulina, já que não produz o hormônio, e manter hábitos de vida saudáveis. A insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, é responsável por levar a glicose que está no sangue para o interior das células.
Já o diabetes gestacional, dependendo da situação, pode ser tratado só com alimentação saudável. “Se necessário, o diabetes gestacional pode ser tratado com insulina. Por enquanto, não se utiliza medicamento oral. Apesar de alguns estudos liberarem a metformina, por enquanto só se libera a insulina durante a gestação. E atividade física também. Aliás, a atividade física é importante para todos os tipos de diabetes e para todas as pessoas.”

De acordo com o médico, para conviver com a doença, é preciso monitoramento e educação. “É preciso fazer teste na ponta do dedo ou usar a medição da glicose continuamente para tomada de decisão, tanto para enxergar o efeito da alimentação, o efeito da parte emocional, da glicose no sangue, o efeito do exercício, dos remédios, da insulina. A monitorização é muito importante.”

Krakauer explica que, quando o diabetes está bem compensado, com parâmetros perto da normalidade, a chance de complicações crônicas é mínima. “Mas aqueles que estão [com o diabetes] mal controlado e por muito tempo, podem ter complicações nos olhos — a doença é a maior causa de cegueira no mundo –, no coração e doenças arteriais periféricas.”

Podem advir ainda problemas neurológicos, alerta o médico. “Chamamos de neuropatia do diabetes, que aumenta muito a chance de perder a sensibilidade nos pés. Esses indivíduos podem ter infecções e sofrer amputações, além de doença renal do diabetes que leva à hemodiálise ou ao transplante de rim. E várias outras questões, como gordura no fígado, doenças pulmonares, pior resposta às infecções, como, por exemplo, a covid-19.”

O médico explica que quem tem diabetes responde mal à doença porque a glicose alta diminui a imunidade às infecções. “Quando a doença está controlada e bem compensada por muito tempo, isso não ocorre”.

Prevenção

Fórmula para evitar e controlar o diabetes combina exercícios físicos e alimentação saudável – Arquivo/Agência Brasil

A fórmula alimentação saudável e exercícios físicos é o meio mais efetivo de prevenir a doença, orienta o especialista. “A mistura é: alimentação saudável, perda de peso para quem está acima do peso, muito exercício físico, tomar muita água, dormir direito e reduzir o estresse,  quando possível.”

Krakauer enfatiza que alimentos ultraprocessados também aceleram a incidência da doença. “Ultraprocessados são alimentos com alto teor de farinha branca, açúcares e gorduras, que fazem mal ao organismo. O indivíduo que tem tendência ao diabetes tipo 2, pode, com o excesso de ultraprocessados, ganhar peso muito rapidamente na região da barriga e apresentar excesso de gordura no fígado e no pâncreas [esteatose hepática ou pancreática], o que é um fator de risco gigantesco para o aparecimento da doença.”

Ficar longe do cigarro e das bebidas alcoólicas é outra maneira de diminuir o risco de ter a doença, diz o médico. “Não fumar em hipótese alguma, reduzir as bebidas alcoólicas, para quem as toma em excesso, levar a vida de forma saudável, o máximo que conseguir. Algumas vezes, podem ser indicadas medicações capazes de reduzir o risco do diabetes em torno de 30%.”

Portal

Iniciativas que forneçam informações de qualidade contribuem para o gerenciamento adequado da condição é uma forma de ajudar quem busca conhecimento. Uma delas é o portal Tipo Você, que reúne conteúdos informativos e educacionais para que pacientes e familiares aprendam e aperfeiçoem o gerenciamento do diabetes.

Lançado na última semana pela Roche Diabetes Care, o portal visa auxiliar as pessoas com diabetes a entender as medidas adequadas e a cuidar cada vez mais da saúde.

Para o médico, informação é essencial para a mudança no estilo de vida de quem quer evitar o diabetes e de quem precisa conviver com doença. “É mudança de estilo de vida. E é preciso ter conhecimento, informação, educação para atingir a transformação.”

Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil

Você sabe o que é a síndrome de cri-du-chat?

Síndrome de cri-du-chat deve ser investigada nas primeiras horas de vida. De acordo com a médica geneticista Chong Ae Kim, o tratamento da doença é individualizado e atua no controle dos sintomas, que diferem de criança para criança.

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A síndrome de cri-du-chat é uma doença rara, que tem alteração no cromossomo 5, a falta de um pedacinho do braço do cromossomo, por isso resulta em uma anomalia genética.

Conhecida como “miado de gato”, por causa da má formação da laringe, ela altera o som do choro do bebê.  A médica geneticista Chong Ae Kim, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e chefe da Unidade de Genética do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, explica que a criança tem sintomas variados como o formato facial  peculiar, incluindo olhos bem separados, orelhas baixas, mandíbula pequena e face arredondada.

Essa desordem genética é caracterizada por deficiências intelectuais e retardo no desenvolvimento físico, cabeça pequena (microcefalia), baixo peso ao nascer e tonicidade muscular fraca (hipotonia) na infância. Além disso, são crianças hiperativas e muitas vezes agressivas.

Tratamento individualizado

O tratamento da síndrome é individualizado, não existindo um modelo específico. A professora explica que o médico atua no controle dos sintomas, que diferem conforme a criança. “Alguns precisam de fisioterapia, outros de cardiologista, clínico geral; enfim, conforme a necessidade do momento”, conclui.

É importante que o tratamento tenha início o mais breve possível, já que a estimulação precoce possibilita um melhor desenvolvimento, adaptação e aceitação da síndrome pela pessoa na adolescência e vida adulta. Cerca de 10% dos portadores da síndrome de cri-du-chat herdam a anormalidade cromossômica de um dos pais não afetados pela doença. Chong diz que a mutação ocorre em casais normais.

A especialista do Instituto da Criança alerta que, por hora, a doença ainda não tem cura, mas essa possibilidade não está descartada em função dos avanços da genética.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

24 de junho, Dia Mundial de Prevenção de Quedas

Hoje (24/06) é o Dia Mundial de Prevenção de Quedas e o assunto será discutido no Hospital Universitário (HU) da USP. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Maria Elisa Pimentel Piemonte, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina (FMUSP), informa que fraturas decorrentes de quedas são responsáveis por 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos.

Maria Elisa alerta que um indivíduo com fratura pode ficar acamado e, em função da imobilidade, passar a sofrer complicações renais e respiratórias que podem levar a óbito. Ela também informa sobre as consequências psicológicas acarretadas pela primeira queda: “Se é uma queda com injúria ou mesmo uma queda, por exemplo, num ambiente público, em que a pessoa se sinta muito constrangida, ela desencadeia o que se chama Síndrome do Medo de Cair. A pessoa começa a se autorrestringir por causa do medo de cair”.

Possíveis riscos

Segundo a professora, os riscos de queda são divididos conforme a funcionalidade do idoso. Os idosos saudáveis, normalmente, caem por problema ambientais, como irregularidades no piso e tapetes escorregadios. Mas também há outras condições, como fraqueza muscular, tontura, vertigem e uso de vários fármacos. “Sedativos, ansiolíticos e remédios para dormir, tudo isso aumenta o risco de queda. E a gente não pode esquecer também que, ao lado do declínio físico, há o declínio cognitivo”, reitera Maria Elisa. Ela completa: ”Por exemplo, a atenção está relacionada com o aumento de risco de queda, e um estudo mostra que testes cognitivos podem prever o risco até cinco anos antes da primeira queda”.

A especialista ainda fala sobre a influência do sexo nessa questão. De acordo com ela, mulheres caem mais que homens, devido às alterações hormonais da menopausa. Assim, pessoas do sexo feminino possuem um declínio mais abrupto no sistema motor.

Prevenção 

Ao contrário do senso comum, idosos com escadas em casa caem menos que aqueles que não as têm, pois as escadas auxiliam no exercício diário e no fortalecimento dos músculos nos idosos que as utilizam regularmente. Como a fraqueza muscular em função da idade afeta o equilíbrio e ocasiona quedas, exercícios físicos são uma forma de preveni-las.

A indicação da professora são exercícios variados, os quais combinam força, elasticidade, coordenação e equilíbrio. Ela reforça que as atividades precisam ser de longa duração: “Não é uma coisa para curto prazo. Não adianta esperar que você vai começar a fazer esse exercício e daqui um mês vai notar efeito. Tem que descobrir alguma coisa que você faça com prazer para que isso perdure bastante”.

No Dia Mundial de Prevenção de Quedas, às 9h, o anfiteatro do HU avaliará o risco de queda em pacientes de toda a comunidade. Serão dois testes motores rápidos para que qualquer pessoa possa identificar seu risco. Para saber mais, acesse www.hu.usp.br.

FONTE: Jornal da USP

Ambientes secos, arejados e limpos são os grandes inimigos dos ácaros

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Os ácaros são animais que medem menos de um milímetro, mas são muito importantes no nosso dia a dia. Apesar de microscópicos, esses organismos estão presentes em quase toda parte. E Alguns deles são responsáveis por problemas na agricultura e pela transmissão de doenças aos humanos.

O termo ácaro é utilizado para classificar milhares de espécies pertencentes à classe dos aracnídeos. O professor Gilberto Moraes, do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, explicou ao Jornal da USP que, por isso, os ácaros são mais próximos das aranhas do que dos insetos.

Eles possuem quatro pares de patas e um par de quelíceras, órgão que serve como pinça para a obtenção de alimento. Esses animais também não têm cabeça. “Eles têm uma região anterior, onde está a boca. O cérebro dele fica dentro do corpo”, diz Moraes. “Inclusive, o intestino deles passa pelo meio do cérebro, nós costumamos dizer que eles não podem comer muito senão terão dor de cabeça”, brinca o professor.

Em relação aos hábitos alimentares, Moraes conta que grande parte dos ácaros são predadores e se alimentam de líquidos. Outras espécies não são predadoras e se alimentam de plantas. “Eles perfuram as células das plantas e retiram o conteúdo líquido delas”, conta. A maior parte dos inimigos dos ácaros é constituída de pequenos insetos ou mesmo de outros ácaros.

Grande parte das espécies possui machos e fêmeas, “mas existem muitas que não têm macho, são só fêmeas que se reproduzem por partenogênese”, comenta o professor, ao explicar o processo em que não é necessária fecundação do óvulo. Outras espécies conseguem se reproduzir com ou sem a presença de machos. “Quando ele está ausente, todos os filhos são machos. Quando está presente, os filhos são machos e fêmeas, o que permite que a população se mantenha no ambiente.”

Esses animais podem ser encontrados em diversos ambientes, como o solo e a superfície de plantas ou pelos. “E nós temos muitos ácaros em nós mesmos”, conta Moraes. “Eles vivem principalmente na face das pessoas”, explica. Além de não ser possível vê-los, normalmente esses animais não causam problemas, por isso não são percebidos. Mas existem casos em que eles são prejudiciais.

Ácaros na agricultura

Moraes conta que esses organismos costumam ser identificados pelos agricultores a partir de sua cor. “Muitos ácaros que atacam plantas são de um tom vermelho muito vivo. E eles chegam a populações bem altas, então o agricultor consegue ver aquela massa de pequenos organismos coloridos.” Essas infestações podem causar a descoloração e a morte de folhas, além da transmissão de doenças para as plantas. Morango, tomate, feijão, limão, laranja, sementes, grãos e farinhas são apenas alguns exemplos de vítimas dos ácaros agrícolas.

As infestações normalmente são controladas com produtos químicos e acaricidas. Entretanto, Moraes conta que o uso em excesso pode tornar os animais resistentes. “Um produto que hoje funciona muito bem pode deixar de funcionar.” Essa situação levou à adoção do controle biológico, em que predadores naturais são espalhados pela região para controlar os ácaros resistentes aos acaricidas.

Segundo o professor, normalmente os ácaros agrícolas são controlados com outras espécies de ácaros predadores. “Aqui no Brasil nós temos laboratórios comerciais que produzem esses predadores e vendem para os agricultores, que podem deixar de usar produtos químicos.”

Ácaros, saúde e proteção

Outros ácaros têm importância médica. Eles podem provocar sarnas, causar reações alérgicas e transmitir vírus ou bactérias causadores de outras doenças. É o caso, por exemplo, de um dos ácaros mais famosos e importantes: o carrapato, transmissor do micro-organismo causador da febre maculosa.

“A proporção de pessoas que se salvam quando adquirem essa doença é baixa”, alerta o professor. Ele explica que o carrapato é mais comum em regiões com grandes animais como cavalos, capivaras e porcos. “Tem que tomar muito cuidado e vistoriar o corpo periodicamente. Se a pessoa estiver com carrapato e sentindo sintomas de gripe, precisa ir ao médico e avisar a suspeita”, orienta o professor.

Os ácaros mais comuns nos ambientes domésticos são mais associados a alergias e problemas respiratórios. Esses animais procriam em locais com muita umidade, poeira e restos de alimentos. Para evitá-los, Moraes recomenta que as pessoas mantenham os ambientes secos e arejados. “Basta abrir as portas, janelas e cortinas para entrar o sol, isso ajuda muito no controle dos ácaros.”

A limpeza também é muito importante. Travesseiros, colchões e cobertores e ambientes empoeirados são um prato cheio para os ácaros que se alimentam dos restos de pele e de alimentos. Por isso, é importante higienizá-los com frequência.

Por Rodrigo Tammaro

FONTE: Jornal da USP

Cigarros eletrônicos aumentam em 42% as chances do usuário ter um infarto

Stella Martins informa que os cigarros eletrônicos chegam a possuir quase 60 mg de nicotina por ml do líquido, enquanto os tradicionais se limitam a 1 mg da substância por cigarro

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De acordo com Stella Martins, especialista em dependência química da área de Pneumologia no Hospital das Clínicas (HC) da USP, em conversa ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, usuários de cigarro eletrônico têm 42% de chance a mais de terem um infarto do que aqueles que não fazem uso do produto. Os cigarros eletrônicos possuem o que é denominado de supernicotina, que é o sal de nicotina, muito mais potente que a substância presente nos cigarros tradicionais.

O grande diferencial do eletrônico para o tradicional é que no primeiro, no lugar do tabaco macerado, é aquecida a nicotina líquida. Stella explica que o cigarro tradicional no Brasil tem um limite de 1 mg de nicotina por cada cigarro, enquanto os eletrônicos, que são pequenos e se assemelham a um pen drive, chegam a até 57 mg da substância por ml do líquido.

“É uma quantidade absurda de nicotina que está sendo entregue aos jovens, que, muitas vezes, nem fumavam”, expõe a especialista. “As políticas de controle do tabagismo no Brasil são reconhecidas internacionalmente, porque a nossa população sabe que fumar cigarro [tradicional] faz mal. Mas, infelizmente, ela está pouco orientada de que o cigarro eletrônico traz muito dano à saúde pulmonar também”, complementa.

Um dos motivos pelos quais os usuários desconhecem os malefícios causados por esse tipo de cigarro é que ele aparenta ser mais “suave”, devido aos aditivos que são colocados, como aromas e sabores agradáveis. “Quem está do lado não sente o desconforto da fumaça do cigarro”, diz Stella. Além disso, a nicotina é mais rapidamente absorvida pelo pulmão e pelo cérebro, liberando a dopamina e aumentando a sensação de prazer e bem-estar.

Dependência química, comportamental e psicológica

Segundo a especialista, o tratamento da dependência também é complicado: “No passado, quando alguém falava que parou de fumar, a gente entendia que a pessoa estava com a dependência tratada, não estava mais com a nicotina de forma alguma”. “Hoje em dia, a sensação ‘parou de fumar’ passou a ser entendida como ‘não uso mais o cigarro tradicional, mas estou usando cigarro eletrônico’”, completa.

Ela alerta que o controle da dependência não envolve apenas o controle da substância química, mas também é preciso tratar a dependência comportamental e a psicológica, como o ato de fumar em momentos de ansiedade, em festas ou mesmo após tomar um café, fatores gatilho para o usuário.

As consequências do uso do cigarro eletrônico são enormes. Stella informa que ele obstrui as vias aéreas e os aditivos presentes lesionam o coração, levando à obstrução, também, da parede das artérias que conduzem o sangue e, assim, é facilitada a formação de trombos.

A pneumologista reforça a conscientização acerca do cigarro e recomenda buscar ajuda com um profissional especializado em casos de dependência: “A gente tem uma ampla rede de tratamento com medicamentos na rede SUS. A orientação que fica é que [o usuário] não tente parar sozinho”.

FONTE: Jornal da USP

São Paulo lança programa de terapia celular para tratamento de câncer

O governo do estado de São Paulo lançou dia 14 um programa de tratamento avançado contra o câncer com a utilização de terapia celular. Dois novos centros de saúde, um na capital paulista e um em Ribeirão Preto, produzirão compostos para a terapia celular CAR-T, que utiliza células T para combater o câncer de sangue.

A capacidade inicial de tratamento é de até 300 pacientes por ano. O programa faz parte de um acordo de cooperação entre o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP) e o Hemocentro de Ribeirão Preto.

De acordo com o governo do estado, esse tipo de terapia celular já se mostrou altamente eficaz no tratamento de alguns tipos de câncer de sangue, como linfoma e leucemia linfóide aguda. As novas unidades de São Paulo e de Ribeirão Preto serão equipadas com estruturas que permitirão a realização dos principais processos da nova tecnologia, como produção, desenvolvimento, armazenamento e aplicação da terapia celular.

As instalações incluem laboratórios de controle de qualidade, salas de criopreservação, salas de produção de vírus, salas limpas de produção de células CAR-T, salas de preparo de meios e soluções, e áreas destinadas ao armazenamento do produto final e dos insumos em tanques criogênicos.

“Curar uma pessoa que estava em situação quase terminal é uma emoção indescritível. Estes dois centros são fruto de anos de dedicação de uma grande equipe. Somos mais de 50 pesquisadores trabalhando há décadas em um único objetivo”, destacou o presidente do Instituto Butantan e coordenador do estudo, Dimas Covas.

A tecnologia celular CAR-T é um tipo de imunoterapia que utiliza linfócitos T, células do sistema imune responsáveis por combater agentes patogênicos e matar células infectadas. O tratamento consiste em retirar e isolar os linfócitos T do paciente, ativá-los, programá-los para conseguirem identificar e combater o câncer e, depois, inseri-los de volta no organismo do indivíduo. Todo o processo pode durar cerca de dois meses.

Por Bruno Bocchini – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil