Células CAR-T: terapia celular contra o câncer

Os testes com células CAR-T serão exclusivos para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional. Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto vai receber pedidos de inclusão enviados apenas pelos médicos de possíveis candidatos.

O dia 15 de março vai marcar o início do que pode ser uma revolução no tratamento de linfoma e leucemia na América Latina. Nessa data, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP vai começar a incluir os candidatos ao estudo clínico de fases 1 e 2 do tratamento com células CAR-T.

O tratamento foi desenvolvido no Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiado pela Fapesp no Hemocentro da FMRP.

O tratamento é específico para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional, como quimioterapia e transplante de medula.

O início do estudo foi anunciado na quinta-feira (7/3) durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (CECTI) e vai tratar 81 pacientes até o ano que vem (leia mais aqui).

“Inicialmente serão quatro pacientes tratados no Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto. Os dados serão então submetidos à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para avaliação da segurança e, se tudo correr bem, os outros centros envolvidos no estudo poderão começar a tratar outros candidatos”, disse à Agência Fapesp Diego Villa Clé, coordenador médico do Hemocentro de Ribeirão Preto.

Além do Hospital das Clínicas da FMRP, participam do estudo o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em São Paulo, o Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e os hospitais Beneficência Portuguesa e Sírio-Libanês, em São Paulo.

O tratamento com células CAR-T foi desenvolvido em 2017 nos Estados Unidos e, desde 2019, no Brasil, pela FMRP, em colaboração com o Instituto Butantan e apoio da Fapesp.

A técnica consiste na retirada de linfócitos do próprio paciente, que são manipulados em laboratório e reaplicados no organismo.

O objetivo é preparar os linfócitos para identificar e eliminar células tumorais que não foram detidas por outros tratamentos, como quimioterapia e transplante de medula (leia mais em: agencia.fapesp.br/31656 e agencia.fapesp.br/38914).

O Hemocentro de Ribeirão Preto abriga a única fábrica de células CAR-T da América Latina, uma das poucas no mundo que não pertencem a grandes indústrias farmacêuticas. Até hoje, 20 pessoas foram tratadas com as células preparadas no Núcleo de Terapia Celular Avançada de Ribeirão Preto (Nutera-RP), um Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) da Fapesp. O núcleo pode preparar até 300 tratamentos por ano.

“Estima-se que de 3 mil a 4 mil pessoas poderiam se beneficiar desse tipo de tratamento hoje no Brasil. O Nutera-RP poderá aumentar a capacidade futuramente para dar conta da demanda, mas precisará de mais investimentos”, conta Clé.

Na iniciativa privada, o tratamento importado pode custar até R$ 2 milhões por paciente. O nacional, que pode ser adotado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), poderá sair por um sexto desse valor.

Pacientes

Os primeiros quatro pacientes tratados no HCFMRP terão uma pequena quantidade de sangue colhida, de onde os linfócitos T, um tipo de célula de defesa, serão isolados e modificados no Nutera-RP. Esse processo leva de 15 dias a um mês.

Depois de internados, os pacientes receberão então uma única infusão das próprias células, agora reprogramadas para atacar as células tumorais. Serão 15 dias de internação para acompanhar os possíveis efeitos colaterais, resultado da inflamação provocada pelo tratamento.

“A inflamação é um sinal de que o tratamento está fazendo efeito, mas pode causar desde sintomas leves, como febre e dor no corpo, até mesmo uma queda de pressão sanguínea e dificuldade respiratória, que pode ocorrer em 25% a 30% dos casos”, esclarece Clé.

Após a alta, o paciente seguirá sendo acompanhado em consultas semanais, até ter a primeira avaliação de eficácia do tratamento, após 30 dias da infusão. Os testes serão repetidos após 90 dias do início do tratamento. Todos os pacientes serão monitorados por cinco anos como parte do estudo.

“Esse é o primeiro e mais importante passo: mostrar que o tratamento é seguro e efetivo para ter a aprovação e poder ser disponibilizado tanto na rede pública quanto na privada”, encerra Clé.

Mais informações sobre o estudo podem ser obtidas em: www.hemocentro.fmrp.usp.br/terapia/.

Com informações de Carlos Fioravanti, da Revista Pesquisa Fapesp

*Da Agência Fapesp

FONTE: Jornal da USP

São Paulo lança programa de terapia celular para tratamento de câncer

O governo do estado de São Paulo lançou dia 14 um programa de tratamento avançado contra o câncer com a utilização de terapia celular. Dois novos centros de saúde, um na capital paulista e um em Ribeirão Preto, produzirão compostos para a terapia celular CAR-T, que utiliza células T para combater o câncer de sangue.

A capacidade inicial de tratamento é de até 300 pacientes por ano. O programa faz parte de um acordo de cooperação entre o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP) e o Hemocentro de Ribeirão Preto.

De acordo com o governo do estado, esse tipo de terapia celular já se mostrou altamente eficaz no tratamento de alguns tipos de câncer de sangue, como linfoma e leucemia linfóide aguda. As novas unidades de São Paulo e de Ribeirão Preto serão equipadas com estruturas que permitirão a realização dos principais processos da nova tecnologia, como produção, desenvolvimento, armazenamento e aplicação da terapia celular.

As instalações incluem laboratórios de controle de qualidade, salas de criopreservação, salas de produção de vírus, salas limpas de produção de células CAR-T, salas de preparo de meios e soluções, e áreas destinadas ao armazenamento do produto final e dos insumos em tanques criogênicos.

“Curar uma pessoa que estava em situação quase terminal é uma emoção indescritível. Estes dois centros são fruto de anos de dedicação de uma grande equipe. Somos mais de 50 pesquisadores trabalhando há décadas em um único objetivo”, destacou o presidente do Instituto Butantan e coordenador do estudo, Dimas Covas.

A tecnologia celular CAR-T é um tipo de imunoterapia que utiliza linfócitos T, células do sistema imune responsáveis por combater agentes patogênicos e matar células infectadas. O tratamento consiste em retirar e isolar os linfócitos T do paciente, ativá-los, programá-los para conseguirem identificar e combater o câncer e, depois, inseri-los de volta no organismo do indivíduo. Todo o processo pode durar cerca de dois meses.

Por Bruno Bocchini – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

FONTE: Agência Brasil