Membrana amniótica pode ser utilizada para recuperação de tecidos e acelerar cicatrização

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Tecnologia envolvendo a membrana amniótica, uma camada da placenta, foi liberada no Brasil no final de 2021 e é eficiente no tratamento de queimaduras e feridas. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição,  André Paggiaro, diretor do Banco de Tecidos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, examina a aplicação da técnica e os seus resultados.

Ele indica que “a membrana amniótica já é utilizada internacionalmente há bastante tempo, ela foi liberada para uso no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina no final do ano passado. No banco de tecidos do HC (Hospital das Clínicas da USP), a gente já vinha usando e até hoje vem utilizando como um projeto de pesquisa. Apesar de estar liberada pelo Conselho Federal de Medicina, ela ainda não é completamente regulamentada pelo Sistema Nacional de Transplante”.

A membrana amniótica é a camada mais interna da placenta. “É uma camada bem fininha, que produz o líquido amniótico, esse líquido tem muitos fatores de crescimento que estimulam a cicatrização, melhoram a cicatrização e fazem com que as cicatrizes praticamente desapareçam. Essa membrana é muito rica nesses fatores, por isso se descobriu que, quando ela for utilizada para tratamento de feridas ou de queimaduras, pode estimular com que essa cicatrização aconteça mais rapidamente”, comenta Paggiaro.

Para que a membrana amniótica seja utilizada em pesquisas e tratamentos, é necessária a autorização. Antes do parto, a doadora é selecionada e passa por uma bateria de exames que buscam identificar a presença de doenças infectocontagiosas. O médico aponta: “Depois de assegurado que a paciente não tem essas doenças e que não vai trazer risco para o receptor, uma enfermeira realiza toda essa triagem, conversa com a mãe e solicita autorização para ver se ela concorda ou não em doar a sua membrana amniótica.”

O processo de retirada da placenta é chamado de dequitação e acontece logo após o parto. Ela é removida e, a partir de um processo manual, a membrana amniótica é extraída pelos médicos. Após o procedimento, a membrana é levada para o banco de tecidos para ser preparada.

Aplicação da tecnologia

De acordo com Paggiaro, a membrana amniótica é especialmente interessante para queimaduras de segundo grau que tenham a destruição de toda a epiderme e de parte da derme: “Essa membrana vai estimular a cicatrização dessa ferida e estimular que as próprias células do indivíduo se multipliquem, se reproduzam e tenham a formação de uma nova pele. Ela também pode ser utilizada para aqueles pacientes que têm feridas crônicas, uma ferida crônica provocada pelo diabete, provocada por úlceras venosas ou de outras causas.”

Muitas vezes as feridas ficam estagnadas e não cicatrizam. “A membrana amniótica vai funcionar como um choque quando você aplica no leito. Ela vai liberar uma série de fatores inflamatórios e esses fatores inflamatórios vão agir na ferida, reduzir a inflamação local e os fatores de crescimento vão chamar novas células que vão estimular o processo de cicatrização. Ela vai servir principalmente para queimaduras de segundo grau e feridas crônicas”, ressalta Paggiaro.

Os resultados da técnica mostraram-se surpreendentes. Paggiaro relata: “A gente aplicou, por exemplo, em uma paciente na semana passada, com uma queimadura de segundo grau em face, e em cinco, seis dias, ela já tinha a ferida completamente restaurada, coisa que demoraria dez dias para ter. Então, estamos bem animados com essa nova tecnologia e esperamos que em breve consigamos disponibilizá-la de forma mais abrangente para todo o País.”

FONTE: Jornal da USP