Risco de queda: mulheres com obesidade mórbida têm menos sensibilidade na sola dos pés e déficit de equilíbrio

Pessoas com obesidade têm uma pressão mais alta aplicada aos pés, com potenciais prejuízos para a sensibilidade nas solas e, consequentemente, para o equilíbrio. Uma pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP avaliou mulheres com obesidade mórbida e indicou que, de fato, elas tinham diminuída a sensibilidade tátil em diferentes regiões das solas dos pés, afetando assim a postura estável do corpo. Essa condição está associada a riscos de quedas, à falta de autonomia e limitações para realização de tarefas diárias.

No estudo, os pesquisadores identificaram algumas regiões dos pés que sofrem mais deterioração sensorial do que outras e que esta condição está associada à obesidade extrema. Os cientistas avaliaram a sensibilidade das solas dos pés de 26 mulheres, sendo metade com obesidade mórbida (índice de massa corpórea – IMC – acima de 40 kg/m2) e a outra metade com peso considerado saudável (IMC entre 18,5 e 24,9). O índice de massa corporal é determinado pela divisão do peso da pessoa pela sua altura ao quadrado. As participantes foram selecionadas na fila de espera para cirurgia bariátrica, no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Dos nove pontos avaliados, o maior déficit de sensibilidade encontrado entre os dois grupos foi de 76%, sob o arco lateral do mediopé (ponto 7 da figura abaixo).

Regiões da sola dos pés com mais e menos sensibilidade

Foto cedida pelo pesquisador

Foto cedida pelo pesquisador

 

Os resultados da pesquisa foram descritos no artigo Associations Between Women’s Obesity Status and Diminished Cutaneous Sensibility Across Foot Sole Regions, publicado em fevereiro de 2021. O trabalho faz parte da dissertação de mestrado de Jair Wesley Ferreira Bueno, com orientação do professor e pesquisador da EEFE, Luis Augusto Teixeira.

O pé humano é composto de três arcos plantares: dois arcos longitudinais (medial e lateral) e um arco transversal anterior, estruturas que contribuem para uma melhor estabilidade do corpo. Os arcos possuem funções essenciais de biomecânica e o de impulsionar o corpo para frente em tarefas de movimento. Como uma mola, também suportam o peso e absorvem o choque que é produzido na locomoção cotidiana como caminhar e correr.

“O mapeamento detalhado das regiões da sola dos pés mais comprometidas do ponto de vista de sensibilidade ratifica estudos anteriores que mostravam que pessoas obesas possuem mais pressão sob os pés e têm dificuldades em manter o equilíbrio postural”, explica ao Jornal da USP o autor da pesquisa, Ferreira Bueno. E justamente onde os pés sofrem mais pressão é que foram detectados os baixos índices de sensibilidade, completa.

Mecanorreceptores

Para que ocorra uma postura estável do corpo, explica Bueno, é necessário que haja interação do sistema neural e musculoesquelético, incluindo relações biomecânicas. E uma das hipóteses levantadas pelo estudo e que levaria à instabilidade corporal em pessoas obesas está relacionada aos mecanorreceptores (receptores plantares) das solas dos pés. Eles têm a função de levar ao sistema nervoso central informações sobre a interação da região plantar e a superfície de contato dos pés.

Pessoas obesas sofrem maiores pressões sob os pés (o contato plantar) para a realização de tarefas cotidianas e apresentam menores níveis de sensibilidade tátil. “Informações sensoriais do mecanismo de receptores da pele podem ser afetadas pelo aumento prolongado da pressão nas solas dos pés provocado pela obesidade”, relata Bueno.

O estudo fez um mapa detalhado das regiões de maior e menor déficit de sensibilidade na sola dos pés de mulheres obesas, incluindo dedos, cabeças dos metatarsos, arcos interno e lateral do mediopé e calcanhar, usando um instrumento que mede o nível de sensibilidade da pele denominado monofilamentos de Semmes-Weinstein.

Foto cedida pelo pesquisador

Os resultados observados nas comparações intergrupos por região das solas dos pés indicaram menor sensibilidade para o grupo que tinha obesidade mórbida sobre as cabeças do quinto e terceiro metatarsos (pontos 4 e 5 da figura), arcos lateral (ponto 7 da figura) e interno (ponto 8 da figura) do mediopé e calcanhar (ponto 9 da figura).

A menor diferença entre os grupos obesas e não obesas foi observada no hálux/dedão, 18% (ponto 3 da figura), e a maior diferença foi sob o arco lateral do mediopé, 76% (ponto 7 da figura). Segundo o estudo, uma deterioração sensorial acima de 50% em várias regiões da superfície plantar pode ter implicações funcionais para a pessoa e afetar sua capacidade de manter o equilíbrio corporal estável.

Segundo o professor Teixeira, a relação entre a sensibilidade de diferentes regiões do pé e alterações no controle postural de pessoas com obesidade mórbida representava uma lacuna na literatura.

“O achado mais importante foi a identificação de algumas regiões dos pés que sofrem mais deterioração sensorial do que outras e que esta condição está associada à obesidade extrema.”

Os pesquisadores explicam que a amostra envolveu apenas mulheres, no entanto, um perfil semelhante de pressão mecânica nas regiões da sola do pé quando em pé foi observado entre homens e mulheres, sugerindo que as conclusões podem se aplicar a ambos os sexos.

“Embora não seja um ponto avaliado no estudo,  a falta de sensibilidade nas solas dos pés é reversível desde que haja redução de peso, revertendo também os déficits de equilíbrio”, diz Teixeira. “Esse é um efeito que tem sido mostrado em estudos, indicando que a redução acentuada de peso corporal, por diferentes procedimentos, leva ao restabelecimento tanto da sensibilidade tátil das solas dos pés quando da estabilidade do equilíbrio em postura ereta quieta”, completa.

Mais informações: com o professor Luis Augusto Teixeira (orientador da pesquisa), e-mail lateixei@usp.br, e com Jair Wesley Ferreira Bueno (autor da pesquisa), e-mail jwesleybueno@usp.br

Crescimento da obesidade mórbida no Brasil

O número de brasileiros com idade entre 25 e 44 anos classificados com obesidade mórbida passou de 0,9% para 2,1% entre 2006 e 2017, de acordo com estudo de pesquisadores da UFMG.

A obesidade mórbida é uma condição mais prevalente em mulheres e adultos de menor escolaridade. Mas, de acordo com a pesquisa, o aumento ocorreu em todos os gêneros, níveis de escolaridade e regiões do Brasil. O maior aumento foi verificado em mulheres que vivem nas capitais Belo Horizonte, Campo Grande, Rio de Janeiro e Teresina.

Além de estar associado a doenças crônicas (hipertensão, acidente vascular cerebral, diabete e elevação dos triglicerídeos), o excesso de peso afeta o equilíbrio postural, que é a falta de capacidade de manter o centro de massa corporal dentro dos limites de base de apoio (os pés).

Texto: Ivanir Ferreira
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Novo teste de Alzheimer pode funcionar como auxiliar no diagnóstico da doença

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Segundo Vicente Forlenza, o teste seria usado em casos específicos para identificar, já através de um diagnóstico anterior, que pode haver Alzheimer ou que ela está em seu início

O Alzheimer é uma doença cerebral degenerativa que causa perda de memória e pode levar à morte. Nesse sentido, avanços em seu diagnóstico são necessários para tentar retardá-la com tratamentos, já que se trata de uma doença sem cura. Um novo teste de sangue foi criado e funciona de modo a reconhecer biomarcadores ligados à doença.

O professor Vicente Forlenza, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM) e do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas, ambos da USP, explicou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição que esse novo teste “representa a possibilidade de, através de um exame de sangue, detectar algum elemento próprio da doença de Alzheimer, ou seja, indicando que o processo que causa a doença está presente”.

Porém, é necessário que a informação obtida, a partir de seu resultado, seja somada a um conjunto de outros dados laboratoriais para inferir se existe ou não a possibilidade de Alzheimer. Logo, não é recomendado fazer esse exame em pessoas assintomáticas e “para um rastreio sem outras informações”, o que é “uma conduta indevida”, ressalta Forlenza.

Micróglia humana (células em marrom), células de apoio ao sistema nervoso – Foto: Reprodução/Nature Neuroscience

Como pode ser usado o teste

O teste seria usado em casos específicos para identificar, já através de um diagnóstico anterior, que pode haver a doença ou que ela está no início. O especialista explica que a informação obtida a partir dos biomarcadores está no começo de ser incorporada ao diagnóstico avançado, pois ainda não se sabe seu comportamento nas diferentes populações. “Tudo isso ainda é desconhecido. Eu diria que é prematuro achar que é um teste que resolveu os nossos problemas. É importante, mas ele não pode trabalhar sozinho.”

O professor ressalta também que o único diagnóstico que detecta a presença do Alzheimer precisamente é feito após a morte, com a comprovação de lesões no cérebro — o chamado diagnóstico padrão ouro. “Em vida, clinicamente a gente consegue no máximo fazer uma formulação probabilística.”

FONTE: Jornal da USP

Rejuvenescimento de células se apresenta como alternativa para doenças do envelhecimento

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Para Rodrigo Calado, trata-se de aprender como cuidar melhor de alguns tecidos para retardar um pouco o processo de envelhecimento celular, lembrando que existem fatores ambientais e do próprio organismo que regulam o envelhecimento

Eestudo publicado no último mês de abril na revista científica eLife, cientistas de Cambridge, no Reino Unido, rejuvenesceram células de pele humana em 30 anos. A pesquisa ainda está em fase inicial de desenvolvimento, mas é vista como um caminho para o futuro científico. O professor Rodrigo Calado, especialista em Hematologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e membro do Centro de Terapia Celular da USP, examina o funcionamento da tecnologia.

De acordo com Calado, o princípio já existe desde a clonagem da ovelha Dolly, quando pesquisadores da Escócia conseguiram colocar um núcleo de uma célula madura da glândula mamária de uma ovelha dentro do citoplasma: “Eles retiraram o núcleo de um ovo recém-fecundado e naquela célula sem o núcleo introduziram o núcleo da célula bem madura. Com isso, eles conseguiram mostrar que o DNA desse núcleo da célula madura podia ‘voltar no tempo’, assumir as características de uma célula embrionária e dar origem de novo a um organismo inteiro”.

Cerca de uma década depois, o cientista japonês Shinya Yamanaka identificou que esse processo é o resultado da ação de, principalmente, quatro proteínas que atuam no controle do DNA, chamadas de fatores de transcrição. “Quando você introduz essas quatro proteínas no núcleo de qualquer célula virtualmente e expressa essas proteínas em grande quantidade, elas são capazes de reprogramar o DNA de uma célula, ou seja, do sangue, de uma célula da pele, de uma célula do coração, da glândula mamária, qualquer tipo de célula em um estado que nós chamamos de pluripotência — um estado embrionário em que essa célula é capaz de dar origem a qualquer tipo de célula”, conta o professor.

Esse processo é acompanhado de uma série de alterações nas células para que elas percam as cicatrizes acumuladas ao longo do tempo, essas cicatrizes são obrigatórias para que elas assumam características de determinada linhagem. Calado indica que “é mais ou menos como se passasse uma borracha nessas cicatrizes que ficam acumuladas no DNA. O que esse grupo fez foi entender melhor quais são esses marcadores que estão relacionados ao envelhecimento de alguma forma, que foram ‘apagados’ ou modificados por esse processo de reprogramação das células”.

Envelhecimento

Um dos objetivos finais da pesquisa é tratar e amenizar os efeitos de doenças relacionadas ao envelhecimento. Mas, de acordo com o professor, ainda é cedo para pensar em grandes impactos. “São duas coisas bastante distintas, a forma como a gente rejuvenesce uma célula da forma como a gente rejuvenesce um organismo como um todo. Uma coisa é você pegar uma célula, reprogramá-la e essa célula vai ficar em pluripotência, eu não consigo fazer isso com o seu organismo de uma forma geral.”

O envelhecimento está associado a processos celulares, mas não há como desconsiderar outros fatores, como o desenvolvimento hormonal e o acúmulo de cicatrizes e infecções. “Essas alterações inflamatórias não vão se reverter necessariamente com a inibição de alguns fatores de envelhecimento dentro da célula especificamente. […] “O que a gente pode aprender é como a gente pode cuidar melhor de alguns tecidos para retardar um pouco esse processo de envelhecimento celular, mas lembrando que existem outros fatores ambientais e outros fatores do próprio organismo que regulam o envelhecimento para além da célula”, aponta Calado.

Tecnologia em desenvolvimento

Apesar de estar em um estágio inicial, a tecnologia já possui funcionalidade na ciência. O professor comenta: “Tem sido muito útil já atualmente. Dentro do Centro de Terapia Celular, que é o Cepid-Fapesp, nós utilizamos essas células pluripotentes e induzidas para entender uma série de doenças, porque você pode produzir células em grandes quantidades e entender nas células o que está sendo alterado”.

Calado projeta os próximos passos da pesquisa, mesmo que a longo prazo. “De forma mais complexa, é a produção de órgãos. Se um paciente tem um defeito genético, você pode corrigir aquele defeito da célula no laboratório, depois produzir o órgão que está acometido e fazer um transplante de volta para colocar o órgão que teve a correção realizada. Isso é mais distante, obviamente, mas existem perspectivas, pelo menos em teoria. Isso já é feito em algumas instâncias, inclusive em modelos animais, como camundongos, mas, para humanos, ainda tem um tempo para acontecer”.

Texto: João Dall’ara
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

“Grazing”: o que o hábito de beliscar comida pode revelar sobre a nossa saúde mental?

O “grazing” é caracterizado por comer, ao longo do dia, quantidades pequenas, de modo repetitivo, não planejado, sem fome, com algum nível de sensação de perda de controle. Identificar esse comportamento pode ajudar a prevenir transtornos associados a problemas psicológicos e alimentares

A prática de beliscar comida de modo contínuo, ao longo do dia, mesmo sem fome, é conhecido como grazing. Identificar esse comportamento pode ajudar a prevenir transtornos associados a problemas psicológicos e alimentares. Essa é a conclusão do estudo de doutorado Comportamentos alimentares nos contextos comunitário e de sobrepeso e obesidade: compreensão e avaliação do Grazing, defendido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, no mês de março, pela psicóloga Marília Consolini Teodoro, sob orientação da professora Carmem Beatriz Neufeld. A pesquisa mostra a importância do trabalho preventivo de regulação emocional para prevenir a manifestação desse tipo de comportamento, que está associado a problemas psicológicos e alimentares.

Marília explica que o grazing, tema pouco estudado no Brasil, é o nome dado a comer quantidades pequenas ou modestas de alimentos de maneira repetitiva e não planejada, sem ser em resposta à sensação de fome ou saciedade, com algum nível de sensação de perda de controle. Segundo a professora Carmem, “em um primeiro momento, não é necessariamente um comportamento problemático ou associado a uma psicopatologia”. Mas explica que pode gerar desdobramentos associados a “uma maior probabilidade de desenvolvimento de uma psicopatologia, de uma patologia do comportamento alimentar”.

Por isso, a identificação desse comportamento, aponta a pesquisadora, poderá proporcionar “novas investigações para intervenções mais direcionadas, principalmente na área dos problemas alimentares”. Assim como abordagens multifatoriais para tratar essas condições, que, “muitas vezes, não são consideradas um transtorno mental, mas estão extremamente relacionadas com condições psicológicas”, para que os pacientes sejam cuidados de forma integrativa e os resultados sejam mais efetivos.

O estudo colocou como hipótese o entendimento de que o grazing funciona como um mecanismo de regulação emocional para o alívio de ansiedade, por exemplo. Outros estudos já associaram o comportamento, principalmente, com a obesidade, a dificuldade de perder peso e outros tipos de transtornos alimentares e sintomas depressivos e ansiosos. “O peso está extremamente relacionado com condições psicológicas, assim como condições comportamentais, como é o caso desse comportamento em específico”, afirma Marília.

A pesquisadora investigou e avaliou a manifestação desse comportamento na população brasileira, com uma amostra comunitária de 542 pessoas, em que a maioria estava em nível de peso considerado normal, e uma amostra clínica de 281 pessoas, com participantes que apresentavam algum nível de obesidade. Marília conta que as amostras foram comparadas para “entender também se havia alguma diferença na manifestação desse comportamento”. Na amostra clínica, o grazing foi mais prejudicial, mas também se manifestou de forma significativa na amostra comunitária, o que indica “a relevância desse comportamento no Brasil”.

As pesquisadoras dividiram a manifestação desse comportamento em dois grupos: o grazing repetitivo, que ocorre de forma contínua, porém mais leve, menos prejudicial e menos associado à perda de controle; e o grazing compulsivo, mais associado à perda de controle e a sintomas psicológicos.

Outro resultado que chamou a atenção das pesquisadoras foi que o estresse apresentou uma variação do grazing compulsivo, mais associado à perda de controle. “Então a gente entende que o estresse parece ser uma variável que colabora, que está relacionada com a manifestação desse comportamento.”

Adaptação e validação de questionário

Para a pesquisa foi utilizado o Repeat Questionary (Rep(eat)-Q), ferramenta que investiga a relação do grazing com o Índice de Massa Corporal (IMC) e a psicopatologia. O IMC é um índice usado mundialmente para saber se uma pessoa está em seu peso ideal, dividindo o peso pela sua altura ao quadrado. O questionário foi adaptado e validado pelas pesquisadoras para a população brasileira, mediante etapas de avaliação e estudo piloto, até chegar à versão final adaptada como Questionário de Belisco Contínuo. Foi aplicado também um questionário sociodemográfico e um questionário de avaliação de sintomas ansiosos, depressivos e de estresse.

Ao todo, a pesquisa contou com quatro etapas. Na primeira, as pesquisadoras traçaram um panorama sobre a avaliação psicológica de transtornos alimentares e problemas alimentares associados, apresentando o conceito de grazing e os instrumentos disponíveis para a avaliação. A segunda foi uma revisão da literatura sobre o tema e as definições usadas, população estudada, prevalência e associações já encontradas sobre o comportamento, além das lacunas que ainda existem sobre a questão. Já a terceira foi a adaptação e validação do questionário para a população brasileira e, para finalizar,  a aplicação nas amostras comunitária e clínica, além de análises de comparação entre elas.

Ouça no player abaixo entrevista das pesquisadoras ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.

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Por Brenda Marchiori

FONTE: Jornal da USP

Estrôncio e osteoporose: qual o papel desse elemento químico na mineralização dos ossos?

Testes em modelos biomiméticos (que imitam o tecido real) mostraram que altas doses de estrôncio, elemento presente em fármaco descontinuado para tratamento da osteoporose, podem resultar em enfraquecimento dos ossos. Estudo foi ganhador do Prêmio Capes de Teses.

Pesquisa do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP analisou a influência do elemento químico estrôncio, em sua forma iônica (Sr2+), na formação óssea utilizando modelos biomiméticos, ou seja, que imitam a estrutura e composição do tecido in vivo. O estudo, realizado pela pesquisadora Camila Tovani, mostrou que altas concentrações de estrôncio podem promover a desestabilização dos principais componentes ligados à formação dos ossos, o que explica o desenvolvimento de patologias associadas ao acúmulo deste elemento no tecido.

Os resultados parciais do estudo podem ser encontrados no texto Formation of stable strontium-rich amorphous calcium phosphate: Possible effects on bone mineral e em sua pesquisa de doutorado, que foi uma das ganhadoras do Prêmio Capes de Teses 2021.

De acordo com a pesquisadora, o ranelato de estrôncio era um fármaco amplamente prescrito para pacientes com osteoporose, doença caracterizada pela perda progressiva da massa óssea, e que inspirou o uso do elemento químico em diversos tratamentos da doença. O fármaco foi descontinuado devido a efeitos colaterais, como doenças cardiovasculares, relacionados à necessidade de administração em alta dosagem. Porém, o efeito dessa prescrição na estrutura da hidroxiapatita, mineral presente nos ossos, não havia sido investigado.

Ensaios in vitro levantavam suspeitas sobre uma possível influência negativa de altas concentrações de Sr2+ sobre a saúde dos ossos, o que levou a cientista a desenvolver um estudo, durante seu doutorado, sob orientação da professora Ana Paula Ramos, do Departamento de Química da FFCLRP, que investigasse qual o impacto real deste íon no tecido ósseo.

Questionada sobre os impactos da descoberta, Tovani espera que novos fármacos contendo estrôncio, que resultem em efeitos positivos sobre o tecido ósseo em baixa dosagem, possam ser desenvolvidos. Este íon pode auxiliar na regulagem de células importantes para manutenção da estrutura óssea e não deve ser descartado como possibilidade de terapia.

“Nosso principal objetivo era investigar os diferentes impactos do estrôncio utilizando modelos sintetizados em laboratório que imitassem a fase orgânica (colágeno) e inorgânica (apatita) do tecido ósseo, em termos de estrutura e composição. A fase orgânica, formada principalmente por fibras de colágeno, e a fase mineral, composta de nanopartículas de fosfato de cálcio, que têm propriedades específicas e difíceis de serem reproduzidas artificialmente”, diz a pesquisadora. O uso desses modelos é útil na previsão de possíveis efeitos in vivo, minimizando o uso de animais nas pesquisas.

“O modelo biomimético desenvolvido por nós, em Ribeirão Preto, e em parceria com a pesquisadora Nadine Nassif, da Universidade Sorbonne, na França, pode ser usado para investigar o efeito de outros elementos químicos, auxiliando no estudo de diversas doenças que atingem o tecido ósseo”, comenta a especialista.

Atualmente, ela realiza pós-doutorado na Universidade Sorbonne, onde desenvolve pesquisas avançadas sobre a mineralização óssea. “A osteoporose é uma das doenças que mais afetam a população idosa, e trazer a discussão sobre a dose dos remédios administrados e as condições de cada paciente é importante para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas”, conclui.

Mais informações: e-mail anapr@ffclrp.usp.br, com Ana Paula Ramos, e e-mail bussola.camila@gmail.com, com Camila Tovani

Texto: Gabriel Gama Teixeira
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Pesquisadores do Elsa-Brasil vão estudar a relação entre equilíbrio e audição

A quarta onda do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) vai continuar com as avaliações por audiometria tonal, além de avaliar também as alterações de equilíbrio que podem estar relacionadas com quedas entre os idosos.

Envelhecimento, exposição a ruídos e doenças crônicas são alguns dos fatores que podem contribuir para perdas auditivas. Tentando entender quais desses fatores realmente têm um impacto na audição e de que forma isso acontece, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) acompanham, desde 2009, voluntários do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

O Elsa-Brasil é um estudo de cunho epidemiológico que investiga na população brasileira a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares (acidente vascular cerebral, hipertensão, arteriosclerose, infarto, entre outras) e algumas doenças associadas. Os participantes da pesquisa, cerca de 15 mil pessoas de várias regiões do País, com idade entre 35 e 74 anos, serão novamente convocados em agosto para entrevistas e exames que identifiquem uma possível evolução dos fatores de risco para estas doenças – que são consideradas a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

“Estudos longitudinais da audição no Brasil não são feitos. Então, este é um estudo inédito e grande e temos vários parâmetros acompanhados no estudo Elsa, o que nos ajuda a fazer as análises”, conta ao Jornal da USP a professora Alessandra Samelli, líder do estudo relacionado à audição.

As avaliações já relacionam a perda auditiva a fatores como envelhecimento, doenças crônicas e declínio cognitivo. Agora, na quarta onda do estudo Elsa, em agosto, os pesquisadores vão estudar a relação entre alterações auditivas e equilíbrio.

“Sabemos que a cóclea, que faz parte do sistema auditivo, está ao lado do aparelho vestibular, que é um dos responsáveis pelo equilíbrio”, explica Alessandra sobre essa nova avaliação.

Com o envelhecimento, diversos sistemas são afetados e, para o equilíbrio ocorrer, há dependência de parte desses sistemas, como o vestibular e o visual. A análise da relação entre a audição e o equilíbrio pode ajudar a identificar se há uma associação entre esses fatores e descobrir possíveis falhas no equilíbrio do idoso, prevenindo possíveis acidentes. “Um problema muito grande nos idosos são as quedas e entender essa relação pode ser uma forma de evitá-las”, complementa.

Metodologias, resultados e expectativas

Para analisar a audição dos voluntários, é feito o exame de audiometria tonal. Nesse exame, as pessoas ficam em cabines acústicas isoladas e escutam sons de diferentes frequências. Assim, é possível identificar qual é o limiar auditivo de cada um — nível mínimo de pressão acústica necessário para provocar uma sensação auditiva. A partir disso, identifica-se o grau da perda auditiva e o seu tipo.

Também é feita uma anamnese padrão a fim de entender históricos de saúde e ocupacionais de cada participante e analisar possíveis influências nas alterações auditivas. O trabalho de uma pessoa, por exemplo, em um ambiente com ruídos, pode afetar a audição. Para entender outras influências, ainda são utilizados os resultados de pesquisas realizadas nas outras áreas do estudo Elsa-Brasil.

Foto: Reprodução/PxHere

Ao longo desses anos, não é possível afirmar definitivamente se a relação entre doenças crônicas e perdas auditivas existe, mas já se concluiu que o envelhecimento contribui para a perda auditiva. “O que a gente consegue dizer é que o efeito da idade sobre a audição é o mais evidente; por isso precisamos fazer esse acompanhamento audiológico durante o envelhecimento e fazer a intervenção o mais rapidamente possível”, diz a professora Alessandra.

A intervenção pode evitar possíveis consequências da perda auditiva, como declínio cognitivo, isolamento social e depressão. A expectativa com a nova onda é que a triagem do equilíbrio ajude a evitar outras consequências, como as quedas entre os idosos.

Veja, neste link, outras pesquisas realizadas pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Autora: Bianca Camatta
Arte: Adrielly Kilryann e Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Novo medicamento combinado com quimioterapia pode melhorar a sobrevida de pessoas com leucemia mieloide aguda

Pesquisadores avaliaram o benefício do ivosidenibe combinado à quimioterapia. O estudo internacional contou com pesquisadores de várias regiões do mundo e os resultados foram publicados no The New England Journal of Medicine.

As possibilidades de tratamento para pacientes mais velhos, com mais de 60 anos, com leucemia mieloide aguda (LMA) são restritas. Em busca de aumentar e melhorar a qualidade de vida das pessoas que convivem com esse câncer, pesquisadores de várias regiões do mundo, incluindo o Brasil, avaliaram o benefício de um novo medicamento, ivosidenibe, e os resultados promissores na sobrevida foram publicados no artigo Ivosidenib and Azacitidine in IDH1-Mutated Acute Myeloid Leukemia no The New England Journal of Medicine, em abril.

A LMA pode ser explicada por diversas mutações genéticas nas células-tronco que provocam queda nas células saudáveis, causando anemia, sangramentos e infecções. “A doença é um câncer do sangue e da medula óssea potencialmente grave e uma parcela de cerca de 10% dos casos tem mutação no gene IDH1, que serve como alvo para o ivosidenibe, afetando diretamente as células da leucemia. Foi o que usamos na pesquisa”, explica Rodrigo Calado, médico hematologista, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e um dos autores do estudo.

Os cientistas recrutaram 146 pacientes com diagnóstico de LMA com mutação no gene IDH1 e que eram inelegíveis para a quimioterapia convencional, que é a primeira fase do tratamento e busca eliminar no sangue e reduzir na medula óssea as células da leucemia. Os voluntários foram divididos aleatoriamente em dois grupos sendo um deles controle, que recebeu placebo e quimioterapia, e o outro que recebeu o ivosidenibe e a quimioterapia.

“A terapia combinada com ivosidenibe e quimioterapia foi associada a eventos adversos semelhantes aos atribuídos ao tratamento padrão e foi eficaz em prolongar a sobrevida livre de complicações, aumentando a probabilidade de remissão completa e prolongando a sobrevida global entre pacientes do estudo”, explica o professor.

Ainda, de acordo com Calado, o estudo mostra que o uso do medicamento pode ser expandido para outros casos com mutações em genes específicos. “A pesquisa também sugere que outros tipos de câncer com mutação no IDH1 também possam se beneficiar desse tratamento”, conclui.

O estudo foi coordenado pelo hematologista Pau Montesinos e contou com pesquisadores da Espanha, França, Polônia, China, Itália, Brasil, Canadá e Estados Unidos.

Mais informações: rtcalado@fmrp.usp.br

Autor: Giovanna Grepi
Arte: Ana Júlia Maciel

FONTE: Jornal da USP

Encontrada em alimentos, a zeaxantina é antioxidante que fortalece o sistema imune

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A zeaxantina é um antioxidante que defende o corpo contra os radicais livres. É um carotenoide muito parecido com a luteína, e pode ser encontrada em vegetais verde-escuros, legumes vermelhos e amarelos.

Fator de proteção

Ela é essencial ao organismo, mas como este não é capaz de sintetizá-la, pode ser obtida através da ingestão de alimentos como milho, espinafre, couve, alface, brócolis, ervilhas e ovo, por exemplo.

A médica da Faculdade de Saúde Pública da USP  e nutricionista clínica Karin Klack, responsável pela Divisão de Nutrição e Dietética do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que essa substância apresenta inúmeros benefícios  à saúde, como a prevenção do envelhecimento precoce e a proteção da visão, pois é capaz de proteger os olhos contra os raios UV emitidos pelo sol, funcionando como se fosse “óculos escuros”.

Além do sol, protege contra a luz azul de computadores, telas de celulares, tablets e TVs. A zeaxantina pode evitar também várias doenças na retina como catarata, retinopatia diabética e degeneração macular.

Karin Klack deixa um alerta para quem consome o anticoagulante varfarina sódica, pois nesse caso a ingestão precisa ser feita de forma moderada. Além disso, a substância é mais bem absorvida na gordura, por isso, adicionar um pouco de azeite ou óleo pode aumentar a absorção pelo corpo.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

Parkinson: tratamento do congelamento da marcha vai além do uso de medicamentos

Pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP indica que o uso apenas de medicamentos não é suficiente para reduzir um dos sintomas mais incapacitantes da doença de Parkinson: o congelamento da marcha. O estudo, de autoria da pesquisadora Julia Ávila de Oliveira, verificou que o levodopa, medicamento utilizado para tratamento da doença e sintomas associados, não atenuou diferenças motoras entre pessoas com e sem congelamento. O estudo foi orientado pelo professor Luís Augusto Teixeira, do Laboratório de Sistemas Motores Humanos da EEFE.

O Parkinson é uma doença neurológica que afeta funções motoras. Um dos sintomas é o congelamento da marcha, caracterizado pela incapacidade momentânea de andar, como se a pessoa estivesse com os pés presos ao chão, não conseguindo propulsionar o seu corpo na direção para a qual deseja se movimentar. A levodopa age no aumento da quantidade de dopamina no corpo, um tipo de neurotransmissor responsável pela comunicação entre os neurônios, e controle dos movimentos do corpo e coordenação motora.

O objetivo da pesquisa foi verificar o quanto a medicação levodopa poderia afetar nos diferentes parâmetros do andar de pessoas com a doença de Parkinson. Foram selecionados 22 pacientes, divididos em dois grupos: um apresentava o congelamento e o outro não, sendo que todos os pacientes faziam uso do remédio de forma contínua. A pesquisadora explica que a levodopa induz a um efeito agudo de melhora motora. Esse efeito é dependente da concentração da substância no organismo e dura algumas horas. Por isso, os pacientes precisam tomar mais de uma dose da medicação por dia.O professor Teixeira explica que outros estudos realizados na própria EEFE já vinham demonstrando que protocolos de exercícios contendo outras atividades motoras, como caminhada com ultrapassagem de obstáculos, giros, mudanças de direção, passagem por locais com limitações de espaço (batente de porta, por exemplo), podem ser mais eficazes no tratamento de pacientes que apresentam congelamento da marcha.

A marcha dos pacientes foi avaliada por meio de um equipamento denominado Zebris, uma esteira capaz de medir a pressão exercida sobre ela. O Sistema Zebris calcula automaticamente os parâmetros da marcha a partir da pressão exercida pelos pés durante uma breve caminhada. Dessa forma, são obtidas informações como velocidade da marcha, cadência (quantidade de passos por minuto), comprimento médio, largura e tempo de duração do passo, e comprimento e tempo de duração da passada.

Os voluntários realizaram esse teste em duas situações: sob efeito da medicação, cerca de uma hora após a ingestão, e sem o efeito da medicação, cerca de 12 horas após a última dose. Em cada teste, eles realizaram dez tentativas em uma velocidade confortável determinada pelos próprios pacientes. Foram também aplicados questionários para a avaliação do estágio da doença, da severidade dos sintomas motores, do equilíbrio e das funções cognitivas, além do levantamento de informações sobre dosagem utilizada da medicação e há quanto tempo receberam o diagnóstico da doença.

Em ambos os estados, medicado e não medicado, o grupo com o congelamento da marcha apresentou menor comprimento do passo, da passada e menor velocidade da marcha, comparado ao grupo sem o sintoma. Isso indicou um maior comprometimento no primeiro grupo, independentemente se tomou ou não a medicação. Essa diferença entre os dois grupos não foi atenuada com o uso do medicamento, pois no estado medicado ambos apresentaram uma melhora equivalente sobre os sintomas.

A fim de saber mais sobre essas possibilidades, ideias de continuação da pesquisa já foram colocadas para discussão, o que implica desde novos modelos de análise estatística, comparação entre tarefas motoras diferentes e treinamentos físicos que podem servir como intervenção para a melhora da marcha.Segundo Júlia Ávila, é possível concluir, a partir dos resultados do estudo, “que apenas a medicação não é capaz de atenuar as diferenças motoras do padrão da marcha de pessoas com e sem congelamento, sendo necessárias outras intervenções não-farmacológicas para esse fim”. Além disso, “as diferenças clínicas entre os pacientes com e sem congelamento da marcha não interferem na análise do efeito da medicação”. Com isso, a pesquisa amplia as possibilidades de intervenções para que ocorra a melhora da condição.

O trabalho, realizado em parceria com a Universidade Federal do ABC, integrou a dissertação de mestrado Efeito da medicação antiparkinsoniana nos parâmetros espaço-temporais da marcha de indivíduos com doença de Parkinson: comparação entre indivíduos com e sem congelamento da marcha, apresentada em fevereiro de 2022.

Texto: serviço de comunicação da EEFE

Mais informações: e-mail comunicaeefe@usp.br, na EEFE

FONTE: Jornal da USP

Estudo identifica substância que pode conter avanço de Parkinson

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram substância capaz de barrar o avanço da doença de Parkinson. A AG-490, constituída à base da molécula tirfostina, foi testada em camundongos e impediu 60% da morte celular. Ela inibiu um dos canais de entrada de cálcio nas células do cérebro, um dos mecanismos pelos quais a doença causa a morte de neurônios. Não há cura para o Parkinson, apenas controle dos sintomas. 

“Estamos sugerindo que é esse composto que pode um dia, depois de muita pesquisa, que inclusive estamos continuando, ser usado na medicina humana”, explica o professor Luiz Roberto Britto, que coordena o projeto em conjunto com pesquisadores do Instituto de Química da USP e da Universidade de Toronto, no Canadá. Os resultados foram publicados na revista Molecular Neurobiology.

A doença de Parkinson é caracterizada pela morte precoce ou degeneração das células da região responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor. A ausência ou diminuição da dopamina afeta o sistema motor, causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. A doença pode provocar também alterações gastrointestinais, respiratórias e psiquiátricas.

“A doença é progressiva, os neurônios continuam morrendo, esse é o grande problema. Morrem no começo 10%, depois 20%, mais um pouco, aliás o diagnóstico só é feito praticamente quando morrem mais de 60% naquela região específica do cérebro”, explica Britto. A identificação dessa substância pode estabilizar a doença em certo nível. “Não seria ainda a cura, mas seria, pelo menos, impedir que ela avance ao longo dos anos e fique cada vez mais complicado. O indivíduo acaba morrendo depois por complicações desses quadros.”

Substância

Britto explica que a AG-490 é uma substância sintética já conhecida da bioquímica. A inspiração para o trabalho veio de um modelo aplicado no Canadá, que mostrou que a substância teve efeito protetor em AVC, também em estudos com animais. Ele acrescenta que não são conhecidos ao certo os mecanismos que causam a doença, mas há alguns que favorecem a morte de neurônios. “Acúmulo de radicais livres, inflamação no sistema nervoso, erros em algumas proteínas e excesso de entrada de cálcio nas células”, cita.

O estudo, portanto, começou a investigar esse canal de entrada de cálcio que se chama TRPM2. Pode-se concluir, com a pesquisa, que quando o canal é bloqueado, a degeneração de neurônios, especificamente nas regiões onde eles são mortos pela doença, diminuiu bastante. “A ideia é que, talvez, se bloquearmos esses canais com a substância, ou outras que apareçam, poderemos conseguir, pelo menos, evitar a progressão da doença depois que ela se instala”, diz o pesquisador.

As análises seguem e agora um dos primeiros passos é saber como a substância se comporta com uma aplicação posterior à toxina que induz à doença. Britto explica que no modelo utilizado, a toxina e o composto foram aplicados quase simultaneamente. Os pesquisadores querem saber ainda se o composto administrado dias depois da toxina levará à proteção dos neurônios.

“Outra coisa que a gente precisa fazer, e já conseguiu os animais para isso, é usar um modelo de camundongo geneticamente modificado, que não tem esse canal TRTM2. Esperamos que os animais que não têm, geneticamente, esses canais para cálcio, sejam teoricamente mais resistentes a esse modelo de doença de Parkinson”, acrescenta.

Também será necessário avaliar possíveis efeitos colaterais. “Esses canais de cálcio estão em muitos lugares do sistema nervoso e fora do sistema nervoso também. Bloqueando os canais, pode ser que se tenha alguma repercussão em outros lugares. Precisamos avaliar isso”. As análises seguem com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

FONTE: Agência Brasil