Cosméticos com extrato de alga e girassol podem beneficiar pele diabética

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em 2021, 15,8 milhões de brasileiros tinham a doença que, entre outros problemas, afeta a pele e a autoestima. Pensando nisso, pesquisadoras da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP desenvolveram e testaram formulações cosméticas com extrato de semente de girassol e alga vermelha, que ajudaram a controlar as alterações da derme decorrentes da condição.

A diabete é caracterizada por altas taxas de açúcar no sangue devido à falta ou má manutenção do metabolismo da glicose. Segundo a professora Patrícia Maia Campos, coordenadora do Núcleo de Estudos Avançados em Tecnologia de Cosméticos, a doença causa o aumento de produtos de glicação (AGE) — reação entre glicose e moléculas como proteínas, ácidos nucleicos e lipídios, envolvida com o processo de envelhecimento —, que provoca danos nas fibras de colágeno da pele.

Para um melhor entendimento desse tipo de pele e como os cosméticos devem agir nela, a pesquisa foi dividida em duas fases: caracterização da pele e estudos clínicos com os extratos.

Características da pele diabética

Para compreender as características específicas dos AGE, parte da pesquisa foi voltada para análise da pele de pessoas com diabete em comparação com pessoas saudáveis; os resultados foram publicados na revista Life. “Neste trabalho, nosso objetivo era entender por que a pele do diabético é mais sensível, por que envelhece primeiro, por que as feridas demoram muito para cicatrizar. A ideia foi analisar as propriedades morfológicas da pele, por medidas instrumentais e clínicas, para melhorá-la usando alguns produtos específicos para diabete”, resume Patrícia Campos.

As pesquisadoras analisaram a pele da face de 28 mulheres, entre 39 e 55 anos, das quais metade tinha diabete tipo 2 e o restante era saudável. Os testes foram realizados por Microscopia Confocal de Reflectância (RCM), técnica avançada de imagem que permite a análise mais profunda da pele de modo não invasivo, sem necessidade de biópsia, observando alterações na morfologia do colágeno e do microrrelevo. Outros equipamentos avaliaram fatores como a elasticidade, rugas e a perda transepidérmica de água (evaporação passiva através da pele).

As técnicas de análises usadas no estudo (RCM), não só para a pele diabética mas em geral, possibilitam que os profissionais vejam alterações na derme que ainda não se manifestaram visualmente, como, por exemplo, na estrutura do colágeno. “Esses métodos vão dar suporte na definição de uma estratégia para elaborar a formulação adequada de cosméticos para esse público específico”, destaca a professora.

Imagens tiradas pela técnica da Microscopia Confocal de Reflectância (RCM) na pele diabética. As setas apontam as papilas policíclicas, frequentemente encontradas em pessoas que apresentam envelhecimento cutâneo mais acentuado – Foto: Pesquisa

As pesquisadoras observaram que a derme diabética sofre maior perda transepidérmica de água, ou seja, a hidratação é prejudicada. “Há uma proteção natural chamada função barreira da pele, que está ligada com a sensibilidade. Se houver comprometimento dessa função pela alta perda transepidérmica de água, significa que há danos nessa barreira cutânea”, explica. Alguns sinais podem ser a pele avermelhada, maior sensibilidade e coceira.

Segundo o estudo, a pele de pessoas com diabete também possui menos firmeza, porque o colágeno é menos denso e apresenta uma estrutura desordenada na derme. Patrícia Campos aponta que, por causa desse fator e do ressecamento, essa pele tem uma textura diferente, mais flácida.

“Esse conhecimento é importante porque em termos de envelhecimento da pele isso pode incomodar e prejudicar a qualidade de vida e bem-estar do paciente. Também, para prevenir algumas doenças e cuidar de cicatrizes, porque a perda de água deixa a pele seca e mais suscetível a dermatite de contato [irritação]”, diz.

As formulações cosméticas

Levando em conta as diferenças da pele diabética estudadas e como essas características afetam a autoestima de mulheres, a pesquisadora Verônica Rego Moraes, em seu doutorado, estudou e desenvolveu formulações cosméticas com extratos naturais para atender às necessidades específicas para o rosto de pessoas com diabete. Os ativos aplicados, de alga vermelha e semente de girassol, foram escolhidos pelo seu efeito de antiglicação e não haviam sido analisados na pele diabética anteriormente a esse estudo.

A pesquisadora explica que essa parte do estudo, além de ser importante para o bem-estar físico, impacta a forma como as pacientes se veem. “É sobre autoestima também. O rosto geralmente é mais visado. Com uma pele mais sensível é complicado achar produtos, entre outros, que sejam focados para esse tipo de pele”, diz Verônica Moraes.

O estudo clínico recrutou 59 mulheres, entre 39 e 55 anos, e as separou em três grupos: aquelas que usaram apenas um produto cosmético já existente no mercado, aquelas que usaram o produto com o extrato de alga vermelha e aquelas que usaram o cosmético com a associação dos extratos de alga e de semente de girassol. A aplicação dessas fórmulas foi feita durante 90 dias.

Os resultados dos grupos que usaram os extratos mostraram diferenças significativas nas mudanças da pele decorrentes do processo de glicação das pacientes. Com as técnicas de imagem RCM foi possível identificar melhora nos padrões de colágeno e espessura da derme. A fórmula que continha apenas extrato de alga vermelha mostrou resultados mais promissores, como aumento da densidade dérmica.

“Percebi que elas se sentiam valorizadas com essa formulação, o que foi muito gratificante. Elas realmente gostaram e todas falaram que comprariam. Então, podemos observar a melhora na qualidade de vida e na autoestima dessas mulheres”, conta.

As formulações foram produzidas para a pesquisa conduzida no Núcleo de Estudos Avançados em Tecnologia de Cosméticos da FCFRP e, por hora, não há projeto para sua produção e comercialização, apesar de ser de interesse de Verônica Moraes.

Mais informações: e-mail pmcampos@usp.br, com Patrícia Maia Campos

*Estagiária sob orientação de Valéria Dias

*Estagiária sob orientação de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Asma e qualidade do ar: entenda a relação e veja como se proteger

A asma, por si só, provoca uma série de sintomas respiratórios, como tosse, chiado e dificuldade para respirar.1 Quando há algum aspecto que interfere na qualidade do ar, é possível que o paciente que lida com a doença apresente crises de asma ou piora dos sintomas.2

Isso acontece porque a doença, que é causada pela inflamação das vias aéreas, piora com a exposição a diferentes fatores. Entre eles, estão:1

Além disso, agentes considerados irritantes também podem desencadear uma crise de asma, como perfumes com essências fortes, materiais de limpeza e resíduos industriais.3

Sinais de que a qualidade do ar está piorando a asma

É possível perceber o impacto da qualidade do ar na saúde ao observar alguns detalhes. Ao apresentar os sintomas de asma ou uma crise da doença, entenda se houve exposição a algum fator irritante ou contato com o ar livre poluído.

Caso a piora nos sintomas ocorra até um dia após a exposição, pode significar que existe uma sensibilidade à poluição do ar – o que pede para que alguns cuidados específicos sejam tomados.4

Para te ajudar a lidar com isso, confira algumas dicas que podem auxiliar na diminuição dos impactos causados pela má qualidade do ar.

Como se proteger de gatilhos para a asma


Cuidado ao se exercitar ao ar livre: em dias que apresentam uma qualidade menor do ar, evite praticar atividades físicas ao ar livre. Isso ajuda a reduzir a quantidade de poluição respirada.4

De olho nos sinais: caso perceba que os sintomas de asma estão piorando, evite fazer atividades mais intensas e que exijam esforço, como correr.4

Mantenha a higiene: estar em um ambiente limpo e adequadamente higienizado diminui as chances de contato com gatilhos de asma, como o pó.3

Siga a orientação médica: o tratamento da asma é individualizado, o que significa que cada paciente segue um plano de tratamento personalizado. Dessa forma, é importante conversar com o seu médico para entender qual é o remédio ideal para você e, se necessário, quais medicamentos é preciso ter em mãos.1

Mantenha-se informado: atente-se a relatórios sobre a qualidade do ar indicados em notícias sobre a previsão do tempo. Caso haja a indicação de tempo seco ou neblina, se possível, permaneça em casa.4

Confira mais dicas de como cuidar da sua saúde e bem-estar acessando os conteúdos  do Blog FazBem!

Referências:

  1. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

(Disponível em: <https://sbpt.org.br/portal/espaco-saude-respiratoria-asma/>. Último acesso em: 03 ago. 2023)

  1. Núcleo de Pesquisa em Qualidade do Ar – Universidade Federal do Espírito Santo

(Disponível em: <https://qualidadedoar.ufes.br/asmavix>. Último acesso em: 03 ago. 2023)

  1. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia

(Disponível em: <https://asbai.org.br/secao.asp/?s=81&id=310>. Último acesso em: 03 ago. 2023)

  1. Agência para a Proteção do Meio Ambiente

(Disponível em: <https://www.cdc.gov/asthma/pdfs/asthma_outdoor_air_pollution_pt.pdf>. Último acesso em: 03 ago. 2023)

BR-17332. Material destinado ao público geral. Agosto/2023

FONTE: Blog FazBem

Os desafios do envelhecimento ativo nas minorias sociais

O Programa USP 60+, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), realiza a quarta edição do Simpósio USP Rumo ao Envelhecimento Ativo. O evento terá lugar na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na próxima quinta-feira, 22 de setembro, das 9 às 17 horas, e reunirá especialistas para discutir os desafios do envelhecimento populacional. Para participar, basta se inscrever na programação do período da manhã e/ou da tarde, pelo link.

As atividades do Programa USP 60+ buscam valorizar pessoas com idade superior a 60 anos, além de incentivar sua qualidade de vida. O simpósio contará com quatro blocos temáticos: a importância das relações geracionais; a importância da inclusão digital; envelhecendo com deficiência; e idadismo e minorias – interseccionalidade. A programação completa e seus palestrantes podem ser vistos no link.

Acompanhe abaixo a entrevista concedida à Rádio USP pelo médico Egidio Lima Dórea, coordenador do Programa USP 60+, que comenta sobre a importância dos temas do simpósio ao debater o envelhecimento saudável e promover mudanças na sociedade. “São temas que conscientizam e desconstroem o preconceito etário, o idadismo, o que destaca a relevância e atualidade do simpósio”, afirma Dórea.

Serviço:

4º Simpósio USP Rumo ao Envelhecimento Ativo

Dia 22 de setembro, das 9 às 17 horas

No auditório István Jancsó, da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, situada na Rua da Biblioteca, 21

Com informações da assessoria de imprensa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU)

Mais informações: usp60@usp.br /  (11) 3091-9183 / @usp60mais

FONTE: Jornal da USP

Técnica pode ajudar a monitorar progressão da esclerose lateral amiotrófica

Também conhecidos como gorduras, os lipídios são uma classe diversificada de moléculas com inúmeras funções nos seres vivos, desde a reserva de energia até a regulação de processos celulares fundamentais. Lipídios que passam pelo processo de oxidação, reagindo com o oxigênio, têm recebido muita atenção de pesquisadores atualmente por estarem relacionados com inflamação e sinalização celular, e também com o estresse oxidativo – desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio e a sua remoção, o que causa danos à célula.

Um exemplo são as oxilipinas, moléculas derivadas da oxidação de ácidos graxos que têm sido associadas a doenças neurodegenerativas. No Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) Redoxoma, sediado na USP, cientistas desenvolveram um método para avaliar como as oxilipinas se apresentam na esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença em que há disfunção progressiva e morte dos neurônios motores no cérebro e na medula espinhal.

Liderados por Sayuri Miyamoto, do Instituto de Química (IQ) da USP, os pesquisadores estabeleceram e validaram um método de altíssima performance para análise simultânea de 126 oxilipinas no plasma sanguíneo. A inovação foram as ferramentas utilizadas: a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas de alta resolução.

A cromatografia líquida é uma técnica para separar componentes de uma mistura. Já a espectrometria de massas é usada para identificar e quantificar moléculas pela medição da sua massa e caracterização de sua estrutura química.

Com isso, os pesquisadores analisaram o plasma de um modelo animal de ELA e descobriram oxilipinas alteradas nos animais sintomáticos. As diferenças nas moléculas refletem estresse oxidativo, inflamação e hipermetabolismo (degradação excessiva) de lipídios.

Alterações no metabolismo lipídico, inflamação crônica e estresse oxidativo estão fortemente ligados à progressão da ELA, que leva à atrofia muscular, paralisia e morte do paciente. Segundo os pesquisadores, as oxilipinas poderiam se tornar marcadores para o monitoramento da evolução da doença.

“O método foi a chave desse trabalho. A grande maioria dos métodos usa espectrometria de massas de baixa resolução para quantificar oxilipinas e outras moléculas, técnica com alta sensibilidade, mas não um poder muito grande de caracterização. Já com a espectrometria de massas de alta resolução, temos muito mais acurácia na caracterização das oxilipinas e ainda com alta sensibilidade. Unimos os dois aspectos mais relevantes e caracterizamos com o máximo possível de exatidão uma gama muito grande de oxilipinas”, afirma Adriano B. Chaves-Filho, que desenvolveu a pesquisa como projeto de pós-doutorado e é o primeiro autor do artigo publicado na revista Free Radical Biology and Medicine.

Os pesquisadores ressaltam que realizar uma análise global e abrangente de oxilipinas ainda é um desafio, já que elas são muito diversas e têm uma estrutura complexa. “Muitas delas compartilham a mesma fórmula molecular, a mesma quantidade de carbono, de oxigênio, de hidrogênio, só o arranjo desses átomos é diferente”, diz Chaves-Filho. Soma-se a isso a instabilidade química dessas moléculas e sua baixa concentração em amostras biológicas.

Daí a importância da ferramenta de análise, que possibilita investigar o perfil das oxilipinas não só em ELA, mas também em outras doenças. “Seria interessante se a gente pudesse fazer um estudo comparativo da ELA com outras doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, por exemplo, e ver se esse perfil é diferente – porque o interessante quando a gente faz uma análise é estabelecer um perfil, um painel de oxilipinas alteradas. A gente pode ter perfis diferentes que sejam bem característicos para cada doença”, explica Sayuri Miyamoto.

A pesquisa foi realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Neurodegenerative Disease Research, Inc. (NDR) e contou com a colaboração dos grupos dos pesquisadores Marisa H.G. Medeiros (IQ-USP), Isaías Glezer (Unifesp), ambos do Cepid Redoxoma, e William T. Festuccia (ICB-USP).

Mais informações: e-mails miyamoto@iq.usp.br e adrianobcfilho@usp.br

*Adaptado do site do Cepid Redoxoma, com edição de Luiza Caires. Para mais detalhes, leia o texto completo.

FONTE: Jornal da USP

Implante para quem teve perda profunda da audição melhora percepção da fala

A cóclea é um órgão do ouvido interno em forma de espiral que recebe sons do ambiente externo e os transmite para o cérebro. Em casos de perda de audição, o implante de um dispositivo ligado à cóclea é uma opção para o paciente recuperar a capacidade de ouvir. Quando a perda é severa ou profunda, em geral devido à malformação do órgão ou a doenças como a meningite, sugere-se o implante com eletrodo curto, que tem a metade do tamanho dos modelos convencionais, para fazer a ligação do dispositivo com a cóclea, que é mais difícil porque nesses casos ela costuma estar diminuída. Porém, os efeitos deste dispositivo na compreensão da voz e articulação da linguagem ainda são pouco conhecidos, o que motivou uma pesquisa do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da USP, em Bauru. Ao testar pacientes que receberam o implante com eletrodo curto, o estudo constatou que os pacientes melhoraram de forma significativa a percepção da fala.

O estudo é descrito em artigo publicado na revista científica Acta Oto-Laryngologica. “O implante coclear é um dispositivo colocado por meio de cirurgia, de alta complexidade tecnológica, usado na reabilitação de pacientes com perda auditiva severa ou profunda bilateral, que não se beneficiam do uso de aparelhos auditivos convencionais”, afirma ao Jornal da USP o médico Guilherme Adam Fraga, que pesquisou o tema para sua dissertação de mestrado no HRAC, ligado à Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP. “Diversas empresas no mundo desenvolveram seus próprios dispositivos, que variam em tamanho, espessura e comprimento dos eletrodos, pois a anatomia da cóclea humana também apresenta variações.”

De acordo com o médico, o implante coclear com eletrodo curto, de 15 milímetros (mm), é indicado como reabilitação em pacientes com malformações do órgão ou com ossificação coclear associada a alguma doença, notadamente a meningite. “Quando observamos nos exames de imagem pré-operatórios, de tomografia e ressonância magnética, que a cóclea tem seu tamanho reduzido, o que torna mais difícil a inserção total do eletrodo, usamos o modelo curto, cujo comprimento é menor em relação ao convencional, que tem 31 mm”, explica. “Esse tipo de eletrodo é amplamente adotado no mundo, mas poucos estudos foram publicados avaliando o desempenho auditivo e de linguagem em seus usuários, com resultados, até o momento, controversos.”

A pesquisa avaliou como os testes de percepção de fala (audição) evoluíram em pacientes que foram submetidos a cirurgia de implante coclear com um tipo específico de eletrodo curto, o Compressed, da empresa austríaca Med-EL. “Realizamos a análise dos prontuários de todos os 1.713 pacientes implantados entre os anos de 2009 e 2020 no HRAC e encontramos um total de 70 pacientes usuários desse eletrodo”, descreve Fraga.

Exemplo de colocação do implante coclear; na imagem da direita está a cóclea, órgão do ouvido interno em forma de espiral que recebe sons do ambiente externo e os transmite para o cérebro, ligada ao dispositivo de reabilitação auditiva por um eletrodo, que é mais curto em casos de perda severa ou profunda da audição, quando o tamanho do órgão diminui por malformação ou doenças como a meningite, dificultando sua colocação – Foto: Cedida pelo pesquisador

Uso da fala

“Os testes de percepção de fala são avaliações audiológicas específicas realizadas em pacientes com perda auditiva, utilizados internacionalmente e validados para a língua portuguesa do Brasil”, explica o médico. “Neles, o fonoaudiólogo apresenta sílabas, palavras e frases ao paciente, que precisa comprovar que compreendeu, repetindo-as com o uso da fala, ou seja, da linguagem oral.”

O estudo usou os testes realizados na rotina diária da Seção de Implante Coclear do HRAC, tanto pré quanto pós-operatórios. “Constatamos que meningite e perda auditiva congênita foram os principais motivos para indicação de implante coclear com eletrodo curto em nosso serviço, isto é, pacientes com ossificação e malformação da cóclea”, aponta. “Com as análises, observamos que houve evolução positiva dos testes de percepção de fala com o passar do tempo.”

Assim, “o uso do implante coclear com eletrodo curto mostrou-se uma alternativa no manejo de pacientes com perda auditiva severa ou profunda”, ressalta Fraga. “Os resultados do estudo aumentam os recursos à disposição do médico com dados objetivos para orientação do paciente e dos familiares na avaliação pré-operatória do implante coclear e na escolha do dispositivo a ser implantado.”

Cirurgia para colocação de implante coclear; tipo de eletrodo a ser inserido na cóclea é definido por exames de imagem que avaliam possível redução no tamanho do órgão – Foto: Cedida pelo pesquisador

A pesquisa foi realizada na Seção de Implante Coclear do HRAC por Guilherme Adam Fraga e apresentada como dissertação de mestrado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação. O trabalho teve orientação do professor Luiz Fernando Lourençone e participação de Julia Speranza Zabeu e Rhaissa Heinen Peixoto. A pesquisa é descrita no artigo Evolution of speech perception in patients with ossified cochlea and short array cochlear implant, publicado na revista científica Acta Oto-Laryngologica em 21 de agosto.

Mais informações: e-mail gadamfraga@usp.br, com Guilherme Adam Fraga

*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Implante para depressão se mostra eficaz para tratar o problema

Um implante para tratar depressão resistente será aplicado pela primeira vez no Brasil. O aparelho, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já foi usado para controlar crises epilépticas anteriormente. Dois pacientes receberão implantes do aparelho, que estimula o nervo vago. Leandro Valiengo, médico e coordenador do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica o uso do aparelho para o tratamento desses casos de depressão.

Desde 2019, de acordo com Valiengo, a depressão é a doença que mais incapacita no mundo. Ainda que existam inúmeros tratamentos para o distúrbio, até 1/3 dos pacientes não melhora, o que pode resultar em um caso de depressão resistente, termo usado para classificar aqueles pacientes que têm a doença e que não respondem a dois tratamentos com medicações antidepressivas em doses adequadas e por um período de tempo determinado.

O acompanhamento feito pelos profissionais pode durar a vida toda, dependendo da gravidade dos casos. “Se você tiver um episódio depressivo na vida e depois do tratamento ficar tudo bem, não será preciso tratamento a longo prazo, apenas pelos próximos meses ou até por um ano. Quando um paciente tem mais de três episódios depressivos na vida, a chance de voltar a ter é muito alta, acima de 80%, o que pode resultar em tratamento e acompanhamento pelo resto da vida, ou por um tempo muito extenso” discorre o médico.

Com o tratamento de longo-prazo e de difícil processo, o médico destaca o desafio do estigma social acerca dessa condição mental, na medida em que contribui para um receio em recorrer à ajuda psicológica e psiquiátrica, e enfatiza que os médicos buscam cada vez mais desenvolver pesquisas a fim de melhorar os tratamentos para a condição.

O tratamento 

O aparelho usado para tratar esses casos de depressão já é conhecido na comunidade médica. Desde a década de 1990, segundo o médico, esse dispositivo, que é implantado na região do pescoço para estimular o nervo vago, já era usado para tratar pacientes com quadros de epilepsia. “Pacientes com epilepsia têm um fator de risco maior para ter depressão. Depois do tratamento, os médicos perceberam que esses pacientes também melhoraram seus quadros depressivos, então criou-se uma hipótese: será que esse procedimento também serve para tratar depressão, independentemente da epilepsia?” pontua Valiengo.

No final dos anos 1990, principalmente nos Estados Unidos, iniciaram-se estudos para o tratamento específico de pacientes com depressão através da estimulação do nervo vago. Os momentos iniciais da análise mostraram que os pacientes tinham taxas de resposta entre 20% e 30%. Em cinco anos de seguimento, os estudos mostraram que as taxas de respostas aumentaram, chegando a 67% de melhora. Os indivíduos que não aderiram ao aparelho tiveram 40% de melhora. Já nos casos de remissão da doença – quando os sintomas somem totalmente –, as taxas atingiram 43%.

O médico acrescenta que, mesmo com a implantação do aparelho, os pacientes ainda podem continuar com outros procedimentos simultâneos, como terapias e usos de medicamentos controlados. Valiengo explica que, caso haja uma melhora nos sintomas, os pacientes provavelmente ficarão com o aparelho pelo resto da vida, realizando os ajustes necessários ao longo do tempo. Por se tratar de uma cirurgia, o procedimento pode causar uma infecção – o que não é comum, acrescenta o médico. Outros efeitos colaterais mais comuns são tosse e rouquidão, já que o nervo vago possui um controle das cordas vocais.

Valiengo salienta que a autorização do uso do aparelho pela Anvisa não significa que o tratamento estará disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) ou por meio do convênio, por exemplo. “São várias etapas no processo de aprovação. A Anvisa regula se é permitido ou não e existem outras burocracias para a disponibilização do tratamento.” Existem inúmeros custos por trás do procedimento, como os da cirurgia, do aparelho e das baterias, além de recursos humanos. Como acabou de ser aprovado, ainda não é possível estabelecer um preço para ele.

FONTE: Jornal da USP

Síndrome do coração partido é uma condição médica que pode levar à morte

“Mudaram as estações, nada mudou. (…) Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre acaba?”. Os versos iniciais da canção de Cássia Eller refletem uma experiência universal: a perda e o luto. As consequências da morte de alguém conhecido nunca são fáceis, quando é a morte de um parceiro a situação se agrava e pode se estender além do adeus. Essa situação pode desencadear um quadro de consequências prejudiciais à saúde, como distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, diminuição da função imunológica e até mesmo um declínio significativo na saúde física. Esse panorama é comum e recebe o nome de efeito viuvez.

Maria Julia Kovács, professora sênior do Instituto de Psicologia da USP e membro fundadora do Laboratório de Estudo sobre a Morte, explica que o efeito viuvez, que também pode ser chamado de síndrome do coração partido, é quando a perda de uma pessoa é vivida de uma forma tão intensa e tão dolorosa, ou com tanto sofrimento, que acaba levando à morte do enlutado. Trata-se de uma condição médica documentada, conhecida como cardiomiopatia induzida por estresse, e ocorre quando o coração fica atordoado por um estresse agudo repentino e seu ventrículo esquerdo enfraquece. Ela foi descrita pela primeira vez em 1990, no Japão, e nessa síndrome o coração fica tão parecido com uma armadilha de polvo japonesa chamada takotsubo, que alguns médicos começaram a denominar a doença de cardiomiopatia de takotsubo.

Mas, apesar do estado clínico crítico, que pode resultar na morte do enlutado, Maria Julia Kovács comenta que não é uma regra para aqueles que sofrem da síndrome do coração partido. “É importante a gente considerar que, mesmo que a pessoa não queira mais viver, não quer dizer que obrigatoriamente ela vai ter um processo de adoecimento direto ou vai cometer o suicídio.” Além disso, na maioria dos casos, quando o estresse emocional agudo se dissipa, o coração se recupera e volta à sua forma normal.

 

Da esquerda para a direita: armadilha de polvo japonesa, chamada takotsubo, e coração com a síndrome do coração partido – Montagem por Julia Valeri/Jornal da USP

 

O efeito da viuvez foi documentado em todas as idades e raças ao redor do mundo e uma pesquisa realizada por Nicholas Christakis, que dirige o Laboratório da Natureza Humana na Universidade de Yale, e Felix Elwert, professor de Sociologia da Universidade de Wisconsin, ambas nos Estados Unidos, afirma que o risco de um idoso morrer por qualquer causa aumenta entre 30% e 90% nos primeiros três meses após a morte do cônjuge e cai para cerca de 15% nos meses seguintes.

Terceira idade é a mais afetada

O estudo ainda revelou que, quando um parceiro morreu de forma súbita, o risco de morte do cônjuge sobrevivente aumentou. O mesmo acontecia com doenças crônicas como diabete, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão ou cólon, que exigiam tratamento cuidadoso do paciente para tratar ou prevenir.

No entanto, se um cônjuge morreu de doença de Alzheimer ou Parkinson, não houve impacto na saúde do parceiro sobrevivente – possivelmente porque o cônjuge teve tempo adequado para se preparar para a perda do parceiro.

A professora ainda explica que casais da terceira idade e os viúvos homens são os mais propensos a sofrerem dessa síndrome, uma vez que as pessoas mais idosas vivem muito tempo juntas e muitas vezes não conseguem conceber uma vida sem a pessoa querida, e os homens dificilmente vão expressar seus sentimentos, no preceito de que se abrir e conversar sobre suas emoções é equivalente à fragilidade. “Às vezes eles podem entrar em grande sofrimento e acabar falecendo.”

A fala da psicóloga é embasada por um estudo publicado neste ano na revista de saúde norte-americana PlosOne, que evidencia que os homens correm um risco maior de morrer após perder a parceira: após estudar dados de quase 1 milhão de cidadãos dinamarqueses casados, os pesquisadores também descobriram que os homens tinham 70% mais chances de morrer do que os que não perderam a parceira. No caso das mulheres, 27% eram mais propensas à morte do que as que não se tornaram viúvas.

Mas a especialista ressalta que cada caso é distinto e que não se pode generalizar. “Quando, por exemplo, a pessoa é muito idosa ou já tem um processo de adoecimento, ou alguma condição que requer atenção psicológica ou psiquiátrica, que dificulta o processo de elaboração do luto, pode ser que ela seja mais propensa à síndrome do coração partido em um período curto de tempo; outras pessoas têm um processo de luto mais longo, que pode ser chamado de complicado, porque a intensidade, o sofrimento é muito grande e a capacidade e vontade de viver nesse mundo sem a pessoa querida é tão penosa que o luto se arrasta por anos.”

Ela ainda comenta sobre outra possibilidade de luto: “Existem circunstâncias em que a vida pode ficar melhor, porque às vezes o relacionamento era tóxico, era difícil, havia muito conflito e muita briga e, portanto, a viuvez se transforma nessa possibilidade de retornar ao bem-estar e à simplicidade da vida”.

Entretanto, Maria Julia Kovács nota que é sempre importante ficar atento aos sinais da síndrome para que, se necessário, se faça a intervenção e a busca por ajuda. “Os cônjuges sobreviventes podem sofrer de distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, função imunológica prejudicada e saúde física geral precária.” Diante disso, a psicóloga enfatiza a necessidade de um acompanhamento próximo ao parceiro sobrevivente. Se manifestações de desvalorização da vida surgirem ou se houver queixas sobre a dificuldade de seguir adiante e de se adaptar à vida sem o parceiro, ela destaca a importância de uma conversa direta com o indivíduo e oferecer apoio e opções como grupos terapêuticos, terapia individual ou até mesmo medicação.

“Não finja que está tudo bem e cerque-se de pessoas para as quais você não precisa fingir que está bem. O luto é um ato de coragem e força. Quanto mais significativa a perda, mais profunda ela é e mais longo é o processo de recuperação. Procure ajuda se necessário”, conclui a especialista.

*Estagiário sob orientação de Ferraz Junior

FONTE: Jornal da USP

Fatos interessantes sobre os rins

Seus rins são responsáveis por diversas funções para manter seu organismo saudável. Com isso, no mês em que comemoramos o dia Mundial do Rim, preparamos para vocês fatos interessantes para mostrar o quanto o trabalho desses órgãos vitais é essencial para mantê-lo sadio!

A maioria das pessoas tem dois rins

Com formato semelhante ao de um feijão, cada rim pesa cerca de 150g e apresenta o tamanho de um punho fechado. Embora a maioria das pessoas tenha dois rins, se você tem apenas um rim ou um rim funcionando, você pode ter uma vida saudável com apenas um rim, com a necessidade de seguir cuidados mais rigorosos ao cuidar de sua saúde renal.

Eles são os órgãos que mais trabalham no seu corpo

Seus rins podem ser pequenos, mas trabalham bastante! Os rins são responsáveis por remover resíduos e excesso de líquido do corpo, filtrando-os do sangue. Seus rins filtram cerca de 180 litros de sangue durante um determinado dia!

Eles regulam o teor de sal do seu corpo

Além de filtrar os resíduos do sangue, os rins também ajudam a regular os níveis de sódio do seu organismo. É importante ter em mente que, embora o sal seja essencial para o bom funcionamento do seu corpo, quantidades excessivas podem ser prejudiciais ao seu corpo, levando a doenças cardíacas, derrames e até insuficiência renal.

Os rins produzem hormônios que promovem a produção de glóbulos vermelhos

Eles ajudam a produzir os glóbulos vermelhos, conhecidas também como hemácias, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio pelo corpo.

Os néfrons são as unidades de filtragem do rim

Cada rim é composto por cerca de 1 milhão de néfrons e cada néfron é uma unidade de filtragem do rim. Esticados de ponta a ponta, eles têm cerca de 8 quilômetros de comprimento. Ao atingir os 40 anos de idade, 1% dos néfrons começam a degenerar a cada ano.

Beber água em excesso pode ser ruim para os rins

Manter-se hidratado ajuda a manter os rins em bom funcionamento, por outro lado, o excesso de água pode ser ruim para os rins. Isso pode causar uma condição chamada hiponatremia, que ocorre quando o sódio no sangue se dilui porque os rins não conseguem eliminar o líquido com rapidez suficiente. Essa condição é incomum, mas pode ocorrer entre atletas que se esforçam demais e bebem água extra para compensar.

Este material é destinado para fins informativos e não substitui o aconselhamento ou tratamento médico. Consulte o seu médico sobre o seu diagnóstico específico, tratamento, dieta e questões de saúde.

Autores: Paula Felicio e Cinthia Montenegro.

Referência:

FONTE: Blog FazBem

Entenda como funciona e para que serve a endoscopia

A Endoscopia Digestiva Alta, ou só endoscopia, como é conhecida, é um exame laboratorial realizado com um fino tubo que transmite as imagens do esôfago para uma tela, onde o especialista consegue, por meio dessas imagens, detectar áreas inflamadas, alterações na válvula e até presença de hérnia.¹

É um exame importante para a detecção de diversas doenças no trato intestinal, inclusive alguns tipos de câncer. ¹

Preparamos esse texto exclusivo para que você consiga entender melhor sobre a endoscopia.  

O que é Endoscopia Digestiva Alta? 

É um exame que ajuda no diagnóstico de doenças na parte superior do tubo digestivo, como esôfago, estômago e porção inicial do intestino delgado. ²

Com ele, é possível que o endoscopista consiga encontrar lesões ou alterações dentro desses órgãos. É um exame realizado com um aparelho flexível, fino, com uma microcâmera e iluminação na ponta de um tubo.²,³

Caso o endoscopista ache necessário e perceba alguma alteração, ou esteja no pedido do exame, é feito o pedido para a realização de biópsia. Em algumas situações ocorre uma investigação que busca a bactéria H. Pilory pelo método de urease.³

Como esse exame é realizado? 

Como dito antes, é feito por um aparelho que é introduzido através da boca do paciente. Nesse aparelho tem uma luz que iluminará todo o caminho que precisa ser examinado dentro desses órgãos e as imagens são projetadas em um monitor para análise.²

Para esse exame, é necessário estar sedado, por isso, existem duas opções de sedação:²

  • Anestesia tópica, usando um spray anestésico na garganta; 
  • Sedação endovenosa, administrada por uma veia para fazê-lo adormecer. 

O exame é indolor e, geralmente, é feito com a sedação endovenosa. Apenas pessoas com algum tipo de condição que impeça esse uso, usará a anestesia tópica.²

Na presença de lesões elevadas, dependendo do caso, o médico já pode solicitar a retirada da lesão durante o exame.²

A duração média desse exame é de no máximo 20 minutos, mas pode mudar caso precise de outros procedimentos naquele momento.²

Quais os motivos para o pedido de uma endoscopia?  

Se você se queixar de dor ou desconforto em áreas citadas anteriormente, o seu médico gastroenterologista, provavelmente, pedirá esse exame para você. Então caso você sinta e queixe-se de:³

  • Alguma alteração de hábito intestinal; 
  • Presença de sangue nas fezes; 
  • Dor abdominal; 
  • Azia; 
  • Queimação no estômago e no esôfago; 
  • Falta de apetite; 
  • Sensação de estufamento; 
  • Perda de peso; 
  • Refluxo; 
  • Sangramento digestivo alto: evacuar sangue escuro ou vomitar sangue; 
  • Sensação de parada de alimentos no esôfago; 
  • Dor ao engolir; 
  • Histórico familiar de tumores na região do intestino. 

A endoscopia pode diagnosticar as seguintes doenças:³

  • Gastrite; 
  • Hérnias; 
  • Tumores; 
  • Estenoses; 
  • Infecções 
  • Pólipos. 

E várias outras patologias.  

Como proceder após o exame? 

Após o exame, a recomendação e os próximos passos vão depender muito da sua reação ao sedativo após acordar. Primeiro você permanecerá na sala de repouso de 10 a 30 minutos, até os efeitos de sonolência passarem.²

Esse exame só é realizado quando o paciente comparece ao laboratório acompanhado de uma pessoa maior de 18 anos porque a medicação utilizada para o adormecimento pode afetar:²

  • Capacidade de raciocínio; 
  • Tomada de decisões; 
  • Reflexos. 

Além disso, é importante que você vá com uma pessoa que consiga guiá-lo ou dirigir, porque, além dos sintomas citados, também é proibido dirigir ou pilotar qualquer automóvel e não é recomendado voltar na garupa de uma moto.²

Caso seja necessário, o médico irá fornecer um atestado para interromper suas atividades daquele dia, como escola ou trabalho. As atividades voltam normalmente no dia seguinte.²

Como prevenir os problemas identificados em uma endoscopia?  

O acompanhamento médico anual é a melhor forma de cuidar da sua saúde e prevenir doenças, por isso, sempre esteja em dia com as consultas.4

Além disso, a demanda pela realização de exames endoscópicos para diagnóstico é grande e deve ser realizada por profissionais devidamente habilitados. Há intervenções que parecem procedimentos simples, mas podem causar danos permanentes se forem mal indicadas, ou realizadas por pessoas não capacitadas. 

Tenha atenção na sua escolha. O diagnóstico preciso, precoce e correto de doenças e problemas no aparelho digestivo deve ser feito por um endoscopista qualificado e capaz de atuar nos procedimentos de baixa complexidade e de alta complexidade.

Nunca deixe de realizar seus exames solicitados pelo seu médico e não deixe de retornar às suas consultas de rotina para entender com um profissional os resultados que esses exames geraram. Além disso, sempre conte com o FazBem na sua jornada de paciente, mas não substitua nenhuma consulta ou exame e nem deixe de seguir as orientações do seu médico. 

Referências: 

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. Doença de Refluxo Gastroesofágico. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/doencas-benignas/doenca-de-refluxo-gastroesofagico/. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. Endoscopia Digestiva Alta. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/orientacao-ao-paciente/o-que-e-especialista/. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  3. A. C. CAMARGO CANCER CENTER. Tudo sobre endoscopia. Disponível em: https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/medicina-diagnostica/tudo-sobre-endoscopia. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. O que é Especialista?. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/orientacao-ao-paciente/o-que-e-especialista/. Acesso em: 12 abr. 2023. 

FONTE: Blog FazBem

Cigarro e vírus HPV têm efeito conjunto nas células, potencializando o risco de câncer

Além de constituírem fatores de risco independentes para o câncer de cabeça e pescoço, o tabagismo e o papilomavírus humano (HPV) podem provocar efeitos nas células que interagem entre si, aumentando ainda mais o risco da doença. A conclusão é de um estudo feito por cientistas da USP e da Universidade do Chile, cujos resultados foram publicados em artigo no International Journal of Molecular Sciences. Ao aumentar a compreensão sobre os mecanismos moleculares envolvidos nesse tipo de tumor, a descoberta abre caminho para a adoção de novas estratégias de prevenção, tratamento ou outra intervenção capaz de beneficiar os pacientes.

O câncer de cabeça e pescoço engloba tumores nas cavidades nasal e oral, faringe e laringe. Em 2020, afetou cerca de 830 mil pessoas em todo o mundo, causando a morte de mais de 50% delas. Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca), foram quase 21 mil mortes no Brasil em 2019. Embora a doença esteja historicamente ligada a consumo de álcool, fumo e má higiene bucal, o HPV surgiu nas últimas décadas como fator de risco relevante, afetando uma população mais jovem e de nível socioeconômico mais alto. Hoje, trata-se de um dos tumores associados ao HPV que mais crescem no mundo.

“Em vez de continuar analisando tabagismo e HPV como fatores oncogênicos separados, passamos a focar na possível interação entre os dois”, explica Enrique Boccardo, professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e coautor do estudo. “Afinal, tanto o cigarro quanto o papilomavírus humano estão associados ao aumento do estresse oxidativo e a danos no DNA relacionados ao câncer e, de acordo com estudos prévios, podem regular a enzima superóxido dismutase 2 [SOD2], que é um biomarcador de doenças iniciais associadas ao HPV e do desenvolvimento e progressão de tumores.”

Em testes in vitro, os cientistas brasileiros e chilenos analisaram células orais que expressavam as oncoproteínas HPV16 E6/E7 (a expressão foi induzida em laboratório para imitar a condição de células infectadas pelo papilomavírus) e foram expostas a um condensado da fumaça do cigarro. Foi observado nessa condição um aumento considerável dos níveis da enzima e de danos ao DNA, reforçando o potencial nocivo da interação entre HPV e fumaça de cigarro em relação à condição-controle. Ou seja, as células-controle (não expostas a oncoproteínas ou fumo) expressam menos SOD2 que células que expressam E6/E7 ou que células tratadas com fumaça de cigarro, enquanto células que expressam E6/E7 e foram tratadas com fumaça de cigarro expressam níveis maiores da enzima do que qualquer outro grupo analisado. Isso indica a “interação” entre a presença de genes de HPV e a fumaça de cigarro.

Ponto de Partida

Uma segunda etapa do trabalho, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo por meio de dois projetos, envolveu a análise de dados genômicos de 613 amostras que integram o repositório público The Cancer Genome Atlas (TCGA). Na plataforma, são catalogadas as mutações genéticas responsáveis pelo câncer a partir de sequenciamento de genoma e bioinformática. O grupo focou na análise de transcrições da enzima para confirmar os achados.

“Apesar de serem realizados em um ambiente artificial, estudos in vitro são um ponto de partida para compreender o que acontece em modelos mais complexos e, no futuro, talvez nos permitam intervir de forma objetiva e trazer algum benefício”, afirma Boccardo. “Atualmente, por exemplo, a vacinação contra o HPV só está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças entre 9 e 14 anos, porque estudos apontaram maior eficácia na prevenção de patologias genitais, mas acredito que seja possível considerar a extensão para um grupo maior de indivíduos a fim de evitar doenças em outras regiões anatômicas.”

O pesquisador destaca ainda que este trabalho conduz os resultados obtidos em laboratório para a análise clínica ao superar o calcanhar de Aquiles da pesquisa básica, que é o acesso a amostras humanas. Isso se dá graças à evolução da tecnologia, que levou à criação de bases de dados de amostras humanas, como a utilizada na pesquisa. Esses bancos incluem estudos de análise de expressão de RNA e proteínas e permitem o acesso a informações de longos períodos de tempo.

“O próximo passo seria aumentar a complexidade do modelo utilizado, analisando a questão funcional em um contexto de expressão normal das proteínas virais, ou seja, em que o promotor do HPV regule de fato a expressão das oncoproteínas E6/E7″, acredita Boccardo. No caso do estudo, essa expressão foi induzida em laboratório e não pela infecção. “Não podemos esquecer, por exemplo, que existem eventos como o processo inflamatório, que não conseguimos visualizar in vitro, mas que sabemos que, na prática, pode ter um papel muito importante no desfecho da doença.” O artigo Interaction between Cigarette Smoke and Human Papillomavirus 16 E6/E7 Oncoproteins to Induce SOD2 Expression and DNA Damage in Head and Neck Cancer pode ser lido aqui.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Texto: Julia Moióli da Agência Fapesp, com edição de Júlio Bernardes

FONTE: Jornal da USP