Fragmentos tóxicos de proteínas no cérebro podem ser marcadores de Alzheimer em vida

Biomarcador ajudaria no monitoramento da doença de Alzheimer, para a qual não há um marcador único que possa fornecer um diagnóstico definitivo em vida

Tauopatias são doenças neurodegenerativas associadas a depósitos anormais de uma proteína chamada tau no cérebro, com alta mortalidade e sem cura. O tipo mais comum de tauopatia é a doença de Alzheimer e, atualmente, não há um biomarcador que identifique a doença com precisão no paciente em vida. O diagnóstico é feito em entrevista com o paciente, avaliação neuropsicológica e por exclusão de outras doenças em exames de sangue e imagem.

Trabalho de cientistas da USP e da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos, avalia o uso de fragmentos da proteína nos líquidos cerebrais como biomarcador para diagnóstico em vida e monitoramento de Alzheimer e doenças similares.

Os resultados do trabalho são relatados em artigo publicado pela revista científica Acta Neuropathologica Communications. “A doença de Alzheimer afeta milhões de pessoas no mundo, entretanto, existem outras tauopatias mais raras, incluindo a encefalopatia traumática crônica que afeta atletas e a paralisia supranuclear progressiva”, afirmam Lea Grinberg, professora da UCSF e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e Liara Rizzi, pós-doutoranda da Unicamp, autoras do artigo.

“Um estudo prévio feito pelo nosso grupo de pesquisa identificou no tecido cerebral humano após a morte que o número de neurônios que acumulam tau clivada por caspase, que é neurotóxica, é similar ao número de neurônios que acumulam tau fosforilada, ou fosfo-tau, a alteração mais estudada em doenças neurodegenerativas”, relatam as pesquisadoras. As caspases são um grupo de proteases, enzimas que dividem proteínas, comumente associadas a inflamação e morte celular (apoptose), e que participam da quebra da proteína tau (proteólise).

Mecanismos patológicos induzidos pela proteína tau fragmentada pelas caspases, grupo de proteases, enzimas que dividem proteínas, comumente associadas a inflamação e morte celular – Ilustração: Reprodução do artigo

“A proteína tau pode sofrer clivagem por várias caspases, incluindo as dos tipos 1, 2, 3, 6, 7 e 8, no entanto, a sobreposição é de apenas 45%”, apontam Lea Grinberg e Liara Rizzi. “Isso sugere que estudos baseados somente em fosfo-tau não identificam completamente a patologia da proteína tau e que, em casos de divisão pelas caspases, ela é parcialmente distinta e complementar a da fosfo-tau”.

Diagnóstico em vida

De acordo com as cientistas, estudos sobre formas de tau divididas pelas caspases no líquido cefalorraquidiano e no soro do cérebro são limitados, mas as descobertas emergentes mostram-se promissoras, sublinhando a necessidade de uma exploração mais profunda. “Essas pesquisas mostram que a detecção de fragmentos neurotóxicos de tau oferecem uma oportunidade para diagnóstico in vivo e monitoramento de doenças neurodegenerativas”, ressaltam.

Locais onde a proteína tau pode ser divididas pelas caspases (linhas vermelhas); grupo de pesquisa desenvolveu ensaio químico para detecção de tau truncada por caspase no liquor do cérebro – Ilustração: Reprodução do artigo

“Dessa forma, dada a abundância de tau dividida pela caspase-6 na doença de Alzheimer e a escassez em tauopatias 4R, como a paralisia supranuclear progressiva, vale a pena testar se um ensaio com esse tipo de tau tem melhor desempenho na sua identificação do que os baseados em fosfo-tau”, apontam Lea Grinberg e Liara Rizzi. “Provavelmente, a aplicação mais pertinente é a identificação de patologia não associada a fosfo-tau na doença de Alzheimer.”

As pesquisadoras acrescentam que a detecção de tau dividida por caspase in vivo pode ser extremamente significativa tanto para fins diagnósticos quanto terapêuticos. “Nosso grupo desenvolveu um ensaio químico para detecção de tau truncada por caspase no líquor do cérebro, que agora está em testes com amostras clínicas.”

O estudo contou também com a participação dos pesquisadores Lea Julio, Rojas-Martinez e Michelle Arkin, do Memory and Aging Center da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF). A primeira autora do artigo é Liara Rizzi, pós-doutoranda da Unicamp, que teve parte de sua bolsa para fazer pesquisas na UCSF financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Mais informações: e-mails lea.grinberg@ucsf.edu, com Lea Grinberg, e Liara.Rizzi@ucsf.edu, com Liara Rizzi

FONTE: Jornal da USP

Mapeamento da retina pode indicar risco de Alzheimer

O Alzheimer, um tipo de demência, é uma doença silenciosa. Chega gradualmente e, quando recebido o diagnóstico, pode já estar em um estado avançado. Várias frentes de estudo se propõem a encontrar maneiras de identificar os sintomas o mais cedo possível, visando assim a um tratamento mais eficiente – vale lembrar que ainda não há uma cura, apenas cuidados paliativos. Um estudo britânico, publicado recentemente, é mais um que vem para somar a essas frentes, trazendo dados promissores. O professor Mario Luiz Ribeiro Monteiro, do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da USP, fala sobre o estudo.

A visão começa no olho, a imagem é formada na retina e ela é transportada pelo nervo óptico, passando por outras estruturas até chegar ao cérebro. Já se sabia que o Alzheimer poderia ter impacto na visão do ponto de vista neurológico. O professor exemplifica alguns dos efeitos: “Sensibilidade ao contraste, à percepção de cores, à percepção de movimento ou dificuldade de interpretar imagens”. O que se descobriu agora é que a doença afeta não só o cérebro, mas também o percurso da imagem. Monteiro afirma que “ela acomete também essa porção anterior”, sendo a “retina nervosa quase como prolongamentos do cérebro”.

Os benefícios dessa descoberta perfazem uma nova linha de pesquisa, a qual pode ajudar a identificar a demência em estágio inicial. A partir da análise do olho, não só do cérebro, será possível “procurar um achado que seja específico da doença e que possa ser um indício da doença precocemente”.

Estudos em andamento

Um dos componentes específicos que podem ser procurados é a proteína beta-amiloide, característica dos casos de Alzheimer. “Descobriu-se também que essas placas beta-amiloides ocorrem também na retina, então a tentativa agora é encontrar métodos que identifiquem essas placas [na retina]”, diz ele.

Um estudo em andamento na Faculdade de Medicina da USP, em paralelo com outros lugares do mundo, faz parte dessa frente promissora. A partir de fotos de retina com a técnica hiperespectral, em que uma única fotografia produz imagens com diferentes comprimentos de onda, procura-se avaliar indicadores de demência.

Monteiro comenta: “O diferencial desse estudo é que os pacientes são catalogados por terem alteração no PET Scan (tomografia por emissão de positrões) ou não, então, os pacientes eram separados por quem tem a proteína beta-amiloide e aqueles que não têm”. Os dados são então submetidos a um computador associado à inteligência artificial, cuja função é, segundo a expectativa, traçar padrões de identificação.

FONTE: Jornal da USP

Nanopartículas são esperança para aprimorar diagnóstico de câncer de mama

Estudo multidisciplinar traz abordagem inovadora, demonstrando a viabilidade da aplicação das nanopartículas de óxido de ferro com revestimento polimérico.

O câncer de mama continua a ser uma preocupação global, exercendo um impacto significativo na vida de inúmeras mulheres ao redor do mundo. Entre os desafios enfrentados por pacientes diagnosticadas com esta enfermidade, destaca-se a condição daquelas com alta expressão de HER2, uma proteína encontrada em níveis anormalmente elevados na membrana das células cancerígenas. Tais pacientes enfrentam um risco aumentado de metástase, particularmente para o cérebro, e experimentam uma menor expectativa de vida.

Nesse cenário, um estudo realizado em parceria entre pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM), do Instituto de Pesquisas Técnológicas (IPT), e do Instituto de Física (IF) da USP, e publicado na revista Nanomedicine, apresenta uma abordagem inovadora para identificar esses pacientes de forma mais rápida e acessível. A pesquisa propõe a utilização de nanopartículas híbridas, compostas de óxido de ferro e com revestimento polimérico, adequadamente funcionalizadas para detectar esse tipo particular de células tumorais, promovendo um potencial promissor no diagnóstico do câncer de mama. Além da ampla e aprimorada caracterização do nanomaterial, a qual contou com o apoio do IF, o estudo oferece resultados sobre sua toxicidade e demonstra a viabilidade de sua aplicação.

O trabalho, que contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Apoio ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (FIPT), teve origem na tese de doutorado de Cyro von Zuben na Unicamp, e representa um exemplo destacado de colaboração multidisciplinar, envolvendo áreas como física, química, biologia e medicina. Tal diversidade reflete também a complexidade do projeto, abrangendo desde a caracterização das propriedades do material até seu potencial aplicação clínica.

Embora represente um avanço encorajador no diagnóstico do câncer de mama, o estudo está em estágios iniciais e enfrenta desafios futuros, como ensaios em animais e amostras humanas. No entanto, os autores acreditam que represente uma esperança tangível para melhorar os resultados clínicos, destacando a importância da colaboração entre diversas áreas e instituições na busca por soluções inovadoras para enfrentar essa doença devastadora.

Acesse o artigo HER2 aptamer-conjugated iron oxide nanoparticles with PDMAEMA-b-PMPC coating for breast cancer cell identification em http://bit.ly/4d3bEEe!

*Comunicação do Instituto de Física com informações dos autores

*Estagiário sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Menopausa precoce? Sintomas, causas e tratamento

Enquanto a média mundial da menopausa das mulheres fica em torno dos 50 anos, algumas vivenciam esse período antes dos 40. A condição é rara, afetando somente 1% das mulheres, mas é importante entender os sintomas e saber como reagir. O professor José Maria Soares Júnior, chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, comenta o assunto. Ele afirma que a menopausa precoce pode “trazer sérias consequências para a saúde da mulher”, mas que há soluções.

A primeira medida é saber identificar os sintomas. Nas mulheres que não usam a pílula, “o primeiro sinal é a alteração da sua menstruação: ela fica sem menstruar”, explica o professor. Ele complementa que outros sinais podem aparecer: “Quedas de cabelo, aumento de peso, distúrbio de sono e alteração da libido”.

Um efeito comum em quem passa pela menopausa, mesmo que no período comum, é a sensação de calor. Segundo Soares, “40% têm ondas de calor acentuadas que alteram até o seu sono e a sua qualidade de vida”. Nas que passam pela menopausa prematura, no entanto, “a tendência é ser muito maior [a porcentagem], porque ela estava convivendo com uma quantidade de estrogênio maior e, de repente, essa quantidade de estrogênio caiu. Não tem um período de adaptação”.

Causas

O médico comenta que as razões que podem levar à menopausa precoce podem ser diversas. Há a predisposição biológica, por exemplo, que está associada à genética. Esta, de acordo com ele, pode inclusive se apresentar antes dos 30, e mesmo na adolescência, ocasionalmente. Nesses casos, a mulher tem até dificuldade para desenvolver características femininas.

Mas as razões também podem decorrer de eventos durante a vida. Como o especialista ressalta, “têm hábitos de vida [que podem causar a precocidade], um deles é o tabagismo, que devemos chamar a atenção porque diminui a função do ovário”. Além desses, ele aponta o alcoolismo, causas imunológicas e cirurgias feitas no ovário ou útero como outras possíveis razões.

Tratamento

O profissional afirma que há formas de tratar e que são importantes, pois a menopausa precoce pode estar associada a doenças sérias: “Ela pode aumentar o risco de doença cardiovascular, osteoporose e até de demência no futuro”. Por isso, é recomendado que a mulher inicie uma terapia hormonal o quanto antes. Soares afirma que “até hoje não tem medicamento melhor que o estrogênio”, que é combinado com uma ação da progesterona. Ambos são hormônios femininos que diminuem após a menopausa.

O progestagênio (suplemento que possibilita a ação da progesterona), no entanto, pode levar a efeitos colaterais. Algumas mulheres não respondem muito bem a certos tipos de tratamentos específicos, por isso, como diz o médico, “nós temos vários tipos e esses tipos são individualizados, dependendo de cada mulher, das suas características”. Alguns ajudam na libido, outros na ação diurética e outros ainda não têm efeito nenhum; o indicado é aquele ao qual a mulher melhor se adapte.

O profissional afirma que a “osteoporose e doenças cardiovasculares podem reduzir a chance de sobrevida no futuro em 28% naquelas mulheres que não receberam terapia hormonal [nos casos de menopausa precoce]”, ressaltando a importância dos cuidados. Por fim, ele relembra: “Teve algum sinal, procure um médico”.

FONTE: Jornal da USP


Olheiras: conheça as causas das manchas embaixo dos olhos

Cerca de 78% dos casos de olheiras (cujo nome científico é hiperpigmentação periorbital) são observados em mulheres. A informação faz parte de um estudo publicado na revista Surgical & Cosmetic Dermatology da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Os fatores causadores do problema podem ser os mais diversos: tabagismo, exposição solar, insônia, uma noite mal dormida, entre muitos outros que podem causar o aumento da pigmentação ao redor dos olhos.

Maria Cecília Rivitti Machado, médica dermatologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que “o mais comum é que a olheira se deva a um aumento da produção de melanina no local, mas outras causas também ocorrem, um afinamento da pele em que a vascularização se torne mais visível, um aumento da vascularização, também pode ocorrer, e esses processos podem ser de natureza fisiológica”.

As olheiras muitas vezes podem indicar doenças. Quem sofre de rinite, por exemplo, tende a ter manchas nos olhos. A principal doença que pode ser identificada através do aumento da cor na pálpebra superior é uma chamada dermatomiosite, doença autoimune em que há inflamação da pele e dos músculos, com fraqueza, sensibilidade à luz solar e aumento da pigmentação ao redor dos olhos. Ela pode apresentar uma forma mais avermelhada ou arroxeada, ou acastanhada, dependendo do tom de pele do paciente.

A genética também pode ser uma causa com uma propensão étnico-racial e também individual, causando um pigmento mais acentuado na região. A dermatologista explica que “existem até mesmo situações em que a olheira corresponde a uma névoa, como se fosse uma pinta nas camadas mais inferiores da pele.” O tratamento depende essencialmente do tipo de pigmento e das condições da pele. Mesmo sendo vista como um problema cosmético ou estético, deve ser adequadamente tratado e diagnosticado.

Não ao autodiagnóstico

O profissional mais habilitado a fazer o diagnóstico diferencial entre os diferentes tipos de olheira é o médico dermatologista, que tem o treinamento adequado para fazer o diagnóstico e indicar o tratamento apropriado. O autodiagnóstico pode ser um risco, explica a dermatologista. “A tendência atual ao autodiagnóstico, baseado em inteligência artificial e sem confirmação posterior pelo médico, e a indução por parte da indústria cosmética também ao autodiagnóstico estético e à autoprescrição de tratamentos é crítico em qualquer parte do corpo e se torna especialmente arriscado na área ao redor dos olhos.”

As olheiras podem ser amenizadas com tratamentos como peeling, cremes lasers, mas a especialista recomenda que o diagnóstico seja feito por um médico. “Antes da instituição dessas medidas, é necessário um diagnóstico apropriado. Nem sempre a olheira vai ser um problema cosmético. O ideal é  procurar o médico dermatologista. Pensar também que, se toda a pele é muito nobre, a pele da pálpebra, próxima aos olhos, é uma região muito crítica quando se vai fazer uso de qualquer tipo de produto. Cuidado com a autoprescrição, não só de medicamentos, mas também de substâncias cosméticas.”

A dermatologista alerta que as olheiras são comuns em pacientes com doenças crônicas, não só com rinite, mas também portadores de dermatite atópica.

FONTE: Jornal da USP

Treinamento de equilíbrio pode minimizar sintoma do Parkinson e risco de quedas

Pesquisa testou dois métodos de treinamento com pacientes de Parkinson e constatou melhora no congelamento de marcha, que é a perda repentina na capacidade de locomoção

Um dos sintomas ocasionados pela Doença de Parkinson é o chamado congelamento de marcha, que faz com que os indivíduos percam, de maneira repentina e temporária, a capacidade de mover as pernas para se locomover, tornando-os mais suscetíveis a quedas. Uma das principais maneiras de minimizar o sintoma é por meio de  medicamentos, mas estudos realizados pelo Laboratório de Sistemas Motores Humanos da Escola de Educação e Esporte (EEFE) da USP mostraram que o treinamento por meio de perturbações do equilíbrio corporal pode ser um grande aliado do tratamento.

Uma pesquisa conduzida por Caroline Ribeiro de Souza, com orientação do professor Luis Augusto Teixeira, testou dois métodos de treinamento em portadores da doença de Parkinson acometidos pelo congelamento de marcha. Ao final do estudo, os participantes notaram uma redução na ocorrência do sintoma e maior controle do equilíbrio, o que ajudou a diminuir o risco de quedas.

Treinamento de equilíbrio X resistência muscular

A pesquisa teve participação de 19 voluntários, pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A seleção foi feita seguindo alguns critérios, como não possuir distúrbios além daqueles oriundos da doença de Parkinson e nem ter alteração na dosagem do medicamento utilizado para tratar a doença durante a realização do estudo.

Os participantes foram divididos em dois grupos. No primeiro, com nove pessoas, foi realizado treinamento de equilíbrio baseado em perturbações. Este treinamento foi realizado por meio de uma plataforma móvel que se deslocava da esquerda para direita (movimento de translação) e inclinava-se (movimento de rotação). Os participantes realizaram os exercícios em posições que direcionaram a perturbação para o eixo anteroposterior (região anterior e posterior do corpo) e mediolateral (do centro do corpo para esquerda ou direita, na horizontal).

As perturbações eram realizadas em oito blocos com 16 movimentos diferentes cada, tendo a dificuldade aumentado progressivamente a cada sessão. Os participantes experimentaram 128 movimentos na plataforma por sessão, totalizando 1.024 ao final do estudo.

Infográfico desenhado com base no estudo – Foto: EEFE-USP

Para o segundo grupo, foi aplicado um protocolo de treinamento de resistência muscular. O treinamento de resistência foi feito com exercícios realizados em máquinas de força, como supino torácico, remador, peck deck, extensão de pernas, leg press e flexão plantar na máquina leg press, com o objetivo de trabalhar os músculos dos membros superiores e inferiores.

A prática dos exercícios tanto de equilíbrio quanto de resistência foi oferecida duas vezes por semana, durante um mês, e cada sessão durava 55 minutos, envolvendo cinco minutos de caminhada, quarenta do treinamento específico – equilíbrio ou resistência – e dez minutos de relaxamento.

O treinamento de resistência foi feito com exercícios realizados em máquinas de força – Foto: Guilherme Viana

Menores chances de queda

Em momentos de instabilidade, o corpo realiza movimentos compensatórios para manter o equilíbrio e evitar uma possível queda. Um dos principais objetivos do estudo era analisar como esse mecanismo seria utilizado pelos voluntários dos dois grupos em resposta às perturbações.

Para isso, os pesquisadores examinaram os movimentos feitos pelos participantes durante testes feitos com a plataforma, aplicados aos dois grupos. Eles foram realizados antes do treinamento, 24 horas após o fim e, também, 30 dias depois. Os movimentos foram classificados de acordo com categorias pré-estabelecidas, ilustradas abaixo.

Infográfico desenhado com base no estudo – Imagem: EEFE-USP

Os resultados constataram que tanto o treinamento de equilíbrio baseado em perturbação quanto o treinamento de resistência parecem ter reduzido a ocorrência do congelamento de marcha. Contudo, os voluntários que fizeram o treinamento de equilíbrio mostraram o uso de movimentos mais estáveis como resposta às perturbações e uma redução expressiva de situações com quase-queda quando comparado ao de resistência, tendo mantido esse desempenho mesmo após um mês sem fazer os exercícios.

A pesquisa mostra a importância de pensar a prática motora, principalmente o treinamento baseado em perturbações do equilíbrio corporal, como uma forma de terapia que pode melhorar a condição de indivíduos com a doença de Parkinson.

“A persistência dos ganhos do treinamento por perturbações mostra que essa pode ser uma opção eficiente como recurso terapêutico para a prevenção de quedas no cotidiano. Outro ponto que vale destacar é o uso da análise dos movimentos compensatórios para realizar a avaliação da estabilidade postural, pois trata-se de um método fácil de ser aplicado, inclusive na prática clínica”, explicou a pesquisadora Carolina Ribeiro de Souza.

O estudo contou com a participação de Júlia Ávila de Oliveira, Patricia Sayuri Takazono, Lucas da Silva Rezende, Carla Silva-Batista e Daniel Boari Coelho. Intitulado Perturbation-based balance training leads to improved reactive postural responses in individuals with Parkinson’s disease and freezing of gait, a pesquisa foi publicada no periódico European Journal of Neuroscience e pode ser acessada por meio do link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ejn.16039

*Da Assessoria da EEFE, adaptado para o Jornal da USP
**Estagiário sob supervisão de Simone Gomes

Consumo excessivo de proteínas pode causar doenças cardiovasculares

Pesquisa feita pela Universidade de Pittsburgh e publicada na revista especializada Nature Metabolism mostra que o excesso de proteínas pode prejudicar a saúde e indica que dietas com mais de 22% de proteína aumentam significativamente o risco de aterosclerose, podendo levar a doenças cardiovasculares. Dan Linetzky Waitzberg, professor do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo (USP) e do Laboratório de Nutrição e Cirurgia Metabólica do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas (HC), explica quais os impactos desse consumo excessivo no organismo e a importância de acompanhamento profissional nas dietas.

Aminoácido leucina

De acordo com o especialista, as proteínas animais estão associadas ao aumento da lipoproteína de baixa densidade, também conhecida como colesterol LDL, e também da inflamação crônica e estresse oxidativo, o que pode ser fator de risco para doenças cardiovasculares. Ele conta que, em parte, isso pode ser explicado pelas altas taxas de gordura saturada e colesterol que estão presentes nas fontes da proteína animal.Waitzberg conta que a pesquisa feita nas universidades de Pittsburgh e Missouri com camundongos mostrou que não apenas o acúmulo de gordura é responsável pela aterosclerose, mas também o aminoácido leucina, que não é sintetizado pelo corpo humano e precisa ser ingerido nas carnes. “A novidade é que não é o acúmulo de gordura apenas como responsável, pois há uma sinalização desse aminoácido leucina contribuindo para que macrófagos sejam ativados e eles sinalizam para a formação da placa aterosclerótica. Então, é um mecanismo novo, eles encontraram e responsabilizaram um determinado aminoácido como sinalizador molecular”, explica.

Dietas

Conforme o docente, a indicação de dietas proteicas precisa levar em conta as subjetividades de cada indivíduo, como peso, idade, gênero e rotina de atividades físicas. Ele conta que as dietas são divididas em normoproteica, hiperproteica ou hipoproteica, dependendo do quanto de proteína precisa ser consumida no dia pela pessoa.

“Uma pessoa saudável, que pratica atividade física regularmente e não tem nenhuma doença metabólica, precisa de cerca de 18% a 20% de proteína nas suas refeições diárias. O que acontece é que, nos Estados Unidos, local da pesquisa, eles consomem níveis alarmantes de proteína e gordura saturada, principalmente pela questão cultural de comer alimentos como bacon e hambúrguer a todo instante”, explica.

Acompanhamento profissional

Para Dan Linetzky Waitzberg, a dieta brasileira, composta geralmente por arroz, feijão, salada e um pedaço de carne, é altamente equilibrada do ponto de vista nutricional. Ele alerta, contudo, que o problema no País é o inverso do que ocorre nos EUA, já que, por motivos socioeconômicos, muitos indivíduos não têm acesso à proteína.

“Então, se alguém quer fazer um regime ou perder peso, é fundamental que procure um nutricionista para que seja feito um perfil metabólico e genético da pessoa. A partir dessa análise de qualidade de sono, nível de estresse e condições familiares e socioeconômicas, é possível traçar a melhor dieta para cada indivíduo”, finaliza.

FONTE: Jornal da USP

Células CAR-T: terapia celular contra o câncer

Os testes com células CAR-T serão exclusivos para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional. Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto vai receber pedidos de inclusão enviados apenas pelos médicos de possíveis candidatos.

O dia 15 de março vai marcar o início do que pode ser uma revolução no tratamento de linfoma e leucemia na América Latina. Nessa data, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP vai começar a incluir os candidatos ao estudo clínico de fases 1 e 2 do tratamento com células CAR-T.

O tratamento foi desenvolvido no Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiado pela Fapesp no Hemocentro da FMRP.

O tratamento é específico para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional, como quimioterapia e transplante de medula.

O início do estudo foi anunciado na quinta-feira (7/3) durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (CECTI) e vai tratar 81 pacientes até o ano que vem (leia mais aqui).

“Inicialmente serão quatro pacientes tratados no Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto. Os dados serão então submetidos à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para avaliação da segurança e, se tudo correr bem, os outros centros envolvidos no estudo poderão começar a tratar outros candidatos”, disse à Agência Fapesp Diego Villa Clé, coordenador médico do Hemocentro de Ribeirão Preto.

Além do Hospital das Clínicas da FMRP, participam do estudo o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em São Paulo, o Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e os hospitais Beneficência Portuguesa e Sírio-Libanês, em São Paulo.

O tratamento com células CAR-T foi desenvolvido em 2017 nos Estados Unidos e, desde 2019, no Brasil, pela FMRP, em colaboração com o Instituto Butantan e apoio da Fapesp.

A técnica consiste na retirada de linfócitos do próprio paciente, que são manipulados em laboratório e reaplicados no organismo.

O objetivo é preparar os linfócitos para identificar e eliminar células tumorais que não foram detidas por outros tratamentos, como quimioterapia e transplante de medula (leia mais em: agencia.fapesp.br/31656 e agencia.fapesp.br/38914).

O Hemocentro de Ribeirão Preto abriga a única fábrica de células CAR-T da América Latina, uma das poucas no mundo que não pertencem a grandes indústrias farmacêuticas. Até hoje, 20 pessoas foram tratadas com as células preparadas no Núcleo de Terapia Celular Avançada de Ribeirão Preto (Nutera-RP), um Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) da Fapesp. O núcleo pode preparar até 300 tratamentos por ano.

“Estima-se que de 3 mil a 4 mil pessoas poderiam se beneficiar desse tipo de tratamento hoje no Brasil. O Nutera-RP poderá aumentar a capacidade futuramente para dar conta da demanda, mas precisará de mais investimentos”, conta Clé.

Na iniciativa privada, o tratamento importado pode custar até R$ 2 milhões por paciente. O nacional, que pode ser adotado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), poderá sair por um sexto desse valor.

Pacientes

Os primeiros quatro pacientes tratados no HCFMRP terão uma pequena quantidade de sangue colhida, de onde os linfócitos T, um tipo de célula de defesa, serão isolados e modificados no Nutera-RP. Esse processo leva de 15 dias a um mês.

Depois de internados, os pacientes receberão então uma única infusão das próprias células, agora reprogramadas para atacar as células tumorais. Serão 15 dias de internação para acompanhar os possíveis efeitos colaterais, resultado da inflamação provocada pelo tratamento.

“A inflamação é um sinal de que o tratamento está fazendo efeito, mas pode causar desde sintomas leves, como febre e dor no corpo, até mesmo uma queda de pressão sanguínea e dificuldade respiratória, que pode ocorrer em 25% a 30% dos casos”, esclarece Clé.

Após a alta, o paciente seguirá sendo acompanhado em consultas semanais, até ter a primeira avaliação de eficácia do tratamento, após 30 dias da infusão. Os testes serão repetidos após 90 dias do início do tratamento. Todos os pacientes serão monitorados por cinco anos como parte do estudo.

“Esse é o primeiro e mais importante passo: mostrar que o tratamento é seguro e efetivo para ter a aprovação e poder ser disponibilizado tanto na rede pública quanto na privada”, encerra Clé.

Mais informações sobre o estudo podem ser obtidas em: www.hemocentro.fmrp.usp.br/terapia/.

Com informações de Carlos Fioravanti, da Revista Pesquisa Fapesp

*Da Agência Fapesp

FONTE: Jornal da USP

Os efeitos da falta de tempo para cuidar da saúde nas mulheres brasileiras

Dificuldade no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho das mulheres é fonte de estresse e pode influenciar as prioridades pessoais e também reduzir o tempo disponível para o próprio cuidado e o lazer, aponta o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Visando reforçar a necessidade de cuidados integrais entre as mulheres, o projeto Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) apresentou os principais resultados de 15 anos de estudos sobre diferentes condições de saúde femininas. As pesquisas mostram que as mulheres têm hábitos mais saudáveis, fumam menos, não se excedem no álcool e consomem mais frutas e legumes. No entanto, foi constatado que 40% das mulheres, de todas as faixas etárias e grupos socioeconômicos, não conseguem cumprir a recomendação mínima de atividade física no lazer, que é de duas horas e meia por semana. De acordo com os estudos, isso se deve à dificuldade de conciliar o trabalho com as rotinas familiares, principalmente entre mulheres mais jovens, com menos escolaridade e filhos pequenos, aumentando o estresse e o risco de enxaqueca.

O Elsa-Brasil, que inclui várias universidades brasileiras além da USP, é um estudo epidemiológico dedicado a pesquisar os fatores associados a doenças crônicas não transmissíveis, como câncer e distúrbios cardiovasculares. Uma pesquisa realizada com mulheres que se submeteram a mamografia para identificar câncer de mama em Salvador (BA) mostra que as disparidades socioeconômicas e reprodutivas entre mulheres pretas e brancas foram responsáveis por diferenças na densidade mamográfica, o que pode dificultar o diagnóstico da doença. Outro trabalho identificou uma ocorrência de 8,5% de síndrome de ovários policísticos (SOP), que causa irregularidade na ovulação e aumento dos níveis de hormônios masculinos, propondo critérios para identificar a doença no pós-menopausa e sua associação com diabete e problemas cardiovasculares, além de um questionário para avaliar o excesso de pelos corporais, um dos sintomas da SOP.

Estilo de vida e saúde

As pesquisas do Elsa-Brasil apontam que a dificuldade no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é fonte de estresse e pode influenciar as prioridades pessoais e também reduzir o tempo disponível para o próprio cuidado e o lazer, afetando a saúde e o bem-estar, especialmente entre as mulheres. Elas se referem com mais frequência à existência de conflito entre trabalho e família, quando esforços para atender às demandas no emprego interferem na habilidade de responder ao que é demandado pela vida familiar. Essas mulheres em geral tiveram mais chances de mencionar uma pior autoavaliação de saúde, estilo de vida menos saudável, enxaqueca, tiveram maior ganho de peso e queixas de sono mais frequentes.

A relação entre a enxaqueca e indicadores de conflito na relação entre trabalho e família foi investigada em 6.183 mulheres e 5.664 homens participantes do projeto. Os resultados apontam maior carga da doença na população feminina relacionada a vários fatores de estresse, tais como a interferência na tensão do trabalho com a família, assim como a interferência dos familiares no trabalho e falta de tempo para cuidados pessoais e lazer.

Altas demandas psicológicas de trabalho e baixo apoio social interagiram com a falta de tempo para os cuidados pessoais em associação com enxaqueca definitiva. Entre os homens, a enxaqueca foi associada apenas à falta de tempo para os cuidados pessoais.

Equilibrar as exigências das esferas profissional, familiar e doméstica pode ser altamente relevante para a gestão não só das cefaleias, mas para a saúde integral das mulheres.

As mulheres pesquisadas pelo Elsa-Brasil são mais comprometidas com estilos de vida mais saudáveis que os homens, na medida em que fumam menos, bebem menos excessivamente álcool e consomem mais frutas e legumes, no entanto é menor o engajamento na prática da atividade física no lazer, o que pode estar relacionado com o menor tempo disponível. A partir da recomendação de 150 minutos por semana de atividade moderada ou vigorosa, essa prática foi avaliada por meio de um acelerômetro usado na cintura abdominal por sete dias, constatando o não cumprimento dessa meta em 40% das mulheres, de todas as faixas etárias e grupos socioeconômicos.

O grupo mais inclinado a essas práticas tem idade igual ou superior a 60 anos, de ascendência asiática e com maior escolaridade, indicando que, para a maioria das participantes do estudo, é mais provável que elas se engajem a partir de uma idade em que os filhos estão adultos e a carreira atinge estabilidade.

O trabalho doméstico é desigual entre os sexos e compete com as atividades de lazer das mulheres mais que os homens, um desafio adicional especialmente para aquelas que têm filhos pequenos, facilitando seu regresso exclusivo aos seus papéis de donas de casa tradicionais e com reduzidas chances de prática de atividade física, especialmente as de menor escolaridade, reflexo da posição social.

Em termos de orientação sexual, as mulheres heterossexuais são as que apresentam comportamentos de saúde mais saudáveis em termos de tabagismo, consumo de álcool, alimentação e sono, continuando mais prejudicadas quanto à atividade física, em comparação com as mulheres em relações homoafetivas (e os homens). Adicionalmente, foi encontrada uma associação entre tabagismo e discriminação percebida ao longo da vida nas mulheres, principalmente, entre aquelas com mais de 60 anos, pardas e de classe social mais elevada. Considerando a importância da atividade física regular para a saúde, é necessário que políticas públicas estimulem e facilitem a prática regular de atividade física em mulheres.

De acordo com as pesquisas do Elsa-Brasil, o perfil entre as mulheres que têm distorção para mais peso, ou seja, que se percebem mais pesadas, é de pessoas mais jovens, pardas, com maior escolaridade e que não costumam fazer dieta, sentindo-se inseguras para praticar atividade física. Já entre as que distorcem para menos peso, estão as mulheres mais velhas, pretas, com menor escolaridade e que costumam fazer dieta. O peso das mulheres foi maior à medida que a posição social diminuiu, enquanto nos homens ele diminuiu à medida que a posição social também sofreu. Com a pandemia de covid-19 houve maior adesão pelo sexo feminino às medidas de prevenção recomendadas e foi possível perceber que as mulheres que mais aderiram ao “ficar em casa” foram as que também tinham um estilo de vida mais saudável, além de serem mais velhas e com mais escolaridade. Os resultados de todos estes estudos contribuem para uma melhor compreensão da influência do estilo de vida e dos comportamentos de saúde na saúde e no bem-estar das mulheres brasileiras, podendo levar à implementação de políticas de promoção da saúde mais eficazes e realistas.

Doenças crônicas

A hipertensão arterial é uma das doenças mais comuns em adultos, sendo responsável direta por um grande número de mortes por derrame, infarto e outros eventos, atingindo cerca de 25% dos adultos brasileiros (Pesquisa Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, 2013), e sendo mais frequente entre as mulheres a partir da menopausa. Uma dieta de qualidade ruim (alta em sódio e baixa em potássio) facilita o desenvolvimento de hipertensão e dificulta o seu tratamento. A análise da urina de 6.749 mulheres e 5.870 homens mostrou que os homens consomem mais sal do que as mulheres (12,9 gramas por dia e 9,3 gramas por dia, respectivamente). Quando esse consumo é corrigido para o peso corporal, a diferença fica menor, 160 e 140 miligramas por quilo (mg/kg). Outro dado importante é que a pressão na mulher é mais sensível ao sal, ou seja, uma dieta de alto consumo, 5 gramas (g) ou mais por dia, causa maiores prejuízos para mulheres. A qualidade da dieta, dada pela relação entre sódio e potássio na urina, é ruim em ambos os sexos.

Entre as participantes do Elsa-Brasil, cerca de 1,6% das mulheres com idade entre 35 e 74 anos referiram ter tido diagnóstico de câncer de mama. Diferente do que recomenda o Ministério da Saúde, de que mulheres entre 50 e 69 anos realizem mamografia a cada dois anos, a grande maioria das mulheres estudadas pelo projeto na Bahia realizou o último exame menos de dois anos depois do anterior, proporção que aumenta com a escolaridade, de 60,2% entre as que têm ensino fundamental a 82,4% entre aquelas com nível superior. A idade mediana da primeira mamografia ficou entre 40 e 49 anos, faixa em que 44,1% das mulheres fez o exame pela primeira vez. Esta distribuição não variou com a escolaridade, a situação conjugal e a cor da pele. Um estilo de vida saudável se associou a uma periodicidade de rastreio mamográfico dentro do recomendado. Nota-se um padrão de intenso uso de serviços médicos, com história de cirurgia plástica mamária em 7,1% do total, proporção que aumenta com a escolaridade (de 1,2% a 11,6%) e foi maior entre aquelas com união conjugal atual ou prévia.

Pesquisas com integrantes do Elsa-Brasil e mulheres assistidas pelo SUS mostram que, em comparação às brancas, mulheres autorreferidas como pretas apresentaram mamas mais densas na mamografia, o que é um fator de risco reconhecido para o câncer de mama. As disparidades socioeconômicas e reprodutivas entre mulheres pretas e brancas foram responsáveis por essas diferenças raciais na densidade mamográfica. Nesta mesma população de estudo, verificou-se maior densidade mamária à mamografia em mulheres entre 50 e 59 anos, quando comparadas a mulheres entre 60 e 69 anos, assim como mulheres mais magras, as que tiveram menos de dois filhos ou nenhum, amamentaram menos meses, faziam uso atual de terapia hormonal na menopausa e consumiam bebidas alcoólicas. Mais informações sobre o tema podem ser obtidas no documentário Para enfrentar o câncer de mama: MULHERES pesquisam desigualdades entre MULHERES, que pode ser acessado neste link.

Entre todas as mulheres estudadas com menopausa natural, 30,8% usaram terapia hormonal da menopausa (THM) no passado, a maioria com idade atual igual ou superior a 60 anos, sobretudo brancas, mas também pardas, com plano de saúde privado e não obesas, e 11,1% estavam em uso da THM, a maior parte delas com 60 anos ou mais, casadas, separadas ou divorciadas, nível de escolaridade superior ou pós-graduadas, plano de saúde privado, não obesas e sem contraindicação para a terapia. Entre as mulheres acima de 60 anos que fazem THM, 73,6% tinham mais de dez anos de menopausa e mais de cinco de terapia, e 15,2% apresentavam pelo menos uma contraindicação formal para a THM. Do total de 2.138 mulheres normotensas ou com hipertensão após a menopausa, 1.492 (69,8%) nunca tinham usado a THM, 457 (21,4%) usaram no passado e 189 (8,8%) estavam em uso atual. O uso de THM foi mais comum em mulheres fisicamente menos inativas, não fumantes e não diabéticas. Mulheres que fazem THM apresentaram menores chances de ter hipertensão, em comparação com as que nunca a usaram. Na maioria dos casos, a THM foi iniciada com idade até 59 anos, com menos de dez anos de menopausa e o uso durou até cinco anos. Outros dados podem ser consultados no boletim Saúde e Câncer de Mama, com resultados de um estudo suplementar que fez a caracterização do perfil e trajetórias das mulheres que realizaram mamografias de rastreamento na Bahia, registradas no Sistema de Informação do Câncer (Siscan), disponíveis neste link.

A síndrome de ovários policísticos (SOP) é uma doença comum em mulheres em idade reprodutiva, que costumam apresentar irregularidade na ovulação, aumento dos níveis de hormônios masculinos e ovários com aspecto de vários cistos. No Brasil, a única avaliação disponível em nível nacional da frequência da SOP foi calculada pelo Elsa-Brasil em 8,5% das mulheres assistidas pela rede de atenção primária em Salvador. O projeto também validou o primeiro questionário curto e autoadministrado para identificar o hirsutismo, que é o excesso de pelos corporais em mulheres, decorrente do aumento dos níveis de hormônio masculino, um dos aspectos a serem avaliados no diagnóstico da SOP. O questionário validado foi usado num estudo que propôs um conjunto de critérios para identificar mulheres com SOP no pós-menopausa, momento em que se torna importante esse diagnóstico na identificação de grupo de risco para diabete e doenças cardiovasculares. As mulheres selecionadas de acordo com esses critérios apresentavam características da SOP, não apenas dentro do esperado, mas também amplamente associadas a esse transtorno.

FONTE: Jornal da USP

Consumo de álcool possui consequências a curto e longo prazo

O conceito de embriaguez definido pelo Legislativo brasileiro é a “perturbação psicológica mais ou menos intensa, provocada pela ingestão de álcool, que leva à total ou parcial incapacidade de entendimento e volição”. Para identificar um indivíduo “bêbado”, basta atentar para alguém falando enrolado, andando com dificuldade ou, apenas, mais sociável do que o costumeiro; mas por que os seres humanos ficam embriagados ao ingerir bebidas alcoólicas?

O professor Moacyr Aizenstein, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), diz: “Se nós fizermos uma gradação, no início ele se sente relaxado, com doses um pouco maiores fica alegre, um pouquinho maiores e ele já perde a crítica e a coordenação motora. Com doses maiores ainda, a bebedeira, ele perde totalmente o controle”.

O que acontece quando o álcool é ingerido?

Segundo o especialista, os efeitos agudos ocorrem no sistema nervoso central, uma vez que o álcool é uma droga depressora, que diminui a ansiedade e produz sentimentos de euforia e relaxamento muscular no indivíduo: “É quase como uma anestesia, o indivíduo perde o controle sobre si, porque o álcool deprime o sistema nervoso central”. Além disso, a droga é responsável por produzir a liberação da dopamina, um neurotransmissor relacionado com o prazer e, dessa forma, o etilista é alguém consumido por essa sensação.

De acordo com Aizenstein, dependendo da pessoa, o efeito é diferente, por conta do álcool ser um indutor de enzimas, e, quanto mais for ingerido, maior serão seus efeitos sobre o metabolismo. “Se o indivíduo nunca bebeu, o metabolismo do álcool é muito baixo, então, se bebe uma garrafa, fica bêbado. Agora, o indivíduo que vem bebendo constantemente, como ele metaboliza bastante até ficar bêbado, vai ingerir uma quantidade muito maior”. Ele ainda aconselha que as pessoas pratiquem a redução de dano: “Se restringir a doses compatíveis, não beber de estômago vazio e, enfim, não dirigir”.

Sob outro ponto de vista, Arthur Guerra, docente do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFMUSP), discorre que os efeitos são divididos em dois grupos: os fisiológicos — como a molécula de etanol interage no corpo humano — e os psicológicos — a resposta cerebral.

Quanto ao primeiro, ele explica que, após passar pelo esôfago, estômago e intestino, o álcool é encontrado no fígado, local em que é metabolizado e fracionado em pequenas porções de álcool etílico, ou seja, etanol; após isso, ele é jogado de volta ao sangue e espalhado por todo o corpo. “No próprio fígado, a célula hepática, chamada hepatócito, tem um poder de metabolização. Mas, quando é muito álcool, ele perde esse poder e, com isso, aumenta a enzima Gama GT”, conta.

No momento em que chega ao cérebro é que os efeitos psicológicos são acionados e, segundo Guerra, essa é a principal ação e o motivo do álcool ser usado há milhares de anos. Do ponto de vista bioquímico, a primeira depressão causada pela droga é a censura: “Por isso que o álcool é usado em várias celebrações, é usado para ficar com os amigos, usado para dar uma relaxada. Não em excesso, apenas para poder ficar um pouco mais social”.

Consequências a curto e longo prazo

A curto prazo, a primeira consequência do uso do álcool é a embriaguez, ou intoxicação alcoólica, na qual o indivíduo ganha uma confiança excessiva — ligado à perda da censura — e possui seus reflexos diminuídos significativamente. “Por isso que nunca se deve associar álcool ao uso de algum veículo e também podem acontecer acidentes, quedas, fraturas, violência doméstica e brigas”, alerta o psiquiatra.

Já a longo prazo, ele destaca as complicações causadas no fígado, especialmente a esteatose hepática — que seria o acúmulo de gordura no órgão — e, consequentemente, pode acarretar em cirrose, ou seja, insuficiência hepática. Assim como pode resultar em pancreatite crônica, miocardite alcoólica, úlcera, câncer no tubo gastrointestinal, entre outras sequelas.

Aizenstein ressalta que, dependendo da quantidade de álcool ingerida em um curto espaço de tempo, as implicações podem acarretar em coma alcoólico e até em morte. Ademais, uma das maiores consequências causadas por essa droga é a dependência, isto é, a pessoa não consegue mais usá-la de forma regular, pois, quando não usada, ela tem uma sensação intensa de desprazer.

Controle do problema

O professor Arthur Guerra destaca a importância da prevenção por meio da educação e informação: “Nós chamamos de diagnóstico precoce, a pessoa começa a ter problemas e, antes de se tornar crônico, o especialista já consegue avaliar e fazer uma ação mais rápida. Há campanhas de prevenção, por exemplo; não se deve beber álcool antes dos 18 anos, porque o cérebro está em desenvolvimento”. Ele ainda diz que o mais importante é que pessoas próximas aos indivíduos nessa situação crônica sejam um exemplo para elas.

De acordo com o bioquímico Moacyr Aizenstein, o ideal, e compatível com a saúde, é que a pessoa utilize baixas doses por dia: duas para os homens e uma para as mulheres — segundo ele, estas são mais sensíveis e metabolizam com menor eficiência o álcool. Uma dose seria o equivalente a uma lata de cerveja (350 ml), uma taça de vinho ou 40 ml de destilado.

“Agora, quando o indivíduo se torna um dependente e passa muito dessa quantidade, é necessário um tratamento farmacológico. Claro que tem o tratamento dos alcoólatras anônimos, isso funciona muito bem, são reuniões onde o indivíduo deve compartilhar com outros alcoólatras os seus problemas, mas ele tem que ser submetido a uma terapia psicológica para entender realmente por que não consegue se controlar”, desenvolve.

Para finalizar, ele reforça que nem todo indivíduo que usa bebida alcoólica se torna dependente, “o indivíduo pode tomar todo dia e pode não se tornar viciado. O álcool é potencialmente indutor de dependência”. Dessa forma, outros fatores estão envolvidos nesse processo, como elementos psicológicos, sociais, econômicos e, inclusive, genéticos: “Mas o mais importante é a motivação interna do indivíduo para deixar de beber”.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

FONTE: Jornal da USP