Ocitocina, hormônio que pode melhorar bem-estar emocional de pessoas com ansiedade

De acordo com Eliana Nogueira do Vale, a ocitocina é responsável pelos estímulos sensoriais agradáveis, como táteis (massagens, abraços etc.) e auditivos (música, som das ondas do mar etc.)

Com a pandemia, muitas pessoas tiveram sua saúde mental prejudicada pela falta de contato afetivo, o que ocasionou doenças como depressão e ansiedade. Isso pode estar relacionado à falta de ocitocina, importante para produção do bem-estar físico e emocional, como aponta a tese de doutorado em Neurociência e Comportamento, Ocitocina, bem-estar e a regulação do afeto.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a autora da tese e mestre em Psicologia Clínica no Instituto de Psicologia (IP) da USP, Eliana Nogueira do Vale, explicou que a ocitocina é produzida em diversas situações diferentes, sendo uma delas pelos estímulos sensoriais agradáveis. “Por exemplo, estímulos táteis agradáveis: massagem, abraço, carinho no cabelo. Todas essas coisas fáceis vão trazer bem-estar. Estímulos auditivos: música, barulhinho de cachoeira, de mar.” Além disso, ela destaca também que as relações amorosas, de amizade, de trabalho e o contato com duas ou mais pessoas produzem também ocitocina.

Com o home office e muito tempo em frente do computador, esses estímulos acabam se tornando mais raros. “Tudo isso que eu falei sobre bem-estar exige que se tenha  tempo para fazer isso, […] que possa se dedicar a essas coisas agradáveis”, pondera a especialista. Ela explica também que as “pessoas esgotadas não têm tempo para a vida familiar, para vida amorosa, para descansar, para ter lazer.” Ou seja, problemas que vão além da questão pandêmica.

Ocitocina pode melhorar a situação

Pensando nisso, a pesquisa reuniu 27 participantes do sexo masculino, de 18 a 60 anos, diagnosticados com Transtorno de Ansiedade Generalizada (caracterizado por importantes distúrbios do sono, irritabilidade, nervosismo, tremores, tensão muscular, palpitações, tonturas e desconforto gástrico) para compreender os efeitos da ocitocina nesse caso. “Está havendo interesse da psiquiatria por estudos que usem ocitocina, porque […] ela tem resultado sem efeito colateral”, afirma Eliana.

Foi trabalhado a administração da ocitocina intranasal no grupo instrumental, comparado com um grupo placebo, que utilizou soro fisiológico. Nos pacientes que usaram a ocitocina, detectou-se uma melhora no humor, nos relacionamentos pessoais, na qualidade do sono e nos estados de calma, confiança e ânimo.

FONTE: Jornal da USP

Doenças do coração matam mais mulheres que o câncer de mama

De acordo com Walkiria Ávila, as doenças do coração afetam mais mulheres que homens e possuem fatores agravantes como hipertensão, tabagismo e obesidade

As doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e síndrome do coração partido, são um grande desafio para a saúde feminina e mais da metade das mortes de mulheres são causadas por problemas no sistema cardiovascular. A cardiologista e coordenadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Cardiopatia, Gravidez e Aconselhamento Reprodutivo do Hospital das Clínicas da USP, Walkiria Ávila, fala sobre as causas desse problema e como evitá-lo em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.

Walkiria constata que, mesmo havendo uma diminuição dessas doenças nas mulheres, elas continuam sendo a principal causa de morte e afetam menos os homens. “A mulher, de forma geral, acha que infarto é coisa de homem. Em 850 mulheres que nós perguntamos ‘Do que você acha que vai morrer?’, 60% achavam que iriam morrer de câncer de mama e somente 18% achavam que seria por doença do coração. E é exatamente o contrário”, revela. Segundo a cardiologista, somente 14% das mortes de mulheres têm como causa o câncer de mama. Isso se deve aos programas para prevenção à doença, os quais são mais escassos no que diz respeito às doenças cardiovasculares.

Sintomas diferentes

A cardiologista também alerta para as diferenças nos sintomas sentidos por homens e mulheres, fator que pode retardar a procura por profissionais da saúde e prognósticos: “Na mulher, os sintomas de infarto são minimizados. No homem, [pode haver] uma dor no peito, na mulher pode não [haver]. A mulher pode ter uma dor na mandíbula, dor nos braços e até uma dor nas costas. E isso passa como se fosse uma dor na lombar”.

Walkiria também alerta para a falta de conhecimento das mulheres sobre sua saúde. Ela informa que hipertensão, tabagismo, obesidade e depressão contribuem para acelerar essas condições e que dietas e atividades físicas são os pilares preventivos das doenças do coração e até cânceres. A cardiologista ainda fala sobre gravidez e questões hormonais: “Isso já começa na puberdade. O uso dos anticoncepcionais, quando não são formulados ou receitados de formas adequadas. A gravidez é um teste à saúde da mulher e nós temos a pré-eclâmpsia, que é a hipertensão da gestação e é a principal causa de morte obstétrica”. “A menopausa, que perde o estrógeno, o protetor cardiovascular, e as doenças começam a se somar”, completa.

A médica incentiva a realização de exames precocemente para o tratamento adequado das doenças cardiovasculares. “Isso aqui é um programa de saúde pública, inclusive trazendo o alerta a essas mulheres à prevenção, e a gente tem uma visão e uma esperança de que futuramente essas doenças tendam a diminuir no sexo feminino também”, afirma.

FONTE: Jornal da USP

A frase “porque é natural não faz mal” não corresponde à realidade

O uso de produtos ditos “naturais” sem indicação médica é um risco à saúde, podendo levar a óbito. As pessoas costumam entrar em uma loja de produtos naturais, manipulados ou até mesmo em farmácias para procurar o que pode ajudar a emagrecer, melhorar a pele, crescer cabelo ou minimizar sua queda sem conhecer ou saber exatamente o que está sendo consumido. A compra também é facilitada com a venda pela internet. Daniel Demarque, professor do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, lembra que aquela frase “porque é natural não faz mal” não existe. Os venenos e as plantas tóxicas também são naturais. “Quando nós consumimos os produtos ditos naturais, nós precisamos ter em mente que esses produtos não são inócuos, ou seja, ainda que naturais são produtos químicos que vão ter efeito no nosso organismo, que o nosso fígado precisa metabolizar para excretar. Não é porque ele é natural que não vai ter nenhum risco ou não vai ter nenhum efeito no nosso organismo.”

 

Daniel Demarque – Foto: Reprodução/Fapesp

 

Muita gente tem  o hábito de tomar um chazinho e acaba aproveitando para tomar um remédio, mas essa é uma combinação perigosa e que deve ser evitada. “Os chás muitas vezes têm substâncias chamadas de taninos, muito comuns nos vinhos, e essas substâncias podem se complexar com os medicamentos e evitar sua absorção.”

Registro na Anvisa

Os produtos naturais, mesmo na forma de chá, de cápsula, contendo um extrato fabricado a partir de uma matéria vegetal, devem ter registro na Anvisa, não podem e não devem ser comercializados sem controle. Seu consumo só deve ser realizado com a orientação de um profissional de saúde. O professor Demarque conta que “existem fitoterápicos, medicamentos feitos a partir de plantas, que podem interagir, por exemplo, com contraceptivos. A erva de São João, ou Hypericum perforatum, é uma erva utilizada no tratamento de ansiedade e depressão que, quando utilizada com contraceptivos, diminui sua ação, permitindo que a pessoa engravide; Ginkgo biloba fitoterápico, muito utilizado para circulação venosa, auxilia também em distúrbios cognitivos, quando utilizado com anticoagulantes pode levar a quadros hemorrágicos. Esses produtos vão ter um efeito no nosso organismo, vão interagir com outros medicamentos que vamos tomar, por esse motivo é importante buscar informações com profissionais de saúde”.

FONTE: Jornal da USP

Reouvir, programa do HC, para pessoas com perda auditiva

O Programa Reouvir fornece aparelhos de surdez para pacientes encaminhados pelo sistema Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross). O encaminhamento acontece logo após o médico do posto constatar em exames a causa da surdez, as situações que podem agravar a perda e o diagnóstico audiológicos. A coordenadora do programa, Mara Gândara, vinculada à Divisão de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), descreve seu funcionamento em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.

Com mais de 25 mil pacientes beneficiados durante dois anos, o programa de reabilitação auditiva com aparelho de amplificação sonora atende aos pacientes das unidades da rede pública. “Às vezes, os pacientes demoram para reconhecer a própria surdez, geralmente os amigos e a família que percebem, porém, é preciso identificar o mais rápido possível. Quanto maior o tempo de surdez, pior a recuperação”, ressalta Mara.

“No Hospital das Clínicas (HC), atendemos desde criança com 6 meses até idosos com 107 anos, com vários tipos de perda auditiva”, comenta a especialista. São vários os motivos para o indivíduo se tornar surdo, pode ocorrer durante a gestação, no parto, conforme a idade ou os ruídos muito altos ao longo da vida.

O funcionamento do Programa Reouvir

Mara E. Rocha Gândara – Foto: Reprodução home Mara Gândara

 

A professora explica que a Secretaria da Saúde faz mapeamentos e agenda esses pacientes pelo sistema Cross. Eles são encaminhados para o serviço mais próximo de sua residência. Depois, é feito o agendamento pela própria unidade de saúde e a equipe do Reouvir recebe o paciente e inicia o processo seletivo. O indivíduo que não tem tratamento clínico ou cirúrgico deverá receber o aparelho de amplificação do som individual de acordo com as especificidades de sua surdez. “Precisamos receber do médico o diagnóstico etiológico (o que causou a surdez) e audiológico (o nível de audição dele). No HC, o paciente passa pela consulta médica, depois faz uma audiometria, também há a verificação da documentação dele e a orientação sobre o que é um aparelho auditivo e como funciona.”

Após esse procedimento, a pessoa vai testar e se adaptar ao aparelho. É muito importante que tenha um apoio familiar nessa fase, pois o indivíduo não está acostumado com sons altos e fica incomodado. Esse período de adaptação é chamado de “aclimatização” e um treinamento com fonoaudiólogo auxilia nessa etapa, mas às vezes o indivíduo não tem dinheiro, o SUS banca somente o aparelho, segundo afirma Mara.

A equipe do Reouvir faz a consulta depois de dois meses após a entrega do aparelho para regulá-lo e um ano depois é realizada uma audiometria para saber o quanto o paciente está adaptado e satisfeito. Ele também volta para o médico de origem a cada quatro meses para limpeza, pois a cera obstrui e não deixa o som passar livremente. O programa também revê a regulagem para o acompanhamento e fica responsável pela troca do molde, pois há um tamanho diferente para cada idade.

FONTE: Jornal da USP

Jogos de passatempo potencializam a saúde cerebral

No início de 2022, a internet foi dominada por postagens misteriosas de jogos que exibiam sequências de blocos verdes, amarelos e pretos. Tais publicações permitiam que os usuários de redes sociais compartilhassem sua pontuação no Wordle, jogo viral de adivinhação de palavras, sem dar um spoiler para aqueles que ainda não haviam completado o desafio diário.

Criado por Josh Wardle, o Wordle – cujo título é um trocadilho que combina o sobrenome do autor e o termo em inglês word, que significa palavra – é um quebra-cabeça on-line que propõe ao jogador descobrir uma palavra secreta de cinco letras por dia, em até seis tentativas. O sucesso do passatempo foi tanto que logo surgiram versões em português, como os jogos Term.ooo e Letreco, que funcionam da mesma maneira.

Estímulo ao cérebro

Sonia Maria Dozzi Brucki – Foto: Fapesp/Reprodução

Segundo Sonia Maria Dozzi Brucki, neurologista no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, além de oferecer uma divertida distração, jogos como o Wordle podem auxiliar na formação de novos neurônios, as células responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos cerebrais. “Qualquer tipo de atividade intelectual fará com que você crie novas sinapses”, diz a médica.

A cada partida, o jogador precisa desenvolver uma nova linha de raciocínio, o que estimula a neurogênese em áreas cerebrais diversas. Dessa forma, mesmo jogos baseados na repetição, como o próprio Wordle, que apresenta aos jogadores um mesmo desafio diariamente – a única mudança é a palavra que deve ser encontrada –, são benéficos para a amplificação das sinapses.

Outros fatores cotidianos também podem potencializar o funcionamento cerebral: Sonia indica aliar as atividades intelectuais à atividade física, social e também a uma alimentação adequada e saudável. “Uma boa alimentação é aquela que tem pouca carne vermelha e derivados lácteos, mas muitos peixes, nozes, verduras, legumes e azeites”, explica. O controle de doenças, como a diabete, hipertensão e alterações no colesterol também é um aspecto importante para a boa manutenção dos neurônios. “Além disso, é fundamental tratar a depressão, se a pessoa tiver; corrigir alterações sensoriais como  distúrbios auditivos e visuais e também não fumar, porque o cigarro é deletério para a  circulação sanguínea”, continua a neurologista.

Jogos aliados à saúde

Não há passatempos mais ou menos recomendados para a conservação da saúde do cérebro: a atividade deve ser escolhida com base em preferências individuais. Jogos, leitura, escuta de música, jardinagem, estudo de outras línguas e até mesmo faxinas são exercícios que podem contribuir para a vitalidade encefálica. “Uma atividade interessante, também, e que estimula o convívio social, são os jogos de cartas e de tabuleiro. Há uma infinidade enorme [de jogos do tipo]. Mas o importante é que a pessoa faça tudo com alegria, com bom humor, com felicidade, não adianta querer que alguém realize uma atividade sem ter vontade alguma”, finaliza Sonia.

FONTE: Jornal da USP

Transtornos de personalidade e dependentes de álcool

Pessoas diagnosticadas com transtornos de personalidade possuem maior propensão a serem dependentes de álcool, especialmente em sua forma mais grave. A análise é de um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina (FMUSP) com mais de cinco mil moradores da região metropolitana de São Paulo.

 

Carolina Hanna de Aquino Chaim, médica psiquiátrica do IPq e uma das pesquisadoras envolvidas nas análises dos dados – Foto: Arquivo pessoal da pesquisadora

“Pessoas que sofrem com transtornos de personalidade adquirem ao longo da vida alguns padrões de comportamentos disfuncionais (pensamentos, percepções, reações) que acabam interferindo em suas relações com a vida e com o outro, trazendo-lhes muito sofrimento”, explica ao Jornal da USP Carolina Hanna de Aquino Chaim, médica psiquiátrica do IPq e uma das pesquisadoras envolvidas nas análises dos dados.

O transtorno envolve a presença de variados sintomas comportamentais patológicos, como instabilidade emocional, tendência a relacionamentos interpessoais complicados, excentricidade, necessidade de chamar atenção, dificuldade em ter empatia e seguir condutas sociais, relata o estudo.

“A compreensão de fatores comportamentais associados ao consumo e à dependência do álcool contribui para direcionar abordagens terapêuticas e traçar estratégias mais específicas de prevenção e intervenção direcionadas para essa população”

Os dados estão no artigo Alcohol use patterns and disorders among individuals with personality disorders in the Sao Paulo Metropolitan Area, publicado em março na revista científica PLOS ONE, a partir da pesquisa de amostragem sobre saúde mental na região metropolitana de São Paulo, feita entre 2005 e 2007, por um grupo de instituições nacionais e estrangeiras, em uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o levantamento foi coordenado pela professora Laura Helena Silveira Guerra de Andrade, orientadora de Carolina Hanna e uma das autoras do artigo.

A médica psiquiátrica diz que “a compreensão de fatores comportamentais associados ao consumo e à dependência do álcool contribui para direcionar abordagens terapêuticas e traçar estratégias mais específicas de prevenção e intervenção direcionadas para essa população”. Ela diz que “a existência de uma ou mais doenças adicionais pode complicar os sintomas e atrasar o diagnóstico, além de interferir no prognóstico e tratamento dos pacientes”.

Segundo Carolina, é importante ressaltar que, apesar da dependência do álcool ser mais comumente presente em pessoas com algum transtorno mental prévio, todo indivíduo pode desenvolver a dependência se o consumo começar a ser prioritário e gerar problemas de saúde mental ou física, ou de relacionamentos.

Muitos estudos mostram que não existe um nível seguro de consumo de álcool e este deve ter evitado especialmente em populações de risco, como crianças e adolescentes, grávidas, ou pessoas com outras doenças clínicas e/ou psiquiátricas que possam ter a evolução agravada pelo álcool.

Afetividade negativa

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) e o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), os sintomas dessa patologia estão subdivididos em três grupos, “clusters A, B e C” (veja quadro abaixo). As pessoas cujos sintomas fazem parte do cluster B foram as que mais pontuaram (70%) na pesquisa para dependência ou abuso de álcool, relata o artigo.

Segundo Carolina, “a afetividade negativa é um solo fértil para dependências de drogas e jogos”, exemplifica. “Quem sofre com esse problema tem uma tendência em beber na busca de um prazer imediato e para fugir/compensar o vazio. Passado o efeito da substância, o desconforto persiste e a pessoa recai no afeto negativo, o que a leva a buscar novamente a intoxicação”, diz.

Classificação de Transtornos de Personalidades de acordo com DSM-5 – Clusters A, B e C

CLUSTER A CLUSTER B CLUSTER C
 Transtorno de personalidade paranoica Transtorno de personalidade antissocial Transtorno de personalidade esquiva
 Transtorno de personalidade esquizoide Transtorno de personalidade limítrofe Transtorno de personalidade dependente
 Transtorno de personalidade esquizotípica Transtorno de personalidade histriônica Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva
Transtorno de personalidade narcisista

Resultados

Analisando os dados, a maior prevalência encontrada para ambos os transtornos (de personalidade e de abuso de álcool) foi para o cluster B (36,3%), quando comparado com os clusters A (32,7%) e C (23,6%). Quando se avaliou “padrões e transtornos do uso de álcool entre indivíduos com transtornos de personalidade”, os resultados apresentados para os que relataram uso de álcool em anos anteriores foram: 72,4% dos entrevistados eram do cluster B; 64,9%, do cluster A; e 48%, do cluster C.

Quando questionados sobre regularidade do consumo de bebida alcóolica, 89,2% era do cluster B, sendo que, destes, 36,3% apresentaram “padrão de beber pesado e com frequência”. Já os do cluster A pontuaram em 80,4% para regularidade e 32,7% para beber pesado e com frequência; e os do cluster C, 79,3%, para regularidade e 23,6% para o beber pesado frequentemente.

Resultado semelhante aconteceu quando foi perguntado aos entrevistados sobre o “padrão de consumo de bebida alcoólica”, considerando como categorias o “uso frequente” e “beber pesado”. Neste quesito, as pessoas do cluster B também tiveram pontuação mais elevada para o “beber pesado” (37,1%), o que corresponde a mais de cinco doses por ocasião; o cluster A ficou com 19,5%, e o C, com 22,4%.

Métricas para diagnóstico de abusos de álcool

Carolina explica que a métrica usada para diagnóstico de transtornos por uso de álcool é baseada na quantidade de problemas relacionados (ao todo são 11), considerando ainda as categorias “leve”, “moderado” e “grave”, conforme o número de problemas apresentados nos últimos 12 meses. “Leve”, quando há a presença de dois a três problemas relacionados; “moderado”, de quatro a cinco; e “grave”, com seis ou mais.Entre os 11 critérios ou problemas relacionados estão: se o álcool é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido; se há fissura e/ou desejo intenso de consumir álcool; se o uso da bebida continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico que pode ser exacerbado pelo seu uso; se muito tempo é gasto em atividades necessárias para obtenção do álcool, dentre outros.

Já a métrica para o “beber pesado” considera a ingestão de quatro a cinco doses de álcool numa mesma ocasião, sendo que cada dose teria que ter o volume de etanol contido em uma cerveja (330 mililitros – ml) ou de uma taça de vinho, de 100 a 120 ml, ou de 40 a 50 ml de bebidas destiladas.

Mais informações: e-mail carolina.hanna@usp.br, com Carolina Hanna de Aquino Chaim

FONTE: Jornal da USP

Trabalho em excesso eleva risco de derrame e doenças cardíacas

Cerca de 745 mil mortes por ano são atribuídas a jornadas de trabalho iguais ou superiores a 55 horas semanais, que afetam 8,9% da população mundial

De 2000 a 2016, estimativa conjunta entre Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) avaliou pela primeira vez a relação entre doenças sistêmicas do coração com a duração de jornadas de trabalho em todo o globo. Os dados mostram que jornadas de trabalho iguais ou superiores a 55 horas semanais, quando comparadas a jornadas de 35 a 40 horas semanais, aumentam em 35% o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, e em 17% o risco de desenvolvimento de doença isquêmica do coração, doenças que levam à perda da vida e da capacidade no trabalho.

Em 2016, 745.194 mortes/ano foram atribuídas a essa condição de trabalho excessiva, que abrange 8,9% da população mundial (488 milhões de pessoas), um aumento de 29% em relação há 16 anos. Segundo a professora Frida Marina Fischer, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, que foi membro do grupo técnico consultivo do estudo, com a atual pandemia há uma tendência ao aumento da duração da jornada de trabalho e à precarização das condições de trabalho, cenário ainda mais preocupante nos próximos anos.

O estudo avaliou a exposição a longas horas de trabalho em 194 países e as taxas de doenças cardíacas e neurovasculares em 183, relacionada a dados de 2.324 pesquisas transversais e 1.742 conjuntos de dados por revisões sistemáticas e metanálises. Os dados foram organizados em idade, sexo, região e em grupos de duração de jornada (até 48 horas; de 49 a 54 horas; e igual ou superior a 55 horas), entre os anos de 2000, 2010 e 2016. Em 2016, 398 mil pessoas tiveram mortes relacionadas ao AVC e 347 mil a doenças cardíacas, aumento de 19% e 42%, respectivamente. O fator de risco compartilhado por essas pessoas era a exposição a jornadas de trabalho iguais ou superiores a 55 horas por semana, 11 horas por dia, sem contar os finais de semana. Esses e outros resultados foram publicados em 17 de maio deste ano, na revista científica Environment International.

Qual o futuro do trabalho?

Excesso de trabalho – Foto: GraphicMama,Joseph Mucira Pixabay/Fotomontagem Jornal da USP

 

O artigo nos leva a questionar o futuro do trabalho. Para a pesquisadora, o presente se mostra triste e preocupante e o futuro, incerto. De acordo com ela, países que estavam seguindo as recomendações da OMS de diminuição das jornadas de trabalho voltaram a apresentar seu aumento. As populações mais atingidas pela carga de trabalho elevada são as situadas principalmente no Pacífico Ocidental e Sudeste Asiático, onde 11,7% das pessoas trabalham mais de 55 horas de trabalho por semana. A região com menor número foi a Europa, com 3,5%. “Em geral, quanto menos regulamentado o trabalho, maior o risco oferecido à população”, completa.

Para os cientistas, outra preocupação, além das mortes e desenvolvimento de doenças incapacitantes, está nos chamados “agentes mediadores”, que são ligados a pesquisas anteriores que sugerem o estresse psicossocial associado à maior mortalidade dessas doenças. Eles estão associados às respostas biológicas, tais como a liberação excessiva de hormônios ligados ao estresse e a disfunção do sistema cardiovascular e comportamentos em função do estresse (por exemplo, o excesso na ingestão de álcool, o consumo de tabaco, sedentarismo, nutrição inadequada, a perturbação de sono, entre outros). “Esses mediadores vão agravar uma situação degradada de saúde potencialmente iniciada pelas longas jornadas de trabalho”, completa.

Segundo a pesquisadora, esse aumento acompanha o crescimento do trabalho informal e orientado pelas plataformas digitais, dinâmica chamada de uberização do trabalho. No Brasil, o futuro do trabalho na pandemia covid-19 reflete o cenário de desemprego de 14,7%, onde o mercado de trabalho é mais exigente, competitivo e mal remunera os empregados. Está inserido nos serviços mediados por aplicativos e abalado pela pandemia do covid-19, o que configura, para a pesquisadora, uma condição prejudicial ao País e à população. Porém, ela destaca que até mesmo condições de trabalho consideradas melhores, com maior garantia de direitos e autonomia, estão sujeitas à exposição do trabalhador a riscos de saúde. “Exemplos que podemos citar são os profissionais da saúde e professores, inclusive os universitários, que trabalham excessivo número de horas por semana.”

Os homens, entre 30-49 anos representam a população mais exposta às longas jornadas; e entre 60 a 74 anos, os que têm maior número e taxas de mortes por 100.000 habitantes por doença isquêmica do coração e acidente vascular cerebral. Entretanto, Frida Fischer destaca a dupla jornada de trabalho vivida por muitas mulheres que, além das atividades profissionais, são responsáveis pelos cuidados domiciliares, como cozinhar, limpar a casa e cuidar de crianças. Com a ampliação do teletrabalho, ou home office, devido à pandemia, tanto para homens quanto para mulheres, teme-se que as horas de trabalho aumentam em decorrência da dificuldade de conciliar tarefas domésticas e profissionais “Eu vejo nesse artigo um importante alerta, que chama atenção e diz: trabalhar muitas horas por semana faz mal à saúde”, afirma a pesquisadora.

Das cerca de 745 mil mortes atribuídas ao trabalho em excesso, em 2016, 3,7% eram por doença isquêmica do coração e 6,9% por Acidente Vascular Cerebral. Quando se fala em anos de vida perdidos por incapacidade física e mental no trabalho, 5,3%  são decorrentes de doença isquêmica do coração e 9,3% de derrame, aproximadamente 23,3 milhões em anos perdidos. Esses dados foram obtidos por análises de 37 estudos sobre doenças cardíacas isquêmicas, com 768 mil participantes, 22 sobre AVC (839 mil participantes). “Qual o custo disso em vidas? Qual o custo para um país em termos de recursos humanos e Previdência social?”, questiona Frida.

Mais informações: e-mails fmfische@usp.br, com Frida Marina Fischer, e pegaf@who.int, com Frank Pega

Por Guilherme Gama

FONTE: Jornal da USP

Enfermagem conta com novas metodologias para tratamento de transtornos mentais

O conceito de saúde, além de abranger o bem-estar físico e social do indivíduo, não prescinde da saúde mental. O tratamento para quem sofre de transtornos mentais, sejam quais forem, requer mais do que a prescrição de medicamentos, pois é imprescindível oferecer um cuidado especializado, proporcionando ao paciente acolhimento, atenção, valorizando-o como um ser merecedor de boa qualidade de vida. Nesse cuidado, quem acompanha mais de perto a pessoa internada em hospital é o profissional de enfermagem. A profundidade emocional do cuidado de enfermagem vai além do corpo, “o cuidado deve oferecer uma perspectiva holística e ir além da visão reducionista à doença”.

Um artigo da SMAD – Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas traz uma análise “sobre a realização de um treinamento em saúde mental com a utilização de metodologias ativas”, baseada no trabalho de cinco enfermeiras em um hospital geral de grande porte em leitos psiquiátricos.

A pesquisa com o pessoal de enfermagem contou com a realização de treinamento a partir de metodologias ativas, “com foco na aprendizagem baseada em problemas e problematização” e na avaliação desse treinamento. As autoras do artigo apontam a necessidade da formação de profissionais que inclua o cuidado humanizado ao paciente, com foco nas necessidades emocionais ou subjetivas e no estabelecimento de um vínculo de confiança entre enfermeiras(os) e doentes.

Metodologias ativas envolvem métodos de desenvolvimento e de estímulo de ações provenientes do pensamento crítico e reflexivo que podem auxiliar os profissionais de enfermagem a proporcionar melhoras significativas aos portadores de transtornos mentais. Essas novas metodologias se fundamentam em duas perspectivas: a aprendizagem baseada em problemas, procurando despertar “uma atitude ativa do aluno em busca do conhecimento”, e a problematização, em que os problemas são identificados pelo aluno(a)/enfermeiro(a) na prática da “ação – reflexão – ação”, ambas dedicadas a questões da realidade. Em relação à avaliação da reação ou da satisfação das metodologias, a pesquisa mostrou o resultado favorável do treinamento, comprovado o progresso “na assistência de enfermagem em saúde mental”.

A adoção de metodologias ativas revelou-se como processos vitais para a conquista de conhecimento em saúde mental, já que possibilitou a criação de recursos de comunicação e desenvolvimento do raciocínio crítico, “minimizando, assim, as dificuldades e tornando o profissional mais preparado para lidar com certas circunstâncias”. Observa-se também que o treinamento gerou transformações expressivas de comportamento dos profissionais, propiciando novos rumos em relação ao processo do cuidado, “tornando-se mais humanizado e integralizado”. Essa realização do processo educativo ligado à Educação Permanente em Saúde (EPS) difere muito do método tradicional. Neste último, os pacientes psiquiátricos são apáticos, e a EPS, ao contrário, viabiliza a participação ativa daqueles na tomada de decisões, junto das enfermeiras(os).

As autoras declaram a importância do olhar do profissional de enfermagem para com os doentes, ouvindo suas dores, aflições e conflitos, sem julgamentos ou preconceitos, destacando a relação necessária entre as enfermeiras(os) e os familiares de quem está hospitalizado, pois a equipe de enfermagem precisa “incentivar e integrar a participação da família no tratamento e reabilitação de pacientes com transtornos mentais”.

Finalizando, ressalta-se que o estudo favoreceu a elaboração de conhecimento no campo da saúde mental com o novo treinamento das metodologias ativas para pessoas com distúrbios mentais, ancorado tanto nas habilidades e novas atitudes adquiridas pelos profissionais de enfermagem quanto na “capacidade crítica no exercício cotidiano do trabalho nos hospitais psiquiátricos”.

Artigo

MACHADO, M. G. de O.; SAMPAIO, C. L. Treinamento em transtornos mentais comuns na enfermaria: uso de metodologias ativas na construção do cuidado. SMAD – Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas (Edição em português), São Paulo, v. 17, n. 1, p. 75-83, 2021. ISSN: 1806-6976. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2021.168134. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/smad/article/view/168134. Acesso em: 09 jun. 2021.

Contatos

Marília Girão de Oliveira Machado – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza (CE). E-mail mariliagirao05@hotmail.com

Cynthia Lima Sampaio – Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza (CE).

FONTE: Jornal da USP

Testes em laboratório mostram que o canabidiol pode auxiliar no tratamento de dor crônica

Pesquisa desenvolvida por cientistas do campus de Ribeirão Preto da USP em animais de laboratório mostra a ação positiva do canabidiol (CBD) – substância extraída da planta Cannabis sativa – na redução da dor crônica e comorbidades associadas, como ansiedade. A pesquisadora Gleice K. Silva-Cardoso, do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, acredita que o CBD seja uma estratégia promissora no tratamento da dor crônica neuropática já que o sistema canabinoide tem participação essencial no circuito de sensibilidade à dor. O sistema endocanabinoide (encontrado no cérebro e em diversos outros locais do organismo humano e animal) foi descoberto no final da década de 1980 e, desde então, vários estudos nacionais e internacionais envolvendo os efeitos terapêuticos do CDB ganharam força. Um artigo de Gleice K. Silva-Cardoso foi publicado na revista Neuropharmacology.

 

Christie Panissi – Foto: Reprodução/Fapesp

 

Os resultados são da fase pré-clínica (testes realizados em animais de laboratório), mas mostraram o potencial terapêutico do CBD em reduzir a percepção à alodinia (dor a estímulos leves, como um simples toque) e à hiperalgesia térmica (quadro doloroso provocado pelo aumento do calor) em animais com dor neuropática. De acordo com a professora Christie Ramos Andrade Leite Panissi, do Departamento de Psicologia da FFCLRP e orientadora da pesquisa, além da diminuição da dor, os cientistas observaram “ativação de regiões do sistema nervoso central relacionadas com a modulação de respostas emocionais”.

Quanto ao fator emocional, Gleice afirma que a dor crônica nunca vem sozinha e, muitas vezes, está associada a alguma comorbidade, “principalmente, ansiedade e depressão”. Assim, ela acredita que o transtorno deve ser trabalhado em aspecto multifatorial e não somente físico. As avaliações da pesquisadora têm também como base resultados anteriores de um outro estudo que ela realizou na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, quando avaliou atividades neuronais (comunicação entre neurônios e seus receptores) de uma área localizada no tronco cerebral: o núcleo parabraquial, envolvido na modulação da percepção da dor crônica e que também foi testada para receptores canabinoides.

Terapia para dor e respostas emocionais

Cannabis é composta de flavonoides, mais de 200 terpenos e mais de 100 fitocanabinoides, dentre os quais os mais conhecidos são o canabidiol (CBD, que não possui efeito psicoativo) e o tetra-hidrocanabinol (THC, que possui efeito psicoativo). Como um dos mais estudados, o CBD é capaz de ativar receptores canabinoides presentes no organismo e que fazem parte do sistema endocanabinoide. Esses receptores podem ser ativados por substâncias endocanabinoides (produzidas pelo próprio organismo) e por derivados da Cannabis, como o CBD, ou outro agente sintético.

 

Gleice Silva-Cardoso – Foto: Reprodução/Fapesp

 

A professora Christie destaca que a busca por agentes terapêuticos, “em especial para casos de dores crônicas resistentes aos tratamentos tradicionais”, confirma a relevância do estudo, não apenas para a descoberta de novos medicamentos, mas para investigar “novos usos de compostos já conhecidos e as possibilidades de sua atuação conjunta, minimizando possíveis efeitos colaterais indesejáveis”.

Gleice considera que os achados de seu estudo podem indicar o CBD como um auxiliar no tratamento da dor crônica que também pode reverter comportamentos do tipo ansioso. Se este componente da Cannabis ajuda a modular a aversão à dor, como observado, ele o faz acessando “não somente a parte de alívio mecânico do animal, mas também a questão dessa modulação da percepção”.

Apesar de comemorar os resultados, a professora Christie lembra que o estudo ainda é pré-clínico e que mais pesquisas devem ser realizadas sobre o uso do canabidiol e demais derivados da Cannabis “até serem indicados para uso clínico no tratamento da dor crônica”.

Tratamentos com canabidiol

Gleice informa que, atualmente, há “um leque de opções de estudos com o uso do canabidiol em diversas doenças”, principalmente com foco sobre suas propriedades “em comorbidades e doenças neuropsiquiátricas”. A substância tem revelado benefícios farmacológicos analgésicos e imunossupressores, com ação terapêutica para os distúrbios de ansiedade, do sono e do movimento, “o que o torna uma substância com grande potencial terapêutico”, observa Christie.

Produtos com o CBD já são comercializados em outros países e “indicados para o tratamento da epilepsia, Parkinson ou Alzheimer, assim como analgésicos em doentes oncológicos terminais”, diz a professora. Mas, no Brasil, os medicamentos à base de canabidiol que são autorizados pela Anvisa “têm como principal indicação o tratamento de espasmos musculares relacionados com a esclerose múltipla”, conta.

Ouça no player abaixo a entrevista da pesquisadora Gleice Silva-Cardoso e da professora  Christie Ramos Andrade Leite Panissi ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional. 

Por Brenda Marchiori

FONTE: Jornal da USP

Ombro Congelado? Equipamento desenvolvido na USP pode ajudar a tratar

Estudo preliminar com um equipamento desenvolvido no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP pode ajudar no tratamento da capsulite adesiva, uma lesão no ombro também conhecida como “ombro congelado”. A inflamação provocada pela capsulite impede o movimento do ombro. Os testes mostraram que a nova técnica tem potencial para tratar a doença e levar recuperação e qualidade de vida em apenas seis semanas, contra os três anos da terapia convencional.

Ana Carolina Negraes Canelada – Foto: Reprodução/LinkedIn

De acordo com a fisioterapeuta Ana Carolina Negraes Canelada, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e participante do Projeto Fotodinâmica do IFSC, a nova terapia é capaz de fazer o paciente voltar rapidamente à vida normal.

O novo equipamento é portátil e “constituído por duas esferas que, conjugadas com a aplicação de laser, ao deslizarem e comprimirem o músculo afetado, provocam a mobilização da fáscia muscular [pele que envolve o músculo], promovendo uma recuperação da amplitude do membro”.

Os resultados da pesquisa que testou o equipamento e a técnica foram publicados recentemente pelo Journal of Novel Physiotherapies e mostram o caso de um paciente de 57 anos com capsulite adesiva que apresentava os dois ombros comprometidos e sentia muitas dores que impediam movimentos, como a flexão dos ombros, abdução e rotação interna.

Com os tratamentos convencionais, relata a fisioterapeuta, o paciente levaria de dois a três anos para se curar, mas que, em apenas seis semanas de aplicação do novo tratamento, a inflamação desapareceu e os movimentos dos ombros voltaram. Ana Carolina relata que o paciente foi submetido a sessões de 15 minutos de aplicações, duas vezes por semana. Ao término da sexta semana, “o paciente teve uma recuperação total de todos os movimentos, sem qualquer vestígio de inflamação e com ausência completa de dores, colocando-o, assim, apto para o trabalho normal”, comemora a pesquisadora.

Foto: Alessandra Cuba/Comunicação da Santa Casa de Misericórdia de São Carlos

Novos testes

Antonio Eduardo de Aquino Junior – Foto: Reprodução/LinkedIn

O novo tratamento está disponível na Unidade de Terapia Fotodinâmica (UFT), sediada na Santa Casa da Misericórdia de São Carlos (SCMSC), numa parceria com o IFSC.

No dia 20 de setembro, o estudo entrou em uma nova fase, com o teste em 120 voluntários já diagnosticados com capsulite adesiva para “certificar que a nossa metodologia é realmente funcional e que esse método de tratamento reduzido vai se manter nos demais pacientes”, diz o professor do IFSC e orientador do estudo, Antonio Eduardo de Aquino Junior.

De acordo com o professor, se for realmente viável, o tratamento poderá ser implementado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), “diante de toda a documentação e certificação dos órgãos necessários”.

Causas da capsulite adesiva

As causas da capsulite adesiva não estão bem determinadas. Mas, dentre as possibilidades, encontram-se alguns fatores como traumatismo (com ou sem fratura associada), cirurgias ou causas sistêmicas, como diabete ou doenças da tireoide. Rigidez muscular e dor são os principais sintomas que limitam os movimentos ativos e passivos do ombro.

Estima-se que a doença acometa entre 2% e 5% da população geral, mas chegue a 20% nos diabéticos, sendo as mulheres de 40 a 60 anos a população mais afetada. Os atuais tratamentos aplicados são a termoterapia, crioterapia, eletroterapia, cinesioterapia e massagem direta, em um período de recuperação que varia entre dois e três anos.

Por: Brenda Marchiori e Ferraz Junior
Colaboração: Rui Cintra, IFSC

FONTE: Jornal da USP